A discussão sobre a possibilidade de implantação de rodízios para os veículos que circulam no Recife já iniciou na Câmara Municipal. Na última quarta-feira (3), o secretário de Mobilidade Urbana do Recife, João Braga, participou de um grande expediente na Casa José Mariano e além de outros assuntos, tratou da sugestão. Porém, segundo o vereador, Raul Jungmann (PPS) a iniciativa é precipitada e causará transtorno à cidade.
Segundo Braga, a limitação de circulação de veículos motorizados já existe em outras cidades do mundo. Na proposta da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano a restrição acontecerá em horários de pico (6h30 às 8h30 e 17h às 19) e apenas em alguns corredores viários da cidade. O objetivo Prefeitura da Cidade do Recife é diminuir o tempo de viagem do transporte coletivo e distribuir os carros nas vias ao longo do dia.
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Apesar do intuito da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, Jungmann avalia a ação com outros olhos. “Eu acho que é uma precipitação. Não existem estudos, não existe a melhoria do sistema de transportes, não se colocou um ônibus novo a mais. Você não tem as licitações que iam melhorar a qualidade de transporte coletivo. Você só vai ter os BR, corredores Norte e Sul Leste/Oeste daqui a um ano. Nada foi feito”, opina o vereador.
De acordo com Raul Jungmann a situação pode causar problema, se for considerado, por exemplo, a qualidade dos ônibus que as pessoas terão que usar e o aumento da superlotação que já existe dentro dos coletivos. “Isso vai ser um transtorno para quem tem um carro e vai levar os seus filhos para fazer as compras e trabalhar, e que vai ter que deixar o carro no horário de pico e vai para dentro do sistema de ônibus superlotado e absolutamente sucateado. Mas, também vai ser um problema para quem já usa esse sistema sucateado e superlotado porque vai ter uma invasão das pessoas que andavam de carro e agora, vão ter que ir para dentro do sistema”, analisa o parlamentar.
Apesar das críticas, o vereador se diz favorável a alterações no trânsito e descreve algumas sugestões. “Nós vamos ter que fazer mudanças na cidade, como por exemplo, criar as faixas exclusivas de ônibus nos trinta principais corredores da cidade. Acho que a gente tem que fazer ciclovias, acho que as linhas dos corredores expressos de ônibus precisam ter monitoramento eletrônico, tudo isso eu concordo e a concepção geral eu também estou de acordo. Agora, no mundo inteiro rodízio é algo que não vem dando certo, rodízio é algo que cada vez é menos utilizado. No Brasil inteiro somente São Paulo tem e evidentemente você não pode punir as pessoas sem dar uma alternativa de qualidade que seria o transporte. Se isso não existe, efetivamente desse jeito sou contra o rodízio”, crava o oponente.
Experiência – Jungmann acrescentou também que durante dois anos fez parte do Conselho de Administração da Companhia de Engenharia de Tráfico que implantou e operou o rodízio em São Paulo, por isso, se diz conhecedor do projeto.
“O que foi que aconteceu lá? Ele foi criado por lei e isso é importante porque aqui está se querendo fazer por ata administrativa, mas sem discutir com o povo, sem discutir com a Câmara de Vereadores... (...). Em 1994 foi criado o rodízio por lei e de lá para cá o que foi que aconteceu? entraram na cidade de São Paulo mais 2,9 milhões de veículos, o que quer dizer que o efeito inicial do rodízio simplesmente desapareceu e hoje não tem capacidade de se resolver os problemas”, argumentou.
Com a exemplificação do que aconteceu na cidade do sudeste, o político reafirma que o rodízio não solucionará as problemáticas existentes no trânsito do Recife. “Se nós fizermos isso aqui o que eu quero dizer simplesmente é que você não vai melhorar a vida de quem usa o transporte coletivo e vai piorar a vida de quem tem um carro para se deslocar, para trabalhar, para cuidar de seus filhos. Então é o pior dos mundos! Eu sou a favor do transporte coletivo de qualidade, acho que a prioridade é o transporte coletivo, mas sem fazer essas melhorias o rodízio só vai piorar a situação de todos”, reforça.
Os vereadores do Recife terão um prazo de 15 dias para enviar sugestões sobre o assunto. A ideia é juntar às propostas levantadas à iniciativa do governo. Em seguida será criado um projeto que será levado para votação em plenário. A previsão é que as discussões aconteçam ainda este mês