Como forma de celebrar o centenário da escritora, tradutora e jornalista Clarice Lispector, a professora de redação e pós-graduanda em educação Josicleide Guilhermino promoverá um minicurso – totalmente gratuito - que abordará, entre vários assuntos, elementos da vida, obra, além da importância da autora na literatura nacional e no contexto histórico brasileiro. As inscrições devem ser realizadas de 12 a 16 de outubro, pelo e-mail: josicleide28@gmail.com.
As aulas serão disponibilizadas às segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 10h, pelo canal do YouTube da professora Josicleide Guilhermino durante o período em que o minicurso será realizado e os materiais de apoio serão disponibilizados em um grupo no Telegram, em que o interessado receberá o link para acesso ao grupo após ter a sua inscrição confirmada via e-mail.
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Os conteúdos começarão a ser disponibilizados a partir do dia 19 de outubro. Além de Josicleide, o minicurso contará com a participação de outros profissionais: o graduando em letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Anderson Araújo; o historiador e estudante de museologia, Fabiano Bezerra; a estudante de letras da Universidade de Pernambuco (UPE), Jammylly Ferreira; a pedagoga com especialização em educação e psicopedagogia institucional, Joseane Nascimento; e a escritora e fotógrafa Mylena Vitoria.
Além do conteúdo essencial, a exemplo de como Clarice pode ser abordada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e quais citações da autora podem ser usadas em temas de redação, o minicurso é uma convite à arte, à literatura, ao prazer estético e, principalmente, à leitura. Pensando nisso, o minicurso receberá a presença da enfermeira obstetra Juliana Lima e da leitora mirim Sophya Gabrielle, que têm em comum o interesse pela literatura clariceana.
A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), iniciado nesse domingo (3), teve “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” como tema e deixou muitos estudantes com dúvidas no momento de elaborar uma proposta de intervenção para o problema tratado no texto. O Ministério da Cultura, que foi extinto no início do ano para se fundir à pasta de Cultura, Esporte e Desenvolvimento Social, foi citado por alguns feras na elaboração textual; por se tratar de uma pasta extinta, quem citou perderá pontos ou até mesmo vai zerar a prova?
Durante a live do Vai Cair no Enem, o LeiaJá ouviu professores de Linguagens e redação que comentaram essa questão para esclarecer as dúvidas e tranquilizar os feras. A professora Lourdes Ribeiro explicou que é possível citar, como proposta de intervenção, a restauração do Ministério da Cultura para garantir a democratização do cinema. No entanto, ela alerta: citar o Ministério sem especificar a sua reabertura, como se ele nunca estivesse sido incorporado por outra pasta, é um problema. Veja o vídeo:
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A professora Josicleide Guilhermino acalmou os feras lembrando que, apesar de ser problemática para a conclusão do texto, a citação a um ministério fechado não zera a redação do aluno, nem causa uma redução grande na nota. “A apresentação do agente (no caso, o Ministério da Cultura) é apenas um elemento dentro da sua proposta de intervenção. Muito provavelmente vai reduzir um pouco a sua nota, mas não chega a reduzir significativamente”, disse ela.
Thalles Ribeiro, que também é professor de redação, explicou que os estudantes poderiam elaborar propostas que envolvam as pastas de cultura do Poder Executivo fora da esfera federal, por exemplo, baseando a proposta de intervenção em secretarias estaduais e municipais de cultura. “Por exemplo, se tivesse trazido uma tese onde estivesse preocupada com a periferia que estava excluída desse processo de democratização, seria mais interessante a secretaria estadual de cultura do que necessariamente do ministério”, argumentou o professor.
Fechando a série de aulões que o Vai Cair no Enem promoveu em vários Estados do Brasil, o aulão deste sábado (26) foi encerrado com a disciplina de Linguagens, sendo ministrada pela professora Josicleide Guilhermino. O evento foi sediado na UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau, no Recife.
Com um poema sobre o amor, Josicleide Guilhermino abriu a sua aula para falar sobre os tópicos do caderno de Linguagens do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Dentro do campo das artes, a professora abordou o tema usando assuntos das artes contemporânea, artes cênicas e as artes plásticas e visuais. Na literatura, sempre presente nas questões da disciplina, a docente perpassou por interpretação de poemas, intertextualidade, romantismo no Brasil e primeira e segunda geração modernista.
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Nas artes, Josicleide explicou que ela adentra nas linguagens de forma minimalista, ou seja, usando o mínimo de elementos possíveis para ser interpretada. "Tem uma imagem clássica do minimalismo que representa Hitler e Chaplin. E quando a gente olha para imagem, eles são idênticos. A única coisa que faz a gente saber que é Hitler ou Chaplin é apenas o chapéu. O mínimo de elementos, eu passo máximo de informações", exemplifica.
No tópico de literatura, a educadora ressaltou que o gênero mais cobrado é o poema. Segundo a docente, o maior quantitativo de questões vinculadas a interpretação provém dos poemas. Se tratando das questões de interpretação, você precisa estar atento a dois elementos: a compreensão e a interpretação em si", destacou. Sobre os poetas, a professora citou um dos qua mais apareceram nas edições passadas do Enem, Carlos Drummond de Andrade.
Perguntada pelo apresentador do aulão e editor do LeiaJá, Nathan Santos, sobre apostas para o Enem, a professora disse que normalmente não faz apostas, mas, sim, levantamentos do que pode ser pautado no caderno de Linguagens a partir dos assuntos da atualidade."Geralmente os alunos sabem que eu não faço apostas. Mas anualmente faço um levantamento que é vinculado ao segundo semestre do ano passado e o segundo semestre desse ano. O Enem é uma prova que a cada ano vem crescendo essa questão da atualidade. Então, o aluno precisa saber o que está acontecendo ao seu redor", recomendou. Confira a aula completa:
A dura realidade enfrentada por profissionais do ensino no Brasil, que envolve violência, baixa remuneração e altos índices de adoecimento mental, vem fazendo a quantidade de jovens interessados na carreira de professor cair. Dados levantados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2018 apontaram que o número de jovens com 15 anos que querem seguir a carreira de professor no Brasil é de apenas 2,4%, contra 7,5% registrados 10 anos antes.
Em meio a um cenário tão desanimador, bons professores que estão atentos às necessidades de seus alunos podem ser importantes para inspirar crianças, adolescentes e jovens que consideram levar a vida ajudando outras pessoas a construir conhecimento. Foi o que aconteceu com Josicleide Guilhermino, hoje com 30 anos, que decidiu ser professora de língua portuguesa ainda na adolescência, em grande parte por causa do apoio de sua professora, Fátima, como era conhecida por Guilhermino.
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O início de tudo
Maria de Fátima de Oliveira Silva tem 53 anos de idade e 26 de carreira. Josicleide estudava na Escola Estadual Maciel Pinheiro, no Recife, e foi aluna de Fátima nos anos de ensino médio. Ela explicou que sua decisão por seguir a mesma carreira que sua mentora começou como uma forma de enfrentar a realidade em que vivia. Sua professora foi uma importante aliada nesse processo.
“[A decisão de ser professora veio] Inicialmente como um meio de rebeldia ao sistema. Quando se é adolescente, a gente acha que pode mudar o mundo de forma abrupta e, na minha cabeça, ainda imatura, lá pelos 15, 16 anos. Entrei no ensino médio sem muita perspectiva de futuro, realidade comum na escola pública e na comunidade periférica de onde vim”, conta Josicleide, que também sofria com uma auto-estima muito baixa devido à baixa renda de sua família e ao bullying que sofreu.
“Meu timbre de voz sempre foi muito grave, o que contrastava com meu tipo físico, franzino, então recebia muitos apelidos. Eu implorava a Deus na hora da chamada pra professora me olhar e assim eu não ter que usar a voz para responder à chamada. No Ensino Médio me deparei com uma professora que fez diferença porque me notou”. A professora em questão era Fátima.
“Eu tive outros professores igualmente bons, mas a professora Fátima me mostrou uma outra perspectiva da carreira docente. Ela não deixava de criticar os aspectos negativos, em termos de salários, condições de trabalho, mas ainda mantinha nos olhos e acreditava no que fazia. Me incentivava a ler; escrever e isso derrubou uma barreira que eu havia construído em torno de mim. Minha autoestima ia sendo trabalhada porque eu me sentia importante. Ela dizia que eu tinha potencial e de tanto me dizer, eu passei a acreditar também” contou Josicleide.
Conforme os anos passaram no ensino médio, a certeza de que queria ser professora também, inspirada por Fátima, cresceu e se concretizou na jovem estudante. “Eu queria fazer o que ela fazia: dar aulas e ir além, fazer diferença na vida dos alunos, principalmente da rede pública, mostrando que era possível sonhar”, contou a, hoje, professora.
O caminho que a conduziria à realização de seu sonho, no entanto, tinha ainda outra dificuldade: o vestibular. “Faltava uma boa base. Muitos conteúdos, de diversas disciplinas não pude ver por motivos diversos: falta de professor, material didático... Tentei três anos”, explicou Josicleide. Após seu ingresso na universidade, a aluna acabou se distanciando da professora que havia lhe apoiado e inspirado, mas os caminhos delas terminaram se cruzando outra vez.
“Nos reencontramos na universidade: eu cursando Letras e ela fazendo uma pós-graduação. Criamos um vínculo de amizade que perdura até hoje e atualmente fazemos parte de um ‘clube do livro’. Ela usa meu vigor e eu a vasta experiência dela”, afirmou Josicleide, de modo bem humorado e sorridente.
A aluna destaque entre os demais
De acordo com Fátima, que construiu toda a sua carreira em escolas públicas, é aposentada por um de seus vínculos empregatícios com o Estado de Pernambuco e há dez anos trabalha na Escola Estadual Pintor Lauro Villares, no bairro dos Torrões, no Recife, o empenho de Josicleide, junto à sua bagagem de conhecimentos e senso crítico a tornaram uma aluna de destaque, diferente da maior parte da sua turma.
“Ela estudou comigo na Escola Estadual Maciel Pinheiro em 2006. Na escola pública, infelizmente é um percentual pequeno de alunos de destaque; às vezes você encontra pedrinhas preciosas e tentamos fazer com que eles prosperem. Josicleide tinha dificuldades financeiras e na família, a mãe dividia cadernos para os filhos poderem estudar. A maioria das famílias não dão valor à educação e muitos alunos não têm interesse porque nunca viram ninguém prosperar por meio dela”, explicou Fátima.
A professora salientou que sua ex-aluna estudava em dois turnos e também fazia estágio, sendo uma menina jovem e cheia de objetivos. O senso crítico de Josicleide, característica importante e muito valorizada por Fátima, também não passou despercebido. “Sempre tento fazer meus alunos serem críticos, entender que a opressão não vai durar para sempre e buscar quebrar isso. Falava a Josicleide e falo aos demais que eles têm que entender a linguagem do opressor para lutar contra ele e estudar para que sejam cidadãos críticos em suas profissões. Mesmo no ensino médio, o aluno geralmente não fala e se posiciona em sala, mas Josicleide tinha apoio da família dando estímulo para a educação transformar a vida dela. Eu via que essa menina ia prosperar em qualquer que fosse a área”, contou a professora.
Durante um aulão realizado apenas por mulheres pelos Caras de Pau do Vestibular, cursinho preparatório para provas de vestibulares em que a professora Josicleide Guilhermino trabalha, em setembro, a docente relata como sua relação com sua ex-professora proporcionou que ela estivesse mudando a vida de jovens nas salas de aula atualmente. Confira abaixo o vídeo.
O papel da professora contra o bullying
Perguntada sobre como conseguiu ajudar Josicleide a superar as agressões promovidas por outros alunos, Fátima explica que ao detectar uma situação de bullying, a primeira atitude para auxiliar a vítima é ajudá-la a reencontrar sua auto-estima e conversar com o agressor para que ele aprenda a exercitar a empatia.
“Primeiro você mostra que de perto ninguém é normal e tenta estimular os bons sentimentos do aluno mostrando o que essa pessoa tem de melhor. Em Josicleide, era a capacidade intelectual. Quando ela não estava na sala, eu pegava grupos de alunos para mostrar que temos que cultivar respeito e não fazer ao outro o que você não quer para si, explicou Fátima.
No entanto, ela ressalta que às vezes não são apenas outros estudantes que causam problemas à auto-estima de um aluno. “Quando Josicleide sofria isso e dizia que ia ser professora, alguns professores disseram: 'meus pêsames você vai ser pobre para o resto da vida' e ela ficava triste. Eu tentava dar todo o afeto, carinho, abraçar essa aluna”, lembra a docente.
Uma carreira de sonhos
Hoje, tendo como colega de profissão e amiga aquela que um dia foi sua aluna, Fátima segue dando apoio para que Josicleide não pare e siga se especializando, apesar das dificuldades, em busca de seus sonhos.
“Ela quer fazer mestrado, fico incentivando que faça, ela tem muitas condições de ser uma excelente professora também na universidade. Cada vez mais os estudantes querem menos ser professores, mas ela ama muito o que faz. Josicleide é um orgulho para mim, eu sou uma pessoa realizada por ter tido esses alunos que valorizaram a educação, pois meu sonho como professora é ver reduzir a desigualdade social”, explicou Fátima.