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A forte explosão que ocorreu na região portuária da capital do Líbano, Beirute, na tarde desta terça-feira, 4, deixou pelo menos 10 mortos e centenas de feridos. Segundo a agência de notícias estatal, a fonte da explosão foi um incêndio em um armazém com produtos inflamáveis confiscados nas proximidades do porto, mas as causas não foram esclarecidas.

O ministério da Saúde informou que centenas de pessoas ficaram feridas após a explosão. Um hospital da região estava lotado e mandando feridos embora por falta de capacidade para atendimento.

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A Cruz Vermelha libanesa afirmou que qualquer ambulância disponível no norte ou sul do país e em Bekaa seria enviada para Beirute. Nas redes sociais, moradores relatam que janelas de edifícios e vitrines de lojas estilhaçaram.

Conversando com repórteres, o chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, se recusou a especular sobre a causa da explosão dizendo "não podemos antecipar as investigações".

Nas proximidades do distrito portuário, os danos e a destruição são enormes. Muitos residentes feridos andavam nas ruas em direção a hospitais e carros foram abandonados nas ruas com os airbags inflados. A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas em escombros, algumas cobertas de sangue.

O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por depreciação monetária sem precedentes, hiperinflação, demissões em massa e restrições bancárias drásticas, que alimentam há vários meses o descontentamento social.

A Casa Branca informou estar acompanhando com muita atenção o desenvolvimento dos fatos ligados à explosão em Beirute. O presidente Donald Trump foi informado e segue de perto os acontecimentos.

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Duas fortes explosões sacudiram, nesta terça-feira (4), a região portuária da capital libanesa, Beirute, fazendo dezenas de feridos, segundo uma fonte da segurança e correspondentes da AFP no local.

As explosões, que ocorreram na área portuária e cuja origem ainda não foi determinada, foram ouvidas em vários bairros da cidade. Janelas de muitos prédios e vitrines de lojas quebraram nos arredores. Nuvens de fumaça laranja podiam ser vistas no céu da capital.

A área portuária foi isolada pelas forças de segurança, que só permitem a passagem de agentes da defesa civil, o balé de ambulâncias com suas sirenes e caminhões de bombeiros. Os jornalistas foram proibidos de acessar a zona, segundo um correspondente da AFP.

Nas proximidades do distrito portuário, os danos e a destruição são enormes. A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas em escombros, algumas cobertas de sangue.

Segundo informações preliminares da imprensa local, as explosões resultaram de um incidente no porto de Beirute. Mas as circunstâncias e os detalhes do incidente permanecem desconhecidos.

"Os prédios estão tremendo", tuitou um morador da cidade, dizendo que "todas as janelas do (seu) apartamento explodiram". Segundo um outro, a explosão foi ouvida por quilômetros.

De acordo com os correspondentes da AFP, muitos residentes feridos andam nas ruas em direção a hospitais. No bairro de Achrafieh, os feridos correm para o Hôtel Dieu.

Em frente ao centro médico de Clémenceau, dezenas de feridos, incluindo crianças, às vezes cobertas de sangue, esperavam para serem admitidos, segundo um correspondente da AFP.

Quase todas as vitrines das lojas dos bairros de Hamra, Badaro e Hazmieh estavam quebradas, assim como os vidros dos carros. Carros foram abandonados nas ruas com os airbags inflados.

O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por depreciação monetária sem precedentes, hiperinflação, demissões em massa e restrições bancárias drásticas, que alimentam há vários meses o descontentamento social.

Há uma semana, após meses de relativa calma, Israel disse que frustrou um ataque "terrorista" e abriu fogo contra homens que cruzaram a "Linha Azul" entre o Líbano e Israel.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, atribuiu a infiltração ao Hezbollah, um movimento armado pró-iraniano muito influente no sul do Líbano e que o Estado judeu considera como seu inimigo.

Acusado de "brincar com fogo", o Hezbollah negou qualquer envolvimento.

Uma forte explosão foi registrada nesta terça-feira (4) próximo ao porto da cidade de Beirute, capital do Líbano. Segundo relatos iniciais, a explosão não é um ato terrorista.

Duas fontes da área de segurança ouvidas pela agência Reuters disseram que a explosão ocorreu em uma área do porto usada para depósito. Segundo a publicação, há registro de feridos.

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Segundo uma reportagem publicada pela CNN, a explosão teve como fonte um grande incêndio em um armazém de fogos de artifício e atingiu diversos prédios, incluindo o prédio onde o ex-primeiro-ministro Saad Hariri vive.

Diversos vídeos e fotos que foram colocados nas redes sociais mostram uma grande nuvem de fumaça na cidade. Ainda não há uma contagem oficial do número de feridos.

Foto: Anwar Amro / AFP

A explosão foi tão forte que janelas de casas e vitrines de lojas foram destruídas a quilômetros de distância do epicentro, segundo alguns registros.

Um vídeo filmado a partir de uma embarcação mostra o local sendo atingido por diversas explosões.

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Da Sputnik Brasil

Mais de 500.000 crianças de Beirute lutam pela sobrevivência, em um país que atravessa um marasmo econômico, lamentou nesta quarta-feira (29) a ONG Save The Children.

O Líbano vive há meses a pior crise econômica e financeira de sua história, agravada pela pandemia do coronavírus e marcada pelo colapso da moeda nacional, o aumento do desemprego e a hiperinflação.

Na região da Grande Beirute, que inclui a capital e seus subúrbios, 910.000 pessoas, entre elas 564.000 crianças, mal conseguem satisfazer suas necessidades básicas, como a alimentação, alertou a ONG.

Desde setembro do ano passado, os preços dos produtos básicos subiram 169%, enquanto o desemprego chegou a 45% no setor informal. O poder aquisitivo das famílias caiu 85%.

"Esta crise atinge a todos: as famílias libanesas, os refugiados palestinos e sírios. Começaremos a ver crianças morrendo de fome antes do fim do ano", lamentou Jad Sakr, diretor interino da ONG Save The Children no Líbano.

O Líbano acolhe cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios e 174.000 refugiados palestinos.

"Por causa do coronavírus, meu pai não trabalha e nós não comemos. Quero trabalhar para ajudar meus pais e dar o que comer a minhas irmãs", relatou Sara, uma menina síria de 9 anos, citada pelo relatório da ONG.

A crise não poupa nenhuma classe social e crianças de famílias de classe média também têm sofrido na busca por alimento.

A Orquestra Filarmônica Libanesa se apresentou sem público neste domingo, no centro das ruínas romanas iluminadas de Baalbek, em uma "mensagem de resistência" simbólica lançada por um festival de prestígio em um país que enfrenta o colapso de sua economia e a epidemia de Covid-19.

A noite, transmitida ao vivo pela televisão e mídia social libanesa, é o único concerto organizado este ano pelo Baalbek International Festival, no sítio arqueológico de mesmo nome, declarado Patrimônio Mundial da Unesco.

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Sob o regente Harout Fazlian, os cerca de 150 músicos e coristas foram instalados no recinto descoberto do templo Baco, com impressionantes colunas coríntias. Não havia público para aplaudi-los no concerto que foi gravado por drones.

O repertório misturou música clássica, rock, além de composições dos irmãos Rahbani, dois músicos libaneses famosos, ou "Hymn of Joy", de Beethoven, em homenagem ao 250º aniversário do nascimento do compositor alemão.

O recital durou pouco mais de uma hora. No final, o maestro cumprimentou seus músicos e os membros do coral, que o aplaudiram calorosamente.

Os verões no Líbano são geralmente animados por concertos e shows organizados por diferentes festivais que atraem centenas de espectadores, mas este ano será mais sóbrio em um país em crise que está gradualmente saindo do confinamento.

As geladeiras praticamente vazias em muitos lares são a imagem que resume o colapso econômico do Líbano, crise que mergulhou boa parte da população na precariedade.

Sem conseguir cumprir seus compromissos da dívida desde março deste ano, pela primeira vez em sua história, o Líbano viu sua moeda nacional - a libra - despencar no mercado paralelo, embora sua taxa de câmbio oficial se mantenha no mesmo patamar.

Agora, um salário de um milhão de libras libanesas vale, nas ruas, menos de US$ 200. No verão passado, esse valor chegava a pelo menos US$ 700.

Em um país que depende, em grande medida, das importações, o impacto dessa desvalorização chega com força. Os preços aumentaram de maneira vertiginosa, e milhares de empresas quebraram, ou demitiram muitos de seus funcionários.

Os fotógrafos da AFP passaram vários dias visitando casas das principais cidades do país, como Beirute, Trípoli, Biblos e Sidon.

Vários libaneses e libanesas aceitaram posar ao lado de suas grandes geladeiras, em cozinhas espartanas.

Amareladas pelo uso, ou de um branco impecável, estas geladeiras têm um ponto em comum: estão vazias, ou quase.

Fadwa Merhebi confessa que não tem dinheiro para fazer compras. Em sua geladeira, há água e pepinos.

"Se tivessem geladeiras menores, venderia esta e compraria uma", diz esta mulher de 60 anos, que vive sozinha em um minúsculo apartamento em Trípoli (norte).

"Pelo menos poderia usar o dinheiro para comprar comida", suspira.

A outrora chamada Suíça do Oriente Médio parece ter desaparecido, e uma nova classe social de libaneses pobres emergiu na sociedade. A cada dia, somam-se a ela libaneses de classe média que veem seu poder aquisitivo se deteriorar.

Junto com a crise econômica estão as restrições necessárias para evitar a propagação do novo coronavírus. Segundo o Banco Mundial, mais da metade da população libanesa vive hoje abaixo da linha da pobreza.

Os Estados Unidos comemoraram nesta quinta-feira a libertação de dois americanos presos no Irã e Líbano, e reiteraram que a libertação de seus prisioneiros no exterior é uma prioridade do governo.

A libertação mais simbólica foi a do ex-militar Michael White pelo Irã, em um momento de forte tensão entre Washington e Teerã. O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, anunciou que White foi libertado hoje graças a uma autorização por motivos "médicos e humanitários", sob a condição de não deixar o país.

White estava detido desde 2018 no Irã, onde foi capturado enquanto visitava a namorada. A Justiça local o condenou a 13 anos de prisão em março de 2019, por insultar o aiatolá Ali Khamenei, guia supremo do Irã, e por ter divulgado fotos pessoais nas redes sociais, segundo seu advogado.

O presidente Donald Trump também anunciou a libertação de Amer al-Fakhoury, americano-libanês preso por mais de seis meses no Líbano acusado de tortura, que está "a caminho" dos Estados Unidos. Ex-integrante de uma milícia pró-Israel, Fakhoury exilou-se há mais de 20 anos nos Estados Unidos. Ao retornar ao Líbano, em setembro, foi preso e processado pela Justiça militar.

"Trabalhamos muito duro para libertá-lo", disse Trump durante entrevista coletiva sobre a crise do novo coronavírus. "Agradeço ao governo libanês por trabalhar conosco. Com câncer em estágio avançado, Fakhoury poderá, agora, ter a família a seu lado", continuou Trump, afirmando que "a libertação de americanos presos no exterior" é uma das prioridades do seu governo.

Fakhoury era membro do antigo Exército do Sul do Líbano (ESL), milícia cristã predominantemente armada e financiada por Israel que ocupou o sul do Líbano até o ano 2000. Segundo uma fonte militar, ele foi condenado à revelia por "colaboração" com Israel. Ao seu retorno, um tribunal militar o acusou de ter ordenado atos de tortura contra detidos na prisão de Kiam, administrada pelo ESL.

Ex-detidos, principalmente libaneses e palestinos, manifestaram-se em setembro ante o Ministério da Justiça em Beirute acusando-o de ter sido um "carniceiro".

A Anistia Internacional e outros grupos de defesa dos direitos humanos acusaram reiteradamente o ESL de torturar seus prisioneiros. Nos Estados Unidos, foi organizada uma campanha para defendê-lo, principalmente por iniciativa da senadora democrata Jeanne Shaheen, que comemorou hoje a sua libertação.

A Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou nesta quinta-feira por unanimidade (12 votos) a indicação de Hermano Telles Ribeiro para o cargo de embaixador do Brasil junto à República Libanesa. A indicação (MSF 87/2019) seguiu para o Plenário com pedido de urgência. 

Na sabatina antes da votação, Telles Ribeiro ressaltou os profundos laços que unem o Líbano ao Brasil, uma vez que há mais libaneses e descendentes no Brasil do que no próprio Líbano. O diplomata explicou que na diáspora libanesa — ocorrida sobretudo no século 20 — 12 milhões de libaneses deixaram o país e cerca de 8,5 milhões chegaram à América Latina, sobretudo ao Brasil.

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Um desses imigrantes foi o pai do senador Esperidião Amim (PP-SC), que relatou a indicação de Telles Ribeiro na CRE.  

“O Brasil é o maior país libanês do mundo. Tem mais libaneses aqui do que no Líbano”, disse Esperidião Amin, informando no relatório que há de 7 a 11 milhões de libaneses e descendentes no Brasil.

Em contrapartida, a atual comunidade de brasileiros no Líbano, segundo o senador, tem cerca de 17 mil residentes, dos quais 9 mil são adultos, 5,5 mil são idosos e 2,5 mil são crianças.

A balança comercial entre Brasil e Líbano alcançou, em 2018, US$ 297,5 milhões. O resultado foi 5,1% maior do que o registrado em 2017, com superavit de US$ 242,5 milhões para o Brasil. Em 2018 o Brasil se posicionou entre os maiores fornecedores de café (78% do total importado pelo Líbano), carne bovina (65,8%) e milho (29,7%) do país.

História

Durante a exposição, Telles Ribeiro destacou a história dos fenícios, o avanço desse povo nas navegações e comércio e o legado deixado pelas civilizações que passaram pela região, como egípcios, assírios, babilônicos, gregos, persas, romanos, bizantinos, árabes, francos, otomanos (que dominaram essa região por 400 anos) e armênios.

“Esse trânsito de pessoas, de capital e das culturas está no DNA do Líbano de hoje”, destacou.

Telles Ribeiro analisou o cenário turbulento ao redor do Líbano: a crise humanitária do Iêmen, a que o embaixador se referiu como “o pior desastre humanitário em curso na história contemporânea”; a desconstrução da Síria, que já dura oito anos; a instabilidade do Iraque e a crise econômica da Líbia.

“É um entorno complexo”, reconheceu.

População

Telles Ribeiro mostrou, com mapas, a complexidade da composição populacional do país litorâneo e cuja orla corresponde à metade do litoral de Alagoas. Dos cerca de 6 milhões de habitantes, apenas 4,5 milhões são libaneses e os demais são refugiados — a maioria mulheres e crianças sírias e muitos palestinos. Segundo ele, 68% da população é muçulmana xiita e sunita e 23% são cristãos. Uma minoria é drusa, mas há outras 18 religiões reconhecidas.

O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) avaliou o Líbano como “um barril de pólvora, uma nação que se manifesta nas ruas, uma nação pequena mais um grande mosaico”. Pela cultura, a história e a população com laços com o Brasil, Anastasia destacou a importância da embaixada brasileira em Beirute.

Já o senador Carlos Viana (PSD-MG) questionou sobre a mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Telles Ribeiro explicou que, no contexto internacional, a maior parte dos países que fazem parte das Nações Unidas não reconhece Jerusalém como capital de Israel. No entanto, ele ressaltou que o Brasil recentemente se posicionou favoravelmente à proposta dos Estados Unidos para a paz no Oriente Médio, conhecida como Deal of the Century.

“A nota do Itamaraty é inequívoca no sentido de considerar esse um caminho possível para chegamos ao início desse processo tão importante”.

Embora reconheça que o Brasil tenha “todas as credenciais para atuar em todos os cenários”, o embaixador comentou ser preciso que as partes — palestinos e israelenses — queiram negociar.

“Não é o que está configurando neste momento”.

O embaixador saudou os 200 militares brasileiros que compõem a Força-Tarefa Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil). Eles devem ficar na região até o fim deste ano, assim como soldados do Exército brasileiro em terra.

Telles Ribeiro foi cônsul-geral adjunto em Paris (1992-1994) e Atlanta, nos Estados Unidos (2011-2016), além de servir nas embaixadas em Caracas (1995-1996), Tóquio (2001- 2005) e Paris (2005-2008) e em organismos multilaterais.

*Da Agência Senado

 

O Líbano conseguiu formar um novo governo na noite de terça-feira (21) que terá a pesada tarefa de reviver uma economia em queda livre e convencer os manifestantes, críticos à classe política.

Quase três meses após a renúncia de Saad Hariri sob pressão das manifestações e mais de um mês após a nomeação do novo primeiro-ministro, Hassan Diab, apoiado pelo movimento xiita do Hezbollah, um novo governo composto por 20 ministros foi anunciado no palácio presidencial.

O primeiro-ministro, um acadêmico de 61 anos, prometeu que seu governo fará todo o possível para responder às demandas do movimento de protesto que agita o país desde 17 de outubro e está pedindo uma reforma do sistema político e a renúncia de uma classe política acusada de incompetência e corrupção.

Em Beirute, centenas de manifestantes se reuniram na avenida que leva ao Parlamento e atiraram pedras na polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo, constatou a AFP no local.

"É um governo que expressa as aspirações dos manifestantes em todo o país, mobilizados por mais de três meses, que trabalhará para responder às suas demandas", garantiu Diab, logo após o anúncio da formação de seu gabinete.

O primeiro-ministro prometeu nomear um governo de "tecnocratas independentes", o que responderia às aspirações da rua. Entre os novos ministros estão acadêmicos como o economista Ghazi Wazni, que ficará encarregado das finanças.

Em seu discurso, Diab citou entre as demandas populares a "independência da justiça, a luta contra o enriquecimento ilegal" e também "a luta contra o desemprego".

- "Zombando do povo" -

Antes do anúncio, cerca de 200 manifestantes se concentraram em Beirute, perto do Parlamento, bloqueando a via principal. "Queremos um novo Líbano, um Líbano livre de corrupção", disse o manifestante Charbel Kahi.

"Não venha para zombar do povo libanês com o governo. Há dois meses que esperávamos", disse este agricultor de 37 anos. A tensão aumentou nos últimos dias com confrontos violentos no final de semana entre manifestantes e policiais, que deixaram mais de 500 feridos em Beirute.

A nova equipe foi formada por apenas um lado político, o poderoso movimento xiita pró-iraniano do Hezbollah e seus aliados. Este ainda deve obter o voto de confiança do Parlamento. No entanto, mesmo entre esses aliados, foram necessárias intensas negociações políticas para distribuir as pastas.

Ao lado do Hezbollah, há principalmente a formação de Amal Shia, bem como o Movimento Patriótico Livre, fundado pelo presidente Michel Aoun.

- "Tarefa hercúlea" -

Para a nova equipe, os desafios são muitos, principalmente na esfera econômica, em um país com uma dívida de quase 90 bilhões de dólares, mais de 150% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

São necessárias reformas estruturais, em particular para liberar bilhões de dólares em ajuda e doações prometidas pela comunidade internacional.

Os manifestantes criticam que as autoridades não possam prover serviços públicos básicos. Trinta anos após o fim da guerra civil (1975-90), os libaneses vivem diariamente com falta de energia, uma rede deficiente de água corrente e uma gestão calamitosa de resíduos.

O Banco Mundial alertou em novembro que as taxas de pobreza poderão atingir 50% da população, em comparação com um terço hoje. A tarefa que se espera do governo "durante esse período sério é hercúlea", diz o cientista político Karim Mufti.

"Dada a natureza multidimensional da crise, parece difícil conceber soluções de curto prazo para os problemas financeiros, econômicos e sociais do país", afirma.

Vários dos principais partidos se recusaram a fazer parte do governo.

Pelo menos 70 manifestantes foram feridos ontem pela polícia em Beirute durante protestos contra o governo. Um dia antes, no sábado, confrontos já haviam deixado um saldo de ao menos 400 feridos.

Para dispersar a população, a polícia usou balas de borracha e jatos d'água. Os protestos no Líbano começaram em 17 de outubro e os manifestantes acusam a classe política de incompetente e corrupta.

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A crise econômica piora, com demissões em massa e forte desvalorização da libra libanesa. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Exército israelense começou a implantação, neste domingo (19), de uma infraestrutura subterrânea ao longo da fronteira com o Líbano para lutar contra eventuais incursões do movimento xiita Hezbollah através de túneis - anunciou a força armada em um comunicado.

"Hoje, 19 de janeiro, o Exército israelense começou a mobilizar uma infraestrutura tecnológica para detectar e identificar atividades de obras subterrâneas ao longo da fronteira libanesa", indicou a nota divulgada neste domingo.

O novo sistema equipado com "sensores" permitirá coletar "informações sísmicas e acústicas" que apontem potenciais atividades subterrâneas, disse aos jornalistas o porta-voz do Exército israelense, Jonathan Conricus.

A obra, que começou perto da localidade de Misgav Am, na ponta norte de Israel, vai-se estender por vários quilômetros ao longo da chamada "linha azul", que separa Israel do Líbano, acrescentou o porta-voz.

A instalação destes sensores antitúneis se dá alguns meses depois de um aumento da tensão entre o Hezbollah e Israel.

Há um ano, Israel denunciou ter descoberto túneis escavados pelo Hezbollah com o objetivo de fazer incursões no território israelense.

Os seis túneis descobertos durante a operação "Escudo do Norte" iam ser usados para entrar em Israel, com o objetivo de sequestrar, ou matar, civis e soldados israelenses, alega o Exército.

A última guerra entre Israel e o Hezbollah, em 2006, deixou 1.200 mortos libaneses e 160 israelenses - militares em sua maioria.

A polícia de choque do Líbano utilizou gás lacrimogêneo e canhões de água neste sábado para dispersar manifestantes que protestavam contra a elite política libanesa nos arredores do parlamento na capital.

A confusão teve início quando alguns manifestantes começaram a atirar pedras contra policiais perto do prédio do Parlamento, enquanto outros manifestantes removiam placas de rua e barras de metal para arremessá-las contra as forças de segurança. Os manifestantes também atiraram fogos de artifício contra os policiais.

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O tumulto ocorreu na região central de Beirute, e centenas de manifestantes começaram a chegar de três partes diferentes da cidade para se unir ao grupo.

A Cruz Vermelha libanesa disse ter levado 30 pessoas para hospitais, enquanto outros 45 foram tratados no local.

Nos últimos três meses, o Líbano tem testemunhado protestos contra a elite política libanesa que tem governado o país desde o final da guerra civil (que ocorreu entre 1975-1990). Os manifestantes culpam os políticos pela corrupção generalizada e má gestão do país. Os manifestantes chamaram por novos protestos na tarde deste sábado sob o lema "nós não vamos pagar por isso" em referência a dívida do país, que está em aproximadamente US$ 87 bilhões, ou mais de 150% do PIB.

A agitação social tem crescido nos últimos tempos, com a moeda local, atrelada ao dólar por mais de duas décadas, perder mais de 60% de seu valor nas últimas semanas. A economia segue estagnada e a entrada de capital estrangeiro secou no país já endividado e dependente das importações.

Ao mesmo tempo, os bancos começaram a impor controles informais de capital, limitando a retirada de dólares e transferências para o exterior. No início desta semana, manifestações já resultaram em atos de vandalismo em uma das principais áreas comerciais de Beirute, tendo como alvo os bancos privados.

Além disso, o Líbano está sem governo desde que o primeiro-ministro Saad Hariri renunciou em 29 de outubro, atendendo a uma demanda importante dos manifestantes. A expectativa era de que o primeiro-ministro Hassan Diab anunciasse os membros do novo gabinete na sexta-feira, mas sua iniciativa fracassou em meio à disputas entre facções políticas. Fonte: Associated Press.

Os manifestantes bloquearam nesta sexta-feira (17) várias estradas no Líbano, no âmbito de um movimento de contestação que entra no seu quarto mês contra uma classe política acusada de corrupção e incompetência.

O movimento lançado em 17 de outubro retomou o folego esta semana, após um período de relativa calma, para denunciar a demora do novo primeiro-ministro Hassan Diab em formar um novo governo.

Hassan Diab foi nomeado em 19 de dezembro, depois que Saad Hariri renunciou no final de outubro, sob pressão das ruas. Nesta sexta-feira, carros foram estacionados em uma ponte da rodovia que leva ao centro de Beirute.

"Bloqueamos a estrada com carros porque é algo que eles não podem remover", disse Maroun Karam, um manifestante, à AFP. "Não queremos um governo de políticos 'mascarados' de tecnocratas", acrescentou.

A contestação exige um gabinete de especialistas independentes, uma reivindicação defendida pelo novo primeiro-ministro, que no entanto admitiu ser pressionado pelos partidos que apoiaram sua nomeação.

"Qualquer governo com rostos políticos 'mascarados' cairá. Não daremos a ele nenhuma chance", insistiu Karam.

Carlos Yammine, de 32 anos, também recusa uma "divisão do bolo" entre os partidos tradicionais para a formação do governo.

"Pedimos desde o início do movimento um governo de emergência, reduzido, e transitório com pessoas independentes", afirmou.

Em outras partes do país, estradas foram bloqueadas em várias regiões, incluindo Trípoli (norte) e os subúrbios do norte de Beirute, algumas das quais foram reabertas pela polícia.

Terça e quarta-feira, a capital libanesa foi palco de violência marcada por atos de vandalismo contra vários bancos e confrontos entre manifestantes e policiais.

Em 48 horas, pelo menos cem manifestantes foram presos, disseram advogados à AFP.

Na quinta-feira, algumas centenas de pessoas se reuniram em frente à sede do Parlamento, do Banco Central do Líbano e do ministério do Interior, enquanto a grande maioria dos presos foi libertada.

As imagens das câmeras de segurança mostram que o executivo Carlos Ghosn saiu sozinho no domingo passado de sua residência em Tóquio, segundo fontes próximas à investigação citadas pelo canal público japonês NHK, mas os detalhes da fuga para o Líbano ainda não foram esclarecidos.

As imagens, de domingo por volta das 12h (0h de Brasília), foram as últimas do ex-CEO da Renault e Nissan captadas por uma câmera instalada perto da entrada de sua casa para vigiar seus deslocamentos, de acordo com a NHK.

Ninguém suspeito aparece ao lado de Ghosn nas imagens. A polícia japonesa suspeita que ele se reuniu com alguém para embarcar em um voo.

Ghosn afirmou na quinta-feira que organizou sozinho a viagem para o Líbano, sem explicar os detalhes da fuga.

Imad Ajani, um amigo libanês de Ghosn que mora no Japão, afirmou à agência japonesa Kyodo News que ele conseguiu escapar dentro de uma caixa de instrumentos musicais após um concerto em sua casa, com a ajuda de dois agentes de empresas de segurança privadas que se fizeram passar por músicos. Outra fonte próxima ao empresário, no entanto, negou a informação.

A eventual fuga de Ghosn em uma caixa de instrumentos "é uma especulação", disse Ajami nesta sexta-feira à AFP. "Não sei como partiu do Japão", completou, antes de explicar que não conversou diretamente com o executivo após a fuga.

- Osaka-Istambul-Beirute -

A rota de fuga, no entanto, parece estabelecida. Os investigadores suspeitam que ele embarcou em um avião privado no aeroporto internacional de Kansai (oeste do Japão) no domingo 29 de dezembro à noite. Depois de uma breve escala no aeroporto Ataturk em Istambul, utilizado por aviões de carga e privados, embarcou em outra aeronave com destino a Beirute.

Os investigadores japoneses fizeram uma operação de busca e apreensão na casa de Ghosn em Tóquio na quinta-feira. Sete pessoas, incluindo quatro pilotos, foram detidas na Turquia suspeitas de ajudar na fuga.

A companhia aérea turca MNG Jet denunciou nesta sexta-feira o uso "ilegal" de duas de suas aeronaves para a fuga do ex-CEO da Nissan-Renault.

"A MNG Jet apresentou uma demanda pelo uso ilegal de seus serviços de aviação privada relacionados à fuga de Carlos Ghosn", afirmou a empresa em um comunicado. Um dos funcionários da empresa, detido pela polícia turca, falsificou documentos.

A Procuradoria Geral libanesa recebeu na quinta-feira um "alerta vermelho" da Interpol. O aviso de busca internacional é emitido a pedido dos países membros. No entanto, não há acordo de extradição entre Líbano e Japão.

Ghosn, de 65 anos e que tem nacionalidade francesa, libanesa e brasileira, foi detido em novembro de 2018 no Japão e acusado de supostas fraudes financeiras. Depois de passar 130 dias na prisão, ele foi liberado após o pagamento de fiança no fim de abril, sob estritas condições, e proibido de sair do país à espera do julgamento.

- Segundo passaporte francês -

A polícia suspeita que Ghosn saiu do Japão com uma identidade falsa ou evitando os controles oficiais. Seus três passaportes - francês, libanês e brasileiro - estavam em um cofre de seus advogados japoneses, para limitar os riscos de fuga.

Ghosn, porém, tinha um segundo passaporte francês, em uma espécie de estojo lacrado e cujo código de abertura era conhecido apenas por seus advogados japoneses, informou na quinta-feira uma fonte próxima ao caso.

A justiça japonesa o autorizou a manter este documento, que servia de visto de curta duração no arquipélago. Por este motivo, ele precisava do passaporte disponível para seus deslocamentos no país, segundo a mesma fonte.

Se o segundo passaporte francês não poderia ser utilizado para sair do território japonês, em tese poderia ser usado na escala na Turquia.

As autoridades libanesas indicaram que Ghosn entrou legalmente no país, com um documento de identidade libanês e um passaporte francês. Carlos Ghosn anunciou que concederá uma entrevista coletiva na próxima semana em Beirute.

O ex-presidente da Renault-Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, que é réu no Japão, viajou para o Líbano nessa segunda-feira (30), segundo informou a imprensa internacional. De acordo com o jornal 'Financial Times', a viagem foi confirmada por fontes próximas à família do ex-executivo.

Até a publicação desta matéria, ainda não estava claro como Ghosn (que possui tanto a cidadania francesa quanto a libanesa) poderia deixar o Japão, onde cumpria prisão domiciliar. Até o início da noite de ontem, fontes oficiais dos dois países também não haviam confirmado a viagem.

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A imprensa estrangeira informou que o ex-executivo teria desembarcado no aeroporto Rafic Hariri, em Beirute, e viajado para a capital libanesa por meio de um jato privado.

A Nissan demitiu Ghosn, afirmando que investigações internas da montadora revelaram conduta indevida por ocultação de seu salário, quando ele era presidente executivo da empresa, e transferência de US$ 5 milhões em recursos da Nissan para uma conta na qual ele tinha participação.

Ele enfrenta quatro acusações, incluindo ocultação de renda e enriquecimento irregular. O ex-executivo nega as acusações. Segundo seus advogados, os promotores conspiraram com funcionários do governo e executivos da Nissan para tentar prejudicá-lo.

Ghosn foi preso pela primeira vez em novembro do ano passado, sendo solto quatro meses mais tarde, depois de pagar fiança. Em abril, um mês depois de ser libertado, o ex-executivo foi novamente para a cadeia. Após pagar uma outra fiança, ele deixou novamente a prisão, ainda em abril, mas estava sujeito a uma série de condições restritivas, entre elas, a exigência de que ele ficasse no Japão. (Com agências internacionais). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Bancos e escolas ficaram fechados nesta terça-feira no Líbano, onde manifestantes tentavam impedir que funcionários públicos tivessem acesso a seus trabalhos, em um novo esforço para mobilizar os protestos contra o poder.

O Líbano vive desde 17 de outubro um movimento de protestos proibido e que exige a saída de toda a classe política, considerada corrupta e incapaz de acabar com a estagnação econômica.

O primeiro-ministro Saad Hariri renunciou em 29 de outubro, mas as negociações para formar um novo governo duram desde então.

Na terça-feira, dezenas de manifestantes se reuniram perto do Tribunal de Beirute para reivindicar um judiciário independente e tentaram impedir que juízes e advogados acessassem o prédio, segundo um correspondente da AFP.

Em Aley (centro), Tiro (sul) e Baalbek (leste), os manifestantes mantinham controle de várias dependências das operadoras públicas de telecomunicações, informou a mídia local.

Inúmeras escolas e universidades foram fechadas, assim como os bancos, cujos funcionários convocaram uma greve geral.

Os bancos reforçaram as restrições à retirada de dinheiro e às conversões em dólar, o que aumentou os temores de desvalorização da moeda.

Os estudantes, que lideram os protestos, se manifestam no final do dia, antes de um discurso do Presidente Michel Aun agendado para a tarde.

O movimento de protesto libanês, que transcendeu regiões e comunidades em um país multiconfessional, mantém pressão para obter sua reivindicação de um novo governo, composto por tecnocratas, independente de partidos políticos.

O primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, renunciou nesta terça-feira (29) em meio a uma onda de protestos contra a corrupção que levou o Líbano à pior crise desde a guerra civil (1975-1990). A renúncia atende parte das exigências dos manifestantes - que pedem a destituição de todo o governo - e mergulha o país em uma instabilidade política ainda mais grave.

O anúncio foi feito logo após apoiadores do Hezbollah e do partido Amal, ambos xiitas, atacarem um protesto antigoverno em Beirute. Homens com os rostos cobertos agrediram manifestantes e atearam fogo em suas barracas. O confronto ocorreu após o líder xiita, Hassan Nasrallah, exigir que as estradas fechadas pelos ativistas deveriam ser reabertas e sugerir que os atos eram financiados por inimigos estrangeiros.

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Na semana passada, Hariri tentou acalmar os ânimos ao propor um pacote de medidas acertado com outros grupos de sua coalizão, entre eles o Hezbollah, para acabar com a corrupção e promover reformas econômicas. Mas, sem medidas imediatas, os manifestantes permaneceram nas ruas.

Nesta terça, Hariri pediu paz e disse que é responsabilidade de todos os partidos garantir a proteção do país. "Cargos vêm e vão. A dignidade e a segurança do país são mais importantes", afirmou. "É hora de termos um grande choque para enfrentar a crise."

O estopim dos protestos foi o anúncio do governo de novos impostos - entre outros, uma taxa para chamadas de WhatsApp. As manifestações causaram o colapso da libra libanesa, que há anos tem baixo valor. Bancos ficaram fechados pelo décimo dia consecutivo, assim como escolas e comércios.

Pela primeira vez, os protestos reúnem manifestantes de diversas religiões por uma mesma causa, contra o sectarismo presente no Parlamento e na alta cúpula do governo. Um diplomata brasileiro que vive em Beirute relatou à reportagem que se trata de um movimento heterogêneo, com participantes pobres e ricos, tendo em comum a insatisfação com o governo patrimonialista.

A regra para composição do Parlamento libanês é um reflexo da diversidade religiosa da sociedade. O acordo prevê que metade das cadeiras seja de cristãos, com subdivisões entre católicos, ortodoxos, protestantes e evangélicos. A outra metade deve pertencer a muçulmanos, divididos entre sunitas, xiitas, alauitas e drusos. Entre os xiitas, há políticos do Hezbollah, apoiado pelo Irã.

Com exceção da violência desta terça, as manifestações têm sido pacíficas. Após quase duas semanas, elas estão "institucionalizadas", segundo o diplomata brasileiro. Há uma organização civil para fornecer carona para quem quer ir aos protestos, comida para os participantes e mutirões para limpar as ruas. Outra característica, segundo ele, é a participação de uma geração pós-guerra civil, que cresceu sem conhecer o ódio sectário e manifesta repúdio a um governo considerado corrupto. (Renata Tranches, com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Manifestantes libaneses reforçaram nesta segunda-feira (28) os bloqueios em várias estradas, um dia depois da formação de uma cadeia humana que demonstrou uma unidade sem precedentes, aumentando ainda mais a pressão contra o governo em um país paralisado.

As imagens da imensa cadeia humana formada no domingo (27) por dezenas de milhares de libaneses com a bandeira nacional ao longo de 170 km da costa ocupam as primeiras páginas de todos os jornais nesta segunda-feira.

A imprensa considera o evento um símbolo de um protesto sem precedentes na história do Líbano por sua magnitude e harmonia. Os manifestantes exigem a saída de toda a classe política que afundou o país e que consideram corrupta.

Os bloqueios nas estradas de acesso a Beirute foram reforçados com dezenas de veículos nas ruas, que se uniram a barricadas instaladas há mais de 10 dias.

"Se a classe política corrupta não entende a que ponto o país está doente, então não vai acontecer nada", afirma Ali, 21 anos, responsável por "vigiar" os veículos que fecham uma das entradas ao norte de Beirute.

O mal-estar da população explodiu em 17 de outubro, após o anúncio de um imposto sobre as ligações feitas pelo aplicativo WhatsApp. O rápido cancelamento da medida não impediu os protestos em todo o país.

No 12º dia de manifestações não é possível vislumbrar uma solução. Bancos, escolas e universidades continuam fechadas até nova ordem. O fim do mês se aproxima e alguns trabalhadores podem não receber os salários.

A "Ode à Alegria" de Beethoven, com uma letra adaptada para o árabe, é cantada por todo o país, assim como o hino nacional. Analistas consideram que a prioridade das autoridades é acabar com os bloqueios para que o país volte a produzir.

Mas o exército, que permanece neutro, já anunciou que não aceita o uso da força contra os manifestantes. No sábado à noite aconteceram breves confrontos com o exército na região de Trípoli, que deixaram sete feridos, mas desde então não foi registrado nenhum outro incidente do tipo.

- "Revolução de outubro" -

Os militantes pró-Irã do Hezbollah abandonaram as manifestações, seguindo as ordens de seu líder, Hassan Nasrallah. Eles também rejeitaram o pedido popular de renúncia do governo.

O cenário político parece travado. Não está mais na agenda uma reforma ministerial, que chegou a ser mencionada no início dos protestos. Os principais ministros, inclusive os mais criticados nas ruas, se negam a ser sacrificados, afirma a imprensa.

O país sofre uma escassez crônica de energia elétrica, água e serviços médicos básicos há 30 anos, desde o fim da guerra civil (1975-1990).

Há uma semana, o primeiro-ministro Saad Hariri anunciou um pacote de reformas para dinamizar a economia, que está à beira do colapso.

"Ninguém sabe para onde vamos. Mas eu considero o que vivemos tão importante como a queda do Muro de Berlim", declarou Ziad Omais, um agente imobiliário de 52 anos.

Os bloqueios de estradas por manifestantes aumentaram nesta sexta-feira (25) no Líbano, marcando sua determinação contra a classe política no nono dia de uma mobilização sem precedentes marcada por incidentes.

Militantes do poderoso movimento xiita pró-iraniano Hezbollah, cada vez mais visíveis nas ruas, estiveram envolvidos na quinta-feira à noite em confrontos em Beirute, indignados com as críticas lançadas a seu líder Hassan Nasrallah.

Nasrallah deve se pronunciar esta tarde. O Hezbollah é o único movimento político armado do país, em nome de sua luta contra Israel.

No dia seguinte a um discurso à nação do presidente Michel Aoun, considerado unanimemente decepcionante, dezenas de novas barricadas apareceram nas estradas, fortalecendo a paralisia do país, constataram correspondentes da AFP.

O bloqueio da via que liga Beirute ao norte do país foi mantido. Grandes lonas azuis foram instaladas para proteger os manifestantes da chuva e permitir que alguns passassem a noite.

"Fechada por causa da divisão do país", dizia um cartaz, enquanto inúmeras placas recordavam a principal reivindicação do movimento de protesto: a substituição imediata de uma classe política incapaz de endireitar o país e quase inalterada desde o final da guerra civil (1975-1990).

Issam, médico de 30 anos, está mais determinado do que nunca, apesar do fechamento prolongado dos bancos, escolas e universidades.

"Vamos continuar até a queda do regime. Não temos escolha, as pessoas estão com fome", assegurou, enquanto serviços básicos - como água, eletricidade e acesso universal à saúde - não são assegurados no país.

Dezenas de voluntários, incluindo famílias com crianças pequenas, começaram a limpar o centro da cidade esta manhã.

O Exército, presente em massa nas ruas nos dois dias anteriores, adotou uma postura mais discreta, apesar do chamado de Aoun para garantir a "liberdade de circulação dos cidadãos".

O movimento de contestação foi desencadeado em 17 de outubro pelo anúncio inesperado de um imposto sobre as chamadas via WhatsApp, imediatamente cancelado.

O presidente Aoun, ex-general de 84 anos, propôs reunir-se com "representantes" dos manifestantes, cujo movimento espontâneo não tem precisamente líderes ou porta-vozes.

Ele apoiou o plano de reforma apresentado na segunda-feira pelo primeiro-ministro Saad Hariri, que foi imediatamente rejeitado pelas ruas. Também sugeriu uma mudança ministerial, a única pista séria de seu discurso, de acordo com a imprensa.

Mas um impasse prolongado pode levar a uma derrapagem do movimento de protesto, de acordo com a imprensa.

O jornal Al-Akbar, próximo do Hezbollah, alertou para "o risco de caos". "O Hezbollah decidiu ir às ruas para liberar as estradas", escreveu.

Um tabu foi quebrado quando Hassan Nasrallah foi criticado em redutos xiitas do sul do país, particularmente na cidade de Nabatiyah. Foram relatados incidentes violentos entre manifestantes e militantes do Hezbollah, mas a mobilização parece não enfraquecer, com uma presença maciça e perceptível de jovens e mulheres.

Também ocorreram confrontos em um bairro cristão a leste de Beirute, entre manifestantes e militantes do partido de Aoun.

Os manifestantes dizem estar cientes das tentativas de "infiltração" do movimento.

"Querem nos dividir, mas não terão sucesso. O que nos motiva é saber que estamos juntos nas ruas, não apenas em Beirute, mas também em Nabatiyah, Tire, Trípoli e em outros lugares", disse Fares Halabi, pesquisador de 27 anos.

As grandes manifestações no Líbano contra as autoridades continuam a ganhar força, apesar das medidas anunciadas pelo governo, e o Exército aumentou sua presença nas ruas.

A mobilização, longe de diminuir após as reformas apresentadas pelo governo na segunda-feira, ganhou terreno em Beirute. Os soldados e as forças de segurança também foram mobilizados nos arredores dos pontos de conflito, de acordo com jornalistas da AFP, que constataram a presença de veículos blindados.

Depois de vários dias de grandes manifestações, centenas de pessoas lotaram as ruas nesta quarta-feira. Em um cara a cara, às vezes tenso, manifestantes conversavam com os militares. Agitando bandeiras libanesas ou cantando o hino nacional ou canções tradicionais, lhes entregaram flores, para ganhar sua simpatia.

Segundo um fotógrafo da AFP, alguns soldados ficaram com olhos lacrimejantes de frente para a multidão, que gritava: "Pacíficos, pacíficos!"

"Vimos as lágrimas deles, sabemos que eles recebem ordens", disse Elie Sfeir, uma trabalhadora de 35 anos. "Mas continuaremos aqui para obter uma mudança de regime, é tudo o que pedimos. Queremos escrever um novo capítulo neste país".

Em Nabatiye, no sul, a polícia tentou dispersar com força um grupo de manifestantes. Alguns deles ficaram feridos, segundo a Agência Nacional de Informação (ANI).

Nesse reduto dos movimentos xiitas Hezbollah e Amal, os manifestantes também foram atacados, em parte, por apoiadores desses dois partidos, o que levou o exército a intervir, disse um manifestante à AFP.

- O medo desapareceu -

Hassan, de 27 anos, e seus amigos não se deixaram impressionar pelos soldados, quando estes retiraram as barreiras que haviam instalado no meio da rua. Os jovens sentaram-se quietos no chão, com bandeiras libanesas, e os militares recuaram. A rua permaneceu bloqueada.

"O sentimento de medo desapareceu!", gritou Hassan.

Michel Khairallah, um jovem garçom, quer "bloquear o país até a vitória". O que significa até o estabelecimento de um novo governo "sem ministros corruptos", composto por "pessoas jovens e competentes" capazes de levar o país adiante.

Em um comunicado, o primeiro-ministro, Saad Hariri, se declarou "determinado a obter a abertura das estradas para garantir a livre circulação de cidadãos" e ressaltou "a importância de salvaguardar a segurança e a estabilidade do país".

No fim do dia, somente apenas uma barricada na entrada norte de Beirute havia sido derrubada, enquanto que a estrada que cruza o país de norte a sul seguia em grande parte bloqueada.

Bancos, escolas e universidades permanecem fechados até novo aviso.

O plano de reforma econômica apresentado na segunda-feira pelo primeiro-ministro Saad Hariri não mudou a situação, apesar de incluir medidas muito simbólicas, como a redução dos salários dos ministros e deputados.

"Muito pouco, muito tarde?", questionou o jornal L'Orient le Jour.

Os Estados Unidos pediram aos líderes de Líbano que enfrentem as queixas "legítimas" dos cidadãos.

David Schenker, o principal funcionário do Departamento de Estado para o Oriente Médio, disse que os Estados Unidos "estão prontos para ajudar o governo libanês" a tomar medidas, em comentar sobre o pacote de reformas apresentado por Hariri.

- Imposto demais -

Por enquanto, nenhum líder emergiu da mobilização. Na terça-feira, surgiu um "comitê de coordenação da revolução", que fez um discurso na Praça dos Mártires em Beirute, mas sua representatividade não convenceu completamente.

Um grupo de economistas propôs seus serviços para tentar encontrar soluções.

Os protestos surgiram após o anúncio, em 17 de outubro, de uma nova taxa sobre as chamadas feitas através do serviço de mensagens WhatsApp.

Este novo imposto atingiu em cheio a população de um país cuja vida cotidiana não para de degradar, com cortes incessantes de água e eletricidade, 30 anos após o fim da guerra civil (1975-1990).

Sem esquecer uma classe política no poder há décadas, acusada de corrupta e de ser incapaz de encontrar soluções.

Por sua parte, Hariri, que mantém boas relações com a comunidade internacional, crê num apoio financeiro do exterior para ajudar a avançar o país.

Na terça, ele se reuniu com os embaixadores da França e dos Estados Unidos, dois países amigos, para convencê-los da solvência de seu plano de emergência.

Ele espera, acima de tudo, desbloquear um fundo de 11 bilhões de dólares, prometido em abril de 2018 em uma conferência em Paris em troca de reformas estruturais.

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