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 Através do tato, Michel desvenda os botões e funções de sua câmera. (Rafael Bandeira/LeiaJáImagens)  

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O que você enxerga quando vê? Em meio às pernadas apressadas dos corredores da pista do Campo do Quinze, localizado em Torrões, na Zona Oeste do Recife, o estudante Michell Platini parece ter todo o tempo do mundo. Pacientemente, ele tateia o relevo com sua bengala, informa-se sobre o espaço e saca sua câmera fotográfica. Vítima de glaucoma congênito, Michell convive desde cedo com a baixa visão no olho esquerdo e a cegueira completa no direito. Assim, ele aprendeu a sentir e imaginar o mundo de forma única, a qual pretende compartilhar através de seu inusitado trabalho de conclusão do curso de publicidade e propaganda, na área de fotografia. Michell fará uma campanha para a Casa do Frevo, registrando passistas que executarão os rápidos movimentos do ritmo pernambucano.

De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, existem 45.606.048 pessoas com deficiência no Brasil - o equivalente a 23,9% da população brasileira-, no entanto, apenas 6,66% delas possuem ensino superior completo. A grande maioria desta população (61,13%) não é dotada de instrução ou ensino fundamental completo. “Eu tenho o carma de ser meio desbravador: fui o primeiro aluno com deficiência da escola e depois o primeiro aluno de espanhol da rede pública. Desde cedo batalhei com minha mãe para garantir direitos como o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Escolhi o curso de Publicidade pensando no desafio de encarar uma área muito visual”, conta Michell.

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As dificuldades de viver em uma sociedade pouco pensada para suas demandas, aproximaram o estudante da militância organizada. No movimento juvenil desde a adolescência, Michell já foi delegado do Orçamento Participativo da Juventude, membro do Conselho da Juventude e assessor da Associação Pernambucana de Cegos (APC). “Tento ser essa pessoa que aponta onde estão os erros, mas também apresenta uma solução. O sistema educacional ainda tem uma dívida com as pessoas com deficiência, por isso quero fazer um bom trabalho de conclusão de curso e mostrar que podemos absorver e produzir conhecimento”, coloca. Foi com esse espírito que Michell decidiu escolher a fotografia como área de conhecimento de seu projeto de conclusão de curso. “Sou meio teimosinho, gosto de causar esse estranhamento, porque só há evolução quando vemos algo que mexe com a gente. Então é provocar esses sentimentos nas pessoas e a academia sobre a importância de pensar uma fotografia para todos”, defende Michell.

Para realizar a façanha, o estudante aposta em uma metodologia pouco convencional. “Certa vez, um fotógrafo europeu fotografou uma bailarina colocando guizos nos calcanhares dela. Dessa forma, sem precisar vê-la, ele conseguiu acompanhar sua movimentação através do som. Eu pretendo aplicar a mesma ideia, só que com o frevo. No meu caso, os passistas vão utilizar também fones para ouvir a música, sem que o som me atrapalhe ou se confunda com a sinalização de onde eles estão”, explica.

De acordo com Valéria Gomes, orientadora do projeto e professora dos cursos de Comunicação Social da UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau, Michell será o primeiro aluno com deficiência da instituição de ensino a se formar em publicidade com projeto na área de fotografia. “Propus que ele busque uma distância focal, através de marcações no chão para que os bailarinos tivessem uma determinada faixa de comprimento e Michell pudesse captar aquele pedaço. É uma metodologia nova que estamos tentando implementar”, comenta. A professora lembra ainda que o trabalho precisa ter um visual atraente, para servir de material publicitário para a Casa do Frevo. “Para isso, Michell vai aproveitar todo um arcabouço teórico que conseguiu apreender nos quatro anos de curso, aplicando isso às técnicas fotográficas”, completa.

Registro feito por Michell com auxílio da amiga Jenifer, que descreveu o cenário antes do clique. (Michell Platini/cortesia)

“A fotografia já está na nossa cabeça”

Incansavelmente, Michel se posiciona em diversos ângulos com o objetivo de fotografar os garotos que treinam no Campo do Quinze, onde ele próprio já jogou futebol antes de adquirir outras patologias além do glaucoma, a exemplo da catarata e de um edema na córnea. Após alguns registros, o estudante praticamente encosta o olho esquerdo no visor da câmera e observa se o enquadramento está satisfatório. Caso haja excesso de chão ou céu na imagem, ela precisará ser refeita. Ele confessa ter mais facilidade de produzir os registros em lugares conhecidos, com os quais já possui lembranças e até certa relação afetiva. “Se você pensar bem, a fotografia já está na nossa cabeça, antes de ser clicada. Um diretor fotográfico pensa aspectos como a luz antes da foto, a lente apenas vai captar”, defende.

Como primeiro contato profissional com a oitava arte, Michell toma por referência um curso de fotografia voltado para pessoas cegas. “Gosto de tirar foto, sempre me interessei em pensar o enquadramento, esperar o melhor momento...Recentemente comprei uma Cannon SL2”, comemora. Com a premissa de conhecer bem o equipamento de trabalho, Michell desbrava a nova e complexa câmera com perseverança, a partir do toque atencioso em cada botão, do som e da tecnologia. “Por enquanto, estou fotografando no modo automático, mas depois pretendo trabalhar no manual. Depois utilizo um programa chamado Leitor de Tela, que me ajuda a ler, escrever e editar as fotos no computador”, acrescenta.

Fotografias produzidas por Michell no bairro de Torrões, onde mora, durante reportagem com o LeiaJá. (Michell Platini/cortesia)

Existe ainda outra ferramenta essencial para que o estudante desenvolva seu talento: os amigos. A fotógrafa Jenifer Miranda conta que costuma sair aos passeios fotográficos ao lado do estudante, a quem dá breves informações sobre o cenário que os envolve. “No último ‘rolê’ fotográfico que fizemos, na praia, ele tirou uma foto bem bonita do nascer do sol. Depois que você diz onde está o sol, o mar e explica as direções, ele fica livre. Não precisa guiar, ele faz tudo sozinho e tem suas próprias estratégias. Ouve o som do mar e sente o sol na pele”, garante Jenifer. A fotógrafa diz que não se chocou quando o amigo decidiu fazer os próprios registros. “Me surpreendi apenas com o fato de que as fotos são belíssimas, porque ele faz coisas que outras pessoas levam anos para conseguir e estuda para isso. Aprendo todo dia com Michell, porque é uma realidade que não vivo”, conclui Jenifer.

Fotografia acessível

Ao apoio dado por Jenifer durante as produções recentes, Michell refere-se como audiodescrição, isto é, um recurso que traduz imagens em palavras, fundamental para que pessoas cegas ou com baixa visão possam compreender conteúdo audiovisuais. Com formação na área, o estudante planeja o recurso em seu trabalho de conclusão. “Agora, eu estou querendo produzir fotografia, mas depois posso querer consumir. Meu trabalho vai ser acessível para pessoas cegas”, adianta.

O volante Michel só teve motivos para comemorar nesta terça-feira. De volta ao time titular do Grêmio, o jogador fez o gol da vitória sobre o River Plate por 1 a 0, em Buenos Aires, no jogo de ida da semifinal da Copa Libertadores, e celebrou a volta por cima após uma sequência de lesões e problemas familiares.

"É emocionante. Só eu sei o que passei. Foi muito trabalho, muita fisioterapia para ser coroado com esse gol hoje. É sensacional. Mas não posso esquecer esse espírito da equipe. Libertadores é isso, sem violência. Um gol que fez a diferença", celebrou o volante, que foi a aposta do técnico Renato Gaúcho para a partida.

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Michel reforçou o meio-campo ao entrar no lugar do atacante Luan, que está machucado mas parecia ter chances de entrar em campo porque havia participado do treino na segunda-feira. Sem Luan e também com a baixa de Everton, o treinador preferiu dar maior atenção ao meio-campo, na tentativa de reforçar a marcação e neutralizar o ataque do River. A estratégia deu certo e o time gaúcho abriu boa vantagem na briga para voltar à final da competição.

Mas a escalação surpreendeu até mesmo o próprio Michel. "Soube ontem [que iria jogar]. Este gol foi muito bem-vindo. Ele pediu para segurarmos. Me plantou em frente à área, mas não deixamos de jogar", comemorou o volante, sem esquecer dos problemas que enfrentou nos últimos meses.

As dificuldades do jogador começaram em maio, quando sofreu uma lesão muscular na coxa direita. Um dos destaques da equipe no ano passado, Michel queria brilhar de novo. Porém, ao voltar a jogar, em setembro, sofreu novo problema físico, desta vez uma entorse no tornozelo direito. Além disso, passou por um período de luto em razão da morte do avô.

"De alguns meses para cá, eu perdi meu avô, José. Esta luta com minha vó, que ficou viúva. Dedico este gol a ele. Nunca deixei de trabalhar. Foi gratificante", festejou o volante, que ganhou elogios dos companheiros de equipe.

"Ele se machucou num momento difícil, teve que respirar um pouco. E hoje ele jogou muito, fez o gol da vitória. Estou muito feliz por ele", disse o zagueiro Kannemann, que guardou elogios também à atuação do coletivo gremista.

"É um time que sabe jogar, sabe utilizar as ferramentas que tem, no momento adequado. Hoje não deu para jogar muito, foi mais na raça, no trabalho tático, na defesa. Mas, na bola parada, conseguimos o gol", comemorou o zagueiro, que cumprirá suspensão no jogo da volta por ter levado cartão amarelo nesta terça.

O presidente Michel Temer (PMDB) conseguiu uma dupla vitória na Câmara dos Deputados. Após se safar da primeira denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), nesta quarta-feira (25), o peemedebista também conseguiu se livrar da segunda denúncia da PGR por formação de organização criminosa e obstrução de Justiça.

Até por volta de 20h35, foram 251 votos a favor de Temer, 233 votos contra, além de 25 ausências e duas abstenções. Os ministros Moreira Franco [Secretaria-Geral] e Eliseu Padilha [Casa Civil] também foram denunciados por organização criminosa. 

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O resultado deve dar um alívio para Temer. No início da tarde de hoje, ele chegou a sentir um mal-estar no Palácio do Planalto e foi encaminhado ao centro cirúrgico do hospital do Exército, em Brasília. Ele chegou cedo hoje no palácio, por volta das 8h50, mesmo tendo cumprido uma agenda ontem que terminou perto da meia noite, depois de um jantar oferecido na casa do deputado Fábio Ramalho. 

O ex-presidente do Uruguai e atual senador José Mujica comentou o atual cenário político do Brasil afirmando que era “triste”. “Tudo isso é muito triste. É um cenário que coloca o Brasil, na visão internacional, como uma república muito desprestigiada. O Brasil não merece isso”, lamentou em entrevista para a BBC Brasil.

Mujica falou sobre a votação que deve ocorrer, no próximo dia 2 de agosto, que deve definir a situação do presidente Michel Temer (PMDB). “Me dá pena. Pena pelo Brasil por ver o que aconteceu com uma comissão [Comissão de Constituição e Justiça], que estava estudando as eventuais acusações e tiveram que mudar a composição dessa comissão. Tudo indica que houve muita influência para poder colocar gente que não decepcionasse o governo”, declarou. 

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Ele definiu o governo Temer como um retrocesso e falou sobre as reformas propostas. “Porque, por exemplo, os trabalhadores rurais, tão importantes no Brasil, vão ficar praticamente sem aposentadoria. Porque ter que trabalhar esse montão de anos é praticamente impossível para uma vida normal. Eu acho que estão caminhando para mais de 50 anos de atraso”. 

“Por um lado existe um mundo que floresce quando a economia cresce, mas existe outro que vai ficando marginalizado da civilização. E o Estado tem que buscar reduzir essa contradição. O Brasil está fazendo exatamente o contrário”, disse. 

Ao falar sobre a condenação de Lula, Mujica declarou que “é evidente” que no Brasil tudo ganhou “um tom conspirativo de extrema-direita”. “Acho também que existe uma direita muito conservadora que está utilizando, entre outras coisas, a influência de mecanismos da Justiça tentando frear toda possibilidade de resposta progressista ou mais ou menos a favor da grande maioria”. 

Ainda pontuou que achava “impressionante atacarem” o presidente Lula. “Colocam a eventual venda de um apartamento em uma praia. Para um homem que foi presidente, durante oito anos da principal potência da América Latina, e com o antecedente da retirada de Dilma Rousseff do governo. Realmente tudo isso gera a imagem de um Brasil muito doente”

“E, além disso, aprovam um conjunto de reformas que vão para o passado, [anulando] as medidas que foram implementadas por Getúlio Vargas, que foi um presidente inesquecível e se suicidou por causa da pressão da oligarquia. É como se o Brasil estivesse voltando aos seus piores tempos”, ressaltou. 

Mudança. Essa é a palavra de ordem aclamada por milhões de brasileiros nos últimos anos. Essa é, também, a postura que se espera da atuação do novo presidente Michel Temer que, a partir de hoje, assumirá o Brasil para um mandato curto. Mudanças em todos os sentidos, em todos os setores. Mudanças que proporcionem à sociedade brasileira acreditar que o Brasil irá superar a crise econômica e voltará a se desenvolver em todas as áreas.

Otimismo. Esse é um substantivo característico dos brasileiros e tão presente nessa nova etapa que se inicia em nosso país. Somos otimistas em acreditar que um futuro melhor está por vir, com mais oportunidades e que este futuro irá beneficiar a todos.

Desafios. Durante duas décadas, o Brasil viveu um crescente desenvolvimento sócio econômico, que trouxe ganhos para todos os setores. Inicialmente, através da Lei de Responsabilidade Fiscal, privatizações e implantação do Plano Real. Posteriormente, com o investimento em políticas sociais, voltadas a garantir o desenvolvimento socioeconômico do País. Em todos esses aspectos, inúmeros desafios foram sendo ultrapassados e geraram resultados que nos tornaram, por um tempo, a 6º economia mundial.

A economia foi fortalecida através da expansão do crédito, o acesso à educação superior foi garantido através dos programas sociais imprescindíveis de financiamento (Fies) e bolsas estudantis (Prouni), a habitação registrou crescimento graças ao crédito das instituições financeiras para financiamento da casa própria e as fronteiras foram abertas para investimentos estrangeiros.

Hoje, o Brasil está estagnado. Os níveis de desemprego e inflação não atingiam números tão altos há muitos anos, provocando o esvaziamento do comércio e fazendo a população paralisar qualquer projeto de investimento pessoal. Pelo país, as epidemias de dengue, Zika e agora a gripe do H1N1, se alastram, sem que o Sistema de Saúde consiga impedir, ou minimizar. Estamos, há muito, vendo que o Estado Brasileiro é totalmente inoperante. Nós, cidadãos, nos sentimos abandonados, seja na área da política, da segurança, da saúde, da educação e da infraestrutura.

A partir de hoje (12/05), uma nova era, um novo momento histórico se inicia no Brasil. Devemos passar uma borracha nos acontecimentos pretéritos, que devem ficar em nossa memória apenas como aprendizado. Temos que olhar para o futuro que, tenho certeza, será transformador.

O Brasil precisa de reformas. Inicialmente a reforma administrativa. Para que tantos ministérios, tantos cargos de confiança e tantas empresas estatais? O Estado está inchado, gigante. As receitas provenientes dos tributos não são suficientes para custear as próprias despesas estatais, quanto mais para custear as atividades essenciais como a educação, saúde, segurança, infraestrutura, saneamento, etc. Temos que ter um estado mínimo, regulador e fiscalizador.

Precisamos de uma reforma política que acabe, ou pelo menos minimize, a corrupção institucionalizada. Mister se faz uma reforma tributária com o objetivo de descomplicar e desonerar a atividade produtiva para que a mesma gere mais emprego, riqueza e renda, e por via de consequência, pague faça crescer a arrecadação. Necessário se faz uma reforma previdenciária para evitar a bancarrota do Estado. Uma reforma trabalhista que possa flexibilizar as relações entre capital e trabalho, cujo fim primacial consiste em aumentar os números de empregos. E até uma reforma educacional cujo desiderato seja acabar com a gratuidade do ensino público para os ricos, mantendo, e até ampliando, para os pobres. Apenas lembramos, ilustrativamente, que cerca de 80% dos estudantes das universidades públicas federais são ricos e estudam sem pagar nada, enquanto os alunos pobres, que precisam trabalhar para sobreviver, vão estudar nas boas faculdades privadas através de bolsas de estudo (ProUni), via financiamentos públicos (Fies) ou financiamentos privados, o que é paradoxal e inconcebível em um país de tantas desigualdades sociais.

O Brasil precisa mudar completamente a sua relação com a sociedade e com o mundo. São necessárias atuações que permitam mais parcerias público-privada, promovendo mais eficiência nas ações. Precisamos ser mais abertos, competitivos e menos burocráticos. Nós, brasileiros, queremos confiar na nossa classe dirigente, para que ela nos mostre uma sociedade madura e apta a crescer juntamente com parceiros comerciais do mundo afora.

A nação que queremos não admite mais corrupção, burocracia, desigualdade educacional para os iguais, bem como incompetência, arrogância e falta de humildade de seus governantes. O país que sonhamos tem que ser transparente, oferecer justiça social, saúde e educação de qualidade - gratuita para os pobres, onerosa para os ricos -, segurança pública, saneamento básico, infraestrutura e moradias dignas para todos, taxas de juros acessíveis ao setor produtivo, políticas de aposentadoria dignas, mas que permitam sustentabilidade ao Estado, além de incentivar a criação de um setor produtivo forte, que gere empregos, riqueza e renda para todos.

Queremos um país de produção e consumo, de trabalho e renda, de hospitais e escolas públicas para os pobres e particulares ou pagas para os ricos. Uma nação de seriedade, integridade e responsabilidade em todos os níveis. Um estado democrático, independente, soberano, respeitado internacionalmente e que use o dinheiro público no objetivo destinado. Um país que pensa em seu povo e que quer o melhor para ele.

Esperança. Essa é a palavra que norteia nossas expectativas em relação ao governo de Michel Temer. Esperança de que ele e seus colaboradores sejam capazes de unificar o Brasil numa grande aliança e recolocá-lo nos trilhos do progresso e do desenvolvimento econômico e social, possibilitando a superação dos desafios e das adversidades, fazendo com que seja recriada uma nova sociedade, mais igualitária e com mais oportunidades para todos. Enfim, uma nova era surgirá a partir de hoje no Brasil.

À página 41 da decisão de 73 páginas em que manda afastar Eduardo Cunha do mandato e da Presidência da Câmara, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), transcreve mensagens por celular entre o deputado e Léo Pinheiro, da Construtora OAS. Uma delas fala de um certo 'Michel' que teria sido contemplado com R$ 5 milhões pelo empreiteiro. Para os investigadores da Operação Lava Jato 'Michel' é referência ao vice-presidente Michel Temer (PMDB).

A citação de Teori a 'Michel' tem base no pedido de afastamento de Eduardo Cunha protocolado em dezembro de 2015 pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ao STF, o procurador apresentou onze argumentos para tirar Eduardo Cunha de cena. No documento, Janot transcreveu mensagens trocadas entre o então presidente da Câmara e Léo Pinheiro que foi preso na Lava Jato em novembro de 2014 e fez delação premiada para ficar livre.

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Teori resumiu assim o diálogo que cita 'Michel' e 'a turma': "Há, ainda, outras mensagens em que Eduardo Cunha cobra supostos compromissos que Léo Pinheiro tinha com 'a turma', que teriam sido inadvertidamente adiados: 'Eduardo Cunha cobrou Léo Pinheiro por ter pago, de uma vez, para Michel - a quantia de R$ 5 milhões - tendo adiado os compromissos com a turma, que incluiria Henrique Alves, Geddel Vieira, entre outros. Léo Pinheiro pediu para Eduardo Cunha ter cuidado com a análise, pois poderia mostrar a quantidade de pagamentos dos amigos.'"

Em dezembro de 2015, quando este diálogo entre Eduardo Cunha e Léo Pinheiro foi revelado, o a assessoria do próprio vice-presidente distribuiu nota confirmando o recebimento de R$ 5,2 milhões da empreiteira. Segundo o texto, o valor se referiu a 'doações ao PMDB devidamente registradas no partido e na prestação de contas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral'.

"Houve depósitos na conta do partido e a devida prestação de contas ao Tribunal. Tudo já comprovado por meio de documentos. A simples consulta às contas do PMDB poderia ter dirimido qualquer dúvida que, por acaso, pudesse ser levantada sobre o assunto", escreveu Temer, que na época era presidente do PMDB.

Em sua decisão para afastar o presidente da Câmara, Teori transcreve muitas outras mensagens entre Cunha e Léo Pinheiro. Para o ministro do Supremo, a intensa troca de correspondência entre o parlamentar afastado e o empreiteiro indica o uso da Câmara 'em projetos de interesse de Léo Pinheiro'

"O mesmo modus operandi repetiu-se em várias outras mensagens que retratam a contínua atuação de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados em projetos de lei de interesse de Léo Pinheiro e da empreiteira OAS, tais como: a Medida Provisória 600/2012; o projeto de Lei Complementar 238/2013, em que Léo Pinheiro, em 23.10.2013, ‘afirmou em que a aprovação foi graças a Cunha, afirmando Te devo mais esta’; na MP 627/2013 e a Medida Provisória 656."

Ainda segundo Teori: "Por outro lado, como aponta o Procurador-Geral da República, os conteúdos das mensagens extraídas do celular de Léo Pinheiro indicam que: 'Em contraprestação aos diversos serviços prestados por Eduardo Cunha, houve o pagamento de vantagens indevidas milionárias para o Eduardo Cunha ou para pessoas a ele ligadas, a título de doações de campanha. Nos contatos entre Eduardo Cunha e Léo Pinheiro há frequente cobrança de valores por parte do parlamentar, em especial doações de campanha, não apenas para ele, mas também para outros correligionários. Verifica-se, pelas mensagens, que há doações regulares e ordinárias chamadas de rotineiras e outras extraordinárias'."

"Constam, ainda, várias mensagens em que Eduardo Cunha, Leo Pinheiro e Henrique Alves tratam a respeito de reuniões sobre temas do interesse da OAS, conforme descrito às folhas 138-142 e 159. O Ministério Público aponta, ainda, que é possível visualizar nos conteúdos das mensagens encontradas no celular de Leo Pinheiro 'que há algum esquema ilícito envolvendo a compra de debêntures por entes públicos . Pelo que se pode inferir das mensagens, há a aquisição de debêntures emitidas pelas empresas, que são adquiridas ou por Bancos - Caixa Econômica Federal, por meio do FI FGTS, ou BNDES - ou por Fundos de Pensão onde há ingerência política. Tudo mediante pagamento de vantagem indevida aos responsáveis pelas indicações políticas, inclusive mediante doações oficiais', que também contaria com a atuação de Eduardo Cunha."

A reportagem fez contato com a assessoria do vice-presidente. O espaço está aberto para sua manifestação.

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