A pandemia não freou a busca dos turistas por um lugar para passar as solenidades de encerramento do ano, de acordo com as organizações representantes da rede hoteleira de Pernambuco. No Estado, a Secretaria de Turismo e Lazer (Setur) prevê uma ocupação de 80,6% dos hotéis para o réveillon, porcentagem correspondente aos anos anteriores.
Para o Natal, que em comparação ao feriado seguinte é menos movimentado, a taxa de ocupação é de 67%, já um pouco mais distante do registrado no mesmo período do ano passado, com a marca de 85%. A permanência média de turistas em Pernambuco para o réveillon é de três dias.
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Pelo menos três destinos já garantiram bom público para a noite da virada de ano: Bonito, Itamaracá e Bezerros estão com 100% da ocupação. Ipojuca segue o mesmo caminho e já exibe previsão de ocupação de 81%, seguido do Recife, com 79%; e de Fernando de Noronha, com 74%. Em comparação ao ano de 2019, há uma queda de 15% na taxa média de ocupação, mas o turismo local não reconhece o índice como uma má amostra de desempenho, sobretudo considerando o impacto da pandemia do novo coronavírus no setor.
No ano passado, o Estado se aproximou dos 95% na virada do ano. Fernando de Noronha foi o destino mais procurado, com índice acima dos 98% e permanência média de 6,3 dias. Já a capital pernambucana conta com 91%, com média de permanência de 2,3 dias.
O Natal de 2020 apresenta a mesma permanência média que a festa de fim de ano. Neste cenário, o destaque vai para o município de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, com 100% da ocupação, seguido de Garanhuns (81,4%), Itamaracá (80%), Bonito (75%) e Tamandaré (67%). O Recife apresenta uma taxa de 69%, Ipojuca, de 56%, e Noronha, 52% de ocupação média prevista.
As previsões da Setur correspondem às da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE). A entidade trabalha atualmente com um resultado entre 70% e 80% para a ocupação hoteleira na capital pernambucana, e o resultado se repete para Gravatá e demais destinos do Agreste. Em Porto de Galinhas, a expectativa é de 80%.
Para o diretor executivo da Associação, ainda há uma indefinição, em um período de reservas que também se mistura com as consultas dos hotéis. No geral, não é esperada uma grande queda. “A princípio, continua do mesmo jeito, os hotéis seguem fazendo tudo dentro dos protocolos de segurança e com movimentação típica do período, sem grandes perdas. A pandemia está sendo sinalizada a cada semana, e vem piorando muito, então há uma característica de alerta. De qualquer forma, a expectativa é de um fim de ano comum, em questão de movimentação, mas com mais cuidados. Não é o melhor ano que já tivemos, mas definitivamente não é o pior e será um bom fim de ano. Já tivemos um ano tão difícil, agora a tendência é ser criativo para dar ao público uma festividade mais alegre”, explicou o presidente.
A lógica é acompanhada pelo secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, Rodrigo Novaes, que reafirma Pernambuco como líder em ocupação hoteleira no Nordeste, antes e depois da pandemia. Para o gestor, apesar da fase, o turismo não deve ser motivo de preocupação. “Pernambuco foi um dos primeiros Estados do País a retomar o seu turismo. Nossa malha aérea segue se recompondo mês a mês e o Aeroporto do Recife é o maior do Nordeste. Justamente esta recuperação das ligações diretas muito nos anima de que teremos uma boa alta estação. Enquanto em alguns lugares, os hotéis chegaram a fechar as portas, os meios de hospedagem pernambucanos mantiveram-se abertos, mesmo que em funcionamento mínimo na pior fase. Para o cenário atual do turismo mundial, Pernambuco tem reagido muito bem e deverá ter um fim de ano de crescimento”, compartilhou o chefe da pasta.
Novaes também diz que acredita em um cenário positivo para janeiro, fevereiro e todo o verão, mesmo no cenário pandêmico e sem considerar ainda a presença de uma vacina. O Estado ainda conta com uma recuperação total da malha aérea da Azul, em janeiro, já anunciada pela companhia e com o potencial dos destinos locais de praia e de aventura. “Destinos como Bonito, Triunfo, Vale do Catimbau, sentem um aumento muito grande da procura, porque proporcionam o contato com a natureza e passeios ao ar livre. É uma tendência forte. O pernambucano tem viajado mais pelo Estado, os turistas dos estados vizinhos, como Paraíba e Rio Grande do Norte, têm procurado nossos hotéis”, completa o secretário.
Expectativa para os hoteleiros nos principais destinos locais
O LeiaJá buscou o Grupo Pontes Hotéis e Resorts, responsável por alguns dos principais hotéis do Recife, para saber como anda a expectativa da administração em relação à ocupação de fim de ano. O grupo respondeu que o momento ainda é de consulta, mas que a expectativa corresponde aos números disponibilizados pelo setor, que giram em torno dos 70% e 80%. Em nota, a rede disse que está “ciente do momento delicado que estamos passando e desde sempre planejou suas comemorações de fim de ano dentro das novas normas operacionais, com todo cuidado e segurança que a situação pede”, assim, “já tinha tudo muito bem desenhado, sem festas e sem nenhuma possibilidade de aglomeração em nenhum dos hotéis”.
Os administradores informam que os hotéis da gestão continuarão a oferecer jantares para os hóspedes ao ar livre, com distanciamento de mesas, sem dança e com uso obrigatório de máscaras para a circulação das pessoas. Já para Isabela Cristine da Silva, de 29 anos, que gerencia a central de reservas de uma pousada de médio porte na orla de Porto de Galinhas, a situação já não é a mesma da grande rede recifense.
O local passou quase sete meses completos fechado durante a pandemia, de março a setembro, seguindo o decreto do município de Ipojuca. Apesar de a reabertura ter sido autorizada em agosto, a pousada não tinha reservas e não pôde abrir. Com a reabertura em outubro, a taxa de ocupação foi de 44%. Antes da pandemia, de janeiro a fevereiro, a taxa estava acima dos 80%. Agora, pegando o acumulado de novembro e dezembro, a taxa média de ocupação chega aos 50%, 30% a menos da prevista pela ABIH-PE para a região.
A gerente fala que não tem sido possível investir no negócio. “Diminuímos os valores das reservas, para fazer o hóspede economizar e querer fechar negócio. Antes a gente vendia a diária a R$ 150 durante a semana, e a R$ 190 aos fins de semana, agora ambas estão em torno de R$ 90 e R$ 100, a depender da demanda. Tem dado para segurar o financeiro, mas somente porque baixamos o valor. A gente não está conseguindo investir no estabelecimento, trabalhamos com o que temos para investir na estrutura depois, quando melhorar o movimento”, compartilha a administradora.
Isabela também compartilha que não prevê grande demanda para os dois primeiros meses do ano, porque a população ainda tem receios em finalizar a compra por causa das incertezas com relação às medidas de contingência. “O pessoal tem ligado muito, mas estão com medo de reservar e depois voltar o lockdown. Eles têm medo de perder o dinheiro ou de não conseguir reagendar. Não conseguimos vender bem para janeiro e fevereiro, mas vemos uma preferência para o mês de março. Para janeiro, nossas reservas estão quase zeradas, com algumas até o dia 15. Em fevereiro ainda não há nada marcado. Em março, vem uma excursão só que pode lotar a casa. Percebo também que muita gente que entraria de férias em janeiro está tentando adiar para março”, explica.
Histórico da movimentação turística com o advento da pandemia
Para o Carnaval de 2020, primeiro grande feriado do ano, a taxa média de ocupação hoteleira foi de 95,67%, cerca de 5% superior ao registrado em 2019. O valor foi apontado por levantamento do Setor de Estudos e Pesquisas da Empetur, que ouviu 158 meios de hospedagem do Estado de 27 de janeiro a 7 de fevereiro.
Os municípios de Bezerros, tradicional polo carnavalesco pela cultura dos papangus, e Pesqueira, terra dos caiporas, alcançaram a previsão de máxima ocupação hoteleira durante a festividade. Os principais polos do Carnaval na Região Metropolitana, Recife e Olinda, registraram, respectivamente, 95,97% e 96,67%, mesma taxa de ocupação da cidade de Triunfo, no Sertão do Pajeú, destino que tem a alegria da festa traduzida pela presença dos caretas.
Após conseguir registros próximos aos 100% em diversos aspectos do potencial turístico, Pernambuco enfrentou o pior desempenho na história do setor. Segundo a ABIH-PE, o Estado nunca havia enfrentado um movimento tão fraco. Na primeira semana de abril deste ano, menos de um mês depois do alerta que reconheceu a Covid-19 no Estado, o fechamento de praias e a suspensão de eventos acarretou em uma série de demissões. Dos 6.760 quartos e apartamentos disponíveis no Grande Recife, apenas 338 estavam ocupados, o que representou 5% do total.
No interior de Pernambuco, eram 3%; ou seja, 936 dos 31,2 mil disponíveis. À época, hotéis e pousadas empregavam 21 mil pessoas em Pernambuco. Metade delas tiveram suas férias antecipadas e cerca de 4 mil, ou 20%, foram demitidas, segundo a associação.
O primeiro crescimento expressivo no setor veio aproximadamente três meses depois, em julho, quando a taxa cresceu cerca de 18,9% em relação ao mês anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi acima da média nacional, de 4,8%. Em setembro, a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE apontou incremento de 17,8% no turismo de Pernambuco. A média dos Estados pesquisados foi de 11,5%.