A Rússia anunciou nesta terça-feira (17) a rendição de 265 soldados ucranianos entrincheirados na siderúrgica de Azovstal, último reduto de resistência na cidade portuária de Mariupol, e se prepara para "uma operação militar de longo prazo", segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia.
Moscou afirma desde abril que controla a cidade portuária estratégica, após um cerco de várias semanas. Centenas de soldados ucranianos, porém, permaneciam entrincheirados em túneis subterrâneos sob o enorme complexo industrial de Azovstal, cercado pelas tropas russas.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que 265 soldados ucranianos se entregaram, incluindo 51 feridos que foram levados para um hospital da região de Donetsk, leste da Ucrânia, controlada por rebeldes pró-Kremlin.
Moscou não especificou se os soldados serão tratados como criminosos ou prisioneiros de guerra, mas o presidente russo, Vladimir Putin, "garantiu que eles seriam tratados de acordo com as leis internacionais", informou o porta-voz do Kremlin, Dmitro Peskov.
O Departamento de Inteligência Militar do Ministério da Defesa ucraniano afirmou que a troca dos soldados "acontecerá para repatriar estes heróis ucranianos o mais rápido possível", confirmando indiretamente que os homens estavam de fato sob controle das tropas russas.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Verechtchuk, também mencionou uma troca, mas apenas em relação aos "52 soldados gravemente feridos". "Quando a condição deles se estabilizar, vamos trocá-los por prisioneiros de guerra russos", disse.
De acordo com o Exército ucraniano, a resistência na siderúrgica permitiu adiar a transferência de 20.000 solados russos para outras partes da Ucrânia e impediu que Moscou capturasse rapidamente a cidade de Zaporizhzhia, no sul.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou em Haia o envio de uma equipe de 42 especialistas à Ucrânia, a maior da história da instituição, para investigar acusações de crimes de guerra cometidos durante a invasão russa.
A invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, deixou milhares de mortos e provocou a fuga de milhões de pessoas.
- 'Tentar seguir vivo' -
A Ucrânia resiste mais do que se esperava ao Exército russo, com a ajuda de armas e dinheiro dos aliados ocidentais. O líder ucraniano abriu o 75° Festival de Cannes, onde pediu o compromisso do mundo do cinema contra "os ditadores".
Após cercar Kiev nas primeiras semanas da guerra, Moscou tenta concentrar a ofensiva na região de Donbass, fronteira com a Rússia. Segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, as tropas russa realizam "ofensivas ao longo de toda a linha de contato" na região de Donetsk, e parcialmente na vizinha Lugansk.
O governo ucraniano afirma que as tropas russas se retiram dos arredores de Kharkiv, segunda maior cidade do país, para seguir até Donbass. Os combates ao redor de Kharkiv destruíram localidades inteiras.
Em Ruska Lozova, ao norte da cidade, Rostislav Stepanenko, de 53 anos, contou à AFP que seu trabalho é "tentar seguir vivo" e disse como sobreviveu a um bombardeio devastador, preso na linha de fogo entre as tropas russas e ucranianas.
"Com sorte, eu chegarei aos 54 anos, mas hoje não esperaria por isto", disse.
- Fase prolongada -
A guerra na Ucrânia entra em uma "fase prolongada", afirmou hoje o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, o qual lembrou que a Rússia busca controlar toda a região de Donbass e ocupar o sul do país.
"A Rússia se prepara para uma operação militar de longo prazo", disse Reznikov aos ministros da Defesa da União Europeia (UE) e ao secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. O texto do discurso foi publicado em sua conta no Facebook.
O governador regional de Lugansk, Sergii Gaiday, afirmou que as tropas russas "bombardeiam incansavelmente Severodonetsk" e informou que dois prédios do hospital geral da cidade foram atingidos durante a noite. "Temos 10 mortos e três feridos na região", publicou no Telegram.
A tomada de Severodonetsk, a cidade mais ao leste sob poder das forças ucranianas, permitiria à Rússia o controle de fato de Lugansk, uma das duas regiões, junto com Donetsk, que formam o Donbass.
Por outro lado, oito pessoas morreram e 12 ficaram feridas em ataques russos à cidade de Desna, na região de Chernihiv (nordeste), onde está localizada uma base militar ucraniana, disseram os serviços de emergência.
No oeste, a administração militar regional de Lviv indicou que uma instalação de infraestrutura militar "quase na fronteira com a Polônia" foi atingida. E o comando do Exército no sul disse que Odessa e Mykolaiv também foram atacadas, com vítimas nas duas cidades.
Com a invasão russa à Ucrânia, Suécia e Finlândia, que compartilham uma longa fronteira com a Rússia, estão perto de acabar com décadas de não alinhamento militar e unir-se à Organização do Tratado do Atlântico Norte. O Parlamento da Finlândia - país que compartilha uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia - votou hoje por ampla maioria a favor da adesão à aliança.
Os dois países apresentarão conjuntamente suas candidaturas à Otan nesta quarta-feira, segundo a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson. "Estou feliz por termos tomado o mesmo caminho e por podermos fazê-lo juntos", comentou durante uma entrevista coletiva conjunta com o presidente finlandês, Sauli Niinistö.
Na segunda-feira, Putin declarou que tais adesões não representam "uma ameaça direta para nós (...) mas a expansão da infraestrutura militar para estes territórios certamente vai gerar uma resposta nossa".
No campo comercial e de sanções, a petrolífera italiana ENI anunciou a abertura iminente de uma conta em euros e outra em rublos no banco russo Gazprombank para pagar pelo fornecimento de gás, cumprindo as exigências de Moscou.
"A obrigação de pagamento pode ser cumprida por meio da transferência de euros", e este procedimento "não deveria ser incompatível com as sanções" impostas pela União Europeia (UE), declarou a ENI.