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O especial "Estudante, você também é herói", produzido pelo LeiaJá, traz, agora, a rotina de uma universitária. Ana Beatriz, de 23 anos, enfrentou desafios pessoais e encara os duros obstáculos ocasionados pelo novo coronavírus. Perseverante, a jovem aposta sonhos no pedagogia como ferramenta de desenvolvimento educacional. Foto: Cortesia.

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“É o meu sonho e, apesar disso tudo, eu vou enfrentar e eu vou conseguir realizá-lo”. O pensamento otimista da estudante de pedagogia Ana Beatriz da Silva de Miranda, 23, é uma injeção de perseverança que por pouco perdeu seu brilho. É trancada em um quarto, em cima de uma cama, longe por alguns instantes da filha Raabe da Silva Miranda, de apenas dois anos, e convivendo com o som dos carros e pessoas na rua, que a graduanda participa das aulas remotas da instituição de ensino em que realiza o curso.

Da jornada estudantil à pandemia da Covid-19

Ana Beatriz, como prefere ser chamada, nasceu e passou a maior parte da infância em Andaraí, bairro localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro. Aos dez anos, chegou ao estado de Pernambuco em companhia de sua mãe, Deodete Maria da Silva, 66 anos, e do pai, João Minervino da Silva, 69 anos, ambos nascidos e criados na cidade de Pombos, terra conhecida pelas plantações de abacaxi, no interior pernambucano.

Em Pernambuco, Ana morou no bairro da Cohab, localizado no município do Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, onde fez os ensinos fundamental e médio. Em 2016, começou a caminhada na graduação no curso de pedagogia. A jovem acordava às 5 horas para sair de casa às 5h45. Nesse meio tempo, tomava banho, arrumava a bolsa com os materiais de estudo, preparava e tomava o café da manhã, quando conseguia.

Ao sair de casa, fazia um percurso que durava mais ou menos dez minutos andando até o terminal do ponto de ônibus, que a levava para o Terminal Integrado (T.I.) de Cajueiro Seco e, de lá, pegava a segunda condução do dia para chegar ao centro da cidade do Recife.De segunda-feira a sexta-feira, a jovem repetia o mesmo trajeto, que levava cerca de duas horas. Todo o esforço era feito para chegar à UNINABUCO - Centro Universitário Joaquim Nabuco, localizado na Avenida Guararapes, no Recife.

“Do Terminal Integrado de Cajueiro Seco, eu tinha duas opções. Pegava outro ônibus ou o metrô para o centro do Recife. A aula começava às 8h20. Eu conseguia chegar 10 minutos antes”, detalha Ana Beatriz em entrevista ao LeiaJá. “Quando saía de lá [da faculdade], fazia o mesmo trajeto para retornar, chegava em casa por volta das 13h30”, completa.

No primeiro semestre de 2016, a taxa de desocupação no Brasil era de 11,2%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse mesmo ano, durante o primeiro período do curso de pedagogia, a estudante fazia parte desse percentual. Sem estágio ou emprego fixo, Ana Beatriz só podia contar com a ajuda da sua mãe Deodete, para pagar a mensalidade do curso.

Neste ano de 2020, a Pnad Contínua registrou que a taxa de desocupação no Brasil ficou em 13,3% no trimestre encerrado em junho. Ana Beatriz ainda faz parte dessa parcela de brasileiros.

Acesso ao ensino superior

“Quando eu estava concluindo o ensino médio, eu queria cursar letras, mas quando terminei e fiz a prova do Enem - Exame Nacional do Ensino Médio - pensei que era minha única oportunidade. E por causa do nervosismo, acabei não conseguindo uma boa nota para ingressar na universidade com uma bolsa de estudos”, relata a estudante.

“Eu também não queria esperar mais! Eu queria iniciar minha graduação em 2016. Então assim, a pedagogia era minha segunda opção, mas não imaginada que sempre foi a primeira opção no meu coração. Eu não me arrependo dessa escolha”, diz, afetuosamente.

No segundo semestre do mesmo ano, a graduanda começou a estagiar em uma creche, localizada no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Foi assim no segundo e depois no terceiro período.

Ao concluir o quarto período da graduação, uma notícia surpreendeu Ana e seu Marido, Anderson Miranda, de 26 anos. “Eu descobri que estava grávida”, revela. “Então, por estar desempregada, precisei pausar o curso. Fiquei dois anos sem estudar e sem trabalhar, sendo o primeiro ano da gestação e o segundo ano passei cuidando da minha filha”, explica Ana Beatriz.

No final de 2019, a filha do casal, Raabe, já estava com um ano. “Com o apoio do meu marido, consegui voltar aos meus estudos. Fiz a rematrícula no quinto período e já consegui concluí-lo. Já estou matriculada no sexto período e pretendo não interromper mais meu curso", comenta.

No Brasil, há 2.537 instituições de ensino superior, segundo o Censo da Educação Superior de 2018, o mais recente, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Rede de apoio e desafios

Ana Beatriz conta com familiares a amigas e amigos nessa jornada até sua formação em pedagogia. Em entrevista ao LeiaJá, Anderson, o marido da estudante, enfatiza que o empenho de sua companheira é essencial para que ela alcance seus objetivos e, assim, proporcione algo melhor para si e para a sua família. “Tanto ela quanto eu nos dedicamos aos estudos com essa finalidade. E desde sempre eu incentivei ela a continuar nesse caminho. Quando a gente recebeu a notícia de que ela estava grávida, ela optou por parar [a faculdade], mas se fosse por mim eu não queria”, conta. 

Ana destaca o apoio de seu marido e o amor de sua família. Foto: Cortesia

“Isso me ajudou a não desanimar”, reforça Ana Beatriz, que expressa gratidão ao apoio recebido.

Para que Ana pudesse ir à faculdade, sua filha Raabe, agora com dois anos, era cuidada por sua mãe ou outro membro da família que estivesse disponível. Na casa, além de Ana Breatriz, o companheiro e a filha, moram a mãe e o pai da acadêmica, além da tia chamada Izabel Maria da Silva, 77 anos.

Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, as aulas presenciais foram suspensas e a situação ficou mais apertada para a estudante. No entanto, a futura pedagoga foi contemplada com o benefício do Auxílio Emergencial, do Governo Federal. 

Entre um soninho e outro de Raabe, a mesa onde é servida as refeições das família transforma-se no local de estudo da graduanda. Diante do novo contexto, com restrições de circulação impostas pela pandemia da Covid-19, as aulas passaram do formato presencial para a forma remota.

Apesar de a conexão  com os colegas de classe e professores ser a distância, sentada em uma cama e apoiando as costas na parede, Ana Beatriz permanece atenta às aulas, realiza atividades acadêmicas e fortalece laços afetivos com os amigos. “Isso, com certeza, é fundamental para o processo de ensino-aprendizagem”, opina a jovem.

“Quando essa responsabilidade vem junto com a maternidade, precisamos planejar nossa rotina e assim poder equilibrar todos os sonhos e atividades. Cuidar de uma criança, da casa da família, requer dedicação assim como manter as aulas em dia também. Por isso, um apoio familiar nesse momento auxilia bastante, porque além da ajuda física, temos o suporte emocional, de ajudar o aluno a não desistir, afinal estamos falando de um crescimento pessoal e profissional e que diretamente irá impactar nas condições financeiras do futuro", afirma a psicóloga clínica Márcia Karine.

“O conselho para estudantes que têm a responsabilidade da maternidade, do trabalho home office, das tarefas de casa e dos estudos é: organize seu dia a dia, gerando um rotina. Assim você conseguirá dar conta das obrigações sem desistir do sonho de concluir sua faculdade. Peça ajuda aos seus familiares, eles poderão compor esse quadro de apoio. Ajuda também a diminuir os quadros de ansiedade e o medo do  fracasso”, recomenda a psicóloga em conversa com a reportagem do LeiaJáA profissional também é coordenadora do curso de psicologia UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau

Ana Beatriz nos revela que não sabe “como será esse novo período”. Acredita que “provavelmente vai continuar com aulas remotas” e, mesmo não gostando muito da modalidade, diante as circunstâncias de emergência sanitária do Brasil, até prefere que seja assim.

“O processo de graduação a distância possibilita o planejamento dos horários de estudo de acordo com a rotina da casa. O que seria negativo é gerado pelo aumento da ansiedade que dá vazão ao medo, causado pelo acúmulo de tarefas não cumpridas. Hoje, temos um aumento dos quadros depressivos em virtude também de muitas atividades para serem cumpridas em um só momento”, diz a psicóloga.

Estima-se que mais de 18 milhões de pessoas sofram em decorrência de transtornos de ansiedade ante a pandemia global. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS). Contudo, nossa estudante que intitula- se como "heroína de si mesma" segue com os seus planos.

“Quero muito passar em um concurso público e também quero fazer uma pós-graduação em educação infantil, eu gosto muito dessa área”, destaca Ana Beatriz. “Quero trabalhar, de preferência, em uma creche ou em alguma escola municipal mesmo, porque a educação está muito defasada. Eu quero contribuir com tudo o que aprendi, durante esses anos, para uma educação básica de qualidade”, declara a estudante.

Confira, abaixo, as demais matérias do especial “Estudante, você também é herói”. Nossos repórteres mostram as rotinas de alunos, da educação infantil à pós-graduação, durante a pandemia do novo coronavírus:

--> Pequenos 'grandes' estudantes e o ensino remoto

--> Isolamento social e a ansiedade na preparação para o Enem

--> Pós-graduação sofre os efeitos da Covid-19

--> Formatura mais cedo: estudantes trocam aulas por hospitais

--> O que o futuro reserva para os estudantes após a pandemia?

A pandemia da Covid-19 provoca efeitos em várias esferas educacionais. No âmbito da pós-graduação, por exemplo, alunos precisam se adequar a novos formatos de ensino, muitos deles remotos. Além disso, há o peso da cobrança acadêmica em prol de boas pesquisas. Hallana, de 24 anos, compartilhou a sua rotina em mais uma reportagem do especial "Estudante, você também é herói", do LeiaJá.

Da janela, casas vizinhas com emaranhados de fios cortam a vista do pôr do sol. O barulho das crianças correndo descalças pelos cômodos dos lares, no fim da tarde, ecoa pelas ruas estreitas, pouco movimentadas por pessoas que passam com seus rostos protegidos por máscaras. Os moradores que habitam os pequenos apartamentos com pinturas roídas pelo tempo, se cumprimentam a distância entre os degraus das escadas.

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Adiante, os anúncios estampados nos muros das residências anunciam os pequenos comércios de bairro que sustentam famílias periféricas. Eis o recorte da realidade vista pela janela de sua casa da mestranda em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Hallana de Carvalho, de 24 anos, moradora do Conjunto Habitacional no bairro da Vila Rica, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Terra que, outrora, já viveu grandes batalhas e hoje carrega o legado de ser o “berço da pátria”. Pátria que mal alimenta suas proles com a educação básica, e exclui seus filhos negros e periféricos, cansados de lutar do amanhecer ao pôr do sol por espaços que também são seus por direito.

Motivações 

Hallana, mulher negra e periférica, não acreditava que poderia seguir uma carreira acadêmica, mas descobriu, no curso de licenciatura em ciências sociais na UFPE, seu verdadeiro lugar, sua verdadeira vocação. “O que me motiva é entender que eu posso estar onde eu quiser; não existem limitações apesar das dificuldades”, diz a pesquisadora, que está em segundo ano de mestrado.

Pela primeira vez na história do País, o número de estudantes negros (50,3%) que ingressaram em uma universidade pública é maior do que o de brancos (49,7), segundo o último balanço levantado, em 2018, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dificuldades

Desde março de 2020, a notícia sobre a pandemia do novo coronavírus é a informação mais detalhada pela imprensa. Isolada, Hallana senta à mesa toda tarde, como é de rotina, e abre o seu computador. De olho no próprio reflexo na tela, ela conta que as crises de ansiedade que teve no começo da quarentena foram desencadeadas não somente pelo medo de ela e sua família serem infectadas, mas também pela preocupação de se manter produtiva nos estudos.

No mestrado, Hallana estava sentindo a dificuldade de não ter tido uma base educacional em inglês. Foto: Cortesia

Difícil, o momento impactou nas suas atividades e leituras acadêmicas e, mesmo a pandemia sendo noticiado a toda hora, ela não conseguia compreender o porquê de toda realidade que conhecia havia mudado drasticamente. Atordoada, Hallana decidiu buscar uma profissional que pudesse ajudá-la. “Conversando com a minha psicóloga, fui me tranquilizando e entendendo o meu processo frente a essa situação para tentar ir retomando as leituras acadêmicas aos poucos”, conta. 

A psicóloga clínica e escolar Márcia Monteiro esclarece que a ansiedade é uma emoção vaga que potencializa o medo, principalmente entre os estudantes. “O aumento de responsabilidades e a incerteza do futuro são demandas que potencializaram as crises depressivas; falar de depressão hoje é algo bastante comum no meio educacional, pois muitas pessoas estão tentando se adaptar a esse novo 'normal'”, explica.

A pós-graduação exige muito dos alunos. No mestrado, Hallana estava sentindo a dificuldade de não ter tido uma base educacional em inglês, o que é bastante comum nas escolas brasileiras. De acordo com a pesquisa divulgada pela agência do governo britânico 'British Council', entre as principais dificuldades que os alunos encontram na hora de aprender o idioma, está o momento de estudar a escrita, a fonética e a leitura dos materiais em inglês, sendo a falta de investimento e a sobrecarga dos professores alguns dos fatores que geram precária aprendizagem dos alunos.

Em sua trajetória escolar, a mestranda não teve a oportunidade de fazer um curso de inglês pago e até o primeiro semestre de 2020 estava sentindo dificuldade em ler os materiais que precisava para sua pesquisa. Para reverter essa situação, Hallana conta, em entrevista ao LeiaJá, bastante empolgada, que conseguiu ingressar no segundo semestre deste ano no curso de inglês afrocentrado da UFPE, destinado aos estudantes que desejam aprender a língua inglesa através da leitura de textos produzidos por autores negros.

Reinvenção

Manuseando a caneta pelas folhas do caderno pequeno de capa verde sobre a mesa de jantar, Hallana, concentrada na aula remota, captura, através da escrita, tudo o que consegue absorver de informação. O conhecimento agora partilhado via internet é a nova realidade para muitos estudantes. 

Tradicionalmente, pós-graduandos dizem que seus docentes cobram intensamente de seus alunos um desempenho quase que impecável. Hallana, porém, reconhece que, nesta crítica fase de pandemia e ensino remoto, os educadores estão mais maleáveis. “Os professores, neste contexto da pandemia, têm sido bem solícitos na medida do possível. Eles exigem o mínimo do que é preciso para a disciplina”, conta a mestranda.

Ela ainda relembra que, antes da pandemia, os professores pediam as atividades no prazo, mas chegavam a até mesmo adiar a data caso algum aluno tivesse problemas ou dificuldades na execução.

Assim como a mestranda teve que aprender a lidar com as novas ferramentas, os docentes tiveram que se reinventar. Hallana relata que a didática que se tinha na sala de aula não é a mesma de hoje e, assim como ela, os professores também compartilham do processo de aprender a manusear as novas plataformas digitais. Em casa, Hallana, que reside com sua mãe, tem os livros como a sua maior ferramenta para os trabalhos acadêmicos, porém, neste período de isolamento social, ela comenta que a internet tem a qualificado muito para suas pesquisas.

“Eu, por exemplo, tenho procurado muitos cursos sobre internet, sobre metodologias de pesquisa através da internet, já para tentar encarar um pouco melhor esse período por causa da minha pesquisa”, diz. A mestranda, que não pode desfrutar da estrutura que a universidade lhe oferece, devido à paralisação das atividades presenciais, precisa dar conta das demandas que sua pesquisa exige. Para isso, ela tem buscado se qualificar no conforto da sua casa. “Eu fico acompanhando os minicursos e os cursos de extensão oferecidos pelas universidades e quando aparece algo que me interessa, eu vou fazendo. Eu tenho tentado me qualificar neste sentido e venho buscando explorar mais a internet para descobrir outros recursos e programas que possam me ajudar na pesquisa”, conta a estudante.

Apoio familiar

Um dos papéis mais sensíveis está no ato de ser mãe. Olhar para um filho imerso nos estudos preenche o coração de orgulho e dá aquela sensação de “trabalho bem feito”. Hallana relata o quão importante foi a presença da mãe, Rosete Maria de Almeida, na sua vida acadêmica. A jovem acredita que se não fosse o incentivo dela, ela não teria seguido os rumos da educação.

“No meu próprio processo de formação enquanto professora, aprendi o quão é importante o incentivo de alguém da família”, explica a estudante. A psicopedagoga Juliana Lapenda esclarece que esse impacto é decorrente do apoio familiar que ela teve na infância. “É muito importante a presença dos pais na educação dos filhos, pois da mesma forma que a criança sente a presença, ela também sente a ausência e isso interfere no seu emocional que está interligado ao seu aprendizado”, explica a especialista.

Dona Rosete, a matriarca da família, acompanha de perto os estudos da filha em meio à pandemia da Covid-19. Para Hallana, a mãe foi a mulher que mais deu suporte para ela conseguir chegar onde está. “Além do olhar de orgulho, eu sinto um olhar de incentivo. Aquele olhar que diz ‘estou no caminho certo’. Eu percebo que a minha relação no dia a dia com a minha mãe tem muito desse olhar que diz: ‘contínua que está dando certo’”, comenta.

Educação do futuro

Ante à nova realidade, muitos estudantes especulam sobre o futuro da educação. Hallana, primeira da família a ter um ensino superior, incentiva seus parentes, principalmente seus primos mais novos, a buscarem uma educação superior. Ela entende, ao ter uma visão clara sobre a realidade em que vive, que a universidade é algo distante para muitas pessoas.

Questionada sobre o futuro da educação no Brasil, ela responde: “Nesse contexto em que estamos vivendo, fica até um pouco difícil saber o que vai acontecer com a educação futura, já que temos essa troca constante de ministros”, diz. Ela complementa: “Eu penso muito que a saída para a educação no futuro é através do investimento na educação pública em todos os seus níveis, desde o ensino fundamental ao ensino superior. Outra saída para a educação é por meio do incentivo à pesquisa acadêmica nas universidades públicas do país, afinal, se não tivesse a bolsa, provavelmente eu não teria como me manter na pós-graduação”, conclui.

Confira, abaixo, as demais matérias do especial “Estudante, você também é herói”. Nossos repórteres mostram as rotinas de alunos, da educação infantil à pós-graduação, durante a pandemia do novo coronavírus:

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Entre as diversas mudanças que a pandemia de Covid-19 causou nas nossas vidas, a necessidade de ampliar o número de profissionais de saúde no mercado de trabalho foi decididamente uma das mais urgentes, uma vez que a demanda de doentes nos hospitais se tornou muito maior do que em tempos normais.

Com a chegada da pandemia, uma das formas encontradas pelo Governo Federal para solucionar o problema foi a edição de uma Medida Provisória, posteriormente regulamentada em portaria, permitindo antecipar a formatura de alunos de graduação matriculados no último semestre do curso com pelo menos 75% do período de internato concluído.   Desde que a medida entrou em vigor no dia 9 de abril, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), mais de 90 instituições de ensino superior possibilitaram que seus estudantes optassem pela antecipação da formatura. 

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Ao todo, 5.352 médicos, 1210 enfermeiros, 490 fisioterapeutas e 387 farmacêuticos se formaram mais cedo para auxiliar no combate à Covid-19. O Estado com mais formaturas antecipadas é Minas Gerais, com 1.103, seguido de São Paulo (952) e Rio de Janeiro (659). No Nordeste, o Ceará é o campeão com 469 estudantes. No que diz respeito à rede de ensino, 5.111 são alunos de instituições privadas e 2.328 de universidades públicas. 

Nesta terça-feira, 11 de agosto, celebra-se o Dia do Estudante, que no ano de 2020 ganha uma nova conotação diante de todos os desafios impostos pela Covid-19 aos alunos em todos os níveis de ensino. Para marcar a data, o LeiaJá publica a série de reportagens especiais “Estudante, você também é herói”, trazendo vários aspectos da rotina dos alunos durante a pandemia. Neste texto, você conhecerá as histórias de duas heroínas que anteciparam suas formaturas no curso de medicina para ajudar a enfrentar uma contagiosa e potencialmente letal, aceitando junto com suas famílias todos os riscos envolvidos nessa decisão.

O peso da responsabilidade de uma vida na sua mão

Thayse Pinheiro de Sales Croccia, de 28 anos, estava cursando o 12º semestre de medicina na Universidade de Pernambuco (UPE) quando o Governo Federal divulgou a Medida Provisória e uma primeira Portaria (posteriormente tornada sem efeito) autorizando a antecipação da colação de grau para estudantes de cursos de saúde. Repleta de anseios sobre sua formatura, com os estágios do internato paralisado e temerosa com a possibilidade de atrasar a conclusão de seu curso, Thayse viu ali uma oportunidade de, enfim, se tornar médica e exercer a sua profissão em um momento em que o País realmente estava precisando.   

“Queria poder contribuir nesse momento de dificuldades, mas ao mesmo tempo havia um medo grande, já que o começo da vida médica é sempre desafiador e nesse contexto o desafio seria ainda maior, pois estaríamos lidando com uma doença até então desconhecida e a cada semana surgiam novos dados. Além disso, o temor de contaminar a família com uma doença potencialmente letal principalmente para os mais velhos, como nossos pais e avós, sempre nos acompanhava. Nesse contexto, o apoio dos meus pais, que apesar de temerosos com a situação deixaram claro que estariam comigo independente do que eu escolhesse, foi essencial, pois me deu segurança em meio a tantas incertezas”, conta ela.

Foto: Cortesia 

Antes da pandemia e de antecipar sua formatura, Thayse explica que sua rotina era muito intensa com os últimos momentos do internato de medicina no último semestre de curso. “Eu era estagiária, estava próxima do fim da faculdade, último período. Era uma rotina de estágio de segunda a sexta, já lidava com pacientes e todos os desafios incluídos”, diz a médica. 

A primeira experiência profissional de Thayse foi e ainda é no sistema público de saúde, dando plantões em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) exclusiva para pacientes com Covid-19. “Apesar do medo e ansiedade iniciais, eu pude aprender muito, já que os livros não ensinam a prática ainda mais nesse contexto novo. Pude ainda me sentir útil aplicando meus conhecimentos, retribuindo a formação que recebi em uma universidade do Estado e fazendo parte do SUS, que acolhe tantos brasileiros que de outra forma não teriam atendimento”, relata a jovem. 

Perguntada sobre como é o dia a dia de trabalho dentro de uma UTI COVID, onde chegam os pacientes mais graves e o risco de contaminação é o mais alto possível, Thayse relata que tudo é sempre muito intenso e as responsabilidades das decisões são muito mais pesadas do que nos estágios desenvolvidos durante o curso de medicina. “É sempre um choque sentir o peso da responsabilidade de uma vida na sua mão. Antes você treina, mas não sente o peso total em você porque a decisão final não cabe a você. Sem decisão, você não tem tanta responsabilidade. Nessa situação do coronavírus, a responsabilidade foi agravada por estarmos lidando com uma doença que não conhecíamos, que não tínhamos visto na faculdade, era nova para nós e para todos, na verdade. Estava provocando um caos em todos os aspectos na nossa sociedade. Além do medo da contaminação própria e da família, porque sair para trabalhar era não só assumir um risco, era sua família que estava com você também assumir, tanto que houve muitas pessoas que saíram de casa nesse período para proteger a família”, afirma ela.

“Eu achei e sinto que estou preparada”

Maria Eduarda Valadares Santos Lins, 25 anos, se formou pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) quando estava no 12º semestre de medicina. Atualmente, trabalha em postos de saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ela conta que, já no último semestre e tendo aulas a distância apenas de uma disciplina, sua turma começou a solicitar à Universidade que realizasse a antecipação. “Estávamos tendo EAD de aulas já vistas durante a faculdade e como já estávamos no final achamos que a melhor solução seria adiantar do que esperar. Não acho que interferiu no meu aprendizado de forma significativa”, conta.

Além de considerar que não haveria ônus na antecipação, Eduarda não estava satisfeita com a rotina de estudos a distância, uma vez que não gostou do formato. “Para mim foi péssimo! Achei ruim o formato de aula EAD. Alguns colegas também não estavam gostando. Mas outros gostaram de revisar os assuntos. Apesar de estar isolado em domicílio, era cansativo, até porque estávamos acostumados com o internato, onde temos contato direto com paciente e discussões presenciais. Na minha opinião, perde um pouco do aprendizado”, opina Eduarda. Questionada sobre o que lhe desagradava nas aulas remotas, a jovem listou motivos como “muita gente na sala, quando você falava outra pessoa também falava, as pessoas com câmera ligada distraiam sua atenção", entre outras questões. À

A transição de estudante para a vida profissional em meio a uma pandemia, segundo Maria Eduarda, foi difícil, pois ela faz parte do grupo de risco da doença. “Sou asmática de difícil controle e tive duas crises no início do ano, mas estava usando as medicações regularmente para não ter crises. Minha família pesou muito, mas comecei trabalhando em posto onde o risco de contaminação é menor por ser grupo de risco e recentemente estou dando plantão em emergência”, relata ela. 

Além disso, a médica explica que há outras questões além da saúde envolvidas, como o emocional e as novidades da vida de profissional formada. Apesar disso, Eduarda se sente confiante para encarar as novidades impostas pela vida profissional, mesmo em meio ao medo do desconhecido trazido pela pandemia de Covid-19. 

“Tem a insegurança e ainda mais nessa época de Covid, mas eu achei e sinto que estou preparada, pelo menos tenho conseguido lidar com a maioria das situações. Percebo como a importância do estudo continuado para relembrar das coisas e se atualizar e uso corretamente os EPIs para minha segurança e do paciente”, afirma.

Confira, abaixo, as demais matérias do especial “Estudante, você também é herói”. Nossos repórteres mostram as rotinas de alunos, da educação infantil à pós-graduação, durante a pandemia do novo coronavírus:

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Em um cenário devastador, envolto de luto, mas também de luta, bravos profissionais arriscam suas vidas. Na linha de frente contra a Covid-19, enfermeiros, técnicos em enfermagem, médicos e outros trabalhadores da saúde batalham para salvar brasileiros. São verdadeiros heróis da história real. No âmbito da educação, outro grupo de heróis se desdobra para levar ensino a milhões de alunos. Professores não medem esforços para compartilhar aprendizado. Assim como esses profissionais que merecem homenagens e valorização em meio à pandemia, os estudantes brasileiros, sob um turbilhão de sentimentos, são dignos do nosso respeito. Mesmo afetados por uma série de incertezas e desigualdades, eles tentam, arduamente, manter os estudos e os sonhos.

Neste 11 de agosto, Dia do Estudante, além de reiteramos nossa admiração aos profissionais de saúde e professores, enfatizamos o nosso orgulho por alunos de todo o Brasil. O LeiaJá publica, nesta terça-feira (11), o especial “Estudante, você também é herói”, em que mostramos a bravura de jovens brasileiros que buscam, mesmo em meio às dificuldades do ensino remoto durante a pandemia do novo coronavírus, se adequar a uma realidade nunca vista antes no cenário brasileiro e a nível mundial.

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Sem aulas presenciais, pressionados pelo sonho de aprovação e no centro de incertezas sobre o futuro das escolas, das universidades e do mercado de trabalho, estudantes tentam dar andamento ao ensino, da educação infantil à pós-graduação. Orientados pelo principal personagem da educação, o professor, os alunos recebem conteúdos virtuais quando têm acesso de qualidade à internet. Esse cenário, porém, não faz parte de um todo.

De acordo com a pesquisa TIC Kids Online 2019, realizada pelo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil, 4,8 milhões de crianças e adolescentes, na faixa de nove a 17 anos, não têm acesso à internet em casa. Eles correspondem a 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária.

Levantamento do TIC Educação aponta que 21% dos alunos de escolas públicas só acessam a internet pelo celular. Na rede privada, o índice é de 3%. A mesma pesquisa revela que 31% dos professores afirmaram que receberam trabalhos ou lições dos alunos pela internet; 44% tiraram dúvidas dos alunos pela grande rede e 48% disponibilizaram conteúdo na internet para os alunos. Na rede privada, os números são 52%, 65% e 65%, respectivamente.

Sob os efeitos da pandemia, estes são os percentuais de estudantes que não estão acompanhando aulas remotas na rede pública de ensino, segundo as secretarias de educação: Espírito Santo e no Acre (30%), Pernambuco (25%), Maranhão (21%) e Rio de Janeiro (20%), entre outros estados.

Confira, a seguir, as reportagens do especial “Estudante, você também é herói”. Nossos repórteres mostram as rotinas de alunos, da educação infantil à pós-graduação, durante a pandemia do novo coronavírus:

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