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Chutes estilo borboleta e socos poderosos. No norte da Síria, um grupo de alunos aprende técnicas complexas de artes marciais sob a tutela de Fadel Othman, um mestre de kung fu de uma perna só.

Este amputado de 24 anos dirige uma modesta escola de artes marciais em Abzimu, uma cidade no oeste da província de Aleppo, controlada pelos rebeldes.

Entre seus 100 discípulos, há órfãos ou crianças que perderam um dos pais na longa década de guerra na Síria.

"É a primeira equipe que treino desde a minha lesão", explica à AFP em um terreno ao ar livre onde costuma oferecer aulas de kung fu.

"Estou convencido de que um dia serão campeões mundiais", acrescenta sobre seus discípulos.

Othman foi ferido por um morteiro em 2015, durante combates entre rebeldes e forças do regime na cidade de Aleppo. Ele agora é um dos mais de 86.000 sírios considerados amputados de guerra pela Organização Mundial da Saúde.

O jovem, que praticava kung fu desde os 12 anos, foi forçado a desistir de sua paixão. "Senti que todas as portas se fechavam na minha frente", lembra ele de sua academia, logo abaixo de uma enorme bandeira da oposição síria.

- Reforçar a confiança -

Mas durante os três anos que passou na Turquia para se tratar, ele continuou a frequentar aulas de artes marciais com treinadores e até mesmo participar de competições.

Este ano decidiu abrir esta academia de kung fu onde treina alunos de diversos níveis.

Em seu modesto ginásio, com sacos de areia e barras de tração, as paredes estão repletas de fotos de Othman em torneios.

O jovem ensina uma série de exercícios de aquecimento, sem usar muletas. Em seguida, observa os alunos realizando as sofisticadas sequências de kung fu antes de ajudá-los a refinar sua técnica para conter chutes ou socos.

Seu objetivo é ensinar às crianças "movimentos úteis que elas podem usar para se defender" e aumentar sua confiança.

Como a academia não está conectada à rede elétrica local e as baterias que fornecem energia estão descarregadas, Othman se refugia contra uma parede para procurar os últimos raios de sol, enquanto suas luvas de treino continuam recebendo os socos de um jovem aluno.

Mais tarde, num terreno aberto, o mestre do kung fu treina um grupo de 14 crianças vestidas com uniformes idênticos.

"Penso neles como meus irmãos mais novos", explica. "Meu objetivo é formar uma equipe sólida que possa aspirar a competições internacionais", afirma.

A cultura popular pernambucana perdeu mais um de seus mestres. O coquista Zé Amâncio do Coco faleceu, na última sexta (14), aos 85 anos, em decorrência de uma insuficiência cardíaca e respiratória. A notícia foi compartilhada pelo perfil do músico Maestro Forró, filho de Amâncio do Coco, neste sábado (15). 

Zé Amâncio do Coco era nascido em Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, mas vivia na capital do estado desde a década de 1950, quando mudou-se para o bairro da Bomba do Hemetério, na Zona Norte do Recife. Considerado um dos grandes coquistas da tradição pernambucana, ele era um dos únicos que ainda disseminava a técnica do pandeiro e do improviso no repente, nos dias de hoje. 

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O artista foi um dos grandes influenciadores de outro nome de peso da cultura pernambucana, o Maestro Forró, seu filho. Foi com o pai que Forró começou sua trajetória como músico, acompanhando-o em apresentações com apenas cinco anos de idade. O enterro do mestre Zé Amâncio aconteceu neste sábado (15), no Cemitério de Santo Amaro, região central do Recife. 

A pandemia da Covid-19 provoca efeitos em várias esferas educacionais. No âmbito da pós-graduação, por exemplo, alunos precisam se adequar a novos formatos de ensino, muitos deles remotos. Além disso, há o peso da cobrança acadêmica em prol de boas pesquisas. Hallana, de 24 anos, compartilhou a sua rotina em mais uma reportagem do especial "Estudante, você também é herói", do LeiaJá.

Da janela, casas vizinhas com emaranhados de fios cortam a vista do pôr do sol. O barulho das crianças correndo descalças pelos cômodos dos lares, no fim da tarde, ecoa pelas ruas estreitas, pouco movimentadas por pessoas que passam com seus rostos protegidos por máscaras. Os moradores que habitam os pequenos apartamentos com pinturas roídas pelo tempo, se cumprimentam a distância entre os degraus das escadas.

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Adiante, os anúncios estampados nos muros das residências anunciam os pequenos comércios de bairro que sustentam famílias periféricas. Eis o recorte da realidade vista pela janela de sua casa da mestranda em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Hallana de Carvalho, de 24 anos, moradora do Conjunto Habitacional no bairro da Vila Rica, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Terra que, outrora, já viveu grandes batalhas e hoje carrega o legado de ser o “berço da pátria”. Pátria que mal alimenta suas proles com a educação básica, e exclui seus filhos negros e periféricos, cansados de lutar do amanhecer ao pôr do sol por espaços que também são seus por direito.

Motivações 

Hallana, mulher negra e periférica, não acreditava que poderia seguir uma carreira acadêmica, mas descobriu, no curso de licenciatura em ciências sociais na UFPE, seu verdadeiro lugar, sua verdadeira vocação. “O que me motiva é entender que eu posso estar onde eu quiser; não existem limitações apesar das dificuldades”, diz a pesquisadora, que está em segundo ano de mestrado.

Pela primeira vez na história do País, o número de estudantes negros (50,3%) que ingressaram em uma universidade pública é maior do que o de brancos (49,7), segundo o último balanço levantado, em 2018, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dificuldades

Desde março de 2020, a notícia sobre a pandemia do novo coronavírus é a informação mais detalhada pela imprensa. Isolada, Hallana senta à mesa toda tarde, como é de rotina, e abre o seu computador. De olho no próprio reflexo na tela, ela conta que as crises de ansiedade que teve no começo da quarentena foram desencadeadas não somente pelo medo de ela e sua família serem infectadas, mas também pela preocupação de se manter produtiva nos estudos.

No mestrado, Hallana estava sentindo a dificuldade de não ter tido uma base educacional em inglês. Foto: Cortesia

Difícil, o momento impactou nas suas atividades e leituras acadêmicas e, mesmo a pandemia sendo noticiado a toda hora, ela não conseguia compreender o porquê de toda realidade que conhecia havia mudado drasticamente. Atordoada, Hallana decidiu buscar uma profissional que pudesse ajudá-la. “Conversando com a minha psicóloga, fui me tranquilizando e entendendo o meu processo frente a essa situação para tentar ir retomando as leituras acadêmicas aos poucos”, conta. 

A psicóloga clínica e escolar Márcia Monteiro esclarece que a ansiedade é uma emoção vaga que potencializa o medo, principalmente entre os estudantes. “O aumento de responsabilidades e a incerteza do futuro são demandas que potencializaram as crises depressivas; falar de depressão hoje é algo bastante comum no meio educacional, pois muitas pessoas estão tentando se adaptar a esse novo 'normal'”, explica.

A pós-graduação exige muito dos alunos. No mestrado, Hallana estava sentindo a dificuldade de não ter tido uma base educacional em inglês, o que é bastante comum nas escolas brasileiras. De acordo com a pesquisa divulgada pela agência do governo britânico 'British Council', entre as principais dificuldades que os alunos encontram na hora de aprender o idioma, está o momento de estudar a escrita, a fonética e a leitura dos materiais em inglês, sendo a falta de investimento e a sobrecarga dos professores alguns dos fatores que geram precária aprendizagem dos alunos.

Em sua trajetória escolar, a mestranda não teve a oportunidade de fazer um curso de inglês pago e até o primeiro semestre de 2020 estava sentindo dificuldade em ler os materiais que precisava para sua pesquisa. Para reverter essa situação, Hallana conta, em entrevista ao LeiaJá, bastante empolgada, que conseguiu ingressar no segundo semestre deste ano no curso de inglês afrocentrado da UFPE, destinado aos estudantes que desejam aprender a língua inglesa através da leitura de textos produzidos por autores negros.

Reinvenção

Manuseando a caneta pelas folhas do caderno pequeno de capa verde sobre a mesa de jantar, Hallana, concentrada na aula remota, captura, através da escrita, tudo o que consegue absorver de informação. O conhecimento agora partilhado via internet é a nova realidade para muitos estudantes. 

Tradicionalmente, pós-graduandos dizem que seus docentes cobram intensamente de seus alunos um desempenho quase que impecável. Hallana, porém, reconhece que, nesta crítica fase de pandemia e ensino remoto, os educadores estão mais maleáveis. “Os professores, neste contexto da pandemia, têm sido bem solícitos na medida do possível. Eles exigem o mínimo do que é preciso para a disciplina”, conta a mestranda.

Ela ainda relembra que, antes da pandemia, os professores pediam as atividades no prazo, mas chegavam a até mesmo adiar a data caso algum aluno tivesse problemas ou dificuldades na execução.

Assim como a mestranda teve que aprender a lidar com as novas ferramentas, os docentes tiveram que se reinventar. Hallana relata que a didática que se tinha na sala de aula não é a mesma de hoje e, assim como ela, os professores também compartilham do processo de aprender a manusear as novas plataformas digitais. Em casa, Hallana, que reside com sua mãe, tem os livros como a sua maior ferramenta para os trabalhos acadêmicos, porém, neste período de isolamento social, ela comenta que a internet tem a qualificado muito para suas pesquisas.

“Eu, por exemplo, tenho procurado muitos cursos sobre internet, sobre metodologias de pesquisa através da internet, já para tentar encarar um pouco melhor esse período por causa da minha pesquisa”, diz. A mestranda, que não pode desfrutar da estrutura que a universidade lhe oferece, devido à paralisação das atividades presenciais, precisa dar conta das demandas que sua pesquisa exige. Para isso, ela tem buscado se qualificar no conforto da sua casa. “Eu fico acompanhando os minicursos e os cursos de extensão oferecidos pelas universidades e quando aparece algo que me interessa, eu vou fazendo. Eu tenho tentado me qualificar neste sentido e venho buscando explorar mais a internet para descobrir outros recursos e programas que possam me ajudar na pesquisa”, conta a estudante.

Apoio familiar

Um dos papéis mais sensíveis está no ato de ser mãe. Olhar para um filho imerso nos estudos preenche o coração de orgulho e dá aquela sensação de “trabalho bem feito”. Hallana relata o quão importante foi a presença da mãe, Rosete Maria de Almeida, na sua vida acadêmica. A jovem acredita que se não fosse o incentivo dela, ela não teria seguido os rumos da educação.

“No meu próprio processo de formação enquanto professora, aprendi o quão é importante o incentivo de alguém da família”, explica a estudante. A psicopedagoga Juliana Lapenda esclarece que esse impacto é decorrente do apoio familiar que ela teve na infância. “É muito importante a presença dos pais na educação dos filhos, pois da mesma forma que a criança sente a presença, ela também sente a ausência e isso interfere no seu emocional que está interligado ao seu aprendizado”, explica a especialista.

Dona Rosete, a matriarca da família, acompanha de perto os estudos da filha em meio à pandemia da Covid-19. Para Hallana, a mãe foi a mulher que mais deu suporte para ela conseguir chegar onde está. “Além do olhar de orgulho, eu sinto um olhar de incentivo. Aquele olhar que diz ‘estou no caminho certo’. Eu percebo que a minha relação no dia a dia com a minha mãe tem muito desse olhar que diz: ‘contínua que está dando certo’”, comenta.

Educação do futuro

Ante à nova realidade, muitos estudantes especulam sobre o futuro da educação. Hallana, primeira da família a ter um ensino superior, incentiva seus parentes, principalmente seus primos mais novos, a buscarem uma educação superior. Ela entende, ao ter uma visão clara sobre a realidade em que vive, que a universidade é algo distante para muitas pessoas.

Questionada sobre o futuro da educação no Brasil, ela responde: “Nesse contexto em que estamos vivendo, fica até um pouco difícil saber o que vai acontecer com a educação futura, já que temos essa troca constante de ministros”, diz. Ela complementa: “Eu penso muito que a saída para a educação no futuro é através do investimento na educação pública em todos os seus níveis, desde o ensino fundamental ao ensino superior. Outra saída para a educação é por meio do incentivo à pesquisa acadêmica nas universidades públicas do país, afinal, se não tivesse a bolsa, provavelmente eu não teria como me manter na pós-graduação”, conclui.

Confira, abaixo, as demais matérias do especial “Estudante, você também é herói”. Nossos repórteres mostram as rotinas de alunos, da educação infantil à pós-graduação, durante a pandemia do novo coronavírus:

--> Pequenos 'grandes' estudantes e o ensino remoto

--> Isolamento social e a ansiedade na preparação para o Enem

--> A perseverança de Ana e o carinho pela pedagogia

--> Formatura mais cedo: estudantes trocam aulas por hospitais

--> O que o futuro reserva para os estudantes após a pandemia?

A vida não era fácil no município de Goiana, Mata Norte de Pernambuco, quando José Manoel dos Santos nasceu, no ano de 1950. E continuou difícil enquanto o garoto crescia em meio ao trabalho pesado do corte da cana na Usina Maravilha. Para aliviar as agruras da existência, ele ia 'espiar' os cocos, maracatus e cirandas que aconteciam na região. Mal sabia ele que ali estava se formando um mestre Griô, hoje um dos mais importantes da cultura popular pernambucana e o único a levar adiante a tradição do coco de senzala, variação do ritmo oriunda dos negros escravizados. 

Foi vendo, ouvindo e observando, "de mutuca", como conta, que o mestre aprendeu sobre cultura popular. Naquele tempo, admirar era tudo quanto lhe cabia: "Porque os velhos, eles são fechados para os jovens. No lugar que tinha dois velhos conversando um jovem não chegava no meio não, só se ele chamasse. Eu ficava de mutuca, tudo eu me admirava, agora, não me envolvia não, porque o menino pra se envolver em qualquer coisa, só se um velho levasse", relembra. 

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E foi através de alguém mais velho que Zé Negão subiu ao palco para cantar pela primeira vez. Sua Tia Armira o levou para uma festa em Ponta de Pedra e lá ele fez sua estreia, cantando seis cocos. Da plateia, veio uma reclamação misturada com conselho de um emissor um tanto duvidoso. Um homem que, segundo o mestre, estava visivelmente embriagado, desaprovou o repertório escolhido pelo coquista, feito com "coisas dos outros" e deixou o recado: "Se aprume, meu fio, você tem veneno". 

Zé Negão, então, se 'aprumou'. Mas até chegar ao patamar de mestre passou por muitos bocados. A princípio, para desenvolver sua própria arte: "Comecei a fazer meus coquinhos, mas mesmo assim era aquela dificuldade. Se você não tem um instrumento, um ponto de referência, aí tudo que vai fazer é dificuldade". Ele deixou sua cidade natal e veio para a capital, Recife, trabalhar na indústria. Ele passou 13 anos se dedicando ao trabalho na fábrica de tecido Cotonifício Capibaribe S.A. enquanto o fazer artístico ficou adormecido. Ele criou sua família, perdeu a visão por conta dos produtos químicos usados no então ofício (o mestre tem hoje apenas 10% do olho esquerdo), e quando deixou a fábrica retomou sua real vocação: “Voltei senão eu ia ficar louco”. 

Foi em meados da década de 1980 que Zé Negão deixou a indústria têxtil em direção  à mudança de vida. Primeiro no endereço: o mestre e sua família mudaram-se para Camaragibe em busca de novos ares que pudessem melhorar a saúde de um dos filhos. Lá ele começou a desenvolver diversos trabalhos em prol da comunidade. Ao lado de sua esposa, Mestra Fátima, construiu um posto de saúde, uma escola e, com o projeto Zé Negão, passou a ministrar aulas de  percussão, dança, corte e costura, entre outras atividades. 

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A dedicação à comunidade ganhou outro tom em 2006, quando passou a integrar o Laboratório de Intervenção Artística (Laia), como coordenador e articulador comunitário. Em 2014, fundou em sua própria casa, localizada no bairro de João Paulo II, periferia de Camaragibe, o Espaço Museal Canto das Memórias Mestre Zé Negão, um lugar dedicado à difusão e preservação de seus saberes e que guarda todo o seu acervo, com instrumentos, livros e fotografias. 

O trabalho do mestre é mantido com o dinheiro que consegue arrecadar com cachês, projetos e prêmios como os estaduais Ariano Suassuna e Ayrton de Almeida, e o nacional Culturas Populares, recebidos em 2018. No entanto, é o instinto de resistência que o mantém firme no enfrentamento às dificuldades para continuar na ativa: "Hoje existe uma situação financeira para o artista no Brasil. Quem trabalha com cultura no Brasil toma ‘nó de cana de boca de jumento’ pra poder sobreviver".

No entanto, além da vivacidade e disposição, admiráveis para um senhor de 69 anos, o mestre encontra nos seus pupilos a esperança para o futuro. Ele é acompanhado pelos músicos da Laia, dois deles, Marcone e Patrícia, olham bem de perto pelo o mestre, desde o cuidado em lembrá-lo de tomar água à parte de produção, até o pedido de 'bença' ao encontrá-lo. Ele retribui dividindo o que tem de mais valioso, sua experiência na cultura e na vida: "O meu desejo é que eles tenham muitos anos de vida. Eu posso ir até amanhã, eles vão dar seguimento, já que eu não consegui fazer do meu sangue".

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Sambada da Laia

Também é criação do Mestre Zé Negão a Sambada da Laia, evento que reúne admiradores do coco em Camaragibe há 13 anos. "Essa sambada foi uma loucura que a gente fez", brinca o mestre ao relembrar da primeira edição da festa que aconteceu para marcar a despedida de solteiro de um conhecido.

Deu tão certo que a sambada passou a acontecer uma vez por mês reunindo mestres e mestras do coco e um público cada vez maior. Atualmente, são realizadas seis festas por ano em um novo modelo que procura celebrar os grandes coquistas pernambucanos em seus meses de aniversários.

Em agosto, é a vez de celebrar o próprio Mestre Zé Negão. Filho do "mês do vento", que no próximo sábado (10) comemora seus 69 anos ao lado dos amigos, da esposa, a Mestra Fátima, e de outros mestres como Galo Preto, Juarez, Ulisses e os grupos Chinelo no Chão e Coco Kpoerê, entre outros convidados.

'Ninguém solta a mão de ninguém'. A frase que virou grito de guerra entre internautas de diferentes localidades, gêneros e classes sociais, ao redor do Brasil, recentemente, há muito já era conhecida em Pernambuco. O Estado é berço da ciranda, dança circular em que os participantes dançam de mãos dadas e que pode ser classificada como uma das mais democráticas manifestações culturais brasileiras.

Na roda de ciranda brincam crianças, adultos e velhos, independente de sua cor de pele, crenças e contas bancárias, lado a lado. Organizando a brincadeira, estão os mestres e mestras, detentores da ciência tradicional e de um senso de resistência que só pode ser explicado por eles mesmos.

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Mestre Santino Cirandeiro tem 78 anos de vida e 62 de ciranda. Ele lembra com saudade dos tempos de menino em que ia brincar a ciranda na "casa de um e de outro", depois do trabalho pesado nos engenhos de cana de Nazaré da Mata, cidade onde mora até hoje. O cirenadeiro conta que os trabalhadores rurais e moradores do entorno se juntavam - entre eles, muitas mulheres que ajudavam a cantar, uma vez que não havia músicos para tocar qualquer instrumento. A 'apresentação' se dava a troco de bolo e cachaça e prosseguia até o raiar do dia.

Foi nessas festas, nas casas dos vizinhos e conhecidos, que Santino teve vontade de cantar também. Na escola, ele escrevia cirandas quando a professora pedia trabalhos e esperou a reticência do pai - preocupado pela pouca idade do menino - acabar para entrar de vez na brincadeira. Isso aconteceu quando o jovem chegou aos 15 anos. "Eu chegava numa ciranda pedia pra cantar, o mestre deixava... Naquilo eu fui e cheguei a ser o dono da minha própria ciranda, até hoje", conta o mestre da Ciranda Popular, grupo criado em 1989.

Daquele tempo para cá, algumas coisas mudaram para o mestre cirandeiro. Mas nem todas. Ele hoje se orgulha de poder registrar sua música gravando discos. "Agora tem uma coisa melhor do que antes, era que quando a gente brincava ninguém falava em gravar nada. Ninguém sabia de nada, tudo matuto dos engenhos. Hoje, por outro lado, você vai cantar e o pessoal vai gostando e você vai achando bom e daí a pouco você grava um CD", conta Santino, que já tem três trabalhos gravados.

O que não mudou muito é a invisibilidade dos artistas populares. Mesmo sendo ele o mestre mais antigo em atividade no segmento da ciranda, com viagens internacionais no currículo e o trabalho de 30 anos da Ciranda Popular, Santino é mais um expoente da cultura pernambucana a lamentar a falta de apoio e reconhecimento. "Eu até agora não ganhei nada. A não ser, o dinheiro de quando a gente brinca, eu recebo. Mas, de bondade, de homenagem, nada. A cultura, não sei porque ela é tão sem ajuda. Os mestres, os artistas, merecem, a cultura merece ajuda, a pessoa vai ficando velha, não pode mais cantar, devia ter uma ajuda, mas até hoje, nada".

O mestre Santino  pensa às vezes em calar sua ciranda e parar. Diabético e próximo de completar 80 anos, ele se diz cansado e preso a um dilema. "É complicado mas o interessante é que a gente gosta dela. Às vezes, eu não vou brincar, dia de sábado, quando a gente vai dormir, que eu tô deitado e ouço o bombo, a bateria, aquilo me dá uma agonia uma vontade, eu digo: 'eu vou pra ciranda', a mulher diz: 'pra onde tu vai essa hora?'; é porque a gente se acostumou com aquilo, acha que vai morrer com aquilo".

Lia de Itamaracá, outra grande mestra cirandeira, apontada como a "diva da música negra", pelo jornal americano The New York Times, também se vê fazendo ciranda para sempre. "Eu não desisto, não; eu vou lutar até ‘Mané’ chegar. Enquanto ‘Mané’ não chegar eu não paro. Quero chegar aos 100 anos", diz a cirandeira de 75, Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ela tem lugar de destaque na cultura popular pernambucana, sendo a responsável por levar o nome do Estado e as tradições que aprendeu nas areias da praia de Jaguaribe a todo o mundo.

Mesmo sendo muito festejada em outros lugares do país e de fora dele, a mestra se ressente da pouca ou quase nenhuma assistência que recebe em seu próprio lugar. "Eu me sinto acorrentada, sem poder fazer nada. Todo dinheiro que a gente pega, a gente joga aqui (em seu centro cultural). Se for esperar os mestres morrerem, é o que tá acontecendo. Assinou a lei da ciranda, tá certo, e os mestres que estão parados"?

Ela se refere à Lei nº 77/2019, de autoria do deputado estadual Waldemar Borges, que institui o dia 10 de maio como o Dia Estadual da Ciranda. A data faz referência ao nascimento do Mestre Baracho, considerado um dos maiores cirandeiros pernambucanos, mas não foi recebida com tanto entusiasmo nem por Lia, nem pelo Mestre Santino: ambos acreditam que pouco ou nada irá mudar após a instituição do dia comemorativo. Uma das filhas de Baracho, Dona Severina, a Biu, canta com Lia, além de manter seu próprio grupo com a irmã, As Filhas de Baracho.

Lia luta pela retomada do funcionamento de seu espaço cultural, o Estrela de Lia, localizado na praia de Jaguaribe, em Itamaracá. Desativado desde 2015, quando fortes chuvas derrubaram toda sua estrutura, o espaço aguarda a liberação de uma verba de aproximadamente R$ 250 mil, segundo a cirandeira, presa na prefeitura local, para a construção de banheiros, camarins, palco e salas de aula, para que o lugar possa retomar suas atividades educativas e artísticas.

Enquanto esperam que a iniciativa pública local, e até mesmo a privada, deem as mãos para fortalecer suas cirandas, os mestres continuam em seu movimento de resistência, motivados pelo amor que sentem por sua cultura. Eles vão se alimentando do prestígio que conquistaram fora de casa, motivo de orgulho e de manutenção do seu trabalho. "A gente praticamente é mais divulgado lá fora do que no próprio lugar que mora", diz Lia; “Somos muito bem recebidas (lá fora), nunca vi gente pra gostar tanto de ciranda como lá no Rio”, comenta Dona Severina; ao que o Mestre Santino completa: “Eu já andei um bocado, já conheci quatro países de fora, Portugal, França, Inglaterra e Itália. Me tratam como se eu fosse de lá mesmo”.

Independentemente da pouca assistência e reconhecimento, esses mestres continuam de mãos dadas com sua cultura. Segurando com força a ciranda à qual tanto se dedicam para que nunca se deixe de cirandar.

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Fotos: Júlio Gomes/Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

A música paraense sofreu mais uma perda. Na manhã desta sexta-feira (2), em Barcarena, morreu, aos 83 anos, Joaquim de Lima Vieira, o Mestre Vieira. O artista, precursor da guitarrada no Pará, tratava de um câncer de próstata. A Prefeitura de Barcarena decretou luto oficial de três dias.

Mestre Vieira lutava contra o câncer desde 2016. Teve uma melhora do quadro no segundo semestre do ano passado. Realizou apresentações musicais e participar de homenagens, em sua terra natal, pelo aniversário de 83 anos. Porém, no último mês de novembro, em decorrência de um quadro de anemia aguda, voltou a sofrer com a doença. Na noite desta quinta-feira (1), foi encaminhado às pressas à UPA de Barcarena, mas não resistiu. Informações sobre o velório e enterro do artista ainda não foram divulgadas.

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Nascido em 29 de outubro de 1934, no município de Barcarena, Mestre Vieira começou a tocar guitarra ainda jovem. Na década de 70, introduziu no cenário musical paraense ritmos caribenhos como a lambada, cumbia e o merengue. Misturava toda essa levada a uma base de guitarra, dando origem ao gênero conhecido como guitarrada. Ao todo, foram mais de 15 discos gravados, o primeiro, “Lambada das Quebradas”, veiculado em 1978. O trabalho do artista influenciou outros guitarristas de renome, como Pio Lobato, Félix Robatto e Lucas Estrela.

Por Luiz Antonio Pinto e João Paulo Jussara.

 

 

 

 

 

 

Um bom professor tem um papel fundamental na vida do seu aluno. Todos nós temos alguma lembrança boa de um profissional que foi um mestre na nossa infância ou até na faculdade. Seja o “tio” ou “tia”, “professor”, “prof.” ou “mestre”, todos aqueles que trabalham com educação, na educação infantil, Ensino Fundamental ou Ensino Superior, está ajudando a formar cidadãos que construirão a sociedade em que vivem. 

O professor é uma das profissões mais antigas e mais importantes pelo seu papel na formação de crianças, jovens e adultos. Professor é aquele que ensina, que transmite conhecimento, é essencial para a formação do ser humano. Professores são mestres que levamos pela vida afora. Ser professor é viver o seu tempo com sensibilidade e consciência. É saber lidar com as diferenças, ter flexibilidade e ajudar o seu aluno a refletir. É ser um difusor do saber. 

Tenho orgulho de ter sido professor de centenas de alunos e sei que todos aqueles que decidem por seguir a docência também se sentem assim. A humanidade precisa de educadores que possibilitem transformar as informações em conhecimento e em consciência crítica, para formar cidadãos sensíveis e que busquem um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. 

Infelizmente, apesar da importância, os professores ainda não têm a valorização que merecem em nosso país. A grande maioria entra em salas de aula com estruturas precárias e tem salários baixos. Além disso, os cursos de Pedagogia não preparam os profissionais para lidar com problemas como violência, indisciplina e dificuldades de aprendizagem. A forma com que se trata o professor é um dos primeiros problemas que hoje enfrentamos para atrair alguém para dar aula no Brasil.

O Plano Nacional de Educação (PNE) dedica quatro de suas 20 metas aos professores: prevê formação inicial, formação continuada, valorização do profissional e plano de carreira. Para que se tenha uma dimensão do trabalho que o país tem pela frente, entre os 2,2 milhões de docentes que atuam na educação básica do país, 24% não possuem a formação adequada, conforme dados do Censo Escolar 2014. 

Durante a minha trajetória acadêmica, aprendi que o professor tem um poder que nenhum outro profissional tem. O professor pode mudar uma vida e não há profissão mais bonita nesse mundo. Entendendo, que uma sociedade desenvolvida, é uma sociedade esclarecida e o esclarecimento vem, principalmente, através dos professores. Para tal, é preciso, em primeiro lugar, a valorização desses profissionais.  A decisão sobre como devem ser formados os novos profissionais impacta no projeto educacional de qualquer nação.

Rui Barbosa, em uma de suas citações, disse aos professores:  “Se és capaz de aceitar teus alunos como são, com suas diferentes realidades sociais, humanas e culturais; se os levas a superar as dificuldades, limitações ou fracassos, sem humilhações, sem inúteis frustrações; se os levas a refletir mais do que decorar; se te emocionas com a visão de tantas criaturas que de ti dependem para desabrochar em consciência, criatividade, liberdade e responsabilidade, então podes dizer: sou mestre!”. Hoje, entretanto, precisamos dizer: “Obrigado!” aos nossos professores. Obrigado pelos esforços, pela paciência e por terem sido e serem tão importantes na nossa formação. Obrigado por nos fazerem repensar o nosso lugar no mundo, e a importância do nosso modo de estar no mundo.

A cultura popular pernambucana perdeu um de seus mestres no último sábado (13). O ceramista Manuel Eudócio faleceu, aos 82 anos, vítima de complicações do vírus da Chicungunha. Ele estava internado no hospital Mestre Vitalino, em Caruaru. 

Manuel Eudócio era discípulo do Mestre Vitalino e retratava o cotidiano e os folguedos populares de sua terra, como o maracatu, o reisado e o boi, desde os oito anos de idade. Este último, inclusive, se tornou um dos ícones de sua obra. As peças revelam o gestual de cada brincante e a riqueza cultural desta manifestação popular.

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Embora já com idade avançada, o artista começava a trabalhar diariamente às 5h em seu ateliê no Alto do Moura, em Caruaru. O mestre foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2005 e foi o homenageado do São João de Caruaru em 2015. Seu legado será perpetuado pelos nove filhos que deixou, todos atuantes na arte de modelar com o barro.

Memorial

O prefeito de Caruaru, José Queiroz, anunciou na ocasião do velório do ceramista Manuel Eudócio, no último domingo (14), que irá esenvolver de imediato um projeto para a criação de um espaço para preservação da obra do mestre. O Memorial Manoel Eudócio deverá funcionar no próprio ateliê do artista, no Alto do Moura. O objetivo é preservar o acervo e  ahistória do mestre que imortalizou a arte do barro divulgando o ofício e a cultura pernambucana por todo o Brasil e o mundo.

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Durante anos, a educação foi baseada apenas na transmissão de conteúdo do professor ao aluno. Restrita apenas ao conhecimento que o mestre detinha. Entretanto, a evolução de tecnologias, as necessidades humanistas e o incentivo para que mais estudantes buscassem conhecimento fizeram com que o modelo adotado para educação ficasse obsoleto.

O mundo mudou muito, mas a educação, as instituições e profissionais ainda não estão acompanhando tais mudanças. A sala de aula tradicional, apenas com quadro negro, professor e alunos tornou-se insuportável para os jovens, sedentos de conhecimentos. A sala de aula se ampliou e aquele modelo convencional, centralizado no professor e com pouca tecnologia já não surte mais efeito.

É preciso inovar, mesclar a sala de aula com outros espaços físicos, inclusive virtuais, tornando possível que qualquer local seja um lugar capaz de ensinar e de aprender, a qualquer momento e em qualquer situação. Esse é o diferencial de novos modelos de educação, que desenvolvem o ambiente pessoal de aprendizagem de alunos e professores, promovendo o enriquecimento mútuo.

O desafio educacional na era moderna se tornou outro: formar indivíduos que aceitem desafios e sejam, cada vez mais criativos. Sem dúvidas, esta não é uma tarefa fácil e pode ser pautada em quatro princípios fundamentais: é mais importante aprender do que ensinar; o conhecimento é inter e multidisciplinar; é preciso estimular uma comunidade acadêmica de diversas formas e o incentivo às publicações científicas tem o intuito de alavancar o conhecimento e não apenas ficar restrito ao currículo dos professores.

O ambiente físico das salas de aula e da escola como um todo também precisa ser redesenhado dentro desta nova concepção mais ativa. As salas de aula podem ser mais multifuncionais, que combinem facilmente atividades de grupo e individuais. Os ambientes precisam estar conectados.Capacitar coordenadores, professores e alunos para trabalhar mais com metodologias ativas, com currículos mais flexíveis, com inversão de processos também são ações que precisam ser adotadas.

Quando falamos e pensamos em educação, não podemos ser xiitas e defender um único modelo, proposta e caminho. O mundo muda. Trabalhar com modelos flexíveis que propõem a solução de problemas e desafios, com projetos reais, com jogos e com informação contextualizada, equilibrando o papel de professores e alunos, é o caminho mais coerente e que pode ser planejado e desenvolvido de várias formas e em contextos diferentes.

Instituições que conseguem unir essas caraterísticas, oferecendo opções de campus global, com currículos elaborados para ensinar competências em diversas áreas, fazem com que seus estudantes atinjam um nível de excelência, sendo capazes de superar os desafios e promover a integração social, o desenvolvimento regional e a excelência acadêmica. 

O candidato a presidência da República e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), cancelou todas as agendas de campanha desta quarta-feira (23) para acompanhar de perto o quadro clínico do escritor e amigo Ariano Suassuna. O presidenciável desembarca hoje no Recife e não participará de atos políticos. Ariano está internado desde a última segunda-feira (21) quando sofreu um AVC hemorrágico, no mesmo dia passou por uma intervenção cirúrgica e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. 

De acordo com o último boletim divulgado pela unidade hospitalar, nessa terça (22), o mestre do movimento armorial apresentou uma piora devido à queda da pressão arterial e a elevação da pressão intracraniana. No início da tarde de ontem, Eduardo Campos pediu, na sua página oficial do facebook, orações para o "tio que a vida o deu". Desde 2006, quando Campos se candidatou pela primeira vez ao governo estadual Ariano reforça o palanque dele. Surgiu do escritor a entoação da música "Madeira de lei que cupim não rói" para empolgar a militância socialista. 

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Nos últimos discursos, como governador de Pernambuco, o socialista fez questão de lembrar a força que Ariano o deu para ser eleito. Em um deles, Campos exaltou a importância do escritor que endossou a candidatura indo às ruas pedir votos. “Hoje tenho a honra de dizer, Ariano, que eu não decepcionei”, cravou exaltado, em fevereiro

Em maio, quando Campos já estava na preparação para a corrida presidencial, o dramaturgo gravou um vídeo elogiando o socialista. Na gravação, de um pouco mais de dois minutos, o Ariano disse que o ex-governador é “uma das maiores alegrias” que ele tem vida. No esquete, Suassuna relembrou da confiança depositada no líder do PSB na primeira campanha ao governo do Estado e garantiu ter se surpreendido com a atuação de Campos. “Em 2006 eu dei uma declaração em favor dele. Eu sabia que ele seria um grande governador, mas eu não esperava que fosse tanto não”, elogiou. 

No penúltimo programa da temporada 2014 do Arraiá LeiaJá, o apresentador Thiago Graf conversa com um dos ícones da sanfona. Reginaldo Alves Ferreira, ou, simplesmente, Mestre Camarão, é um dos principais acordeonista da região, e é o responsável por difundir o instrumento e a autêntica música nordestina.

A sua relação com a música começou quando ele ainda era um menino em Fazenda Velha, no município de Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano. Aos 7 anos começou a tocar, inspirado apenas no que via o pai fazer.  "Eu comecei acompanhar meu pai, muito novo. Ele me carregava juntamente com a sanfona durante todo os São Joãos. Eu comecei a tocar com os bacamarteiros, fazendo música para eles", relembra.

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Considerado Patrimônio Vivo da Pernambuco, o apelido que o deixou conhecido veio de um amigo, durante uma apresentação. "Isso foi no auditoria, numa época de muito calor. Eu faz um programa, e um cantor estava me esperando para acompanhar ele. Quando eu cheguei, já cheguei um pouco atrasado e entrei já pra fazer a introdução, mas o cabra não soube entrar. Então ele virou-se pra mim, eu muito vermelho, e disse: 'de novo, Camarão'. E até hoje ficou", relata o mestre.

Confira o programa completo no podcast abaixo:

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Você acompanha o último programa da temporada desse ano no próximo sábado (28). Confira abaixo também o making off de gravação:

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Ele nasceu na véspera de São João, 23 de junho. E parece até que este é o motivo de sua estrela abrilhantar o período junino. Acordeonista de primeira, a sua geração deixou uma marca pronfunda na música popular brasileira, mostrou para o Brasil, e para o mundo, a simplicidade complexa do forró. Nascido em Fazendo Velha, no município de Brejo da Madre de Deus, Agreste pernambucano, seu nome é Reginaldo Alves Ferreira, mas as pessoas o conhecem como Mestre Camarão.

Foi observando o pai, Antônio Neto, que Camarão aprendeu o ofício. Desde menino, seu interesse sempre foi pela sanfona e outros instrumentos de fole. Porém, houve um período em tocou teclado, e uma de suas bandas desta fase foi a Los Marines, com quem chegou a gravar um disco. “Naquela época, tocávamos muito em bailes, tanto no interior, como nas capitais”, conta o sanfoneiro.

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Entretanto, o marco dessa história foi aos 18 anos, quando conheceu Luiz Gonzaga. “Eu trabalhava na Rádio Jornal do Commércio, em Caruaru, e ele me ouviu tocando com uma banda de metais. Já admirava-o mesmo antes de conhecê-lo, e por estarmos no mesmo meio a amizade fluiu mais facilmente”, lembra Camarão.

O Portal LeiaJá, foi até a casa do Mestre Camarão conversar com ele. Nesta quinta-feira (26), você pode ouviro bate-papo na íntegra, no podcast de São João.

Escute as músicas do mestre

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Apadrinhado pelo Inventor do Nordesteo sanfoneiro conta que o Rei do Baião colocava os músicos que ele achava promissores 'embaixo da asa' e que a sombra de Luiz Gonzaga é tão grande e forte que até hoje as festas usam o nome dele.

Em 1961, a convite do prefeito de Brasília, Paulo de Tarso, Camarão e mestre Vitalino representaram Pernambuco no aniversário do Distrito Federal. No período, fizeram uma turnê pelas cidades satélites da capital federal. O mestre sanfoneiro conta que, durante a viagem, o engraçado era a reação das pessoas que estavam a tanto tempo longe de casa, que sentiam como se fossem vizinhos dos representantes do seu Estado de origem.

Contemporâneo de Dominguinhos, Arlindo dos 8 baixos e outros grandes acordeonistas, Camarão toca de tudo com sua sanfona: xote, xaxado, baião, forró. E, por quê não, frevo? E, mantém, na frente de casa, a Escola Acordeão de Ouro - para os sanfoneiros que querem aprimorar sua técnica. Ele já perdeu as contas dos músicos que passaram por lá. Dentre eles, está Cezzinha.

“Fui criado ouvindo os discos dele, que sempre incluiu os metais e o frevo em seu repertório. Eu tive a honra de ser amigo, conviver e estudar com ele. Ele é muito importante para sanfona e ainda tem muito o que ensinar”, fala Cezzinha sobre o mestre.

Outro aluno aplicado é seu filho Salatiel, que é cantor. Pai e filho já tiveram a oportunidade de se apresentar juntos inúmeras vezes. Sobre o filho, Camarão conta que “É um dos maiores batalhadores que conheço. Baterista, cantor, aluno”.

Ele lembra com saudosismo da vez que viu o filho se apresentar no restaurante Arriégua, localizado na Zona Oeste do Recife: “Gravamos um disco juntos, com a participação de vários artistas forrozeiros. Mas eu acho que ele tem mesmo é futuro como professor, ele é um estudioso. Gosta de saber a origem dos instrumentos e dos ritmos”.

Durante a conversa com o Portal LeiaJá, o acordeonista mostrou estar indignado com a falta de organização da classe e do egoísmo de muitos músicos, que não ajudam os mais novos ou menos conhecidos. “O que falta nos dias atuais é vontade de ensinar e de aprender com os antigos, de se aprimorar”, lamenta o mestre. 

Patrimônio Vivo de Pernambuco

Em maio de 2002, Camarão recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, através da Lei estadual n° 12.196.

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O Brasil, e principalmente Pernambuco, é conhecido pela sua diversidade cultural. Um dos representantes da cultura popular é o Balé de Cultura Negra do Recife- Bacnaré, fundado em 1985, pelo Filho de Santo, professor, pesquisador e coreógrafo Ubiracy Ferreira. A bisavó dele foi escrava. Na senzala, ela entrou em contato com a Capoeira e participava dos Maracatus. As influências das danças afro-brasileiras e também da religião Candomblé passaram de geração em geração até chegar aos olhos de Ubiracy, cuja luta era pela preservação e reconhecimento de sua cultura. Em outubro do ano passado, o fundador do Balé Bacnaré faleceu, aos 75 anos, devido a um câncer na próstata. 

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No entanto, o legado cultural de Ubiracy continua vivo na sua família. Atualmente, o Bacnaré está sob responsabilidade do filho Thiago e da viúva Antônia Ferreira, presidente e vice respectivamente. A atual sede fica na própria residência de dona Antônia, uma casa simples, no Bairro da Bomba do Hemetério, local onde são realizadas oficinas de máscaras, ensaios de dança e de percussão do Maracatu Sol Nascente, que nasceu dentro do Balé. Além destes, o balé também trabalha a capoeira, o caboclinho, samba de roda e o pastoril, que integra o ciclo de festas natalinas do Nordeste. 

O primeiro espetáculo realizado pelo Bacnaré foi Memórias, em meados dos anos 1980, com coreografia e história próprias, retratando a vinda dos escravos para o Brasil. Nos anos 2000, ele ganhou uma nova apresentação, no Teatro Santa Isabel, em homenagem ao fundador Ubiracy que, inclusive, foi o primeiro negro a se apresentar no local, palco de vários espetáculos e ensaios do Bacnaré. De acordo com Antônia, a renda adquirida com as apresentações realizadas no Santa Isabel é totalmente revertida para o balé. 

O contato do Bacnaré com as raízes africanas também veio através dos festivais internacionais. Nas viagens, os integrantes realizam um intercâmbio cultural com alguns representantes de tribos africanas como os Zulus, Camarões e os Massais. “Enquanto eles ficam admirados com a nossa capoeira, nós ficamos maravilhados com a cultura de raiz”, comenta Antônia. 

O LeiaJá visitou a casa de Antônia e conferiu o espaço no qual os ensaios são realizados. O local é pequeno para comportar cerca de 40 pessoas, mas, segundo dona Antônia, quando não é possível ensaiar no terraço, eles vão para a rua. Os recursos do Bacnaré vêm de iniciativas próprias dos membros, com confecções de bonecas de orixás, chaveiros e camisas. O balé também participa do edital Ponto de Cultura, que é promovido pelo Ministério da Cultura, porém o valor só cobre os custos das realizações de oficinas. 

Muito além de um espaço cultural, o Bacnaré também tem um cunho social. Com integrantes de sete a 49 anos, o balé resgata muitas crianças, que estão sem rumo na vida, e as trazem para um mundo de possibilidades. “Só o esporte e a cultura podem tirar os meninos das ruas”, completa dona Antônia. A entrada no balé é voluntária, com uma pequena ajuda de custo aos integrantes em dias de espetáculos. “É importante que a pessoa tenha um compromisso sério e real com nosso balé”, lembra dona Antônia.

O Bacnaré tem o apoio de algumas empresas, mas quer distância de atos de politicagens. Dona Antônia conta que alguns políticos já se ofereceram para ajudar na realização de eventos do balé, mas ela rejeita. “Não aceitamos propostas de políticos que buscam ganhar através do auxílio ao balé. É como se tirassem nossa liberdade. Iríamos trabalhar para outra pessoa”, declara. Entre apresentações nacionais e internacionais, o Balé Bacnaré já conquistou 165 prêmios.

Em busca de recursos

Através da integração do balé ao projeto Bombando Cidadania, que proporciona visita de turistas a alguns pontos culturais do bairro da Bomba do Hemetério, o Bacnaré ganhou ainda mais visibilidade, principalmente na mídia. A riqueza cultural do balé é tão grande, que chamou atenção de várias pessoas interessadas em ajudar a companhia. A partir disso, surgiu a iniciativa de colaboração na plataforma Impulso, a fim de arrecadar fundos para a reforma da sede provisória. 

A reforma consiste na implantação de um letreiro com o nome do balé; na pintura; e na mudança de piso do local. Além disso, também está prevista a criação de um salão, na parte de trás da atual sede, para os integrantes realizarem seus ensaios. Ao LeiaJá, dona Antônia conta que tem planos maiores para o balé. “Eu queria que o Bacnaré tivesse uma sede própria, em outro lugar, com mais espaço para os ensaios e para guardar os materiais”, comenta. A professora aposentada vai mais além: “Queria que o Bacnaré se transformasse num espaço cultural para atender também as escolas, pois nossa cultura precisa ser ensinada e preservada. Temos muitos arquivos que dariam para fundar uma biblioteca e videoteca”.

A proposta é divida em duas etapas. A primeira tem o objetivo de arrecadar R$ 3 mil. Com o alcance desse valor, começa a segunda fase, na qual será preciso arrecadar R$ 30 mil. Restam apenas 35 dias para encerrar a primeira etapa e, até o momento, foram doados R$ 665, vindos de sete pessoas. Para ajudar na preservação desse tesouro da cultura afro-brasileira, basta acessar o site do Impulso e seguir o passo a passo. “A gente está suplicando, pedindo por doações”, ressalta dona Antônia. 

Carnaval

Muitos membros do Maracatu Sol Nascente são integrantes do Balé Bacnaré. Desde muito tempo, eles participavam da tradicional abertura de Carnaval comandada por Naná Vasconcelos. Mas em 2011, eles deixaram de se apresentar junto aos batuqueiros. Isso porque o Sol Nascente tem uma política de não participar de competições. Segundo dona Antônia, “a cultura não é para competir, mas sim para fazer bonito”.

Na época da exclusão, Ubiracy havia ficado profundamente triste. Emocionada, dona Antônia relembra a fala do falecido marido no Carnaval do ano passado. “Enquanto arrumava o estandarte, ele chorava e dizia que este seria seu último carnaval. E acabou sendo mesmo”, comenta.

A organização do Maracatu reivindicou com a atual secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, e no Carnaval deste ano eles voltam a se apresentar juntamente com Naná Vasconcelos. Na abertura do próximo dia 28, o Sol Brilhante subirá ao palco do Marco Zero e todos os mestres utilizarão uma camisa com a foto de Ubiracy estampada. “Será uma grande homenagem a um grande mestre”, declara dona Antônia. 

O Maracatu Sol Nascente existe há muitos anos, inclusive a avó de Ubiracy era uma das integrantes. Durante décadas, o maracatu foi desativado, retornando graças ao mestre Ubiracy na comemoração dos seus 50 anos e do aniversário da cidade do Recife. Além da abertura do Carnaval, o Maracatu Sol Nascente também se apresenta na tradicional Noite dos Tambores, realizada no Pátio do Terço.

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BELO JARDIM (PE) - A cidade pernambucana de Belo Jardim é conhecida como a Terra dos Músicos. Entre os nomes conhecidos estão o cantor e compositor Otto e os maestros Vavá Vieira e Pachequinho, mas um deles tem um lugar especial no coração dos mais de 72 mil habitantes deste município localizado no agreste central do Estado. O nome dele é o mestre Ulisses Lima, homenageado do Jardim Cultural: Festival de arte e cultura 2013, que tem sua programação encerrada neste domingo (17).

Paraibano de registro, Ulisses Lima começou a trajetória musical na cidade de Jataúba, onde foi criado. Como regente, passou pelas cidades pernambucanas de Brejo da Madre de Deus, São José do Egito, Sertânia, além de Texeira (PB), até chegar ao município de Belo Jardim.

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Autodidata, assumiu a banda de Belo Jardim ainda em 1942, ficando a frente do grupo até o dia de seu falecimento, registrado em 12 de setembro de 2010, já aos 97 anos. Sempre com boa vontade e carinho, chegou a repassar seus conhecimentos para formação de cidadãos e bandas de cidades vizinhas de Belo Jardim.

Dos 76 anos que dedicou ao ensino musical, grande parte foi como regente e professor no Colégio Agrícola (IFPE) e em outros dois colégios estaduais, formando como mestre mais de mil alunos. Um deles foi o maestro Mozart Vieira, que hoje comanda o Grupo do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). “Foi um ícone na qual Belo Jardim deve tudo no sentido musical a ele. Ulisses era um mestre. Nossa convivência foi maravilhosa, ele era um idealista por vida. Valeu a pena a homenagem”, valorizou. Na cidade de Belo Jardim, Ulisses também chegou a ser vice-prefeito entre os anos de 1962 a 1966.

Pai de sete filhos, Ulisses também deixou escrito a sua própria história em formato de livro, já que ele produziu uma autobiografia intitulada “Ulisses: uma odisséia musical”, além de também ter levado a música para dentro de casa. Hoje, a Sociedade de Cultura Musical é dirigida pelo seu filho, o Maestro Uilson Lima e coordenada por sua filha, Conceição Lima, além da ajuda da esposa Maria José, que também preserva o acervo de dobrados e valsas.

“Ele era uma pessoa muito doce. Ele tratava os músicos como se fossem filhos. Ele só chamava ‘meu filho, minha filha’”, explica Conceição. Ela ainda lembra que ele era disciplinador, mas ao mesmo tempo terno e sem distinção entre as pessoas. “Tenho um orgulho enorme dele, principalmente pela pessoa simples que ele era”, complementou.

No próximo dia 22 de novembro, coincidentemente dia do músico em todo país, Ulisses comemoraria 100 anos de nascimento, data que também vou a escolha de seu nome para ser o homenageado do Jardim Cultural 2013. “Vamos fazer uma missa e vai haver uma apresentação da banda da Sociedade Cultura Musical. Optamos por esse formato, pois com certeza é como ele gostaria de comemorar”, pontuou Conceição.

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Luiz Gongaza é uma das principais referências para os artistas que enveredaram pelo caminho da música nordestina. Seu maior discípiculo, considerado pelo próprio Gonzagão como seu herdeiro artístico, foi Dominguinhos, que se tornou amigo do "Velho Lua" desde os oito anos de idade.

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Gonzaga se tornou o padrinho musical de Dominguinhos, incentivando o pequeno a tocar desde cedo. "A nossa história começou quando eu tinha 13 anos, na época em que fui com meu pai e meu irmão para o Rio de Janeiro. Meu pai precisava de ajuda e procurou Gonzaga, que me deu uma sanfoninha de 80 baixos. A partir daí, eu aprendi o caminho da casa dele e todo dia ia lá", explicou o cantor em entrevista exclusiva feita no passado para o especial O Inventor do Nordeste, produzido pelo Portal LeiaJá para comemorar o centenário do Rei do Baião.

Também no ano passado, Dominguinhos foi uma atrações da abertura do São João de Caruaru, que homenageou os 100 anos de Gonzaga. Em entrevista após o show, Dominguinhos relata a influência e a admirição que tinha pelo seu mestre (confira no vídeo acima).

Dominguinhos faleceu no final da tarde desta terça-feira (23), no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O cantor estava internado desde o mês de dezembro do ano passado devido a um câncer no pulmão. O boletim médico informou que a morte ocorreu em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas.

O Ministério da Educação vai alterar uma lei que, desde o ano passado, determina que as universidades federais não podem mais exigir títulos de mestre ou doutor nos concursos para professor. Na prática, as instituições ficariam impedidas de vetar pessoas só com graduação. O caso foi revelado nesta quinta-feira, 18, pelo jornal Folha de S.Paulo. A pasta estuda agora qual dispositivo legal vai lançar mão para mudar a lei.

O novo episódio da série Star Wars ainda nem estreou, mas o ator Ewan McGregor já demonstra desejo de dar vida ao personagem Obi-Wan Kenobi em um dos três spin-off's (séries derivadas de outras anteriores a elas, geralmente ligadas a franquias de sucesso e possuem ligação parcial ou nula entre elas) que a Disney pretende lançar. Detentora dos direitos da franquia cinematográfica, a Walt Disney Company planeja lançar duas trilogias diferentes: uma focada na saga e a outra concentrada em personagens específicos.

Ewan quer protagonizar um dos longas inspirados em seu personagem nos episódios I, II e III da saga, o mestre Jedi Obi-Wan Kenobi. Em entrevista ao site NME ele declarou: "Acho que seria uma boa ideia. A brecha que encontro para isso seria depois do 'Episódio III' quando há um período em que Obi-Wan passa no deserto". Situado entre as duas trilogias, quando Obi-Wan passa a viver no planeta Tatooine.

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O ator britânico Ewan McGregor disse que gostaria de voltar a viver Obi-Wan Kenobi, em um filme derivado de "Star Wars", focado na história do mestre Jedi, afirma a NME. "Não sabemos o que ele fez no deserto. Poderíamos inventar algo daí" completa ele.

Star Wars: Episódio 7 tem estreia prevista para 2015 e conta com direção de JJ Abrams, criador de Lost. A Disney planeja lançar os filmes inspirados em Yoda, Han Solo e Boba Fett.

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