Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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Ideias e agenda para 2014

Adriano Oliveira, | qui, 22/08/2013 - 15:35
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Jorge R. B. Tapia e Eduardo R. Gomes em brilhante texto – Ideias, interesses e mudanças institucionais (Revista Tempo Social, 2008) –  mostram o papel das ideias e dos interesses na trajetória política da sociedade. Os autores revelam que ideias são ofertadas para a sociedade através dos atores e estes são provocados por ela. Neste caso, existe uma intercambialidade de interesses de ambos os atores – opinião pública e protagonistas políticos – que possibilitam a produção de ideias. Influenciado pelos referidos autores, considero que as ideias representam e integram a agenda dos eleitores e dos atores políticos.

Na era FHC, a agenda governamental, a qual foi influenciada, em parte, pelos eleitores, era: controle da inflação, responsabilidade com os gastos públicos e privatização. A primeira agenda, inflação, foi uma demanda consciente dos eleitores. O longo período histórico em que a população brasileira teve a sua renda corroída pelo processo inflacionário possibilitou condições propícias para que a decisão política de FHC em criar o plano Real pudesse lhe dar as condições para ser eleito presidente da República.

Lula manteve a agenda de FHC. Entretanto, em razão do controle inflacionário, os eleitores, após a era FHC, estavam inquietos, à procura de novas soluções para novas demandas. A mobilidade social, a qual era representada pela possibilidade do aumento da renda e do poder do consumo, era a nova demanda. Lula, através do aumento do salário mínimo, da oferta de crédito e de um discurso incentivador que influenciou as mentes dos eleitores, em particular, os que tinham raras oportunidades de consumir, possibilitou que novos consumidores surgissem no Brasil.

A presidenta Dilma foi eleita presidenta como a principal representante das conquistas da era Lula. Entretanto, ao contrário do ex-presidente, Dilma optou por desprezar a agenda de FHC. Por consequência, permitiu a alta da inflação e o aumento dos gastos públicos. Ao descobrir que foi a agenda de FHC que permitiu a ampliação do consumo dos brasileiros, Dilma recuou e incorporou a agenda de FHC ao seu governo. Neste instante, Dilma tentar recuperar o tempo perdido na economia.

As manifestações realizadas em junho deste ano mostraram que os eleitores brasileiros têm novas demandas. Mas as manifestações foram vetores explicitamente fortes que fizeram com que os competidores de 2014 acordassem para as novas demandas dos eleitores. Antes das manifestações, pesquisas já revelavam os novos anseios dos eleitores. Deste modo, considero que os pilares das agendas de FHC e Lula não mais encantam os eleitores. Mas isto não significa que eles precisam ser abandonados.

Se as agendas antigas não mais encantam, quais são as novas agendas dos eleitores brasileiros? Partindo da premissa lógica de que as conquistas das eras FHC e Lula não podem ser perdidas, observo que as novas agendas são oferta de serviços públicos com qualidade (Incluso mobilidade), eficiência na gestão e transparência. As três agendas estão interligadas. A oferta de serviços públicos com qualidade demanda gestão eficiente e transparência.

Para as três agendas saírem do campo das ideias e se transformarem em realidade, os protagonistas políticos precisam ter coragem de propor e agir. Neste caso, a demagogia e o simplismo não devem nortear os discursos dos presidenciáveis. Eles precisam mostrar como irão fazer. Em virtude das campanhas não terem começado, os competidores que enfrentarão Dilma em 2014 ainda não tiveram oportunidade de mostrar como irão atender às novas solicitações. Mas lembro: tanto Dilma como os candidatos oposicionistas tenderão a apresentar agenda sugerida. Então, o que os candidatos devem fazer para despertar os eleitores, se as agendas serão semelhantes?  

 

Debates confusos

Adriano Oliveira, | qua, 14/08/2013 - 19:04
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As discussões pré-eleitorais são, por vezes, confusas. No caso, fogem da coerência e da plausibilidade. A dinâmica eleitoral é caracterizada pelos movimentos dos atores políticos. As ações dos atores ocorrem em estados de incerteza ou não. Quando da incerteza, é difícil para o estrategista prognosticar o que o ator fará. Mas quando da ausência da incerteza, os prognósticos são possíveis.

É possível que a incerteza na ação dos atores esteja no olhar ou na paixão do estrategista, pois este não consegue interpretar as condições em que o protagonista tomará a decisão, não vislumbra a ação de outros atores diante da consequência da ação de outro ator, e nem consegue vislumbrar a implicação ou a sequela da ação dos oponentes. Portanto, é possível identificar lógicas na dinâmica eleitoral e com isto, construir cenários e criar estratégias eficazes.

O debate recorrente desde o ano passado é quanto às ações de dois atores: Lula e Eduardo Campos. A especulação em torno do “volta Lula” inunda os ambientes midiáticos e políticos todas as vezes que pesquisas revelam queda da popularidade da presidenta Dilma ou a instabilidade na relação entre Executivo-Legislativo. Não desconsidero que Lula possa ser a opção do PT para as eleições de 2014. Porém, tal possibilidade é frágil em virtude de que a sua candidatura só surgiria caso Dilma não tivesse condições de recuperar popularidade. Em razão de Dilma ter condições de recuperar popularidade, não aprecio fortemente o cenário de que Lula será candidato em 2014.

Apesar da recente pesquisa eleitoral do Datafolha (09/08) mostrar que Lula venceria a eleição no primeiro turno, deve-se considerar que Lula como candidato terá que explicar ao eleitor quais as razões de Dilma não ser a candidata. Além disto, ainda não está claro se existe ou não desejo de mudança por parte do eleitor. Neste caso, outros atores políticos, ao serem apresentados ao eleitor, podem vir a representar tal desejo de mudança. E se assim ocorrer, Lula poderá perder a eleição.

Outro debate em vigor são as escolhas do governador Eduardo Campos. Após as eleições de 2010 apresentei quatro possibilidades para o governador em 2014: Possibilidade 1: Candidatura à presidente; Possibilidade 2: Candidatura a vice-presidente na chapa do PT; Possibilidade 3: Candidatura a vice-presidente na chapa do PSDB;Possibilidade 4: Candidatura ao Senado ou à Câmara Federal. As possibilidades 1 e 4 são, neste instante, as mais plausíveis. A possibilidade 2 é remota. E a possibilidade 3, é, neste momento, mais que remota.

O que impede a definição de Eduardo Campos? Como já frisei em outros artigos, é possível que exista relação entre aprovação do governador Eduardo em Pernambuco e a sua relação com Lula/Dilma. No instante em que esta relação for rompida, não se deve desconsiderar os seus efeitos negativos para o governador, principalmente se Dilma recuperar a sua popularidade.

Outro ponto: a candidatura presidencial de Eduardo poderá representar a formação da aliança PT/Armando Monteiro em Pernambuco. Se isto ocorrer, o candidato de Eduardo a governador não é favorito a vencer o pleito. A não candidatura de Eduardo a presidente poderá torná-lo refém do PT nacionalmente, embora ele mantenha condições propicias de eleger o seu sucessor em 2014.

Neste momento, as dúvidas de Eduardo Campos estão condicionadas a duas possibilidades: 1) Dilma recupera a popularidade que a torne favorita para vencer a disputa presidencial; 2) Dilma não recupera a popularidade. A possibilidade 1 enfraquece a candidatura de Eduardo. A possibilidade 2 a fortalece. Portanto, neste instante, não vislumbro ações dos atores que venham contrariar a lógica de qualquer protagonista político, qual seja: “Qual alternativa me conduz para a conquista ou manutenção do poder?”

Possíveis manifestações em 2014

Adriano Oliveira, | qui, 08/08/2013 - 11:25
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O ato de vislumbrar o futuro deve ser tarefa dos estrategistas que orientam os atores políticos para a conquista do poder. Os estrategistas não devem ter receio de prever quando estão diante de informações que contribuem para tal empreitada. Os atores políticos não precisam recear as previsões, pois elas apenas representam hipóteses quanto ao futuro. As previsões possibilitam a construção de cenários.

Pesquisa do IBOPE realizada entre os eleitores brasileiros em julho deste ano revela que 41% dos eleitores confiam nos governos da cidade onde moram e 41% declaram confiar no governo federal. Portanto, os eleitores desconfiam dos governos. Outros dados relevantes da pesquisa são: 1) 46% dos eleitores confiam no Poder Judiciário/Justiça; 2) 37% dos eleitores confiam nos sindicatos; 3) 32% confiam no sistema público de saúde; 4) 29% declaram confiar no Congresso Nacional; 5) E 25% afirmam que não confiam nos partidos políticos. Por outro lado, 90% dos entrevistados declaram confiar na família. Os dados apresentados mostram desconfiança por parte dos brasileiros com as instituições e forte confiança na família.

Considero que parte da sociedade brasileira está órfã institucionalmente, pois a confiança nas instituições é reduzida. A orfandade institucional significa que parte dos eleitores não acredita que as instituições são capazes de atenderem às suas demandas. Diante desta constatação, surge a seguinte indagação: é possível que manifestações semelhantes às de 2013 ocorram em 2014?

Os resultados da pesquisa do IBOPE sugerem que as manifestações podem ser consideradas vetores que proporcionaram a diminuição da confiança de parte dos brasileiros para com as instituições. Entretanto, ressalto que: com exceção dos itens presidência da República e Governo Federal, os outros indicadores mostrados já contavam com reduzida confiança. Portanto, o sentimento de orfandade institucional contribuiu para a inquietação social. Neste caso, os manifestantes indagaram e em seguida os brasileiros: o que os governos estão fazendo por mim? O que eles podem fazer para me ajudar?

Se manifestações intensas ocorreram em 2013, qual é a razão delas não ocorrerem novamente em 2014? Se a confiança nas instituições não aumentar e se os governos continuarem a não atender de modo satisfatório as demandas dos eleitores, vislumbro novas manifestações. 

Estudo do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) realizado em fevereiro de 2011 na cidade do Recife revelou que 87,7% dos entrevistados eram favoráveis à realização da Copa do Mundo no Brasil. Quando indagados quanto à construção dos estádios para a Copa, os seguintes dados são encontrados: 1) 26,9% eram favoráveis à construção de estádios apenas com dinheiro público; 2) 30,1% afirmavam que os estádios deveriam ser construídos com recursos públicos e privados; 3) E 24,7% salientaram que os estádios deveriam ser construídos apenas com recursos privados.  Numa visão generalizante, considero que os dados apresentados já mostravam a insatisfação de parte dos eleitores brasileiros com os dispêndios do s governos com os estádios da Copa.  

As redes sociais e o jornalismo mostraram que os manifestantes reclamaram dos gastos com a Copa do Mundo. Se manifestantes reclamaram em 2013 dos gastos com a Copa, qual seria a razão deles não reclamarem em 2014? Então, aconselho aos variados atores políticos que participarão da competição eleitoral de 2014 que fiquem atentos à possibilidade de novas manifestações e a desenvolverem estratégias que anulem ou amenizem os efeitos delas em seus respectivos desempenhos eleitorais.

É possível o fim do petismo em 2014?

Adriano Oliveira, | ter, 30/07/2013 - 11:39
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Desde 2002, o PT está à frente da presidência da República. Em junho de 2005, em razão do escândalo do mensalão, o ciclo petista foi ameaçado. Nesta época, variados atores políticos prognosticaram a interrupção da era Lula e o retorno do PSDB ao poder. Porém, Lula conseguiu criar estratégias discursivas que possibilitaram a manutenção do PT na presidência da República. Lula é reeleito em 2006 e deixa o governo em 2010 com recorde de popularidade.

Dilma é eleita presidenta da República com o apoio de Lula em 2010. Por cerca de dois anos manteve a popularidade em alta num contexto de crescimento econômico baixo e ameaça inflacionária. Em junho de 2013, manifestações ocorridas em variadas capitais do Brasil possibilitaram, junto com outros fatores, a redução da popularidade de Dilma. Pesquisas recentes mostram que o governo Dilma tem em torno de 30% de aprovação.

Neste momento, a indagação que surge é: é possível o fim do petismo em 2014? O fim do petismo pressupõe o fim da era petista à frente da presidência da República. Tal evento poderá ocorrer caso um dos cinco fenômenos venham a acontecer, quais sejam: 1) Recuperação da popularidade de Dilma; 2)Ressaca (cansaço) eleitoral para com o PT; 3) Recuperação da popularidade de Dilma, mas ressaca com o PT; 4) E não recuperação da popularidade de Dilma e ausência de ressaca para com o PT; 5) Não recuperação da popularidade de Dilma e eleitores com ressaca do PT. 

Observem que distingo os fenômenos. O eleitor poderá realizar escolhas desconsiderando o partido ou desconsiderando o competidor. Noutros casos, o eleitor realizará a sua escolha, considerando o partido e o competidor. Tais eventos surgem em virtude da seguinte hipótese: o petismo existe em parte do eleitorado brasileiro e foi fortalecido em dadas regiões, como o Nordeste, em virtude do lulismo. Sendo assim, o partido PT importa para explicar, em parte, o comportamento do eleitor. 

Caso o primeiro fenômeno ocorra, não existirão espaços para novos candidatos. A maioria dos eleitores optará pelo suposto porto seguro. Com isto, Dilma será reeleita. Se o segundo fenômeno vier a acontecer, Dilma sofrerá as consequências. Com isto, três outros eventos surgem, os quais mostram relações interdependentes entre o desempenho de Dilma e o petismo.

A recuperação da popularidade de Dilma poderá ocorrer, mas pesquisas podem revelar ressaca para com o PT. Diante deste cenário, tenho a hipótese de que os candidatos da oposição adquirem chances de vencer a disputa. Se não ocorrer a recuperação da popularidade de Dilma, mas a ressaca para com o PT não existir, surge contexto propício para o PT ofertar um novo candidato aos eleitores brasileiros. E se a ressaca com o PT existir junto com a não recuperação da popularidade de Dilma, algum candidato da oposição tende a vencer a disputa eleitoral.

Os argumentos apresentados foram construídos com base na dinâmica da última eleição para prefeito do Recife. Pesquisas realizadas mostraram, inicialmente, o então prefeito João da Costa (PT) mal avaliado. Porém, os eleitores desejavam que o PT continuasse à frente da prefeitura. No decorrer da campanha, pesquisas detectaram considerável diminuição dos eleitores que desejavam a continuidade do PT. E o prefeito manteve alta rejeição. Conclusão: o PT perdeu a eleição na cidade do Recife.

A pressa não faz bem a análise

Adriano Oliveira, | qua, 17/07/2013 - 15:53
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A pressa é inimiga da análise eleitoral. A coerência é necessária para a análise inteligível do comportamento do eleitor. Os porcentuais importam, mas eles surgem em razão de o eleitor estar inserido no contexto social. Estas três assertivas devem fazer parte do raciocínio daqueles que desejam interpretar as pesquisas eleitorais. Se elas não estiverem presentes, análises equivocadas surgirão, e, por consequência, estratégias ineficientes serão criadas.

A CNT/MDA divulgou pesquisa sobre as eleições presidenciais realizada no período de 7 a 10 de julho. Antes desta pesquisa, duas outras foram divulgadas, as quais já mostravam o que esta pesquisa evidenciou e consolidou. Para a minha surpresa, muitos apressados frisaram que Dilma perdeu popularidade. Outros enfatizaram que Dilma não tem condições de ser reeleita. E muitos exaltaram o crescimento de Marina, Aécio e Eduardo.

A pesquisa realizada pela CNT/MDA comprova o que já foi anteriormente mostrado por outros institutos. Ela não trouxe nenhuma novidade. As manifestações sociais ocorridas em várias capitais brasileiras, a cobertura delas por parte da mídia e o mediano pessimismo econômico de parte do eleitorado motivaram a queda da popularidade de Dilma e revelaram o que eu há muito tempo já frisava: Dilma tem frágil favoritismo para vencer a disputa no primeiro turno da eleição presidencial de 2014.

Mas frágil favoritismo não significa que Dilma tende a perder a eleição. Além disto, não é por conta de que 44,7% (CNT/MDA) dos entrevistados não votam na presidente de jeito nenhum que ela perderá a eleição. Antes das manifestações, variados analistas e petistas afirmaram que Dilma venceria a eleição no primeiro turno. Ali estava presente a análise apressada. E hoje tal tipo de análise continua presente.

Se Dilma em 60 dias perdeu popularidade, qual é a razão dela não se recuperar em período semelhante? Quais contextos surgirão que podem influenciar ou não as escolhas dos eleitores? Novos protestos, semelhantes aos de junho, ocorrerão? Existe desejo de mudança por parte do eleitor? Se sim, já existe algum candidato que canaliza tal desejo? A neutralidade discursiva é a melhor estratégia para enfrentar Dilma/Lula? A melhor estratégia da oposição é o forte ativismo oposicionista discursivo?

Não desprezo os eventos que podem estar por vir. São eles que provocam os eleitores. Os porcentuais dos competidores não nascem do nada. Eles têm origem. Portanto, neste momento, a prudência é necessária, pois o que mais importa é o que estar por vir. Neste caso, estou atento ao otimismo do consumidor. Estou atento quanto à eficácia ou não das recentes ações de Dilma. Estou atento aos rumores de que Joaquim Barbosa e José Serra poderão ser candidatos.

Presto atenção à neutralidade do governador Eduardo Campos quanto à Dilma/Lula. Considero como fator relevante o crescimento de Marina Silva nas últimas pesquisas. E estou curioso para verificar se Aécio conseguirá se aproximar das classes C e D, em particular da região Sudeste.  Portanto, não tenho pressa para construir vereditos eleitorais.    

Para onde o Brasil caminha?

Adriano Oliveira, | qui, 11/07/2013 - 13:57
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As manifestações e as paralisações recentes proporcionaram variadas análises sobre a atualidade e o futuro do Brasil. Muitos são os otimistas que frisam que o Brasil mudou ou que sofre processo de transformação. Outros afirmam que um novo Brasil já existe. Ambas as assertivas, as quais devem ser consideradas como hipóteses, aparentam ser verdadeiras. Porém, para onde o Brasil caminha?

Observo, com base em dados advindos de pesquisas de opinião pública, que os partidos brasileiros são desacreditados e não possuem vida na sociedade. A vida dos partidos existe apenas na arena parlamentar. Pesquisa do IBOPE divulgada em 10/07/2013 revela que 81% dos brasileiros consideram os partidos políticos corruptos ou muito corruptos. Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) em junho de 2013 mostra que 49,3% dos recifenses não têm preferência partidária.

De acordo com a citada pesquisa do IBOPE, 72% dos brasileiros consideram que o Congresso Nacional é corrupto ou muito corrupto. Este dado mostra que os brasileiros não confiam e nem acreditam no Parlamento. Então, se os brasileiros não confiam e nem acreditam nos partidos e nem no Congresso Nacional, como posso falar em instituições parlamentares no Brasil? Tenho a hipótese de que partidos e parlamentos são estorvos para grande parte da opinião pública brasileira.

A pesquisa do IPMN revelou que 89,8% dos recifenses concordam com a seguinte afirmação: “Os políticos brasileiros são corruptos em sua maioria”. Dado preocupante. Se as pesquisas do IBOPE e do IPMN revelam que partidos, parlamentos e políticos são desacreditados, o seguinte problema surge: o que motiva as pessoas a irem votar? Os dados revelam o porquê das abstenções eleitorais.

Um dado curioso revelado pela pesquisa do IPMN: 37,7% dos recifenses consideram a sociedade brasileira corrupta. Portanto, afirmo: a célebre frase de que o povo tem o político que merece é verdadeira para parte do eleitorado brasileiro. Por outro lado, é falsa a frase de que o povo não sabe votar. Considerando apenas o universo de 37,7% dos que afirmam que a sociedade brasileira é corrupta, concluo que o eleitor, por ser supostamente corrupto, vota em políticos supostamente corruptos.

O Brasil caminha para uma sociedade sem partidos, os quais estão sendo substituídos pelas redes sociais e os órgãos de comunicação. Aliás, há muito tempo, a imprensa brasileira canaliza os variados interesses da população. Neste momento, observo também que as redes sociais são os instrumentos que dão vozes aos diversos desejos da sociedade. Como bem revelam as pesquisas, o Parlamento, os partidos e os políticos não têm a confiança dos brasileiros. Portanto, o Brasil continua a caminhar, caso o Parlamento, as agremiações partidárias e os políticos não se transformem qualitativamente, para uma democracia despartidarizada e desparlamentarizada.   

Ruídos e sinais

Adriano Oliveira, | qua, 03/07/2013 - 10:13
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Recomendo aos analistas e estrategistas que leiam o livro O sinal e o ruído de Nater Silver. Após a leitura desta brilhante obra, o leitor descobrirá que sinais são informações que possibilitam análises e prognósticos factíveis. E ruídos são informações que permitem análises e prognósticos não factíveis.

A recente pesquisa do Datafolha divulgada nos dias 29 e 30 de junho sugere que Dilma Rousseff está enfraquecida para a disputa presidencial, pois 30% dos eleitores aprovam a sua administração. A pesquisa também revela que a presidente tem 30% de intenções de voto e que a possibilidade de segundo turno é iminente. Caso o contexto em que a pesquisa foi realizada seja desprezado, os dados apresentados passam a ser meros ruídos. Eles adquirem capacidade de serem sinais quando se considera que os eleitores, em particular os das capitais, estão inquietos com os governos.

Se os eleitores estão hoje inquietos, isto não significa, necessariamente, que eles continuarão neste estado em 2014. Se o contexto muda, a preferência do eleitor também poderá ser modificada. Portanto, considero que a pesquisa do Datafolha sugere que Dilma tem frágil favoritismo para vencer no primeiro turno a eleição de 2014.

Para que o favoritismo frágil passe a ser sólido, se faz necessário, dentre outras mudanças, que o pessimismo econômico dos brasileiros diminua. A pesquisa do Datafolha revela que: 1) 54% dos eleitores tem a expectativa de que a inflação irá aumentar; 2) 44% acreditam que o desemprego irá crescer; e 3) 38% creem que o poder de compra dos salários irá declinar. Portanto, quadro preocupante.

Mas se existem sinais preocupantes, existem outros que tranquilizam e confortam a presidente Dilma.  A parceria entre Lula e Dilma pode trazer benefícios eleitorais para ela. As manifestações podem incentivar sentimentos de mudança em grande parte do eleitorado. E, por consequência, surgir a ressaca eleitoral para com o PT entre os eleitores atualmente dilmistas. Se esta hipótese vier a ser verdadeira, surge a indagação: Qual candidato conquistará os votos dos eleitores que desejam mudança? E qual candidato conquistará os votos dos eleitores que estão ressacados com o PT?

A pesquisa do Datafolha mostrou que nenhum candidato, neste instante, canaliza fortemente o possível desejo de mudança eleitoral (aqui incluso a ressaca com o PT) do eleitor. Marina Silva cresceu eleitoralmente após as manifestações. Ela obteve 23% de intenções de voto. Aécio cresceu, mas não de modo expressivo. O candidato do PSDB conquistou 17% de intenções. Eduardo Campos oscilou positivamente para 7%. Mas se no início de junho 12% dos eleitores, segundo o Datafolha, declararam votar em branco/nulo ou nenhum candidato, desta vez, o percentual foi de 24%. Portanto, concluo que parte dos eleitores de Dilma não fez a opção por nenhum outro candidato.

Então, os sinais são claros: 1) O favoritismo de Dilma para vencer no primeiro turno é frágil, neste instante; 2) Se as manifestações criarem sentimentos de mudança eleitoral, Eduardo e Aécio ainda não representam para o eleitor esta mudança; 3) O percentual de votos obtidos por Marina sugere que ela pode vir a angariar grande parte dos votos dos eleitores que desejam mudança eleitoral, caso esta venha a existir.   

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Interpretando as manifestações

Adriano Oliveira, | qua, 26/06/2013 - 16:12
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As recentes manifestações no Brasil motivaram as ações dos governos. Os valores das passagens do transporte público foram reduzidos; a presidenta Dilma se pronunciou e anunciou diversas medidas, dentre as quais, uma reforma política; parlamentares votaram contra a PEC 37 e aprovaram mais recursos públicos para a saúde e a educação. As manifestações assustaram e continuam a assustar. Porém, alguns esclarecimentos são necessários.

Pesquisa do IBOPE, realizada nos dias 19 e 20 de junho, em variados municípios do Brasil, conforme plano amostral definido, revelou que: 1) 75% dos entrevistados são favoráveis às manifestações; 2)6% declararam ter participado das manifestações; 3) 35% afirmaram que estariam dispostos a participar; 4) E 63% frisaram que não estavam dispostos a participarem.

Os dados mostrados sugerem as seguintes hipóteses: 1) As manifestações foram ações localizadas. Elas não motivaram considerável quantidade de pessoas das variadas cidades do Brasil a irem às ruas; 2)A maioria dos entrevistados apoia as manifestações. Mas ínfima parte está disposta a participar das manifestações.

Se a primeira hipótese for factível, constato que as manifestações são ações realizadas por segmentos específicos da população e que elas não possibilitaram intensa inquietação social no todo do país. A segunda hipótese já está parcialmente comprovada: as pessoas aplaudem as manifestações, mas não “tem tempo” e disposição para participarem delas.  

Segundo a pesquisa do IBOPE, 47% dos inquiridos afirmaram que as manifestações produzirão poucas mudanças no país. E 46% consideraram que elas não trarão mudanças na atuação dos governantes e políticos. Então, construo a hipótese de que as pessoas não participaram massivamente das manifestações em razão de não acreditarem que elas são suficientes para mudarem a realidade socioeconômica do Brasil.

Os motivos das manifestações, de acordo com a pesquisa do IBOPE, são: 1) Aumento das tarifas do transporte público, 59%; 2) Contra a corrupção, 32%. Saliento que pesquisa realizada pelo Datafolha na cidade de São Paulo durante manifestação ocorrida no dia 20/06/2013 revela que: 1) 78% dos participantes têm nível superior; 2) 79% utilizam o metrô como transporte público; 3) 61% usam o ônibus; 4) E 20% utilizam o carro.

Os dados apresentados me fazem construir as seguintes conclusões parciais: 1) As manifestações não foram fenômenos de massa que ocorreram no todo do território nacional; 2) As manifestações não motivaram a participação de grande parte da população, apesar desta grande parte, apoiá-la; 3) A maioria da população apoia as manifestações, mas parte dela não acredita que elas são capazes de mudarem a realidade; 4) As manifestações não foram realizadas por variados segmentos socioeconômicos; 5) As manifestações foram incentivos para assustarem os políticos, mas elas não foram capazes de criar uma densa e ampla inquietação social em todo o território nacional e entre os variados se gmentos socioeconômicos; 5) As manifestações representam inquietação social com o “sistema”, este reconhecido como um conjunto de problemas que não são resolvidos pelos atores políticos.

Dilma ainda é favorita?

Adriano Oliveira, | seg, 10/06/2013 - 14:01
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Pesquisas servem para animar ou entristecer os competidores. A última pesquisa do Datafolha (09/06/2013) anima a oposição e, certamente, preocupa os estrategistas de Dilma. As conjunturas vislumbradas podem ser modificadas, caso os atores ajam com tal objetivo. Neste sentido, Dilma tem, ainda, condições de modificar as conjunturas econômicas que estão por vir, e caso obtenha sucesso em tal façanha, ela continuará favorita em 2014.    

A pesquisa do Datafolha revela que 39% acreditam que a situação econômica do país irá melhorar. Em março de 2013, 51% acreditavam que a economia iria melhorar. 19% afirmam que a situação econômica irá piorar; em março, 10% tinham semelhante expectativa. 51% dos eleitores acreditam que a inflação irá aumentar. E 36% creem que o desemprego irá crescer. O clima de pessimismo quanto ao bem-estar ganha adeptos entre os eleitores

Diante de um clima de bem-estar econômico pessimista, o que fará os eleitores? A pesquisa do Datafolha mostra que Dilma continua a liderar a corrida presidencial. E quando Dilma não é a candidata, Lula lidera. Portanto, Dilma e Lula continuam a conquistar parte das mentes dos eleitores brasileiros. Para comprovar esta afirmação, a pesquisa do Datafolha revela que: 1) No universo dos eleitores que temem a inflação, Lula obtém 43% de intenção de votos. E Dilma, 40%; 2) No universo dos que temem o desemprego, Lula conquista 48% dos eleitores e Dilma obtém a preferência de 39%.   

Os dados do Datafolha sugerem que a dobradinha Dilma/Lula ainda garante o favoritismo de Dilma na disputa eleitoral de 2014. Entretanto, considero que se a conjuntura socioeconômica desfavorável vier a se consolidar até 2014 e diante do número de candidatos (Aécio Neves, Eduardo Campos, Marina Silva e o pastor Everaldo Pereira) a eleição tende a findar no segundo turno. Mas ressalto: como já mostrei em artigo anterior, maior número de candidatos não determina que a eleição finde no segundo turno. Os competidores precisam criar estratégias adequadas.

A pesquisa Datafolha traz dois pontos importantes, quais sejam: 1) O crescimento de Aécio Neves entre os eleitores; 2) A estabilidade de Marina Silva e Eduardo Campos no eleitorado. A expectativa de alta inflacionária por parte dos eleitores pode ter beneficiado Aécio Neves entre os eleitores maduros, pois ele é do PSDB, partido que criou o Plano Real. E o programa partidário do PSDB, no qual Aécio foi o ator principal, abordou sabiamente o tema inflação. A estabilidade eleitoral de Marina Silva e de Eduardo Campos mostra que o principal desafio do candidato do PSB, neste instante, é superar Aécio e Marina. E o principal desafio de Marina é crescer e, por consequência, não possibilitar a ultrapassagem de Aécio.

Quais dos três candidatos têm condições de crescer? Por enquanto, vejo Aécio com maior condição em virtude de ter construído um discurso oposicionista objetivo, o qual possui dois conceitos: combate à inflação e eficiência da gestão. O discurso de Marina ainda não foi posto. E considero que Eduardo Campos não pode continuar a insistir na tese da indefinição quanto à sua candidatura. Ele precisa afirmar que pode ser candidato. E com isto, criar discurso que lhe posicione como uma alternativa a Aécio, a Marina e a Dilma.

Indagações inquietantes

Adriano Oliveira, | qua, 05/06/2013 - 17:16
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A alta aprovação da gestão do governador Eduardo Campos tem relação com a aliança Lula/Dilma?A alta aprovação da gestão da presidenta Dilma tem relação com o lulismo? Se o eduardismo tem dependência do lulismo e do dilmismo, qual será a força eleitoral do governador Eduardo em Pernambuco na eleição para governador? Se o dilmismo depende do lulismo, qual será a contribuição deste para o sucesso eleitoral de Dilma em 2014?

As indagações postas podem ser respondidas por pesquisas eleitorais – qualitativas e quantitativas. E as respostas sugerem variados cenários já que as fraquezas dos atores serão mostradas. Quando os competidores identificam previamente as fraquezas dos oponentes, estratégias eficazes são criadas e cenários surgem. Admitam a veracidade da hipótese de que pesquisas revelam que existe associação significativa entre a aprovação da gestão de governo do PSB e a percepção de que Eduardo é aliado de Dilma/Lula. Diante desta plausível constatação, a candidatura de Eduardo à presidente poderá lhe trazer prejuízos eleitorais em Pernambuco.

Admita-se a veracidade da hipótese de que o lulismo influencia a percepção positiva dos eleitores para com Dilma. Neste caso, o contexto econômico desfavorável pode não ser forte ameaça para o desempenho de Dilma em 2014, pois o lulismo despertará nos eleitores de que Lula e Dilma juntos são os mais preparados e aptos para trazerem o Brasil de volta ao rumo do crescimento. Ou melhor: ao consumo intenso. A força do lulismo entre os eleitores também contribuirá para que as agremiações partidárias não abandonem a coalizão dilmista.

Por outro lado, se pesquisas revelam que a força eleitoral de Eduardo em Pernambuco independe de Lula/Dilma? Neste caso, Eduardo terá condições de fazer o seu sucessor e com isto ditar as regras do jogo na escolha do seu candidato. Se assim for, a candidatura de Armando Monteiro passa a depender fortemente das escolhas de Eduardo. E se o lulismo não influenciar positivamente o desempenho eleitoral de Dilma? Os principais candidatos da oposição adquirem envergadura para vencerem a disputa presidencial em um contexto de forte crise econômica.

Competidores não mais desprezam pesquisas. Mas podem desprezar as boas indagações que precisam estar nas pesquisas e as interpretações adequadas dos dados e dos contextos eleitorais. O ato de construir cenários depende da interpretação do contexto. Estratégias eficazes são construídas em razão de boas pesquisas, da interpretação adequada das pesquisas e do contexto eleitoral e da construção de cenários plausíveis. Portanto, os atores, antes da tomada de decisão no que condiz ao posicionamento político-eleitoral em 2014, não devem desprezar as respostas das indagações sugeridas.

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