Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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Crises e previsão

Adriano Oliveira, | qui, 22/01/2015 - 10:12
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Crises são previsíveis. Porém, o exercício da previsão não faz parte da conduta de diversos atores políticos. A busca pelo sucesso eleitoral e a miopia são incentivos para a não construção de previsões. A arrogância administrativa é outra causa. Neste caso, governos bem avaliados acreditam piamente que sempre serão bem avaliados. Porém, tal premissa é falsa, pois eleitores mudam de opiniões, pois têm sentimentos.

Era previsível a crise da água? A opinião de diversos especialistas sugere que sim. Portanto, qual é a surpresa com a ausência de água nas torneiras? A crise energética era previsível? Sim, pois a ausência de chuvas frequentes e o atraso na entrega de novas hidrelétricas mostravam e mostram que é possível o racionamento de energia. Conflitos no sistema penitenciário são previsíveis? Sim, em razão de que a maior eficiência das polícias possibilita mais prisões. Dai surge a necessidade de mais presídios e de maior celeridade da Justiça. Greves de polícia são previsíveis? Sim, pois greves de polícia são corriqueiras em qualquer estado.

Se crises são previsíveis, por que gestores silenciam diante das crises? O silêncio é necessário, pois enquanto não existir solução concreta para a crise, gestores não devem se pronunciar. Porém, as crises não podem ser corriqueiras no governo. Portanto, a busca de soluções para as crises deve conter instrumentos que evitem novas crises em um mesmo governo e até a solução por completa do problema que motivou a crise.

Crises requerem sabedoria estratégica, a qual não combina com arrogância administrativa. Reconhecer a crise perante os eleitores é estratégia adequada, pois insere na imagem do gestor a característica da humildade. E mais do que isto: eleitores passam a crer na solução da crise, em virtude da sinceridade do governante. O reconhecimento da crise precisa estar associado à solução. Não adianta reconhecer a crise e não apresentar solução.

Gestores sábios devem se preocupar constantemente com os eleitores. Estes são voláteis. Em dado instante aprovam, admiram, acreditam e confiam nos governantes. Porém, crises têm o poder de mudar a opinião dos eleitores para com o gestor. Neste sentido, eleitores têm expectativas positivas para um dado governante. Contudo, crises têm condições de inverter tais expectativas. Com isto, o gestor adquire a antipatia e a reprovação de parte dos eleitores.

Antipatia e reprovação são sentimentos não adequados para gestores. Lembro que a cada dois anos ocorrem eleições. O governador reprovado pode, por exemplo, contaminar a reeleição do seu candidato a prefeito. O prefeito, candidato à reeleição, pode optar por se distanciar politicamente e eleitoralmente do governador reprovado. Em razões destes fatos, crises partidárias surgem. Presidente da República mal avaliado em virtude das crises diminui a sua força para manter ou construir coalizões partidárias.

Crises, portanto, são eventos previsíveis e não desejados. O desafio dos gestores é único: como lidar com a crise sem perder popularidade. A contemplação de tal desafio requer sabedoria estratégica, a qual, como já dito, caracteriza-se por reconhecer a crise e, por consequência, agir para debelá-la com eficiência.

O novo PL

Adriano Oliveira, | qua, 21/01/2015 - 14:16
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O Brasil tem excesso de partidos. O Brasil tem pluralidade de partidos. Em razão da pluralidade, coalizões, que possibilitam a governabilidade, são formadas. A pluralidade de agremiações partidária incentiva a representação das diversas visões de mundo dos brasileiros. Os partidos brasileiros não são ideológicos e o excesso deles fortalece a ausência de programas de governo programáticos.

As assertivas apresentadas são verdadeiras. Embora sejam contraditórias. A verdade da afirmação depende das visões de mundo e do julgamento de cada observador. Portanto, não é frutífera a discussão sobre o quantitativo de partidos políticos. Aliás, é exaustiva e inconclusiva. Entretanto, novas agremiações possibilitam novas dinâmicas política e eleitoral.

Prevejo novas dinâmicas caso o Partido Liberal (PL) seja criado pelo sábio Gilberto Kassab. A primeira dinâmica a ser possivelmente modificada é a relação de força entre PMDB e PT no Congresso Nacional, em particular, na Câmara dos Deputados. O PL deverá receber parlamentares, prefeitos e governadores de diversos partidos, dentre os quais, PSB, DEM, PSDB e PMDB. Além disto, a fusão entre PL e PSD é uma possibilidade. Independente da fusão, o PL adquirirá força para se contrapor ao PMDB.

No conflito PL e PMDB, o PT, ou melhor, o governo Dilma, pode optar por ter o PL como parceiro em alguns instantes da relação Legislativo-Executivo. Ao fazer esta opção, o PMDB perderá força junto ao governo Dilma.  A criação do PL enfraquece o poder do PMDB no governo Dilma – Hipótese. O surgimento do PL tende a enfraquecer quantitativamente os partidos PSB, PSDB, DEM e PMDB. Prevejo que o PSB tende a ter perdas de parlamentares e governadores. Tais perdas lhe colocarão na base do governo Dilma.

O PL será abrigo para candidatos nas próximas eleições municipais. Qual será o parceiro preferível do PL na eleição de 2016? O PL não terá parceiros preferíveis. A conjuntura de cada município ditará os rumos do partido. Porém, em Pernambuco, é possível que o PL venha a ofertar candidato a prefeito do Recife. Tal possibilidade é crível, pois o PL poderá receber atores relevantes da política pernambucana insatisfeitos com a Frente Popular de Pernambuco.

O PL será mais um instrumento de conquista de espaços de poder. Não espere do PL, ou de qualquer outro partido, programa ideológico. O PL contribuirá para a construção de novas dinâmicas política e eleitoral, já que fortalecerá atores, em particular, Gilberto Kassab. 

Vazios em Pernambuco

Adriano Oliveira, | sex, 19/12/2014 - 11:57
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Ciclos políticos e eleitorais não são perenes. Mas podem vir a ser duradouros. Eventos ocorridos na trajetória possibilitam a perpetuação ou o fim dos ciclos. Getúlio Vargas, por exemplo, liderou ciclos políticos e eleitorais. Sob a sua liderança, o estado brasileiro foi construído e passou por transformações. Vargas conseguiu cativar por logo tempo eleitores, em particular, os trabalhadores.

Eduardo Campos construiu, fortaleceu e consolidou ciclos político e eleitoral em Pernambuco. As ações de Eduardo à frente do governo de Pernambuco possibilitaram a conquista de eleitores. Eduardo, conforme pesquisas qualitativas mostram, obteve a admiração dos sufragistas pela sua capacidade de trabalho e sensibilidade social. O desempenho de Eduardo Campos como político e governador teve a capacidade de influenciar a decisão dos eleitores. Denomino tal capacidade de eduardismo.  

eduardismo contribuiu para os sucessos eleitorais de Geraldo Júlio em 2012 e de Paulo Câmara em 2014. Com a morte precoce do governador Eduardo Campos, o eduardismo continuou a existir na memoria dos eleitores, pois, a admiração por um líder não cessa repentinamente. Porém, ao olhar atentamente para os espaços político e eleitoral em Pernambuco, constato vazios. 

A Frente Popular, aparentemente, continua a existir. Quem lidera ou liderará a Frente Popular de Pernambuco? Geraldo Júlio e Paulo Câmara exercem funções executivas. Portanto, teoricamente, serão os líderes. Mas para isto ocorrer, eles precisam estar bem avaliados entre os eleitores. 

Caso um esteja bem avaliado entre os sufragistas e o outro não, um ascenderá sobre o outro. E, por consequência, será referência na Frente Popular. A ascendência de um sobre o outro tem condições de gerar conflitos na Frente Popular. Então, o líder que surgir precisará ter a capacidade política para arbitrar os conflitos. Caso não, chances para a implosão da Frente Popular surgirão. Se Geraldo Júlio e Paulo Câmara não conquistarem a admiração de parcela majoritária dos eleitores, aumentam as chances da Frente Popular implodir.  

Um grupo, supostamente liderado pelo senador Armando Monteiro, tende a fazer oposição ao governador eleito Paulo Câmara. As desavenças ou a implosão da Frente Popular beneficiam a suposta oposição. Mas quem liderará a oposição ao governador de Pernambuco? O senador Armando Monteiro tem condições de aglutinar parlamentares, em particular do PT, e com isto liderar a oposição?  

O PSDB e o DEM estão aptos a liderar a oposição a Geraldo Júlio. Porém, estratégias equivocadas tendem a enfraquecer os seus principais quadros. A ação do PT em Recife é uma incógnita, pois a agremiação carece de novos quadros. E, talvez, o partido não esteja convencido de que a melhor estratégia para 2016 seja a de produzir candidatos neófitos. Um detalhe: desavenças na Frente Popular podem criar lideres oposicionistas advindos da Frente Popular. 

A ausência caracteriza as atuais paisagens eleitoral e política de Pernambuco. O eduardismo continua a existir na memória dos eleitores. Mas a sua existência não será suficiente para a manutenção do capital eleitoral da Frente Popular. Diante disto, surge a oportunidade para o surgimento de novas lideranças. Quem será ou quais serão as novas lideranças de Pernambuco? 

Por que não existe terceira via?

Adriano Oliveira, | qua, 12/11/2014 - 11:39
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O filósofo Marcos Nobre usa a expressão peemedebismo para caracterizar a relação Executivo e Legislativo no Brasil. Para Nobre, o consórcio de partidos que apoia o Executivo constrói o peemedebismo. Os membros do peemedebismo criaram a tese de que a governabilidade só ocorre caso benefícios ofertados pelo Executivo aos parlamentares proporcionem a coalizão partidária. E, por consequência, a governabilidade.

São diversos os partidos que praticam o peemedebismo no Brasil. Porém, observo exceções. PT, PSDB, DEM, PPS e PSOL não praticam o peemedebismo. O PT forma o pólo contrário ao outro pólo, o qual é formado pelo PSDB, DEM e PPS. E o PSOL é outro pólo. Independente de quem está no poder, o PSOL sempre faz oposição. Os outros partidos não formam pólos e produzem o peemedebismo. O PMDB é a agremiação partidária que melhor representa o peemedebismo.

Qual é a consequência do peemedebismo para a dinâmica eleitoral? Tenho a hipótese de que o peemedebismo impossibilita o surgimento de terceira via competitiva nas eleições presidenciais desde a Era FHC. O pólo liderado pelo PT exercia forte oposição ao PSDB na Era FHC. Nesta Era, os partidos oposicionistas eram liderados pelo PT. Na Era PT, a partir de 2002, o PSDB lidera o polo oposicionista. Nas Eras FHC e Lula, o peemedebismo existiu, pois vários partidos integraram a coalizão. O peemedebismo também está presente na Era Dilma.

Existem dois fortes pólos eleitorais no Brasil. O polo liderado pelo PT e o polo liderado pelo PSDB. Eles se revezam no poder e na preferência do eleitorado. Sistematicamente, os pólos apresentam candidatos competitivos nas disputas presidenciais e atraem para as suas coligações outros partidos, os quais são agraciados com benefícios. Os que não integram a coligação durante o processo eleitoral poderão vir a fazer parte da coalizão governamental de qualquer vencedor.

Durante o exercício do governo, os partidos peemedebistas passam a integrar o polo do PT ou do PSDB. Deste modo, não fazem oposição e não criam as condições necessárias para apresentar candidatos competitivos nas futuras eleições presidenciais. Com a aproximação da nova disputa presidencial, os partidos peemedebistas ameaçam sair da coalizão partidária e apresentam o desejo de lançar candidato a presidente caso as suas demandas para com o Poder Executivo não sejam atendidas. Alguns têm as demandas atendidas. Outros não. E, com isto, optam por lançar candidato à presidência ou a mudar de polo.

Inquietações brasileiras

Adriano Oliveira, | qua, 05/11/2014 - 10:25
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As manifestações ocorridas durante e após a campanha presidencial de 2014 sugerem diversas interpretações sobre o Brasil contemporâneo. A primeira interpretação é que o forte desgaste da presidenta Dilma Rousseff é a causa das manifestações. A outra é que as manifestações atuais contrárias a presidente são inéditas na História do Brasil.

A interpretação de um evento social é uma hipótese. Portanto, passível de falsificação ou comprovação. Nesse sentido, observo que a primeira interpretação é falsa. As pesquisas de opinião após as manifestações de junho de 2013 mostraram que a avaliação do governo da presidente Dilma declinou fortemente. Porém, no decorrer da campanha eleitoral, a avaliação aumentou.

Além do aumento da aprovação popular, o resultado da eleição, ou seja, a reeleição da presidenta Dilma, mostra que a sua rejeição não foi suficiente para impedir o seu sucesso eleitoral. Portanto, não posso afirmar que existem fortes turbulências no eleitorado, as quais representam o desejo da maioria ao impeachment da presidente Dilma.

As fracas manifestações contra o governo Dilma sugerem que os desafios econômicos e sociais presentes na conjuntura atual precisam da resposta da presidente. Caso ela não suja de modo satisfatório é possível que as atuais manifestações atraiam mais manifestantes e, por consequência, turbulências fortes no eleitorado ocorram. Tais turbulências podem motivar crises entre presidência e Congresso Nacional.

As manifestações atuais não podem ser consideradas inéditas. As eras Vargas, Goulart e Collor foram recheadas de crises.  Neste instante, tenho incentivos para fazer a seguinte indagação: o que motiva as manifestações atuais? Desejo de ir além do lulismoperda de renda e de privilégios das classes A e B e incômodo social são as aparentes causas.

As classes D e C não desejam perder os benefícios da era Lula. E também desejam mais, em particular a classe C. Neste caso, sonham em adquirir mais poder de consumo e privilégios da classe média tradicional. Marcio Pochmann, no livro “O mito da grande classe média”, mostra que o aumento da renda ocorreu fortemente, durante a era Lula, nas classes C e D. Mas tal fenômeno não ocorreu fortemente nas classes A e B, ou seja, na classe média tradicional. O aumento do consumo das classes D e C proporcionou a alta de preços, em particular no setor de serviços, com isto, as classes A e B podem ter sentido perda do poder de compra.

incômodo social significa a inquietação de parte de membros da classe média tradicional com indivíduos das classes C e D que frequentam aeroportos, churrascarias e pizzarias, por exemplo. Estes recintos eram espaços típicos da classe média tradicional. Hoje não são mais. O aumento da renda familiar nas classes C e D e a nova legislação para as empregadas domésticas contribuíram para a diminuição da oferta de “empregadas” e “babás” para a classe média tradicional. Tal fator também provocou incômodo social de parte da classe média tradicional com as classes C e D.

O PSDB condiciona o sucesso do PT

Adriano Oliveira, | seg, 03/11/2014 - 09:08
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O PT é criativo e sabe comunicar. O PSDB não é criativo e não sabe comunicar. Esta é a diferença principal entre os dois partidos. FHC deixou três legados fundamentais para o Brasil: controle da inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal e privatização. Porém, nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014, o PSDB relegou estes legados. Os legados fernandohenriquista não foram defendidos por Serra em 2002 e nem por Alkmin em 2006. Estas eleições representaram as grandes oportunidades para o PSDB defender os legados de FHC.

Lula, nas disputas eleitorais de 2002 e 2006, incorporou os legados de FHC nas agendas eleitoral e governamental. Tal incorporação não era publicizada nas campanhas eleitorais. Mas era praticada no exercício do governo. Por exemplo: Lula, ao exercer o mandato de presidente, não criticou fortemente as privatizações. Ao contrário, buscou parceria e diálogo com a iniciativa privada. A satisfação do mercado para com o governo foi para Lula condição primordialpara o exercício do bom governo.

Lembro-me da Carta aos Brasileiros divulgada por Lula na campanha de 2002. A Carta aos Brasileiros representou o ponto de partida para o bem sucedido governo Lula. O PSDB, à época, não percebeu isto. Lula foi mais além: diante das condições econômicas benéficas advindas das eras FHC, o petista ampliou os beneficiários dos programas sociais, criou novas políticas sociais, ofertou crédito e ampliou o consumo. Em nenhum momento o legado de FHC foi questionado por Lula no exercício do governo. Mas apenas em período eleitoral.

Dilma foi eleita em 2010. E neste ano reeleita. No início do seu governo, Dilma adotou o capitalismo de estado. Mas se arrependeu em parte, pois realizou parcerias público-privadas. Em razão da crise mundial, Dilma ampliou os gastos e reduziu impostos. Estas agendas, aparentemente, são contraditórias com a do PSDB. Mas não são. Desconfio que caso o PSDB estivesse no governo, tomaria atitudes semelhantes, já que existia uma crise e diante desta, a ação estatal é necessária.

Dilma disputou a reeleição sob fortes críticas do PSDB e utilizou o medo para vencer a eleição. A era FHC é comparada com as eras Lula e Dilma. Tal comparação ressuscita o medo advindo da era FHC. Mas por que o medo foi ressuscitado? Esclareço, inicialmente, que os índices econômicos do último mandato de FHC não foram bons. Mas a era FHC tinha, como já frisei, legados positivos.

Porém, sabiamente, Dilma apresentou as partes negativas do governo FHC, quais sejam: privatização e desemprego. Contudo, a privatização é apresentada pelo PT como algo negativo na disputa eleitoral. Mas no exercício da governança, parcerias público-privadas são aceitas pelo governo do PT.

Na campanha de 2014, o PSDB, através de Aécio, optou por falar de mudanças. Mas qual mudança? Os legados das eras FHC e Lula eram aprovados por grande parte do eleitor. Não existia nova agenda. O governo Dilma é uma continuidade do governo Lula. Então, o governo Dilma incorporou as agendas de FHC e Lula. Portanto, qual mudança Aécio desejava fazer? 

Aécio falou na campanha eleitoral para os eleitores anti-petistas, os quais crescem, aparentemente, a cada eleição. Mas estes, neste momento, não são suficientes para eleger um presidente. Portanto, o PSDB para vencer a próxima disputa presidencial precisa apresentar nova agenda, a qual venha a representar para o eleitor uma alternativa que não desperte medo. Caso isto não ocorra e o governo Dilma seja um sucesso, o PT poderá ficar 20 anos no poder.

As metamorfoses dos eleitores do PSDB e do PT

Adriano Oliveira, | sex, 31/10/2014 - 11:13
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Análises inocentes conduzem a erros interpretativos e afirmações precipitadas. Após a vitória de Dilma Rousseff, apressados desenvolveram diversas explicações para a nova derrota do PSDB e nelas apresentaram diversos culpados. As explicações predominantes frisam que foi o Nordeste que possibilitou a vitória de Dilma. Sim, correto. Mas não só o Nordeste.

O sucesso eleitoral de Dilma nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro contribuiu para a vitória do PT. O medo da volta ao passado fernandohenriquista e as conquistas das classes C e D advindas das eras Lula e Dilma também foram outras causas.  Neste sentido, o medo e o reconhecimento das conquistas estiveram presentes fortemente entre os eleitores que moram no Nordeste e nos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

Mas, diante de tantas explicações fracamente elucidativas, proponho observar os mapas eleitorais a seguir, os quais mostram o desempenho dos vitoriosos em cada eleição presidencial. Vejam no mapa 1, que em 1994, o Brasil estava azul, pois FHC venceu no primeiro turno. Inclusive, o Nordeste ficou azul. Portanto, o PT não é o proprietário dos votos dos nordestinos. Em 1994, FHC reinou eleitoralmente no Nordeste.

Mapa 1 – Desempenho dos presidenciáveis – Fonte: UOL Eleições 

mapa 2 mostra que o Brasil continuou azul na disputa eleitoral de 1998, inclusive, mais uma vez, FHC venceu no Nordeste – Ver mapa 2. Em 2002, ocorre mudança de cor. O vermelho passa a predominar. Neste caso, Lula venceu Serra, candidato do PSDB, no segundo turno. Portanto, constatamos a primeira metamorfose do eleitorado. Tal metamorfose ocorreu em todas as regiões. O que era azul passou a ser vermelho – Ver mapa 3.

Mapa 2 – Desempenho dos presidenciáveis – Fonte: UOL Eleições 

Mapa 3 – Desempenho dos presidenciáveis – Fonte: UOL Eleições 

Em 2006, o azul volta, mas não intensamente. A volta do azul é constatada fortemente na região Sul – Veja mapa 4. Portanto, observamos nova metamorfose, a qual sugere retorno às eleições de 1994 e 1998. Nestes anos, a cor azul predominou nas disputas presidenciais.

Mapa 4 – Desempenho dos presidenciáveis – Fonte: UOL Eleições 

Na eleição presidencial de 2010, a cor azul avança e o vermelho é fortemente observado nas regiões Norte e Nordeste – Ver mapa 5. Neste ano, Dilma é eleita com o apoio de Lula. Na última eleição presidencial, o azul continua a avançar – Ver mapa 6. E o vermelho continua a predominar nas regiões Norte e Nordeste. Dilma é reeleita.

Mapa 5 – Desempenho dos presidenciáveis – Fonte: UOL Eleições 

Mapa 6 – Desempenho dos presidenciáveis – Fonte: UOL Eleições 

Os mapas eleitorais revelam que: 1) O PT não é proprietário dos eleitores do Nordeste. O PSDB, na era FHC, já conquistou eleitores nordestinos; 2) Desde 2002, o Brasil é vermelho. Tal  cor é fortemente verificada, no decorrer dos anos, nas regiões Norte e Nordeste; 3) Lentamente, a cor azul avança, no caso, o PSDB reconquista eleitores. Neste momento, indago: em 2018, o Brasil continuará vermelho ou o azul avançará fortemente?

Riscos e oportunidades do governo Dilma

Adriano Oliveira, | qua, 29/10/2014 - 10:17
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Governantes precisam avaliar riscos e oportunidades. As conjunturas oferecem riscos e oportunidades aos governantes. Os riscos estão presentes na conjuntura em formas de eventos e desafios. Ambos precisam ser detectados previamente pelos governantes. Com isto, eles adquirem condições de criar estratégias eficientes para lidar com eles. Porém, tais estratégias nascem da interpretação sábia da conjuntura.

Quais são os desafios do futuro governo Dilma? São vários e visíveis. Aumento do investimento público em infraestrutura, transparência fiscal, retomada do crescimento econômico, reforma política e enfretamento da corrupção. Os três primeiros são os desafios econômicos. A reforma política é o desafio institucional. E o último, o desafio moral.  Caso os desafios não sejam superados, os riscos estarão presentes ao longo do novo mandato da presidente. Saliento que a contemplação dos dois primeiros desafios possibilitará o crescimento econômico.

A superação dos desafios econômicos trará aumento da popularidade do governo. Por consequência, ofertará condições para que ele construa relação frutífera com o Congresso Nacional e consiga fazer, através de plebiscito ou referendo, a reforma política. Porém, se os desafios econômicos não forem superados, a presidenta não terá boa relação com o Congresso Nacional e, claro, com a opinião pública.

A sensação de bem-estar dos eleitores advirá do crescimento econômico. Mas também da manutenção da reduzida taxa de desemprego e na construção de sentimentos de bem-estar para todas as classes, os quais poderão surgir através do aumento da renda e do consumo. A contemplação do desafio econômico é a causa principal para a conquista do apoio da opinião pública. E, por consequência, a conquista do apoio parlamentar.

Afastar escândalos de corrupção do governo é outro desafio de Dilma. O sucesso na superação do desafio econômico tem condições de encobrir escândalos de corrupção. Porém, qual o tamanho do crescimento econômico que permite que atos de corrupção no governo passem a ser problemas secundários para a opinião pública? Diante desta dúvida, o adequado é afastar escândalos de corrupção do governo.

Quais serão as consequências eleitorais caso ocorra a superação dos desafios econômico, institucional e moral? A primeira consequência virá nas eleições de 2016. Ou seja: o PT adquire condições de conquistar prefeituras, em particular as das cidades maiores. A segunda consequência será observada na próxima eleição presidencial. Neste caso, a presidente Dilma obtém condições de fazer o sucessor, em particular, o ex-presidente Lula.

Mas se os desafios apresentados não forem superados? O contrário irá ocorrer. Ou seja: o PT não adquire condições de ter bons desempenhos eleitorais nas eleições de 2016 e 2018.

Por que Dilma venceu?

Adriano Oliveira, | seg, 27/10/2014 - 10:08
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Antes da construção de uma boa estratégia, é necessária a interpretação da conjuntura. Os mecanismos de causa e efeito precisam ser decifrados na realidade social para que estratégias e predições eleitorais aconteçam. As estratégias e predições nascem de premissas advindas da conjuntura. 

Após as manifestações de junho de 2013, a popularidade da presidenta Dilma Rousseff declinou fortemente. Por consequência, surgiu a seguinte premissa: “Dilma perderá a eleição”. Mas por que ocorrerá isto? Dai surge a causa, a qual é a segunda premissa: “O povo quer mudança”. Inclusive, diversas pesquisas de opinião sugeriam que os eleitores clamavam, majoritariamente, por mudanças. 

Os eleitores desejavam mudança. Porém, não desejavam, necessariamente, mudanças com troca de governo, ou seja, com rupturas. Existiam eleitores, os quais contribuíram para o sucesso eleitoral de Dilma na eleição presidencial de 2014, que reconheciam méritos nas eras Lula e Dilma. Porém, desejavam ajustes. A insatisfação com a presidente não sugeria, necessariamente, a derrota iminente. Pois estratégias servem para recuperar popularidade de governantes. 

Outra premissa foi a “Onda Marina”. Diversas pessoas acreditaram e defenderam a tese de que Marina era a candidata ideal para vencer a eleição.  Se ela não pudesse ser candidata, o apoio dela seria fundamental. Como frisei em capítulo no meu recente livro, as manifestações foram provocadas pelo aumento da passagem de ônibus. E os seus principais atores pertenciam às classes A e B. Então, faltavam as classes C e D. Não que estas não estavam insatisfeitas. Estavam. Mas elas receavam perder as conquistas advindas da era Lula. Portanto, Marina era uma candidata ideal para uma pequena parte do eleitorado. 

No decorrer da trajetória eleitoral, Marina assume a candidatura presidencial. O seu acelerado crescimento nas pesquisas eleitorais sugeriu, para alguns, a sua vitória. Porém, Marina sofreu processo de desconstrução em virtude dos seus erros. Marina foi desconstruída pelo PT. Com a desconstrução, a “Onda Marina” recuou fortemente. 

No início do segundo turno, as premissas falsas continuaram a valer. Ou seja: o eleitor, majoritariamente, desejava mudança. Em razão disto, Dilma não tinha condições de vencer a disputa. Dai surge a “Onda Azul”.  Assim como ocorreu com a “Onda Marina”, a “Onda Azul” sofreu processou de desconstrução. E Dilma recuperou, no decorrer da campanha, favoritismo para vencer o pleito presidencial. 

Por que Dilma venceu? Em virtude de premissas equivocadas construídas. O desejo de mudança existia. Entretanto, não com troca, necessariamente, de presidente. Tal premissa foi desconsiderada. E com isto, a maioria dos eleitores foi desprezada, pois a premissa única em vigor era: o todo deseja mudança de presidente. Mas na verdade era uma parte do todo. A premissa equivocada possibilitou a ilusão das “Ondas”, as quais não passaram de sonhos.

Dilma tem moderado favoritismo para vencer a eleição?

Adriano Oliveira, | qua, 22/10/2014 - 11:59
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A conjuntura é favorável a Dilma. As estratégias de desconstrução provenientes da campanha de Dilma são eficientes. Estas são as duas principais conclusões trazidas pela nova pesquisa do Datafolha (22/10/2014). No início do segundo turno, a conjuntura era favorável a Aécio. Ele entrou no segundo turno em suposta ascendência eleitoral. Explodiram os escândalos da Petrobrás. Porém, Aécio, nesta conjuntura, cometeu erro fatal: não agiu para desconstruir o governo Dilma. Além disto, um evento inesperado surgiu: o envolvimento do PSDB no escândalo da Petrobrás. Diante deste fato, a sua estratégia de explorar intensamente o escândalo da Petrobrás perdeu importância para parcela dos eleitores.

Porém, reconheço: o desafio de Aécio é árduo. Como desconstruir o governo Dilma? Já frisei por diversas vezes que renda e emprego são as variáveis que importam para o eleitor – Vejam artigo no meu recente livro “Eleições não são para principiantes”, http://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=23511 . O PIB é um adereço. Portanto, Aécio, assim como outros candidatos da oposição, insistiu em falar do PIB. Parte do eleitorado estava inseguro e pessimista com a economia no início de 2014. Porém, grande parte tinha emprego e renda.

Aécio sofre ainda com a herança negativa de FHC na memória de grande parte dos eleitores. Dilma foi, mais uma vez, sábia: em vez de falar de futuro, falou do passado. Comparou a era FHC com as eras Lula/Dilma. Por várias frisei: esta campanha falará do passado. E não do futuro! A comparação das Eras possibilitou, como mostra a figura 1, a melhora da expectativa da maioria do eleitorado para com a economia. A comparação também trouxe o medo para a mudança e contribuiu para o crescimento de Dilma neste segundo turno.

Figura 1 – Percepção econômica dos brasileiros – Datafolha, 22/10/2014. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1536237-otimismo-com-economia-aumenta-e-ajuda-dilma-na-disputa-eleitoral.shtml

Tal comparação provocou a classe C. Se no início do segundo turno a classe C, majoritariamente, estava com Aécio, o medo trazido pela campanha do PT fez parte dela optar por Dilma. E neste segmento, como bem mostra a nova pesquisa do Datafolha, Dilma cresce e Aécio recua. No início do segundo turno frisei: a classe C decidirá esta eleição (Vejam: http://adrianooliveiraconjuntura.com/2014/10/11/construindo-cenarios-o-que-fara-a-classe-c-diante-das-estrategias-dos-candidatos/.  E volto a repetir: a classe C decidirá esta eleição. Deste modo, os recentes movimentos da classe C sugerem que Dilma tem moderado favoritismo para vencer a eleição. Mas não só em razão disto.

Observem na figura 2 que Dilma cresceu fortemente no Sudeste. E se manteve estável no Nordeste. Pois bem: se Dilma cresce no Sudeste e Aécio não cresce no Nordeste, de quem é a vantagem?Sudeste e Nordeste são as duas regiões com a maior densidade populacional. Dilma tem ampla vantagem no Nordeste. Enquanto Aécio não tem mais ampla vantagem no Sudeste.

Dilma cresceu no decorrer do segundo turno em todos os estratos econômicos. Não apenas na classe C. Portanto, o movimento de crescimento de Dilma existe e é desconcentrado, pois ocorre em todos os estratos. Dilma também cresceu, na trajetória do segundo turno, em todos os segmentos que compõem o nível de instrução. E, por fim, cresceu no segmento feminino do eleitorado.

Figura 2 – Comportamento dos eleitores – Datafolha, 22/10/2014. 
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1536238-na-comparacao-com-fhc-dilma-parece-levar-vantagem.shtml

Conclusãoo crescimento de Dilma é nítido. Portanto, não posso afirmar que existe situação de empate técnico. Entretanto, afirmo que se Dilma ganhar, será por uma margem pequena de votosMas Aécio tem chances de vencer a disputa?

Ressalto mais uma vez: a conjuntura não favorece o candidato do PSDB. Ele perdeu o controle das suas estratégias, pois é Dilma que pauta os seus discursos e Guia Eleitoral. Os escândalos da Petrobrás saíram, aparentemente, da pauta eleitoral. E a exploração deles não surtiram os efeitos esperados sobre o desempenho de Dilma – Em recente artigo alertei sobre tal possibilidade:  http://adrianooliveiraconjuntura.com/2014/10/18/o-uso-dos-escandalos-de-corrupcao-e-estrategia-adequada-nesta-eleicao-presidencial/ Mas Cisnes Negros existem. Estes são eventos não previsíveis, os quais podem vir à torna no último debate presidencial. E com isto motivar o sucesso eleitoral de Aécio.

Aécio poderá ter bom desempenho em Minas Gerais e em São Paulo. Apesar de que o problema da “falta de água”, o qual a mídia explora fortemente neste segundo turno, tem condições de trazer perdas para o competidor do PSDB em São Paulo. E, por fim, a abstenção eleitoral. Mas isto não significa que a abstenção favorecerá Aécio. A abstenção pode favorecer Dilma.

O que devemos considerar para construir a predição eleitoral: aspectos geográficos ou socioeconômicos? Opto pelos socioeconômicos, pois estes são produzidos e ganham vida através dos indivíduos, ou melhor, dos eleitores. Os aspectos socioeconômicos estão inseridos nos aspectos geográficos. Deste modo, são os aspectos socioeconômicos que movimentam e caracterizam os aspectos geográficos.

Considerando os aspectos socioeconômicos trazidos pela nova pesquisa do Datafolha concluo que: 1) Existe moderada tendência de crescimento de Dilma. Porém, tal tendência não é forte2)Existe moderada tendência de declínio de Aécio. Porém, tal tendência não é forte3) A conjuntura não favorece o candidato do PSDB; 4) A conjuntura favorece Dilma; 5) Dilma tem moderado favoritismo para vencer a eleição.

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