Na última sexta (13), uma rápida reunião decidiu o aumento das passagens de ônibus na região metropolitana do Recife. Do lado de fora, uma confusão entre ativistas e policiais acabou com enfrentamento. A repórter fotográfica, Brenda Alcântara, registrou o momento em que um casal foi imobilizado. Thiago Carvalho, professor de História, tinha ido registrar a reunião. Acabou sendo “registrado”.
Em conversa com o LeiaJá, o professor diz ter sido agredido pela polícia, mas não culpou os soldados. Para ele, o clima de tensão que pairava no ambiente foi o que acabou gerando a violência. “A forma como foi feito todo o sistema de segurança já deixou uma aresta para que os ânimos ficassem exaltados”.
##RECOMENDA##
O que gerou a manifestação
Thiago Carvalho, que acabou sendo detido pela polícia, nem estava entre os que colocavam fogo em pneus. Com uma câmera, seu objetivo era registrar o que estava acontecendo, que segundo ele, se repete todos os anos.
“Há mais de 20 anos, a população escuta as mesmas coisas nesse mesmo período. Os governos acordam, junto com esse conselho, de dar esse reajuste em janeiro, porque aí quem luta historicamente por esse direito, que são os estudantes, estão de férias e não tem condições de se mobilizar. Todos os anos é dessa forma”, desabafa o professor.
A justificativa do governo para permitir o aumento das passagens não convence Carvalho, que critica o percentual de 14%, acima da inflação. “Aí vem o presidente do Grande Recife, com a cara mais limpa do mundo, nos dizer que a população andou menos de ônibus, e por isso a passagem tem que aumentar”, diz.
Segundo o professor, que foi candidato a vereador em 2016 pelo PSOL, a população deixa de usar o transporte público devido ao preço. “Obviamente que vai andar menos de ônibus quando ela não tem condições de pagar essa passagem. Ela vai de bicicleta, vai a pé, ela deixa de ir. Ela deixa de ter o direito à cidade, o direito de ir e vir, porque esse direito vai custar, no mínimo, R$ 6,40”, analisa.
Carvalho critica, ainda, a falta de transparência. “A reunião foi marcada para 8h30, mas aconteceu antes do horário previsto, inclusive impedindo alguns conselheiros, que representam a sociedade civil, de participar. Durou menos de 5 minutos. Imagine você decidir a vida de dois milhões de usuários em 5 minutos”, questiona.
A agressão
“A polícia está ali para cumprir seu papel. A polícia está ali para controlar a população, para que não haja a revolta. Desde o inicio o clima já estava muito tenso. Logo cedinho, às 8h, já tinha spray de pimenta na cara de alguns jovens que tentaram colocar pneus, porque todo protesto – inclusive o da polícia – usam pneus para colocar fogo. Mas o policial queria cumprir o seu dever de acabar com o protesto. Foi o comando que ele recebeu”, diz Thiago Carvalho.
Ele conta que ao tentar ajudar um amigo que estava sendo perseguido por um PM, acabou se tornando alvo de outros soldados. “Eu caí no chão - estou com os braços feridos – e fui levantado com truculência. Houve agressão sim. A minha companheira, a Fran Silva, foi imobilizada com muita ferocidade e está com muita dor em várias partes do corpo”.
Imobilizado, Carvalho ainda tentou argumentar para que os policiais o soltassem. “Se juntou uma quantidade grande de pessoas e imprensa. Eu tentava dizer que eu sou um professor de História, um trabalhador, e que essa luta era por ele também”, conta.
Mesmo se sentindo agredido, ele não mira suas críticas em um policial isoladamente. “Acho que é um caso corriqueiro de repressão policial, como na maioria das manifestações. O estado mudou o lugar da reunião e disse que aumentou a segurança. Não sabemos o que foi passado para esses profissionais. Imagina como estavam os ânimos antes daquilo acontecer”, questiona.
Para ele, o problema é causado por algo que vem sendo um dos motes do movimento grevista de policiais militares. “Eles estão nesse movimento que denuncia toda a fragilidade do sistema policial. Eu citaria a falta de preparo. Um policial treina na academia e depois é colocado na rua. Depois disso, não há mais treino nenhum”, afirma o professor.
Os policiais são contra a manifestação?
Não para Thiago Carvalho. “Toda a classe policial entende (protestos). O problema é que as operações (de segurança) são organizadas para acontecer dessa forma. O policial também se utiliza do transporte público. A maioria deles se coloca como afetado”, diz.
Novo protesto
Na próxima terça (17), o professor, provavelmente, estará em outra manifestação contra o aumento das passagens. “Essa reunião era pra ser aberta. Não se sabe quem votou. O voto não é nominal, é por aclamação. Gostaria de apelar para que todos entendam a importância dessa manifestação”, conclui.
Por Pedro Oliveira, com colaboração de Roberta Patu
LeiaJá também
--> Tarifa de ônibus aumenta de R$ 2,80 para R$ 3,20 no Recife
--> "Cancelamento de reunião impediu que tarifa fosse menor"
--> Grupo organiza novo ato contra aumento da tarifa
--> Reajuste das passagens será discutido na sexta-feira (13)
--> Ônibus: representantes da população pedem reajuste de 7%
--> Justiça cancela reunião sobre reajuste da tarifa de ônibus
--> Governo deve apresentar proposta de R$ 3,94 para passagens