Tópicos | dia nacional do frevo

A atmosfera do Carnaval 2024, que já toma conta das ladeiras de Olinda, vai reunir no Sítio Histórico da cidade, nesta quinta-feira (14), a partir das 18h, foliões e demais apreciadores da cultura popular para uma festa de cores e muita alegria. O movimento, que conta com o apoio da Prefeitura de Olinda, faz parte das comemorações pelo Dia Nacional do Frevo. A iniciativa destaca o ritmo, que é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

##RECOMENDA##

Na programação, a Troça Pitombeira dos Quatro Cantos vai se encontrar com o Clube Elefante, assinalando o propósito de exaltar as tradições e não deixar ninguém parado. O encontro acontece no efervescente polo dos Quatro Cantos, no traçado das ruas do Amparo, Prudente de Morais, Bernardo Vieira de Melo e Ladeira da Misericórdia. O tempero da folia fica por conta, também, da Orquestra Henrique Dias, igualmente presente na memória afetiva e calendário festivo da cidade.

O Dia Nacional do Frevo, comemorado em 14 de setembro, é uma homenagem ao principal marco cultural e artístico do estado de Pernambuco. A Secretaria Municipal de Patrimônio, Cultura e Turismo (Sepactur) estará à frente de outras atividades celebrativas, no decorrer deste mês.

SERVIÇO:

- Dia Nacional do Frevo, em Olinda, com encontro da Pitombeira e Elefante

- Quinta-feira (14), a partir das 18h

- Quatro Cantos – Sítio Histórico

No Paço do Frevo, o mês do Dia Nacional do Frevo, comemorado em 14 de setembro, também é celebrado com cursos envolvendo o ritmo pernambucano que mobiliza corpos e territórios o ano inteiro. A Escola Paço do Frevo preparou uma programação com cinco cursos e oficinas a serem realizadas no museu.

Serão cursos de média duração para aprender os passos do Frevo e para tocar percussão e ritmos pernambucanos. Oficinas de dança-capoeira e de xilogravura envolvendo o Frevo, além da oficina “Desvendando” com o gênio da composição e do arranjo, o Patrimônio Vivo de Pernambuco Maestro Duda.

Confira todos os detalhes:

##RECOMENDA##

CURSO LIVRE DE FREVO - Ministrado pelo passista Wanderley Aires, o curso “Corpo e cultura em movimento” mescla aspectos da história do Frevo com dança e música, construindo, através do corpo em movimento, as dramaturgias que envolvem essas expressões. A ideia é estimular o desenvolvimento da consciência corporal relacionando o corpo e a sombrinha de Frevo, através de sequências coreográficas alternadas com exercícios de improvisação, registros visuais e audiovisuais (revistas, livros, fotografias, recortes e vídeos) e conhecimento das trajetórias de mestres e mestras do ritmo. Wanderley Aires vai colocar em relação o cotidiano de cada pessoa com a experiência de dançar, de deixar-se desafiar e de ser provocado pelo Frevo.

As aulas, para iniciantes e iniciados a partir de 16 anos, acontecem entre 12 de setembro e 9 de novembro, sempre às terças e quintas, das 19h às 20h30. O investimento é R$ 150 via Sympla. É possível solicitar bolsa através deste link.

DESVENDANDO MAESTRO DUDA - Um dos maiores regentes, compositores, arranjadores e instrumentista de todos os tempos — do Frevo em especial —, José Ursicino da Silva, o Maestro Duda, estará à frente da oficina Desvendando deste mês de setembro. No dia 16, das 15h às 18h, com inscrição gratuita através do link, ele vai compartilhar sua trajetória pessoal e suas proposições práticas, mostrando seus saberes e modos de fazer e pensar o Frevo.

Maestro Duda nasceu em Goiana, na Mata Norte do Estado, em 1935, foi eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2010 e homenageado do Carnaval recifense em 2011. Começou a estudar música aos oito anos. Aos dez, já era integrante da banda Saboeira e logo escreveria sua primeira composição, o frevo “Furacão”. Dali podia-se prever o que tornaria Duda um gênio da composição e do arranjo e uma das grandes referências do Frevo. Com ampla formação, seu múltiplo talento o levou a formar várias bandas de Frevo eleitas as melhores do ano nos Carnavais do Recife. Fez música para teatro, trabalhou em TVs, tocou oboé na Orquestra Sinfônica do Recife, foi professor-arranjador do Conservatório Pernambucano de Música. Compôs choros e sambas gravados por nomes como Jamelão e recebeu o prêmio de melhor arranjo de música popular brasileira em 1980.

CURSO LIVRE DE PERCUSSÃO E RITMOS PERNAMBUCANOS - Ministrado pelo percussionista, compositor e professor Júnior Teles, para o público adulto iniciante e iniciado a partir de 16 anos, o curso “Percussão pernambucana” vai proporcionar uma experiência diversificada através da prática instrumental, suas técnicas e vivências. Ao longo de quatro módulos, os participantes irão explorar diferentes ritmos da música popular pernambucana, como Coco, Ciranda, Maracatu, Frevo, Afoxé e Forró. Cada módulo abordará ritmos específicos, apresentando os instrumentos de percussão correspondentes e ensinando suas técnicas básicas de execução. O curso culmina com uma apresentação final dos participantes.

Será de 19 de setembro a 5 de dezembro, sempre às terças-feiras, das 19h às 21h. As inscrições custam R$ 150 e podem ser feitas no Sympla.

OFICINA DE XILOGRAVURA “MEMÓRIAS E IMAGENS AFETIVAS DO FREVO” - Com dois encontros e carga horária total de oito horas, a oficina gratuita pretende trazer ao público as memórias que cada um tem do Frevo, através de sentimentos, valores e comportamentos, colocando essas referências para o papel e depois para a matriz em MDF. A facilitadora será Ilê Pessoa, natural do Recife e criada em Olinda, que tem formação em técnicas diversas. 

Será nos dias 19 e 22 de setembro, das 14h às 18h. As imagens trabalhadas como xilogravuras depois serão expostas coletivamente em uma culminância da oficina. Podem participar pessoas a partir de 12 anos - inscrições através deste formulário.

OFICINA CHÃO DE CAPOEIRA - Nos dias 25, 26 e 27 de setembro, das 19h às 21h, o bailarino, professor de dança e músico Alisson Lima vai ministrar a oficina gratuita que propõe colocar em prática os movimentos da capoeira que conversam intensamente com o chão, unindo capoeira e técnicas da dança contemporânea. Com exercícios de improviso, ele irá trabalhar, por exemplo, posições invertidas, movimentações rasteiras e contorções no plano baixo, evidenciando a dança-capoeira. As inscrições estão disponíveis neste formulário, para pessoas a partir de 18 anos.

Alisson iniciou sua carreira artística no Recife aos 14 anos, tendo vivências em danças de matrizes populares e capoeira. Foi vice-campeão (2010) e campeão (2011) no Concurso de Passista de Frevo de Recife. Também recebeu o prêmio de melhor solo e bailarino no Festival Internacional de Dança Encut (2013). Já deu aulas na Escola Municipal de Frevo do Recife e vem realizando diversos cursos livres de Frevo, Capoeira e danças brasileiras em universidades e centros culturais nacionais e do exterior.

PAÇO DO FREVO - Reconhecido pelo Iphan como centro de referência em ações, projetos, transmissão, salvaguarda e valorização de uma das principais tradições culturais do Brasil, o Frevo. Patrimônio imaterial pela Unesco e pelo Iphan, o Frevo é um convite à celebração da vida, por meio da ativação de memórias, personalidades e linguagens artísticas, que no Paço do Frevo encontram seu lugar máximo de expressão, na manutenção de ações de difusão, pesquisa e formação nas áreas da dança e da música, dos adereços e das agremiações do Frevo.

O Paço do Frevo é uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho, com realização da Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife e da Secretaria Municipal de Cultura e a gestão sob o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). Por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e o patrocínio do Banco Itaú e da White Martins. Conta com o apoio do Grupo Globo, Pernambucanas, Rede e Valgroup.

SERVIÇO

Curso livre de Frevo “Corpo e Cultura em Movimento”
Com Wanderley Aires
De 12 de setembro a 9 de novembro
Terças e quintas, das 19h às 20h30
Público: adulto iniciante
Inscrições: R$ 150 via Sympla

Oficina Desvendando Maestro Duda
Com Maestro Duda
16 de setembro, às 15h
Acesso gratuito com inscrições neste link

Curso Livre de Ritmos Pernambucanos “Percussão Pernambucana”
Com Júnior Teles
De 19 de setembro a 5 de dezembro
Às terças-feiras, das 19h às 21h
Inscrições: R$ 150 via Sympla

Oficina de xilogravura “Memórias e imagens afetivas do Frevo”
Com Ilê Pessoa
Dias 19 e 22 de setembro, das 14h às 18h
Acesso gratuito com inscrições neste link

Oficina Chão de Capoeira
Com Alisson Lima
Dias 25, 26 e 27 de setembro, das 19h às 21h
Acesso gratuito com inscrições neste link

Paço do Frevo - Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife, Recife
Horários: Terça a sexta, 10h às 17h | Sábado e domingo, 11h às 18h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia) - entrada gratuita às terças-feiras
*Confira aqui a política de gratuidade do museu

 

Centenário e reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o frevo, gênero musical genuinamente pernambucano, ostenta vários trunfos. Além do  título da Unesco e de ser responsável por enlouquecer multidões durante quatro dias de Carnaval, o ritmo tem dois dias para ser celebrado - 9 de fevereiro e 14 de setembro -; e ainda conta com um intérprete para chamar de seu: Claudionor Germano. Com mais de sete décadas de carreira, prestes a completar 90 anos de vida, o artista recifense consagrou-se ‘rei’ ao cantar e gravar os maiores compositores do segmento - e hoje, não parece exagero dizer que se o frevo tivesse voz, ela certamente seria a de Claudionor Germano. 

Quando ‘formalizou’ seu encontro com o frevo, em meados do século 20, Claudionor já era um respeitado cantor de rádio. Além das passagens pelas emissoras Clube, Tamandaré e Jornal do Commercio, no Recife, ele também foi responsável por animar os foliões nos tradicionais bailes de Carnaval da capital pernambucana na década de 1950. Em 1959, disputado por dois dos maiores compositores de frevo da história, Capiba e Nelson Ferreira, Claudionor tornou-se o primeiro artista a gravar discos exclusivamente de músicas carnavalescas; e a empreitada foi logo dobrada - com os álbuns ‘Capiba, 25 anos de Frevo; e ‘O que eu Fiz e você gostou’, de Nelson Ferreira; lançados pela fábrica de discos Rozenblit. Ali começaria um reinado que perdura até os dias de hoje e eternizou diversos clássicos da música pernambucana e brasileira.

##RECOMENDA##

Claudionor foi o responsável por comandar a Frevioca na década de 1980. Foto: Reprodução/Instagram

O sucesso dos álbuns de Carnaval foi tão grande que a Rozenblit decidiu repetir a empreitada no ano seguinte com os discos ‘O que faltou e você pediu' (Nelson Ferreira) e ‘Carnaval com C de Capiba’. Em entrevista ao LeiaJá, o jornalista e crítico musical, autor da biografia Claudionor Germano: A voz do frevo (Cepe), José Teles, comenta sobre a importância desse momento tanto na história de Claudionor quanto na do próprio frevo: “Aí ele se firmou como um grande intérprete de frevo. Naquela época não tinha isso, qualquer cantor cantava frevo, ele foi o primeiro”, disse 

A chegada de Claudionor ao meio do frevo, de fato, imprimiu ao gênero um estilo e formato antes desconhecidos. Além do pioneirismo - tanto na gravação de discos carnavalescos quanto no comando da Frevioca - que levou o frevo para a rua de forma amplificada para rivalizar com os trios-elétricos baianos, já um pouco mais tarde, na década de 1980 - Claudionor acumula grandes números na carreira. O artista é um dos que mais gravou frevos na história da música popular brasileira - são cerca de 553 - e esteve presente em quase todas as edições do Baile Municipal do Recife (foram 52).

"Ele sempre disse: 'Cantor de frevo tem muito por aí, mas intérprete não, você cante para se fazer entendido realmente, para que o público ouça e entenda". Nonô Germano, sobre as lições que recebeu do pai. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Extremamente profissional, desde o início de sua carreira, o artista leva à risca a responsabilidade de interpretar as poesias que a ele são confiadas, e essa talvez seja a primeira lição a ser estudada por aqueles que decidem seguir a carreira. “Todos os cantores que se propõem hoje a cantar frevo hoje ouviram, e tenho certeza, que se inspiraram em Claudionor. Inclusive, até pelo repertório. Acho difícil você cantar um frevo tradicional de Pernambuco que ele não tenha gravado”, diz Nonô Germano, filho e natural sucessor do Rei do Frevo. 

Um desses cantores é André Rio. Com pouco mais de três décadas de carreira, foi assistindo a Claudionor comandar os bailes de Carnaval do Clube Português, à frente da orquestra do maestro José Menezes, quando ainda era criança, que o artista despertou para tornar-se um intérprete do ritmo.

“O maior ensinamento que recebi de Claudionor é que a gente deve, quando cantar um frevo, interpretar literalmente cada palavra que o autor o quis expressar com sua poesia. Você escuta uma canção cantada por ele (Claudionor) e não perde uma sílaba, você entende tudo o que o poeta quis dizer com a letra de sua música. O frevo é um estilo muito difícil de ser cantado, tem uma síncope muito grande, é ligeiro,  são muitos fatores que p tornam difícil e Claudionor ensina pra gente como se faz: acreditando na poesia, tendo fé cênica e cantando com muito amor ao seu frevo”.

"Quando estou ao lado de Claudionor é quando estou literalmente abraçado ao frevo, porque o considero a voz do frevo brasileiro, aquele cantor que é um leito de rio onde a gente passa também com nossas vozes mas porque aprendemos com ele". André Rio - Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

De acordo com o jornalista José Teles, o pernambucano poderia “ter ganho muito dinheiro se tivesse ido fazer carreira no Sudeste”, como tantos outros o fizeram. E ele até foi, em 1956, porém, “foram pegar ele lá de volta”, conta. “Ele queria ser cantor de música romântica mas acabou sendo conhecido como cantor de frevo”, arremata o jornalista. O destino parece ter falado mais alto, sorte de nós, pernambucanos. 

“De quem é o frevo”

Com presença tão magnânima nos carnavais e na vida cultural de Pernambuco, é difícil encontrar aquele que, nascido por estas bandas da região Nordeste, da segunda metade do século 20 para cá, nunca tenha ouvido a poderosa voz de Claudionor Germano. “Nessa época (década de 1960), eu era menino, o que me lembro de Carnaval é a voz de Claudionor Germano. Eu e muita gente, a gente cresceu com ele”, diz o biógrafo do Rei do Frevo, José Teles. 

"Claudionor é muito reconhecido. Quando comecei a fzaer o livro, a gente foi em um bar no Bairro do Recife e todo mundo conhecia ele, todo mundo parava para cumprimentá-lo, ele é muito popular". José Teles, biógrafo do 'Rei do Frevo'. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Lembranças repletas de frevo e da forte presença de Claudionor também fazem parte da memória afetiva de seu herdeiro, Nonô Germano. Desde pequeno, o cantor que naturalmente seguiu os caminhos do pai, espelhou-se nele para encontrar a sua própria personalidade artística. “Eu lembro de pequeno estar sentado num banquinho ao lado do piano, brincando com uns carrinhos e papai ensaiando no piano com Nelson Ferreira - essa parceria com Capiba e Nelson Ferreira, compositores brilhantes que acharam em papai a voz que poderia levar sua mensagem ao público da forma mais fidedigna possível”.

Nonô conta que os ensinamentos do Claudionor pai e do Claudionor artista se misturam e que, com ele, aprendeu lições sobre generosidade, humildade, respeito ao próximo e, claro, sobre frevo. “Não ser um mero cantor de frevo e sim um intérprete. Vários compositores que não cantam nos dão suas composições para que a gente transmita aquela mensagem que ele escreveu. Essa fidelidade às composições é que fazem a gente estar onde está hoje”.

Reinado

"Me sinto uma pessoa super privilegiada de tê-lo ao meu lado, desde o início da minha carreira. Como pai exemplar que sempre foi, uma pessoa que só me orgulha e a gratidão é imensa a Deus por tê-lo a meu lado ainda". Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Suceder o Rei do Frevo,  para Nonô, é uma missão encarada de forma bastante natural. Seu caminho profissional foi trilhado sem pressões, internas ou externas, e o acolhimento do pai em relação à sua personalidade artística, além do meio no qual cresceu, rodeado de grandes compositores e artistas do segmento, criou um ambiente favorável para uma renovação do estilo. 

Assim nasceu o Frevo de Balada, projeto criado por ele em 2007 que dá nova cara ao frevo a fim de levá-lo para além do Carnaval. “A gente vê, nos tradicionalistas uma certa resistência ao Frevo de Balada. Mas papai nunca foi essa pessoa conservadora. Em 1984/85 ele fez um LP, ‘O bom do Carnaval (Vai pegar fogo)’, ele gravou Tropicana pela primeira vez em ritmo de frevo. Nesse disco ele já falou com o maestro Edson Rodrigues, que fez a direção musical, e colocou sintetizador, guitarra. O que me permite hoje ousar mais e viajar por novas histórias no frevo é essa base que eu tenho, essa fonte que eu bebi a vida toda. Não se faz o novo destruindo o passado, pelo contrário, eu só faço o que faço hoje porque existiu isso tudo. Ele (Claudionor) acha o máximo, e acha que o caminho é por aí mesmo, é inovar e trazer a garotada pra junto”. 

História viva

[@#video#@]

Em 2022, Claudionor Germano, Rei do Frevo, e Patrimônio Vivo de Pernambuco, completa 90 anos de vida. Uma homenagem, prestada pelo bloco O Galo da Madrugada, já foi anunciada pelo presidente da agremiação, Rômulo Menezes, e além desta, a família Germano da Hora pretende celebrar muito. Alguns planos já estão sendo elaborados, ainda em segredo. “Vem muita novidade por aí nos 90 anos, não é qualquer idade. A gente aproveita ao máximo ter papai junto da gente, vivenciando tudo, lúcido. Pronto pra encarar as comemorações dos 90 anos que vai começar no carnaval e a gente só para no final do ano”, diz Nonô.

Para o jornalista José Teles, a “lenda” Claudionor Germano ainda merece ter alguns de seus álbuns relançados. “O frevo parece que tá no DNA do pernambucano, as pessoas mais jovens talvez nem se toquem mas certamente já ouviram a música dele, porque toca muito no Carnaval, ele é um exemplo de cantor bem sucedido. Ele não reconhece a importância dele. Eu fui fazer o livro e ele queria que eu botasse fotos de diploma, de honra ao mérito, cidadão de ’num sei o que’, mas tinha fotos com Gil e Caetano - não era ele tirando foto com Gil e Caetano, eram ele tirando fotos com Claudionor. Eles cresceram ouvindo Claudionor Germano cantando no Carnaval da Bahia, que (na época) não tinha um carnaval grande e não tinha uma música própria. Ele é um cara importantíssimo”. 

Já André Rio, que chama o Rei do Frevo de “professor”, recorre à poesia para declarar-se e demonstrar, além da admiração, a gratidão pela arte de Claudionor. Sentimentos que, possivelmente, todos nós pernambucanos compartilhamos um pouquinho. “A maneira mais certa de eu homenageá-lo é enaltecê-lo sempre, agradecer sempre e fazer o que ele fez a vida inteira: fazer com que o frevo seja essa a música forte que tanto nos orgulha e que atravessa gerações. O frevo veio das ruas, hoje invadiu o mundo e a gente tem que mantê-lo sempre nesse pedestal altíssimo, nessa postura daquilo que é, o nosso centenário frevo, nosso genuíno ritmo pernambucano e a alegria do Recife e Olinda. Frevo é vida; frevo é amor; frevo é alegria Viva Claudionor!”. 



 

Houve tempo em que ao se pensar sobre a participação das mulheres no frevo, ritmo genuinamente pernambucano, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, era preciso um pouco de esforço para se lembrar de nomes e personalidades que se destacaram nesse segmento. 

Talvez, os rostos das integrantes dos corais de blocos líricos e de cantoras mais famosas na mídia, como Elba Ramalho e Nena Queiroga, surgissem como alento na busca pela representatividade feminina na área. Esse esforço, no entanto, vem diminuindo consideravelmente ao longo da história 'frevística' que, cada vez mais, conta com a contribuição efetiva de mulheres, instrumentistas, maestrinas e passistas, para ser construída. 

##RECOMENDA##

LeiaJá também

--> O Carnaval não seria o mesmo sem a presença delas

Até pouco tempo, era raro encontrar uma mulher nas orquestras de frevo, sobretudo nas itinerantes. Paradoxalmente, uma das músicas mais tocadas por esses grupos havia sido escrita por uma. Fato também de recente descoberta. O Frevo Nº 1 de Vassourinhas, considerado um dos hinos do Carnaval pernambucano, tem composição assinada por Joana Batista Ramos, mulher negra que divide a autoria da música, feita em 1909, com o violonista Matias da Rocha. 

Segundo documentos encontrados pelo pesquisador Evandro Rabello no 2º Cartório de Registro Especial de Títulos e Documentos, ela própria teria feito o registro da criação. "A marcha intitulada Vassourinhas pertencente ao Clube Carna Mixto Vassourinhas. Foi composta por mim e o maestro Matias da Rocha no dia 6 de janeiro de 1909, no Arrabalde de Beberibe em um Mocambo de frente à estação do Porto da Madeira, dito mocambo, hoje é uma casa moderna", diz o documento. Em 1910, a dupla cedeu  os direitos da música para o Clube por três mil réis, de acordo com recibo assinado por eles, localizado no acervo do clube carnavalesco.

Joana Batista Ramos em uma das poucas imagens que se conhece dela. Pintura constante no documentário Cem Anos de Vassourinhas. Foto: Reprodução.

O apagamento dessa história, e de tantas outras que certamente houveram nos mais de 100 anos de tradição do frevo, pode ser explicado como reflexo de uma sociedade patriarcal que relega às mulheres posições inferiores ou mesmo o silenciamento. No entanto, essas poucas referências femininas no segmento vêm aumentando ao passo que mais mulheres se dedicam a ele tomando posse de seu lugar de protagonistas. Uma delas é a maestrina Carmem Pontes, fundadora da Orquestra 100% Mulher.

Em 2003, Carmem começou a procurar instrumentistas para formar um grupo só de meninas. Não foi fácil, e ela chegou a bater os interiores do Estado em busca de mulheres que tocassem o ritmo. A insistência da maestrina deu tão certo que um ano depois sua orquestra feminina já estava integrando a programação oficial do Carnaval do Recife. "A ideia decolou e foi estimulando mais musicistas a tocarem os instrumentos e hoje a gente tem outras orquestras e grupos femininos, eu fico muito feliz de ter dado esse pontapé inicial", disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá. 

Em mais de 15 anos de estrada, as dificuldades da 100% Mulher foram imensas. Provar seu talento no meio do frevo, segmento ainda majoritariamente masculino, foi uma luta à parte. Entre as batalhas, as musicistas precisaram desviar de cachês menores simplesmente em virtude de seu gênero; provar que sabiam de fato tocar e não faziam uso de playback; e enfrentar contratantes que as chamavam apenas pelo "visual" e não por seus atributos enquanto instrumentistas. 

A Maestrina Carmem é hoje uma das maiores referências femininas no Frevo em Pernambuco. Foto: Reprodução/Instagram

Tais lutas, com o passar do tempo e o aumento do empoderamento das mulheres em todas as áreas, estão ficando um pouco menos árduas. "Hoje é até mais fácil eu brigar e ter mais argumentos, antes a gente não tinha toda essa base mas quando aparecem pagantes que pensam que estamos fazendo aquilo ali por lazer e querem pagar a menos, é quando eu argumento e mostro nosso material, que a gente trabalha e estuda, que a gente vive da música e que aquilo não é só um hobby. Isso é primordial para que eles entendam". 

Nesse movimento de insistência, autoconhecimento e amor pelo frevo, a maestrina Carmem passou da falta de referências femininas no frevo a ser ela própria uma grande referência. Ela conta que quando se aproxima o Carnaval, instrumentistas de todo o país a procuram interessadas em ingressar no grupo. Atualmente, a 100% Mulher conta com 17 musicistas no formato de palco e cerca de 50 no formato itinerante. 

Segundo Carmem, o ritmo genuinamente pernambucano, que é festejado nacionalmente nesta segunda (14), é uma música de difícil de ser tocada e é preciso muito estudo e dedicação para executá-lo bem, mas a maestrina garante que o segredo para se tocar direito aquele frevo que leva a massa à loucura nas ladeiras de Olinda e ruas do Recife não está no gênero: "Só toca bem mesmo quem tem o frevo no sangue". 

[@#video#@]

No próximo sábado (14), o Dia do Frevo será celebrado por toda a Região Metropolitana do Recife com atividades gratuitas e diversas, mas todas com o mesmo objetivo, homenagear a música e a dança que coloca, não só os pernambucanos, mas todos os brasileiros para 'frever'.

Abrindo as comemorações, na sexta (13), o Paço do Frevo - museu dedicado ao ritmo no Bairro do Recife - promove uma edição especial da Hora do Frevo. Quem se apresenta é o Quinteto Arraial, formado pelos músicos Paulo Nascimento, Gilda ALves, Fábio César, Romero Bonfim e Parrô Melo. O show começa às 12h e tem entrada gratuita.

##RECOMENDA##

Já no sábado (14), na cidade de Olinda, acontece o 13º Festival Dia do Frevo Frevolinda. O evento começa às 9h, no Alto da Sé, e contará com oficinas, shows, lançamento de CD e cortejo pelas ladeiras históricas. Também em Olinda, no Shopping Patteo, o dia será celebrado com desfile com orquestra e passistas além da aula de revo ministrada pelo grupo Brincantes das Ladeiras. A programação começa às 14h. 

Serviço

Dia Nacional do Frevo

Hora do Frevo

Sexta (13) - 12h

Paço do Frevo (Bairro do Recife)

Gratuito

13º Festival Dia do Frevo Frevolinda

Sábado (14) - 9h

Alto da Sé (Sítio Histórico de Olinda)

Gratuito

Shopping Patteo

Sábado (14) 

Aula com Brincantes das Ladeiras - 14h

Cortejo com Orquestra Paranampuka - 18h

Gratuito

O Frevo é um ritmo centenário, mas não velho. Com 111 anos, o frevo tem renovado seu fôlego através de artistas que buscam nele referência e motivação para fazer música. Nesta sexta (14), em que se comemora o Dia Nacional do Frevo, conheça, ou reconheça, alguns nomes da nova geração que estão usando o mais pernambucano dos ritmos como nunca antes se ouviu. 

Maestro Spok

##RECOMENDA##

Um dos mais importantes maestros de sua geração, Spok renovou o frevo e o levou aos quatro cantos do mundo. Com a Spok Frevo Orquestra, ele misturou o ritmo brasileiro com o gringo, o jazz, rodando os palcos mais célebres do planeta com a música pernambucana. 


Romero Ferro

Romero Ferro vestiu de pop o frevo pernambucano em seu projeto Frevália. Assim, ele deu nova cara à tradicionais músicas do cancioneiro pernambucano com o propósito de fazê-lo tocar durante o ano inteiro. 


SerTão Jazz

O quinteto formado por estudantes do Conservatório Pernambucano de Música também mistura o jazz à musicalidade nordestina. Dentre os ritmos trabalhados, o frevo é um daqueles que não podem faltar. O objetivo do grupo é criar novas sonoridades.


Eddie

A banda Eddie vem misturando o frevo com ouros ritmos há quase três décadas. Nessa miscelânia entram o punk, o dub e a música eletrônica. A alquimia da Eddie rendeu à banda uma sonoridade bem particular. 


China

China é outro músico que vem bebendo da fonte do frevo há muitos anos. Com o Sheik Tosado, sua primeira banda, China misturava o ritmo com outro bem diferente, o hardcore; agora, em sua carreira solo, ele continua usando tons de frevo para temperar sua musicalidade. 


Luciano Magno

O guitarrista Luciano Magno não só é adepto da introdução da guitarra no frevo como criou uma metodologia própria para o uso do instrumento neste gênero musical. Ele é autor do livro Guitarra no frevo, que ensina tal metodologia. 


Frevotron

Frevotron é a união de três músicos, Maestro Spok, Yuri Queiroga e o DJ Dolores. Eles se uniram com o objetivo de reinventar o frevo, dando a ele uma pegada eletrônica e contemporânea. 


Atroça

O lema d'Atroça é "resistêcia cultural". Assim, eles abusam de todas as possibilidades rítmicas que o frevo lhes proporciona misturando-o com o rock e rebatizando o gênero como "alternative frevo".

[@#relacionadas#@]

Na próxima sexta (14) é celebrado o Dia Nacional do Frevo e, para comemorar a data, a cidade de Olinda promove atividades durante todo o dia. Além de oficinas, apresentações, e bolo para o ritmo homenageado, o evento batizado de Frevolinda tentará, mais uma vez, quebrar o recorde de maior dança de frevo do mundo. 

As comemorações começam às 8h, no Alto da Sé, no Sítio Histórico da cidade, com a 11ª edição do Frevolinda. Espera-se cerca de 250 passistas para realizar a maior dança de frevo do mundo e, assim, entrar para o Guiness World Records, o livro dos recordes. 

##RECOMENDA##

Além disso, os visitantes contarão com oficinas de passos de frevo, com a participação de profissionais de seis escolas de frevo de Pernambuco. Às 18h, haverá um cortejo, em direção à Pitombeira, acompanhado por orquestra e pela Boneca Gigante do Frevo. O bloco sairá da Praça do Carmo onde haverá um bolo de aniversário para o ritmo. 

[@#relacionadas#@]

No dia 14 de setembro é comemorado no Brasil o Dia Nacional do Frevo. Segundo informações da Agência Senado, o dia foi escolhido em homenagem à data do nascimento do jornalista Osvaldo da Silva Almeida, apontado como um dos criadores da palavra "frevo". Em 2012, o som contagiante foi declarado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas.

--> O passo do frevo de volta ao lugar onde transborda: a rua

##RECOMENDA##

Faltando menos de 150 dias para o Carnaval, o LeiaJá aproveitou a data comemorativa e a contagem regressiva, e adiantou a lista de músicas que tem sido postada toda sexta para poder listar os frevos que todo mundo conhece e não podem faltar durante o período carnavalesco. Confira:

Cabelo de fogo - Maestro Nunes 

Um dos maiores clássicos do frevo de rua, aquele tocado por uma orquestra, sem nehuma adição de voz. Algumas das melodias mais famosas do Carnaval são frevos de rua, e o tema Cabelo de Fogo é logo reconhecido pelo folião.

Vassourinhas

O 'hino' do Carnaval brasileiro, que pode ser tocada 50 vezes que 50 vezes levantará a multidão. A melodia mais conhecida entre os frevos de rua é executada no vídeo pela Orquestra da Polícia Militar de Pernambuco.

Me segura senão eu caio - Alceu Valença

"Nos quatro cantos cheguei, e todo mundo chegou. Descendo ladeira, fazendo poeira, atiçando o calor". Os versos são logo entoados pela multidão na hora do 'fervo' e são um dos mais conhecidos frevos gravados por Alceu.

 

Banho de cheiro - Elba Ramalho 

Um clássico que estourou em todo o Brasil na voz de Elba Ramalho, como parte do projeto 'Asas da América', de Carlos Fernando.

Chuva de sombrinhas - André Rio 

Outra que não pode faltar, a canção do refrão 'Ai que calor!' surgiu numa tentativa de dar ao frevo uma cara mais comercial e estourou.

Hino do Elefante - Almir Rouche

A música feita para um dos mais tradicionais blocos carnavalescos de Olinda é tão identificado com a cidade que é muitas vezes confundida com seu hino. Quem foi ao Carnaval das ladeiras do sítio histórico com certeza já cantou: 'Olinda, quero cantar a ti essa canção...'

 

Chapéu de sol aberto - Claudionor Germano

Um frevo canção de um dos gênios do estilo, Capiba, cantado pela mais simbólica voz do ritmo pernambucano, Claudionor Germano. 

Atrás do trio elétrico - Caetano Veloso

O frevo chegou com toda força à Bahia, e é corresponsável pelo nascimento dos trios elétricos, influenciando diversos artistas. Diferentemente do Recife, o frevo baiano é caracterizado pelos sons das guitarras. 'Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu' é um verso cantado e decantado pelo país até hoje.

Frevo rasgado - Gilberto Gil

O baiano Gilberto Gil também já rendeu homenagem ao ritmo, como nesta bela canção.

Madeira que cupim não rói - Bloco da Saudade 

O tema, composto por Capiba, é talvez o mais conhecido dos frevos de bloco. Ao contrário dos outros tipos de frevo, este é marcado instrumentos de cordas e sopro, composta por banjos, bandolins, violões, cavaquinhos, flautas, saxofones e clarinetes.

Último regresso - Bloco da Saudade 

Um clássico do lirismo feito por um dos mais importantes compositores deste tipo de frevo, Getúlio Cavalcanti.

Batutas de São José - Bloco da Saudade

O hino de uma das mais importantes agremiações do carnaval pernambucano tem os imortais e provocativos versos: "Eu quero entrar na folia, meu bem. Você sabe lá o que é isso?"

O frevo é uma música e dança de origem pernambucana, tombado como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2012, além de ser considerado Patrimônio Histórico e Artístico Nacional pelo Iphan desde 2007. E nesta quinta-feira, 14 de setembro, é comemorado o Dia Nacional do Frevo. Tudo isso é muito simples e fácil de dizer. Mas entender de fato o que significa este ritmo "que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé" talvez só seja possível através da experiência de vê-lo numa de suas mais genuínas formas: na rua.

O frevo de rua, aquele tocado pelas orquestras em logradouros do Recife e de Olinda, e dançado por passistas despidos de qualquer pudor e timidez, talvez seja o que mais traduza toda a liberdade contida neste ritmo que ferve. O grupo Brincantes das Ladeiras trabalha, desde 2009, na manutenção dessa modalidade que de tão bela e, ao mesmo tempo, forte, pode ser chamada de arte. O intuito do grupo é reunir amigos e amantes do frevo, de todas as idades, para aulas gratuitas, nas quais se ensina a tradicional dança de forma descontraída e leve.

##RECOMENDA##

--> Hoje é o Dia do Frevo! Relembre 12 clássicos do gênero

Wilson Aguiar, o mestre do passo do Brincantes, tem uma ligação íntima com o ritmo pernambucano, desde que saiu da barriga de sua mãe: "Quando eu nasci, o primeiro passo que eu fiz foi aquele de bicicleta - ficar balançando os pézinhos no ar", brinca. Hoje, 53 anos após o primeiro passo, ele compartilha com os alunos o que aprendeu ao longo de uma vida dedicada ao frevo. Wilson revela ser um pouco difícil explicar a dimensão do significado desta dança, mas tenta resumi-lo: "No frevo é que eu consigo exprimir toda a minha alegria. Naquele momento em que estou fazendo o passo, é o êxtase, é o cume do meu estado mental. Eu consigo traduzir as notas musicais através do passo. Alí eu estou no plano intermediário entre a alegria e a felicidade".

[@#galeria#@]

Maria Flor, também instrutora dos Brincantes, compartilha dessa emoção. Envolvida com diversas linguagens artísticas desde criança, ela diz ter se "encontrado" no frevo: "É um envolvimento forte. Comecei estudando a dança, depois eu quis me aperfeiçoar e entender de fato o que era o frevo, música e dança". Flor, hoje com 27 anos, se dedica a esta arte desde os 14, e o que era apenas paixão, acabou virando profissão - ela ensina o passo, inclusive dando cursos fora do país: "É um amor e um trabalho, existem esses dois momentos na minha vida". E em se tratando de amor, a passista se declara ao ritmo pernambucano: "O frevo é a religião que eu sigo hoje. Ele me educou na música, na dança, no respeito com a sociedade nas manifestações diversas. Ele está tão vivo dentro de mim que não tem nem como mensurar. Como diz o Ferreirinha, o dicionário não teria uma palavra pra definir o que eu sinto quando eu penso em frevo."

O Ferreirinha, mencionado por Maria Flor, é José Ferreira da Silva Irmão. Passista e professor no mesmo grupo, ele tem gravado nas lembranças de infância seus encontros com o frevo indo atrás da centenária troça Pão Duro, mas foi um pouco mais tarde, e por ordem médica, que seus laços com a dança se estreitaram. "A médica do trabalho mandou eu fazer caminhada, mas eu fui e me inscrevi na Escola de Frevo. Hoje, eu danço quase todos os dias". Após se encontrar com os Brincantes das Ladeiras durante a saída de alguns blocos, o passista se integrou ao grupo. Hoje, ao lado de Flor e Wilson, ministra aulas em Olinda e fora do Brasil ensinando o tradicional frevo de rua: "Aqui eu tenho o prazer de dançar com a liberdade que eu tenho. Eu não danço com a sombrinha, eu uso o chapéu, geralmente", explica. Aos 58 anos de idade, Ferreirinha parece também ter se encontrado no passo: "A gente entra na brincadeira sem saber que a brincadeira tem um valor excepcional para os impulsos vitais."

Brincantes das Ladeiras

"Eu, Francis - minha esposa - e outros amigos, percebemos que nas ladeiras de Olinda e nas ruas do Recife, os passistas estavam em menor número. A gente não via quase ninguém fazendo o passo na frente das orquestras", esse foi o mote para que Wilson Aguiar montasse o Brincantes das Ladeiras. Preocupado com a preservação e manutenção dos passos tradicionais e do frevo dançado na rua, ele reuniu os amigos e deram início aos encontros semanais nos quais os interessados na dança, de qualquer idade, podem aprender os passos e, mais do que isso, se divertir de forma espontânea: "Cada um faz o que quer, como quer e como pode. Não adianta ir além do que pode e se lesionar".

Os instrutores do grupo se preparam através de estudos de fisiologia e fisioterapia para evitar que alguém sofra qualquer tipo de lesão. A metodologia é o "frevo convidativo", no qual todos são bem-vindos. As aulas gratuitas começam na primeira semana de agosto e vão até o mês de fevereiro do ano seguinte, sempre às 16h, na Praça Laura Nigro, Sítio Histórico de Olinda, mas o espaço se estende quando passa alguma troça e todos vão atrás colocando o frevo no lugar em que ele transborda, a rua: "Essa foi a forma que nós encontramos de divulgar esta cultura 100% pernambucana, brasileira e mundial. A gente tem que fazer esse patrimônio aparecer.", afirma Wilson.  

[@#video#@]

Valorização

A brincadeira é divertida e bastante saudável mas, nem só de alegria vive quem escolhe o frevo como missão. A pouca valorização a esta manifestação, relegada ao período carnavalesco, torna difícil o cotidiano de quem vive dela. "Criou-se uma expectativa na sociedade que o frevo é uma coisa do Carnaval. Hoje nós temos cada vez mais compositores, músicos, passistas, pessoas que trabalham o ano inteiro", afirma Maria Flor. A artista acredita que é preciso educar as pessoas para que elas tenham acesso a esta música e dança, algo que deve começar na escola mas, também, ir além: "De que forma você leva o frevo para as pessoas? Pela TV, pelo rádio, os veículos de comunicação precisam ter uma expressão mais forte de frevo. Isso também é uma forma de valorizar os trabalhos que estão sendo feitos agora."

 Mesma opinião têm os músicos que tocam o frevo ao longo dos 12 meses do ano. "Viver de frevo é muito bom mas a desvalorização da cultura da gente é muito grande.No Carnaval tem a febre do frevo, mas é só durante aquela semana", lamenta Fernando Carvani, baterista e percussionista de várias orquestras como a do Maestro Forró e a Arruando. Seu colega de profissão e de orquestras, o saxofonista Fábio Andrade, estava na França quando o ritmo ganhou o título de Patrimônio da Humanidade e lembra o que o momento representou: "A gente acreditava que, a partir dali, o frevo ia ser mais tocado. Mas, a gente ainda acredita", confessa. Movidos pelo amor, os músicos apostam nesse sentimento para continuar na missão de levar o frevo adiante. E o trompetista Duda Oliveira deixa o recado: "Como é que a gente vai manter o frevo vivo se ficar só no saudosismo? Tem que tocar no rádio".

 

[@#relacionadas#@]

Neste domingo (14) é celebrado o Dia Nacional do Frevo, ritmo musical e uma dança brasileira com origem genuinamente pernambucana. Atualmente, o Frevo integra a rica diversidade da cultura brasileira e é marco do carnaval pernambucano, especialmente em Olinda e Recife, sendo celebrado também na capital pernambucana, no dia 09 de fevereiro.

No final do século 19 e início do século passado, o frevo surgiu como camuflagem da luta dos capoeiras. A dança adquiriu características próprias, nascendo muito mais da improvisação que já levaram à catalogação de mais de 120 passos.

##RECOMENDA##

Em 2012, o Frevo foi instituído Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCOO "Frevo Rasgado", além de traçar um panorama do ritmo, reforça o papel do gênero no cenário musical brasileiro. 

Em comemoração ao Dia do Frevo, a Orquestra Arruando faz show itinerante, domingo, no Bairro do Recife. A concentração acontece no Marco Zero, onde 20 músicos e oito passistas se apresentam. Haverá, também,a participação do boneco do Homem da Meia-Noite.

Serviço

Orquestra Arruando com "Recife do Frevo e do Passo"

Domingo (14) | 15h

Palco do Marco Zero

Gratuito

Em homenagem ao Dia Nacional do Frevo, comemorado no dia 14 de setembro, o Paço Alfândega promove, desta sexta (14) até o próximo domingo (16), a exposição É Frevo no Paço. A mostra conta com estandartes, flabelos, bonecos gigantes e fotografias de maestros, compositores e intérpretes ligados ao ritmo. Os visitantes também poderão conferir vídeos e imagens de foliões, intencionalmente pensados para provocar sensações ao visitantes.

Na sexta (14), às 15h, o Maestro Edson Rodrigues fará uma aula-espetáculo contando a história do Frevo de rua, canção ou de bloco, ilustrando a palestra com músicas executadas no sax. No sábado (15) e no domingo (16), a palestra acontece às 16h. Ainda ocorrem apresentações com os passistas da Escola Municipal Maestro Fernando Borges.

A ideia de É Frevo no Paço é proporcionar aos visitante a oportunidade de se aproximar ainda mais dessa expressão popular, que é patrimônio imaterial do Brasil e se encontra espalhada pela cidade para além dos dias de Carnaval.

##RECOMENDA##

Segundo o gerente de serviço do Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural - Casa do Carnaval, Mário Ribeiro, o frevo é algo que contagia e dá sentido de existência a milhares de pessoas. "Ele provoca ação e reação, invade o imaginário coletivo, e parece que enfeitiça. ‘Entra na cabeça, depois toma conta do corpo e acaba no pé’, como diz a música de Alceu Valença”, afirma. O acesso à exposição é gratuito.

Serviço
É Frevo no Paço
De 14 a 16 de setembro
Paço Alfândega (Rua Alfândega, 35, Bairro do Recife)
Gratuito

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando