Tópicos | homem negro

A Agência de Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA), nos Estados Unidos, vai enviar uma tripulação, em missão à lua, composta por quatro astronautas, sendo uma mulher e um homem negro. É a primeira vez na história da instituição que uma missão ao espaço não será composta apenas por homens brancos. A partida está programada para novembro de 2024, a bordo da Artemis II.

A missão de se aproximar da Lua é a também a primeira vez que será realizada desde a Apollo, em 1972. A tripulação é composta por Jeremy Hansen e Christina Hammock Koch, na função de especialistas de missão, Victor Glover, como piloto, e Reid Wiseman, como comandante.

##RECOMENDA##

“Essa missão irá levar mais que astronautas. Ela irá levar a esperança de milhões de pessoas ao redor do mundo”, disse Bill Nelson, administrador-geral da Nasa. A viagem consiste em uma aproximação do satélite, porém a nave não entrará em órbita, nem fará pouso.

Até a decolagem da equipe, a cápsula Orion tem feito viagens à Lua com manequins para avaliar as condições e funcionalidades dos equipamentos que deverão ser utilizados pela equipe. As missões Artemis e Artemis II têm por objetivo explorar o satélite natural da Terra. A NASA prevê que seja possível, em poucas décadas, a exploração humana em Marte.

Para a diretora Vanessa Wyche, do NASA Johnson Space Center, a iniciativa poderá mudar o rumo da humanidade. “Esta missão abre caminho para a expansão da exploração humana do espaço profundo e apresenta novas oportunidades para descobertas científicas, comerciais, industriais e parcerias acadêmicas e a Geração Artemis", declarou.

Policiais rodoviários federais do Tocantins foram flagrados, em vídeo, agredindo um homem negro em um posto de combustível no Jardim Aureny I, região Sul de Palmas, capital do estado. O caso aconteceu na noite dessa sexta-feira (6) e foi registrado por uma pessoa ouvida como testemunha. As imagens foram entregues à Polícia Civil e mostram o condutor do veículo abordado deitado ao lado do carro, com a porta aberta.  

Mesmo rendido, o homem leva diversos chutes e socos por dois dos quatro policiais que o abordaram. A identidade da vítima não foi revelada, mas a polícia informou que houve registro de ocorrência por embriaguez.  

##RECOMENDA##

Em nota, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que assistiu ao vídeo que mostra abordagem a veículo, seguida por agressões contra seu condutor. Ainda de acordo com a corporação, o procedimento apresentado não faz parte da doutrina da PRF, e os fatos serão submetidos "a rigorosa apuração por parte da Corregedoria Regional e de especialistas em Direitos Humanos da Polícia Rodoviária Federal". 

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, também em nota, que o homem agredido pelos policiais foi levado para a 1ª Central de Atendimento da Polícia Civil em Palmas “preso, em flagrante, por embriaguez ao volante e desobediência, conforme relatos dos próprios policiais”. 

A vítima foi ouvida pelo delegado plantonista e pagou fiança e foi solta. Antes, de acordo com o órgão, o homem foi levado pelo delegado e um agente de polícia ao Núcleo de Medicina Legal de Palmas “para exames de corpo de delito, uma vez que relatou ter sofrido agressões por parte dos PRFs, e em seguida foi liberado”. Segundo a SSP, a Polícia Civil “encaminhou o caso aos órgãos competentes”. 

 

Circula nas redes sociais um vídeo gravado em Criciúma, no Sul de Santa Catarina, que mostra um homem negro, de 26 anos, sendo vítima de ação truculenta de dois policiais militares. O caso ocorreu na quinta-feira (15), de acordo com relatos de familiares e comerciantes, ouvidos por um portal local. Nas imagens, é possível ver um dos cabos aplicando o golpe “mata-leão” no jovem, enquanto a parceira cobre a câmera do uniforme com os dedos. 

O homem abordado estava sentado em um banco de rua, no comércio do Centro, quando ocorreu a abordagem, gravada por uma pessoa que passava pelo local. A autora do vídeo perguntou várias vezes aos militares sobre o que o homem estava sendo acusado. Porém, não obteve resposta. A mulher continuou gravando e pediu para que os agentes não machucassem a vítima, que estava deitada no chão, enquanto o policial aplicava o golpe em volta do pescoço. “Antes de filmar, tu tem que saber por que que ele tá sendo abordado”, grita o PM. 

##RECOMENDA##

Conforme um primo da vítima, que testemunhou o ocorrido e concedeu entrevista exclusiva ao Diário Catarinense, reproduzida pelo site NSC Toral, o homem não teria obedecido a ordem dos policiais de colocar a mão na cabeça. 

[@#video#@] 

Ainda segundo depoimento do primo, mulheres de uma loja teriam acionado a polícia e contado que o homem furtou algum produto do estabelecimento. “Ele estava em um dia normal, sentado por aqui com uma roupa um pouco inferior e foi abordado. Não agrediu os policiais com palavras, nem fisicamente. Apenas não seguiu a ordem de colocar a mão na cabeça. Aí eles partiram para a agressão”, relatou o primo. 

A família vê a situação como uma manifestação clara de preconceito e deve denunciar o caso como racismo à Polícia Civil. Até o momento, o homem não foi identificado.

PM divulgou nota 

“A Polícia Militar foi acionada via Central de Operação Policiais Militares (COPOM-190) para o atendimento de ocorrência de averiguação de pessoa em atitude suspeita. Ao chegar no local, os policiais se depararam com o suspeito, que estava com as mesmas vestes elencadas na denúncia e, de imediato, iniciaram os procedimentos de abordagem. 

O suspeito não acatou as diversas verbalizações policiais, não acatando ordens de abordagem da guarnição policial, desacatando a guarnição e realizando ameaças aos policiais, sendo necessária a utilização do controle contato, para conseguir efetuar a prisão por desobediência, resistência e ameaça. 

A guarnição precisou fazer a condução do abordado até à Delegacia de Polícia Civil, que ao chegar no local foi oferecido os benefícios da lei 9099/95, assinou o Termo Circunstanciado e foi liberado no local.” 

 

Mais um caso de racismo foi registrado nas lojas Zara, dessa vez na unidade localizada no Shopping Bahia. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um homem negro sendo abordado pelo segurança da loja e sendo obrigado a abrir a sua bolsa para que fosse verificado se ele havia furtado alguma coisa da loja.

Nas imagens é possível ver o homem, tratado como suspeito pelos funcionários da Zara, abrindo a bolsa e mostrando cartões, documentos e afirmando que tem condições para comprar qualquer item da loja.

##RECOMENDA##

Por meio de nota, a Zara afirmou que está apurando todos os detalhes da ocorrência:

A Zara Brasil informa que, juntamente com a administração do Shopping da Bahia, está apurando todos os detalhes relacionados ao fato ocorrido na tarde de terça-feira, no centro comercial, para tomar as providências necessárias e evitar que episódios como esse se repitam. Por meio de investigação realizada até o momento, e até a finalização da mesma, tomou-se a decisão de afastar do serviço uma funcionária da loja. A empresa lamenta o ocorrido neste episódio, que não reflete os valores da companhia.

[@#video#@]

Reincidência 

Essa não é a primeira vez que a Zara é acusada de racismo. No dia 14 de setembro desse ano, uma unidade do Shopping Iguatemi, em Fortaleza, Ceará, foi acusado de criar um código para indicar a entrada de clientes que tivessem "um perfil indesejado".

Essa prática serviu para discriminar a delegada negra Ana Paula Barroso, que foi impedida de entrar na unidade. A Zara afirmou na época que impediu a entrada da delegada porque ela estava usando a máscara de forma errada.

Na ocasião, ela estava tomando um sorvete. No entanto, outras pessoas, que não eram negras, tiveram o acesso permitido, mesmo sem usar a máscara de forma correta. 

Após um inquérito finalizado, a polícia do Ceará concluiu que o gerente da unidade praticou crime de racismo contra a delegada "por recusar, impedir acesso ao estabelecimento comercial, negando-se a servir , atender ou receber cliente ou comprador".

Em vídeo que circula nas redes sociais e já é apurado por autoridades policiais de São Paulo, um homem negro aparece algemado a uma moto da Polícia Militar, enquanto o agente que realizou a abordagem acelera e faz o suspeito acompanhá-lo correndo. O flagra foi registrado à luz do dia, na tarde dessa terça-feira (30), na avenida Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello, zona leste da capital paulista. Nas imagens que viralizaram, os espectadores até dão risada do episódio que pode ser interpretado como prática análoga à escravidão e tortura.  

[@#video#@] 

##RECOMENDA##

Na gravação, é possível ver o homem correndo com dificuldade atrás do veículo em movimento. Os autores do vídeo, filmado dentro de um carro, dão risada e um deles debocha: "Olha, algemou e está andando igual a um escravo. Vai roubar mais agora?", questiona.  

Na manhã desta quarta-feira (1º), a Ouvidoria das polícias do Estado de São Paulo formalizou um pedido de apuração do caso à PM, e afirma reconhecer a atitude como o tipo de “humilhação e constrangimento” aos quais negros escravizados foram submetidos. Após tomar conhecimento das imagens, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) informou ter afastado o policial e determinado a instauração de um inquérito. 

Segundo reportagem da TV Globo, o preso estava em uma moto e colidiu contra uma ambulância ao tentar escapar da abordagem policial. Com ele, a PM afirmou ter apreendido 12 tabletes de maconha. A investigação também está sendo acompanhada pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo Grupo Tortura Nunca Mais. 

Em nota, a PM-SP confirmou a instauração de um inquérito policial militar para apurar o caso e o afastamento do agente envolvido na ação. "A Polícia Militar repudia tal ato e reafirma o seu compromisso de proteger as pessoas, combater o crime e respeitar as leis, sendo implacável contra pontuais desvios de conduta", informou um dos trechos da nota. 

A Ouvidoria das polícias de São Paulo diz tratar o caso como prioridade. "Esse tipo de situação não pode voltar a acontecer em São Paulo, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo." 

Centenas de manifestantes protagonizaram um protesto no domingo à noite em uma área do subúrbio de Minneapolis, cidade em que acontece o julgamento de um policial acusado pela morte de George Floyd, depois que um afro-americano foi morto por um agente das forças de segurança.

Muitas pessoas se aglomeraram diante da delegacia principal de Brooklyn Center, ao noroeste de Minneapolis. A polícia usou gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para dispersar a multidão.

À meia-noite (2H00 de Brasília), a Guarda Nacional seguiu para o local e o prefeito de Brooklyn Center, Mike Elliott, declarou um toque de recolher de 1H00 até as 6H00 locais.

A mãe de Daunte Wright, um afro-americano de 20 anos, afirmou à multidão que o filho ligou para contar que a polícia havia ordenado que ele parasse o veículo, segundo a imprensa local.

Katie Wright disse que ouviu quando os policiais afirmaram ao filho que soltasse o telefone e depois um dos agentes encerrou a ligação. Pouco depois, a namorada do filho afirmou que ele estava morto.

O departamento de assuntos criminais de Minnesota confirmou à AFP que está "investigando" o envolvimento de um agente em um tiroteio em Brooklyn Center, mas se negou a identificar a vítima.

De acordo com um comunicado do departamento policial de Brooklyn Center, agentes ordenaram o motorista de um veículo a parar por uma infração de trânsito. Quando descobriram que ele tinha uma ordem de detenção pendente, eles tentaram efetuar a prisão.

O motorista retornou ao veículo e um dos agentes atirou, atingindo o condutor, que morreu no local.

Uma passageira do automóvel sofreu "ferimentos", mas sua vida está fora de perigo. Ela foi levada para um hospital local, segundo o comunicado, que não identificou a mulher.

Quase 200 pessoas se reuniram em Brooklyn Center no domingo à noite e foram recebidas por policiais com trajes antidistúrbios.

Fotos da manifestação mostram homens saltando sobre uma viatura da polícia. O jornal Star Tribune informou que as forças de segurança usaram munição não letal para dispersar os participantes do protesto.

Quando a presença policial diminuiu após uma hora, a multidão acendeu velas e escreveu mensagens na rua como "Justiça para Daunte Wright".

O prefeito de Brooklyn City, Mike Elliott, chamou o tiroteio de "trágico".

"Pedimos aos manifestantes que permaneçam pacíficos", escreveu no Twitter. "Os manifestantes pacíficos não são enfrentados com força".

Mas os confrontos foram retomados pouco depois, quando outro grupo de centenas de manifestantes se reuniu diante da sede principal da polícia de Brooklyn Center. Eles também foram recebidos com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral.

O tiroteio aconteceu no momento do julgamento em Minneapolis de Derek Chauvin, policial branco acusado pela morte de George Floyd, um afro-americano, em maio do ano passado na cidade.

A morte de Floyd desencadeou uma onda de protestos nos Estados Unidos contra o racismo e a brutalidade policial.

O esperado processo contra o ex-policial branco Derek Chauvin, acusado de assassinar o negro americano George Floyd, começou nesta terça-feira(9) com a escolha dos jurados, nove meses após o incidente que provocou intenso debate sobre as desigualdades raciais nos Estados Unidos e no mundo.

O ex-policial de Minneapolis enfrenta duas acusações, uma por homicídio em segundo grau e outra por homicídio culposo, na morte de Floyd em 25 de maio.

O processo deveria começar na segunda-feira, mas foi adiado porque a promotoria quer acrescentar uma terceira acusação, a de homicídio em terceiro grau.

O juiz que presidiu a audiência, Peter Cahill, decidiu dar continuidade ao processo nesta terça-feira.

Assassinato em segundo grau acarreta pena máxima de 40 anos de prisão, enquanto homicídio em terceiro grau acarreta 25 anos.

O processo seletivo pode durar cerca de três semanas e estima-se que as discussões iniciais possam começar no dia 29 de março.

Chauvin, de 44 anos, foi expulso da polícia depois que o vídeo de um transeunte o mostrou esmagando o pescoço de Floyd com o joelho por quase nove minutos.

O agente, que foi libertado sob fiança, compareceu ao tribunal nesta terça em um terno cinza e uma máscara preta, ficando em pé atrás de uma tela de acrílico instalada como medida de proteção contra a covid-19.

- Feridas raciais -

A morte de George Floyd reabriu as feridas raciais nos Estados Unidos e desencadeou meses de violentos protestos contra o racismo e a brutalidade policial tanto no país, como no mundo.

Os advogados das duas partes têm a difícil tarefa de encontrar júris que não tenham uma postura definida sobre o caso ou não o conheçam.

Três outros policiais envolvidos na prisão de Floyd, Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, enfrentam acusações menores e serão julgados separadamente.

Os quatro foram demitidos da polícia de Minneapolis.

A prisão de Floyd no meio da rua ocorreu após acusações de que ele teria tentando pagar uma compra em um loja próxima com uma nota falsa de vinte dólares.

O julgamento de Chauvin é considerado um possível marco em um país que recentemente elegeu sua primeira vice-presidente negra mas que, historicamente, viu policiais se livrando da condenações atos abusivos.

Devido à pandemia e as normas de distanciamento social, poucas pessoas estarão presentes no tribunal. As famílias Floyd e Chauvin podem ser representadas por apenas uma pessoa em cada audiência.

Apesar do interesse mundial, apenas dois repórteres poderão estar presentes. O julgamento será transmitido ao vivo online.

A defesa de Chauvin, que estava na polícia há 19 anos, alega que ele seguiu os procedimentos estabelecidos e afirma que Floyd morreu de overdose de fentanil.

"Chauvin agiu de acordo com a política do MPD (Departamento de Polícia de Minneapolis), com seu treinamento e dentro de suas obrigações", disse seu advogado, Eric Nelson.

"Ele fez exatamente o que foi ensinado a fazer", acrescentou.

A autópsia de Chauvin encontrou traços de fentanil no corpo de Floyd, mas o relatório diz que a morte foi por "compressão do pescoço".

Não é esperado um veredito antes do final de abril.

“Toda mãe preta tem que ter a emoção que a minha teve de festejar as conquistas dos seus filhos e não a sua morte”. Foi com essas palavras que o pedagogo Jocelino da Conceição da Silva Júnior, 29 anos, legendou as fotos compartilhadas em sua conta no Facebook sobre a felicidade de sua mãe Isabel do Nascimento, 52 anos, ao comunicar que havia sido aprovado e nomeado em dois concursos públicos do magistério do município de Vitória, capital do estado de Espírito Santo.

“A festa estava pronta, mamãe não se aguentou foi nos vizinhos, e gritava para quem passava que 'meu filho passou em dois cursos da Prefeitura'. Durante toda a comemoração não largou as folhas, entre uma golada de cerveja Glacial e um pedacinho de carne”, narrou Jocelino sobre a reação de sua mãe. A publicação conta mais de 10 mil curtidas e compartilhamentos, além de diversos comentários.

##RECOMENDA##

Isabel, a mãe do Jocelino, que mora no bairro Jacaraípe, na Região Metropolitana de Vitória, batia no peito dizendo “que o trabalho de toda vida valeu a pena”.

O festejo é natural na família, principalmente para dona Isabel que é semi-alfabetizada, devido às dificuldades de acesso à educação na infância. “Eu fiquei muito feliz em saber que meu filho que foi nascido e criado no Morro da Piedade, em Vitória, tenha chegado onde ele chegou. Agora o objetivo dele é só crescer, só ir pra frente”, enfatizou Isabel.

Na visão do Jocelino, “ela representa uma parte das mulheres do Brasil que possuem pouca escolaridade e que sempre trabalharam, mas não entendiam muito bem sobre direitos”, pontuou. 

Morador do Morro da Piedade, em Vitória, localizado no estado do Espírito Santo, comunidade marcada pela violência, Jocelino usa da educação como caminho para construção de uma sociedade mais justa, em especial para os jovens negros da capital capixaba.

Para ele, em um território com quase 400 hatitantes, ter 11 mortes de jovens negros entre 16 e 25 anos, nos últimos dois anos, é um número alarmante. “Atualmente, esta é a comunidade que sofreu mais com a violência institucional em função da falta de atitude do poder público de intervir nessas vulnerabilidades [como a falta de acesso à educação, saúde e oportunidade de empregabilidade]”, afirmou o pedagogo, que também atuou como Conselheiro Tutelar.

Diante dessa realidade, o jovem pedagogo de sorriso largo trilhou uma trajetória que vai na contramão das estatísticas, que registrou um aumento de 11,5% nas mortes de jovens negros nos últimos dez anos, de acordo com o Mapa da Violência 2020, divugado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Em entrevista concedida à reportagem do LeiaJá, Isabel disse que o filho sempre foi muito dedicado aos estudos. Com entusiasmo, Isabel contou que costuma colecionar e comemorar cada conquista do Jocelino e dos outros dois filhos: Jéssica, 32 anos, e Lázaro, 27 anos.

“Eu guardo bem guardado para conservar, pois essas coisas eu gosto de guardar… Tenho o álbum dele da formatura e tenho agora mais esses dois [documentos] que ele trouxe para mim”, exclamou a mãe do pedagogo orgulhosa.

De origem humilde, com mãe diarista e pai gari, seu Jocelino da Conceição da Silva, a trajetória e as conquistas do pedagogo nunca foram fáceis. Na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), na qual se formou em pedagogia, Jocelino superou obstáculos estruturais para se manter na graduação, que afastam os jovens negros das salas de aulas. “Sempre colocaram como se o negro não quiser estudar ou não gostasse”, enfatizou o profissional.

Durante a conversa, o pedagogo relembrou do primeiro dia de aula na Universidade, que para ele também foi o “primeiro dia para que desistisse”. Nesse dia, sem dinheiro para passagem de ônibus, Jocelino foi a pé para a Universidade, passava quase três horas para chegar ao destino. Ele voltou de carona para casa.

“Depois disso eu comecei a trabalhar e consegui ter passagem para ir a Universidade”, explicou. Jocelino trabalhava durante o dia e a noite estudava, e foi assim até concluir sua formação. Contrato após contratos, Jocelino foi nutrindo o desejo de ser servidor público. 

Para alcançar o objetivo, o pedagogo participou em um grupo de estudos aos sábados para o certame. “Era uma rede colaborativa de estudo”, disse Jocelino, que trabalhava como professor contratado em uma unidade de ensino pública.

Em 2019, realizou os concursos que deram a ele a oportunidade de assumir cargos com estabilidade financeira e plano de carreira. No entanto, para Jocelino a aprovação e nomeação nos concursos públicos significa muito mais que isso.

Com orgulho, o pedagogo diz que ficou muito feliz ao ver que foi aprovado, e descreveu que pretende “devolver para educação pública todo aquele investimento que eu recebi enquanto estudante”.

“O que mais me deixa orgulhoso foi poder ser professor do município onde estudei a minha vida inteira e onde moro… Onde professores se dedicaram para que minha educação fosse uma educação que contribuísse com a minha vida”, afirmou Jocelino.

Agora, o pedagogo já se prepara para uma nova jornada, a de se tornar mestre. “Sempre acreditei na educação e, por isso, meu mestrado fala sobre processos educativos e fala sobre Piedade”, declarou o pedagogo.

Um homem negro foi morto por um policial branco em Columbus, o segundo caso em poucas semanas nesta cidade do norte dos Estados Unidos, alimentando a indignação em um país que há meses vive um histórico movimento anti-racista e contra a brutalidade policial.

Andre Maurice Hill, de 47 anos, estava na garagem de uma casa na noite de segunda-feira quando foi baleado várias vezes por um policial, que foi ao local após uma chamada devido a um pequeno incidente.

As imagens da câmera portátil do policial mostram Hill caminhando em direção a ele com um celular na mão esquerda, enquanto a outra permanece oculta. Segundos depois, o oficial dispara sua arma e o civil cai. Não se ouve nenhum som que explique as circunstâncias do tiroteio.

O policial Adam Coy e seu colega esperaram vários minutos antes de se aproximar da vítima, ainda viva, que veio a falecer pouco depois. Coy foi suspenso. Segundo a mídia local, já havia denúncias contra ele por uso excessivo da força.

Hill, que estava desarmado, foi o segundo afro-americano morto pela polícia em menos de três semanas em Columbus. Casey Goodson Jr., de 23 anos, foi baleado várias vezes em 4 de dezembro enquanto voltava para casa depois de comprar sanduíches.

As mortes acontecem em um momento em que os Estados Unidos são marcados por protestos históricos contra a injustiça racial e a brutalidade policial, desencadeados pelo assassinato de George Floyd em maio.

Floyd, também um homem negro desarmado, foi asfixiado sob o joelho de um policial branco em Minneapolis, Minnesota. Transeuntes horrorizados filmaram sua morte e o vídeo rapidamente se espalhou.

"Mais uma vez os policiais veem um homem negro e concluem que ele é criminoso e perigoso", criticou na quarta-feira o advogado Ben Crump, que defende várias famílias de vítimas, incluindo a de Floyd.

Com Hill, são 96 as vítimas negras mortas nas mãos de policiais desde Floyd, afirmou o advogado, denunciando "uma trágica sucessão de tiroteios".

O prefeito de Columbus, Andrew Ginther, disse estar "indignado" com a morte de Hill e "muito perturbado" pelo fato de nenhum dos policiais ter prestado primeiros socorros. Ele pediu a "demissão imediata" de Coy.

Quatro policiais foram indiciados e dois deles detidos no âmbito das investigações sobre o espancamento de um produtor musical negro em Paris, um caso de violência policial em meio ao debate sobre um projeto de lei de segurança global.

O juiz de instrução acusou três dos quatro policiais de "violência voluntária por parte de pessoa depositária da autoridade público" e de "mentir em documento público", como solicitou o Ministério Público de Paris.

Os acusados são os três policiais que aparecem em um vídeo divulgado na quinta-feira (26) e que foi gravado pelas câmeras de segurança do estúdio musical: as imagens mostram os agentes espancando o produtor Michel Zecler, um ato que foi chamado de "vergonha" pelo presidente Emmanuel Macron.

O policial suspeito de lançar gás lacrimogêneo no estúdio foi indiciado por "violência voluntária" contra o produtor musical, assim como contra outros nove jovens que estavam no subsolo do estúdio.

O MP havia solicitado a detenção provisória dos três primeiros e uma medida de controle judicial para o quarto, mas o juiz decidiu pela detenção de dois e por deixar os outros sob controle judicial.

Os advogados de três deles, Anne-Laure Compoint (que defende dois policiais) e Jean-Christophe Ramadier, se recusaram a comentar a decisão do juiz após uma audiência que terminou na madrugada de segunda-feira.

A detenção dos agentes deve "evitar o risco de que façam algum tipo de acordo" entre eles ou "pressionem testemunhas", argumentou o promotor Rémy Heitz ao explicar o pedido de prisão provisória.

Os três principais acusados admitiram à polícia especial que "a agressão não tinha justificativa e que reagiram principalmente por medo", segundo o promotor. Alegaram "pânico" pelo sentimento de que estavam presos na entrada do estúdio de Zecler, que resistia, segundo eles.

Os policiais negaram "ter dirigido palavras racistas", como assegura Zecler, que declarou ter sido chamado de "negro sujo", um insulto que também foi ouvido por um dos jovens que estava no subsolo do estúdio. Os agentes também rejeitam o caráter "mentiroso da declaração".

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, prometeu na quinta-feira o afastamento dos policiais que "mancharam o uniforme da República", enquanto a "justiça apura os fatos".

O caso, que veio à tona graças à divulgação dos vídeos gravados pelas câmeras de segurança do local, parece ter dado argumentos aos opositores da lei de segurança global, cuja principal medida é limitar a possibilidade de filmar as forças de segurança.

Mais de 130.000 pessoas protestaram no sábado (28), segundo o ministério do Interior, e mais de 500.000 segundo os organizadores, contra a lei em toda a França. Em Paris foram registrados confrontos violentos com agentes de segurança.

- Controvérsia -

O balanço do ministério do Interior indica que 98 policiais foram feridos e 81 pessoas foram detidas. Em Paris. um fotógrafo independente sírio, colaborador da AFP, foi ferido no rosto.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram policiais sendo agredidos por manifestantes, um ato que o ministro Darmanin chamou de "violência inaceitável".

Em uma semana a controvérsia sobre o projeto de lei de segurança global, criticado por jornalistas e defensores da liberdade pública, ganhou força.

A evacuação brutal de um campo de migrantes em pleno centro de Paris na segunda-feira passada e a divulgação do vídeo de espancamento de Zecler provocaram indignação e elevaram o tom do debate. Os vídeos dos dois casos foram assistidos milhões de vezes nas redes sociais.

Macron pediu ao governo que apresente rapidamente propostas para "lutar de modo mais eficaz contra todas as discriminações".

A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul entrou nesta quarta-feira, 25, com uma ação civil pública coletiva contra o Carrefour e a empresa de segurança Vector pelo assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40, espancado por dois seguranças em uma unidade do supermercado na zona norte de Porto Alegre.

A ação, ajuizada na Vara de Tutelas Coletivas da capital gaúcha, cobra indenização de R$ 200 milhões da rede de supermercados por danos morais coletivos e sociais. Segundo a Defensoria, o valor será destinado a fundos de combate à discriminação e defesa do consumidor.

##RECOMENDA##

A Defensoria pede ainda que a rede Carrefour crie em Porto Alegre, em até 10 dias, um plano de combate ao racismo e ao tratamento discriminatório voltado aos funcionários do grupo. Também solicita a adoção de campanhas de conscientização em redes sociais e na mídia. Requer ainda a afixação de ao menos dez cartazes, em cada unidade do conglomerado no Brasil, destacando que discriminação é crime e que denúncias podem ser encaminhadas ao canal "Disque 100".

Há ainda um pedido para que o grupo Carrefour e a Vector custeiem o aparelhamento material da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), anunciada pelo Governo do Estado. Também exige que eles cubram os gastos da Brigada Militar com ações de segurança nos locais onde ocorreram manifestações após a morte de João Alberto.

A Defensoria Pública também requer a interdição da unidade onde ocorreu o crime por cinco dias, 'com o objetivo de diminuir os riscos de possíveis atos hostis que poderão ocorrer em decorrência de manifestações'.

Além das empresas, a fiscal do Carrefour Adriana Alves, que filmou as agressões de perto e ameaçou uma testemunha, e os dois seguranças Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, flagrados espancando o homem negro até a morte, também foram incluídos na ação.

Mais cedo, a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos de Porto Alegre anunciou que abriu dois inquéritos civis para buscar reparação e investigar a política de direitos humanos no supermercado. Há ainda duas frentes de investigação criminais relacionadas ao episódio em curso no Ministério Público Federal. Enquanto a Procuradoria do Rio Grande do Sul apura o funcionamento de mecanismos de fiscalização de empresas de segurança privada pela Polícia Federal, os procuradores do Rio de Janeiro investigam medidas adotadas pela PF e também por supermercados, shopping centers e bancos para enfrentamento do racismo estrutural nos serviços de vigilância.

A Polícia Civil prendeu, na tarde desta terça-feira, 24, a fiscal do Carrefour Adriana Alves por envolvimento na morte de João Alberto Silveira de Freitas, ocorrida na noite da última quinta-feira, 19, nas dependências do supermercado. Com mandado de prisão expedido pela Justiça, ela se apresentou ao Palácio da Polícia na companhia de seu advogado. Durante as agressões, a fiscal ameaçou uma testemunha que gravou o espancamento.

No vídeo, a funcionária de camisa branca, calça preta e crachá pede para a testemunha interromper a gravação. "Não faz isso, não faz isso senão vou te queimar na loja", disse. Em nota, o Carrefour confirmou que ela foi afastada do cargo. "Está presa temporariamente pelo prazo de 30 dias para que possa esclarecer todas as circunstâncias", confirmou a delegada responsável pelo caso Roberta Bertoldo.

##RECOMENDA##

A delegada Roberta afirmou que Adriana tinha autonomia sobre os seguranças para impedir as agressões. "O Departamento de Homicídios entende, a partir das imagens que foram captadas e dos testemunhos colhidos, que Adriana tinha sim o poder, naquele momento, de cessar as agressões, a partir do fato de ser ali superior imediata dos indivíduos que exerciam a segurança", explicou a delegada.

Além dela, já foram presos os dois seguranças Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, que foram flagrados espancado Freitas até a morte. A Justiça decretou a prisão preventiva dos dois. A Polícia Civil já tinha adiantado que outras pessoas, flagradas na cena do crime, estavam sendo investigadas para apurar se houve omissão de socorro.

"Estamos tentando identificar a conduta de cada um deles para ver se houve conduta omissiva. Além disso, buscamos elucidar a motivação do crime e estabelecer uma dinâmica dos fatos", afirmou a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor.

Na sexta-feira, vence o prazo de dez dias para conclusão do inquérito. A Polícia Civil pode pedir prorrogação por mais 15 dias para concluir investigação. Um dia depois do crime, na sexta-feira, a investigação informou que o laudo preliminar do Instituto Geral de Perícias (IGP) apontou a asfixia como causa da morte.

Polícia amplia investigações

A Polícia Civil ampliou as investigações e busca esclarecer se houve omissão de socorro das demais pessoas que assistiram aos dois seguranças brancos espancarem até a morte João Alberto Silveira Freitas.

Enquanto João Beto, como era conhecido, era agredido, outras pessoas acompanhavam o crime. Uma delas é uma fiscal do Carrefour, que ameaçou uma testemunha que gravou o espancamento. Além dela, um outro funcionário do mercado também tem a conduta investigada. Outros possíveis envolvidos também podem ser implicados, afirmou a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor.

Além disso, a delegada Roberta Bertoldo, responsável pela investigação, pediu autorização da Justiça para ouvir os seguranças presos. "Pretendemos ouvir os dois. O inquérito será concluído somente quando concluirmos esta etapa e tivermos o laudo pericial", afirmou. A dupla vai responder por homicídio triplamente qualificado. O inquérito também apura o crime de injúria racial.

O advogado David Leal assegurou que o cliente dele, Giovane, que é policial militar temporário, prestará todos os esclarecimentos. Na quinta-feira, 19, quando foram detidos, os vigias ficaram em silêncio. Na segunda, 23, Leal confirmou que Silva estava fazendo um "bico" no dia da agressão, sem vínculo trabalhista. O Grupo Vector, responsável pela fiscalização do hipermercado, refutou a informação. A reportagem não conseguiu contato com o defensor de Magno Braz Borges.

A ONU declarou nesta terça-feira (24) que o espancamento mortal de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro, por parte de seguranças brancos no supermercado Carrefour de Porto Alegre é um exemplo do "racismo estrutural" do país e pediu uma investigação independente e reformas urgentes.

Porto Alegre, no sul do país, enfrenta vários dias de protesto após a publicação de um vídeo na semana passada em que João Alberto, de 40 anos, era agredido no rosto e na cabeça por um segurança de supermercado enquanto outro guarda o segurava.

Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, disse à imprensa em Genebra que a morte foi "um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil".

"Oferece uma clara ilustração da persistente discriminação estrutural e do racismo enfrentados pelas pessoas de ascendência africana", afirmou, destacando que os funcionários do governo têm a responsabilidade de reconhecer o problema do racismo persistente para conseguir resolvê-lo.

O presidente Jair Bolsonaro minimizou o racismo estrutural no Brasil, um país em que cerca de 55% de uma população de 212 milhões de pessoas se identifica como negra ou parda.

Bolsonaro disse que ele mesmo é "daltônico" nesta questão, enquanto seu vice-presidente Hamilton Mourão gerou indignação na sexta-feira quando afirmou que "não existe racismo" no Brasil.

Segundo a porta-voz do Alto Comissariado da ONU, "o racismo estrutural, a discriminação e a violência que os afrodescendentes enfrentam no Brasil estão documentadas por dados oficiais".

Ravina Shamdasani citou estatísticas que mostram que "o número de vítimas afrobrasileiras de homicídio é desproporcionalmente mais alto do que outros grupos".

"Os brasileiros negros sofrem racismo estrutural e institucional, exclusão, marginalização e violência com, em muitos casos, consequências mortais", destacou.

Embora o Brasil tenha aberto uma investigação sobre a morte de Freitas, Shamdasani pediu que seja "rápida, exaustiva, independente, imparcial e transparente" e insistiu que deve-se analisar se "os preconceitos raciais desempenharam um papel" em sua morte.

Preso após matar João Alberto Freitas, de 40 anos, o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, trabalhava pela 1ª vez como segurança terceirizado do Carrefour no dia do crime. Ele foi contratado para suprir a falta de outro vigia, em jornada de 12 horas. Silva e o outro segurança foram filmados durante o espancamento e afastados do Carrefour. A empresa informou ontem ter afastado também a funcionária de blusa branca, que aparece no vídeo com cenas da agressão e não interfere.

"Aquele tinha sido o primeiro dia dele (Silva) no mercado e o pior, faltava apenas uma hora para ele ir embora. Na verdade, ele foi contratado por um outro colega, que iria realizar o pagamento do serviço diretamente para ele", disse o advogado do PM temporário, David Leal.

##RECOMENDA##

Embora seja vedada atuação de PMs no horário de folga, Silva aceitou o serviço para ampliar a renda familiar, afirmou o advogado. "Ele viu que o bico não servia para ele, mas quis complementar a renda. Ficou com receio de aceitar o trabalho, que acaba sendo mal visto. Ele estudava para concurso e tinha o sonho de ser policial rodoviário federal. Foi no primeiro dia que ocorreu aquela grande fatalidade", disse.

Ele afirma que Silva não tinha vínculo empregatício com o Grupo Vector, empresa responsável pela fiscalização na unidade do Carrefour. Já o Grupo Vector disse que ele havia sido contratado no dia 19, estava devidamente registrado e teve o vínculo rescindido no dia seguinte ao assassinato.

Leal diz que o caso é uma "fatalidade" e diverge da prisão em flagrante. Os dois seguranças vão responder por homicídio triplamente qualificado - por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Na noite de quinta, eles ficaram em silêncio durante a detenção. "Houve homicídio culposo, provavelmente, pela pressão exercida quando ele foi imobilizado. Meu cliente atuou para conter a agressão. Não teve nenhum cunho racial."

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do outro vigia, Magno Braz Borges. O Carrefour não informou a identidade da outra funcionária afastada. A Polícia Civil já havia dito que pode investigar as outras pessoas vistas na cena do crime por omissão de socorro.

"Já ouvimos mais de vinte pessoas no inquérito e vamos seguir realizando as diligências. ", disse Roberta Bertoldo, a delegada responsável pelo caso. A investigação tem prazo de 10 dias para concluir o inquérito a partir da instauração. Caso contrário, os trabalhos podem ser estendidos por mais 15 dias.

Reabertura

A loja do Carrefour onde João Alberto foi morto reabriu ontem em Porto Alegre, após três dias fechada. No local, era possível ver rastros da manifestação de sexta, em que houve invasão e depredação do estabelecimento. Lojistas e frequentadores do supermercado relatam que já flagraram excessos dos vigilantes.

Pichações, cartazes e flores em homenagem à vítima eram visíveis nas grades do Carrefour. Na parte interna, o clima era de tensão; funcionários com semblante preocupado trocavam poucas palavras e o movimento era bastante abaixo do normal. Ênio Dagoberto de Lima, de 67, é ambulante monta sua barraca com chapéus e camisetas na parte externa da loja. Segundo ele, o comportamento agressivo dos seguranças já era perceptível. "Sempre tinha umas mulheres que vendiam macela (planta). Eu vi vezes em que esses dois seguranças colocaram elas para rua com as crianças e tudo", diz.

Em nota, o Carrefour disse dar assistência aos lojistas. Para as lojas com avarias, disse estar em contato com os responsáveis para avaliar medidas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Grupo Carrefour Brasil anunciou nesta segunda-feira, 24, a criação de um fundo para promover inclusão racial e combater o racismo. O aporte inicial será de R$ 25 milhões. O valor é adicional à doação anunciada pela empresa, que reverterá o resultado das vendas realizadas nos hipermercados da rede no país no dia 20 de novembro.

"Sabemos que não podemos reparar a perda da vida do senhor João Alberto. Este movimento é o primeiro passo da empresa para que o combate ao preconceito e racismo estrutural, que é urgente no Brasil, ganhe ainda mais força e apoio da sociedade. Acreditamos que poderemos evoluir e contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária", afirma Noël Prioux, CEO do Grupo Carrefour Brasil no comunicado.

##RECOMENDA##

A empresa afirma que tem se reunindo com entidades representativas da causa e com especialistas que atuam nesta frente.

Além disso, a partir das reivindicações, a empresa diz que anunciará na quarta-feira, 25 de novembro, os compromissos e o plano de ação do trabalho, que nortearão este fundo. As iniciativas compreenderão ações internas e projetos de âmbito externo, visando promover ações que envolvam seus milhares de colaboradores e também seus públicos externos.

Manifestantes promovem um protesto, na tarde deste domingo (22), em frente a uma filial da rede de supermercados Carrefour, dentro de um shopping na zona norte do Rio de Janeiro. O ato começou enquanto o supermercado funcionava com parte das portas fechadas, mas o estabelecimento acabou encerrando suas atividades conforme o movimento foi ganhando adesão de mais manifestantes, informou a rede de televisão por assinatura GloboNews.

O protesto reúne ativistas de diferentes coletivos e organizações da sociedade civil em repúdio ao assassinato do soldador negro João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, por dois seguranças brancos de um supermercado da rede em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, 19. Desde então, diversos protestos ocorrem pelo País.

##RECOMENDA##

Os manifestantes percorreram neste domingo os corredores do shopping com faixas e discursos pedindo o fim do racismo estrutural na sociedade brasileira e da violência que vitima negros no Brasil.

A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto em um supermercado Carrefour de Porto Alegre, está inserida em um contexto em que a população negra é a principal vítima de homicídios no País. Os dois homens flagrados em vídeos durante o espancamento estão presos e devem responder por homicídio culposo.

Segundo o Atlas da Violência 2020, as taxas de morte da população negra apresenta crescimento nacional nos últimos anos. Em 2018, o último que tem os dados compilados no documento, 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas.

##RECOMENDA##

Ainda segundo o atlas, entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição de 12,9%. Além disso, uma pessoa negra tem mais chances de ser morta do que um não negro em todos os Estados brasileiros, com exceção do Paraná.

"Esse caso, na véspera do Dia da Consciência Negra, uma data tão importante de luta e toda a população negra, demonstra algo que está encravado na história brasileira", aponta Amanda Pimentel, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Como ela explica, historicamente, a violência e o racismo sempre estiveram muito próximos na história do País e que, nesse cenário, a população negra e pobre continua sendo a principal vítima de ações de forças de segurança, seja privadas ou públicas. "Os dados mostram que não são casos isolados", comenta.

Para a pesquisadora, se a ação for individualizada para a conduta dos agressores, sem haver uma discussão ampla sobre a preparação dos profissionais que trabalham na área de segurança, esse tipo de situação continuará a se repetir frequentemente. Isso passa, por exemplo, por estereótipos racistas que interpretam como suspeitas a partir da cor da pele, de roupas e do território em que vive. "Todas essas características estigmatizam apenas uma parcela da população, em geral negra e pobre."

Amanda ainda destaca que o uso excessivo da força diante de situações que não demandam essa reação são comuns no País, tanto na polícia quanto na segurança privada - a qual, por vezes, é exercida também por policiais, que, pela precarização da função, procuram outra fonte de renda. "Existe uma desproporcionalidade muito grande entre as forças que se aplicam diante de uma situação concreta que não precisaria daquela reação."

A Anistia Internacional classificou como "inadmissível" a atuação violenta dos agentes. "Mais um corpo negro tombou. João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte nas dependências de uma loja do Carrefour, em Passo D'Areia, Porto Alegre, e é mais uma vítima do racismo estrutural no país."

Autoridades definem caso como exemplo de racismo

A morte de João Alberto Silveira Freitas foi lamentada por autoridades nas redes sociais, como mais um exemplo de violência racial no País. O caso também ganhou repercussão internacional, em que foi destacado que ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra No Brasil, a hashtag #VidasNegrasImportam foi uma das mais utilizadas desde o início da manhã de ontem, assim como a #JusticaporBeto.

No Twitter, o Instituto Marielle Franco, criado pela família da vereadora morta no Rio, lamentou o caso. "Mais uma pessoa negra que é assassinada em um supermercado, um dia antes do dia da consciência negra. Até quando nossas vidas serão descartáveis assim? O Carrefour tem que responder por racismo e assassinato!", diz a postagem.

O presidente do Congresso Nacional e do Senado, Davi Alcolumbre disse que "no Dia da Consciência Negra, o assassinato brutal de João Alberto Freitas, espancado até a morte por seguranças de um supermercado, em Porto Alegre, estarrece e escancara a necessidade de lutar contra o terrível racismo estrutural que corrói nossa sociedade".

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), publicou a hashtag #VidasNegrasImportam e escreveu: "O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbarie está longe de acabar. Racismo é crime!"

O presidente Jair Bolsonaro não havia comentado sobre o caso até o fim da tarde desta sexta-feira (20).

O assassinato de João Alberto, homem negro de 40 anos, por seguranças no Carrefour motivou protestos em diversas cidades, nesta sexta-feira (20), convocados pelas redes sociais. Um grupo se manifestou em frente ao mesmo supermercado onde ocorreu o assassinato, na capital gaúcha, com faixas como "vidas negras importam" e exigindo justiça. Em São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza, os atos tiveram tumulto. Houve também manifestações nas ruas do Rio de Janeiro, em Brasília e de Belo Horizonte. Neste sábado (21), um ato está marcado para acontecer no Recife, às 11h. 

Na capital paulista, manifestantes se concentraram no vão do Masp, na região central, por volta das 16 horas. Mais tarde, o grupo se direcionou para o Carrefour da Rua Pamplona. Uma pequena parte dos manifestantes pegou pedras dos vasos do estacionamento e arremessou contra os vidros do supermercado.

##RECOMENDA##

Os manifestantes também entraram no supermercado e atearam fogo em alguns produtos. Seguranças e funcionários da unidade usaram extintores para apagar as chamas e fecharam a loja com clientes dentro, para evitar novos tumultos.

[@#video#@]

O grupo de seguranças do Carrefour não resistiu à invasão - a própria Polícia Militar não interveio neste momento. A ação durou pouco mais de 10 minutos e clientes ficaram assustados.

[@#galeria#@]

Lideranças da manifestação chegaram a pedir que não houvesse quebra-quebra ou invasão - mas os pedidos não foram atendidos por esse pequeno grupo. A polícia só se aproximou quando todos os manifestantes já tinham saído do supermercado. Até às 20h45, não havia registro de prisões, feridos ou saques ao estabelecimento.

No fim, manifestantes também acenderam velas em homenagem às vítimas da violência.

Porto Alegre

A manifestação em Porto Alegre reuniu milhares de pessoas. No protesto, cruzes e flores foram colocadas em homenagem a João Alberto. Lideranças negras e políticas se revezavam no caminhão de som, além das buzinas de manifestantes que passavam pelo local.

Os manifestantes fizeram caminhada em direção ao estádio de futebol nas imediações do Sport Clube São José, time para o qual João Alberto torcia. Em um momento, um grupo começou a forçar o portão de entrada do Carrefour, que dá acesso ao estacionamento. Entre 20 e 30 pessoas conseguiram entrar no estacionamento e uma parte delas conseguiu chegar à parte térrea da loja, onde ficam pequenas lojas e uma escada rolante que leva ao primeiro andar. Foi possível verificar quebra-quebra no local, muito vidro quebrado, cancelas do estacionamento foram quebradas. O vidro da escada rolante foi quebrado. O Batalhão de Choque foi até o prédio para tentar dispersar os manifestantes.

Uma minoria começou a atirar pedra e fogos de artifício. O Batalhão de Choque respondeu com bomba de gás. Depois disso, alguns outros portões que dão acesso ao hipermercado foram quebrados. Papéis, cartazes, faixas e até plantas secas foram incendiadas.

A fachada da unidade também foi pichada em protesto: "Assassinos". Rojões também foram arremessados contra o mercado.

Outras cidades

No Rio, dezenas de manifestantes fizeram um protesto no supermercado Carrefour da Barra da Tijuca, na zona oeste. Aos gritos de "Assassino, Carrefour", eles chegaram a protestar até mesmo dentro do supermercado, pedindo para que a unidade fechasse. Antes, o grupo se posicionou no estacionamento que fica em frente ao supermercado e exibiu faixas com mensagens como "Parem de nos matar" e "Sem Justiça, sem paz". O ato foi pacífico.

Na capital mineira, o ato foi organizado por entidades que representam a população negra, como o Núcleo Rosa Egipsíaca Negros, Negras e Indígenas. A integrante do coletivo Nzinga, de mulheres negras, Etiene Martins, de 37 anos, afirma que esse tipo de violência não é um episódio isolado. "Acontece todos os dias. Nesse caso, foi filmado, divulgado, e ajuda a denunciar. Só que nem sempre é assim. Muitas vezes acontece e ninguém vê", diz.

Em Fortaleza, há relatos de uso de spray de pimenta pelos policiais e três manifestantes foram detidos. Em Brasília, as manifestações se concentraram no Carrefour localizado na Asa Sul. O ato começou na rua e depois entrou na unidade para pedir seu fechamento.

Em meio à comoção causada pela morte cruel de João Alberto Silveira Freitas nas dependências do Carrefour, os dois candidatos à prefeitura de Porto Alegre repudiaram o fato ocorrido na noite passada. No Dia da Consciência Negra, Sebastião Melo (MDB) e Manuela D'Ávila (PCdoB), que disputam o segundo turno das eleições, mencionaram a importância de ampliar as políticas de combate ao racismo. Além deles, o prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) também prestou solidariedade aos familiares da vítima.

"No dia da consciência negra, um grito por justiça. Não é possível calar frente ao racismo que mata milhares de pessoas negras diariamente. A bancada negra, que ocupará a Câmara, está no Carrefour cobrando responsabilização e prestando solidariedade à família da vítima. #justicaporbeto", publicou Manuela no Twitter.

##RECOMENDA##

"Continuar refletindo e combatendo ideias, atos e manifestações racistas é construir uma sociedade baseada no respeito. Com oportunidades iguais para todos, temos fé que o mundo vai evoluir pelo melhor caminho. #DiaDaConsciênciaNegra #TamoJuntoPortoAlegre #Melo15 #ReagePortoAlegre", postou Melo.

Pelo Twitter, o prefeito Marchezan lamentou o fato ocorrido e manifestou apoio aos familiares de João Alberto. "Meus sentimentos à família e amigos do João Alberto Freitas. Neste Dia da Consciência Negra, em que deveríamos celebrar o povo negro e refletir sobre igualdade e respeito, infelizmente acordamos com esta notícia lastimável. Não podemos aceitar este tipo de violência", escreveu.

Negro, João Alberto Freitas foi espancado e morto por dois homens brancos, um deles é segurança do local, enquanto o outro é um policial militar temporário. Os dois foram presos e responderão por homicídio triplamente qualificado, por asfixia e impossibilidade de resistência da vítima.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) anunciou que entrou com uma denúncia no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) contra o Carrefour. Foi em uma das lojas do grupo que João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte em Porto Alegre. Um dos agressores era segurança do local e o outro, um policial militar temporário.

O caso também fez com que o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos, convidasse o Carrefour para participar de uma live sobre aperfeiçoamento do sistema de justiça no combate ao racismo institucional na tarde desta sexta-feira (20). Paim afirma que há meses recebe notícias da imprensa sobre violência, intolerância e discriminação racial acontecidas nas dependências do Grupo Carrefour". Até o momento, nenhum representante do Carrefour confirmou presença.

##RECOMENDA##

"Não é por acaso que, no Dia da Consciência Negra, o Brasil se choque com o assassinato brutal de uma pessoa negra, realidade cruel que reflete uma sociedade racista e um Estado que, omisso, estimula a barbárie. Nossa solidariedade à família da vítima. E condenação efetiva para os criminosos", afirmou Contarato em nota. O senador também apresentou, no Senado, voto de repúdio contra o Carrefour.

Contarato pede que o CNDH tome as "providências cabíveis para o enfrentamento a essa questão que claramente se mostra como uma afronta aos Direitos Humanos".

Em nota, o Carrefour disse que considerou a morte "brutal" e disse que "adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos". Afirmou também que vai romper o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que o funcionário que estava no comando da loja durante o crime "será desligado". O grupo disse ainda que a loja será fechada em respeito à vítima e que dará o "suporte necessário" à família da vítima.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando