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O novo estudo "Pele Alvo: Bala Não Erra o Negro", elaborado pela Rede de Observatórios de Segurança, um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), mostrou que, em quatro das maiores cidades do Grande Recife, apenas pessoas negras foram mortas pelas forças policiais em 2022. O resultado se repetiu por dois anos seguidos, sendo o mesmo também em 2021. Os municípios com a totalidade de pessoas pretas ou pardas mortas pela polícia foram Recife, com 11 mortos; Igarassu, com sete mortos; Olinda, com seis mortos; e Cabo de Santo Agostinho, com cinco mortes. 

Ainda de acordo com a pesquisa, em Pernambuco a proporção de negros entre as vítimas de operações policiais foi de 89,66%. No total, 91 pernambucanos foram mortos durante alguma intervenção do Estado. Destes, 87 tiveram cor e raça declaradas, e 78 foram identificados como negros (89,65%). Pessoas negras são 65,1% da população de Pernambuco. No estado, além da maioria de vítimas negras, os jovens de 12 a 29 anos representam 67,03% dos casos. 

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O estudo do Cesec divulgado nesta quinta-feira (16) utilizou estatísticas fornecidas pelas polícias do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI). As informações foram cruzadas com os dados de cor e raça divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados levam em consideração a autodeclaração populacional, admitida pelo IBGE, e que enxerga como população negra pessoas declaradas pretas ou pardas.  

“É perceptível o quanto a violência toma uma nova forma ao chegar na juventude. Marginalizados e sem direitos e acessos básicos, corpos negros nas periferias são alvos de execuções brutais pela polícia, tendo o racismo como motor para esses eventos de violência. O descaso é ainda maior quando os casos acontecem no interior do estado, pois ainda existe uma enorme falta de assistência e políticas públicas voltadas para essas regiões. É como se não existissem”, diz Edna Jatobá, coordenadora do Observatório de Segurança de Pernambuco. “Seja na capital ou nas demais cidades, a dinâmica do racismo tem historicamente estigmatizado corpos negros, majoritariamente jovens, sobretudo nas ações realizadas pelas polícias”, completa.  

Brasil 

O número de pessoas mortas pela polícia em apenas oito estados brasileiros chegou a 4.219 em 2022. Desse total, 2.700 foram considerados negros (pretos ou pardos) pelas autoridades policiais, ou seja, 65,7% do total. Se considerados apenas aqueles com cor/raça informada (3.171), a proporção de negros chega a 87,4%.  

 

O número de pessoas mortas por policiais militares em serviço aumentou 86% no terceiro trimestre deste ano no Estado de São Paulo quando comparado com mesmo período do ano passado. Ao todo, PMs estiveram envolvidos em ocorrências que resultaram em 106 mortes, ante 57 em 2022. A Secretaria da Segurança diz que a causa não é a atuação da polícia, "mas sim a ação dos criminosos que optam pelo confronto".

O dado do terceiro trimestre de 2023 leva em consideração as 28 mortes decorrentes da Operação Escudo, que foi desenvolvida pela Secretaria da Segurança no litoral do Estado em agosto. A ação ocorreu após o assassinato de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Denúncias de excessos na atuação policial são investigadas pelo Ministério Público; o governo defende a legalidade da operação.

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Ao todo, policiais civis e militares do Estado mataram 153 pessoas no último trimestre ante 89 no mesmo período do ano passado, alta de 72%. O dado leva em consideração as ações dos agentes em serviço e na folga. A contabilização de mortes na folga ocorre quando elas têm relação com a atividade policial, como quando um agente reage a um assalto, e não considera casos ligados a dinâmicas pessoais dos policiais.

No ano, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) acumula altas sucessivas no indicador de mortes cometidas por policiais. O dado aponta 374 mortes com essas características de janeiro a setembro. No mesmo período do ano passado, foram registrados 293 casos, o que representa alta de 27,6% em 2023.

A alta notada agora representa uma inversão de tendência em relação ao que vinha sendo observado nos últimos anos. Com o avanço no programa de câmeras corporais nos uniformes dos policiais, as mortes dessa natureza tinham caído em 2022 ao patamar mais baixo da série histórica, iniciada em 2001. Entre 2021 e 2022, por exemplo, o indicador reduziu em 39%.

Tarcísio e o secretário de Segurança, Guilherme Derrite, chegaram a criticar o programa de câmeras da polícia ao longo da campanha eleitoral no ano passado. Posteriormente, a gestão modulou o discurso e passou a falar em aprimoramento da iniciativa, que enfrenta entraves para manter o ritmo de expansão de anos anteriores. Estudos têm destacado a eficácia do equipamento e da política de controle na contenção de mortes cometidas pela polícia.

Criminosos optam pelo confronto, diz secretaria

Em nota, a Secretaria da Segurança disse investir "permanentemente no treinamento das forças de segurança e em políticas públicas para reduzir as mortes em confronto, com o aprimoramento nos cursos e aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, entre outras ações voltadas ao efetivo". "Uma Comissão de Mitigação e Não Conformidades analisa todas as ocorrências de mortes por intervenção policial e se dedica a ajustar procedimentos e revisar treinamentos."

A pasta indicou que a causa das mortes não é a atuação da polícia, "mas sim a ação dos criminosos que optam pelo confronto, colocando em risco tanto a população quanto os participantes da ação". "O trabalho das forças policiais nos nove primeiros meses no Estado resultou na detenção de 141.835 infratores, 5,3% a mais que no mesmo período de 2022. No período, ocorreram 283 mortes decorrentes de intervenção de policiais em serviço, representando 0,19% do total de prisões realizadas. Todos os casos dessa natureza são investigados, encaminhados para análise do Ministério Público e julgados pelo Poder Judiciário."

A secretaria acrescentou ainda que investe em políticas públicas "visando à diminuição das mortes de todos os seus policiais". "Entre as medidas está o investimento em tecnologia. Além disso, os policiais contam com apoio de equipamentos e com treinamentos constantes. As mortes são investigadas pela Polícia Civil e por uma divisão especializada da Corregedoria da PM, a 'Divisão de PM Vítima', responsável por acompanhar e atuar para o esclarecimento dos crimes contra os policiais."

Sobre o programa de câmeras, a pasta declarou que ele segue em operação na PM, "com 10.125 em funcionamento em todos os batalhões da capital e região metropolitana, assim como em algumas unidades de Santos, Guarujá, Campinas, Sumaré e São José dos Campos". "A atual gestão promove estudos para expandir o programa para outras regiões do Estado e também realiza uma licitação para a aquisição de 3 mil câmeras para a instalação em viaturas da corporação."

O coronel Cássio Araújo de Freitas, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, pediu em um vídeo publicado numa rede social da corporação para que a tropa "não hesite em utilizar a legítima defesa a seu favor". A postagem foi feita na quarta-feira, 5, horas depois de um tenente aposentado ser morto na Grande São Paulo.

"Estamos bastante preocupados com algumas ocorrências onde o policial militar tem hesitado em utilizar as suas ferramentas de trabalho. E aí vai o meu pedido para vocês e para todos esses amigos aqui que estão aqui presentes: não hesite, não hesite em cumprir a lei, não hesite em utilizar a legítima defesa a seu favor. Faça isso!", declarou o comandante-geral da PM paulista.

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O vídeo foi gravado logo após Freitas participar de um café da manhã da corporação. A legenda da postagem tem como título "Mensagem ao Patrulheiro", e até o meio da manhã desta sexta-feira contava com mais de 13,5 mil curtidas.

No mesmo dia, cinco suspeitos de roubar e matar o tenente aposentado da Polícia Militar paulista Ricardo Boide, de 52 anos, foram presos pela Polícia Civil. O crime aconteceu em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. O tenente, que estava com mais três familiares, foi agredido e levado pelos suspeitos na madrugada. Eles realizaram saques da conta bancária de Boide, que depois foi morto.

No início do mês passado, dois PMs foram atingidos por disparos depois que um homem reagiu à abordagem e roubou a arma de um dos policiais. Um dos agentes foi ferido no abdômen e nas pernas, e outro no rosto.

Este ano, a letalidade policial no estado de São Paulo tem apresentado viés de alta. Até maio, houve aumento em quatro dos cinco meses em relação ao ano passado, quando São Paulo registrou o menor número de mortes por policiais em toda a série histórica.

O Brasil chegou a 987 mortes por dengue este ano, segundo boletim divulgado nesta segunda-feira, 26, pelo Ministério da Saúde. O número é o novo recorde anual de óbitos pela doença, superando o maior patamar anterior, de 986 mortes, registrado em 2015. Desde a década de 1980, quando a dengue ressurgiu no País, não se registraram tantas mortes em um único ano. Como o levantamento considerou os casos registrados até o último dia 17 e ainda há 100 óbitos em investigação, o País ainda pode fechar o ano de 2022 com mais de mil mortes por dengue.

As mortes este ano já superam em mais de 400% as registradas em todo o ano de 2021, quando houve 244 óbitos. O Estado de São Paulo se mantém à frente em número de mortes, com 278 óbitos registrados, seguido por Goiás, com 154. Em uma evidência de que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, está se adaptando aos climas mais frios, os Estados da Região Sul aparecem na sequência, completando a lista dos cinco com maior número de mortes: Paraná (108), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66).

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Mais casos

O número de casos prováveis de dengue chegou a 1.414.797, com taxa de incidência de 663,2 por 100 mil habitantes. Houve aumento de 163,8% em relação aos casos do mesmo período de 2021. A região Centro-Oeste teve a maior incidência até agora, com 2.028,4 por 100 mil habitantes. O município brasileiro com mais registros é Araraquara, no interior de São Paulo, com 8.716,1 casos por 100 mil moradores. Já em número absoluto, Brasília lidera com 68.654.

'Faltou ação em prevenção'

Para o infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), os números indicam que houve descuido com a prevenção da doença. "Ainda nem acabou a contagem, pois tem dados represados e 100 óbitos em investigação, e já batemos o recorde histórico de mortes por dengue em um ano. Ultrapassamos também 1,4 milhão de casos. Com certeza é o pior ano da dengue em todos os aspectos e isso não aconteceu por acaso. Faltou ação do governo federal em prevenção", disse.

O número baixo de casos no ano passado, segundo ele, pode ter contribuído para que a população relaxasse nos cuidados básicos, como a eliminação de criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor. "Dengue é uma luta contínua, é preciso mostrar que a doença mata e isso se faz com campanhas. Em abril deste ano, nós da Sociedade Brasileira de Infectologia fizemos o primeiro alerta para o grande número de óbitos e a necessidade de retomar as campanhas. Não foi por falta de aviso."

Segundo ele, a condição climática também contribuiu para o aumento de transmissão. "Estamos vivendo um ano mais chuvoso por conta do fenômeno La Nina e o mosquito Aedes aegypti precisa de água e calor para se reproduzir. Outra questão é que, por conta do aquecimento global, o mosquito vai expandindo suas fronteiras, reproduzindo onde antes não aparecia. Não é à toa que temos um grande número de casos e de óbitos nos estados da Região Sul."

Mais chikungunya

O infectologista chamou a atenção para o aumento de casos e mortes por chikungunya, doença também transmitida pelo mosquito. "Isso indica que o Aedes ficou livre e solto para se reproduzir por falta de uma ação mais efetiva de controle." Até 17 de dezembro, foram confirmados 93 óbitos por chikungunya no Brasil, quase sete vezes mais que as 14 mortes de todo ano de 2021. O País já registrou 172.082 casos prováveis, 78% a mais do que no mesmo período de 2021.

O Ministério da Saúde informou que monitora de forma constante a situação epidemiológica da dengue e das demais arboviroses no Brasil. A pasta destacou que investe em ações de combate ao mosquito de forma permanente, como a promoção de campanhas que ajudam a orientar a população sobre a prevenção da doença, distribuição de inseticidas e larvicidas aos Estados e municípios, bem como a realização periódica de reuniões com gestores para avaliação do cenário nacional e estratégias de combate.

Com 202 vítimas entre janeiro e junho deste ano, as Polícias Civil e Militar de São Paulo chegaram ao menor índice de letalidade para o primeiro semestre desde 2005, quando o índice foi de 178. Quando observadas apenas as mortes decorrentes de operações ou agentes em serviço e desconsideradas as ocorrências envolvendo de folga, foram 133 registros, o menor total da série histórica iniciada em 2001.

O total de vítimas da letalidade policial neste primeiro semestre representa uma queda de 41,1% quando comparada com o mesmo período do ano passado e de 60,7% em relação ao número de vítimas registrado entre janeiro e junho do ano anterior. Em 2020, foram 514 mortes relatadas, o maior número da série.

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Uma das medidas por trás da diminuição desses números é a implementação de câmeras corporais nas fardas pelo programa Olho Vivo. Instaurada no começo do ano pelo governador João Doria (PSDB), a iniciativa já funciona em 58 batalhões do Estado, com 8,1 mil equipamentos. A expectativa é de que até o fim do próximo mês este total chegue a mais de 10 mil.

QUEDA

"As câmeras têm uma responsabilidade por trás desse número, por ser um programa importante, especificamente para os batalhões que reduziram a letalidade mais do que outros. Mas é importante a gente destacar que essa queda é anterior à implementação dos equipamentos e começa uns meses antes", aponta Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Uma mudança institucional, segundo ela, começou a reverberar após uma operação em Paraisópolis ter resultado na morte de 9 pessoas em 2019. Naquela época, houve uma série de protestos pela capital paulista e um desconforto entre Doria e o comandante da PM, o coronel Marcelo Vieira Salles, que em março do ano seguinte deixou o cargo.

Porta-voz da Polícia Militar, o major Rodrigo Fernandes Cabral explica que essas mudanças começaram a ser adotadas já em maio de 2020 e vão além da implementação das câmeras corporais que, segundo ele, ajudam também a diminuir a desobediência civil. "Essa redução (das mortes) vem de um forte trabalho de gestão do comando da instituição, que começou com o coronel (Fernando) Alencar (de Medeiros) e teve como primeira missão a Comissão de Mitigação de Não Conformidades", aponta.

ANÁLISE

O grupo implementado há dois anos é responsável por analisar todas as ocorrências de morte em operações policiais e, como o nome sugere, verificar o que poderia ter sido feito de diferente ou não durante a ocorrência. Além do trabalho em grupo com as equipes, também é feita uma análise individual para os agentes, que avalia do desempenho em zonas de perigo à saúde mental de cada um.

"Nós optamos em treinar bem os policiais e fazer com que obedeçam orientações e protocolos. Às vezes, a morte ou lesão é pela falta de técnica", diz o major Cabral, apontando que "muitas vezes o policial é absolvido no Tribunal do Júri, mas é demitido da PM".

TASER

Outro ponto que Cabral considera fundamental é priorizar o uso dos "tasers", armas de eletrochoque, em vez das armas de fogo. Hoje, esses equipamentos não letais são usados cerca de 50 vezes por mês. Antes, era uma média de quatro a cinco, segundo o major. "Salvar vidas custa caro", diz, apontando que o preço médio para cada pistola Glock da Polícia Militar é de R$ 800, ante R$ 6 mil dos tasers.

Para Samira, essa virada de chave em São Paulo pode servir de exemplo para outros lugares. "A grande mensagem é mostrar que se o comando da polícia estiver disposto a reduzir a letalidade, consegue. Vimos isso no Estado inteiro, e nem todas as cidades têm equipes com câmeras corporais."

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nesta terça-feira (28), é comemorado o Dia Mundial de Combate à Raiva, data instituída pela Aliança Global para o Controle da Raiva (GARC) e admitida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma maneira de conscientizar a população sobre a segurança dos animais, além de destacar os perigos da doença aos seres humanos.

A raiva é transmitida por meio de um vírus, que pode causar danos fatais em mamíferos, entre eles, seres humanos. O principal receptáculo dessa doença são os animais, domésticos ou selvagens, e, de acordo com os dados de saúde apontados pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em praticamente 100 % dos casos, uma vez transmitida para o homem, o resultado é a morte.

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De acordo com a mestre, médica veterinária e professora de clínica médica de pequenos animais do grupo SER Centro Universitário Universus Veritas (Univeritas), Karina DElia Albuquerque, a raiva é uma doença mundial que pode vitimar cães, gatos, morcegos e carnívoros selvagens e a transmissão ocorre por meio da saliva, mordidas ou arranhões do animal infectado.

Segundo Karina, os morcegos hematófagos, também conhecidos como morcegos vampiros, são os principais transmissores da doença, principalmente para animais herbívoros, bovinos e equinos. “O contágio ocorre por meio de troca de secreções, contato sanguíneo e saliva”, explica.

O período de incubação da raiva ocorre de 15 dias a dois meses, por conta disso, em casos de contaminação, a médica veterinária recomenda manter o animal separado de outros e colocá-lo em observação por 10 dias. “É preciso observar mudanças de comportamento, como agressividade, morder objetos e salivação excessiva”, descreve Karina.

De acordo com professora, a raiva ataca o sistema nervoso central e pode ser fatal. “Devido a isso, o animal pode apresentar-se agressivo, procurar lugares escuros, ter alterações de comportamento, como morder objetos e a si mesmo e ficar com o latido rouco por conta de paralisia das cordas vocais”, destaca.

Para se prevenir da raiva, Karina reforça que o único meio é a vacinação. “Cães e gatos devem ser vacinados anualmente. Procurar um médico veterinário e iniciar um programa de vacinação é a melhor maneira de proteger seu pet contra várias doenças virais e bacterianas”, finaliza.

Após uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro deixar ao menos 25 pessoas mortas na comunidade do Jacarezinho, vários políticos e pessoas famosas se posicionaram na rede social contra essa operação, considerada a mais letal da história do Rio. 

O advogado Joel Luiz Costa, morador da comunidade do Jacarezinho, afirmou que entrou em algumas casas do local, e em todas a polícia usou a mesma dinâmica: "Casas arrombadas, tiros e execução. Não teve tiro de troca, parece execução - um menino morreu sentado na cadeira e ninguém troca tiro sentado numa cadeira", disse. 

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A Anistia Internacional do Brasil afirmou que "a população negra e moradora de favelas e periferias tem seus direitos humanos violados sistematicamente. Direito à saúde, à educação, à vida. O que está acontecendo no Jacarezinho é uma chacina", compartilhou.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL) afirmou que a política de segurança pública é uma insanidade que precisa ser parada. "Quem ganha com essa guerra? O que essa lógica de confrontos permanentes nas favelas trouxe de positivo para o Rio de Janeiro? A violência só cresce e o crime organizado segue fortalecido, com seus braços econômicos e políticos operando a todo vapor", escreveu.

O deputado federal Alessandro Molon (PSB) também se manifestou por meio de suas redes sociais e apontou que o Estado "falha em planejar ações, desrespeitando a decisão do STF que obriga a fazer operações com base em inteligência para, assim, garantir que vidas de civis  agentes de segurança sejam preservadas", pontua.

Enquanto atravessa o pico da segunda onda da pandemia do novo coronavírus, a Itália viu a letalidade do Sars-CoV-2 cair quase 75% em relação à primeira onda da crise sanitária.

Entre os dias 9 e 30 de junho, quando os italianos já iniciavam a retomada das atividades após um rígido lockdown, as mortes causadas pela Covid-19 representavam 14,5% do total de casos confirmados do vírus Sars-CoV-2.

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No entanto, com a evolução dos tratamentos e o aumento da capacidade de testagem e dos leitos de UTI, a taxa de letalidade chegou a 3,8% nos últimos três dias - atualmente, a Itália tem 1.238.072 casos e 46.464 mortes na pandemia.

O índice vem caindo de forma consistente desde o fim de junho, o que reflete o crescimento na capacidade de processamento de exames moleculares (RT-PCR) - os únicos usados no país para monitorar a curva epidemiológica - pelos laboratórios e hospitais italianos.

No último dia 13 de novembro, o Ministério da Saúde registrou um recorde de 254.908 testes RT-PCR concluídos em um período de 24 horas, diferença de mais de 200 mil em relação aos 48.273 de 30 de junho.

Em 27 de março, quando a Itália bateu recorde de mortes para um único dia (919), foram processados apenas 33.019 exames. Até o momento, o país já realizou 19,23 milhões de testes RT-PCR para o novo coronavírus.

Idosos e hospitais

Além disso, na primeira onda da pandemia as autoridades sanitárias italianas recomendavam concentrar a testagem nos pacientes que chegavam ao hospital.

No fim de março, a idade mediana dos casos positivos confirmados era de 62 anos, número que caiu para 48 anos, de acordo com o Instituto Superior da Saúde (ISS) - os idosos são o principal grupo de risco da Covid-19.

Outro fator que contribuiu para a queda da letalidade é o aumento dos leitos disponíveis em UTIs: de 5 mil antes da pandemia para cerca de 11 mil atualmente. Contudo, apesar disso, 16 das 20 regiões do país já ultrapassaram a faixa crítica de mais de 30% das vagas em terapia intensiva ocupadas por pacientes da Covid.

A situação é especialmente grave na Lombardia (86,29%) e no Vale de Aosta (85%), no norte italiano, segundo levantamento do jornal Il Sole 24 Ore.

Apesar da redução da letalidade, em números absolutos a Itália já voltou ao patamar de mortes do primeiro pico da pandemia: foram 731 óbitos em 17 de novembro, maior cifra desde 3 de abril, quando foram contabilizadas 766 vítimas.

Para conter a segunda onda, sete das 20 regiões da Itália já estão em lockdown: Abruzzo, Calábria, Campânia, Lombardia, Piemonte, Toscana e Vale de Aosta. Também está em vigor um toque de recolher das 22h às 5h em todo o território nacional. 

Da Ansa

O novo coronavírus é dez vezes mais letal do que o vírus responsável pela gripe A (H1N1) e surgido no final de março de 2009 no México - disseram autoridades da Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo uma suspensão "lenta" do confinamento.

"Os dados coletados em vários países nos dão uma imagem mais clara desse vírus, de seu comportamento, da maneira de contê-lo. Sabemos que a COVID-19 se espalha rapidamente e sabemos que é letal: dez vezes mais do que o vírus responsável pela pandemia de gripe de 2009", declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva virtual feita de Genebra.

Enquanto a nova pandemia de coronavírus deixou mais de 115.000 mortes em todo o mundo desde que surgiu na China em dezembro, segundo um balanço estabelecido pela AFP com fontes oficiais, a gripe A (H1N1) deixou 18.500 mortos, segundo a OMS. No entanto, a revista médica Lancet estimou o número de mortes entre 151.700 e 575.400.

A pandemia causada pelo vírus A (H1N1) levou a campanhas maciças de vacinação.

Os países ocidentais, particularmente os europeus, e a OMS foram criticados por uma mobilização considerada superdimensionada a cada ano, a gripe sazonal deixa entre 250.000 e 500.000 mortos, segundo autoridades mundiais de saúde.

Na falta de uma vacina contra o novo coronavírus SARS-Cov-2, a OMS insta os países a lançarem campanhas de diagnóstico generalizadas entre os casos suspeitos, colocá-los em quarentena e acompanhar seus contatos. Seu diretor reconheceu, contudo, que, na "era da globalização, significa que o risco da COVID-19 se reintroduzir e ressurgir pode continuar".

"Por fim, o desenvolvimento e a distribuição de uma vacina segura e eficaz serão necessários para impedir completamente a disseminação", enfatizou.

Dada a falta de testes e o congestionamento de muitos hospitais pelos infectados, os governos implementaram medidas de confinamento que levaram à paralisia de setores da economia.

Entretanto, nos últimos dias, as pressões se multiplicam para retomar a atividade econômica.

O diretor da OMS recomendou que os países encontrem "o equilíbrio entre as medidas para combater a mortalidade por COVID-19 e outras doenças devido aos sistemas de saúde sobrecarregados e ao impacto socioeconômico" da pandemia.

Ele reiterou que as medidas de contenção serão progressivamente suspensas.

"Sabemos que em alguns países, os casos dobram a cada 3 a 4 dias. Enquanto o COVID-19 se espalha muito rapidamente, diminui muito mais lentamente", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus. "Isso significa que as medidas devem ser suspensas lentamente e com controle", insistiu.

O Brasil ocupa a 8ª maior taxa de letalidade do mundo, quando verificado o número de pessoas contaminadas por coronavírus e aquelas que vieram a óbito. Atualmente, o índice no Brasil está em 4,2%, enquanto nos Estados Unidos, que têm mais de 300 mil casos confirmados e 8.141 mortes, essa taxa é de 2,7%.

A Itália é o país com maior índice de letalidade: 12,3%, ou seja, de cada 100 pessoas contaminadas, 12 morreram. No Reino Unido, a letalidade é de 10,3%. A Espanha registra hoje 9,4% de índice de letalidade.

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O índice no Brasil tende a cair, segundo o Ministério da Saúde, porque o número de testes no País ainda é reduzido. Com o aumento dos testes, crescerá o número de pessoas contaminadas, o que reduz o cálculo em relação às vítimas fatais da doença.

Em todo o mundo há, atualmente, 1,173 milhão de casos confirmados em todo o mundo. São 62,8 mil mortos. O Brasil ocupa o 16º lugar em número de casos e 14º em número de mortos.

O Ministério da Saúde informou neste sábado, 4, no seu último boletim epidemiológico, que o País está vivendo, "em alguns locais, a transmissão localizada para aceleração descontrolada". "Estados que implementaram medidas de distanciamento social ampliado devem manter essas medidas até que insumos e equipes de saúde permitam um distanciamento social seletivo", afirmou a pasta no documento.

Pouco mais de dois meses depois do registro dos primeiros casos, o coronavírus já superou o surto de pneumonia causada pelo vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), em 2002 e 2003.

A Comissão Nacional de Saúde da China informou que o coronavírus matou, desde dezembro, 908 pessoas ante 774 mortes registradas no surto da Sars.

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O novo coronavírus assusta pela rapidez da sua transmissão. Enquanto o vírus da Sars demorou três meses para infectar pessoas fora da China - país onde foi registrado o primeiro caso -, o novo coronavírus alcançou o feito em um mês.

O vírus da Sars infectou 8 mil pessoas em cerca de dez meses de surto. Já o novo "membro" da mesma família viral já deixou mais de 40 mil pessoas doentes em dois meses. Há ainda quase 29 mil casos suspeitos.

Segundo especialistas, o novo vírus, embora ainda em estudo, parece ter características que o fazem mais transmissível e adaptável ao ser humano. Porém, a transformação radical pela qual a China passou nas últimas duas décadas pode ter ajudado o novo corona a ser mais eficiente na busca por novos hospedeiros.

"Há aspectos ligados ao vírus e relacionados à nossa cultura e sociedade que influenciam na velocidade de transmissão", diz Celso Granato, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor médico do Grupo Fleury.

A sociedade chinesa de hoje é completamente diferente daquela de duas décadas atrás. E, no caso de um surto, isso tem aspectos positivos e negativos.

Segundo o Banco Mundial, a China de 2002, que vivenciou o surto de Sars, tinha só 38% da sua população em área urbana. A China de 2020 tem mais de 60% dos seus habitantes morando em cidades, o que aumenta o adensamento populacional e o contato entre as pessoas. Nesse período, a China ganhou pelo menos 100 milhões de pessoas.

Na China de 18 anos atrás, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita era de U$ 1.110 (cerca de R$ 4.808). Quase duas década depois, o valor cresceu mais de oito vezes, passando a U$ 9.460 (R$ 40,8 mil). O crescimento econômico e a modernização levaram mais empresas ao país e propiciaram que mais chineses viajassem para destinos domésticos e internacionais.

"Quando aconteceu a epidemia da Sars, entre 2002 e 2003, o PIB chinês representava 4,4% do PIB mundial. Hoje, representa 15%. É a segunda maior economia do mundo, mais pessoas foram para a classe média e o fluxo de chineses no exterior é impressionante", diz Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito-Rio.

Para Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, o avanço da tecnologia e a consequente globalização trazem como "efeito colateral" um risco maior de propagação de doenças. E na China, o risco acaba maximizado.

"Com mais tecnologia, o tráfego de pessoas é cada vez mais intenso. Em 2019 foram 1,5 bilhão de viagens internacionais. É um cenário internacional de propagação de doenças. Mas pelas características demográficas da China e da relação que existe entre o homem e o animal, imaginávamos que a primeira pandemia viria de lá", diz Daisy. "A primeira foi no México, com o surto de H1N1, mas agora estamos vendo o novo coronavírus."

Para Deisy, considerando que os deslocamentos internacionais e a globalização só vão se intensificar, é importante investir em saúde e ciência para lidar com novas ameaças.

Características

Quanto às características de cada vírus que o tornam mais ou menos transmissível, especialistas destacam vários fatores, como a via de transmissão, sua capacidade de se adaptar a um novo hospedeiro, o tempo que sobrevive suspenso no ar e sua velocidade de replicação. Os vírus de transmissão respiratória costumam ser os mais "eficientes" na contaminação. Mas outro ponto importante é o quanto o vírus consegue se adaptar a diferentes tipos de hospedeiro - animal ou humano.

"Alguns têm mais facilidade de aderir às nossas células e aos nossos receptores virais. Esse parece estar se adaptando melhor ao ser humano do que os coronavírus da Sars e da Mers (Síndrome Respiratório do Oriente Médio)", explica Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

O local onde o vírus gosta de ficar também pode interferir no seu potencial de transmissão. "O vírus da Sars ficava mais concentrado na parte baixa do sistema respiratório, nos pulmões. Outros vírus ficam mais concentrados na parte superior, como nariz, garganta. Esses são mais transmissíveis", diz Granato.

A boa notícia é que, caso o novo coronavírus esteja se adaptando bem ao ser humano, a tendência é que ele continue provocando quadros mais leves. "Ele tende a provocar doenças menos graves por uma questão evolutiva", afirma Granato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assinou decreto que acaba com incentivo à redução de mortes provocadas por policiais. O texto foi publicado nesta terça-feira, 24, no Diário Oficial do Rio, três dias após a morte de Ágatha Félix, garota de 8 anos atingida por um tiro de fuzil nas costas durante operação no Complexo do Alemão. A menina foi enterrada nesta segunda-feira, 23.

O decreto de Witzel altera o Sistema Integrado de Metas, criado em 2009, que prevê pagamento de bônus a policiais caso consigam reduzir uma série de indicadores de criminalidade do Estado. Entre as categorias para calcular as gratificações, está a letalidade violenta.

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Na versão original, esse grupo era composto por indicadores de homicídio, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e auto de resistência (hoje, chamado de mortes decorrentes de intervenção de agentes do Estado). Com a alteração de agora, no entanto, o programa passa a desconsiderar as mortes em confrontos com a polícia.

Recorde

Sob a gestão de Witzel, a polícia do Rio tem batido recorde de letalidade. Em julho, 194 pessoas foram mortas em ações do Estado, o maior número desde o início da série histórica, em 1998.

Em 2019, até agosto, 1.249 pessoas foram mortas pela polícia nessa situação. No mesmo período de 2018, esse número foi de 723 - houve aumento de 72,7%, portanto.

Procurado pela reportagem, o governo do Estado não se pronunciou sobre a mudança nas regras de bonificações a policiais até a publicação desta matéria.

Na segunda-feira, Witzel concedeu entrevista coletiva na qual lamentou a morte da criança, mas culpou usuários de drogas e defendeu as operações realizadas por sua gestão. "É indecente usar caixão como palanque", declarou o governador.

As Polícias Militar e Civil do Rio mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998. As mortes continuam no trimestre em curso.

Só em quatro dias de maio, da sexta-feira, dia 3, à segunda-feira, dia 6, pelo menos 13 pessoas morreram por ação policial: quatro no morro do Borel (zona norte), uma na Rocinha (zona sul) e oito nas favelas do Complexo da Maré (zona norte).

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Especialistas mostram preocupação com a escalada de mortes. Ela começou, dizem, em 2018, durante a intervenção federal na segurança, e cresceu no governo Wilson Witzel (PSC), cuja política de segurança é de confronto com os suspeitos.

"Nós já vínhamos numa crescente, especialmente no ano passado, a partir da intervenção federal chefiada pelos militares", disse o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análises da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/UERJ). "Agora, com a nova política de extermínio oficializada pelo governo Witzel, o que caberia esperar era justamente isso. O contrário seria uma grande surpresa." O aumento foi de 18% sobre o primeiro trimestre de 2018, quando houve 368 mortos em supostos confrontos.

Moradores da Maré denunciaram que a operação na comunidade, auge da ofensiva policial nos primeiros dias de maio, incluiu disparos feitos a partir do helicóptero que sobrevoou o complexo. Imagens de estudantes uniformizados correndo pelas ruas das favelas para se proteger dos tiros circularam nas redes sociais. Houve também reclamações contra tiros feitos a partir da aeronave que atingiram telhados de casas na região.

A política de confronto também vitima os policiais. Em 2019, até 9 de maio, segundo a Polícia Militar, 18 policiais da corporação haviam sido mortos - 3 em serviço, 11 de folga e 4 reformados.

Angra

Dois dias antes da ação na Maré, Witzel postou vídeos no Twitter, expondo na prática sua política de confronto. Apresentou imagens da sua participação em uma operação policial em Angra dos Reis, no sul do Estado. Há meses, o tráfico de drogas na cidade da Costa Verde fluminense é disputado por criminosos de facções rivais. A ação policial não teve resultados significativos.

Com policiais armados da Coordenadoria de Operações Especiais (Core) da Polícia Civil - mesma unidade que agiu na Maré -, ostentando fuzis e com um helicóptero ao fundo, Witzel anunciou que ia "botar fim na bandidagem". "Acabou a bagunça", bradou. Depois, contou estar "sobrevoando uma das áreas mais perigosas" do município.

Para a antropóloga e cientista política Jacqueline Muniz o envolvimento de Witzel em ações policiais é ilegal. "Ele dispõe de poder político-administrativo, não de poder de polícia. Ele tem de determinar a política de segurança, as estratégias, as prioridades. Toda brincadeira que ele faz como policial esbarra na ilegalidade e no abuso de poder."

São Paulo

Policiais do Estado de São Paulo mataram 213 pessoas suspeitas em operações no primeiro trimestre deste ano. A quantidade representa uma alta de 8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em nota, o governo do Rio afirmou que "sua política de segurança é baseada em inteligência, investigação e aparelhamento das Polícias Civil e Militar".

"O Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar trabalha com atiradores de elite há vários anos. Os efetivos do COE são constantemente treinados. Todas as operações, com a participação de atiradores de alta precisão ou não, são precedidas de planejamento técnico e seguem protocolos previstos em lei", diz a nota, acrescentando que há a exigência de instauração de procedimento apuratório quando as ações resultam em mortes.

O Estado diz que está valorizando seus policiais e vem investindo em equipamentos policiais como coletes, viaturas e armamentos. "Três mil PMs serão convocados até o fim do ano." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A proposta apresentada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, na segunda-feira, 4, poderá fazer com que o número de pessoas mortas em ações policiais aumente, de acordo com o que apontam especialistas na área. Na interpretação deles, ao ampliar as possibilidades de legítima defesa, a medida, que ainda será submetida ao crivo do Congresso Nacional, reduz o controle sobre a letalidade dos órgãos de segurança pública e passa uma mensagem de impunidade aos agentes que usam força excessiva. O ministro disse que as alterações "não são licença para matar".

A medida sugerida por Moro surge em um momento em que a letalidade policial já está em alta. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse número chegou a 5.159, 14 casos por dia, representando um aumento de 20,7% em relação aos registros de 2016 - e um crescimento de 133% em comparação a dados de cinco anos atrás, quando o número estava na casa das 2,2 mil mortes.

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O pacote do ministro propõe alterar o Código Penal para prever que "o juiz poderá reduzir a pena até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção". Diz ainda que "considera-se em legítima defesa: o agente policial ou de segurança pública que, em conflito armado ou em risco iminente de conflito armado, previne injusta e iminente agressão a direito seu ou de outrem; e o agente policial ou de segurança pública que previne agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes".

Para o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), Cristiano Maronna, as alterações se mostram como uma ampliação "do espaço legal para o exercício do uso da força". "Teríamos que tentar limitar o uso da força letal, exigindo proporcionalidade, progressividade e redução de danos. O que percebemos é que a proposta empodera a violência policial, passando uma mensagem simbólica de estímulo à letalidade policial", disse.

Marona vê como contraditório a intenção de Moro em reduzir a criminalidade violenta, mas propor maiores brechas para a atuação violenta da força policial. "Os policiais são treinados para agir com técnica, com um protocolo a ser seguido, sob pena de se caracterizar abuso da força. Mas se o próprio Estado dá uma interpretação mais elástica ao comportamento, o que há é um estímulo à violência. As medidas deveriam ir na direção oposta, buscando protocolos mais rígidos", acrescentou.

De acordo com os dados do Fórum Brasileiro de Segurança, a polícia mais letal em números absolutos em 2017 foi a do Rio de Janeiro, com 1.127 mortes, seguida por São Paulo (940) e Bahia (668). Na taxa por 100 mil habitantes, a polícia mais letal é a do Amapá (8,5), seguida pelo Rio (6,7) e Acre (4,6).

A proposta de Moro recebeu críticas do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que já investigou em CPI a atuação de milícias no Estado fluminense. O parlamentar disse que "na prática, se aprovada, a medida dará salvo conduto jurídico a policiais que cometeram execuções".

Freixo lembra que com essa política, as baixas se acumulam dos dois lados. "A política do matar ou morrer sacrifica os próprios agentes de segurança, lançados numa guerra insana e sem sentido. Em 2017, em todo o País, foram assassinados 367 policiais, cerca de um por dia, mas a proposta de Moro não tem uma linha sequer sobre a valorização e as urgentes melhorias nas condições de trabalho dos agentes, cujos direitos humanos também são constantemente desrespeitados."

O parlamentar lembra que, na prática, a punição a policiais, hoje, já é bastante difícil de ser alcançada. "A legislação atual já prevê que não há crime quando o policial age em legítima defesa, usando a força de maneira proporcional para proteger a sua vida ou a de outra pessoa. Inclusive, na CPI dos Autos de Resistência da Alerj, da qual fui relator, constatamos que mais de 90% das investigações sobre supostas execuções sumárias são arquivadas pelo Judiciário do Estado."

Em nota, o Instituto Sou da Paz se juntou às críticas feitas ao projeto. "O afastamento da pena correspondente a excesso cometido em injusta agressão ou violência, por razões de 'medo, surpresa ou violenta emoção', na prática corresponde a uma arbitrariedade a ser concedida segundo a conveniência do juízo".

Moro saiu em defesa da proposta ao dizer, durante entrevista coletiva nesta segunda, que "não existe nenhuma licença para matar". Para o coronel Elias Miler da Silva, presidente da Associação dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo, a proposta de Moro dá mais segurança para a atuação policial. "No campo teórico, é muito fácil falar. Mas a medida não é para proteger aquele policial que executa. Esse comete crime de homicídio doloso e deve ser punido. Mas serve para aquele policial que na hora da reação em um confronto armado, em vez de dar dois tiros, dá cinco, num quadro de legítima defesa. Então, isso vem dar segurança para o policial atuar", disse.

Silva exemplifica. "Uma vez fizemos uma situação simulada com promotores numa pista de tiro na Academia Barro Branco (estabelecimento de ensino da Polícia Militar de São Paulo, localizado na capital). No primeiro teste, o promotor atirou num refém. No segundo, no repórter. E isso porque era uma situação simulada, colocamos eles lá para mostrar a tensão envolvida. Então, tudo isso tem de ser ponderado porque na rua não tem perdão. E, dependendo do promotor, isso pode ser visto como excesso."

Contribuiu para que o Brasil atingisse o recorde histórico de homicídios o fato de 2016 ter sido também o ano mais violento das polícias - civis e militares. As corporações foram responsáveis por 4.224 óbitos registrados durante operações, uma alta de 25,8% em relação a 2015 (quando houve 3,3 mil casos). Em 2009, o total foi de 2.177 registros do tipo. Especialistas acreditam que, apesar de haver confrontos em que o uso da força é legítimo, o dado indica que a atuação dos agentes tem sido excessiva. Por outro lado, o assassinato de policiais também está em alta, o que dificulta o trabalho dos agentes de segurança.

Em oito anos, 21.897 pessoas morreram em ocorrências que foram registradas como "decorrentes de intervenção policial". Os casos têm de ser apurados para que a conduta do policial seja classificada como legítima ou excessiva, podendo fazer com que ele responda por homicídio. "Muitos casos não são investigados, então não sabemos em quantos deles os policiais usaram a força de forma legítima e em quantos o que aconteceu foi execução", disse a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

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Pela primeira vez, a entidade levantou informações sobre as vítimas desse tipo de letalidade: 81,8% tinham entre 12 e 29 anos e 76,2% eram negras. "A juventude está muito vulnerável a esse tipo de ação policial", acrescentou Samira.

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, a melhoria na segurança pública no País passa por adoção de políticas específicas contra o aumento da letalidade policial. "Hoje, as soluções adotadas são duas: ou a gente coloca dois policiais com cara de mau numa viatura ou a gente mata. Não temos nenhuma outra solução efetiva de segurança."

Alcadipani classifica como "escândalo" os números. "Se matar resolvesse, o Brasil era o local mais seguro do mundo. Hoje a sociedade pede para matar e os comandos da polícia aceitam esses pedidos."

O maior crescimento foi notado no Estado do Rio. De 2015 para o ano passado, os mortos pela polícia saltaram de 645 para 925. "Mas não é só lá. É uma tendência que se repete em outros Estados", diz Samira. Em São Paulo, o número passou de 832 para 856. A maior taxa foi constatada no Amapá, onde houve 59 mortes por 100 mil habitantes em ações policiais.

Vítimas

A pesquisa também mostrou que o número de policiais assassinados está crescendo: 437 foram vítimas de homicídio em 2016, aumento anual de 17,5%. Entre as vítimas, 63% tinham de 30 a 49 anos.

"Isso mostra que a vítima não é aquele policial que acabou de sair da academia, mas um agente com certa experiência", destaca Samira.

A maioria das mortes (70%) acontece quando eles estão fora de serviço. Os pesquisadores acreditam que parte das vítimas estava prestando serviço extra, o bico, para complementar a renda. A outra parte morre ao reagir a ocorrências de roubo, quando acabam sendo baleados. Uma terceira motivação é a execução planejada de agentes.

Reforço

A reportagem questionou a Secretaria da Segurança do Rio de Janeiro sobre o aumento, mas não obteve resposta sobre esse assunto. A pasta enviou uma nota em que comenta aspectos gerais do combate à criminalidade. "A secretaria tem como principais diretrizes a preservação da vida e da dignidade humana, o controle dos índices de criminalidade e a atuação qualificada e integrada das polícias", afirma.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse desenvolver ações para reduzir a letalidade, mas destacou que "a opção pelo confronto é sempre do criminoso".

"A maior parte dos confrontos acontece nos casos em que policiais atuam para impedir roubos. Nos últimos cinco anos, cerca de 60% dos confrontos entre policiais militares e criminosos ocorreram nesta situação, na qual os criminosos estão armados e colocando a vida de pessoas em risco."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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