Tópicos | rohingyas

Os sistemas do Facebook "promoveram a violência contra os rohingyas", e a Meta "deve indenizações" às vítimas por ter permitido em sua plataforma a propagação de mensagens de ódio contra essa minoria étnica, destaca a Anistia Internacional (AI) em um relatório divulgado nesta quinta-feira (29).

“Os algoritmos perigosos da Meta, dona do Facebook, bem como a busca desenfreada por lucro, contribuíram significativamente para as atrocidades cometidas pelo Exército birmanês contra o povo rohingya em 2017”, denuncia a Anistia.

##RECOMENDA##

A organização de defesa dos direitos humanos estima que "a Meta sabia, ou deveria saber, que os sistemas de algoritmos do Facebook amplificam a propagação de conteúdo anti-rohingya nocivo em Mianmar", mas "a empresa se absteve de agir".

Em 2017, centenas de milhares de muçulmanos rohingyas fugiram de uma repressão sangrenta do Exército e de milícias budistas em Mianmar. Cerca de 850.000 membros dessa minoria muçulmana vivem atualmente em acampamentos improvisados em Bangladesh. Outros 600.000 se encontram no estado de Rakhine.

“Nos meses e anos que antecederam essas atrocidades, os algoritmos do Facebook intensificaram a onda de ódio contra os rohingyas, contribuindo para o surgimento da violência na vida real”, estimou Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia.

Três ações judiciais foram movidas no Reino Unido e nos Estados Unidos por representantes dos rohingyas e estão sendo examinadas. Organizações de jovens refugiados rohingyas também abriram um processo contra a Meta junto à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Para a AI, é "absolutamente essencial" que a Meta realize uma "ampla reforma do seu sistema de algoritmos, pois, caso contrário, o drama que vincula a empresa aos rohingyas pode se reproduzir em outras partes do mundo, principalmente onde há violência étnica".

Dezenas de milhares de rohingyas, refugiados em Bangladesh, protestaram neste domingo (19) para exigir que possam retornar para Mianmar, de onde fugiram da repressão do regime militar.

"Não queremos ficar nesses acampamentos. Ser um refugiado é um inferno. Já chega. Vamos para casa", clamou um de seus líderes, Sayed Ullah, em um discurso.

"Mais de 10.000 rohingyas participaram da concentração, nos campos sob minha jurisdição", disse à AFP o policial Naimul Haque, referindo-se ao maior acampamento de refugiados do mundo, Kutupalong.

De acordo com a polícia e com os organizadores do protesto, mais de mil rohingyas se manifestaram em cada uma destas 29 instalações insalubres, onde estão amontoados em barracas feitas de lona, chapas de metal e bambu.

Em 2017, cerca de 750.000 rohingyas, muçulmanos, fugiram das perseguições do Exército em Mianmar, país de maioria budista, e buscaram asilo no vizinho Bangladesh. Juntaram-se aos mais de 100.000 refugiados já instalados neste país, vítimas de abusos anteriores.

Os rohingyas exigem obter direitos de cidadania antes de voltarem para Mianmar.

Em março, os Estados Unidos reconheceram, pela primeira vez, que os rohingyas foram vítimas de "genocídio", cometido pelo Exército birmanês. Em uma das manifestações, Mohammad Haris disse, neste domingo, que não quer "morrer como refugiado".

"Quero meus direitos. Quero voltar para minha casa, onde posso estudar e pensar no meu futuro", afirmou.

Na semana passada, pela primeira vez em quase três anos, autoridades de Bangladesh e de Mianmar fizeram uma reunião por videoconferência para discutir a questão do repatriamento dos refugiados.

"Sofremos muito nesse barco!" Um grupo de refugiados rohingyas chegou à costa da Indonésia esta semana, depois de passar vários meses no mar, em uma jornada marcada pela fome, sede e a violência dos traficantes de seres humanos.

Pelo menos uma mulher morreu durante a travessia e seu corpo foi jogado ao mar, disseram à AFP vários refugiados que desembarcaram na ilha de Sumatra.

O grupo de quase 100 rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida em Mianmar, incluindo 30 crianças, estava em um barco precário. Os pescadores os trouxeram para Lhokseumawe, uma cidade na província de Aceh.

As autoridades indonésias inicialmente recusaram-se a permitir o desembarque, citando o risco de infecção por Covid-19. Mas os habitantes sentiram pena e decidiram levar os refugiados exaustos para a costa, onde receberam comida e roupas e foram registrados.

Um refugiado contou à AFP a violência com que os traficantes os trataram depois que deixaram um campo de refugiados em Bangladesh para tentar chegar à Malásia.

- Abandonados à deriva -

"Eles nos torturaram, nos machucaram. Uma pessoa morreu", denunciou Rashid Ahmad, 50 anos, em um centro de imigração de Lhokseumawe. "Sofremos muito nesse barco!"

"No começo, havia comida, mas quando acabou, os traficantes nos levaram para outro barco e nos deixaram à deriva, sozinhos", explicou.

Habibullah, outro refugiado, explica que "todos foram espancados". "Eles cortaram minha orelha, me bateram na cabeça".

Segundo Korima Bibi, uma mulher rohingya de 20 anos, duas pessoas morreram durante a viagem.

"Não tínhamos comida nem água suficiente. Alguns tiveram que beber água salgada ou urina", disse, coberta por um véu branco e agachada no chão com o filho. "Ainda assim, sobrevivemos".

A AFP não conseguiu verificar as afirmações. As versões dos sobreviventes contadas à AFP e à Organização Internacional para as Migrações (OIM) coincidem que os rohingyas vieram do campo de refugiados de Balukhali em Cox Bazar, Bangladesh, e que fugiram da perseguição em Mianmar.

Durante a árdua jornada, uma mulher faleceu deixando seus dois filhos sozinhos. Três outros menores, incluindo uma menina de 10 anos, fizeram a viagem desacompanhados, informou um porta-voz do grupo à OIM. Há também uma mulher grávida.

- Compaixão -

Os traficantes cobravam US$ 2.300, segundo a OIM, para levá-los à Malásia, um destino procurado pelos rohingyas porque é um país relativamente rico, com uma população muçulmana majoritária.

Os refugiados rohingyas costumam fugir de Mianmar ou Bangladesh, onde um milhão deles vive em campos superlotados depois de escapar da violência do exército birmanês em 2017.

Os traficantes afirmam que os refugiados teriam uma vida melhor no sudeste asiático, mas a jornada de milhares de quilômetros para a Malásia ou Indonésia é muito perigosa.

Desde o início da pandemia de Covid-19, vários países que lhes permitiam atracar passaram a rejeitá-los invocando o risco à saúde.

Nos últimos meses, o número de refugiados rohingyas que vagam pelo mar aumentou para cerca de 1.400 este ano, alerta a OIM, que estima em pelo menos 130 as mortes no mar.

Na terça-feira, os moradores da costa ficaram furiosos com a recusa das autoridades em deixar os refugiados desembarcarem. E decidiram buscá-los por conta própria.

"Como muçulmano, senti compaixão, especialmente porque havia crianças e mulheres. Isso partiu meu coração", disse Saiful Hardi, morador de Lhokseumawe.

A iniciativa foi aplaudida por organizações de direitos humanos. E os testes dos refugiados para a Covid-19 deram negativos.

O futuro dos refugiados permanece muito incerto. As autoridades indonésias dizem que podem enviá-los de volta ao mar com comida.

"Vocês nos salvaram e agradecemos mil vezes", disse Korima Bibi aos indonésios. "Agora, tudo depende de vocês. Quaisquer que sejam suas leis, nós as respeitaremos."

Pelo menos 15 pessoas morreram, e dezenas estão desaparecidas, após um naufrágio frente à costa de Bangladesh, de uma embarcação que transportava refugiados rohingyas rumo à Malásia - anunciaram autoridades locais nesta terça-feira (11).

"Até o momento, recuperamos 15 corpos e salvamos cerca de 70 pessoas", disse à AFP o chefe do serviço da Guarda Costeira, Naim ul Haq, acrescentando que as tarefas de busca permanecem em toda zona do Golfo de Bengala.

Ao menos 130 refugiados, principalmente mulheres e crianças, viajavam em um lotado barco de pesca que navegava para a Malásia, uma perigosa viagem de cerca de 2.000 quilômetros, anunciou a Guarda Costeira de Bangladesh.

Esta foi uma das embarcações que partiram, ontem, do distrito de Cox's Bazar, no sudeste de Bangladesh. Nesta região, ficam os acampamentos de refugiados da minoria muçulmana rohingya, onde há quase um milhão de pessoas vivendo em condições bastante precárias.

Vários rohingyas fogem de Mianmar para escapar da violência e tentam deixar para trás os campos de refugiados, abordando navios precários para buscar uma vida melhor na Malásia.

Cerca de 200.000 rohingyas se manifestaram neste domingo em um campo de refugiados de Bangladesh para marcar o aniversário do que chamaram de "Dia do Genocídio", no segundo ano de seu exílio de Mianmar.

Cerca de 740.000 integrantes desta etnia muçulmana fugiram do estado de Rakain (oeste de Mianmar) em agosto de 2017 após uma operação de repressão por parte do exército deste país de maioria budista.

Famílias inteiras se uniram em condições muito difíceis a cerca de 200.000 rohingyas vítimas diretas das perseguições, e já estão instaladas no outro lado da fronteira, em Bangladesh.

No total, cerca de um milhão de pessoas estão atualmente distribuídas em cerca de 30 campos de refugiados do distrito fronteiriço de Cox's Bazar, no sudeste do país.

Sob o sol, crianças, mulheres com véus e homens vestidos com panos coloridos marcharam neste domingo aos gritos de "Deus é grande, longa vida aos rohingyas", no aniversário do que denominam "Dia do Genocídio".

Os presentes cantaram uma música já popular cuja letra evidencia a falta de esperança de seu povo: "O mundo não presta atenção à desgraça dos rohingyas".

"Vim para exigir justiça pela morte dos meus dois filhos. Continuarei lutando até meu último suspiro", declarou à AFP Tayaba Khatun, de 50 anos.

- 'Queremos voltar' -

Os rohingyas não são reconhecidos oficialmente como minoria pelo governo de Mianmar, que os considera bengalis e lhes nega a nacionalidade apesar de que muitas famílias vivem em Rakain há gerações.

A ONU denunciou um "genocídio" deste coletivo, chamando à perseguição penal dos generais birmaneses. Mianmar nega estas acusações, afirmando que apenas se defendeu dos ataques de rebeldes rohingyas contra postos policiais.

Um líder comunitário, Mohib Ullah, declarou neste domingo que os refugiados desejam voltar a Mianmar, mas com três condições: ter garantias sobre sua segurança, obter a nacionalidade birmanesa e poder voltar a suas localidades de origem.

Segundo Ullah, tentaram dialogar com o governo birmanês, mas até agora não obtiveram resposta. "Fomos espancados, assassinados, estuprados em Rakain. Mas não importa, continua sendo nosso lar. E queremos voltar".

Os refugiados organizaram orações em homenagem às vítimas. Alguns balançavam bandeiras birmanesas reivindicando a nacionalidade.

- 'Repatriação perigosa e inviável' -

No sábado, a polícia de Bangladesh declarou que tinha abatido dois rohingyas suspeitos de matar um responsável do partido no poder.

A segurança havia sido reforçada em Kutupalong, o maior campo de refugiados do mundo, onde vivem atualmente mais de 600.000 rohingyas.

"Centenas de policiais, soldados e agentes da guarda fronteiriça foram mobilizados para impedir qualquer incidente violento", indicou à AFP um responsável policial local, Abul Monsur.

Bangladesh e Mianmar assinaram um acordo de repatriação de refugiados em 2017, mas duas tentativas, em novembro passado e nesta semana, fracassaram porque eles se negam a partir.

A Anistia Internacional afirmou que a violência atual no estado de Rakain "torna perigosa e inviável qualquer repatriação imediata".

A estrela de Hollywood Angelina Jolie visitou nesta segunda-feira um campo de refugiados rohingyas em Bangladesh.

Depois de chegar ao sul da nação asiática, Jolie, que é enviada especial da Acnur, a agência de refugiados da ONU, dirigiu-se imediatamente ao campo de Teknaf, perto da fronteira com Mianmar, onde cerca de 720.000 integrantes dessa minoria muçulmana se refugiram em agosto de 2017.

##RECOMENDA##

A atriz de 43 anos não fez comentários, mas o subchefe de polícia do distrito de Cox's Bazar, Ikbal Hossain, contou à AFP que Jolie ficou de visitar outros campos nesta terça-feira.

Jolie está em Bangladesh para verificar as necessidades humanitárias nos campos rohingyas.

Ela anteriormente visitou refugiados rohingyas em Myanmar, em julho de 2015, e na Índia, em 2006.

Bangladesh recebeu em suas terras mais de 700 mil rohingyas fugidos da perseguição em Mianmar desde 2017.

Jolie vai concluir sua visita depois de se reunir com o primeiro-ministro Sheikh Hasina e outras autoridades em Daca.

A ONU deve lançar em breve um novo apelo internacional de US$ 920 milhões para atender às necessidades dos refugiados rohingyas e das nações que os abrigam, segundo a Acnur.

O processo de repatriação dos refugiados rohingyas para Mianmar não começará nesta terça-feira (23), como haviam estabelecido as autoridades bengalis e birmanesas no fim do ano passado - afirmou uma fonte do governo de Bangladesh nesta segunda (22).

"Não fizemos os preparativos necessários para repatriar essas pessoas a partir de amanhã. Ainda é necessário muita preparação", declarou à AFP Kalam Azad, do Departamento de Ajuda aos Refugiados e de Repatriação de Bangladesh.

Em 23 de novembro, os dois países assinaram um acordo, estabelecendo o regresso dos refugiados rohingyas. Desde outubro de 2016, mais de 750 mil deles chegaram a Bangladesh.

Essas repatriações tinham de começar "em dois meses", ou seja, no máximo até 23 de janeiro.

Cerca de um milhão de muçulmanos vivem hoje em gigantescos acampamentos de refugiados no sul de Bangladesh. Pelo menos 655.000 deixaram Mianmar no final de agosto para fugir da campanha de repressão do Exército.

O governo de Mianmar recusou a entrada da relatora recomendada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, segundo informou a organização nesta quarta-feira (20). O motivo da ida da relatora seria para fazer um acompanhamento sobre a condição em que vive o país, já que a região está em crise humanitária por causa repressão contra a minoria muçulmana rohingya.

"O Governo de Mianmar informou à relatora especial Yanghee Lee que nega qualquer acesso ao país e cooperação enquanto durar seu mandato", disse o Escritório de Direitos Humanos da ONU em anúncio.

##RECOMENDA##

Era esperado que Lee fosse para Mianmar em janeiro para analisar questões relacionadas aos direitos humanos no país, inclusive os abusos praticados contra os rohingyas, no estado de Rakain.

Mais de 620 mil integrantes de minoria mulçumana escaparam para Bangladesh, onde se encontram como refugiados, em razão de uma onda de violência em que, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras, ao menos 6,7 mil rohingyas foram assassinados nos primeiros 30 dias de conflito, que teve início em agosto.

 

Por Beatriz Gouvêa

O êxodo desse grupo muçulmano é o motivo maior da delicada visita do papa Francisco a Mianmar e a Bangladesh, mas, nos acampamentos onde os rohingyas se abrigam no sul bengali, os refugiados muçulmanos se perguntam: "mas quem é o Papa?".

Dos quase 900 mil muçulmanos rohingyas de Mianmar que encontraram abrigo no vizinho Bangladesh, apenas um punhado já ouviu falar do chefe da Igreja Católica.

##RECOMENDA##

Quando a AFP mostra uma foto do jesuíta de 80 anos, as hipóteses emergem: um rei rico, um astro americano, um político de Bangladesh, ou um líder muçulmano.

"Acho que já o vi na imprensa, mas o que ele faz? É importante?", pergunta Nurul Qadar, de 42 anos, que faz parte da maré humana de mais de 620 mil pessoas que fugiram desde o final de agosto da violência em Mianmar, qualificada pela ONU de limpeza étnica.

Considerados estrangeiros em um país onde 90% da população é budista, os rohingyas são marginalizados e têm acesso limitado ao sistema escolar.

Vivendo em uma sociedade pobre e rural, onde o universo é muitas vezes limitado à aldeia e a seus arredores, seus meios de abertura para o mundo são reduzidos. Sem educação, muitos deles são analfabetos.

Imã rohingya no grande campo de deslocados de Kutupalong, Hassan Arraf é uma das poucas pessoas entrevistadas pela AFP a conhecer o papa. Referindo-se a sua reputação de homem próximo ao povo, ele espera que a aura do pontífice possa mudar suas vidas.

"O modo como (os birmaneses) nos torturam, nenhuma religião no mundo permite. Ele é um grande líder de outra religião, mas acredito que seja um homem sábio", diz à AFP.

"Acho que ele será capaz de entender o que estamos passando. E poderá pedir ao governo de Mianmar para resolver essa questão e pacificar a região", acrescentou.

- 'Símbolo de reconciliação' -

Nos últimos meses, o papa falou sobre a situação dos rohingyas, "torturados e mortos por causa de suas tradições e fé". Mas em seu primeiro discurso oficial em, Mianmar na terça-feira, o argentino evitou pronunciar a palavra "rohingya", tabu nesse território agitado pelo nacionalismo.

Sua agenda em Bangladesh - de quinta-feira até sábado - não inclui deslocamento para os grandes acampamentos de refugiados no extremo sul do país, perto da fronteira com Mianmar. Uma ausência que muitos refugiados lamentam.

"Se sua visita é sobre nós, ele deveria ter vindo aqui para nos encontrar e conversar. Deveria ver como vivemos, como mal sobrevivemos", disse Hami Tusang, em uma fila à espera da distribuição de alimentos no campo de Balukhali.

O homem logo atrás, Azim Ullah, diz que lamenta que o papa não possa testemunhar o sofrimento dos rohingyas.

"Sendo um líder tão poderoso, ele deveria ver o que passamos. Todas as coisas horríveis que possam vir à sua cabeça, nós já experimentamos", desabafou, imitando um gesto de degola.

"Ele deveria ser nosso porta-voz. Deveria exigir os nossos direitos, a nossa cidadania (em Mianmar). Caso contrário, tais visitas são inúteis", considerou.

Durante sua viagem, primeira visita de um papa a Bangladesh desde 1986, o pontífice se reunirá na sexta-feira em Dhaka com uma pequena delegação de refugiados rohingyas.

"Ele vem como um espírito e um símbolo de reconciliação", disse à AFP James Gomes, diretor regional da Caritas, entidade humanitária da Igreja Católica.

"Esperamos que sua visita tenha um impacto muito positivo e crie uma boa solução entre os dois países", completou.

Em frente a eles, o rio, intransitável. Para milhares de rohingyas que não conseguem atravessá-lo por falta de meios, nem retornar às suas cidades por não terem comida, a odisseia em direção a Bangladesh termina nesta costa.

Alguns esperam há uma semana, outros há duas, em frente à foz do rio Naf, fronteira natural entre Mianmar e Bangladesh.

##RECOMENDA##

"Queremos ir a Bangladesh. Se ficarmos aqui, morreremos de fome. Mas não temos dinheiro" para pagar os atravessadores, explica uma mulher rohingya à AFP, em uma das únicas visitas a esta zona do conflito, fechada pelo Exército birmanês, que o governo organizou para alguns embaixadores da região e para a imprensa.

Mais de meio milhão de rohingyas (de um total de um milhão que vivem em Mianmar) conseguiram fugir para Bangladesh desde o final de agosto para escapar do que as Nações Unidas chamam de limpeza étnica.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), quase um refugiado a cada cinco chega em Bangladesh em um estado de "desnutrição grave". E apesar das promessas do governo birmanês, a ajuda humanitária, da qual a maioria dos rohingyas depende, é distribuída a conta-gotas.

Na praia de areia preta de Gaw Du Thar Ya, os mais pobres esperam um milagre, olhando para a margem de Bangladesh, a poucos quilômetros do estuário.

Neste campo improvisado, há um grande número de crianças, várias delas recém-nascidas, que suas mães tentam proteger como podem, com guarda-chuvas, sob um sol escaldante.

Os vilarejos vizinhos foram reduzidos a cinzas e restam apenas as paredes de uma mesquita.

No distrito de Maungdaw, no coração da zona de conflito entre os rebeldes rohingyas e o Exército birmanês, dezenas de aldeias foram queimadas e muitas outras abandonadas. As cadeiras no chão refletem a pressa com que os habitantes tiveram que deixar suas casas.

A crise começou após o ataque a postos de polícia pelos rebeldes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA), que desencadeou uma forte ofensiva do Exército birmanês.

Os primeiros refugiados que chegaram em Bangladesh explicaram que fugiam dos combates e dos abusos do Exército birmanês, mas aqueles que estão chegando agora falam da fome.

"Agora somos obrigados a comer o arroz que havíamos jogado fora", diz Khin Khin Wai, de 24 anos, que vive na aldeia de Ah Nout Pyin. Ao seu lado, crianças tocam a barriga pedindo comida, enquanto a delegação passa.

Esta pequena aldeia, em meio a arrozais, está agora cercada pelos povos da etnia rakhine, budistas.

Mas mesmo antes da crise, os rohingyas não podiam se locomover sem a autorização deles.

De qualquer forma, "os ônibus não circulam mais, não podemos sair do nosso povoado", lamenta, afirmando que não recebem ajuda humanitária há semanas.

- Fome como arma -

Nesta região remota, 74% da população vive abaixo da linha de pobreza e grande parte dela sobrevive graças à ajuda humanitária internacional.

"Estamos enfrentando uma situação muito complexa. As poucas aldeias que podiam nos fornecer ajuda foram atacadas porque receberam comida", explica um funcionário humanitário, que pediu anonimato.

Nas últimas semanas, as intimidações desse tipo por parte dos budistas se multiplicaram, de acordo com numerosos testemunhos coletados pela AFP.

Para os refugiados recém-chegados em Bangladesh, a fome é a nova arma dos habitantes budistas desse grupo étnico.

Sentado sob uma árvore, em frente ao gigantesco campo de refugiados de Balukhali, Rafir Ahmed está exausto após a viagem.

Em sua aldeia no distrito de Buthidaung, explica este agricultor de 50 anos, os rohingyas foram proibidos de fazer compras no mercado vizinho. Sua família, de oito filhos, teve que sobreviver com os poucos suprimentos de peixe e arroz que puderam carregar na fuga.

"Felizmente, os vizinhos nos deram comida, é graças a eles que nós sobrevivemos", disse ele.

A Guarda Costeira de Bangladesh encontrou nesta quinta-feira (31) os corpos de 17 rohingyas, incluindo algumas crianças, depois do naufrágio de duas embarcações no momento em que tentavam fugir da violência em Mianmar.

Ao menos 18.500 integrantes desta minoria muçulmana, perseguida em Mianmar, encontraram refúgio no vizinho Bangladesh na última semana, após uma intensificação dos combates entre o exército birmanês e os rebeldes.

Muitos rohingyas arriscam suas vidas em embarcações improvisadas para tentar cruzar o rio Naf, que estabelece uma fronteira natural entre Mianmar e o extremo sudeste de Bangladesh. O rio Naf é considerado muito perigoso no atual período de chuvas de monção.

Na quarta-feira, as autoridades encontraram os corpos de duas mulheres e duas crianças após um naufrágio. Uma tragédia que se repetiu nesta quarta-feira com duas embarcações. O balanço anunciado pelas autoridades é de 17 mortos.

Mais de 400.000 refugiados rohingyas estão em Bangladesh depois da fuga de outras ondas de violência no passado. O país, de maioria muçulmana, não está satisfeito com o fluxo e decidiu intensificar a segurança na fronteira.

Os rohingyas são considerados estrangeiros em Mianmar, um país com 90% da população budista, e são apátridas, apesar da presença de algumas famílias há algumas gerações no país.

Eles não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas nem aos hospitais. Nos últimos anos, o auge do nacionalismo budista exacerbou a hostilidade contra o grupo, com vários confrontos que deixaram mortos.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando