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A Lime, empresa de patinetes elétricos, anunciou que irá recolher todas as unidades em cerca de 20 países, entre eles Brasil, Estados Unidos e Chile, à medida que se amplia a pandemia de Covid-19.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, a empresa informou que também irá suspender seus serviços na Espanha, França e Áustria, e manterá na Austrália e Coreia do Sul.

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"A Covid-19 representa um desafio sem precedentes para cidades e comunidades de todo o mundo", disse Brad Bao, diretor-executivo e fundador da Lime. "Assim como vocês, estamos preocupados com as cidades que amamos e chamamos de lar, as pessoas a quem servimos e nossos colegas em campo (...) Estamos interrompendo o serviço para ajudar as pessoas a permaneceram em casa e ficarem a salvo."

A empresa assinalou que, nas cidades onde os patinetes ainda estão disponíveis, estão sendo tomadas medidas extra de precaução, como "a limpeza de todas as partes do aparelho em que as pessoas tocam". Também recomendou ao usuário vestir luvas, por precaução.

Segundo Bao, a empresa continuará ajustando suas operações à medida que a situação evolui.

Em meio à pandemia do novo coronavírus, que já afetou diversos países do mundo, alguns eventos estão sendo cancelados ou adiados para evitar aglomerações de pessoas. Dessa vez, o prefeito de San Isidro, Gustavo Posse, anunciou por meio de seu Twitter que o Lollapalooza da Argentina foi adiado.

O festival de música aconteceria nos dias 27, 28 e 29 de março na cidade de San Isidro, que fica a 24 quilômetros de Buenos Aires, a capital do país.

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Por razões de conhecimento público relacionadas ao coronavírus, informo que o Lollapalooza não será realizado em San Isidro nas datas programadas: 27, 28 e 29 de março. O festival será remarcado. Vamos mantê-lo informados, escreveu o prefeito.

O Lollapalooza Chile também sofreu alterações. A conta do Twitter oficial do festival postou o seguinte comunicado:

O Lollapalooza Chile informa que estamos trabalhando para reprogramar a edição de 2020 do festival para a segunda metade deste ano. Diante desse fato sem precedentes, nossa prioridade máxima é preservar a saúde e a segurança do público, artistas e equipe, e acatar as medidas preventivas das autoridades públicas e de saúde. Em breve compartilharemos mais informações sobre as datas reprogramadas através de nossa página na web e redes sociais. Agradecemos pela sua paciência.

Vale ressaltar que, até o momento, o festival está confirmado no Brasil. O evento acontecerá nos dias 3, 4 e 5, em São Paulo.

Estudantes, em sua maioria secundaristas, protestaram nesta quarta-feira (11) em vários pontos de Santiago, em uma onda de manifestações convocada em razão do segundo aniversário do governo do presidente conservador, Sebastian Piñera. Os protestos também coincidem com os 30 anos da volta à democracia ao Chile, após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

"Não são 30 pesos, são 30 anos", foi uma das frases mais ouvidas durante as manifestações de ontem, em referência ao descontentamento em razão de uma indiferença às questões sociais durante as três décadas de governos democráticos cristãos, socialistas e de direita que se alternaram no poder desde a queda de Pinochet.

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Houve fortes confrontos fora do Instituto Nacional, um emblemático colégio público no centro de Santiago, que tem sido cenário de vários embates entre estudantes e a polícia. Nas manifestações de ontem, alguns alunos usaram um jaleco branco e um capuz para cobrir os rostos.

Em razão dos protestos, a importante Avenida Alameda teve o seu trânsito interrompido por várias horas. Manifestações também aconteceram em outros pontos de Santiago, em meio a uma crise social que atinge o país desde outubro.

O metrô de Santiago teve de fechar várias de suas estações. No entanto, a rede de transporte público anunciou a suspensão somente de duas rotas que seguiam para áreas ao sul de Santiago.

"Nosso governo e esse presidente precisam da ajuda de todos os chilenos para superar esses tempos difíceis e desafiadores", disse Piñera, em uma cerimônia no palácio presidencial de La Moneda, que estava cercado com forte esquema de segurança. Os protestos também ocorrem durante a campanha pela mudança da Constituição, que pode ser aprovada em plebiscito, marcado para abril. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma multidão de cerca de dois milhões de pessoas tomou as ruas de Santiago em uma manifestação que marcou o Dia Internacional das Mulheres. A marcha se concentrou na Praça Itália, centro da capital chilena e símbolo dos protestos que há quatro meses pressionam o governo de Sebastián Piñera e já conseguiram mudanças, como a convocação de um referendo sobre a elaboração de uma nova Carta Magna. A atual foi elaborada ainda na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Muitas manifestantes portavam lenços verdes, símbolo de um movimento surgido na Argentina em defesa da legalização do aborto no país e rapidamente replicado pelo mundo, além de cartazes pedindo ações do governo e da sociedade para enfrentar a violência contra as mulheres. Apesar de pacífica, houve confrontos com a polícia em alguns pontos de Santiago.

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"Somos uma geração de mulheres que gritou e acordou. Não temos mais medo, nos atrevemos a falar e lutar", disse Valentina Navarro, de 21 anos, à agência Reuters.

A grande maré roxa e verde, cores que representam o 8 de março e a luta pelo aborto, respectivamente, dominaram as ruas entre faixas, gritos e performances artísticas.

Entre elas, a mais repetida foi "Um estuprador no seu caminho", de autoria do coletivo feminista chileno Las Tesis. "E a culpa não era minha, nem de onde eu estava, nem de como me vestia. O estuprador é você", diz o refrão da música, que viralizou na internet, foi adaptada para várias línguas e reproduzida em diversos países. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os manifestantes chilenos retomaram as ruas de Santiago em novos episódios de violência. Os confrontos com a polícia levaram 283 pessoas à prisão e deixaram 76 policiais feridos. O transporte público da capital foi temporariamente interrompido. Os protestos contra o presidente, Sebastián Piñera, começaram em outubro passado e provocaram a maior crise social desde a redemocratização do país, em 1990.

As manifestações foram convocadas para o primeiro dia após as férias de verão dos chilenos. Desde a tarde de segunda-feira (2), milhares de manifestantes se reuniram na Praça Itália, no centro de Santiago. Alguns manifestantes forçaram a interdição do metrô, de linhas de ônibus e atearam fogo para formar barricadas nas ruas. As cidades de Antofagasta, Temuco e Concepción também registraram confrontos. Os distúrbios seguiram pela madrugada adentro até a manhã de ontem.

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Pelo menos 15 estações ferroviárias da região metropolitana de Santiago também fecharam as portas. As principais estradas que dão acesso à capital mostravam nesta terça-feira (3) resquícios das manifestações, com semáforos no chão e destroços de barricadas espalhados pelo asfalto.

O ministro do Interior, Gonzalo Blumel, informou que várias delegacias foram atacadas. "Durante a noite, o que vimos foi crime, pura e simplesmente", afirmou o ministro. "A cidade funcionou, as pessoas puderam realizar suas atividades. Mas à tarde e à noite houve violência. São atos de violência que nada têm a ver com demandas sociais", afirmou.

Os protestos no Chile começaram com o aumento das tarifas do metrô de Santiago. No entanto, rapidamente se transformaram em uma reivindicação de reformas sociais em um país em que a educação, a saúde e a previdência são, em grande parte, privadas. Desde então, 31 pessoas morreram e milhares ficaram feridas. Piñera decretou estado de emergência após o início dos protestos, levando os militares às ruas pela primeira vez desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, que durou de 1973 até 1990.

O presidente chileno tem sido pressionado a expandir a agenda de reformas sociais de seu governo, desde o auge da crise social, no ano passado. Entre as concessões está a possibilidade de ser promulgada uma nova Constituição - um plebiscito sobre o tema foi marcado para o dia 26 de abril.

A campanha começou na semana passada e parte das legendas da coalizão de centro-direita de Piñera é contra a substituição da Carta.

A violência diminuiu em janeiro e fevereiro, quando a maioria dos chilenos estava em férias. Agora, porém, um intenso calendário de manifestações circula nas redes sociais, com protestos marcados para quase todos os dias de março.

Uma das marchas será organizada no domingo, Dia Internacional da Mulher. As feministas devem se unir nos protestos aos grupos indígenas, ambientalistas, sindicatos e estudantes. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Chile confirmou nesta terça-feira o primeiro caso positivo do novo coronavírus no país: um homem de 33 anos, que viajou por cerca de um mês pelo Sudeste Asiático, confirmou o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.

"Confirmamos que temos o primeiro caso para o coronavírus em nosso país", disse o ministro em coletiva de imprensa, sobre o homem que se encontra hospitalizado e em boas condições no hospital de Talca, cidade localizada 350 km ao sul de Santiago.

Prestes a chegar ao Brasil em sua turnê latina, o Maroon 5 registrou uma passagem conturbada pelo Chile. A banda tocou por lá, no Festival Viña del Mar, na última quinta (27), e acumulou críticas e reclamações do público por conta da postura de seu líder, Adam Levine. O cantor até se desculpou depois da repercussão negativa.

O show do Maroon 5 no festival chileno foi televisionado e assistido por cerca de 60 milhões de pessoas. No entanto, muitos foram os que reclamaram da performance da banda, sobretudo a de Adam Levine, e os comentários na internet foram incontáveis. "Me sinto idiota por ter perdido meu tempo com esse show. Até o Adam Levine queria ir embora", foi um deles. 

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Para piorar a situação, um vídeo em que Adam aparece deixando o palco aborrecido e reclamando vazou nas redes sociais. Nas imagens, o cantor diz: "Imbecis, cidade de merda. Isso não foi um show foi um programa de TV". Após a polêmica, o artista se desculpou nos stories de seu Instagram. "Às vezes quando há falhas técnicas, tento me concentrar o máximo possível em cantar, porque senti que era o melhor a se fazer para as 60 milhões de pessoas que assistiam ao show pela TV. Eu queria parecer bem e tentei esconder esse aborrecimento. Lamento ter decepcionado vocês e peço desculpas".

Um representante do Maroon 5 disse à Billboard norte-americana que, além dos problemas técnicos - um telão que não funcionava  e a falta de retorno para Levine -, a banda também estava preocupada por ter sido alertada sobre "distúrbios civis no país". Segundo ele, tudo isso "criou uma situação muito difícil para a banda apresentar seu show normalmente". O Maroon 5 se apresenta no Recife na próxima quinta (5). 

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A ONU afirmou nesta quinta-feira (27) que o Chile, ao lado de Brasil e Colômbia, tornou-se uma das principais portas de saída da cocaína que é apreendida nas cidades espanholas de Valência e Algeciras, importantes portas de entradas da droga na Europa.

"O tráfico de drogas, particularmente o cloridrato de cocaína, por via marítima dos portos do Chile para a Europa, continuou aumentando nos últimos anos", apontou o relatório anual do órgão da ONU responsável pela análise do narcotráfico em todo o mundo.

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"A droga continua sendo transportada da Colômbia, principalmente por via marítima, com lanchas, embarcações submersíveis e semissubmersíveis, veículos subaquáticos não tripulados e ainda boias equipadas com dispositivos de rastreamento por satélite", explicou o órgão internacional.

O relatório também indica que a Colômbia está exportando a pasta base de cocaína para ser processada fora do país, "fato que corrobora as apreensões dessa substância" em águas internacionais e em outros países da América do Sul, como Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.

Os principais mercados de entorpecentes para criminosos da América do Sul continuam sendo Estados Unidos e Europa. Além das rotas marítimas do Chile, Brasil e Colômbia, nos últimos anos, organizações criminosas transportaram também grandes quantidades de entorpecentes por meio da Venezuela.

Nesta quinta, mais de três toneladas de cocaína da América do Sul, que chegariam ao Porto de Marselha, no sul da França, foram apreendidas na Itália em uma operação policial internacional.

A droga, que tem um valor estimado de mercado de ¤ 230 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão), estava embalada em 90 sacolas esportivas escondidas no meio de uma carga de bananas. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A delegação do Internacional já está em Santiago para a sua estreia na segunda fase preliminar da Copa Libertadores, mas a preocupação com a situação no Chile ainda é grande para a partida contra a Universidad de Chile, nesta terça-feira (4). O final de semana foi de mais conflitos entre torcedores chilenos e os "carbineros", policiais federais que fazem o policiamento ostensivo nas cidades chilenas.

Após a interrupção do jogo entre Coquimbo Unido e Audax Italiano e os conflitos registrados durante a partida entre Universidad de Chile e Curicó Unido, neste final de semana, pelo Campeonato Chileno, a Conmebol confirmou o confronto do Internacional nesta terça-feira, mas com uma hora de antecedência - passou de 19h15 para 18 horas (de Brasília). O objetivo é evitar que os torcedores deixem o estádio Nacional à noite.

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Os conflitos se agravaram com a morte do torcedor Jorge Luís Mora, de 22 anos, que foi morto atropelado por um caminhão da polícia perto do estádio Monumental, onde o seu time, o Colo-Colo, venceu o Palestino por 3 a 0, na última terça-feira, pela primeira rodada do Campeonato Chileno.

Apesar do momento político, a Conmebol e os clubes mantiveram o jogo, com a garantia do Ministério do Interior do Chile, que é responsável pela segurança pública. Com isso, as vendas de ingressos que haviam sido suspensas no sábado voltaram a ocorrer nesta segunda-feira.

"Nossa preocupação é com o adversário. Viemos para fazer nosso jogo, respeitando todo o cenário adverso que tem, mas essa questão extracampo que reiniciou infelizmente com a morte do torcedor do Colo-Colo. A gente espera que o futebol não pague esse preço. Estamos aqui para cumprir um compromisso internacional. A gente torce para que tudo ocorra normalmente", afirmou o presidente do Internacional, Marcelo Medeiros, em entrevista na chegada da delegação ao hotel em Santiago.

A aprovação do presidente Sebastián Piñera caiu para 6%, a pior avaliação de um presidente chileno desde o retorno da democracia, em 1990, segundo pesquisa do Centro de Estudos Públicos (CEP), o instituto mais confiável do país.

O levantamento mostrou que o apoio ao presidente conservador caiu 19 pontos porcentuais ante levantamentos anteriores, enquanto a rejeição subiu 32 pontos e chegou a 82%. A pesquisa mostrou ainda que 47% consideram que a democracia no Chile funciona mal ou muito mal. 

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Dois meses de protesto com forte tom contrário aos políticos colocaram o governo do presidente Sebastián Piñera contra as cordas e embaralharam o cenário eleitoral chileno. Potenciais candidatos evitam se apresentar como porta-vozes das reivindicações para não parecerem oportunistas, mas analistas colocam alguns nomes em ascensão em meio à crise.

Dois deles, considerados fortes postulantes a substituir Piñera, vêm de lados opostos do espectro político. O jornal O Estado de São Paulo falou com ambos sobre os protestos e a perspectiva de chegarem à presidência.

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Beatriz Sánchez, de 49 anos, jornalista sem experiência em administração pública, foi a grande surpresa na última eleição, em 2017, ao obter 20,2% dos votos e quase chegar ao segundo turno. Antiga eleitora dos socialistas, decidiu formar um grupo mais à esquerda e tornou-se o nome mais consolidado entre os progressistas. No poder, seria mais radical no aumento do papel do Estado.

Manuel José Ossandón é um técnico agrícola de 57 anos que disputou a última eleição primária do Renovação Nacional, de direita, partido do presidente. Perdeu a indicação para Piñera e voltou a se concentrar em seu mandato de senador. Dono de um discurso considerado populista por seus inimigos, "Cote" Ossandón baixou o próprio salário quando o Parlamento passou a discutir a questão. É o nome conservador com maior potencial eleitoral.

Os atos que abalaram o governo começaram em outubro, contra um aumento de R$ 0,16 no preço do metrô de Santiago. Logo, os manifestantes passaram a exigir mudanças em aposentadoria, educação, saúde e na concessão dos serviços públicos em geral. Acuado, Piñera colocou o Exército na rua, disse estar em guerra e decretou estado de emergência por 8 dias.

A repressão encorpou o movimento e obrigou o governo a uma série de recuos. A popularidade de Piñera bateu em 12%, o que o levou a sua maior concessão, que tende a facilitar as demais: abrir as portas a uma nova Constituição, medida elogiada tanto por Beatriz quanto por Ossandón. Com este passo, após décadas de pressão contra a Carta de 1980 - escrita sob governo de Augusto Pinochet -, Piñera retoma fôlego para terminar seu mandato, que vai até 2021. O país não tem reeleição.

Desde a redemocratização, em 1990, centro-direita e centro-esquerda se alternam no poder e mantêm uma linha econômica estável. Como os protestos carregam uma forte revolta contra o Estado e o sistema político, especialistas veem como possíveis beneficiários da crise um populista, alcunha com a qual Ossandón diz não se importar, ou de um nome desassociado dos partidos tradicionais, caso de Beatriz.

Entrevista: 'O país tinha uma sociedade que explodia para dentro’

Entrevista com Beatriz Sánchez, representante do bloco de esquerda Frente Ampla:

Os protestos no Chile são inexplicáveis para quem só vê indicadores econômicos. O que ocorreu?

Somos o 15.º país mais desigual do mundo e um dos mais desiguais da América Latina, juntamente com o Brasil. Temos uma acumulação obscena de riqueza em 1% da população e alguns dos índices de depressão mais altos do mundo, segundo a OMS. Temos também altas taxas de suicídio entre crianças e adolescentes. Muitos estudos relacionam altos índices de endividamento com doenças mentais. Certos números mostram o Chile como aluno mais comportado do bairro. Quem pesquisar mais, verá que essa revolta era anunciada. Houve manifestações explosivas em 2006 e 2011, mas esta é realmente outra coisa. Tínhamos uma sociedade que explodia para dentro. Isso mudou.

Segundo o Banco Central, no ano passado, 73% do que uma família recebia eram dedicados a dívidas. Isso explica por que países mais desiguais que o Chile, como Brasil, não passam por uma revolta como esta?

Temos uma classe política pequena, que pertence a uma elite muito concentrada. Tanto na centro-esquerda quanto na centro-direita. A nossa elite vem de quatro ou cinco colégios e duas universidades de Santiago. São basicamente homens. Tínhamos uma sensação, apesar de o Chile ter todos esses problemas, de que havia certo respeito às instituições. Mas há uns cinco anos foram aparecendo altos índices de corrupção, casos em que empresários praticamente entregavam leis que deveriam ser aprovadas aos parlamentares. Muitas instituições começaram a rachar, incluindo os carabineros (polícia militar), que considerávamos incorruptíveis. Percebemos que são corruptos como a polícia de outras partes do mundo.

Um populista pode chegar ao poder no Chile?

Ninguém sabe o que vai acontecer depois desse movimento. A direita tenta despolitizar a crise, falar que todos os políticos são o problema. Isso talvez não pertença a um partido político, mas são demandas de um movimento político. Se as pessoas não acreditarem que há uma saída política, corremos o risco de chegar a um lugar imprevisível. Mas, se promovermos a ideia de que é preciso mais participação política, a consequência será diferente. Não há soluções fáceis. A solução passa por uma nova Constituição.

Apesar das concessões feitas, Sebastián Piñera recebe novas demandas, e a falta de um líder entre os manifestantes contribui para isso. Há outra alternativa?

Saídas políticas para mobilizações anteriores tiveram péssimo resultado. Em 2006 e 2011, houve acordos populares em que as pessoas ficaram muito decepcionadas. O pior que poderia acontecer é aparecer uma liderança popular que diga "represento a população".

Manifestantes dizem que a revolta poderia ter sido detonada também num governo de esquerda. O protesto é contra o quê?

As duas grandes mobilizações dos últimos tempos ocorreram contra o mesmo governo, de Sebastián Piñera. Isso não é casualidade. Não gostei dos governos da Concertação e da Nova Maioria (que levaram o Partido Socialista ao poder). Votei neles e não fizeram nada para evitar o que está ocorrendo. Mas o que Piñera vinha fazendo era retirar os poucos direitos que haviam sido conquistados no governo anterior. Essa é uma explosão contra o modelo neoliberal, mas as pessoas não falam assim, porque falar de modelo neoliberal é algo difuso. Estão reclamando porque se cansaram dos abusos e não conseguem chegar ao fim do mês.

Faltou vontade ou competência aos governos de centro-esquerda para mudar este cenário?

As duas coisas. A Constituição é uma amarra e está fechada sobre si mesma. É preciso mudá-la. Fazer mudanças profundas é muito difícil. Mas também é verdade que a Concertação, nos seus anos de governo, fez um pacto transicional com a ditadura. A Concertação tirou muita gente da pobreza. O que vemos nas mobilizações não são as pessoas mais vulneráveis, mas a classe média, que está sufocada.

Se a sra. enfrentasse uma onda de protestos como essa na presidência, como reagiria?

Precisamos deixar que as pessoas tomem decisões no Chile, estimular a participação. O governo tentou apagar com querosene um incêndio. Um ministro da Economia, quando as pessoas reclamaram que o bilhete de metrô subiria em determinado horário, recomendou que elas acordassem mais cedo para pagar menos. Há alguns meses, o subsecretário de Saúde disse que as pessoas gostam de levantar às 5 horas da manhã e fazer fila nos postos de saúde porque buscam vida social. Outro, questionado sobre a razão de tudo estar subindo no Chile, pão, leite e serviços básicos, menos as flores, aconselhou os cidadãos a comprar mais flores. Isso é apagar o fogo com querosene. É não ter um pé na rua e ver o que acontece no Chile.

Entrevista: 'Sempre separei populismo de demagogia'

Entrevista com Manuel Ossandón, senador do partido de direita Renovação Nacional:

Boa parte dos protestos é contra a classe política e uma das exigência era a redução do salário dos políticos. O que os políticos fizeram de errado?

É uma revolta contra o sistema, contra o Estado. As pessoas estão frustradas e todos são alvo, não apenas a classe política. Existe uma elite que continua abusando e tirando proveito dos privilégios, enquanto as pessoas seguem com aposentadorias e salários miseráveis. Antes que o Parlamento chegasse a uma decisão sobre os salários, decidi baixar o meu sozinho.

É surpreendente que não haja bandeiras de partidos nos protestos. Algum grupo político tentou se apropriar das demandas?

Quem tentar fazer isso está errado. Políticos e seus partidos são parte do problema. É uma crise cultural, não é apenas uma manifestação política. É por isso que essa manifestação não tem um líder, nem uma solicitação clara. O que estamos exigindo é mudar a maneira de fazer as coisas: melhorar a transparência, a alocação de recursos e a rastreabilidade.

Este cenário anti-Estado e antissistema pode favorecer a chegada ao poder de um populista?

Seria necessário definir o que é populismo. Sempre separei o populismo da demagogia. Se alguém trabalha na rua, com sucesso comprovado, e o chamam de populista, não vejo problema. Além disso, aqueles que dirigiram o Chile e falam apenas à elite representaram precisamente o contrário. No meu país, o populismo está associado a não entender algo, a questões que são temidas ou não compreendidas.

Seus rivais o consideram um populista, pelo menos se compararmos com a maior parte da classe política chilena. Como se definiria?

Ser populista e desleal, como me chamam, sempre significou para mim estar com aqueles que têm menos. Prefiro estar nesse caminho e não na política da estratosfera. Gostaria de destacar que fui prefeito durante 20 anos. Ser prefeito permite que você esteja em uma batalha na primeira linha da pobreza e da realidade cotidiana. Essa experiência não tem preço, porque hoje eu posso falar com propriedade das carências das pessoas.

Alguns analistas interpretam essa revolta como um movimento contra o neoliberalismo. Mas, nas ruas, as pessoas dizem que ela poderia ter explodido com os socialistas Michelle Bachelet ou Ricardo Lagos. É correto?

Isso é o fim de uma etapa e vai muito além de uma crítica ao modelo neoliberal. Acredito no crescimento econômico, mas com uma distribuição muito melhor. Crescimento sem paz social não funciona. As pessoas devem ter sua parte nos ganhos de um país. É claro que o modelo deve ser corrigido.

Por que a direita chilena não consegue se desconectar da sombra de Augusto Pinochet? O sr. vê coisas boas no governo dele?

Ninguém está mais pensando em Pinochet. As pessoas se cansaram da maneira de se relacionar com o Estado, com instituições, com empresas. Estamos diante de uma mudança muito profunda e transversal e vejo essa mudança com otimismo. Aqueles que ainda estão presos lá atrás continuarão arrastando as barras do passado. Hoje, devemos trabalhar contra a desigualdade, os abusos, buscar o desenvolvimento inclusivo e a igualdade. Hoje, o país exige que falemos com todos, para fazer pontes.

Se o sr. se tornar presidente e algo semelhante acontecer em seu governo, como negociaria?

Primeiro, acredito que o presidente Sebastián Piñera não seja o único responsável pelo que aconteceu. Vi autoridades do governo desconectadas da realidade e da rua. Devemos entender que a raiz do problema existe e não estamos vivendo apenas um problema de ordem pública. Apostar no desgaste do movimento social e desacreditá-lo foi uma estratégia terrível. A chave para sair de um problema como esse é a transversalidade e o senso comum. As pessoas não querem destruir o Chile, as pessoas querem viver em paz.

O sr. teria colocado o Exército na rua para controlar os protestos?

Para controlar os protestos, inicialmente, não. Mas sugeri várias vezes concentrar os militares na infraestrutura essencial do Chile. A destruição ocorrida em nosso país é inegável, mas devemos trabalhar juntos para avançar e melhorar o que tínhamos.

O que acontecerá com uma Constituinte? Uma nova Carta garantiria maior controle sobre as concessões à iniciativa privada?

 

Uma nova Constituição, nascida na democracia, será importante. Passaremos para um modelo que coloque as pessoas no centro, que devolva a dignidade, que seja verdadeiramente participativo, que quebre abusos e desigualdades, onde o Estado as proteja e as defenda. Mas também devemos crescer economicamente. Acredito no livre mercado, mas ele não pode ser autorregulamentado. Chegou a hora de distribuir a riqueza para todos os chilenos e isso não significa tirar de um para dar aos outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma igreja destinada aos serviços religiosos da polícia chilena foi incendiada na última sexta-feira, 3, durante o primeiro protesto do ano no Chile para exigir reformas sociais.

Localizada perto da Praça Itália, em Santiago, epicentro da maioria das manifestações que começaram em outubro do ano passado, a igreja de São Francisco de Borja começou a arder após ser atacada por um grupo de homens encapuzados, segundo testemunhas.

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Em meio a muita fumaça, os policiais lamentaram o ataque ao templo, que assim como vários edifícios importantes próximos da Praça Itália, também foi destruído pelas chamas surgidas durante os protestos sociais que começaram em 18 de outubro.

Os manifestantes invadiram o templo, construído em 1876 e administrado pela polícia há mais de quatro décadas, e também atearam fogo nos móveis que levaram para a rua. O incêndio no interior da igreja começou poucas horas após o início de uma nova manifestação.

Grupos de homens encapuzados entraram em confronto com a polícia em torno da igreja, enquanto em outros locais os manifestantes protestaram pacificamente por reformas sociais e contra o governo de Sebastián Piñera.

Até o momento, os protestos deixaram 29 mortos e obrigaram o governo a convocar um plebiscito para 26 de abril, que será decidido se deve ou não ser alterada a Constituição do país, elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Um homem morreu na noite dessa sexta-feira (27), após cair em um fosso durante participação em protesto que acontecia próximo à Praça Itália, em Santiago, capital do Chile.

A morte foi confirmada pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) do Chile que disse, em sua conta no Twitter, que pedirá que "as causas da morte sejam esclarecidas o mais rápido possível". Com este caso, sobe para 29 o número de mortos nos confrontos no país que já duram dois meses. 

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De acordo com informações do Jornal O Globo, o homem de 40 anos de nome não identificado, estava fugindo da polícia depois de receber choques elétricos. Foi quando caiu no fosso e faleceu. 

A manifestação em questão, foi organizada por civis através das redes sociais, após o presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciar que faria um plebiscito para decidir se mudaria ou não a constituição criada no governo de  Augusto Pinochet (1973-1990).

A praça é tradicionalmente local dos protestos contra o governo que costumam ocorrer sempre às sextas-feiras. 

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--> O ano de 2019 no mundo

O escritório da alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, divulgou ontem relatório em que aponta um "alto número de violações dos direitos humanos" cometidas pela polícia durante os protestos que ocorrem no Chile desde 18 de outubro.

"Essas violações incluem o uso excessivo e desnecessário da força que causou mortes e ferimentos, tortura e maus-tratos, violência sexual e detenções arbitrárias", disse o documento de 30 páginas do Escritório de Direitos Humanos da ONU, cujos representantes ficaram no Chile durante três semanas em novembro.

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O relatório apontou que "existem razões bem fundamentadas para acreditar que, desde 18 de outubro, foi cometido um elevado número de violações de direitos humanos".

"Os carabineros falharam repetidamente em cumprir o dever de distinguir entre pessoas que se manifestaram pacificamente e manifestantes violentos", informou o documento. Uma das questões que mais chamou a atenção dos especialistas foi "o número alarmante de pessoas com lesões nos olhos ou no rosto", em razão do "uso desproporcional e, às vezes, desnecessário" de armas com balas de borracha.

Mea-culpa

Na quinta-feira, o diretor dos Carabineiros do Chile, general Mario Rozas, reconheceu a responsabilidade de integrantes da polícia nos abusos. Rozas prometeu sanções aos envolvidos e informou que há 856 investigações em andamento e algumas já identificaram agentes como responsáveis pela violência.

Os protestos que eclodiram há dois meses causaram a crise mais profunda desde o retorno da democracia, em 1990, com um saldo de 24 mortos e 3.449 feridos, segundo dados do Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH). "A maioria das pessoas que exerceu seu direito à reunião durante esse período o fez de forma pacífica, embora também tenham ocorrido numerosos ataques contra as forças de segurança e suas instalações, bem como saques e destruição de propriedades", disse o relatório.

Durante sua missão, a equipe documentou "113 casos específicos de tortura e maus-tratos e 24 casos de violência sexual contra mulheres, homens e meninos e meninas adolescentes, cometidos por membros da polícia e militares". A ONU disse que a equipe se reuniu com "mais de 300 membros da sociedade civil" e realizou "235 entrevistas com vítimas de violações dos direitos humanos", além de "60 entrevistas com oficiais de Carabineros do Chile".

O relatório não se limita a uma denúncia contra as forças de segurança, mas indica que as autoridades "tinham informações sobre a extensão dos feridos desde 22 de outubro". "A ação rápida de autoridades responsáveis poderia ter evitado que outras pessoas sofressem ferimentos graves", indicou o texto.

O escritório de Bachelet agora propõe a criação de um mecanismo de acompanhamento para avaliar a implementação das recomendações feitas pelo relatório dentro de três meses. "O monitoramento deve ter o objetivo de estabelecer medidas para evitar a repetição desses eventos tristes", disse Bachelet. O Ministério Público do Chile apresentou um outro relatório, em novembro, com um balanço das 2.670 investigações por violações aos direitos humanos.

Resposta

O governo chileno lamentou o "alto número" de denúncias de abuso policial apontado pelo relatório da ONU, mas afirmou que elas ocorreram em um "contexto" de violência que envolvia intensos protestos sociais. A secretária de Direitos Humanos, Lorena Recabarren, informou que era necessário "esclarecer declarações e conclusões que não estão adequadamente representadas no relatório, que contém informações erradas ou desatualizadas". (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As autoridades chilenas confirmaram nesta quinta-feira (12) que corpos foram encontrados na área onde o contato com a aeronave Hércules C-130, da Força Aérea do Chile, que desapareceu com 38 pessoas a caminho da Antártida, foi perdido.

A informação foi revelada pela rádio "BioBio", citando o prefeito da região de Magallanes, no sul do Chile, José Fernández. De acordo com a emissora, as partes dos corpos localizadas seriam de pelo menos cinco passageiros.

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A descoberta ocorreu pouco depois que o Ministério da Defesa informou que o navio polar Almirante Maximiano, da Marinha do Brasil, recolheu itens pessoais e destroços compatíveis com o avião, desaparecido desde a noite da última segunda-feira (9). Os restos foram encontrados flutuando no mar em Paso Drake ou Mar de Drake, em uma extensão de mar de cerca de 800 quilômetros que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, entre América do Sul e a Antártica.

A confirmação, no entanto, ainda não foi feita oficialmente pelas Forças Armadas, mas, segundo Fernández, a informação foi divulgada pela própria FACh. O avião transportava 17 tripulantes e 21 passageiros, em missão de apoio logístico à base da Antártica, para revisar um oleoduto flutuante de abastecimento de combustível e realizar um tratamento anticorrosivo nas instalações nacionais no local. Os familiares de todos acompanham as buscas em Punta Arenas.

Da Ansa

A Marinha do Brasil está apoiando a operação de busca do avião Hércules C-130, da Força Aérea do Chile, que está desaparecido desde a madrugada desta terça-feira (10). O avião militar decolou da cidade de Punta Arenas, no sul do Chile, por volta das 17h, rumo à Base Eduardo Frei, na Antártica, com 38 pessoas a bordo.

Em comunicado divulgado nesta manhã, a Marinha informou que o navio polar Almirante Maximiano foi deslocado e está a caminho do possível local da queda da aeronave chilena. O voo até a base chilena na Antártica deveria durar duas horas e meia, mas, por volta das 18h13 as autoridades aéreas perderam contato com a aeronave.

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O avião tinha autonomia de combustível de sete horas. O governo chileno declarou o acidente à 1h15. Autoridades acreditam que o avião desapareceu quando sobrevoava o estreito de Drake, uma das travessias mais perigosas do mundo tanto para navios quanto para aeronaves.

A Força Aérea do Chile anunciou nesta terça-feira (10) ter perdido "o contato via rádio" com um avião militar C130 com 38 pessoas a bordo, que decolou de Punta Arenas, sul do país, para uma base na Antártica.

"Um avião C130 Hércules decolou da cidade de Punta Arenas para a base da Antártica Eduardo Frei Montalva", de acordo com um comunicado. O contato via rádio foi interrompido.
Ao todo, "38 pessoas, incluindo 17 tripulantes e 21 passageiros" estavam a bordo. A Marinha chilena lançou uma operação de busca e resgate, tendo despachado aviões e navios para a região.

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O avião, que decolou da base aérea de Chabunco, em Punta Arenas, a mais de três mil quilômetros ao sul de Santiago do Chile, tinha como missão prestar apoio logístico à base na Antártica.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, e os ministros do Interior e da Defesa, Gonzalo Blumel e Alberto Espina, foram para o posto de comando da base aérea de Cerrillos, na capital chilena, para monitorar os trabalhos.

"Consternados com o desaparecimento do avião Hércules da Força Aérea chilena, que viajava com 38 passageiros rumo à Antártida a partir de Punta Arenas (...) vamos monitorizar as operações de busca e o envio de equipas de resgate", escreveu Piñera na conta oficial da rede social Twitter.

Protestos de todos os tipos e ondas de calor excepcionais, e também o Brexit ou o processo de impeachment contra Donald Trump fazem parte da longa lista de eventos que marcaram o mundo em 2019.

- Crises em série na América Latina -

Em janeiro, o opositor venezuelano Juan Guaidó se proclama presidente interino e exige a saída de Nicolás Maduro, cuja reeleição contesta em um país atolado em um colapso econômico e uma grave crise migratória. Guaidó é reconhecido por cerca de 50 países, incluindo os Estados Unidos. Apoiado pelo Exército, Maduro permanece em sua posição.

No Haiti, dezenas de pessoas morreram desde meados de setembro em protestos pela renúncia do presidente Jovenel Moïse motivados pela escassez de combustível.

Em outubro, o Equador fica paralisado quase duas semanas após o cancelamento dos subsídios aos combustíveis.

No Chile, o Parlamento decide, em meados de novembro, lançar um referendo para rever a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), após um mês de manifestações violentas contra as desigualdades socioeconômicas que deixaram mais de vinte mortos e mais de 2.000 feridos.

A Bolívia cancela em 24 de novembro a polêmica reeleição do presidente Evo Morales, após quatro semanas de protestos, que causaram várias dezenas de mortes. Abandonado pela Polícia e pelo Exército, o primeiro presidente indígena do país renuncia em 10 de novembro, a pedido das Forças Armadas, e decide se asilar no México, denunciando um golpe de Estado.

Na Colômbia, o presidente de direita Iván Duque também enfrenta um protesto incomum desde 21 de novembro, marcado por três greves nacionais e manifestações em massa.

- Revoltas árabes, distúrbios no Irã -

Em 22 de fevereiro, começam na Argélia manifestações maciças contra a candidatura ao quinto mandato de Abdelaziz Buteflika, bastante enfraquecido desde que sofreu um acidente vascular cerebral em 2013. Em 2 de abril, o presidente renuncia sob a pressão das ruas e do Exército. No entanto, os argelinos continuam manifestando-se maciçamente, determinados a se livrar de todo o "sistema" estabelecido desde a independência em 1962.

Em 11 de abril, no Sudão, Omar Al Bashir, no poder há 30 anos, é derrubado pelo Exército após quatro meses de um movimento popular desencadeado pela triplicação do preço do pão. Em agosto, o país é dotado de um Conselho de Transição.

No Iraque, um protesto social contra a corrupção, o desemprego e o declínio dos serviços públicos começa em 1º de outubro, antes de degenerar em uma grave crise política. No início de dezembro, mais de 420 pessoas morreram nos protestos e milhares ficaram feridas, a maioria manifestantes.

No Líbano, o anúncio, em 17 de outubro, de um imposto - posteriormente suspenso - em chamadas feitas através do serviço de mensagens do WhatsApp provoca uma forte reação popular e a demissão do primeiro-ministro, Saad Hariri. Os manifestantes continuam a exigir a saída de toda a classe política, considerada corrupta e incapaz de acabar com a estagnação econômica.

O Irã é palco de vários dias de agitação em meados de novembro, após o aumento no preço da gasolina. As autoridades relatam cinco mortes, mas de acordo com a Anistia Internacional, foram mais de 200.

- Boeing em crise -

Em meados de março, as aeronaves 737 MAX, da fabricante americana Boeing, ficam paradas em solo após dois acidentes envolvendo a Lion Air e a Ethiopian Airlines, com um total de 346 mortos.

O sistema automático para impedir que o avião caia é questionado.

A crise já custou cerca de US $ 10 bilhões à fabricante, que enfrenta processos das vítimas e investigações das autoridades americanas.

- Impasse político na Espanha e crise separatista -

A Espanha chega ao final do ano exausta politicamente após duas eleições gerais em abril e novembro, ambas vencidas pelo Partido Socialista que, no entanto, não atinge a maioria para formar um governo. Foram quatro eleições em quatro anos.

Entre as duas eleições, em 14 de outubro, o Supremo Tribunal espanhol condena nove líderes da independência catalã a sentenças que podem chegar a 13 anos de prisão por tentativa de secessão em 2017.

Esse veredicto desencadeia uma reação violenta dos cidadãos na Catalunha que se traduz em protestos maciços que se estendem por vários dias e frequentemente terminam em duros confrontos entre manifestantes e policiais.

- A saga do Brexit -

A saída do Reino Unido da União Europeia, decidida pelos britânicos em um referendo em 2016, inicialmente previsto para 29 de março de 2019, é adiada três vezes. No mais tardar, será em 31 de janeiro de 2020.

Os britânicos não chegam a um acordo sobre as condições do divórcio. Os deputados rejeitam primeiro um acordo alcançado com a UE pela primeira-ministra Theresa May e depois um segundo texto negociado por seu sucessor, Boris Johnson, que consegue aprovar a realização de eleições antecipadas para 12 de dezembro.

- Notre Dame em chamas -

Em 15 de abril, o telhado e a estrutura da Catedral de Notre Dame, em Paris, são devastados por um incêndio. Os bombeiros conseguem salvar o edifício gótico.

Uma corrente humana extrai quase todos as obras e relíquias.

O incêndio em um dos monumentos mais visitados da Europa causa uma comoção mundial, resultando em 922 milhões de euros em promessas de doações para sua reconstrução, que levará anos.

- Imagem de um buraco negro -

Em abril, uma equipe internacional de cientistas revela a primeira imagem de um buraco negro. Trata-se de um círculo escuro no meio de um halo flamejante, no centro da galáxia M87, a cerca de 50 milhões de anos-luz de distância da Terra.

- Escalada entre EUA e Irã -

Em maio, Teerã começa a se dissociar do acordo internacional de 2015 sobre seu programa nuclear, em resposta à retirada dos EUA do pacto, em 2018, e à restauração de sanções.

A tensão entre Washington e Teerã aumenta após sabotagem e ataques de navios no Golfo, atribuídos ao Irã, que nega.

Em 14 de setembro, os rebeldes huthis iemenitas, apoiados por Teerã, reivindicam ataques à infraestrutura de petróleo na Arábia Saudita.

Em 7 de novembro, o Irã retoma as atividades de enriquecimento de urânio em sua planta subterrânea de Fordo (180 km ao sul de Teerã).

- Manifestações em Hong Kong -

Desde junho, Hong Kong sofreu a crise mais séria desde a sua devolução para a China, em 1997, com manifestações quase diárias cada vez mais violentas contra a crescente interferência de Pequim e por reformas democráticas.

Em 24 de novembro, os candidatos pró-democráticos obtêm uma vitória esmagadora nas eleições locais.

- Recordes de calor -

Julho de 2019 é o mês mais quente da história recente, com registros de altas temperatura na Europa e no Polo Norte.

Em agosto, a Islândia se despede de sua primeira geleira extinta, enquanto outras 400 estão ameaçadas.

Em agosto e setembro, incêndios são registrados em regiões inteiras da Amazônia devido ao desmatamento, o que causa fortes críticas à política do presidente Jair Bolsonaro.

A Austrália enfrenta incêndios sem precedentes em novembro.

A jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg faz milhões se juntarem à sua iniciativa "Sextas-feiras pelo futuro" (Friday for the Future), na qual jovens estudantes fazem greve nesse dia da semana para protestar contra as mudanças climáticas.

- "Os Estados Unidos em primeiro lugar" -

No início de agosto, os Estados Unidos abandonam o tratado sobre armas nucleares de alcance intermediário (INF), concluído durante a Guerra Fria com Moscou.

O presidente Donald Trump anuncia que está se retirando do norte da Síria, formaliza a saída do acordo de Paris sobre o clima e inicia uma guerra comercial com seus parceiros, em particular a União Europeia e a China, cuja economia desacelera consideravelmente.

- Impeachment -

A oposição democrata nos Estados Unidos inicia em 24 de setembro um procedimento para o impeachment de Donald Trump, suspeito de abuso de poder por pedir à Ucrânia que investigue o democrata Joe Biden, um possível oponente nas eleições presidenciais de 2020.

Em audiências públicas, testemunhas, incluindo vários diplomatas, apresentam numerosos elementos de acusação contra o presidente.

Em 5 de dezembro, a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, formaliza o pedido de redação das acusações para submeter Trump a um julgamento político, alegando que seu abuso de poder para seu próprio benefício político "não nos deixa outra opção a não ser agir".

Em um tuíte, a porta-voz de Trump, Stephanie Grisham, diz que "os democratas deveriam estar envergonhados" do processo de destituição contra um presidente que "não fez nada além de liderar nosso país".

"Esperamos um julgamento justo no Senado", concluiu a porta-voz. De fato, espera-se que maioria republicana no Senado barre o impeachment.

- Ofensiva turca na Síria -

Em 9 de outubro, a Turquia lança uma ofensiva contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), um aliado dos ocidentais na luta antijihadista, mas descrita como "terrorista" por Ancara devido a seus vínculos com o Partido da Trabalhadores do Curdistão (PKK).

A operação, iniciada após Donald Trump anunciar a retirada das tropas americanas do norte da Síria, provoca protestos internacionais.

Ancara, que deseja estabelecer uma "zona segura" no norte da Síria para instalar dois milhões de refugiados sírios na Turquia, encerra sua ofensiva em 23 de outubro, após dois acordos negociados em separado com os Estados Unidos e a Rússia.

- Morte de Al-Bagdadi -

Em 27 de outubro, Donald Trump anuncia a morte do líder do grupo do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al Baghdadi, durante uma operação militar dos EUA no noroeste da Síria.

Al-Baghdadi, considerado responsável por vários abusos e atrocidades no Iraque e na Síria e ataques sangrentos, detonou os explosivos que levava consigo e morreu no vilarejo onde estava escondido.

No final de março, as forças árabe-curdas, auxiliadas pelos Estados Unidos, se apoderam de Baghuz, a última fortaleza síria do EI, selando o fim do califado. Mas ainda existem células adormecidas em toda a Síria.

- Coletes amarelos na Champs Elysées -

Em 16 de março, Paris sofre uma nova explosão de violência, com lojas saqueadas e incendiadas na Avenida Champs Elysées, no quarto mês de mobilização dos "coletes amarelos" contra a política social e fiscal do governo.

O chefe de polícia de Paris é demitido. Onze pessoas morreram desde o início dos protestos, que se enfraqueceram ao longo dos meses, e milhares ficaram feridas.

As Nações Unidas expressam sua preocupação com os testemunhos de "uso excessivo da força" e exigem uma investigação.

- Gigantes da internet sob pressão -

Nos Estados Unidos e na Europa, os gigantes da Internet Google, Apple, Facebook e Amazon, criticados por abusos em torno da proteção de dados pessoais ou por suspeitas de monopólio (mercado de publicidade, pesquisa on-line, comércio eletrônico), são alvo de investigações, ameaças de desmantelamento e multas (US$ 5 bilhões para o Facebook nos Estados Unidos).

As gigantes da web enfrentam a mídia pela distribuição do conteúdo da imprensa que recuperam, capturando a maior parte da receita de publicidade on-line.

Na França, o Google e o Facebook se recusam a pagar à imprensa "direitos relacionados", um mecanismo autorizado de compartilhamento de receita através da transposição de uma diretriz europeia adotada no final de março.

A subsecretaria do Interior do Chile informou nesta manhã que diminuiu o número dos episódios de violência ocorridos nas últimas 24 horas. De acordo com o relatório, entre as 9h da quarta-feira (27) e o mesmo horário desta quinta-feira (28) houve uma queda de 99 para 31 nos eventos graves. Além disso, os policiais feridos recuaram de 109 a 31 na mesma comparação. O presidente chileno, Sebastián Piñera, contudo, criticou hoje a "delinquência sem limites", que envolveria "o narcotráfico, movimentos anarquistas e muitos outros".

Na mesma comparação diária, o número de pessoas detidas recuou de 915 a 318, segundo o governo chileno, enquanto os ônibus incendiados passaram de três para um. As estações de metrô atacadas passaram de duas para uma no balanço mais recente. No intervalo mais recente, houve ainda relatos sobre seis incêndios e 13 saques em nível nacional, segundo as informações citadas pelo jornal El Mercurio.

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Hoje, Piñera falou na cerimônia de formatura de 260 detetives da Escola de Investigações Policiais. Ele pediu para se "combater a violência e a delinquência sem limites em que também está envolvido o narcotráfico, movimentos anarquistas e muitos outros". Ele pediu "consciência", mas também disse que não há espaço para "debilidade" nem para "ambiguidade". O presidente quer aprovar no Congresso medidas que proíbem que se ande encapuzado, um reforço na lei contra saques, contra a construção de barricadas nos protestos e para resguardar infraestrutura crucial, com o uso das Forças Armadas, segundo o diário La Tercera.

A chilena Ana Tijoux confessa sentir pavor diante de uma câmera. Mas a timidez de um dos rappers mais reconhecidos da América Latina se torna fúria quando ela canta "Cacerolazo", seu mais recente sucesso que acompanha a revolta social em seu país.

Usando chapéu e vestida discretamente de preto, Tijoux enfrenta a sessão de fotos no estúdio da AFP em Paris com estoicismo.

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No braço, uma tatuagem com a data de 1977, ano de seu nascimento e o título de um de seus álbuns decisivos.

"Vou fazer uma décima tatuagem, uma gigantesca América Latina na minha perna", comenta ela com determinação, uma atitude que parece inata em Anamaria, seu verdadeiro nome.

A revista Rolling Stone a catapultou em 2014 como "a melhor rapper em espanhol por sua dicção precisa e ritmo infalível", e ela foi indicada a vários Grammy Awards e colocou uma canção na trilha sonora na série "Breaking Bad" e em um videogame da FIFA.

Mas desconfia do sucesso. "É preciso assumir responsabilidades e o anonimato... é muito mais confortável", diz ela.

Sua vida passa por etapas entre o Chile e a França, onde ela nasceu de pais exilados durante a ditadura.

Recentemente, fez as malas de novo e se estabeleceu com o marido e dois filhos em Paris.

À distância, a rapper, contestadora desde o início da carreira, tornou-se uma referência musical da crise social no Chile.

A artista, que afirma criar de uma maneira "bagunçada" e "instável", compôs "Cacerolazo" (panelaço), que, em um fundo de sons metálicos de panelas e colheres, reivindica a renúncia do presidente Sebastián Piñera e justifica a atual revolta no país, desencadeada após o aumento do preço da passagem do metrô.

"Não são 30 pesos, são 30 anos / A constituição e os perdões / Com punho e colher frente ao aparelho / E a todo o Estado, panelaço!", canta a rapper.

"Muitos esperavam isso" 

"Muitos esperavam essa união de forças e fúria não ouvida há anos", diz ela.

Mas "Cacerolazo" não pretende ser um hino ou um discuso. "São os jovens que discursam. São eles que acordam um país inteiro e os adultos os acompanham".

Para Tijoux, os estudantes, ponta de lança dessa revolta que eclodiu em 18 de outubro e ainda não se apaziguou, são muito mais politizados.

"Eles não estão contaminados pelo medo com o qual vivemos da ditadura", causada principalmente pela "impunidade", argumenta Tijoux, que vê a mesma resposta à desigualdade espalhada em outros países da América Latina, como Bolívia e Colômbia.

Para a rapper, que sempre ouviu falar que a música deveria ser apenas entretenimento enquanto ela já brandia o microfone como uma arma, esse é um ótimo momento.

"A posição política é a coisa mais bonita que pode acontecer a uma pessoa", enfatiza.

Nova onda de artistas

Tijoux fala pouco de seu trabalho e influência, buscando se fundir em algo maior.

"O 'euísmo' é muito perigoso", afirma.

Questionada sobre o poder do rap em uma revolta popular, ela defende que este "é apenas mais um ramo da árvore da música", que é rebelde por definição.

E a música não é a única tendência artística que desempenha um papel crucial agora no Chile.

"Uma nova onda de novos artistas aparecerá", e está traduzindo essa rebelião popular em "uma beleza que emociona às lágrimas", afirma, citando artistas, fotógrafos, artistas plásticos...

Enquanto isso, em Paris, Tijoux prepara um novo álbum. Ela não tem "ideia" quando será lançado.

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