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Dois dias após invasões e saques realizados em uma drogaria e em um mercado na Avenida São João, na região da Cracolândia, no centro da cidade, usuários de drogas tentaram furtar um restaurante na Avenida Rio Branco, na mesma região. A ocorrência foi registrada por volta das 8h30 do domingo (9) de Páscoa. Um homem de 33 anos foi preso em flagrante por furto quando tentava sair do estabelecimento com dois fardos de refrigerante. Não houve feridos.

"O suspeito foi detido pela Guarda Civil Metropolitana (GCM). O homem foi conduzido para a delegacia, onde permaneceu à disposição do Poder Judiciário", disse a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP).

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O caso segue em investigação pelo 3º DP (Campos Elíseos), para a identificação e detenção dos demais autores.

Desde o ano passado, quando houve dispersão dos dependentes químicos após operação policial, a região tem visto uma escalada de violência e transtornos, com aumento de roubos, migração de bancas de venda do tráfico e sujeira nas ruas.

As gestões de Tarcísio de Freitas (Republicanos), do governo estadual, e a de Ricardo Nunes (MDB), da Prefeitura, anunciaram novos planos para resolver o problema da Cracolândia, mas a recorrência de crimes e tumultos no centro tem elevado a pressão sobre o poder público por respostas rápidas.

Na sexta-feira (7), usuários de drogas também invadiram e saquearam uma drogaria e um mercado na Avenida São João, no centro da cidade. O grupo havia acabado de ser retirado do local em que estava na Cracolândia por uma ação de zeladoria.

Conforme a SSP, outras duas pessoas foram presas ainda na noite de sexta-feira, por suspeita de participação na invasão aos dois comércios. Ninguém ficou ferido.

"O policiamento segue reforçado na região pela Polícia Militar e a Polícia Civil continua trabalhando para identificar os demais envolvidos, bem como analisa as imagens dos fatos", disse a SSP.

De acordo com a pasta, no 1º trimestre deste ano foram presos na região central 1.861 suspeitos, o que representa um aumento de 53% comparado ao mesmo período do ano passado. "A área também recebe a "Operação Resgate", que resultou na prisão de 72 suspeitos por tráfico de drogas e crimes patrimoniais", disse ainda a SSP.

Usuários de drogas invadiram e saquearam uma drogaria e um mercado na Avenida São João, no centro de São Paulo, na manhã desta sexta-feira, 7. O grupo havia acabado de ser retirado do local em que estava na Cracolândia por uma ação de zeladora. Desde o ano passado, quando houve dispersão dos dependentes químicos, a região tem visto uma escalada de problemas, com aumento de roubos, migração de bancas de venda do tráfico e sujeira nas ruas.

Apesar do terror, segundo relataram funcionários da Drogaria SP ao Estadão, nenhum deles se feriu. O grupo ainda saqueou um minimercado ao lado, mas em número menor. A Secretaria da Segurança Pública diz que reforçou o policiamento na região.

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"Só não entraram aqui porque abaixamos a porta de vez", diz o cozinheiro Adenilson Santos da Silva. Funcionário do restaurante em frente à drogaria, ele e os colegas viram o grupo carregando o que podia da farmácia.

O saque ocorreu por volta das 8h, quando o restaurante ainda estava abrindo. "Se fosse na hora do almoço seria pior", diz Silva.

Por volta das 15h30, os funcionários da Drogaria SP ainda trabalhavam na limpeza da loja e na arrumação do que foi destruído. A empresa não quis se manifestar, mas confirma que não houve feridos.

Ao lado da drogaria, uma unidade móvel da Polícia Militar fazia guarda desde a manhã. Em frente, na Praça Júlio de Mesquita, viaturas da Guarda Civil Metropolitana também estavam no local.

Casos como esse não são raros na região da Cracolândia, que se deslocou da Rua Helvetia para as ruas de Santa Ifigênia. A cada ação rotineira de limpeza das vias, a peregrinação dos usuários recomeça.

A mudança de local da Cracolândia vem sendo alvo de reclamações de comerciantes locais. No último domingo, os usuários de drogas atearam fogo a sacos de lixo. A polícia foi hostilizada ao chegar no local.

A Secretaria da Segurança Pública afirma que a Polícia Militar reforçou o policiamento na área central de São Paulo nesta sexta-feira. "Equipes realizam buscas para localizar os autores das invasões a comércios na área central, ocorridos nesta manhã, após ação de zeladoria realizada por agentes da Prefeitura na região."

Ainda segundo a SSP, "a 1ª Seccional e os distritos policiais da região central estão à disposição dos representantes dos estabelecimentos para registrar os fatos". "As imagens veiculadas pela imprensa são analisadas pelas equipes de investigação, que trabalham para identificar e individualizar a conduta de cada um."

Já a Prefeitura disse, também em nota, que a GCM participou nesta sexta, em conjunto com a Polícia Militar, Polícia Civil e a Subprefeitura da Sé, de ação de zeladoria urbana e desobstrução das vias públicas. As ações são realizadas diariamente na região. A Guarda, em parceria com a PM e com a Civil, auxiliou na prisão de quatro indivíduos e presta apoio para encontrar os demais suspeitos.

"Durante a ação, um grupo de pessoas invadiu uma drogaria, saqueando alguns produtos da loja. A GCM imediatamente controlou a situação. Não houve confrontos, nem feridos, nem condução de pessoas ao DP por parte da GCM", acrescentou o Município.

Um grupo de usuários de drogas colocou fogo em sacos de lixo na região da Cracolândia, no centro de São Paulo, no início da noite de domingo (2). A Polícia Militar (PM) disse que, durante patrulhamento de rotina na região da Nova Luz, uma equipe do 7º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) foi hostilizada por um grupo de dependentes químicos.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), o grupo arremessou objetos contra os policiais e ateou fogo em sacos de lixo ao longo da via.

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"Os policiais intervieram e dispersaram o grupo. Não houve registro de feridos ou detenções", afirmou a SSP. Além da polícia, o Corpo de Bombeiros foi acionado e o fogo foi contido rapidamente.

A ocorrência foi registrada por volta das 18h30 para atendimento na Rua General Osório com a Alameda Barão de Limeira e também entre a Rua Conselheiro Nébias e Rua dos Gusmões, no centro da capital.

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Saltitando com um sorriso largo, o palhaço abre caminho como uma corrente de ar fresco entre centenas de dependentes químicos e moradores de rua aglomerados em uma área dominada pelo tráfico de drogas no centro de São Paulo.

"Bom dia Cracolândia'!", grita no microfone Flávio Falcone, um psiquiatra que às quintas-feiras troca o jaleco branco pela maquiagem, o nariz vermelho e o macacão para se aproximar de quem sobrevive no maior mercado aberto de drogas do Brasil.

Falcone, de cabelos curtos tingidos de loiro e braços tatuados, passou uma década trabalhando com dependentes químicos nessa região que há cerca de 30 anos resiste como um desafio no coração da maior cidade da América Latina.

"São as pessoas fracassadas do sistema capitalista, que não conseguiram ser o que se esperava delas", disse à AFP este médico, de 43 anos.

O palhaço representa "uma esperança diante desse fracasso", explica. "Você ri do palhaço porque ele tropeça, não porque ele acerta", afirmou.

Por essas quadras de clima pesado, o 'crack', derivado da cocaína, circula livremente entre uma população de 800 a 1.700 usuários, dos quais 39% estão no local há uma década, segundo dados de 2022, divulgados em 2023, da Universidade Federal de São Paulo .

O número chegou a 4 mil, mas foi reduzido após fortes operações policiais no ano passado que fragmentaram a Cracolândia, espalhando-a pelo centro de São Paulo.

Diante da dureza das ruas, a empatia do palhaço facilita “uma identificação imediata”. Algo impossível de construir vestido de médico porque muitos temem uma internação compulsória como aconteceu no passado, diz Falcone. O médico tenta oferecer uma saída, mas também uma "reparação histórica" a essa população de maioria negra e parda.

- 'Crack', 'funk' e ilusão -

Quando começa o 'funk', muitos dos que estão deitados na calçada o ignoram, mas outros vão ao encontro do "palhaço", como é conhecido por ser o único na região.

Seu espetáculo consiste em um concurso de apresentações entre voluntários.

O primeiro a cantar diante de um júri formado por moradores da região é Peterson P.P., "funkeiro" de 29 anos, morador de rua desde criança e da Cracolândia há três anos.

"Sinto que estou no meio do palco, dá uma inspiração. Sempre peço a Deus essa oportunidade", diz o jovem negro, de camiseta listrada, bermuda e chinelo.

Na plateia, um homem magérrimo queima uma pedra de crack em uma pipa de metal. O efeito dessa fração vendida a 20 reais é imediato, intenso e breve.

O concurso visa despertar uma força vital "que motive essas pessoas a iniciar um tratamento”, diz o psiquiatra, cujo trabalho há uma década tem alternado financiamento público, voluntariado e o atual apoio de empresas privadas.

Seu programa tem três etapas: "Primeira coisa é dar moradia(...) a segunda coisa é oferecer algum tipo de trabalho, o tratamento vem em terceiro lugar". Assim consegue-se a "redução de danos até abstinência total", explica Falcone.

A meta é a autonomia, alcançada por várias dezenas de pessoas hoje empregadas em tarefas como limpeza, costura ou em um programa municipal de reinserção ao mercado de trabalho.

Vanilson Santos Conceição, baiano de 35 anos, desfruta de seus novos "luxos": dormir sob um teto, tomar banho e cozinhar.

"A rua é muito sofrimento. Eu só ficava na rua, não tomava banho, não me alimentava direito, usava muita droga. Parei, já tenho três anos e três meses sem usar droga", disse o homem que cozinha para sua "família" sem-teto.

- Ordem em "terra de ninguém" -

Mas quando a música para a Polícia Militar chega, desencadeando uma fuga em massa. Um estrondo ressoa um pouco mais longe.

Organizações civis da Cracolândia denunciam a violência policial durante essas frequentes operações, enquanto moradores e comerciantes reclamam da insegurança e dos prejuízos econômicos na “terra de ninguém”, como a chamam.

O novo governo estadual de São Paulo lançou um plano em conjunto com a Prefeitura, disse à AFP o vice-governador e encarregado da Cracolândia, Felicio Ramuth.

“Hoje tem mais ação social do que Estado. Isso é uma realidade. É como se cada um estivesse remando em uma direção diferente”, reconhece Ramuth.

Segundo Ramuth, os esforços vão incluir especialistas trabalhando no local, uma maior variedade de tratamentos, de grupos de autoajuda a internamentos, e registro das pessoas que lá vivem.

Além disso, serão instaladas 500 câmeras de segurança e 1.000 vagas estarão disponíveis em comunidades terapêuticas, embora “a internação compulsória seja o último recurso”, afirmou Ramuth.

A internação de dependentes químicos - voluntária, involuntária ou compulsoriamente - e a instalação de câmeras com reconhecimento facial na fachada de prédios e residências na região central são algumas medidas que o governo estadual e o poder municipal devem apresentar nesta terça (24) para o tratamento e monitoramento dos usuários de drogas da Cracolândia.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) discutiram o projeto nesta segunda (23), no Palácio dos Bandeirantes. Para facilitar a internação, o pacote prevê a revitalização do núcleo judicial do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), mantido pelo governo estadual no Bom Retiro, região central da cidade.

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Juiz e promotor vão atuar no espaço para tratar principalmente dos casos de internação compulsória, aquela sem o aval do paciente, mas definida pela Justiça.

Outra modalidade prevista no plano é a internação involuntária, aquela em que o consentimento de um familiar e a assinatura de um médico são suficientes para a hospitalização, sem a necessidade da anuência do próprio usuário de drogas. A medida, prevista em lei, foi defendida pelo prefeito de São Paulo, no início do mês, para usuários de drogas há mais de cinco anos.

Programas

Os poderes municipal e estadual, em parceria com o Poder Judiciário, pretendem implantar os programas da Justiça Terapêutica, instrumento da Lei Antidrogas que permite que pessoas flagradas pela polícia com pequenas quantidades de drogas ou que tenham praticado delitos leves não sejam processadas criminalmente desde que concordem com o tratamento para a dependência química.

Com isso, os boletins de ocorrência serão mais simples. "Em vez de encarcerá-lo, a intenção é encaminhá-lo para tratamento, interrompendo o ciclo de reincidência", afirma Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura.

"Nos casos em que o médico decida pela internação, ela será utilizada".

O foco na internação dos usuários representa uma nova fase de atuação do governo na Cracolândia, após a sequência de ações policiais em 2022.

O vice-governador Felicio Ramuth (PSD) será responsável por coordenar as ações e pela interlocução entre os poderes municipal e estadual. Além da internação, o pacote de medidas pretende instalar câmeras com reconhecimento facial em locais públicos e nas fachadas de edifícios e residências. Serão cerca de 300 equipamentos com o recurso de reconhecimento facial. A informação sobre as câmeras foi divulgada inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo.

Eficácia

Especialistas divergem sobre eficácia da internação involuntária e compulsória. Alguns defendem que ela seja uma das etapas do tratamento, quando outras abordagens não derem o resultado esperado ou nos momentos de crises do paciente. Essa linha aposta na abstinência da droga.

Críticos do modelo apontam os traumas das internações e o risco de uma recaída posterior. Eles defendem um tratamento multidisciplinar, com acompanhamento médico ambulatorial, ações assistenciais e políticas de reinserção social para que o dependente reconstrua sua vida com meios de subsistência e apoio para se manter longe do vício.

Um dos principais interlocutores do governo de São Paulo no planejamento das novas ações na Cracolândia é o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O especialista defende o cumprimento da Lei n.º 10.216, de 2001, que prevê que as prerrogativas do médico e do magistrado para a determinação da internação.

"Para isso, o dependente químico deve ser avaliado por uma equipe médica, que vai definir o tratamento adequado. Caso ele não queira a internação, mas seja constatado que não possui domínio sobre sua condição psicológica e física no momento, inclusive com risco à própria vida, o juiz pode determinar a internação", diz Laranjeira, que também é diretor da Unidade de Pesquisa de Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp.

A universidade apresentou no fim do ano passado o Levantamento de Cenas de Uso em Capitais (Leluca) que abrange dados de São Paulo, Fortaleza e Brasília. De acordo com o estudo, que vem sendo citado com frequência por Nunes, o porcentual de chegada de novos frequentadores em 2021 foi o menor da série histórica (20,2%).

Por outro lado, a pesquisa mostrou um aumento na prevalência de usuários antigos (57,4% há pelo menos cinco anos e 39,2% estão na cena há 10 anos ou mais). Esse é o foco das ações do novo pacote de medidas, conforme a gestão municipal.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um comerciante de 46 anos foi encurralado, arrastado para fora do próprio carro e espancado por usuários da Cracolândia de São Paulo às 19h desta segunda-feira (12). O ataque aconteceu embaixo do Elevado João Goulart (Minhocão). Guardas civis metropolitanos e policiais militares chegaram ao local pouco tempo depois do início da ocorrência, mas não efetuaram prisões.

O local do ataque corresponde ao novo endereço adotado pelos usuários da Cracolândia, na Avenida São João, altura do número 1723. Antes instalados na Rua Helvétia, no bairro dos Campos Elíseos, eles têm migrado dali para o vão do elevado, ocupando os quarteirões seguintes e por vezes interrompendo o trânsito da região.

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Pelas imagens, é possível ver que um grupo de ao menos dez pessoas arrasta a vítima (vestida de camiseta vermelha) para fora do próprio veículo e começa a atacar o homem com socos, chutes e pisões. Enquanto ele é agredido, um casal invade o carro, ao mesmo tempo em que um agente da Guarda Civil Metropolitana e outro da Polícia Militar chegam ao local.

Segundo o relato da vítima, ele estava dirigindo pela Avenida São João quando foi cercado por usuários da Cracolândia que começaram a bater nos vidros e na lataria do carro. Após o ataque, a orientação do policial militar presente no local foi para que o comerciante registrasse um boletim de ocorrência online.

Na tarde desta terça-feira, 13, policiais civis da 1ª Delegacia Seccional Centro realizaram uma nova etapa da Operação Caronte nas redondezas da Rua dos Gusmões, na República, para identificar os usuários vistos no vídeo. "Ser dependente químico não é salvo conduto para a prática de delitos", aponta o delegado Roberto Monteiro, em entrevista ao Estadão.

Segundo Monteiro, alguns usuários responsáveis pelo cerco ao comerciante já migraram do local e foram identificados. Ao todo, a Polícia Civil buscou 17 suspeitos com mandado de prisão por tráfico e outros delitos.

"O fato foi presenciado por um policial militar que não os prendeu em flagrante, que seria o caso. Agora, cabe à Polícia Civil identificá-los e prendê-los", observa o delegado.

A operação continuou até o início desta noite e segue nos próximos dias com trabalho de investigação e identificação dos outros suspeitos. O total de pessoas detidas ainda não foi divulgado pela Polícia Civil.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo disse que os agentes da Guarda Civil Metropolitana apenas "prestaram apoio" à ocorrência e que demais detalhes são de responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP).

Procurada pelo Estadão, a SSP não comentou o caso nem explicou por que o policial militar não prendeu em flagrante nenhum dos envolvidos no ataque.

Local de internação dos dependentes químicos após a dispersão da Cracolândia, o Hospital Municipal Bela Vista - Santa Dulce dos Pobres, no centro de São Paulo, mudou algumas áreas internas para receber os novos pacientes. A enfermaria de saúde mental não tem os aparelhos tradicionais que acompanham os sinais vitais ou que armazenam remédios. Tudo foi retirado porque pode ser perigoso quando os pacientes estão agitados. O único contraste com as paredes lisas e brancas são bandeiras coloridas de papel de seda que atestam a chegada das festas juninas. O Estadão visitou o Hospital na última sexta-feira.

Por questões éticas, os médicos não permitiram fazer imagens do local e a circulação foi restrita. A enfermaria tem cinco dormitórios, com dois leitos e banheiro em cada um. Os médicos dizem que querem um espaço mais humanizado para os pacientes.

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Atrás de uma porta sem visor, a enfermaria é isolada do resto do hospital. São dez leitos abertos em abril e ocupados por pacientes com transtornos causados pelo uso de droga. Foram internados por vontade própria ou involuntariamente - com autorização de familiar e a assinatura do psiquiatra. Nesse formato, ele pode ser internado contra sua vontade. A medida, permitida pela lei, tem sido adotada pela Prefeitura, sob contestação do Ministério Público Estadual, que abriu inquérito para apurar as ações da Prefeitura.

Desde 27 de abril, 35 pessoas passaram pelos leitos - 23 contra a vontade e 12 voluntariamente. Na segunda, havia seis internados (dois involuntários e quatro voluntários).

"Não chegamos a volume de internações que pudesse resolver o problema de álcool e drogas na cidade. Há várias equipes na rua tentando a primeira internação voluntária das pessoas nas cenas de uso", diz Luiz Carlos Zamarco, secretário municipal de Saúde.

POLÊMICA

"A involuntariedade é um momento sensível na vida do paciente com transtorno mental, mas se trata de decisão técnica precisa", diz Gabriel Furian, coordenador da Enfermaria de Saúde Mental. "A gente indica quando o paciente não tem capacidade crítica sobre sua situação e pode colocar em risco a si mesmo e outras pessoas", completa.

A medida divide especialistas. Na sexta, nota técnica assinada por nove instituições, entre elas, a Plataforma Brasileira de Política de Drogas e o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, classifica a internação sem consentimento como inversão do processo terapêutico, pondo a "internação involuntária como primeira opção e não a última e excepcional estratégia".

O psiquiatra Flávio Falcone adota raciocínio semelhante. Em dois anos no programa Recomeço, do governo estadual, Falcone diz ter acompanhado mais de cem internações de dependentes químicos. Para ele, só um caso de internação involuntária foi bem-sucedido.

"Era uma senhora que vivia sozinha e tinha problemas de alcoolismo. A filha pediu a internação, mas ia acompanhá-la toda a semana. A retomada do vínculo familiar contribuiu muito com a recuperação", diz ele, que atua no programa de atendimento a dependentes químicos da Unifesp.

O secretário rebate. Ele afirma que são observados aspectos clínicos. "Eles podem ter quadros de desnutrição e insuficiência respiratória. Estamos avaliando o agravamento do problema mental, mas também situações clínicas."

Exames de espirometria (teste do sopro) mostram que 46% dos dependentes têm quadros de Distúrbio Obstrutivo e Restritivo (DPOC) na função pulmonar de risco leve a moderado. No Hospital Bela Vista, os pacientes não ficam só deitados, mas podem circular e conversar com os outros.

A direção afirma que os 580 funcionários têm sido treinados para atender "sem estigmas, preconceito ou medo", como dizem os médicos. Há protocolos específicos conforme a substância que causa a dependência. Usuários de álcool podem desenvolver síndrome de abstinência nas primeiras 72 horas e aí o protocolo indica diazepam, remédio para transtornos de ansiedade, além da reposição de vitaminas.

No caso dos usuários de crack, com crises intensas de abstinência, os médicos usam tranquilizantes e antipsicóticos. Os leitos são adaptados para a contenção física quando preciso. "A ideia não é sedar o paciente, mas que a medicação ajude a controlar a fissura, que é muito intensa", diz Furian.

PÓS

A lei fixa internação máxima de 90 dias. O familiar pode pedir interrupção do tratamento a qualquer hora. Especialistas veem riscos na saída. "Ao se desintoxicar, a pessoa precisa de acompanhamento individualizado, além de moradia, trabalho e renda. Sem isso, é como enxugar gelo", compara Arthur Pinto Filho, promotor de Saúde Pública.

Segundo Zamarco, nenhum dos 35 pacientes já teve alta definitiva. Após a desintoxicação no hospital, eles continuam o tratamento em um dos 97 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade - 32 deles especializados em álcool e outras drogas. O andar térreo do CAPS IV, na Praça Princesa Isabel, se parece com um pronto-socorro. Duas salas socorrem casos ligados ao uso abusivo de drogas, como taquicardia, aumento da pressão arterial, desidratação e intoxicação. O local também atende feridos após brigas no território.

Dados da Prefeitura indicam que a dispersão dos usuários e traficantes elevou a busca por tratamento. Neste CAPS, o total de atendidos subiu 34,7% de janeiro para maio.

Mas parte dos usuários reclama justamente da falta de apoio. Na quinta, dia da visita do Estadão, W.T.D.S., de 42 anos, diz não ter conseguido vaga de internação para tratar do consumo abusivo de crack. "É a terceira vez que venho aqui e não consegui", diz ele, de Fartura (SP) há cinco anos na capital. "Só dão atendimento laboratorial, como dar soro e medir a pressão. Aí, a pessoa volta para a rua, usa drogas novamente e não melhora."

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) ironizou a proposta de Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro para o Palácio dos Bandeirantes, de transferir a sede do Executivo estadual do Morumbi, na zona sul, para o centro da cidade. Em resposta, o ex-ministro da Infraestrutura disse que considera a sua ideia "genial".

Na quarta-feira (1º), Tarcísio afirmou que estuda a possibilidade, se eleito, de levar o palácio ao centro como parte de uma estratégia para revitalizar a região. A proposta, segundo ele, poderia reduzir os índices de violência e contribuir para dar uma solução à Cracolândia.

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"Se o centro de Poder estiver no centro de São Paulo, é uma coisa muito boa", argumentou o ex-ministro da Infraestrutura. "Imagina se isso fosse feito onde hoje é a Cracolândia. Se o poder estiver lá, as pessoas vão voltar a circular e a segurança pública será reforçada."

Nesta quinta-feira (2), Haddad foi às redes sociais criticar a proposta. O petista lembrou que Tarcísio não nasceu em São Paulo, mas no Rio de Janeiro, algo que tem sido usado pela oposição para desqualificar sua pré-candidatura.

Haddad afirmou: "o candidato do Bolsonaro falou que quer mudar a sede do governo do Estado para o centro da cidade. Vai ver que é para não se perder. Não é daqui, não deve saber onde fica".

Tarcísio, então, respondeu: "Haddad, companheiro, não me leve a mal. Ocupar o centro é uma ideia genial. Você, que foi prefeito, devia achar legal. Resolver problema ao invés de falar mal".

Com diversas ações da Prefeitura nas últimas semanas, a questão da Cracolândia tem ganhado destaque na agenda eleitoral. Após intervenção da Polícia Militar e da Guarda Municipal, a aglomeração de dependentes químicos migrou dos arredores da Estação Júlio Prestes para a Praça Princesa Isabel e, em seguida, se dispersou pelo centro da capital.

Na madrugada da quinta-feira (2), moradores da região registraram um tumulto promovido pelos usuários de drogas, que atiraram pedras em carros, depredaram fachadas de lojas e atearam fogo a sacos de lixo nas calçadas.

"Menina, você viu como seu rosto está cheio de espinhas?", pergunta a trabalhadora autônoma Janaina Xavier, de 43 anos, passando a mão no rosto da filha, Aline Xavier, de 26. "Será que é por causa da droga?". "Pode ser", responde a moça, que fuma crack desde a adolescência. A moldura deste quadro, na Avenida Rio Branco, no centro de São Paulo, é a influência da dependência química nas relações familiares. Ex-usuária de cocaína, a mãe quer tirar a filha da Cracolândia, região onde ela própria viveu décadas atrás.

A mãe usou cocaína dos 19 aos 25, mas diz que está "limpa" há uns 15 anos. Mas o consumo deixou sequelas na família, em sua opinião. "Não tive aquele pulso de mãe para educá-la. Se eu fosse uma mãe mais presente, que não olhasse tanto para a droga e para o álcool, ela não estaria nessa situação", diz Janaína. "Era a mãe drogada de um lado e a filha drogada de outro", confessa.

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A filha usa drogas desde os 13. Hoje, mais de uma década depois, ela acompanha o fluxo, concentração de usuários e traficantes de drogas na região central. De vez em quando, Aline passa na casa da mãe para tomar banho e ver os outros oito irmãos. Por isso, aquele carinho no rosto é fugaz.

O Estadão corre atrás antes que ela desapareça para voltar sabe-se-lá-quando. "Você pensa em parar de usar crack?". "Penso, mas quero que seja como foi com a minha mãe: com a ajuda de Deus". Com um batom vermelho que esconde os poucos dentes que sobraram, Aline responde a mais uma pergunta, já descendo a escada. "Eu uso crack por causa da brisa", diz, toda pilhada.

A "brisa" faz parte dos efeitos desejados pelo usuário de drogas, como a sensação de energia, hiperatividade, bem-estar, elevação do estado de alerta. Mas também existem os indesejados, como elevação dos batimentos cardíacos, da pressão sanguínea e até alucinações, depressão, pânico e paranoia.

Havia cumplicidade na pergunta da mãe sobre as espinhas. Uma sabe o que a outra sente. "Sair do vício depende mais dela do que de mim. Ela não quer estar nessa situação, mas não tem força para sair. Vou matar minha filha? Faço tudo para ela sair, mas não vou jogar pedra nem discriminar", conta Janaína. Esse acolhimento permite até dinheiro para a droga. Se a filha pedir R$ 5, a mãe dá. Os irmãos, também. "Se eu não der, ela vai tentar arrumar o dinheiro de outro jeito".

Levantamento da Unidade de Pesquisas de Álcool e Drogas (Uniad), vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de 2019, aponta que 80% dos usuários da Cracolândia saíram de suas casas. Especialistas apontam que os conflitos familiares são a principal razão para levar o usuário à região, onde o padrão de uso é normatizado e a droga está disponível. "Muitas vezes, a família interpreta que apenas o usuário é o problema e prefere não tratar a dinâmica familiar. Com isso, ela os mantém à distância, com visitas esporádicas", diz Maria Angélica Comis, coordenadora do centro de convivência É de Lei.

Os vínculos familiares se esgarçam, mas não se rompem totalmente na Cracolândia. Mães que visitam os filhos são cenas comuns presenciadas pelas equipes de assistência social. Uma funcionária do Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (SIAT) da rua Helvétia, unidade emergencial criada no novo endereço da Cracolândia, conta que ajudou uma mãe chamada Maria de Fátima que tinha viajado do Paraná para tentar encontrar o filho na Praça Princesa Isabel. Foram dois dias de buscas incertas - parentes têm permissão dos traficantes para transitar pelo fluxo. No terceiro dia, Maria descobriu que o filho havia sido preso por tráfico de drogas.

Faltou mencionar como Janaína parou de usar drogas. São vários motivos. O primeiro foi espiritual, com o apoio de igrejas evangélicas, religião que ela adotou. Janaina também pensou nos outros filhos - nenhum dependente químico. Mas houve também um estalo. Foi quando a mãe tentou livrar a filha, então adolescente, da prisão por causa da posse de duas pedras de crack. Não conseguiu.

Enquanto fala, a mãe amamenta a filha caçula, Valentina, sem constrangimento, e tenta acordar a adolescente para a foto da matéria. Na sala, um colchão de casal está encostado na parede. Durante o dia, ele não tem espaço para ficar no chão. Circula por ali a cadela Ravenna. E Janaína confessa recaídas. "Fiquei mal. Cheirei e bebi. Você precisa passar pelas recaídas para entender que não é aquilo que você quer para sua vida".

Papéis invertidos

Não houve abraço nos 32 minutos de conversa entre Jailson Oliveira, de 52 anos, mais da metade deles na Cracolândia, e o filho Wellington Batista da Silva. Tensão. Mágoa. Lavação de roupa suja. Quando o filho se mudou para o centro de São Paulo, quatro anos atrás, ele ficou mais perto de Jailson. Naquela época, o pai tinha se reabilitado.

Foram cinco anos "limpos", nos quais trabalhou em um hotel com carteira registrada e até comprou um carro. O fim do casamento, no entanto, foi o gatilho para uma recaída da qual não se levantou. Jailson alterna os dias entre a Cracolândia e um quarto mantido pelo projeto Teto, Trampo e Tratamento. "É uma relação conturbada até hoje. Cada dia, ele tem uma personalidade diferente. Aprendi a lidar, mas sai faísca", diz o promotor de vendas de 24 anos.

As faíscas aparecem quando o pai precisa de dinheiro para consumir crack e o filho não dá. "Quando quero usar, não quero saber de mais nada. Só da droga", admite o pai. "Nessa hora, ele esquece da relação entre pai e filho. Ele que deveria estar me ajudando, mas os papéis são invertidos", lamenta Wellington.

Diálogo áspero, discussão mesmo. Jailson abandona a mesa duas vezes, mas volta. Gritos. Ele reclama de falta de apoio quando o filho diz que não acredita mais nele. A briga só termina com a intervenção do psiquiatra Flávio Falconi, que atua no programa de atendimento a dependentes químicos da Unifesp. Flávio tenta a internação de Jailson em uma comunidade terapêutica, como ele deseja.

No mês passado, Jailson se internou no programa Redenção, da Prefeitura de São Paulo, dirigido aos indivíduos que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas. Por conta da abstinência, ele ficou apenas dois dias. Não suportou e voltou a usar crack. Antes de encerrar a conversa com o Estadão, ele pede ajuda para um tratamento dentário. Ao entrar em contato direto com a boca, a fumaça do crack danifica o esmalte dos dentes, a gengiva e os nervos. Jailson diz que não consegue dormir por causa das dores.

Mães são as últimas a desistir

Pais e mães têm comportamentos diferentes na relação com os filhos que fazem uso abusivo de substâncias químicas. Enquanto os pais se afastam com mais facilidade, as mães não desistem, fazem visitas e procuram retomar os vínculos nos primeiros momentos do tratamento quando são usuárias. Essa diferenciação é feita pelo psiquiatra Flávio Falconi, que atua na região há dez anos com a redução de danos, estratégia baseada na inclusão social e cidadania ao usuário sem necessariamente interromper completamente o uso da substância.

"A grande maioria dos homens traz histórias de abandono da figura paterna. Quando são usuários, eles reproduzem o ciclo de distanciamento", diz Falconi. "A mãe é a última a desistir", completa o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, diretor-presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e uma das maiores autoridades no País de tratamento de dependentes químicos.

Levantamento da Unidade de Pesquisas de Álcool e Drogas (Uniad), vinculada à Unifesp, realizado em 2019, aponta que a população da Cracolândia é, em sua maioria, composta por homens (68.7%), solteiros (77.6%), com idade média de 35 anos. A maioria (76.6%) declarou ter pele de cor preta ou parda.

Maria Angélica Comis, coordenadora do centro de convivência É de Lei, que atua na região central desde 1998, acrescenta que os homens reproduzem a maneira como agem em outros contextos sociais. "Normalmente, as mães permanecem mais tempo em contato. Na nossa sociedade, é mais comum os pais se afastarem dos filhos quando há uma separação conjugal, por exemplo. Na dependência química, isso não é diferente", completa.

A Polícia Civil e a Guarda Civil Metropolitana realizaram uma nova operação na área da Cracolândia, no centro de São Paulo. Agentes entraram no fluxo de usuários no fim da tarde desta sexta-feira, na Rua Helvétia, em busca de suspeitos de tráfico de drogas. Um balanço parcial da operação divulgado às 20 horas apontava a prisão em flagrante de seis traficantes e a detenção de um adolescente infrator, às vésperas do início da Virada Cultural na capital. O evento também influenciou a abordagem.

A ação é a 13.ª etapa da Operação Caronte, sob coordenação da Delegacia Seccional do centro e do 77.º Distrito Policial (Santa Cecília). Viaturas bloquearam o tráfego na Avenida São João enquanto 100 agentes percorrem o fluxo em busca de suspeitos. Os dependentes químicos foram orientados a permanecer sentados no local. Um veículo blindado da Polícia Civil foi deslocado para a região para dar apoio à operação e "observar de cima" caso houvesse algum confronto direto na intervenção.

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Ao contrário da ação realizada na semana passada, desta vez os usuários que passavam pela revista eram orientados a permanecer sentados na Rua Helvétia e não podiam ser liberados. Segundo um investigador ouvido pela reportagem, a orientação era para que, após a operação, os dependentes fossem mantidos no local e não dispersassem pelo centro por causa da Virada Cultural e o possível impacto que isso teria na segurança do público.

Em uma conversa informal entreouvida pela reportagem, dois policiais se referiam ao evento como "Virada Criminal" e afirmavam que já circula uma expectativa de aumento nos casos de roubo e furto, principalmente de celulares durante o evento que ocorre neste sábado, 28, e domingo, 29. A ordem de permanecerem sentados causou momentos de tensão ao longo da operação, durante os quais os usuários se levantavam do chão e ameaçavam se rebelar contra a recomendação, enquanto outros furavam o bloqueio feito pela polícia. Em determinado momento, um agente da GCM disparou um tiro de efeito moral para o alto, o que fez com que dois grupos de dependentes sentados dos dois lados da calçada começassem a gritar em protesto.

As agitações dos usuários continuaram a ocorrer, mas foram contidas pelos agentes de segurança. Um dos investigadores foi ouvido pela reportagem comentando com os policiais: "Vai ter de deixar andar, não está dando pra segurar esses caras aqui não".

Por volta das 19 horas, o "fluxo" começou a ser liberado da Rua Helvétia. Um homem que saiu por volta desse horário comentou que ainda não tinha previsão de aonde iria. "Agora é cada um por si."

O fluxo de usuários se deslocou para a Rua Helvétia após uma operação na Praça Princesa Isabel no dia 11. Desde aquele momento, o grupo tem percorrido diferentes pontos da região central, mas se estabeleceu na rua que fica localizada nos fundos do 77.º Distrito de Polícia, que investiga o tráfico de drogas na área. No local, foi construída uma unidade emergencial do Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica, voltado a acolher os dependentes químicos que queiram se reabilitar. O deslocamento tem motivado queixas da vizinhança diante do barulho e da desordem causada pelo grupo, além de relatos de furtos e roubos.

Melhora

O delegado Roberto Monteiro, à frente da Seccional do Centro, disse que a dinâmica do fluxo tem melhorado a cada operação. "Estamos vendo uma realidade muito diferente do que tínhamos na Praça Júlio Prestes, em que o fluxo de dependentes chegou a ter 4 mil pessoas, entre dependentes e traficantes", disse nesta sexta ao Estadão. Em revista, a polícia chegou a encontrar dinheiro e drogas escondidos na cueca de um suspeito.

Monteiro explicou que a polícia continua com um trabalho de inteligência para identificar os traficantes que atuam no local. Segundo ele, entretanto, não há mais "chefes" ou "figuras de liderança" atuando na Rua Helvétia. "A maioria do que encontramos hoje são os chamados 'lagartos', que vendem a droga na mão mesmo. Estamos fazendo a identificação prévia e técnica dos traficantes, realizando a prisão em flagrante daqueles surpreendidos vendendo droga. Além de menos gente, tínhamos lá (na Praça Júlio Prestes) uma situação de lideranças do tráfico que incentivavam dependentes a se voltarem contra as forças policiais. Tínhamos tiro de arma de fogo."

Um dia depois da operação policial que prendeu oito pessoas por tráfico de drogas na Rua Doutor Frederico Steidel, na quinta-feira, 19, usuários e traficantes buscaram novos pontos na região central. Um dos focos foi a comunidade do Moinho, na Barra Funda, zona oeste da cidade, mas o local foi descartado. Na visão dos usuários, a presença de poucos moradores no local facilitaria ações truculentas da polícia. O deslocamento dos usuários causou apreensão nas ruas dos Campos Elísios.

No final da manhã desta sexta-feira, 20, cerca de 50 integrantes do chamado fluxo deixaram a esquina da rua Helvétia com a Barão de Campinas em direção à Barra Funda. O acesso é feito por uma passarela de pedestres, sobre a linha férrea, nas proximidades da rua Eduardo Prado. O novo local, que representaria uma nova fronteira para a Cracolândia, foi descartado. Usuários e familiares afirmam que ele foi considerado perigoso por ter poucos moradores no local, o que traria menor visibilidade em caso de ação da polícia. "Lá seria um cemitério e ninguém ficaria sabendo", diz a dona de casa Antonia, que prefere mencionar apenas o primeiro nome e tem uma filha de 25 anos na Cracolândia.

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O relato foi comprovado por vendedores ambulantes que acompanham os usuários para vender cigarros e bebidas. "Eles preferem ficar num lugar em que todo mundo possa ver se acontecer alguma violência", diz a vendedora Raquel, que acompanha o fluxo há seis anos.

Os dependentes químicos ficaram ainda mais temerosos dos confrontos com a polícia depois da morte de Raimundo Nonato Fonseca Junior, de 32 anos, que levou um tiro no tórax durante os deslocamentos do fluxo pela região da Praça Princesa na semana passada. Um policial civil é acusado de ter atirado em direção ao grupo. O Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) investiga se o disparo matou o usuário de drogas. Familiares opinam que as imagens feitas por moradores do prédio da região foram decisivas para a investigação.

O Estadão acompanhou parte do deslocamento. Por volta das 11h, parte das lojas da rua Barão de Campinas fechou discretamente as portas diante da passagem dos usuários. Alguns deles pediam "uma ajuda" e vasculhavam os sacos de lixo em busca de restos de alimentos. "A Cracolândia tá viva", gritou um usuário empurrando um carrinho de supermercados cheio de sacos plásticos. Viaturas policiais chegaram a escoltar um pequeno grupo.

O momento de maior tensão foi a passagem pelo Colégio Boni Corsini, na Rua Barão de Limeira. Seguranças privados chegaram a oferecer abrigo para os pedestres. Mesmo sem crianças no local, eles trancaram o portão que permite acesso de vans escolares. E eles avisaram para quem passasse: "Cuidado, eles estão na esquina". Não houve tentativa de assaltos nem violência contra os pedestres.

Na volta da Barra Funda, os usuários estavam ainda mais dispersos, em grupos menores, o que diminuiu um pouco a tensão entre os moradores e trabalhadores. "O que a gente faz se eles entrarem?", perguntou a funcionária de uma empresa de peças de borracha na Rua Adolfo Gordo. Do grupo de cinco funcionários que observava os usuários na calçada, ninguém respondeu.

Por causa da insegurança, a Lanchonete Palmares, localizada a 100 metros da nova Cracolândia, não ofereceu almoço nesta sexta-feira. A gerente Helena colocou duas mesas na porta do estabelecimento para formar uma espécie de barricada. Não houve tentativa de invasão. "Não fiz almoço hoje porque eu sabia que não venderia. O movimento caiu mais de 70%", lamenta.

Desde que foram retirados da Praça Princesa Isabel em uma grande operação policial na quarta-feira da semana passada, os usuários de drogas já ocuparam diferentes endereços, principalmente a Praça Marechal Deodoro e a rua Helvétia, entre a rua Barão de Campinas. A esquina da Avenida São João com a Rua Frederico Steidel também era um local ocupado com frequência até a operação policial desta quinta-feira.

Polícia prende onze pessoas na quinta-feira

A Secretaria de Segurança Pública informou que foram presas oito pessoas em flagrante por tráfico de drogas na quinta-feira, durante a nova fase operação da "Caronte", que age integrada à Operação Sufoco para combater o comércio de entorpecentes na área central de São Paulo.

Além das prisões, um alvo da operação foi detido e outros dois procurados pela Justiça acabaram capturados. Dois adolescentes foram apreendidos por associação ao tráfico. A operação visava cumprir 32 mandados de prisão contra traficantes.

Ainda de acordo com a polícia, foram recolhidas porções de cocaína, crack, lança-perfume e maconha, além de 11 facas, um simulacro de arma de fogo, oito cartões de crédito e R$ 5.499,50 em espécie.

O Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito civil na sexta-feira, 13, para apurar as ações da Prefeitura de São Paulo na região da Cracolândia. O objetivo é apurar a regularidade das intervenções feitos pelo Município na área, bem como as "ações que sucederam às intervenções policiais e que dizem respeito ao complexo problema derivado do consumo de crack e outras drogas em cenas de uso coletivo havidas na região central da cidade".

Após operação na Praça Princesa Isabel, a polícia prendeu ao menos nove acusados de tráficos de drogas e dispersou usuários por vários pontos da região central, como a Rua Helvétia e a Praça Marechal Deodoro. De acordo com a Prefeitura, a dispersão facilita o oferecimento de serviços de apoio e tratamento para os dependentes químicos. Procurada pela reportagem, a gestão municipal ainda não se manifestou sobre o procedimento do MP.

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Em um desses movimentos de dispersão, Raimundo Nonato Rodrigues Fonseca Junior, de 32 anos, foi baleado nos arredores da Praça Princesa Isabel na quinta-feira, 12. Três policiais civis se apresentaram como autores de disparos. Uma perícia vai apurar se o tiro que causou a morte do homem saiu da arma de algum dos oficiais.

Os promotores pretendem ouvir Arthur Guerra, coordenador técnico do programa Redenção, o secretário municipal de Assistência Social, Carlos Bezerra Junior, o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, e o comandante da Guarda Civil Metropolitana, Agapito Marques.

A portaria, assinada pelas Promotorias de Justiça de Direitos Humanos, da Infância e Juventude de Habitação e Urbanismo e formalizada nesta segunda-feira, 16, afirma que as investigações vão avaliar a ação da Prefeitura para internação, voluntária ou não, dos dependentes químicos, os tratamentos nos locais de internação, as formas de abordagem das equipes de saúde e assistência social.

Conforme os promotores, as ações atuais têm grande semelhança com intervenções anteriores que tinham "o objetivo de criar uma situação de intenso sofrimento, causado pela violência física e psíquica aos dependentes químicos". Os representantes do MP se referem à ação policial de 2012 na Estação Julio Prestes, na região da Luz, antigo endereço da Cracolândia. Para os promotores, a ação da semana passada foi mais violenta, pois resultou na morte de um homem.

"A Prefeitura foi alertada para à importância de não repetir os mesmos erros cometidos nas operações anteriormente desenvolvidas na Cracolândia, as quais, além de inefetivas e caras, foram responsáveis por várias violações de direitos, decorrentes, principalmente, da priorização da atuação policial em detrimento das ações de saúde, assistência social e moradia", diz trecho da portaria.

Dispersão formou minicracolândias no centro da cidade

Após a grande operação que envolveu 650 oficiais na quinta-feira, 12, dependentes químicos da Cracolândia da Praça Princesa Isabel começaram a se deslocar pela região central, principalmente próximo à Praça Marechal Deodoro e na rua Helvétia, nas proximidades da Avenida São João.

Divididos em grupos, os usuários formaram minicracolândias em vários pontos: Rua Gusmões, Alameda Glete, Rua Mauá, Rua Barão de Limeira, Rua Barão de Campinas e Rua Conselheiro Nébias.

Por conta da movimentação dos usuários, comerciantes passaram a trabalhar com portas entreabertas ou em horários alternativos, abrindo mais tarde e fechando mais cedo, com receio de assaltos. Viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, assim como agentes de saúde e da assistência social, circulam constantemente por esses locais.

Um homem de 32 anos morreu após ser baleado durante uma confusão entre policiais e usuários de drogas na Cracolândia nesta sexta-feira (13). O corpo da vítima foi localizado na avenida Rio Branco, no Centro de São Paulo, onde a polícia realiza uma operação para dispersar os egressos da antiga Cracolândia, que funcionava na Praça Júlio Prestes e na Rua Helvétia, também na região central da capital paulista.

Atingido no tórax, o homem chegou a ser socorrido em uma ambulância para a Santa Casa, mas não resistiu ao ferimento. De acordo com o 77º DP, onde o caso foi registrado, ele vivia em um albergue da região.

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Vídeos feitos por moradores do entorno registraram o momento em que um grupo de pessoas caminha pela avenida antes de ser alvejado pelos policiais armados com fuzis. Entidades voltadas para a defesa dos direitos humanos têm criticado a abordagem da polícia com os usuários de drogas que vivem na Cracolândia.

Em resposta aos recentes incidentes, a Marcha da Maconha organiza um ato “contra todas as agressões e violência que tem atingido a populações em situação vulnerável da região da Luz, no centro de São Paulo”. A mobilização ocorrerá a partir das 13h do próximo domingo (15), na Praça Júlio Prestes.

A megaoperação realizada nesta quarta-feira (11) pela Polícia Civil de São Paulo na região central resultou na prisão de cinco pessoas suspeitas de participar do tráfico de drogas na Praça Princesa Isabel, no centro da cidade, local que passou a ser conhecido como a "nova Cracolândia". Outras 15 foram detidas, mas liberadas por falta de provas. As investigações prosseguem.

"Hoje (ontem, quarta) nós tivemos a prisão inclusive de um traficante relevante ali, que tem um apelido diferente, que é 'Filé com Fritas'. Ele se encontra preso por conta da prática reiterada do tráfico de drogas", explicou o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Seccional Centro. O apelido é o codinome de Lucas Felipe Macedo Marques, de 22 anos, um dos dois presos a partir de mandados. Os outros três foram presos em flagrante.

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"Ele (Filé com Fritas), de forma contumaz, estava na Praça Princesa Isabel, substituindo traficantes que foram presos", disse Monteiro, que destaca que os lucros dos traficantes podem chegar a até R$ 200 milhões por ano. Os presos foram levados ao 77º DP (Santa Cecília), que conduz o trabalho de inteligência e as investigações da Operação Caronte. Segundo Monteiro, já foram feitas mais de 100 prisões no fluxo de drogas desde que ela começou, há cerca de 10 meses.

Nesta quarta, foi realizada a quinta fase da Caronte, que se deu de forma integrada à Operação Sufoco, anunciada pelo governo do Estado. A ação contou com mais de 600 policiais civis e militares, além de membros da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

O objetivo da ação era cumprir 36 mandados de prisão na região da Praça Princesa Isabel - apenas dois foram cumpridos, mas as investigações continuam - e mais 10 mandados de busca e apreensão. "Inclusive um mandado de busca coletiva para as barracas, expedido pela Justiça justamente diante das evidências que a Polícia Civil apresentou de que aquelas barracas existiam ali e permaneciam naquele local apenas para dissimular o tráfico de drogas que havia no interior delas", disse Monteiro.

O delegado acrescentou ainda que foi feita a apreensão de "uma quantidade expressiva de drogas" - como tijolos de crack e de maconha - e reforçou que houve uma "inflação do crack" no local. "Nós começamos (as investigações) com a pedra custando 20 reais, e tivemos notícia recentemente da pedra custando R$ 50 na Praça Princesa Isabel, justamente pela pressão policial", explicou.

A polícia estima, com isso, que somente um dos tabletes apreendidos nesta quarta custaria por volta de R$ 800 mil. Conforme a polícia, foram apreendidas ainda dois simulacros de arma de fogo, 19 balanças de precisão, facas, entre outros objetos. Ao menos uma barraca suspeita de receptação foi desmantelada. Ela seria usada, segundo a polícia, para que traficantes recebessem objetos roubados, como celulares, e fornecessem drogas em troca.

"Hoje (ontem) nós também tivemos uma apreensão de uma grande quantidade de documentos, RGs, CPFs, título de eleitor", destacou Monteiro. "Esses documentos são vendidos por traficantes. Podem ser usados para a abertura de contas correntes, essas contas que são usadas para o encaminhamento inclusive de valores através de transferências por Pix, nesses golpes que são praticados hoje em dia depois da subtração dos celulares."

Levantamento feito pelo Estadão aponta que os roubos estão em alta em bairros nobres e na região central da cidade. Em alguns casos, os prejuízos podem ser multiplicados justamente por transferências via Pix, ferramenta de pagamento instantâneo do Banco Central.

Os diferenciais da operação, segundo o delegado, são o "trabalho meticuloso" realizado pelos investigadores e o emprego da tecnologia para identificar traficantes. "Uma imagem vale mais que milhares de palavras. Com a imagem de várias personagens, como a Gatinha da Cracolândia, a Abelha Rainha, agora o Filé com Fritas, eles têm dificuldades de apresentar defesa e acabam condenados, encarcerados e permanecem assim."

Monteiro reforçou que a ação da Operação Caronte, que também influiu na dispersão da Cracolândia da Praça Júlio Prestes, contou com apoio da Prefeitura de São Paulo e foi feita de forma integrada. "Nós estamos trabalhando em conjunto - o governo do Estado, Prefeitura de São Paulo, as forças policiais, as secretarias de assistência social, secretarias da Saúde do Estado e do município - justamente para enfrentar esse grande e complexo problema que temos na capital, que foi agravado pela pandemia da covid", destacou.

Os agentes chegaram à Praça Princesa Isabel por volta de 4h, onde a ação se iniciou e se estendeu ao longo do dia. "Fizemos o que já vínhamos fazendo na Praça Júlio Prestes, que é a contenção dos usuários para que os traficantes não influenciassem e insuflasse esse grupo de traficantes contra a polícia, para que não houvesse confronto", explicou. "Também nós fizemos no entorno, num círculo maior, o fechamento, evitando justamente efeitos colaterais no entorno da Praça Princesa Isabel."

Conforme o Estadão apurou, alguns policiais militares teriam chegado à Praça Princesa Isabel antes do início da ação, inclusive removendo o ônibus que ficava no local. A ação levantou a suspeita que alguns dos traficantes teriam saído do local com antecedência por suspeitar que haveria uma ação policial. O balanço final da operação ainda não foi divulgado.

Como funciona o tráfico na Cracolândia

Conforme o delegado Roberto Monteiro, o tráfico de drogas na Cracolândia funciona com uma estrutura hierárquica, que conta com os seguintes membros:

- Traficante, que conduz o tráfico na área;

- Auxiliar do traficante, que dá apoio para operacionalizar as transações;

- Travessia, que leva as drogas dos hotéis do entorno para as mesas colocadas embaixo das tendas;

- Disciplina, que é responsável por ajudar o traficante a manter a ordem no espaço no fluxo da Cracolândia;

- Armadores, que eram os que montavam e desmontavam as cerca de 7 a 10 barracas do tráfico de drogas na Praça, de acordo com as atividades de limpeza da Prefeitura de São Paulo.

Conhecida como a 'nova Cracolândia', a Praça Princesa Isabel, no bairro Campos Elíseos, zona central da capital paulista, recebeu nesta segunda-feira (4) a primeira grande limpeza realizada pela Prefeitura desde que o local viu o fluxo de usuários de drogas aumentar de forma significativa. Há cerca de duas semanas, ocorreu a poucas quadras dali uma dispersão da antiga Cracolândia, nos arredores da Praça Júlio Prestes, a mando do tráfico de drogas.

Por volta de 8h desta segunda-feira, dezenas de viaturas da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar chegaram ao local para dar suporte a funcionários da limpeza urbana da Prefeitura. Eles, então, passaram a limpar a praça e a remover parte das barracas dispostas no local. Recorridas pela população de rua como forma de proteção ao longo dos últimos anos, as tendas também são usadas para esconder transações em espaços de tráfico de drogas.

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Conforme comerciantes da região, não houve conflitos durante a ação de higienização. A limpeza teria começado logo pela manhã e mais de dez caminhões da Prefeitura teriam retirado barracas da praça até por volta de 11h, quando o fluxo de servidores da limpeza urbana diminuiu. Anteriormente, a rotina de limpezas era frequente na Praça Júlio Prestes, mas não na Praça Princesa Isabel, relatam os comerciantes.

Após a remoção de parte das tendas, permaneceram no local algumas viaturas e um caminhão-pipa para limpeza da Princesa Isabel. Um ônibus da Polícia Militar também foi estacionado na praça.

Comerciante em uma lanchonete nos arredores da Princesa Isabel há cerca de quatro anos, Jeová Martins, de 43 anos, relata que a situação está desanimadora. "Estou até pensando em entregar o ponto", diz. Ele relata que, na comparação com antes da pandemia e do fluxo de usuários da Cracolândia ter migrado para a praça, o movimento na lanchonete caiu pela metade. "A pandemia deu uma amenizada, mas aí veio esse problema aí", diz Jeová, em alusão aos usuários.

"Atrapalhou bastante, o movimento caiu muito. Onde tem usuário, o pessoal fica com medo de ser assaltado", diz o vendedor Aldo da Silva, de 32 anos. Ele calcula que, desde que houve a dispersão do antigo ponto da Cracolândia, o movimento no mercado onde trabalha há dois anos, na Avenida Rio Branco, caiu cerca de 30%.

Segundo ele, por não ter havido conflito, o comércio nos arredores da praça não fechou na manhã desta segunda, mas o clima geral é de desânimo. "Só tem moradores daqui mesmo, as pessoas de fora não vêm para cá mais. Muito comerciante foi embora", diz Aldo, que acrescenta que a sensação de insegurança aumentou nas proximidades da praça.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou ter retirado durante a ação de zeladoria realizada nesta segunda pelo menos 35 toneladas de lixo e materiais de uso permanente da Praça Princesa Isabel. Segundo a pasta, 12 caminhões foram carregados com madeira, lonas e sofás, que estavam montados em local público durante as primeiras horas da ação.

A Prefeitura complementa que a ação foi realizada de acordo com as regras do decreto nº 59.246/2020, que preserva artigos de uso pessoal e coíbe a ocupação permanente de áreas públicas. A zeladoria urbana foi acompanhada por técnicos da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e precedida por mais de 1,8 mil abordagens e 230 encaminhamentos sociais e terapêuticos.

Na última semana, o governo de São Paulo inaugurou uma ligação entre a Estação da Luz - que atende as Linhas 7-Rubi, 10-Turquesa e 11-Coral da CPTM - e o estacionamento da Sala São Paulo, espaço para concertos que integra o Centro Cultural Júlio Prestes. A passagem entre os locais fica na vizinhança da Cracolândia.

Na ocasião, o então governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse ter orientado a remoção de barracas da Praça Princesa Isabel. "Onde você tem tendas, você tem o tráfico. Então, a orientação que dei ao secretário de Segurança Pública, junto com a Guarda Civil Metropolitana - porque esse é um tema da Prefeitura, não é um tema do Estado -, foi: ‘Barracas, não’", disse. "Onde você põe barraca - eu fui prefeito, eu vivi essa experiência - você tem ali os traficantes."

Traficantes e usuários de drogas deixaram a região conhecida como Cracolândia, na Luz, ao longo deste final de semana e se espalharam por outros pontos do centro da cidade de São Paulo. O local de maior concentração agora é Praça Princesa Isabel, distante menos de um quilômetro.

Moradores e trabalhadores da região relatam que a concentração - o chamado "fluxo" - no quadrilátero da rua Helvétia, alamedas Dino Bueno e Cleveland e a praça Júlio Prestes já vinha diminuindo nos últimos dias. De acordo com monitoramento da Prefeitura, a região recebia um fluxo médio de 527 pessoas por dia. Em fevereiro, o número caiu para 397.

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O esvaziamento rápido, no entanto, surpreendeu até os moradores. Nesta segunda-feira, 21, as ruas amanheceram praticamente vazias. Moradores ocuparam a praça, conhecida como Praça do Cachimbo, no final da tarde.

"Tivemos um dia que podemos comemorar. Tivemos a saída dos traficantes da praça neste final de semana e no dia de hoje", afirmou Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo. "Não dá para dizer que acabou a Cracolândia. Tivemos um final de semana e uma segunda-feira sem a presença de usuários, mas é a vitória de uma batalha. Tem muita guerra pela frente ainda", afirmou.

Vargas nega que a Cracolândia esteja se transferindo para a Praça Princesa Isabel. Outro local que vem registrando aumento de usuários e traficantes é o túnel de interligação entre as avenidas Paulista e Rebouças. "Um contingente foi para a Praça Princesa Isabel, mas o local não chega a ter 100 pessoas. Alguns traficantes estão tentando se instalar ali, mas estamos monitorando esse e outros pontos, como o túnel que liga a Avenida Paulista com a Rebouças. Não adianta fazer uma lista. Isso é dinâmico. A gente não vai deixar eles se acomodarem em nenhum outro ponto", promete o secretário.

Nos últimos meses, a Prefeitura e o Governo Estadual vinham intensificando as ações de segurança na região. Desde janeiro de 2019 até o dia 28 de fevereiro, às forças de segurança estaduais informam a apreensão de mais 3,8 toneladas de drogas e 48,3 litros de drogas líquidas na região. No mesmo período, foram apreendidas 18 armas de fogo, 111 facas, 522 munições de diversos calibres, 446 balanças de precisão e mais de R$ 900 mil em notas e moedas.

Entidades de assistência social alertam que o espalhamento dos usuários de substâncias psicoativas pode dificultar o oferecimento de cuidados básicos de saúde e ações de redução de danos do uso de drogas, como oferecimento de anticoncepcionais para as mulheres.

O padre Julio Lancelotti vê com estranheza o esvaziamento. "É um vazio repentino e não se deve a nenhuma intervenção social do Estado ou da Prefeitura. O fluxo foi pulverizado, desde a Praça Princesa Isabel até outros locais do centro. O repentino vazio sugere algum acordo com o tráfico e agentes públicos. Precisamos esclarecer o que está por trás desse repentino e inexplicável vazio", afirmou o líder da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo.

As polícias Civil e Militar realizam uma operação para cumprir 23 mandados de prisão temporária nesta sexta-feira (24) na Cracolândia, região central de São Paulo. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), até o momento quatro pessoas foram detidas, duas delas eram procuradas pela Justiça.

Também foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão. A ação é o terceiro desdobramento da chamada Operação Caronte, que desde junho realiza prisões de pessoas suspeitas de atuarem no tráfico de drogas na região, conhecida pela grande concentração de pessoas em situação de rua e com uso abusivo de drogas.

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De acordo com a SSP, a operação acontece com apoio da Guarda Civil Metropolitana e com o uso de dois veículos blindados da Polícia Civil. Estão envolvidos ainda 160 policiais civis e 90 policiais militares.

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) usou as redes sociais no último sábado (7), para criticar a distribuição de comida para pessoas na região da Cracolândia, no centro de São Paulo. A declaração veio após o padre Julio Lancellotti denunciar que a Polícia Militar tentou impedir a entrega das marmitas neste fim de semana. A parlamentar disse que "a distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime".

No Twitter, a deputada declarou, ainda, que "o padre e os voluntários ajudariam se convencessem seus assistidos a se tratarem e irem para os abrigos".

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A posição acabou criticada nas redes sociais.

O padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, manifestou indignação com a fala da deputada. "Quando alguém critica, causa um impacto geral. Ela quis dizer que nós apoiamos o crime", disse. "O nosso objetivo não é ser um distribuidor de comida. O alimento é um vínculo para se aproximar."

Nas redes, ele usou uma imagem para rebater a publicação de Janaina, sugerindo que a deputada não se posiciona diante dos mortos pela Covid-19 no País.

Lancellotti afirmou que no domingo, 8, quando os integrantes da pastoral tentavam realizar a distribuição de alimentos, agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) cercaram os acessos à região, impedindo, mais uma vez, a chegada da equipe de voluntários. "Eles fizeram um cerco e nós tivemos de entregar a comida em outras ruas", disse. "Não dá para combater esse tipo de questão com violência", complementou.

Ainda de acordo com o coordenador da pastoral, a GCM afirmou haver dois traficantes na Cracolândia. "Se eles sabiam que tinham esses dois traficantes, por que não foram pegá-los?", questiona.

Neste domingo, Janaina voltou às redes sociais afirmando não ter feito ataques. "Há anos, todos reclamam da Cracolândia, mas ninguém tem coragem de olhar para as ações que findam por colaborar para que aquela região siga assim. Alimentar no vício só estimula o ciclo vicioso."

A reportagem tentou contato com a deputada, por telefone, para comentar as declarações, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto, no fim da noite do domingo.

O jornal O Estado de S. Paulo também procurou a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e a Secretaria da Segurança Pública, que também não responderam até o fechamento da reportagem.

O padre Julio Lancelotti, da Pastoral Povo da Rua, afirma que o arrastão registrado na Cracolândia aconteceu após guardas-civis impedirem que usuários de droga ficassem sob a marquise da Estação Júlio Prestes para se proteger da chuva de granizo que atingia o centro de São Paulo. O relato contraria a versão oficial de que o tumulto teria iniciado porque dependentes químicos agrediram GCMs.

O episódio mais recente de conflito na Cracolândia aconteceu na tarde de anteontem. Um grupo que estava no entorno da Praça Princesa Isabel depredou ao menos seis veículos, invadiu carros e saqueou motoristas.

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O tumulto durou cerca de 20 minutos até ser controlado pela Polícia Militar, que mantém uma base na área e também atuou no conflito, sem que ninguém tenha sido preso. Na região, comerciantes dizem, ainda, temer novos ataques.

O arrastão foi filmado por testemunhas. "O que está sendo divulgado é só uma parte da narrativa", diz o padre Julio Lancelotti, que atua no acolhimento de moradores de rua, entre eles frequentadores da Cracolândia. "Quando começou a chuva, muitos procuraram proteção na marquise da Júlio Prestes, mas a GCM atacou para que eles não entrassem."

Em redes sociais, ele publicou vídeo que reforçaria a versão, mas não flagra o suposto ataque da GCM. As imagens mostram guardas-civis protegendo a Estação, que fica perto do "fluxo", onde os usuários de drogas se concentram. Ao fundo, é possível ouvir o som aparentemente de bomba.

Para ele, o episódio não justifica o ataque contra motoristas, mas precisa ser considerado na busca por soluções. "O tratamento violento gera resposta violenta. Precisamos entender por que chegamos a um ponto tão dramático", diz. "Chama atenção que a Polícia Militar estava a 100 metros do local do arrastão. Pessoas eram atacadas e havia um crime acontecendo. Por que não interveio?"

Secretário executivo da PM, o coronel Alvaro Batista Camilo defende que a atuação foi "rápida", embora os policiais não tenham conseguido pegar os criminosos em flagrante. Ontem, um inquérito foi instaurado para identificar os autores, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

"A polícia já está capilarizada e, quando foi acionada, rapidamente colocou ordem. Entre o começo da ação e tudo ser restabelecido, durou cerca de 20 minutos", afirma. "O arrastão não visava as pessoas e ninguém ficou ferido. Eles queriam os bens, principalmente celular, para trocar por drogas."

Segundo ele, o efetivo policial e o patrulhamento direto também foram reforçados após o caso. Dados da pasta mostram, ainda, mais de 1.270 prisões na Cracolândia nos últimos dois anos, além da apreensão de 3,6 toneladas de droga e 15 armas de fogo.

"O problema da Nova Luz é complexo. Se fosse simples, já estava resolvido", diz Camilo. "Não é um problema só de polícia, precisa de um trabalho conjunto da área de Assistência Social e de Saúde no tratamento e acolhimento dessas pessoas."

Em nota, a Secretaria de Segurança Urbana, responsável pela GCM, diz que o "fluxo" havia sido transferido da Rua Dino Bueno para a Alameda Cleveland, por retirar materiais de demolições em uma quadra da região. "A ação foi informada e combinada previamente", diz.

A pasta contesta a versão do padre. "A GCM iniciou a operação, que ocorria dentro da normalidade, no entanto, um grupo de frequentadores passou a arremessar pedras, paus e outros objetos na direção dos agentes públicos. A injusta agressão precisou ser contida para preservar a segurança de todos na região." Também segundo a pasta, a GCM "reforçou o policiamento fixo" e "intensificou as rondas".

Medo

Comerciantes da área se dividem entre medo e resignação. "A sensação é horrível, a gente vive inseguro", diz uma lojista, que não quis se identificar. "Precisa ter alarme e barra de ferro na porta porque é daqui que tiro meu sustento."

Trabalhando perto do local do arrastão, Leonardo da Silva, de 47 anos, diz já estar "bem acostumando". "Não pode deixar nada fácil porque levam."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A região da Cracolândia, no centro de São Paulo, registrou um arrastão realizado por um grupo contra motoristas que passavam pelo local na tarde desta terça-feira, 8. Imagens gravadas por testemunhas mostram o momento em que pessoas apedrejam os veículos e chegam a entrar em alguns deles.

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o momento em que homens cercam veículos, batem com objetos contra a lataria e abrem as portas, fugindo pouco tempo depois. Os motoristas tentam escapar acelerando, mas encontraram dificuldades em razão da lentidão do trânsito na região no momento do arrastão. "A muvuca veio e eles se juntaram na rua Helvetia com a Conselheiro Nebias e começaram a depredar os carros. Conforme conseguiram roubar os carros das imagens, eles seguiram adiante e não consegui visualizar mais", disse ao Estadão uma testemunha do arrastão.

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Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que a Polícia Militar foi acionada para conter um tumulto iniciado por usuários de drogas na região, após ação de limpeza realizada por agentes da subprefeitura local. "Imediatamente foi acionado o plano de contingência e tropas da Força Tática, Baep, Cavalaria e do patrulhamento de área reforçaram o policiamento no local. Após a chegada da PM, a situação foi controlada e a ordem foi restabelecida. No momento, o policiamento segue reforçado na região", informou a pasta.

O caso teve repercussão de parlamentares de São Paulo. O deputado estadual Arthur do Val (Patriota) fez um alerta para as pessoas da região tomarem cuidado. "Se você está no centro de São Paulo agora, cuidado. Bandidos da Cracolândia estão roubando e quebrando tudo por aí. Até quando nós, paulistanos, vamos tolerar esse inferno no centro de nossa cidade?", escreveu no Twitter.

O deputado federal Capitão Derrite (Progressistas) disse que a "Cracolândia é uma triste realidade em São Paulo, cujo fim já foi prometido por tantas vezes, inclusive pelo atual governador durante campanha, mas a solução nunca foi vista".

Na visão do deputado federal Ivan Valente (PSOL), que também comentou o caso, a solução passa por empatia "em vez de ódio" para tratamento dos usuários que vivem na região.

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