A Agência Nacional do Cinema (Ancine) decidiu incluir na programação da série Produção em Tela uma homenagem às mulheres, com a apresentação, neste mês de março, de filmes brasileiros dirigidos por cineastas do sexo feminino. A iniciativa partiu do especialista em Regulação na Área do Audiovisual da Ancine, Alexandre Muniz, que selecionou os filmes que serão apresentados durante o Mês da Mulher.
A série Produção em Tela começou em 2017. “Era uma vontade grande e antiga de ter uma sala de projeção, um espaço onde a gente pudesse assistir o resultado do nosso trabalho, que é o filme pronto”, disse Muniz. Nos últimos três anos, foi equipada uma sala de projeção na própria agência, com o objetivo de utilizar o espaço e aproximar a realidade da produção audiovisual do corpo técnico da Ancine.
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O conceito do projeto Produção em Tela é mostrar filmes, de preferência que estejam estreando no circuito ou sejam inéditos, para dar uma visão do que está acontecendo no mercado. A série especial, que será exibida a partir de hoje (1º), inclui novos filmes dirigidos por mulheres. O evento acabou ganhando uma dimensão maior, com exibições abertas ao público, que poderá participar também dos debates. “Só para você ter uma ideia, no ano passado projetei cinco filmes e só neste mês [de março] vou projetar cinco. Serão cinco semanas, com cinco diretoras diferentes e cinco filmes incríveis, com debates maravilhosos”.
Sessões
As mostras eram restritas anteriormente aos funcionários da Ancine. Devido à realização de obras no sistema de ar condicionado do auditório da agência, a série especial será levada pela primeira vez para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), situada no Parque do Flamengo, e aberta ao público em geral, com entrada gratuita. As sessões estão programadas para as 15h. Serão distribuídas senhas uma hora antes do evento.
Somente duas sessões serão fechadas ao público, nos dias 8 e 15 de março, por exigência das distribuidoras, porque os filmes ainda são inéditos no Brasil. A mudança para o MAM vai beneficiar o público, segundo Alexandre Muniz, uma vez que a capacidade do auditório da Ancine é para 90 pessoas e a da Cinemateca tem maior abrangência, na medida em que abriga 180 pessoas.
A série Produção em Tela Especial Mulher põe em debate temas variados, com a mulher em foco em várias perspectivas. O primeiro filme a ser exibido hoje (1º), abrindo a mostra, é Legítima Defesa, de Susanna Lira. “A gente está levando a discussão sobre a violência na relação de gênero”. O objetivo, disse Muniz, é debater a importância da produção audiovisual como temática condutora de questões na sociedade.
Liderança
No dia 8 de março, em sessão exclusiva para servidores da Ancine, será exibido o filme Mormaço, de Marina Meliande, que destaca a liderança feminina. A obra retrata a cidade do Rio de Janeiro no período pré-Olimpíada e teve o envolvimento da diretora com as comunidades locais, que resistiram ao despejo de suas casas para as obras esportivas. A líder comunitária da Vila Autódromo, Sandra Teixeira, atriz do filme, participará do debate.
Na terceira semana da mostra, também fechada ao público, a meta é mostrar a visibilidade trans, o preconceito contra pessoas transexuais na sociedade e as dificuldades de inserção e atuação na área audiovisual. Duas atrizes trans participarão do debate, após a exibição do filme inédito Bixa Travesty, da cineasta Cláudia Priscilla e Kiko Goifman, que coloca em foco a carreira da cantora transexual negra Linn da Quebrada.
No dia 22, o filme em debate é Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida, que fala sobre a ocupação dos corpos femininos na frente e atrás das câmeras como uma quebra de paradigma. Entre as debatedoras, está Marina Tedesco, diretora de fotografia e integrante do Coletivo das Diretoras de Fotografia do Brasil (DAFB), função ainda não reconhecida no país e no mundo. Alexandre Muniz destacou que este ano foi a primeira vez que uma mulher foi indicada ao Oscar como diretora de fotografia. Ela é Rachel Morrison, de Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi.
Encerrando a série especial, o filme exibido será Café Com Canela, dirigido pela cineasta negra Glenda Nicácio em codireção com seu marido, Ary Rosa. “A gente não tem direção de mulheres negras”, disse Muniz. Para ele, será uma oportunidade de discutir a implementação de ações afirmativas em prol da inclusão e da representatividade de grupos variados nas políticas públicas para o setor audiovisual, bem como a descentralização de financiamento.
Participam também da série documentários dirigidos por mulheres, que foram selecionados pela Ancine. “A composição é só de mulheres na mesa, só mulheres falando e acho que vai ter muito pano pra manga, para a gente entrar na discussão com uma série de assuntos. Essa é a proposta”.