O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) bloqueou nesta quarta-feira avenidas e rodovias em sete Estados em protestos contra "políticas antipopulares" do governo Dilma Rousseff, como o ajuste fiscal, em reação às manifestações de domingo, consideradas "golpistas", e em defesa da "reforma urbana", por meio da ampliação do Minha Casa Minha Vida. Foram 23 pontos de interdição no País. Segundo o MTST, os atos mobilizaram 20 mil sem-teto.
Os manifestantes fizeram barricadas com pneus queimados e incendiariam bonecos que representavam os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, das Cidades, Gilberto Kassab, e da Agricultura, Kátia Abreu. Os bloqueios se espalharam por São Paulo, Rio, Minas, Paraná, Bahia, Ceará e Paraíba. Mais protestos devem ser realizados na quinta-feira e nas próximas semanas.
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Os atos fizeram contraposição às manifestações de domingo, quando uma multidão em todos os Estados do País foi às ruas contra Dilma. "Não vamos assistir calados ao aumento da intolerância, do preconceito, do ódio social, a defesa de intervenção militar e de golpismo. Esse tipo de posição e de pauta vai encontrar uma resistência brava e decidida por parte dos movimentos populares", afirmou Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, durante coletiva em São Paulo. O ajuste fiscal também pautou as manifestações. "A terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, com três milhões de moradias, ainda não foi lançada, apesar do acordo com o governo durante os atos na Copa do Mundo, no ano passado. Em vez disso, estamos vendo lançamento de políticas de ajustes antipopulares, que não condizem com o que a presidente prometeu durante a campanha eleitoral", afirmou Natália Zermeta, coordenadora nacional do MTST.
Segundo ela, as medidas do governo Dilma têm afetado as classes mais baixas, com o aumento, por exemplo, do preço da gasolina e dos aluguéis. O movimento afirma também que o ajuste fiscal de Levy vai afetar programas sociais. "Somos contra o ajuste antipopular do governo que já afetou programas como o Minha Casa Melhor, além de ter adiado até aqui o lançamento do Minha Casa, Minha Vida Três", disse o coordenador do MTST no Ceará, Róger Medeiros.
Outras reivindicações eram a ampliação das unidades destinadas a famílias de baixa renda e à modalidade Minha Casa Minha Vida Entidades, além da construção de habitações de maior qualidade e mais bem localizadas. "No ano passado, após uma ocupação em São Gonçalo, fechamos acordo para a construção de mil moradias. A gente precisa dos recursos e do terreno", disse Vitor Guimarães, um dos coordenadores do MTST no Rio.
O Dia Nacional de Lutas reuniu diversos movimentos sociais. Em Minas, aderiu aos atos o Movimento Sem Teto do Brasil (MSTB). Houve bloqueios com pneus queimados pela manhã nas BR-050, 262, 365 e 497, no Triângulo Mineiro. Em Araxá, fecharam a BR-452. Integrantes do Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e das Brigadas Populares bloquearam as rodovias da Grande Belo Horizonte e as liberaram às 14 horas. Em Fortaleza, os sem-teto protestaram na frente do Palácio da Abolição, sede do governo estadual. O grupo também bloqueou a BR-116.
Com a participação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto da Bahia (MSTB) e do Movimento Passe Livre (MPL), um grupo de manifestantes acampou hoje no estacionamento da Secretaria Estadual da Educação, em Salvador. O MTST fechou a BR-101 em Niterói, no Rio, hoje. Para bloquear a rodovia, os manifestantes atearam fogo a pneus. O protesto causou congestionamento de 6 km na rodovia e reflexos até em São Gonçalo, cidade vizinha. O grupo também cobrou o lançamento da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida. Em Curitiba, o Movimento Popular por Moradia (MPM) fechou por três horas e meia os dois sentidos do Contorno Sul, na BR-376, ligação da capital com o interior. (Colaboraram Carina Bacelar, Tiago Décimo, Julio Cesar Lima, Carmem Pompeu, Leonardo Augusto e René Moreira, especiais para Estadão Conteúdo)