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A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta quinta-feira, 19, documento que revela a preocupação da ditadura brasileira de apressar uma parceria com o governo militar da Argentina, logo após o golpe no país vizinho, para monitorar o ex-presidente João Goulart e outros 93 brasileiros asilados ou possivelmente escondidos em território argentino. O documento foi produzido no começo de maio de 1976, menos de dois meses depois do movimento que derrubou a então presidente Isabel Perón.

Produzido pelo III Exército, com sede em Porto Alegre, o documento de caráter sigiloso ressalta que João Goulart poderia deixar a Argentina depois do golpe de 24 de março daquele ano. Os militares brasileiros escrevem que necessitavam de "obter através da cooperação das forças de segurança argentinas a confirmação das presenças" dos citados na lista. Eles escrevem ainda que pediriam aos argentinos fotografias recentes, documentos de identidade e cópias de depoimentos em casos de prisões.

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O documento foi entregue à comissão por João Vicente Goulart, filho do ex-presidente. João Vicente observou que, tempos depois da produção do documento, um escritório do ex-presidente na Argentina foi invadido pela polícia local. Não há registro se o pedido foi formalizado aos argentinos nem uma resposta. João Vicente observou que o "subversivo" João Goulart, como o pai é citado no documento, não passava mais que duas noites numa mesma residência, com receio de ser vítima dos militares dos dois países.

Rosa Cardoso, representante do grupo de trabalho da comissão que investiga as relações entre as ditaduras do Cone Sul, ressaltou que a cooperação entre o regime militar do Brasil e forças de repressão da Argentina já existia antes mesmo do golpe contra a presidente Isabel Perón. O documento entregue pelo filho de Goulart, segundo ela, reforça a tese de que a ditadura brasileira logo buscou formalizar uma cooperação com o novo governo argentino. "Já havia um contato com esse novo governo desde as primeiras horas", afirmou.

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pediu nesta quarta-feira desculpas pelo fato de o Parlamento ter retirado o mandato do presidente João Goulart, na madrugada do dia 2 de abril de 1964, mesmo com o chefe de Estado em solo brasileiro. Na solenidade que anulou àquela sessão do Congresso, Renan disse que hoje que a história não tem um ponto final, especialmente quando "forjada" pela ilegalidade.

"Peço desculpas pela inverdade patrocinada pelo Estado brasileiro, com a participação do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, de um ilustre brasileiro, um patriota", afirmou ele, em discurso, que contou com a participação da presidente Dilma Rousseff e integrantes do governo, como o ministro da Defesa, Celso Amorim, e os comandantes das Três Forças Armadas.

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Renan Calheiros ofereceu a João Vicente Goulart, um dos filhos do ex-presidente, um diploma de restituição simbólica do mandato do ex-chefe de Estado brasileiro, além de cópia documentos representativos para João Goulart, como termos de posse e cópia dos compromissos prestados. Para Renan, a devolução do mandato do presidente deposto "representa, além de justiça, a exumação da verdade".

"O Congresso Nacional não deve recusar ou fugir de suas obrigações institucionais, ainda que elas impliquem em um revisionismo histórico, ainda que constrangedor para alguns públicos", destacou.

Em discurso antes de Renan Calheiros, João Vicente disse que Jango, como seu pai era conhecido, foi "injustamente cassado" por um golpe civil-militar. Ele lembrou que Goulart presidiu em duas ocasiões o Congresso Nacional e que a solenidade de hoje repara a "triste mancha e o equívoco do parlamento brasileiro ao legalizar a ditadura".

Para o filho do presidente deposto, o golpe não foi contra João Goulart, mas contra as reformas de base que ele havia proposto fazer em mensagem enviada ao Congresso Nacional no início de 1964. Ele disse que, até hoje, as reformas precisam ser feitas.

"Há cinquenta anos precisávamos reformar o Estado brasileiro para avançar no desenvolvimento do País", disse João Vicente, ao citar a necessidade de se realizar as reformas agrária, tributária educacional e política.

O filho de Jango agradeceu a presidente Dilma Rousseff, que não discursou na solenidade, pela busca em recuperar a história, com iniciativas como a instalação da Comissão da Verdade. Segundo João Vicente, a história do seu pai se coloca acima dos partidos políticos e torna o Congresso como parte da história brasileira. Contudo, é preciso olhar as questões sem ódios e ressentimentos.

"Mais uma vez repito com as palavras que me despedi pela segunda vez do meu pai em São Borja: Jango, a democracia venceu", frisou.

 

A última semana legislativa do ano promete ser decisiva para o Plano Nacional de Educação (PNE). A matéria (PLC 103/2012) começou a ser discutida em Plenário na última quarta-feira (11), mas a votação foi adiada para terça-feira (17). O texto do PNE recebeu críticas da oposição por falta de ações práticas e de tempestividade. O texto, que prevê metas para o período de 2011 a 2020, tramita há três anos no Congresso e ainda terá de voltar à Câmara dos Deputados.

Um dos principais críticos ao texto é o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), relator do projeto do PNE na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). Das 101 mudanças contidas no relatório do senador e aprovadas pela comissão, 47 foram rejeitadas pelo autor do substitutivo que seria votado pelo Plenário, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O texto apresentado por Vital foi pouco modificado pelo relator em Plenário, senador Eduardo Braga (PMDB-AM). É essa versão que vai ser votada na terça.

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O PNE tem 14 artigos, 21 metas e 177 estratégias que visam, entre outros objetivos, erradicar o analfabetismo e universalizar o atendimento escolar, com o aumento de vagas em creches e universidades públicas. O plano ainda prevê a destinação de 10% do produto interno bruto (PIB) para a educação e a qualificação dos professores e dos demais profissionais da área.

A pauta do Plenário também prevê a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 34/2013, que restringe a criação ou a extinção de estatais, ministérios e demais órgãos públicos por parte do Poder Executivo. De autoria do senador José Agripino (DEM-RN), a proposta estipula um número maior de votos favoráveis na Câmara dos Deputados e no Senado Federal para a aprovação de projetos que criem repartições públicas. A autorização legislativa passaria de maioria simples para maioria absoluta, em cada Casa. A quinta e última sessão de discussão do primeiro turno da votação da PEC 34 ocorreu na quinta-feira (12).

Outro item que consta da pauta do Plenário é o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 72/2007, que garante às pessoas transexuais o direito de alterar o registro de nascimento para incluir seu nome social na certidão. Os senadores ainda poderão autorizar a criação da Mesorregião Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul (PLS 315/2003) e a obrigação para as concessionárias de energia elétrica a instalarem, sem ônus adicional, relógios de dupla tarifação para produtores rurais (PDL 787/2009), além de uma série de requerimentos sobre a forma de tramitação de vários projetos.

Congresso

Após entendimento entre governo e oposição, o presidente do Senado, Renan Calheiros, convocou para terça-feira (17) uma sessão do Congresso Nacional para a votação do Orçamento Geral da União de 2014 (PLN 9/2013). Ele disse que está empenhado em garantir a aprovação da matéria antes do recesso parlamentar.

- Buscamos um entendimento no sentido de que nós possamos votar na terça-feira o Orçamento. Nós já convocamos o Congresso Nacional exatamente para isso e estamos empenhados nessa direção – afirmou Renan.

Na quarta-feira (18), às 15h, o Congresso Nacional volta a se reunir para devolver simbolicamente o mandato de presidente da República a João Goulart. O Senado aprovou o Projeto de Resolução (PRN 4/2013), que anulou a sessão da noite de 1º para 2 de abril de 1964. Naquela oportunidade, o Congresso declarou vaga a Presidência da República, sob o argumento de que João Goulart havia deixado o país sem autorização da Casa, apesar de o presidente estar em território nacional, no Rio Grande do Sul. A sessão serviu para legitimar a subida dos militares ao poder. O presidente Renan Calheiros disse que o Congresso Nacional tem o dever de repor a verdade sobre esse episódio da história do país.

*Com informações da Agência Senado

A presidente Dilma Rousseff (PT), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, além de ministros de Estado e dos tribunais superiores participarão nesta quarta-feira (11), da sessão solene que devolverá, simbolicamente, o mandato presidencial a João Belchior Marques Goulart. A cerimônia ocorrerá no Senado Federal, em Brasília às 12h30.

O mandado será devolvido a Goulart, conforme aprovação de senadores e deputados do projeto (PRN 4/2013) que tinha tornado nula a sessão de 2 de abril de 1964, quando o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, presidindo a Mesa Congresso Nacional, declarou vaga a Presidência da República. Na época, o senador informou que João Goulart havia deixado o país sem permissão do Congresso.

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Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Simon (PMDB-RS) argumentaram que Jango não estava no exterior naquela data do fato, mas em Porto Alegre, onde foi se encontrar com forças contrárias ao golpe militar.

Morte - João Goulart morreu em 6 de dezembro de 1976, na cidade de Corrientes, na Argentina. Oficialmente, a causa da morte foi um ataque cardíaco, mas há uma investigação em curso para apurar se o ex-presidente da República foi assassinado.

Para que se procedesse a essa apuração, os restos mortais do ex-presidente João Goulart foram exumados em São Borja no último dia 13 de novembro e enviados a Brasília no dia seguinte para exames no Instituto Nacional de Criminalística, mas o resultado ainda não foi divulgado.

Morto em 6 de dezembro de 1976, o ex-presidente João Goulart foi enterrado pela segunda vez, agora com honras de chefe de Estado, nesta sexta-feira, em São Borja, na fronteira com a Argentina. As homenagens reuniram a família Goulart, políticos como o senador Pedro Simon (PMDB), o ex-deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB), a ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário (PT), o deputado federal Vieira da Cunha (PDT) e o governador em exercício Pedro Westphalen (PP), além de alguns amigos ainda vivos do ex-presidente, admiradores e militantes trabalhistas.

Por decreto do prefeito, a cidade de 60 mil habitantes, que também foi berço do ex-presidente Getúlio Vargas e do algumas vezes presidente interino Ibsen Pinheiro (presidente da Câmara durante o governo Itamar Franco), parou para homenagear um de seus filhos mais ilustres. Centenas de pessoas foram ao aeroporto esperar pela família e pelo caixão e outras centenas acompanharam o velório na catedral São Francisco de Borja.

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O corpo chegou a São Borja por volta das 13 horas. Depois do desembarque, passou diante de 150 soldados do Exército, que dispararam três tiros de fuzil e executaram a marcha fúnebre. Na sequência, foi colocado sobre um caminhão do Corpo de Bombeiros e levado em cortejo guardado por cavaleiros da Brigada Militar até a igreja. No trajeto, diversas famílias ficaram diante de suas casas com bandeiras do Brasil. Por onde o caixão passou foi aplaudido e diversas vezes o ex-presidente foi homenageado com gritos "Jango, Jango, Jango".

O segundo enterro deu a Jango as honras que não teve no primeiro e complementou o ato de exumação dos restos mortais para investigação da causa da morte. O ex-presidente morreu em 6 de dezembro de 1976, em Mercedes, na Argentina, durante o exílio. A causa oficial, parada cardíaca, foi contestada por um ex-agente da repressão uruguaia, que diz ter participado de uma operação de envenenamento de Goulart. O primeiro enterro ocorreu em clima tenso. Três mil pessoas desafiaram a ordem militar de um velório rápido e carregaram o caixão pelas ruas de São Borja.

Em 14 de novembro os restos mortais foram removidos e transportados para Brasília para coleta de amostras. Uma equipe de peritos internacionais vai usar o material para identificar a verdadeira causa da morte ou informar se isso se tornou missão impossível. O segundo enterro foi acompanhado por um público menor, próximo de mil pessoas, tanto porque, passados 37 anos, a comoção não é mais a mesma. Além disso, como lembrou um contemporâneo anônimo, grande parte da geração de Jango morreu e a muitos adultos de hoje não tiveram informações sobre o ex-presidente nas escolas do regime militar.

O Congresso Nacional reúne-se na próxima terça-feira (19), com uma extensa pauta de votações. Além do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2014 (PLN 2/13), serão analisados seis vetos presidenciais e o projeto de resolução que anula a sessão de 1º de abril de 1964 que decretou vaga a Presidência da República. O presidente João Goulart havia deixado Brasília e viajado para o Rio Grande do Sul. 

A pauta de votações inclui, ainda, seis vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos aprovados pelo Congresso (vetos 38/2013, 39/2013, 40/2013, 41/2013, 42/2013 e 43/2013). Entre os vetos mais discutidos está o da permissão para que agentes prisionais portassem arma fora de serviço.

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A mudança, uma reivindicação da categoria, já havia sido vetada pela presidente Dilma Rousseff meses antes e foi incluída no texto da MP 615/12 durante sua tramitação no Congresso. A recomendação para o veto foi do Ministério da Justiça.

Na justificativa, a presidente afirma que a legislação já assegura a possibilidade de porte para defesa pessoal conforme a necessidade de cada agente e que a ampliação desse direito deveria ser acompanhada das devidas precauções legais para que não afrontasse a política nacional de combate à violência e o Estatuto do Desarmamento. Dilma Rousseff também se comprometeu a elaborar uma proposta de regulação do tema.A expectativa é que o veto seja mantido, visto que o Executivo já enviou ao Congresso essa proposta de regulação. O Projeto de Lei (PL) 6565/13 tramita na Câmara desde outubro em regime de urgência. Apesar de permitir que os agentes prisionais portem armas fora de serviço, o texto impõe limites, como a restrição desse direito aos profissionais que trabalhem em regime de dedicação exclusiva e que tenham formação profissional adequada.

Cassação

O Congresso deve analisar também projeto de resolução que anula a sessão do Congresso Nacional que, em 1º de abril de 1964 declarou vaga a Presidência da República. O presidente João Goulart havia deixado Brasília e viajado para o Rio Grande do Sul, e a decisão do Congresso abriu caminho para o estabelecimento do regime militar. 

Autor do projeto, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) alega que o presidente João Goulart estava em território nacional e em local conhecido na madrugada de 1º para 2 de abril de 1964, motivo pelo qual a Presidência não poderia ter sido declarada vaga.

Um dos signatários do projeto, o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), explicou que a aprovação da proposta retirará o "ar de legalidade" do golpe de 1964. Após o apelo de parlamentares, o presidente do Senado, Renan Calheiros, prometeu apoio para dar celeridade à votação do projeto.

Os restos mortais de Jango, exumados na quarta-feira (13), chegaram na manhã desta quinta-feira a Brasília com honras de Estado. Eles passarão por exames no Instituto de Criminalística. Os testes foram solicitados pela família à Comissão da Verdade após declarações de um ex-agente da repressão da ditadura uruguaia, segundo o qual Jango teria sido envenenado.

*Com informações da Agência Câmara

Os restos mortais do ex-presidente João Goulart chegaram nesta quinta-feira (14) a Brasília, onde foi realizada uma solenidade com honras de Chefe de Estado, cerimônia que não pôde ser realizada na época da morte de Jango. A exumação tem o objetivo de realizar exames periciais para constatar a causa da morte do ex-presidente.

A homenagem póstuma com honras militares compreendeu, entre outros aspectos, salva de 21 tiros, execução do hino nacional e condução do esquife com os restos mortais por militares até a Base Aérea de Brasília, local onde foi prestada a homenagem. Além da presidente Dilma Rousseff, estiveram presentes os familiares de Jango, como a ex-esposa Maria Tereza Goulart, e várias autoridades, como os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Lula.

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Mais cedo, antes da cerimônia, Dilma ressaltou a importância da cerimônia, em postagem no Twitter. "Hoje é um dia de encontro do Brasil com a sua história. Como chefe de Estado da República Federativa do Brasil participo da recepção aos restos mortais de João Goulart, único presidente a morrer no exílio, em circunstância ainda a serem esclarecidas por exames periciais. Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove hoje com a memória de João Goulart é uma afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com este gesto histórico", considerou no microblog.

Biografia

João Belchior Marques Goulart nasceu em 1º de março de 1919, em São Borja (RS). Ele foi deputado estadual (RS), deputado federal, Secretário de Estado de Interior e Justiça (RS), Ministro do Trabalho e duas vezes vice-presidente. Em agosto de 1961, Jango tornou-se Presidente da República, cargo que ocupou até 31 de março de 1964, data do golpe de Estado.

Deposto, ele refugiou-se no RS e depois partiu para o exílio no Uruguai e na Argentina, onde faleceu em 6 de dezembro de 1976. A causa oficial da morte foi um ataque cardíaco, mas a família de Jango nunca se convenceu por acreditar que o governo de Ernesto Geisel tenha envenenado o ex-presidente. Essa suspeita foi reforçada por um militar uruguaio que afirmou que os remédios para problemas cardíacos, tomados regularmente pelo ex-presidente, foram trocados por veneno. A expectativa é de que os exames possam ser anexados a documentos e testemunhos na investigação sobre o óbito de Jango.

O processo de exumação foi iniciado em 2007, por  iniciativa de familiares. Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em maio de 2012, foi criado um grupo de trabalho que vem coordenando as investigações em torno da morte de João Goulart. O trabalho é feito, de forma conjunta, pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e pela CNV.

A exumação durou 18 horas, no Cemitério Jardim da Paz, na cidade de São Borja (RS), e foi encerrado as 2h desta quinta-feira. O trabalho envolveu 12 profissionais do Brasil, Argentina, Cuba e Uruguai. O médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente, teve participação efetiva em todo o procedimento.

Os restos mortais permanecem na capital federal até o dia 6 de dezembro, quando serão levados novamente para São Borja, onde serão enterrados também com honras militares. Algumas amostras serão coletadas no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, para exames periciais. Também serão feitos exames toxicológicos em laboratórios de outros países. Não há previsão para a divulgação dos resultados.

A umidade do solo do Cemitério Jardim da Paz, onde o ex-presidente João Goulart está enterrado, poderá ser um obstáculo aos trabalhos desta quarta. Na exumação dos restos mortais de Getúlio Vargas, que lá repousavam até serem transferidos para um mausoléu, numa praça em São Borja, havia muita água acumulada no túmulo. Quando Leonel Brizola foi sepultado, no jazigo dos Goulart, em 2004, aproveitou-se para cimentar uma laje de impermeabilização no local.

Nesta quinta, 14, aberto o jazigo, uma microcâmera será introduzida na gaveta destinada a Jango para colher amostras do ar interno e verificar as condições do caixão, antes que ele possa ser retirado. Há risco, inclusive, de esfacelamento da madeira. Se estiver em bom estado, o caixão será colocado em urna maior que, lacrada, seguirá para a cidade gaúcha de Santa Maria e, de lá, para Brasília, em avião militar.

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A previsão é que o corpo de Jango chegue ao DF por volta das 10 horas de quinta. A sua volta a Brasília, 37 anos depois de sua morte e quase 50 anos depois de deposto pelo golpe militar de 1964, deve se converter num evento histórico: a presença da presidente Dilma Rousseff, ao lado de representantes das Forças Armadas, está confirmada. Há expectativa de que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula também compareçam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, sepultado em São Borja, no interior gaúcho, está marcada para o dia 13 de novembro. Essa definição foi tomada nesta quarta-feira, 16, em reunião na Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, em Brasília. A data de 13 de novembro já havia sido cogitada para a exumação, mas foi confirmada somente nesta quarta, após reunião entre representantes do governo e peritos do Brasil e do Exterior, em Brasília.

"Estamos em plenas condições de realizar este procedimento em busca da verdade do que ocorreu com o presidente João Goulart em 1976. Estamos preparados para o processo de exumação. E nossa referência de data é a realização desse procedimento no dia 13 de novembro", afirmou nesta quarta a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Os restos mortais de Jango serão encaminhados do Rio Grande do Sul para Brasília, para os trabalhos de análise técnica, com retorno a São Borja previsto para o começo de dezembro, respeitando a data da morte do ex-presidente.

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A coordenação da exumação é feita pela Instituto Nacional da Criminalística, da Polícia Federal. Há peritos e observadores brasileiros e internacionais participando do processo. Maria do Rosário explicou que estrangeiros estão presentes nessa ação porque Jango morreu em solo argentino, durante a vigência da "Operação Condor". Ela classificou essa operação como um "pacto de terror e morte articulado pelas ditaduras do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Chile, do Paraguai, com apoio dos Estados Unidos e de várias outras nações que tinham interesses regionais, naquele momento, no nosso País". A ministra destacou que a exumação ocorre em atendimento a pedido da família do ex-presidente.

Exumação da ditadura

"A exumação do presidente João Goulart é a exumação da ditadura no Brasil", declarou Maria Rosário, em entrevista coletiva. "Consideramos que assim nos aproximamos, ao lado da Comissão da Verdade, mais e mais daquilo que devemos dar conhecimento pleno à sociedade brasileira, ainda mais quando nos aproximamos dos 50 anos do golpe militar, no próximo ano", disse a ministra. Ela disse que a exumação ocorre em busca da memória e da verdade do País.

Haverá trabalhos de caráter antropológico, de DNA e exames de caráter toxicológico. Ou seja, será feito um cruzamento dos dados obtidos após a exumação com um mapeamento de substâncias venenosas que eram usadas no Cone Sul, naquela época. Segundo Maria do Rosário, a investigação sobre o suposto uso de venenos envolverá uma rede de laboratórios internacionais que já estão sendo acionados para fazer tal análise.

Jango morreu na Argentina, em 6 de dezembro de 1976. Ele vivia em Mercedes, província de Corrientes, que é vizinha ao Rio Grande do Sul, onde mantinha-se em exílio. Na ocasião, não foi feita uma autópsia. O atestado de óbito cita somente o termo "enfermedad", ou seja, "doença", como motivo da morte. Com a exumação, o governo quer esclarecer se o ex-presidente morreu de causas naturais, ou seja, por problemas no coração - que tem sido a versão considerada oficial até hoje -, ou se foi vítima de envenenamento.

João Goulart foi presidente do Brasil entre 1961 e 1964, quando foi deposto com a chegada do regime militar. Em maio deste ano, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) acatou o pedido da família Goulart para fazer a exumação e reabrir a apuração do caso.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) acredita que vai conseguir esclarecer a causa da morte do ex-presidente João Goulart no prazo de um ano e meio que ainda tem de mandato. Mas, caso não leve o trabalho até a conclusão, a investigação não será encerrada, podendo passar a uma eventual comissão com mandato exclusivo para tratar do assunto, à Secretaria dos Direitos Humanos, ao Ministério Público Federal ou ao Judiciário. A perspectiva foi traçada pela coordenadora da CNV, Rosa Cardoso, nesta quarta-feira, em Porto Alegre, ao final de uma reunião preparatória para os trabalhos de exumação dos restos mortais de Goulart. "Mas não estamos trabalhando com o cenário de extrapolar o prazo", ressalvou.

Na reunião de Porto Alegre, representantes da CNV, do Ministério Público Federal, da Secretaria dos Direitos Humanos, de movimentos de direitos humanos, familiares do ex-presidente e peritos trataram das etapas que levarão à exumação. Os próximos passos são enviar representantes a um encontro de altas autoridades em direitos humanos do Mercosul, no período de 11 a 14 de junho, em Montevidéu, para pedir que Argentina e Uruguai, países por onde João Goulart passou e que podem ter interesse no esclarecimento do caso, também indiquem peritos para a investigação. Mais tarde, em 25 de julho, haverá uma segunda reunião preparatória, em local a ser marcado, na qual os peritos que estiverem trabalhando no caso devem apontar a documentação necessária para preparar a exumação, como prescrições médicas, relatórios que mostram como Goulart era vigiado e onde andou no final de sua vida.

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O trabalho será coordenado pela CNV e a parte pericial pela Polícia Federal. Além de peritos dos três países serão convidados peritos cubanos, a pedido da família Goulart, e peritos de outros países se a equipe entender que há necessidade. Por informação recebida da Polícia Federal, Rosa Cardoso disse que se o resultado da exumação será conclusivo se indicar que a parada cardíaca que matou o ex-presidente no exílio, em Mercedes, na Argentina, em dezembro de 1976, foi provocada por uma substância colocada em seus remédios. Se não identificar, no entanto, não significará que não houve um assassinato porque como já passou muito tempo, as substâncias podem ter desaparecido. O corpo de Goulart está enterrado no cemitério de São Borja (RS).

Embora até o momento não haja a prova técnica de envenenamento que a exumação pode produzir, o que desmentiria a versão de parada cardíaca de causas naturais, os investigadores entendem que os indícios são consistentes. A coordenadora da CNV lembra que há documentos mostrando que Goulart era vigiado no exílio, que políticos com quem convivia foram mortos na mesma época e um depoimento, equivalente a confissão, do ex-agente da repressão uruguaia Mario Neira Barreiro, que disse que houve troca dos medicamentos para que Goulart ingerisse a substância que acabaria por matá-lo. O filho do ex-presidente, João Vicente Goulart, disse que é necessário esclarecer essa dúvida não só para a família saber a verdade, mas também porque o episódio faz parte da história brasileira.

A Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes da repressão política durante a ditadura militar (1964-1985), montará uma equipe de peritos internacionais antes de pedir a exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, que morreu em 1976 em episódio cercado de suspeitas de assassinato. A estratégia foi acertada nesta quarta-feira pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e pela advogada Rosa Cardoso, em reunião na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - seccional Rio, com participação do presidente da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Barbosa. O encontro ocorreu antes da posse dos membros da Comissão Estadual da Verdade do Rio.

"Fizemos uma reunião hoje (nesta quarta-feira) para definir uma série de contatos que temos de fazer com esses peritos, que são de países diferentes. São da Argentina, do Uruguai. ..Há previsão até de um perito russo porque a Rússia é um país que tem perícias muito desenvolvidas. Então, vamos ter de nos organizar para um encontro para depois poder definir uma data para a perícia", afirmou Rosa.

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"Só quem não veio hoje, porque houve um problema, foi a família Goulart. Ainda precisamos conversar porque eles têm a legitimidade, como família, para pedir ao Estado brasileiro essa diligência." Quem representa a família nas conversas é João Vicente, filho do ex-presidente. A exumação terá de ser requerida à Justiça em São Borja (RS), onde o ex-presidente foi sepultado.

Jango, como o ex-presidente (1961-1964) era conhecido, era do PTB e foi deposto pelo golpe militar de 31 de março de 1964. Morreu em 6 de setembro de 1976, oficialmente de um ataque cardíaco. Mais recentemente, porém, foram levantadas suspeitas de envenenamento, supostamente numa ação da Operação Condor, colaboração entre órgãos de repressão das ditaduras sul-americanas nos anos 70 e 80.

Um ex-agente da polícia política uruguaia, Mario Neira Barreiro, afirmou que o ex-presidente brasileiro teve envenenada sua caixa de remédios para problemas do coração, o que o teria matado. Em 2010, o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, porém, depois de investigar o caso por dois anos, descartou o assassinato como hipótese para a morte de Jango.

Rio

Na posse da Comissão da Verdade do Rio, seu presidente, Wadih Damous, anunciou que os primeiros casos a ser investigados serão os das bombas na OAB, em 1976, e do Riocentro, em 1981, episódios que, segundo ele, são ligados. "Os perpetradores serão ouvidos. Serão chamados, de acordo com os casos, a prestar depoimento", declarou. Na solenidade, alguns se comoveram com o depoimento de Ana Lucia Paiva, filha do ex-deputado e desaparecido Rubens Paiva. Ela contou que, após a prisão do pai, sofreu isolamento na escola.

"A senhora que foi presa trazendo cartas do Chile para meu pai era minha professora. A filha dela era minha colega de classe. Durante seis meses, depois da prisão, sentamos uma do lado da outra, mas não podíamos falar daquilo. Os outros pais proibiram que as outras crianças se aproximassem de mim porque tinha medo de serem presos", contou. Ela também relatou que, estudante na USP, em 1977, foi presa com colegas e passou uma noite inteira sendo interrogada com arma na cabeça, no Deops. "Queriam que eu dissesse onde estava minha irmã Veroca, que era líder estudantil. Diziam: já não basta o que aconteceu com seu pai?"

Em depoimento neste sábado (4) à Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Rio, o coronel-aviador da reserva Roberto Baere contou detalhes da Operação Mosquito, conspiração de oficiais da Aeronáutica para matar João Goulart em 1961. O então vice, conhecido como Jango, estava prestes a assumir a Presidência da República após a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto, mas um grupo de militares de direita queria impedir a posse.

Goulart, do PTB, era apoiado por partidos de esquerda e identificado com o presidente Getúlio Vargas, que se matara em 1954 para reagir a pressões de setores golpistas ligados à UDN. Quando Jânio renunciou ao governo, em 25 de agosto de 1961, Goulart estava em viagem à China. Ciente da oposição da direita militar e civil, o vice demorou dias para voltar. Só chegou em 31 de agosto e desembarcou em Porto Alegre, onde não corria riscos porque as tropas gaúchas eram leais ao governo, assim como seu cunhado, o governador Leonel Brizola (PTB), que montara uma rede de rádios para apoiar a sua posse na Presidência - a Cadeia da Legalidade. Mas Jango precisava ir para Brasília, o que só ocorreu em 5 de setembro, depois que um acordo político resultou na aprovação do parlamentarismo. O plano dos golpistas era abater o avião em que Goulart faria essa viagem.

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Baere, então tenente do 1º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, contou neste sábado (4) ter recebido ordens do comandante da base, o tenente-coronel Paulo Costa (que já morreu), para preparar os caças que seriam usados no ataque ao avião que transportava o vice-presidente. Baere e três colegas se recusaram a cumprir a missão e pediram para não serem escalados. "Pedimos que ele não nos escalasse porque entramos nas Forças Armadas para defender a Constituição e não agredi-la."

O plano acabou não sendo colocado em prática, mas Baere passou a ser perseguido e foi punido três anos depois, já durante a ditadura, instituída pelo golpe de 31 de março de 1964. "Fui sumariamente expulso, após ficar 50 dias incomunicável na prisão, policiado na porta por um oficial portando metralhadora, como se fosse um marginal de alta periculosidade", afirmou.

Durante a audiência pública promovida neste sábado (4), a CNV ouviu depoimentos de vários militares que se opuseram ao golpe e foram punidos. Em 25 de março daquele ano, sete dias antes da deposição de Goulart, o fuzileiro naval Paulo Novais Coutinho foi enviado ao Sindicato dos Metalúrgicos, no centro do Rio, com ordens para dispersar uma reunião da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais considerada ilegal pelo comando da Marinha. "Eu era da Companhia de Polícia e fui, em um pelotão de 39 homens, para reprimir a reunião. Mas a assembleia estava apoiando Goulart e, em vez de combater os colegas, colocamos as metralhadoras no chão, entramos no sindicato e apoiamos o movimento", narra.

Coutinho acabou preso por 9 meses e expulso por indisciplina. "Só consegui voltar à Marinha em 1989, mas até hoje somos vistos com preconceito", diz.

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