Uma denúncia de racismo envolvendo a Casa dos Frios, estabelecimento do ramo alimentício tradicional do Recife, ganhou repercussão nas redes sociais neste fim de semana. Na última sexta-feira (20), o motorista Mário Ferreira foi confundido com um assaltante ao tentar fazer uma compra de 20 bolos para o seu patrão e funcionários da loja acionaram a Polícia Militar.
De acordo com uma das funcionárias da loja, o motorista estava portando uma arma de fogo, até o momento não encontrada. O caso foi relatado nas redes sociais pelo advogado Gilberto Lima Junior, patrão de Mário Ferreira, que acusa o estabelecimento de ter acionado a polícia pelo fato de ser um negro.
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"Eram 20 bolos. Na hora de pagar, deu mais de R$ 600, e ele estava apenas com essa quantia. Deixou no caixa, e foi buscar no carro. Quando voltou, começou o pesadelo: fecharam a loja, não o deixaram entrar e ele foi abordado pela PM", publicou nas redes sociais o advogado e patrão do motorista.
A polêmica aumentou quando o perfil do Facebook da empresa compartilhou, no sábado (21), a fotografia de uma ex-funcionária negra. A descrição da postagem homenageava a já falecida Dona Ana. "A homenagem de hoje vai para a nossa querida Dona Ana que dedicou uma vida inteira à manufatura do delicioso bolo de rolo e que esteve sempre ao nosso lado construindo a história da Casa dos Frios. Saudade!".
Após a publicação, internautas criticaram a atitude do estabelecimento comercial e prometeram 'não fazer mais compras no local'. Em um dos comentários, Gilberto de Oliveira disse que a fotografia da funcionária negra era uma forma de fugir da acusação. "Pra suavizar a acusação de racismo, Casa dos Frios homenageia funcionária negra. Perguntar não ofende: cadê os patrões (na foto) dessa funcionária tão valiosa e dedicada??? Estamos de olho", postou.
Em nota, a Casa dos Frios informou que a situação está sendo divulgada de forma equivocada. "Um senhor estava fazendo compras na nossa loja quando uma de nossas caixas teve a impressão de tê-lo visto portando uma arma embaixo da camisa e notificou o gerente da loja. Frente à situação atual de violência que se observa na cidade, o nosso gerente ativou o protocolo de segurança. Entrou imediatamente em contato com a polícia afirmando haver uma SUSPEITA de assalto", conforme informações do estabelecimento.
A empresa explicou que o procedimento feito não levou em conta a cor do homem, mas a atitude suspeita. "Ressaltamos que a suspeita não foi atribuída a cor do cidadão, mesmo porque temos vários clientes e funcionários negros, sendo certo que a cor nunca foi e nunca será motivo de tratamento desigual em nossos estabelecimentos, cumprindo lembrar que em nossos anos de atuação jamais se cogitou alguma conduta discriminatória".
A Casa dos Frios esclareceu não haver qualquer constrangimento ao cidadão em razão de sua cor. Sobre a postagem no dia seguinte ao caso, a diretora de Planejamento e Operações da empresa, Mirella Dias, informou que a publicação já estava programada e coincidiu com a acusação de racismo. O advogado Gilberto Lima disse repudiar a atitude da empresa e tomará as medidas judiciais cabíveis.
Mobilização
Coletivos do movimento negro no Recife organizam um protesto nesta esta segunda-feira (23), às 17h, em frente ao estabelecimento, localizado na Avenida Rui Barbosa, Zona Norte da capital pernambucana. "Até quando seremos tratados como assaltantes? Até quando o racismo institucional fará mais vítimas? Até quando nossas fardas serão bilhetes de entrada em lojas elitistas?", diz o evento "Negr@ só se for fardado? Racismo Institucionalizado!", no Facebook. Mais de 300 pessoas já confirmaram presença no ato.