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Considerada uma das prioridades do ano pelos chefes dos poderes Legislativo e Executivo, a reforma administrativa (PEC 32/20) começou a tramitar na segunda-feira (8) na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, mas só deve ser analisada após o Carnaval, quando devem ser eleitos os novos presidentes de comissões. A CCJ vai avaliar apenas se a proposta não fere cláusulas pétreas como direitos e garantias individuais.

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A reforma administrativa propõe 5 tipos de vínculos de emprego público que seriam: contrato de experiência; prazo determinado; prazo indeterminado; cargo típico de Estado; e liderança e assessoramento. Esse último tipo substituiria os atuais cargos comissionados e funções de confiança. Concurso só para prazo indeterminado e carreira típica. Também são ampliadas as possibilidades de terceirização de serviços como a contratação de ONGs. Apenas os servidores de carreiras típicas manteriam a estabilidade.

Indicações políticas

O deputado José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria, diz que a reforma não é uma prioridade da Câmara, mas de alguns partidos. Para ele, a ideia do governo é entregar o serviço público ao setor privado:

“Porque na verdade a estabilidade precisa ser garantida para que o serviço público não fique à mercê, não fique submetido às indicações políticas que, aliás, era tudo que esse governo atual dizia na época da eleição. Dizia que ia diminuir os ministérios. Diminuiu para 15, já são 22 e está anunciando mais ministérios”, disse.

Corporativismo

O deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), vice-líder do governo, afirma que, de tempos em tempos, é necessário reformular o serviço público até para adequar o trabalho ao desenvolvimento tecnológico:

“Naturalmente o texto encontra críticas de quem defende esse corporativismo, de quem defende a máquina pública como a única gestora de tudo aquilo que possa ser feito no país. Então não é um tema de conteúdo, é um tema conceitual, de quem é contra a reforma administrativa ou é a favor da reforma administrativa”, observou.

Tramitação

Se a CCJ considerar a reforma administrativa admissível, será instalada uma comissão especial para analisar o mérito do texto, e que terá prazo de 40 sessões do Plenário para aprovar um parecer. No Plenário, a Proposta de Emenda à Constituição tem que ter pelo menos 308 votos para ser aprovada em dois turnos de votação.

*Da Agência Câmara de Notícias

 

Depois de completar cinco meses parada no Congresso, a proposta de reforma administrativa deve ser encaminhada nesta terça-feira (8) para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), segundo informou o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), durante entrevista em Maceió. Esse será o primeiro pontapé para a discussão da proposta na Câmara.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma administrativa, que prevê a reestruturação do chamado RH do Estado, foi enviada no início de setembro ao Congresso, depois de uma pressão de parlamentares, mas ficou na gaveta.

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"Quero aqui aproveitar o meu Estado para dar o primeiro furo (informação em primeira mão, no jargão jornalístico): estarei encaminhando amanhã (hoje) já para a CCJ a reforma administrativa como o primeiro pontapé para a discussão dessa matéria", afirmou.

Questionado se a proposta será aprovada agora, Lira respondeu: "Espero que saia. Pelo menos a discussão, a gente se compromete em fazer e trazer para o plenário".

O projeto acaba com a estabilidade para parte dos novos servidores. A estabilidade dos servidores que já ingressaram no serviço público continua nos mesmos termos da Constituição atual. Mesmo se aprovada, ainda depende de regulamentação. A proposta tem sido criticada por não atacar o problema das desigualdades no setor público e manter privilégios para a elite do funcionalismo, sobretudo, do Judiciário.

Há uma corrente no Congresso que defende a votação antes de projeto que acaba com supersalários e que trata da regulamentação do teto remuneratório do setor público (hoje, em R$ 39,2 mil). "Ele já está pronto para ser votado no plenário da Câmara", afirmou o presidente da Frente Parlamentar de Reforma Administrativa, deputado Tiago Mitraud (Novo-MG).

Já a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público (Servir Brasil) considera equivocada a decisão do Congresso de priorizar pautas econômicas que alterem a forma de contratação de servidores (efetivos e temporários) e o fim da estabilidade dos servidores federais, estaduais e municipais sem "argumentos sólidos ou razoáveis".

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A reforma administrativa só deve avançar depois do carnaval na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Mais cedo, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que vai enviar a matéria na terça-feira (9) para o colegiado. A comissão, porém, ainda não foi instalada, o que deve ocorrer depois do feriado da semana que vem.

O ato de Lira permite que o texto seja analisado pela CCJ, que atesta ou não a admissibilidade da proposta. O andamento célere do assunto como quer Lira, no entanto, caberá a quem assumir o comando do colegiado. Lira quer emplacar a deputada Bia Kicis (PSL-DF), aliada do presidente Jair Bolsonaro, na vaga.

A parlamentar, porém, enfrenta resistências internas para ser eleita como presidente da CCJ por ser identificada com a ala ideológica mais radical no Congresso.

Em entrevista ao Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) na semana passada, Bia Kicis afirmou que a reforma administrativa será a primeira proposta pautada na comissão.

Depois da CCJ, a reforma ainda terá de ser analisada por uma comissão especial e pelo plenário da Câmara, para depois seguir ao Senado.

A reforma da Previdência, por exemplo, levou 56 dias para ser votada pela CCJ da Câmara, em 2019.

Ao atingir apenas futuros servidores e chegar desidratada no Legislativo, parlamentares projetam um caminho mais fácil para o texto que pretende modificar as regras para contratação, promoção e demissão de novos servidores públicos.

Um dos temas mais polêmicos a serem discutidos pelo Congresso em 2021 é a reforma administrativa. A proposta de emenda à Constituição enviada em setembro de 2020 pelo governo federal (PEC 32/20) restringe a estabilidade no serviço público e cria cinco tipos de vínculos com o Estado. As mudanças só valerão para os novos servidores.

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A proposta prevê que leis complementares tratarão de temas como política de remuneração, ocupação de cargos de liderança e assessoramento, progressão e promoção funcionais e definição das chamadas “carreiras típicas de Estado”.

Na exposição de motivos do texto enviado à Câmara, o ministro da Economia, Paulo Guedes, aponta que a percepção do cidadão é de que "o Estado custa muito, mas entrega pouco". Ele argumenta que a reforma pretende evitar um duplo colapso, na prestação de serviços à população e no orçamento público.

Desde que o projeto chegou ao Congresso, entidades sindicais que representam os servidores públicos já começaram a se mobilizar para barrar a proposta. No início de dezembro, fizeram um Dia Nacional de Luta contra a retirada de direitos.

Espaço para a corrupção

De acordo com o coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, deputado Professor Israel Batista (PV-DF), a reforma é um erro e está sendo conduzida com base em premissas falsas. Ele diz que a frente parlamentar está levantando dados para comprovar as incoerências da proposta e ressalta os riscos das mudanças sugeridas.

"Ao questionar a estabilidade do servidor público, a proposta pode abrir espaço para a corrupção e o compadrio, com indicações políticas em espaços que deveriam ser técnicos. A reforma tende a piorar as condições de trabalho dos servidores, com sobrecarga para os que ficarem. Com isso, a gente vai ter a redução na qualidade do serviço público", afirma.

Melhora da qualidade

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA) afirma que a reforma administrativa não vai trazer prejuízos para o serviço público. Ao contrário: segundo ele, a população terá ganhos com a melhoria da qualidade. Joaquim Passarinho acrescenta que os novos prefeitos poderão ter um papel importante nesse processo.

"Vão ver a dificuldade que é a sua folha de pagamento, às vezes as suas prefeituras inchadas e sem sobrar recursos para investimentos tão necessários para a população. Então, talvez com uma pressão popular, com uma pressão da base dos municípios, nós possamos fazer uma pressão democrática ao Congresso Nacional, para que a Câmara vote o mais rápido possível essa reforma administrativa que torne mais ágil, mais competente e privilegie o serviço público de qualidade."

A proposta de reforma administrativa também acaba com benefícios como as licenças-prêmio dos servidores e as progressões funcionais baseadas exclusivamente no tempo de serviço.

*Da Agência Câmara de Notícias

 

O prefeito eleito do Recife, João Campos (PSB), afirmou na tarde desta segunda-feira (28), que a reforma administrativa para a gestão de 2021, aprovada em primeira votação na Câmara dos Vereadores, não tem como foco trazer economia para os cofres públicos do município - pelo menos neste primeiro momento -.

Ele reforça que a reforma administrativa "tem como objetivo fazer uma reestruturação da máquina, do funcionamento das secretarias, criar uma área específica para os licenciamentos e trazer a agenda da transformação digital como uma agenda principal do governo".

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O pessebista salienta que no segundo passo, com a aprovação dessa reforma, haverá as medidas de austeridade, com corte de despesas e gastos. "Tudo isso a gente vai fazer e anunciar a partir de janeiro, quando a gente vai conseguir fazer um conjunto de medidas que garantem que o que a gente anunciou na campanha possa ser cumprido", diz João Campos. 

O Projeto de Lei do Executivo 25/2020 foi proposto pelo atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), juntamente com o seu apadrinhado político e prefeito eleito da capital pernambucana. A primeira votação da reforma econômica ocorreu após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspender a liminar do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), pedida por vereadores da oposição, que impedia a Câmara de votar essa PLE.

Além disso, houve polêmica em relação à geração econômica de apenas R$ 78,71, com a extinção de 561 cargos comissionados. Esses cargos comissionados equivalem R$ 3.553.078,71. No entanto, a equipe de transição está criando 350 novos cargos comissionados, que equivalem a R$ 3.553.000, ocasionando, no fim, a pífia economia para os cofres públicos do Recife de R$ 78,71.

Após derrubar a liminar de impedimento da votação para a reforma administrativa 2021-2024, o prefeito eleito João Campos (PSB) conseguiu a aprovação do Projeto de Lei nº 25/2020, que fala da reestruturação dos cargos comissionados na Prefeitura do Recife. Foram 28 votos a favor, três contrários e uma abstenção. A sessão foi iniciada às 10h desta segunda-feira (28) e transmitida pelo canal da Câmara no YouTube. Conforme aconteceu com as reuniões anteriores, a ocasião foi marcada por tensões e discussões que se arrastaram por cerca de 4h.

Apesar de ter sido aprovada, a votação fere o Art. 241 do Regimento Interno da Câmara Municipal que prevê como data limite o dia 18 de novembro de cada ano para a discussão e votação das proposições sujeitas à deliberação do Plenário, “com exceção de requerimentos e das oriundas da Comissão Executiva”. Os projetos, segundo o documento, deveriam passar por análise dos 39 vereadores eleitos para o próximo mandato, e não pela verificação dos que encerram os trabalhos em 31 de dezembro.

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A reforma administrativa do peessebista fala em redução de cargos comissionados e das secretarias, medidas que acompanham a sua promessa de campanha de "fazer mais com menos", e que deve economizar milhares aos cofres públicos com -8,18% (225) cargos de liderança, que chegaram aos 2.750 na gestão de Geraldo Júlio (PSB).

O novo prefeito também fala em um "choque de gestão", que promete unificar os licenciamentos e promover uma "transformação digital" nesses aspectos. No entanto, segundo cálculo apresentado ao vivo pelo conservador Renato Antunes (PSC) durante a reunião, a proposta de reforma representa apenas R$ 78,61 de economia aos fundos municipais. De R$ 3.553.078,71 os custos caem para R$ 3.553.000.

Na última quarta-feira (23), os vereadores da oposição Renato Antunes (PSC), Jayme Asfora (Cidadania), Ivan Moraes (PSOL) e Aline Mariano (PP) conseguiram na Justiça suspender a tramitação dos projetos 24/2020 e 25/2020 do Executivo municipal durante o recesso legislativo. Porém, a liminar foi derrubada no sábado (26), pelo ministro Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Também foram votados outros projetos relevantes à ocupação do território recifense. Com 32 votos sim, nenhum não e uma abstenção, foi aprovado o Projeto de Lei do Executivo nº 5/2020, que dispõe sobre o desmembramento e posterior ampliação da Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) Ibura e Jordão.

O Projeto de Lei do Executivo nº 24/2020, que fez parte da liminar de impedimento da votação, também foi aprovado com 25 votos favoráveis e sete contrários. O documento visa possibilitar o remembramento dos terrenos de ZEIS importantes e volumosas do Recife, como a Apipucos, Alto do Mandú e Alto de Santa Isabel, assim entrando em acordo com o ramo imobiliário e garantindo o crescimento do setor.

Um dos nomes mais ativos da oposição na Casa de José Mariano, Ivan Moraes, com o apoio de alguns dos demais parlamentares, pediu para deixar um recado ao prefeito João Campos, de que ele não encontrará “um ambiente tranquilo para fazer o que bem entender” mesmo que tenha maioria do Governo na Câmara, e que o futuro gestor encontrará “resistência” às possíveis arbitrariedades. Ainda assim, desejou boa sorte ao opositor e disse que irá aplaudir os acertos da prefeitura.

“Nós não vivemos numa monarquia, em tese, vivemos numa República democrática, mas não estamos vendo o equilíbrio democrático necessário para que as instituições funcionem nesta sessão de hoje. Essa sessão não orgulha ninguém que participa dela”, completou o psolista.

 

No Recife, vereadores da oposição conseguiram na Justiça suspender a tramitação dos Projetos de Lei 24/2020 e 25/2020 do Executivo municipal, durante o recesso legislativo. A suspensão acontece para que os PLEs sejam distribuídos na Câmara dos vereadores no início da próxima legislatura.

O pedido foi impetrado na última terça-feira (22), pelos vereadores Renato Antunes (PSC), Jayme Asfora (Cidadania), Ivan Moraes (PSOL) e Aline Mariano (PP). 

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O PLE 24/2020 flexibiliza a construção dentro das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), propondo uma alteração na Lei Municipal 16.719/2001. Já o projeto de lei 25/2020 é a autorização da reforma administrativa para a próxima gestão da Prefeitura do Recife, que propõe a fusão, extinção e criação de secretarias municipais - além da criação de cargos.

Segundo o líder da oposição, Ricardo Antunes, essa era "mais uma manobra da gestão municipal para pautar assuntos do seu interesse, rasgando o regimento da Casa legislativa. A Câmara é independente e assim merece ser tratada", afirma.

A explicação dada para o pedido de suspensão da tramitação das PLEs é que os projetos só poderiam seguir para as comissões até o dia 18 de novembro. Passado esse prazo, os projetos não poderiam ir para as comissões para receber os pareceres. 

Além disso, para votar sem pareceres, os PLEs deveriam ter sido enviados no mínimo 45 dias antes, o que não aconteceu. 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que rejeite mandado de segurança proposto por parlamentares da oposição que pedem a suspensão da tramitação da reforma administrativa (PEC 32/20). No ofício encaminhado ao ministro Marco Aurélio Mello, que analisa a ação, Maia sustenta que a proposta não deveria ser interrompida porque sequer começou a tramitar em razão do não funcionamento das comissões permanentes.

As PEC's precisam ser analisadas pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), que verifica sua admissibilidade, e por uma comissão especial, que decide sobre o mérito do texto. Maia ponderou ainda que, em razão da pandemia, a tramitação de propostas de emenda constitucional que não possuem consenso é dificultada.

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“Enquanto a Câmara não retomar as deliberações presenciais, sequer é possível constituir a comissão especial que futuramente seria responsável pela apreciação do mérito da PEC impugnada. Diante desse conjunto de circunstâncias, a Presidência da Câmara dos Deputados não chegou sequer a distribuir a matéria”, afirmou Maia no documento.

Provas

Maia também argumenta que não cabe análise probatória por meio de mandado de segurança. Os parlamentares de oposição alegam que o governo não encaminhou análises e estudos sobre os impactos orçamentários que podem ser gerados pela reforma. Na ação, a oposição diz que o documento existe, mas não foi entregue pelo governo. O ministério da Economia atesta a inexistência desses estudos.

“Haveria necessidade de recorrer à instrução probatória para dirimir a divergência entre o que é afirmado por uma das autoridades apontadas como coautoras e os impetrantes, o que se revela inviável pela via mandamental”, defendeu Maia.

Outro argumento da ação do presidente da Câmara é o fato de haver senadores entre os impetrantes do mandado. Segundo Maia, os senadores não possuem direito subjetivo de coibir atos no processo legislativo da Câmara dos Deputados. Por fim, Maia ressaltou que trata-se de uma matéria “interna corporis”, e, portanto, não caberia análise do Judiciário.

*Da Agência Câmara de Notícias

 

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou nesta quinta-feira (8) que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma administrativa pode ir direto para a comissão especial, sem passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), como antecipou o Broadcast Político em 2 de setembro.

Qualquer PEC passa primeiro pela CCJ, que analisa se o texto não fere nenhum princípio da Constituição, mas a comissão ainda não foi instalada. Segundo Maia, se houver acordo nas próximas semanas para abrir os trabalhos do colegiado, a proposta seguirá seu curso normal de tramitação.

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Do contrário, a ideia é agilizar remetendo o texto diretamente à comissão especial usando alguma PEC que trata do assunto e já teve a admissibilidade aprovada pela CCJ. Assim, os dois textos seriam apensados.

Para vencer quaisquer resistência, em vez de um prazo mínimo de 11 sessões, como manda o regimento, a comissão especial teria esse piso ampliado em mais cinco ou seis sessões. "Isso dá mais tempo a quem é contra a proposta, o que também é legítimo", explicou.

Maia disse que está conversando com os líderes para que se possa iniciar a comissão especial "nas próximas duas ou três semanas". Apesar disso, ele reconheceu que a proposta não é a maior prioridade no momento e está atrás da PEC emergencial, que acionará gatilhos para conter despesas e descomprimir o teto de gastos (que limita o avanço das despesas à inflação), e da reforma tributária.

Além disso, ele reconheceu que o tema é polêmico. "Temos urgência na reforma administrativa, mas não devemos ter pressa", afirmou.

O governo enviou sua proposta de reforma administrativa ao Congresso Nacional antes de o texto ser analisado formalmente pela Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), órgão responsável por aconselhar o presidente da República sobre a adequação legal de propostas e atos normativos do Poder Executivo.

A ausência da análise formal foi reconhecida em documento assinado pelo subchefe adjunto de Gestão Pública da SAJ, Jandyr Maya Faillace Neto, em 8 de setembro, cinco dias após o envio da proposta. O documento foi obtido pelo Estadão por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

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"A nova versão, encaminhada ao Congresso Nacional, foi referendada pelo ministro de Estado da Economia e submetida ao presidente da República logo após a decisão sobre a matéria, sem que houvesse tempo de análise formal por esta Subchefia para Assuntos Jurídico (sic)", diz o texto. A reforma administrativa foi elaborada ainda no fim do ano passado pela equipe econômica, mas ficou engavetada até setembro deste ano, quando a ala política do governo decidiu encaminhar a proposta. O texto foi enviado 24 dias depois de o então secretário Paulo Uebel, responsável pela formulação da reforma, pedir demissão justamente pela demora na agenda. O próprio presidente Jair Bolsonaro já havia dado indicações de que a reforma poderia ficar para 2021.

O cavalo de pau na orientação do governo teve como objetivo tentar sinalizar compromisso com a agenda de ajuste em meio à crescente desconfiança dos investidores, daí a mudança rápida. Mas a proposta chegou ao Congresso desidratada, sem incluir servidores que já estão na carreira, a pedido de Bolsonaro.

No documento, a SAJ reconhece que a matéria foi "intensamente debatida, resultando em documento diferente do originalmente proposto" e admite que a nova versão não passou pelo crivo formal do órgão.

Apesar disso, a SAJ ressaltou que "participou intensamente das discussões em torno da matéria e não identificou, em nenhum momento, contrariedade a dispositivo constitucional inabolível". Em seguida, o subchefe adjunto recomendou o arquivamento do processo de acompanhamento da proposta.

O mesmo processo já havia sido temporariamente arquivado em 29 de julho, quando ainda não havia perspectiva de envio do texto e duas semanas antes de Uebel pedir demissão.

A análise formal pela SAJ é feita para afastar qualquer risco de o presidente assinar uma proposta ou norma que afronte dispositivos da Constituição. Sua ausência pode ser usada para questionamentos, sobretudo de categorias de servidores que já têm combatido a reforma administrativa.

A proposta do governo, que está parada na Câmara à espera da análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), enfrenta resistências entre as categorias de servidores por flexibilizar a estabilidade para a maior parte das carreiras do serviço público. A reforma pretende criar cinco tipos de vínculos para servidores públicos, apenas um deles com garantia de estabilidade no cargo após três anos de experiência. O texto mantém a previsão de realização de concursos públicos, mas também vai permitir ingresso por seleção simplificada para alguns vínculos.

Privatizações

Uma versão da proposta de reforma foi alvo de análise pela Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais (SAG) da Casa Civil em 11 de março. Nesse documento, é possível identificar que a equipe econômica pretendia incluir na reforma administrativa um dispositivo para acelerar a privatização de empresas estatais de União, Estados e municípios.

Pelo texto, as estatais existentes na data da promulgação da emenda constitucional seriam privatizadas, caso o Executivo não manifestasse interesse público na manutenção da empresa num prazo de dois anos.

"Trata-se de uma forma de instar os entes a reavaliarem a necessidade de empresas estatais explorando atividade econômica, já que historicamente estas padecem de problemas como ineficiência, alto endividamento, engessamento da força de trabalho, entre outros", diz o documento.

Entidades que representam os servidores públicos criticaram a ausência de parecer formal da SAJ sobre a reforma. O Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado diz em nota que a reforma administrativa "viola cláusulas pétreas da Constituição Federal" e tem "diversas outras inconsistências conceituais e jurídicas". Para a entidade, a ausência de análise pela SAJ ajuda a explicar esses problemas.

O fórum impetrou na semana passada um mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo acesso a todos os documentos da proposta. O objetivo é saber quais são os cálculos detalhados do impacto da reforma e se o órgão jurídico do Ministério da Economia analisou o texto.

Já o presidente da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe), Marcelino Rodrigues, disse que o fato de o SAJ não ter realizado o "anteparo jurídico" mostra o atropelo do governo. "Foi um envio de supetão. O próprio presidente disse várias vezes que essa discussão ficaria para 2021."

Um dos pilares de campanha do presidente Jair Bolsonaro, a reforma administrativa será, segundo o ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência da República, ferramenta crucial na modernização das relações contratuais de ingresso e progressão no serviço público - atualmente engessadas por legislações restritivas.

Entrevistado deste domingo (20) do programa Brasil em Pauta, da TV Brasil, da EBC, o ministro relatou que acredita que a reforma administrativa terá uma evolução similar à reforma da Previdência, e acontecerá em observação às exigências da sociedade e às possibilidades políticas do Congresso Nacional - com quem, disse, o governo tem mantido constante diálogo.

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“Procuramos uma forma de dar ao Estado brasileiro a possibilidade de se modernizar, de ter novas formas de contratação, de ter uma forma de ingresso no serviço público para atender demandas sazonais. São mecanismos muito difíceis na legislação vigente”, comentou.

Sobre possíveis receios de funcionários que já estão inseridos no atual sistema, o ministro afirmou que há uma diretriz do presidente Bolsonaro sobre o caso que guiará o debate: “não vamos mexer com que já está dentro, mas vamos flexibilizar para quem vai entrar.”

Ele disse ainda que há uma preocupação legítima com as pessoas que optaram por dedicar a vida ao funcionalismo público, que consiste em servir a sociedade através do trabalho no governo. “As pessoas não são peças, elas têm importância. Temos que valorizá-las, respeitá-las, tratá-las de forma digna. Sobretudo porque só chegamos aqui por causa daqueles que nos antecederam,” observou.

Oliveira afirmou ainda que acredita que o Congresso aperfeiçoará os termos da reforma administrativa, assim como foi feito com a reforma da Previdência, e que haverá consenso político baseado no momento em que vivemos.

“A população compreendeu a importância da reforma da Previdência. A mesma coisa ocorrerá com a reforma administrativa. A população precisa de um melhor serviço prestado, dando possibilidade para que o Estado brasileiro possa valorizar esses serviços sem onerar demais,” observou.

“Temos um Estado muito pesado, muito obeso, muito inchado. A população irá compreender melhor o escopo da proposta e temos a expectativa de aprovar um modelo melhor de ingresso no serviço público”, concluiu.

A Advocacia-Geral da União (AGU) irá recorrer da decisão da 4ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia (SJBA) que condenou o ministro da Economia, Paulo Guedes, a pagar uma indenização de R$ 50 mil ao Sindicato dos Policiais Federais da Bahia (Sindipol-BA). A informação foi dada ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) pela assessoria da AGU, que disse que "oportunamente a Advocacia-Geral da União irá apresentar o recurso cabível".

Guedes foi condenado pela juíza Cláudia da Costa Tourinho Scarpa em uma ação de reparação pelo dano moral coletivo movida pelo sindicato após o ministro ter comparado servidores públicos a "parasitas", em uma palestra proferida no dia 7 de fevereiro deste ano no seminário Pacto Federativo, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

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"O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo. O cara (funcionário público) virou um parasita e o dinheiro não está chegando no povo", disse Guedes na ocasião.

Três dias depois, Guedes pediu desculpas aos servidores públicos e afirmou que seu objetivo "jamais foi ofender as pessoas que cumprem seus deveres". "Me expressei mal e peço desculpas não só aos meus queridos familiares e amigos, mas a todos os exemplares funcionários públicos a quem eu possa descuidadamente ter ofendido", enfatizou.

Ainda assim, a juíza avaliou que Guedes violou "os direitos da personalidade dos integrantes da categoria profissional representada por este ente sindical, por meio dos seus pronunciamentos".

Em nota, o presidente do Sindipol-BA, José Mário Lima, avaliou que a justiça foi feita. "Qualquer cidadão independentemente da sua estatura de poder ou financeira, tem que ter a devida reprimenda quando está errado. A lei é para todos", afirmou.

Embora ainda caiba recurso ao ministro, o sindicato pretende doar o valor da indenização ao Hospital Santo Antônio, que pertence às Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), e ao Hospital Aristides Maltez.

O Ministério da Economia foi procurado para comentar a condenação, mas pediu que a reportagem procurasse a AGU.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a reforma administrativa cria meritocracia para os novos servidores públicos, com maior dispersão entre os salários de entrada e de alto escalão, ao mesmo tempo em que preserva direitos dos funcionários atuais. A declaração foi dada no evento online "A visão municipalista sobre a Reforma Tributária", promovido pela Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Guedes repetiu que a média dos salários do serviço público é maior que a do setor privado, mas ressaltou que, enquanto os jovens entram com remuneração alta, o que desestimula a meritocracia, os funcionário de alto escalão têm remuneração baixa em relação ao que ganhariam no setor privado.

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"Eu sempre uso o exemplo do Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro, que era um funcionário exemplar e nos deixou para ganhar múltiplos e múltiplos do salário que ganhava aqui, ganhava 20%, 30% acima de um funcionário recém admitido no Judiciário", disse o ministro da Economia.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/2020, conhecida como reforma administrativa, tem por objetivo alterar disposições sobre servidores, empregados públicos e a organização administrativa do País, extinguindo o regime jurídico ao qual os servidores públicos hoje estão subordinados. Caso seja aprovada, não valeria para quem já tomou posse de seus cargos, apenas para novos servidores, ou seja, quem hoje está estudando e é conhecido como “concurseiro”. 

A medida tem gerado queixas em relação a alguns de seus pontos, considerados problemáticos ou controversos por parte da população envolvida nos concursos e no serviço público de forma geral, sendo a possibilidade de retirada do estado probatório e sua substituição por um período de experiência sem estabilidade para o servidor o mais controverso. Diante desse cenário de incertezas, o LeiaJá procurou concurseiros e professores para entender se em caso de aprovação da PEC, existe possibilidade de queda do interesse por empregos públicos ou prejuízos na prestação de serviços. 

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“O nome verdadeiro é demolição do serviço público”

Para o professor Abner Mansur, docente de disciplinas das áreas administrativas e pedagógicas, “da forma que foi protocolado, chega a ser um texto absurdo”, pois “as mudanças não visam apenas a maior produtividade e qualidade do serviço público".

"Se esse fosse o único efeito, raramente alguém se levantaria contra”, diz Mansur. Na visão dele, o serviço público já tem meios de dispositivos corretos para o controle do serviço público que funcionam muito bem, e a nova PEC dá aos chefes dos órgãos de poderes de todos os níveis da República “poderes que vão muito além da normalidade constitucional e geram uma insegurança jurídica absurda”. 

O professor indica alguns pontos positivos na proposta, como a extinção da aposentadoria compulsória como punição, uma vez que, para ele, essa medida não configura uma punição real a desvios de conduta e o antigo funcionário sai do serviço com um salário alto. No entanto, há na visão de Abner muito mais pontos problemáticos no projeto que tornam inadequado, na sua opinião, até mesmo chamar de reforma administrativa. “O nome verdadeiro é demolição do serviço público”, afirma ele. 

O primeiro motivo, segundo o professor, é a extinção do estágio probatório, substituído por um vínculo de experiência. “Hoje um servidor civil quando assume o cargo, passa três anos sendo avaliado em vários critérios. Se alcançar a pontuação correta, entra no quarto ano de serviço com estabilidade e só poderá ser demitido ou exonerado se passar por um processo administrativo ou judicial, quando for transitado em julgado. A mudança prevê um vínculo de experiência de apenas um ano, em que mesmo que você cumpra todos os requisitos e atinja a pontuação, a administração pública vai analisar se pretende lhe contratar ou não. Vamos dizer que 100 pessoas assumem um cargo, todos cumprem os requisitos em um ano no vínculo de experiência, mas a administração só está afim de contratar 10. Noventa são exonerados”, explica Abner. 

Segundo o professor Abner Mansur, além de ser injusto com quem estudou muito por anos para passar no concurso, a prática é perigosa em termos políticos. “Esse novo texto diz que a administração pública não precisa justificar por que está contratando fulano, ciclano, ela simplesmente escolhe, ou pode não escolher ninguém. Veja a brecha" Uma prefeitura, por exemplo, pode fazer concurso, contratar um número de pessoas para um determinado período e depois de um ano, não mantém a pessoa. Fica cômodo para um chefe do executivo aumentar o efetivo de pessoal quando quiser sabendo que daqui a um ano vai mandar embora e está tudo bem”, argumenta. 

Atualmente, como já foi explicado, exonerações e demissões só podem ser concretizadas no setor público depois que um servidor estável passar por um processo judicial ou administrativo transitado em julgado, ou seja, sem mais nenhuma possibilidade de recurso. Na PEC da reforma administrativa, um dos problemas apontados por Abner é a mudança desse fato: uma sentença passaria a ser suficiente para a exoneração. “Sentença unilateral, um juiz achou que está tudo bem, decidiu, o servidor vai embora e acabou. Vai continuar recorrendo, mas fora do serviço, sem salário, sem serviço, sem trabalhar”, alerta o professor.

Servidores públicos atualmente têm direito à licença prêmio, que é uma licença de um mês a cada cinco anos para aperfeiçoamento profissional. Ela e outras licenças que não as obtidas por motivos de saúde serão extintas em caso de aprovação da PEC 32/2020. Outra mudança criticada pelo professor Abner, que ele considera “a mais absurda”, é a possibilidade de chefes de órgãos do poder executivo extinguirem um cargo ainda que ele esteja ocupado.

“Hoje, um chefe pode extinguir o cargo se houver vacância. Agora o cara está concursado, trabalhando, o presidente, governador ou prefeito percebeu que não quer mais aquele cargo, ele extingue e a pessoa não vai para outro cargo, ela simplesmente vai para a rua sem nenhum direito, indenização, sem nada”, explica o professor. 

Na visão de Abner, os atingidos pela possível aprovação do texto são os usuários dos serviços públicos (que em sua visão funcionam bem e vão muito além de atendimento ao público) e os futuros servidores, que hoje são concurseiros e serão diretamente implicados pelo texto da PEC, caso não existam alterações em sua redação durante a tramitação. 

“Os que são contra a reforma como eu, são contra porque são décadas de luta dos movimentos de trabalhadores para que se consiga não privilégios, mas qualidade de vida no trabalho. É indiscutível que nós vamos ter bem menos interessados. A pessoa corre para o serviço público justamente porque não quer passar pela humilhação do serviço privado, de viver ameaçado de ser demitido, ter que depender de alguém, de chefe que assedia. Você vai para o serviço público para trabalhar e produzir em paz. Na medida em que você tem uma total insegurança durante esse primeiro período que chamam de experiência e após também, quando estiver pseudo efetivo, porque a estabilidade sumiu, muita gente vai desistir. A procura vai ser de políticos, filiados a partidos. Toda a cadeia produtiva em volta de concursos públicos, a preparação técnica que move a economia do País, vai simplesmente encerrar”, afirma o professor.

"Não vai ter uma efetividade tão grande"

A professora de direito administrativo Isabela Galvão explica que há ainda outros pontos controversos no texto da PEC 32/2020, como a redução de salários iniciais das carreiras dos novos servidores e inserção de mais faixas de progressão, fazendo com que demore mais para que os profissionais cheguem ao topo da remuneração de seus cargos. Além disso, ela apontou a simplificação da possibilidade de acumulação de cargos públicos e um aumento do poder do chefe do executivo para extinguir não apenas cargos, mas também órgãos públicos e autarquias por meio de decreto (hoje, é preciso uma lei). 

Questionada sobre a possibilidade de o projeto surtir algum efeito na redução do custo de gastos com pessoal em órgãos públicos e prefeituras, por exemplo, a professora Isabela fez ressalvas a respeito da abrangência da PEC. “O argumento pela aprovação é trazer eficiência no serviço público, porque retirando a estabilidade não há segurança e desta forma se supõe que vai prestar serviço com mais eficiência e economia dos cofres. Na minha opinião pessoal, não haveria grandes evoluções no tocante aos gastos com pessoal na máquina pública, porque os servidores que têm os salários mais robustos ficaram de fora. Juízes, militares, promotores, parlamentares, eles recebem salários e subsídios maiores e não serão atingidos. Não vai ter uma efetividade tão grande dada essa ideia”, diz a docente.

No que diz respeito a riscos que o serviço e os futuros servidores públicos poderiam correr em caso de aprovação do texto, Isabela citou o princípio da impessoalidade diante da instituição de um vínculo de experiência como sua maior preocupação. “Na minha visão, acho que o principal risco caso a reforma seja aprovada é a violação ao princípio da impessoalidade, dada essa existência do vínculo de experiência como etapa do concurso público e caso não atue bem não será efetivado, é chamado o próximo da fila”, argumenta.

Como efeito negativo imediato da proposta antes mesmo de sua tramitação avançar, a professora afirma que já conseguiu perceber a desmotivação de parte dos concurseiros, amedrontados com a possibilidade de aprovação da PEC. “Vários alunos que eu tenho e estudam para concursos estão super preocupados com essa reforma e disseram que ficaram desmotivados para seguir uma carreira pública. Por quê? Um dos principais fatores para que as pessoas escolham uma carreira pública é a estabilidade e a reforma propõe tirar a estabilidade para a maior parte das carreiras”, conta Isabela.

Mudança de direção

Ádamo Yésus Brito é estudante de mestrado, tem 30 anos e há 2 anos e meio faz concursos para o cargo de analista clínico. Entre outros pontos, o que ele considera que mais irá impactar a vida dos concurseiros é a mudança na estabilidade dos novos servidores. 

“Quando nós nos candidatamos a uma empresa no mercado de trabalho, ficamos a mercê da vontade dos superiores por melhor que seja o nosso desempenho e podemos ser desligados a qualquer momento. Isso não ocorre quando se é estável no serviço público. Eu conheço pessoas que são servidores públicos e que só tiveram coragem de denunciar irregularidades dos superiores depois que atingiram a estabilidade, pois sabiam que se tivessem feito antes perderiam o emprego”, revela.

No que diz respeito ao serviço público de forma geral, Ádamo acredita que a eventual aprovação da reforma administrativa pode reduzir a qualidade de sua prestação ao causar uma baixa na qualidade dos servidores que entram nos órgãos. “Hoje, com a regra e concorrência atual, os certames têm tido um nível bem alto nos selecionados, inclusive é comum ver pessoas com formação acima da exigida nos editais. Acredito que se as novas regras entrarem em vigor não compensaria se dedicar tanto para se submeter a condições iguais ou por vezes até inferiores às do mercado de trabalho”, opina.

Questionado se a aprovação da reforma pode causar uma queda no interesse das pessoas por empregos públicos, Ádamo afirmou que sim. “Existem cargos na área técnica do governo que os salários estão muito abaixo dos setores privados e que só compensam pelas vantagens oferecidas, tais como a estabilidade, sem essas compensações, não valeria mais a pena se dedicar tanto. Caso a lei passe do jeito que está, muito provavelmente isso vai afetar os cargos mais baixos e que precisam de um contingente de pessoal maior”, fala o concurseiro.

No que diz respeito à sua própria motivação de continuar ou não estudando, ele afirma que “caso continue do jeito que está, muito provavelmente iria redirecionar para os cargos em que essa possibilidade de estabilidade seja mantida”.

 “E se todo mundo for bom no desempenho, como fica?”

A fisioterapeuta Catarina Lima tem 35 anos e desde 2018 presta concursos para carreiras policiais. Ela conta que a princípio achou que a reforma administrativa pudesse ser uma boa medida, mas mudou de ideia após se aprofundar no tema. “As pessoas que procuram um concurso é por causa de uma estabilidade financeira. Por mais que depois por trás seja um sonho que queira, primeiro é a estabilidade. Em relação à estabilidade, tenho até um receio se for aprovado que fique parecido com o serviço privado”, afirma ela.

O vínculo de experiência, período no qual o servidor não fica estável e passa por avaliação para que se defina ao final do processo quem são os melhores servidores que permanecerão no emprego com base na avaliação feita pelo chefe, também preocupa Catarina. “É feita uma seleção dos melhores, mas não diz a porcentagem desses melhores. Fiquei me perguntando, e se todo mundo for bom no desempenho, como fica? Essa estabilidade que é o que todo mundo procura em primeiro lugar, deixou todo mundo bem inseguro. Antes eu poderia me recusar a alguns serviços de chefia que não era para o meu cargo, que a gente sabe que no serviço privado às vezes a gente passa dos limites por querer aquele emprego. Realmente não vi vantagem, para ser bem sincera”, diz ela.

Catarina não acredita que a medida, ainda que seja aprovada, poderá causar um desestímulo aos concurseiros ou queda na procura por concursos públicos, embora admita que os estudantes tomaram um “banho d’água” com a notícia da reforma. “A gente ainda não sabe como vai ser na prática tudo isso, mas ainda acho válido você ir atrás de um salário, de um cargo que você quer. (...) Para quem ainda não é concursado, a gente cria a expectativa de uma coisa e levou um banho d’água, mas ainda vejo todo mundo com a força de vontade de passar", comenta.

“Garantia de que a impessoalidade vai seguir ilesa”

Desde 2017, a advogada Laíse Galdino, de 26 anos, faz concursos para o Ministério Público e tribunais, além de algumas provas de prefeituras. Ao analisar a PEC da reforma administrativa, ela conta que se sentiu “super preocupada, angustiada, sem saber o que realmente querem fazer” diante de vários pontos da proposta, especialmente no que se refere à estabilidade no vínculo de experiência. 

“Foi dito que a estabilidade é uma regalia mas não é, ela é uma garantia. Quando a gente se torna servidor, existe um tempo para iniciar a estabilidade, e isso diminui práticas patrimonialistas envolvendo corrupção. Eu sou servidora, meu chefe me manda fazer um ato ilegal. Sendo servidora estável, não serei obrigada a fazer, diferente de empregos privados, que tem medo de ser demitido. Se você for servidor estável, você não vai ser demitido dessa forma, não é regalia, é garantia de que a impessoalidade vai seguir ilesa”, afirma a advogada. 

Em sua análise, Laíse também acredita que a possível aprovação da PEC 32/2020 iria desestimular os concurseiros a seguir estudando para conquistar uma vaga no serviço público, uma vez que sem estabilidade, seria o mesmo que ter um emprego na iniciativa privada. Ela justifica a afirmação com base em suas próprias vivências profissionais.

“Você fica assegurado a vida toda, a energia de trabalho é diferente do setor privado, onde também já trabalhei com CLT. Imagina se não tivesse a estabilidade. Muito concurseiro vai parar de estudar, se desmotivar. A gente não vai estudar para nada, vai estudar para ter uma coisa estável no futuro, se for assim não vai ter diferença. Eu espero que essa PEC não passe, porque vai ter um efeito dominó. Se isso for aprovado, vão cair os estudos, vão cair os professores, cursinhos vão ter diminuição, porque vai ser a mesma coisa entre ser CLT e concursado se houver a mudança da estabilidade”, argumenta Laíse.

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou, nesta quarta-feira (9), que a reforma administrativa enviada pelo governo ao Congresso Nacional na semana passada pode ter um impacto de quase R$ 300 bilhões em dez anos. Segundo ele, a reforma tem como focos o aumento da produtividade no setor público e a digitalização dos serviços. "Quando você dá um choque digital, a taxa de reposição cai bastante. Se aposentam dez pessoas, contratamos uma ou duas", afirmou. "A taxa de reposição de equilíbrio será de 60% a 70%, mas nesses primeiros anos estamos em 20%. Demos uma pisada no freio após anos de muitas contratações", completou.

Ele explicou que a reforma administrativa não afetará os atuais servidores a pedido do presidente Jair Bolsonaro. "O presidente pediu que a reforma administrativa não atingisse direitos adquiridos, porque as pessoas fizeram concurso, contratos. Por outro lado, ele nos autorizou a trabalhar profundamente sobre o futuro. Fizemos visão de futuro construtiva, com aumento de produtividade e digitalização", destacou.

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Por isso, avaliou o ministro, a reforma administrativa deve ter um curso relativamente suave no Congresso. "A reforma deve ser aprovada ainda este ano no Congresso, até porque atendeu a requisitos políticos. Se o Congresso quiser apertar a reforma, aperta, se quiser suavizar, suaviza. Mas achamos que reforma administrativa está na medida para ser aprovada", completou.

Apesar da proposta enviada pelo governo não tratar ainda dos salários nem das carreiras do funcionalismo, Guedes defendeu o aumento dos maiores salários da administração pública ao mesmo tempo que uma redução dos salários de ingresso dos novos concursados. "Acho um absurdo que os salários da alta administração brasileira são muito baixos. Vai ser difícil reter funcionários de qualidade no serviço público. Tem que haver uma enorme diferença de salários sim na administração pública. (O ex-secretário do Tesouro Nacional) Mansueto Almeida ganhava só 20% acima de um jovem que acabou de entrar num concurso do judiciário", completou.

O ministro também argumentou que as progressões de carreiras no serviço público devem se dar por meritocracia, e lembrou que ficará a cargo de cada categoria regulamentar critérios de tempo para estabilidade e regras de avanço nas carreiras. Os projetos para regulamentação das carreiras serão enviadas apenas nas fases posteriores da reforma. "Progressões de carreira no serviço público têm que vir por meritocracia. Só colocamos arquitetura geral da reforma, cada carreira irá regulamentar", completou.

A reforma administrativa proposta pelo governo prevê que o presidente da República altere a estrutura do Poder Executivo e até declare extintos alguns órgãos e ministérios sem a necessidade de aval prévio do Congresso Nacional. A proposta foi antecipada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) em outubro do ano passado.

Hoje, o presidente depende do aval do Legislativo para fazer esse tipo de mudança. Se a medida for aprovada, ele poderá unilateralmente mexer em ministérios, fundações e autarquias do Executivo sem necessidade de consultar os parlamentares, desde que não haja aumento de despesa.

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Segundo o Ministério da Economia, "há pouca autonomia na reorganização de cargos e órgãos" e "o processo é complexo e moroso" em caso de necessidades urgentes. O objetivo, segundo a pasta, é dar maior agilidade na adequação de estruturas e cargos.

Pela proposta, o presidente da República poderá extinguir cargos (efetivos ou comissionados), funções e gratificações, reorganizar autarquias e fundações, transformar cargos (quando vagos) desde que mantida a mesma natureza do vínculo, reorganizar atribuições de cargos do Poder Executivo e extinguir órgãos.

A reforma administrativa que o governo promete entregar hoje ao Congresso prevê duas categorias de futuros servidores que poderão ser demitidos. Eles não terão estabilidade, que vai ficar restrita às carreiras de Estado. Além de blindar servidores atuais do Executivo, o texto também não vai mexer nas regras para contratação, promoção e desligamento de servidores estaduais e municipais, nem dos funcionários federais que trabalham no Legislativo e Judiciário.

Os servidores de Estado são uma das três classes de carreiras que serão criadas na reforma do chamado RH do governo e a única com estabilidade, que será concedida após o funcionário cumprir duas etapas, fase probatória de dois anos (que será parte do concurso público) e estágio de um ano. Outras duas classes não terão estabilidade: servidores com vínculo por tempo indeterminado e com vínculo por tempo determinado.

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O governo ainda quer usar a reforma administrativa para mudar a Constituição e permitir que o presidente da República altere por decreto a estrutura do Poder Executivo e até declare extintos alguns órgãos e ministérios. A proposta foi antecipada pelo Estadão/Broadcast em outubro de 2019 e deve permanecer na versão final.

Atualmente, o presidente depende do aval do Legislativo para fazer esse tipo de mudança. Se a medida for aprovada, ele poderá unilateralmente mexer em ministérios, fundações e autarquias do Executivo sem necessidade de consultar os parlamentares, desde que não haja aumento de despesa.

A reforma administrativa ficou com alcance e potência menores após ajustes feitos a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, o presidente determinou que a reforma poupasse os funcionários públicos que já estão no cargo. Não interferir nos outros Poderes também foi uma condição para a reforma ser desengavetada.

Segundo apurou o Estadão, o texto é considerado pronto pela assessoria jurídica do Planalto, mas alterações de última hora ainda podem ocorrer por pressão da Economia, que queria uma proposta mais robusta.

A reforma elaborada pela Economia no ano passado não foi aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro. Diante do impasse entre as contas de Paulo Guedes e os cálculos políticos do presidente, o governo segurou o envio. Com a crise da pandemia do coronavírus, o discurso de Bolsonaro de que neste momento o servidor público não pode ser demonizado ou penalizado foi reforçado.

Agora, para dar uma resposta ao mercado diante da desconfiança sobre a sustentabilidade fiscal do País, Bolsonaro resolveu desengavetar o texto, mas pediu mudanças para poupar o servidor. Em relação aos servidores estaduais e municipais, o presidente quer que as regras sejam um "norte" e um "convite" para que governadores e prefeitos façam suas reformas.

Coube ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, responsável também pela subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), harmonizar a determinação do presidente Bolsonaro com a proposta de Guedes para, finalmente, enviar ao Congresso.

No Planalto, a crítica é que a Economia quer fazer a reforma a todo custo.

Sem corte de salário

Em meio à discussão sobre o acionamento de gatilhos para conter despesas públicas, inclusive com o funcionalismo, um artigo inserido na noite de ontem blinda servidores de carreiras típicas de Estado de qualquer medida de redução de jornada e salário. A lista dessas carreiras ainda seria regulamentada por meio de uma lei complementar. Hoje, ela inclui diplomatas, auditores da Receita Federal, entre outros servidores considerados a "elite" do funcionalismo.

A reforma ainda transforma cargos de direção e assessoramento, os chamados DAS, em cargos de liderança. A ideia é que eles sejam específicos para altas funções do governo federal, acabando com DAS para funções mais administrativas.

Outra mudança é a extensão da aposentadoria compulsória aos 75 anos para funcionários de estatais, hoje blindados da regra que já vale para os servidores da administração pública. Hoje, somam 472 mil, o equivalente a 0,13% do total.

A reforma administrativa apresentada nesta quinta-feira (3) pelo governo federal prevê a criação de novos tipos de vínculos e maior tempo para efetivação no cargo. Secretários do Ministério da Economia concedem neste momento entrevista coletiva sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Nova Administração Pública.

A matéria prevê a criação de novos vínculos. O regime jurídico único dará lugar a vínculos distintos. No ingresso por concurso público, haverá estabilidade após três anos para cargo típico de estado e o cargo por prazo indeterminado. 

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No ingresso por seleção simplificada, haverá vínculo por prazo determinado, que substituirá a contratação temporária, e ainda cargos de liderança e assessoramento, em substituição a cargos comissionados e funções gratificadas.

Estágio probatório

Segundo o ministério, o estágio probatório atual  é uma “mera formalidade”. No Executivo Federal, são desligados no período de estágio probatório (dado de 2016 até junho de 2019) apenas 0,4% dos servidores.

Na proposta, o estágio probatório cede lugar ao vínculo de experiência, que durará pelo menos dois anos. Essa etapa passa a fazer parte do concurso público em que não há direito automático ao cargo e os mais bem avaliados ao final do vínculo de experiência serão efetivados. Após o vínculo de experiência, haverá ainda um ano de experiência antes de o servidor passar a ter estabilidade.

Desligamento do servidor

O desligamento de servidor atualmente ocorre por sentença judicial transitada em julgado. Há ainda a possibilidade de desligamento por infração disciplinar, que não tem regulamentação. Segundo o Ministério da Economia, no governo federal, em 2018, foram desligados 388 servidores (0,07% da força de trabalho).

Para o ministério, o modelo atual é engessado, com “manutenção de servidores em atividades em que não há mais demanda e incapacidade de adaptações e ajustes”.

A proposta é que não será mais necessário aguardar trânsito em julgado para a demissão. Valerá também decisão judicial proferida por órgão colegiado. Será mantida a demissão por insuficiência de desempenho, que deverá ser regulamentada por lei ordinária e não mais por lei complementar. 

Outras hipóteses de demissão serão definidas em lei. De acordo com o ministério, não será permitida demissão arbitrária, por questões político-partidárias.

Acumulação de cargos

A PEC também prevê a simplificação das regras de acumulação de cargos, em que o servidor pode acumular mais de um cargo, observada compatibilidade de horário. A exceção é para o ocupante de cargo típico de estado, em que será possível acumular cargo somente de docência ou na área de saúde.

Eliminação de benefícios

A proposta prevê a eliminação dos seguintes benefícios: licença prêmio (a cada cinco anos, três meses de licença - não existe no governo federal desde 1999); aumentos retroativos; férias superiores a 30 dias por ano; adicional por tempo de serviço (aumento automático do salário em 1% a cada ano); aposentadoria compulsória como punição; parcelas indenizatórias sem previsão legal; adicional ou indenização por substituição não efetiva (casos de sobreaviso, sem ocupação efetiva); redução de jornada sem redução de remuneração, salvo por saúde; progressão ou promoção baseada exclusivamente em tempo de serviço; e incorporação ao salário de valores referentes ao exercício de cargos e funções.

Fases da mudança

A primeira fase das mudanças será por meio do Novo Regime de Vínculos e Modernização Organizacional da Administração Pública, com o envio da PEC ao Congresso Nacional. 

Depois serão necessários projetos de lei sobre gestão de desempenho; modernização das formas de trabalho; consolidação de cargos, funções e gratificações; arranjos institucionais; diretrizes de carreiras; e ajustes no Estatuto do Servidor. 

Na terceira fase, o governo enviará o Projeto de Lei Complementar (PLP) do Novo Serviço Público, com o novo marco regulatório das carreiras; governança remuneratória; e direitos e deveres do novo serviço público.

Servidores atuais

A estabilidade dos servidores que já ingressaram no serviço público continua nos mesmos termos da Constituição atual. E os vencimentos dos servidores atuais não serão reduzidos.

O governo federal encaminhou ao Congresso Nacional o texto da proposta de emenda à Constituição (PEC) da reforma administrativa. A mensagem confirmando o envio está publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (3). Às 10 horas (de Brasília), o Ministério da Economia dará uma entrevista coletiva para detalhar a proposta.

O Diário Oficial não traz o texto da proposta, apenas a mensagem de encaminhamento ao Congresso. Mas, por meio de nota divulgada pela Secretaria Geral da Presidência, o governo confirma que a medida apresenta novas possibilidades de vínculos com a administração pública, "sem alterar de forma relevante o regime dos atuais servidores".

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Para os futuros servidores e empregados públicos, será exigido dois anos em vínculo de experiência com desempenho satisfatório antes de estar investido em cargo público permanente e iniciar o estágio probatório de um ano para os cargos típicos de Estado. Haverá ainda, segundo esclarece a nota, mais limitações ao exercício de outras atividades para ocupantes de cargos típicos de Estado e menos limitações para os servidores em geral.

A PEC propõe o fim do chamado "regime jurídico único" e institui as seguintes modalidades: vínculo de experiência, vínculo por prazo determinado, cargo com vínculo por prazo indeterminado, cargo típico de Estado e cargo de liderança e assessoramento (corresponde aos cargos de confiança). Segundo a nota, os critérios para definir os cargos típicos de Estado serão estabelecidos em lei complementar federal.

A proposta enviada pelo governo traz algumas restrições, como: veda mais de 30 dias de férias por ano; veda redução de jornada sem redução da remuneração; proíbe promoções ou progressões exclusivamente por tempo de serviço.

A PEC acaba também com parcelas indenizatórias sem que estejam caracterizadas de despesas diretamente decorrente do desempenho da atividade. Estão ainda vedadas a incorporação de cargos em comissão ou funções de confiança à remuneração permanente, a aposentadoria compulsória como modalidade de punição, e a redução de remuneração por motivo de redução de jornada para os cargos típicos de Estado.

Conforme o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) e o jornal O Estado de S. Paulo anteciparam na quarta-feira, a medida substitui os atuais cargos de direção, chefia e assessoramento pelos cargos de liderança e "aprimora o instituto dos contratos de gestão ao propor múltiplas medidas para maior flexibilidade na administração dos órgãos, autarquias e das fundações".

A proposta fixa em lei a jornada máxima tolerada nos casos de acumulação de atividade remunerada. Segundo a Secretaria Geral, uma lei complementar federal, aplicável a todos os entes da Federação, irá prever a elaboração de normas gerais sobre os servidores.

O presidente da República também terá maior margem para reorganizar a administração pública e transforma cargos públicos, desde que não haja aumento de despesa. Conforme o Broadcast e o jornal O Estado de S. Paulo noticiaram na quarta, a ideia seria permitir que o presidente altere por decreto a estrutura do Poder Executivo, até mesmo declarando extintos alguns órgãos e ministérios.

Ao poder público ficará vedada a instituição de medidas anticoncorrenciais em favor de estatais. A PEC estabelece ainda a aposentadoria compulsória aos 75 anos para empregados públicos, que hoje vigora apenas para servidores.

O presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a enviar a reforma administrativa ao Congresso amanhã, quase um ano depois de ter engavetado a proposta de reestruturação das carreiras do funcionalismo, com novas regras para contratação, promoção e desligamento dos servidores. Bolsonaro, no entanto, exigiu que os 9,77 milhões de funcionários que estão na ativa na União e nos Estados e municípios (21% dos trabalhadores formais do País) sejam poupados das mudanças.

O envio da reforma é considerado pela área econômica uma maneira de conter o bombardeio contra o teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação, e sinalizar compromisso com a agenda fiscal num momento em que o mercado coloca em xeque a capacidade de Guedes em segurar a pressão para abrir o cofre.

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A proposta de reforma do RH do Estado entregue pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, já era dirigida principalmente aos novos servidores, mas incluía alguns pontos que mexiam com os que estão trabalhando, como a revisão do sistema de licenças e gratificações, que estimula, na visão do ministério, uma percepção negativa da sociedade em relação aos servidores por terem privilégios em relação aos trabalhadores da iniciativa privada.

Anuênios (adicionais nas remunerações por cada ano de trabalho) e licenças-prêmio (licença remunerada concedida a cada cinco anos de serviço) seriam benefícios que passariam por uma revisão. O último foi extinto para novos servidores federais a partir de 1997, mas é comum em Estados e municípios.

Pente-fino

Desde o anúncio da retomada da reforma, um pente-fino começou a ser conduzido pelos técnicos do governo para garantir que a determinação do presidente de excluir os atuais servidores seja cumprida.

"Importante, sinalizando para o futuro, a retomada das reformas. A reforma administrativa é importante. Como o presidente deixou claro, desde o início, não atinge os direitos dos servidores públicos atuais, mas redefine toda a trajetória do serviço público para o futuro, serviço de qualidade, com meritocracia", disse ontem Guedes, ao lado do presidente. Apesar disso, os gastos com servidores atuais ainda podem virar alvo das propostas de "gatilho" de ajuste para evitar o descumprimento do teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação.

Devem permanecer no texto mudanças na estabilidade dos novos servidores, que passa a ser exclusiva para carreiras de Estado. Na Proposta de Emenda à Constituição (PEC), não serão elencadas que carreiras são essas - a determinação deve ficar para um segundo momento, mas deve contemplar auditores da Receita e diplomatas, por exemplo. Os demais servidores devem ser contratados pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), com possibilidade de demissão.

Outra proposta da reforma é limitar o salário de entrada dos servidores, mas a definição do valor também não deve estar na PEC. Na elaboração do texto, o valor máximo em discussão era de R$ 5 mil. Um raio x do serviço público feito pelo Banco Mundial apontou que 44% dos servidores começam ganhando acima de R$ 10 mil, 22% entram com remuneração superior a R$ 15 mil e 11% ingressam com contracheque superior a R$ 20 mil.

Como mostrou o Estadão, servidores públicos federais já fazem lobby contra mudanças nas carreiras. Nas últimas semanas, representantes de sindicatos e associações intensificaram os contatos com deputados e senadores, que têm sido bombardeados com telefonemas e mensagens.

Rapidez

No Congresso, lideranças afirmam que o texto pode ser aprovado mais rapidamente do que a reforma tributária, que prevê simplificação de impostos. A aprovação de uma emenda à Constituição - como requer mudanças nas regras do funcionalismo - exige apoio de três quintos da Câmara (no mínimo 308 votos de 513 deputados) e no Senado (49 de 81 senadores).

A decisão de retomar a reforma administrativa foi tomada após um "realinhamento político" da agenda pós-pandemia, após o adiamento do envio da proposta e o próprio pedido de demissão do secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Uebel, terem repercutido mal entre investidores. Em junho, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que a reforma ficaria para o ano que vem.

Lideranças que participaram do café da manhã com Bolsonaro e Guedes também veem na estratégia uma forma de atender à pressão do mercado por um ataque mais incisivo à trajetória explosiva de gastos. A despesa com pessoal é a segunda maior do Orçamento, atrás apenas da Previdência, que já foi alvo de reforma aprovada no ano passado.

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