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O sono está entre as maiores causas de sinistros de trânsito no Brasil, segundo levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Juntos, a fadiga e a sonolência correspondem por 60% dos sinistros nas vias brasileiras. 

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), de 2020 a 2022, foram registradas, nas rodovias federais em Pernambuco, 261 sinistros por causa presumível condutor dormindo. Durante esse período, 369 pessoas ficaram feridas, bem como 36 mortes foram contabilizadas em razão da sonolência.

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O risco do sono ao volante é o tema do novo podcast jornalístico do LeiaJá. Conduzido pelo jornalista parceiro Nathan Santos, o trabalho “No trânsito, acorde para a vida” traz relatos de quem sofreu os efeitos do cansaço durante trajetos em veículos, assim como aborda as visões de especialistas que alertam para as consequências maléficas do problema e sugerem iniciativas para evitar que motoristas durmam ao volante. A edição técnica do podcast é de Caio Lima e Stephany Taiani.

O projeto também revela que o sono carrega efeitos semelhantes ao uso do álcool ao volante. Descubra como realizar uma prevenção estratégica em prol da sua vida e das vidas das pessoas ao seu redor. Ouça agora:

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Apesar de dormirem, em média, cerca de 12 minutos a mais do que os homens, a qualidade do sono das mulheres é pior do que a dos homens. A informação é do Instituto do Sono, que cita estudos norte-americanos.

Normalmente a duração do período de repouso nos adultos varia entre 7 e 8 horas por noite. Na análise da ginecologista e pesquisadora do Instituto do Sono, Helena Hachul, a pior qualidade de sono das mulheres está relacionada a alterações hormonais e sobrecarga de tarefas, como atividades profissionais e cuidados com a família.

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A pesquisadora explica que sono fragmentado, insônia, sono insuficiente, má percepção de sono e apneia obstrutiva do sono estão entre os problemas mais comuns para as mulheres. Parte desses distúrbios é causada por mudanças hormonais que ocorrem na adolescência, nos ciclos menstruais, na gestação e na menopausa.

Além disso, aspectos sociais contribuem para a piora do sono feminino, já que as mulheres realizam praticamente o dobro de trabalhos domésticos do que os homens e passam duas vezes mais tempo cuidando dos filhos.

“Essa sobrecarga de tarefas, somada muitas vezes às atividades profissionais, resultam em privação de sono. É preciso ver se ela é casada, tem filhos, conta com suporte familiar e trabalha fora. A rotina com múltiplas tarefas e as variações hormonais inerentes ao gênero feminino levam a mulher a precisar de mais tempo de sono. Além disso há o risco aumentado para insônia, que chega a ser 40% superior em comparação ao gênero masculino”, diz Helena.

Fases da vida e hormônios

Segundo Helena, as mulheres na idade reprodutiva tem na primeira metade do ciclo menstrual predomínio de estrogênio e, na segunda, predomínio de progesterona.

“Com isso há as alterações na qualidade do sono que são piores no período pré-menstrual, principalmente se essa mulher tiver Tensão Pré-Menstrual. Há mulheres que têm insônia e outras que têm excesso de sono”.

Outra questão está relacionada a um distúrbio hormonal, o ovário policístico. Esta é uma patologia na qual a mulher tem diversos cistos no ovário que ocasionam a irregularidade menstrual e muitas vezes aumento de hormônio masculino.

“As mulheres que tem ovário policístico têm alterações metabólicas e do ponto de vista de sono apresentam mais ronco e apneia, piorando a qualidade do sono que fica fragmentado”.

A gestação e o pós-parto também contribuem para a baixa qualidade de sono da mulher, variando de acordo com o trimestre pelo qual está passando. No primeiro trimestre é mais comum que haja mais sonolência diurna, no segundo já há maior tranquilidade.

“No terceiro trimestre o sono é fragmentado por conta do aumento do volume abdominal e do tamanho do bebê. Nesse período as interrupções são mais frequentes, podendo haver mais insônia e apneia”.

Helena ressaltou que na menopausa, que marca o final do período reprodutivo, pelo menos 60% das mulheres relata insônia. Neste período há a ausência dos hormônios, o que leva à baixa do estrogênio, causando o aumento das ondas de calor e consequentemente à interrupção do sono.

“Mais de 60% das mulheres na menopausa apresentam insônia e a cada centímetro da cintura que aumenta com a menopausa, aumenta em 5% o risco da mulher ter apneia na pós-menopausa”, explicou a médica.

Dormir é uma parte da rotina fundamental para restabelecimento do organismo. Além de organizar as funções físicas e cognitivas, uma boa noite de sono fortalece o sistema imunológico do corpo e também é um ato de autoacalento, de cuidado para a constituição física. Entretanto, atividades intermitentes e fatores externos como estresse e ansiedade podem resultar na falta ou privação de sono, que é cientificamente comprovado que prejudicam a saúde do coração.

A médica neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono, explica as diferenças entre eventos que limitam o sono e a doença que acomete pessoas que passam pela abstinência excessiva dele. "A falta de sono ou privação é diferente da Síndrome do Sono Insuficiente. Uma coisa é perder o sono por um dia ou curtir algum evento e ficar três dias sem dormir, por exemplo. Esse é um caso. A privação de sono aguda é um processo crônico, é outra ocorrência", ensina.

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Há comprovações científicas e estudos, no entanto, que atestam que um encurtamento do período de sono em uma única noite pode mudar o ritmo cardíaco. "Pode ter uma alteração no eletrocardiograma", afirma Dalva.

Algumas doenças podem surgir em decorrência de noites mal dormidas. De acordo com o médico cardiologista e mestre em cardiologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Silvio Gioppato, a falta de sono pode ser um fator para desenvolvimento de doenças que prejudicam as artérias do coração. "Segundo dados e levantamentos, estudos com animais e observacionais de grandes grupos populacionais, a privação de sono, mas também o excesso, predispõe a hipertensão, favorece ou piora o aparecimento e controle da diabetes e como consequência, as doenças de deposição de gordura nas paredes das artérias coronárias", ensina o cardiologista. Comorbidades como a obesidade, também podem ocorrer em decorrência de noites mal dormidas ou a ausência do sono.

Outro fator importante a ser levado em conta é o tempo de descanso. O intervalo ideal para um sono reparador é de seis a oito horas, segundo Dalva Poyares. "Dormir menos de seis horas, na média, pode predispor o indivíduo a consequências cardiovasculares, e o sono de mais do que oito horas pode indicar algum problema ou comorbidade que o indivíduo não tratou e precisa tratar para também não prejudicar o bom funcionamento do coração", pontua.

Apneia Obstrutiva do Sono

A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio do sono relativamente frequente na população. Segundo especialistas, ela pode predominar em homens, mas também acomete mulheres. O transtorno se dá por pequenas obstruções que ocorrem nas vias aéreas superiores, especificamente na região da faringe, atrás da língua e do palato. Segundo a neurologista Dalva Poyares, esse fenômeno faz com que a região responsável pela respiração tenha uma desordem na hora do sono.

"Quando a pessoa relaxa durante o sono, ela pode ter uma redução da respiração, que geralmente é acompanhada do ronco. Na média, são pessoas acima do peso que roncam bastante. Então, se além de dormir pouco a pessoa tem apneia, aumenta muito mais o risco de ter doenças cardiovasculares, arritmia cardíaca e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Também coopera para maior predisposição à Doença Arterial Coronariana, que pode levar ao infarto, até à esclerose", pontua Dalva.

O estresse também é um elemento que precisa ser levado em conta na hora de detectar os sintomas de uma noite mal dormida ou da insônia. "A falta de sono pode ocorrer em decorrência da exaustão excessiva ou ela pode ser a causa de um estresse. Nós temos então uma íntima relação desse fator com a ausência do descanso", alerta Silvio. O cardiologista continua dizendo que isso pode levar a uma sobrecarga do sistema cardiovascular. "Os vasos vão ficar mais contraídos, o coração vai ficar mais acelerado, nós produziremos outras substâncias que serão degenerativas e isso vai trazer danos ao funcionamento do coração, especialmente deposição de gordura na parede das artérias".

Segundo o otorrinolaringologista Guilherme Scheibel, diretor-chefe do Instituto Scheibel, a maioria das pessoas que tem apneia e hipopneia do sono, que é a interrupção parcial das vias aéreas durante o descanso, costumam ter má qualidade na hora de dormir, mesmo que repousem por mais horas, acarretando no estresse, no aumento de peso por uma alimentação inadequada e consequentemente na saúde do coração. "Por isso, normalmente, pessoas assim estão cronicamente cansadas e com níveis de hormônios de estresse aumentados, fazendo com que, ao longo do dia, essa pessoa tenha menos disposição, mais sonolência um apetite por carboidratos maior. Consequentemente, também a facilidade de ganho de peso e dificuldade para perdê-lo. Isso acaba se tornando um ciclo porque, quanto mais a pessoa engorda, mais aumenta a circunferência do pescoço, que é um dos principais fatores que contribuem para o aumento na gravidade da síndrome de apneia e hipopneia do sono".

O cortisol, hormônio do estresse, é um dos agentes responsáveis por despertar o corpo do sono. Ele é um importante elemento executor de reflexos de proteção e impulsionamento da fisiologia quando há perigo. Entretanto, quando os níveis de tensão permanecem elevados mesmo depois de situações específicas, é importante ter o cuidado de tratar a causa do estresse contínuo. Além dos fatores de riscos para doenças cardíacas, pode ocorrer um sono de má qualidade ou a ausência dele. De acordo com Silvio Gioppato, essas alterações podem levar a ocorrências fatais. "Menos de 50% da população está na faixa normal de sono. Por ano, nos Estados Unidos, existem cerca de seis mil acidentes de carro fatais por noites mal dormidas. Ou o indivíduo teve erro de julgamento ou dormiu no volante e acabou sofrendo a colisão. A privação de sono reduz de 3 a 5 anos a expectativa de vida da pessoa".

Insuficiência Cardíaca

A insuficiência cardíaca, que é uma doença em que o coração não bombeia sangue de forma adequada para atender às necessidades do organismo, tem uma relação direta com a Apneia Obstrutiva do Sono. Segundo Dalva Poyares se o indivíduo tem uma insuficiência leve, pode ter um sono praticamente normal, seguindo os devidos protocolos e tratamentos médicos, entretanto, quando a doença é mais avançada, combinada com a interrupção do sono, é necessário ter cuidados redobrados. "O sono da pessoa com insuficiência cardíaca deve ser monitorado. Outro fator que deve ser levado em consideração é o edema, que é um inchaço. Quando não controlado, o líquido que se acumula nos pés na hora do sono, pela pessoa estar deitada, se espalha e isso pode agravar a apneia do sono". A especialista ainda diz que a insuficiência cardíaca traz desconforto, falta de ar, o que leva à insônia, que pode agravar o quadro de um paciente já com a qualidade do sono prejudicada.

Controlar a apneia do sono, contudo, diminui o trabalho e a dinâmica do coração para um bom funcionamento do organismo.

Como ter um bom sono, afinal?

Tratar não somente da saúde do coração, mas também do processo de respiração, é muito importante. Guilherme Scheibel ensina que os acompanhamentos em sua especialidade conseguem evitar desordens noturnas, facilitando, assim, uma boa noite de sono. "O nariz e a parte da boca, mais especificamente a laringe que, tendo uma boa saúde, um bom tônus, conseguem evitar colapsos noturnos, que causam apneia do sono. Ou seja, respirar bem pelo nariz é muito importante e ter um bom tônus muscular e uma circunferência do pescoço adequada contribuem para um sono melhor".

Muito mais do que recorrer a medicações, os especialistas são unânimes: o ideal para se ter uma boa noite de sono, além do acompanhamento médico adequado para quem possui já doenças crônicas, é criar um ambiente favorável para o sono. Evitar exposição à luz intensa como de computadores, smartphones e televisores. A iluminação vinda desses dispositivos antes de dormir ativa o sistema nervoso central que entende que ainda é dia, retendo a liberação da melatonina, que é o hormônio do sono, e ocorre a dificuldade em dormir. Evitar bebidas e alimentos estimulantes como a cafeína e o cacau também são recomendados. A parte de tudo isso, ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos também são bem-vindos. Dormir faz parte de ter uma rotina benéfica para bom desempenho cognitivo, no trabalho, mas também para manter o coração com suas funções preservadas.

Acordar no meio da noite para revirar a geladeira em busca de alimentos pode ser um distúrbio de sono, porque o organismo da maioria das pessoas está preparado para o jejum durante a madrugada e não digerir comidas calóricas e em abundância durante o período do sono. O distúrbio alimentar associado ao sono e a síndrome do comer noturno podem explicar esta conduta atípica.

“Nessas pessoas, o organismo entende que a hora de maior funcionamento seria à noite. Por causa disso, têm pouca fome de manhã e mais apetite à noite”, afirmou médica e pesquisadora do Instituto do Sono Dalva Poyares.

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A síndrome do comer noturno é um distúrbio alimentar que se caracteriza pelo aumento da necessidade de ingestão de alimentos à noite, antes do período principal de sono e com despertares noturnos para comer. O comer noturno pode ter explicações ligadas ao metabolismo e ao ritmo circadiano, que é o relógio interno do organismo do indivíduo. Há pessoas, chamadas de vespertinas, que são mais ativas no período noturno.

Para identificar o distúrbio de sono de forma correta, os médicos investigam se o paciente se lembra, ou não, de ter despertado para comer. A amnésia total ou parcial do fato é um indicativo de distúrbio alimentar associado ao sono, que pode ser desencadeado por medicamentos hipnóticos ou por parassonia, que é um comportamento semelhante ao sonambulismo. Na síndrome do comer noturno, o paciente tem consciência do que ingeriu e memória dos eventos no dia seguinte.

Segundo a médica, o distúrbio alimentar associado ao sono acomete pessoas com propensão a ter parassonia e se caracteriza por despertares noturnos acompanhados de comportamento exclusivamente relacionado à mastigação e à deglutição de alimentos ou substâncias. No dia seguinte, a pessoa não tem memória do fato ou apresenta apenas alguns fragmentos de lembrança.

“Quem tem esse distúrbio de sono tende a comer alimentos não usuais ou misturar alimentos que não combinam e que nunca consumiriam, se estivessem conscientes, podendo acordar nauseado ou se sentindo mal”, explicou Dalva Poyares.

Ela disse que medicamentos hipnóticos usados para combater a insônia também podem desencadear o distúrbio de sono em qualquer pessoa. Ao ingerir o medicamento, em vez de dormir, a pessoa tem comportamento de sonambulismo.

“Uma das coisas que acontecem é a pessoa comer e não lembrar. Nesse momento ela corre riscos associados à ingestão de substâncias tóxicas, coisas que estão na geladeira e não estão muito boas, misturar alimentos que não combinam, ou mesmo ter lesões por cozinhar ou preparar alimentos durante a madrugada, ou acordar se sentindo mal”, afirmou.

De acordo com a pesquisadora, há tratamentos disponíveis para os distúrbios de sono. Se o comportamento persistir, é preciso procurar ajuda profissional. “É preciso investigar as causas da superficialidade do sono e os motivos que fazem o sono ficar fragmentado para tratar. Se não se encontrar nada, é sinal de sonambulismo, que é outro tratamento."

A médica alerta que essa situação pode ser perigosa e recomenda que se tomem medidas de segurança como retirar objetos perfurocortantes do ambiente, dificultar o acesso à geladeira, além de fazer o tratamento para sanar tais distúrbios.

Os brasileiros dormem muito mal, e a pandemia de covid-19 pode ter contribuído para agravar ainda mais o problema. A conclusão é de um novo estudo, feito por cientistas da USP e da Unifesp e publicado na Sleep Epidemiology, segundo o qual 65,5% da população relata problemas relacionados ao sono.

As mulheres são as mais afetadas: respondem por um terço dos casos, um dado recorrente em outros estudos nacionais e internacionais. Sofrem muito também os viciados em mídias sociais, que não conseguem deixar de lado os smartphones nem na hora de ir para a cama. O novo trabalho revelou também um dado inédito: um aumento dos problemas de sono entre homens jovens, o que costuma ser raro. Os cientistas dizem que mais estudos são necessários para entender o novo dado, mas acreditam que as incertezas trazidas pela pandemia podem ser uma razão.

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"Nesse grupo (65,5%), estão incluídas as pessoas que têm distúrbios do sono, mas também outras que dormem mal pelas mais diversas razões, como estar acompanhado de alguém que ronca muito, por exemplo", contou Dalva Poyares, da Unifesp, uma das autoras do estudo. "Ou seja, não quer dizer que, necessariamente, todos eles tenham um problema de saúde."

Os chamados transtornos do sono são, basicamente, apneia, síndrome das pernas inquietas, narcolepsia e, o mais comum de todos, insônia. Mas as pessoas podem ter um sono ruim por vários outros fatores, como explicam os especialistas, que podem ir desde depressão e ansiedade até um ambiente barulhento ou um colchão ruim. No caso dos transtornos, lembram os médicos, existem tratamentos apropriados para cada uma das condições. Para problemas mais simples, o recomendado é seguir uma rotina de higiene do sono.

"Esse percentual (65,5%) não chega a nos surpreender", afirmou o presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS) e médico do Incor, Luciano Dager, principal autor do trabalho. "Vários fatores contribuem para isso, como estilo de vida, problemas financeiros, dificuldades de conciliar agendas, insegurança, ansiedade, depressão, obesidade, conectividade excessiva; ficamos até muito tarde nas redes sociais e nos streamings, mantendo o cérebro muito ativo e inibindo um padrão de sono melhor."

O novo trabalho mostrou que os fatores independentes mais citados como responsáveis pela qualidade ruim do sono são: o diagnóstico de insônia, o uso de mídias interativas pouco antes da hora de dormir e a ausência do parceiro na mesma cama. Isso mesmo, os brasileiros dormem pior quando não estão acompanhados.

"Quando temos essa situação de um parceiro dormindo em outra cama ou outro quarto isso pode significar algumas coisas: ou um deles tem um distúrbio de sono muito grave que precisa se isolar, ou há algum tipo de fragilidade no relacionamento, o que pode influenciar na qualidade do sono", especula Dager.

"Vários estudos internacionais mostram que os divorciados, separados e viúvos dormem pior do que os casados", lembra Dalva, "Dormir junto deve ter algum fator protetor, como confiança, que contribui para um sono melhor."

Os médicos não sabem explicar direito por que, em geral, as mulheres são muito mais afetadas que os homens - um dado que se repete mais ou menos na mesma proporção em várias partes do mundo. Mas há algumas hipóteses.

"Existem algumas características genéticas, a questão da menopausa, embora isso não esteja ainda totalmente estabelecido", diz Dager. "Mas acho que o principal é esse papel central da mulher na nossa sociedade, assumindo múltiplas atividades, cuidando da casa, das crianças, dos idosos, tendo uma carreira, atendendo às mais diferentes demandas numa sociedade machista, o perfil de ansiedade é mais frequente."

Justamente o caso da fonoaudióloga Francine Broggio, de 49 anos, e da advogada Isabelle Machado, de 46 anos.

"Quando a minha mãe morreu, em fevereiro de 2021, comecei a ter problemas para dormir", conta Francine. "Depois que tive covid, a situação piorou ainda mais. Comecei também a ter crises de ansiedade generalizada. Estou tomando antidepressivos e também um remédio especificamente para dormir. Se não tomar, não durmo de jeito nenhum. E mesmo quando tomo, dependendo do dia, das preocupações que tenho, também não consigo dormir."

"Em 2019 eu comecei a ter dificuldades para dormir, tinha falta de ar, chegamos a achar que poderia ser apneia do sono, mas isso acabou sendo descartado. O diagnóstico foi de ansiedade mesmo", diz Isabelle. "Tinha medo de dormir e ter falta de ar; comecei a fazer terapia. Não posso ficar no celular nem na televisão. E uso música clássica para dormir."

Embora a coleta de dados para o novo trabalho tenha ocorrido bem no início da pandemia no Brasil, diferentes aspectos, como problemas econômicos, podem ter tido um impacto na qualidade do sono, especialmente para os homens mais jovens, segundo o estudo.

"Até 8 de abril de 2020, uma semana depois do fim da coleta de dados, um total de menos de 16 mil casos de Covid-19 tinham sido diagnosticados no País. No entanto, o período de estudo coincidiu com a adoção de medidas restritivas. Além disso, outros estudos já tinham demonstrado o impacto da pandemia na qualidade do sono", ponderam os pesquisadores no estudo.

O sono é fundamental para a saúde física, o bem estar, a performance cognitiva e o funcionamento diário mais básico. Pessoas que não dormem bem têm mais tendência a apresentar problemas cardiovasculares e obesidade. O número total de horas de sono necessárias varia de indivíduo para indivíduo. Alguns precisam de até dez horas, enquanto outros ficam bem com seis horas. Com menos de seis horas de sono, explica Dalva, ainda que a pessoa se sinta bem, já há um impacto na saúde.

"O sono é um estado ativo, não é um desligar completamente como as pessoas pensam", afirma Dalva. "Muitos processos acontecem durante o sono, como o repouso do sistema cardiovascular; a pressão arterial diminui, a frequência cardíaca baixa, as artérias relaxam. O sono é importante também para o metabolismo, a secreção de insulina é alterada nesse período, é quando temos o pico de produção do IGH, o hormônio do crescimento, aumenta a produção de melatonina. E é também durante o sono que o cérebro varre o seu lixo metabólico para fora do organismo, faz uma faxina."

O estudo ouviu 2.635 pessoas em todas as regiões do País. Para definir a qualidade do sono dos entrevistados, os pesquisadores usaram um questionário padrão que inclui seis diferentes dimensões para definir o padrão de sono (número de horas dormidas, continuidade do sono, regularidade, qualidade, regularidade de horários e alteração entre estados de alerta e de sono). Cada uma dessas dimensões é relevante à saúde, de acordo com o trabalho.

Um outro estudo feito nacionalmente em 2014, com 2.017 participantes de todas as regiões do Brasil, já indicava o problema: 76% dos entrevistados relataram pelo menos uma reclamação sobre a qualidade de seu sono. Entre as mais citadas, estavam sono leve (27%), ronco (25%), horas de sono insuficientes (23%), excesso de movimentos durante o sono (22%) e insônia (21%). Outras reclamações foram bem menos prevalentes, como sonambulismo (1%), interrupção da respiração (3%), urgências urinárias (5%), pernas inquietas (6%) e bruxismo (7%).

Higiene do sono

Para ter uma boa noite de sono, os especialistas recomendam para todos ter sempre um horário similar para ir para a cama, respeitar o número de horas de sono de que seu corpo necessita, dormir em um ambiente silencioso e escuro, ter um colchão confortável.

Para quem apresenta dificuldades para pegar no sono ou manter o sono, especialistas recomendam o que chamam de higiene do sono; uma preparação que começa pelo menos duas horas antes do horário de ir para a cama.

- Não comer logo antes de dormir. O recomendado é fazer uma refeição leve pelo menos duas horas antes de se deitar.

- Desligar o celular, o computador, o tablet e os streamings pelo menos duas horas antes do horário de dormir. Eles mantêm o cérebro em alta atividade, sobretudo as mídias sociais, em que há interações ativas.

- Não é recomendado preparar a agenda do dia seguinte antes de dormir, ou dar a início a discussões mais sérias como o parceiro/a. Essas também são ações que mantêm o cérebro em alta atividade.

- Garantir um ambiente escuro, silencioso, confortável e com temperatura apropriada.

Presidente da Associação Brasileira do Sono, Luciano Dager diz que, embora muitas pessoas gostem de recorrer a chás caseiros e alguns fitoterápicos, não há comprovação científica de que eles, de fato, tenham algum efeito positivo sobre o sono. O mesmo se aplica aos suplementos de melatonina, cuja comercialização acaba de ser liberada no Brasil.

As baixas temperaturas e a demora para amanhecer, condições típicas do inverno em algumas regiões do país, podem influenciar no sono e no despertar das pessoas. Especialista do Instituto do Sono explica que a baixa luminosidade afeta o chamado relógio interno e que o frio permite que as pessoas a durmam melhor, já que a diminuição da temperatura do corpo faz parte da fisiologia do sono.

O primeiro ponto é que, com a chegada do inverno, os dias vão ficando mais curtos e as noites, mais longas, o que influencia na luminosidade ao longo do dia. Segundo Gabriel Natan, biomédico e pesquisador do Instituto do Sono, a sincronização do relógio interno do organismo, que regula diversas funções do corpo, está associada à variação da luz, e a principal dica para o cérebro entender quando é dia e quando é noite é luz natural. “Por isso, a gente fica mais sonolento à noite”, ressalta.

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“Durante o verão, quando acordo às 6 da manhã, é dia e, quando é dia, meu corpo reage muito melhor ao despertar, porque foi feito para entender a noite como um período de dormir. Então, se eu acordo, e o sol raiou, o despertar mais fácil é natural, o cérebro pega mais rápido a ideia de que o dia começou. Mas, no inverno, às 6 da manhã, ainda é noite. então, meu cérebro não compra a ideia de que está no momento de despertar”, explicou.

Segundo Natan, isso acontece porque a melatonina, que é o hormônio do sono, é secretada durante a noite ou no escuro. “Se eu acordo [no escuro] no inverno, ainda estou no período em que a melatonina está me dizendo: ainda é noite; então, não é a hora de acordar.”

Além disso, o sono biológico do ser humano, para acontecer, depende de uma diminuição de temperatura. “Quando a gente dorme, a temperatura central vai diminuindo um pouco, então a gente prefere, biologicamente, dormir no frio. Não um frio intenso – a temperatura ideal para o sono o humano está ao redor dos 18 graus”, disse Natan. Isso, desde que a pessoa esteja agasalhada e em um ambiente adequado para dormir.

Luz e café

O especialista disse que esses dois pontos podem dificultar o hábito de acordar cedo no inverno em algumas regiões do país e deu algumas dicas que podem ajudar as pessoas a despertar durante os dias mais frios, que costumam ter pouca luminosidade na parte da manhã.

“Se as jornadas de trabalho fossem flexíveis, acordar mais tarde não seria tanto um problema. Mas, na prática isso acontece. Por isso, vamos considerar aqui que a pessoa continua tendo que acordar no horário em que sempre acordou. Só que chegou o inverno, e ela está acordando no escuro. O que a pessoa tem que fazer? Ficar reprogramando o despertador a cada 5 minutos? [Isso] a gente evita, porque você está se enganando achando que está dormindo, mas de 5 em 5 minutos, não dorme. Fecha os olhos, mas o sono não aprofunda”, enfatizou.

Natan recomenda que a pessoa exponha-se à luz assim que acordar e ligue equipamentos como rádio ou TV. “Faz com que o cérebro, mesmo que no tranco, entenda que começou o dia. E a luz é importante para isso, não tem outra coisa, senão a luz. Para acordar, tem que ser aquela baita luz para te mostrar que o dia começou. Mesmo que lá fora esteja escuro, [é preciso] que você se exponha à luz.”

Natan Gabriel apontou ainda o café como auxiliar para despertar, desde que as pessoas não exagerem no consumo. “A ideia do café de manhã, sim, ele vai fazer muito bem para acordar, mas que a gente maneire ao longo do dia, porque o mesmo café que te acorda de manhã vai tirar teu sono à noite, então a gente não pode exagerar na dose”, disse.

Pessoas com arritmias, doenças do coração em geral, hipertensão ou ansiedade devem ter cuidado no consumo de bebidas estimulantes como o café, alertou o pesquisador.

Acordar entre três e quatro da manhã pode indicar estresse e má qualidade no sono. De acordo com o pesquisador Greg Murray, diretor do Centro de Saúde Mental da Swinburne University of Technology, na Austrália, esse é o pior horário para se acordar durante a madrugada, apesar de ser um hábito comum e ser também um momento do sono em que o ser humano está mais autoconsciente. O fenômeno é chamado de “lacuna da realidade”.

O especialista aponta, ainda, que acordar nesse horário é um fenômeno coletivo e está ligado às preocupações de cada indivíduo. Cerca de uma em cada três pessoas relata insônia às três da madrugada, e o hábito se tornou mais comum com a chegada da pandemia.

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De acordo com especialistas em sono, essas ruminações iniciais estão relacionadas ao estresse – embora não diretamente. Estar estressado não nos faz acordar mais à noite, explicou Murray, mas nos torna mais conscientes de que isso está acontecendo.

“Como terapeuta cognitivo, às vezes eu brinco que a única coisa boa de acordar às 3 da manhã é que isso nos dá um exemplo vívido de catastrofização. Acordar e se preocupar às 3 da manhã é muito compreensível e muito humano”, escreveu ele em seu artigo de 2021 para The Conversation. “Mas, na minha opinião, não é um grande hábito para se adquirir'', acrescentou.

O estresse não é o único fator para a insônia entre as três e quatro da manhã. Horários erráticos; doomscrolling (ato de gastar uma quantidade excessiva de tempo de tela dedicado à absorção de notícias negativas); e mesmo a falta de ar fresco pode atrapalhar a higiene do sono o suficiente para nos acordar durante a noite.

“Na verdade, acordamos muitas vezes todas as noites, e o sono leve é ​​mais comum na segunda metade da noite. Quando o sono está indo bem para nós, simplesmente não temos consciência desses despertares. Mas adicione um pouco de estresse e há uma boa chance de que a vigília se torne um estado totalmente autoconsciente”, continuou Murray.

Exercitar uma rotina, para que o cérebro entenda o horário regular do sono, é fundamental. Exposição à luz durante o dia, atividades sociais e acordar todos os dias no mesmo horário são hábitos que auxiliam nesta definição, de acordo com especialistas.

Um grupo de pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) publicou na revista “Cadernos de Saúde Pública” na quinta (9), um estudo que associa o comportamento sedentário com histórico de problemas de sono em idosos brasileiros. Partindo da prévia hipótese das sabidas alterações de sono na terceira idade, as estudiosas buscaram entender essa relação e inspirar a proposição de orientações sobre a necessidade de redução do sedentarismo nos idosos.

Para o estudo, foram avaliados dados de 43.554 idosos participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019. Foram observados aspectos como o tempo assistindo televisão, atividades de lazer (como acesso a dispositivos móveis e computadores) e tempo sedentário total (televisão + lazer). Como resultados, os idosos que relataram permanecer mais de seis horas diárias vendo TV e mais de três horas em comportamento sedentário tiveram mais chances de ter problemas no sono. As autoras observaram que os idosos que passam mais de três horas do dia em comportamento sedentário têm 13% mais chances de ter problemas no sono.

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“A questão do comportamento sedentário é uma área relativamente recente de estudos. O prévio interesse em observar os processos da senescência e o crescente aumento do número de idosos na nossa população motivou a realização do nosso trabalho. Com o envelhecimento, é comum a ocorrência de mudanças no padrão de sono, tais como o tempo, o sono fragmentado e a quantidade de sono não REM, fundamental para a restauração física e manutenção da qualidade de vida”, aponta Núbia Carelli, coordenadora do Laboratório de Envelhecimento, Recursos e Reumatologia (LERER) da UFSC e coautora do artigo.

Evidências já demonstram que os problemas de sono estão associados a depressão, declínio cognitivo e aumento do índice de Massa Corporal (IMC). No entanto, as autoras perceberam que, apesar de ainda ser uma característica de atividade sedentária, usar dispositivos móveis ou computadores demonstrou ser menos danoso ao sono dos idosos que o consumo de mídia televisiva. Segundo Núbia, o estudo revelou que o uso de computadores e de smartphones não se mostrou associado ao histórico de problemas no sono.

“Acredita-se que a luz branca das telas de computador compreende toda a gama de luz de comprimento de onda curta (azul) e longa (vermelha), às quais não parecem suprimir a produção de melatonina, se utilizadas durante o dia. No comportamento sedentário de lazer, devido ao uso de dispositivos móveis, deve haver o mesmo gasto energético de exercícios leves, pois o indivíduo pode se mover e se levantar com mais frequência do que quando está assistindo à televisão”, explica.

De acordo com as pesquisadoras, o conhecimento da relação sono e comportamento sedentário entre idosos aponta para a implementação de estratégias para a redução do tempo sedentário. Essa medida é particularmente importante no cenário atual, uma vez que a prevalência de histórico de problemas no sono pode aumentar nos próximos anos devido à pandemia de Covid-19.

Fonte: Agência Bori

Com a chegada do verão as noites começam a ficar mais quentes e a dificuldade para dormir passa a ser comum. Conforme um estudo da Universidade de Seul, na Coreia do Sul, publicado em maio de 2021 na revista oficial da Sociedade de Pesquisa do Sono, nos Estados Unidos, o aumento do consumo de remédios indutores do sono está associado à elevação da temperatura, fato que mostra que a ciência já comprovou a dificuldade para dormir nesta época do ano. 

De acordo com o Instituto do Sono, quatro anos atrás, outro estudo havia apontado a ligação entre a insuficiência de sono e as noites do verão norte-americano. Em 2016, pesquisadores holandeses revelaram que os distúrbios de sono cresceram 11% à medida que os termômetros subiram 1°C em áreas externas. Este porcentual chegou a 24% nos ambientes internos. 

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Um estudo holandês verificou que 1°C na temperatura ambiente foi associado ao aumento de 11% nos distúrbios do sono, mostrando que quando se está em ambiente com temperatura elevada há maior dificuldade para chegar à temperatura sinérgica que combina com o início do sono. 

Segundo a médica e pesquisadora do Instituto do Sono, Sandra Doria, o sono é um dos ritmos que respeitam o período de 24 horas para ocorrer novamente.

Concomitante com esse ritmo existe o da temperatura corporal e a combinação entre esses dois, faz o sono ocorrer mais ou menos facilmente. "Para que o sono ocorra de forma adequada precisamos ter a temperatura corporal diminuindo no início do sono. No calor quando há aumento da temperatura externa do corpo há a dificuldade maior em equilibrar a temperatura interna para que seja ideal para o sono". 

Ela explicou ainda que o ciclo vigília-sono está vinculado ao sistema de regulação de temperatura corporal, que é influenciado pela temperatura externa. Para o sono começar, o organismo precisa dissipar o calor. “No verão, o corpo tem de fazer um esforço redobrado para realizar esta tarefa. Assim é mais difícil adormecer. Além disso, o tempo de sono profundo e o tempo total de sono podem ficar mais reduzidos”, explicou. 

Além disso, no Brasil, o período se soma à quebra da rotina devido às confraternizações, festas, férias e viagens. Como o sono requer regularidade, se há uma mudança de rotina, é preciso se adaptar aos novos horários para não haver dificuldade de conciliar o sono. “Pior que a alteração de rotina, é dormir e acordar cada dia em um horário diferente, o que prejudica a qualidade de sono”, disse Sandra.  Com a falta de regularidade no horário de dormir e descansar, parte da população utiliza recursos para ficar desperta durante o dia, como café, chás e energéticos. À noite, o excesso de consumo desses produtos pode levar à insônia e então muitos ingerem bebidas alcoólicas para reverter o processo. 

“Embora facilite o ato de adormecer, o álcool proporciona uma qualidade de sono ruim. A pessoa acorda cansada e, para melhorar o rendimento, toma uma bebida estimulante, entrando assim num círculo vicioso perigoso”, afirmou a especialista.  Dicas para dormir bem no verão Segundo a médica, uma boa ducha antes de dormir pode ajudar a reduzir a temperatura do corpo, fazendo com que o indivíduo sinta menos calor antes de pegar no sono. É indicado ainda que se mantenha as janelas abertas para facilitar a ventilação e usar o ar-condicionado ou ventilador para diminuir o calor no ambiente. Além disso é imprescindível manter-se hidratado no verão e beber água fria antes de se deitar para aumentar a sensação de frescor. 

Os pernilongos também podem se transformar em fragmentadores do sono por causa do ruído que fazem. Para evitar isso, o indicado é colocar telas nas janelas ou usar mosquiteiros para evitar a entrada desses insetos no quarto.  Sandra também não indica os exercícios físicos durante o período da noite, embora exista a tentação de aproveitar as noites quentes para a prática de esportes, corrida e atividades físicas poucas horas antes de ir para cama. Segundo ela, o ideal é fazer algo relaxante como meditar, ler ou ouvir música. 

"É importante ainda evitar a exposição à luz azul que é a que existe no led, preferindo as luzes amareladas, alaranjadas e avermelhadas que são feixes que inibem menos a produção de melatonina. As luzes azuis são aquelas emitidas pelo celular, tablets, televisores, computadores", disse.

De acordo com um estudo científico publicado na última semana no jornal Cérebro, a qualidade de sono de um determinado indivíduo impacta diretamente no desempenho cognitivo e neural, esteja ele na infância, adolescência, fase adulta, ou fase idosa.

Além disso, um dos envolvidos na pesquisa, Brendan Lucey, que trabalha no Centro de Medicina do Sono na Universidade de Washington, informou que existe um horário ideal de sono, que pode estabilizar os processos neurais a longo prazo.

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A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma análise envolvendo mais de 100 adultos, e a partir disso, foi descoberto que apenas aqueles que dormiam entre seis a oito horas diárias mantinham uma boa qualidade de função cerebral.

Já aqueles que costumam dormir menos de cinco horas por dia, foram diagnosticados com desempenho cognitivo prejudicado. Vale lembrar que o mesmo malefício também se aplica a pessoas com longa duração de sono, geralmente acima de sete horas e meia por dia.

O resultado final da pesquisa também reforça a orientação dada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos: crianças em idade escolar devem dormir entre nove e 12 horas por dia, e adolescentes entre oito  e dez horas.

 

 

A tendência da adoção definitiva do modelo híbrido de trabalho, aquele que alterna entre as atividades presenciais com o home office pode gerar dificuldades para o sono regular das pessoas e até aumentar ou provocar insônia. Segundo pesquisadores do Instituto do Sono, esse modelo de trabalho traz um desafio adicional, que consiste na mudança de horário entre os dias de atividades presenciais com home office. Enquanto nos dias de trabalho presencial, a pessoa precisa de mais tempo entre acordar e chegar ao posto de trabalho, ao ficar em casa é possível estender as horas de sono.

Além de quebrar a rotina do horário de dormir e acordar, o trabalho híbrido pode estragar a qualidade do sono pelo fato de que trabalhando em sistema remoto, as pessoas dividem seu tempo em casa entre trabalho, estudos dos filhos e rotina doméstica, dividindo a jornada de oito horas ao longo do dia para conseguir realizar todas as tarefas, hábito já observado no período da pandemia, quando o trabalho estava sendo desenvolvido só remotamente. “E as empresas flexibilizaram o trabalho que não tiveram mais receio de mandar um e-mail à meia-noite, esperando resposta”, disse o biomédico e pesquisador do Instituto do Sono, Gabriel Natan Pires.

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De acordo com ele, para manter uma boa qualidade do sono, o indivíduo precisa seguir uma rotina com horários determinados para lazer, trabalho, alimentação e descanso e não seguir esses hábitos pode resultar até mesmo em reflexos negativos para o sistema imunológico. “É como se o nosso cérebro precisasse de pistas para entender quando chega hora de dormir e a hora de acordar”, comenta.

Segundo Pires, nos dias de home office, o trabalhador pode até dormir um pouco mais porque não precisará enfrentar o trânsito para chegar ao trabalho, mas é importante que inicie e encerre o expediente nos mesmos horários. “Esse esquema dará certo se a corporação zelar pela saúde mental do colaborador e o profissional não abrir mão do seu sono para aumentar a produtividade. Mesmo porque é uma utopia trabalhar até as 23 horas e achar que às 23h05 estará dormindo”.

Ele destaca que outro desafio para o trabalho híbrido é ter em casa um ambiente de trabalho adequado para não prejudicar a saúde e manter a rotina. Aqueles que já têm tendência à insônia precisam manter a regularidade do trabalho e dos hábitos saudáveis, porque qualquer alteração mínima pode piorar o quadro. "É preciso ter um regramento para ver se essa pessoa que está se dispondo ao trabalho híbrido consegue realmente se adequar isso. A ideia é a de que pessoas que não conseguem, prefiram o trabalho no escritório porque se a rotina incerta prejudica o sono, estar no escritório pode ser menos prejudicial”.

Pires ressaltou ser necessário que trabalhador e empresa negociem a forma mais confortável para que a produtividade se mantenha, mas a disponibilidade para isso varia de acordo com a ideologia da direção. "Há empresas que têm uma visão mais tradicional e não aceitam que o funcionário escolha seu horário de trabalho. A flexibilização é importante porque há pessoas com tendência fisiológica de acordar e dormir mais tarde, como há aquelas que acordam e dormem mais cedo. São as pessoas matutinas e as vespertinas. Isso é uma variação normal".

Trabalho remoto e insônia

Segundo Pires, a pandemia de Covid-19 gerou outra pandemia, a de insônia, com pelo menos 60% das pessoas tendo seu sono prejudicado seja por conta da ansiedade devido à crise sanitária ou pelas alterações de rotina. A princípio a percepção era a de que o trabalho em casa poderia auxiliar as pessoas a dormirem melhor, porque teoricamente elas poderiam escolher seus horários de trabalho e não gastariam tempo de deslocamento, o que não ocorreu.

"Uma coisa é trabalhar em casa porque escolheu isso, outra é ter quer trabalhar porque foi imposto, sabendo que não tenho ambiente adequado e que tenho que ficar trancado, assim como meus filhos que não podem ir para a escola. Não foi um trabalho remoto adequado. Isso alterou a rotina e o sono perdeu espaço porque o trabalho em casa sem regra picotou e estendeu a jornada de trabalho, que ficou sem hora para terminar".

Um dos principais problemas para o sono é quando se leva o trabalho para o quarto, principalmente para quem tem insônia, porque para o sono natural e de qualidade acontecer é preciso que o cérebro desacelere aos poucos. Trabalhando até antes de dormir, leva-se tudo isso para a cama e no momento em que o cérebro deveria desacelerar a pessoa está levando o stress que o reacelera, gerando uma reação parecida com a de stress pós traumático, disse.

"Se eu comecei a levar o celular para a cama e comecei a estressar, com o tempo meu cérebro vai associar a minha cama com um ambiente de stress. No passado eu deitava na minha cama e o sono já vinha porque aquilo era um ambiente de relaxamento, agora não", explicou.

Pires disse que nenhum tipo de sono induzido é recomendado e que, apesar de sono ser um processo cerebral complexo, é preciso que aconteça naturalmente. Por isso é necessário entender que o sono deve ser uma prioridade na agenda e que a pessoa não seja privada de sono. "Se eu entender que quero dormir por volta das 22h, devo entender que a partir das 20h eu já tenho que começar a desacelerar. O sono tem que ser permitido e natural".

Piora do sono

Uma pesquisa do Instituto do Sono revelou que 55,1% apresentaram piora do padrão de sono durante a pandemia de Covid-19, período no qual predominou o trabalho remoto. Além do aumento das preocupações, a mudança de rotina foi um dos motivos mencionados pelos mais de 1.600 participantes do levantamento, que citaram ainda o medo de adoecer, a insegurança financeira e a distância da família e amigos.

Segundo dados do o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), na fase mais aguda da pandemia, 11% dos brasileiros aderiram ao trabalho remoto, totalizando de 8,4 milhões de pessoas em 2020. Deste percentual, 63,9% eram da iniciativa privada, dos quais 51% eram ligados à educação, 38,8% ao setor financeiro e 34,7% a atividades de comunicação.

Dicas para assegurar uma boa noite de sono

- Mantenha uma rotina: estabeleça horários para o sono, alimentação, exercícios físicos, lazer, trabalho e atividades com a família.

- Arranje um lugar específico para trabalhar: procure um local da casa para desempenhar suas funções profissionais. Se possível, evite escolher o quarto. É importante que o cérebro associe o quarto como um ambiente ao descanso e tranquilidade, não a uma atividade estressante.

- Não leve o notebook ou celular para cama: o excesso de interatividade e a luz das telas desses aparelhos atrapalham o sono.

- Desacelere antes de dormir: pelo menos uma hora antes de se deitar faça uma atividade relaxante: tome banho, leia, ouça música, faça meditação ou qualquer outra atividade que ajude a desacelerar.

- Evite alimentos pesados e bebidas com cafeína: faça refeições leves até duas horas antes de deitar. Não tome café, energéticos e chá preto e outras infusões que contêm cafeína à noite.

- Exponha seu corpo à luz pela manhã: abra as janelas, caminhe pelo jardim ou pelo quintal. Assim você mostra ao seu cérebro que é dia e, portanto, hora de trabalhar.

- Conheça seu cronotipo: o ciclo circadiano, que compreende vigília e sono, dura cerca de 24 horas. Cada pessoa tem seus horários de preferência para dormir e acordar. O cronotipo é o nosso perfil de preferência circadiana.

Segundo o mais recente levantamento da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS)  feito no final de 2020, 34% dos brasileiros não dormem bem. A rotina de distanciamento social e a constante preocupação com a contaminção pelo vírus, além da crise econômica gerada pela pandemia foram fatores preponderantes para que os índices de pessoas com dificuldade de dormir aumentassem, já que no início do ano, segundo a ABMS, esse percentual era de 15%.

Vale lembrar que existe uma diferenciação entre dificuldade em dormir e de fato, a insônia. O biomédico Gabriel Pires explica que é necessário um diagnóstico realizado por médico, segundo critérios rígidos de sintomas, que devem ocorrer pelo menos três vezes por semana ao longo de três meses. “Ainda assim, muitas outras doenças que nos tiram o sono à noite ou que nos deixam cansados ao longo do dia podem se parecer com a insônia”. Pires ressalta dizendo que mesmo que o diagnóstico varie, o tratamento de terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCCi) é útil em todos os casos.

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Quando o diagnóstico revela que o paciente sofre de insônia, é possível citar alguns sintomas que passam a ser mais frequentes. Segundo o biomédico, “as reações mais comuns acontecem no dia seguinte, como fadiga, indisposição, sonolência diurna, falta de atenção e problemas de memórias são os mais comuns”. Pires também explica que com o passar do tempo, e conforme a insônia se torna crônica, efeitos mais prejudiciais podem ocorrer, incluindo aumento do risco de doenças como hipertensão e obesidade, e problemas mentais como depressão e ansiedade.

Assim, existem medidas e cuidados que podem ser tomados para aqueles que notam que os sintomas estão presentes. Segundo Ksdy Sousa, psicóloga do sono e responsável técnica da SleepUp, aplicativo que oferece terapia digital e monitoramento contínuo, o TCCi tem os níveis de eficiência e não necessita de uso de medicamentos. “Atualmente esse tipo de terapia é feita por profissionais habilitados em psicologia do sono. Porém, há uma escassez de profissionais qualificados, o que acaba por tornar o tratamento mais caro”.  Por conta disso, a psicóloga explica que existem aplicativos de TCCi que tornam a terapia mais barata, e se adapta em forma de aplicativo, assim como a SleepUp.

Ainda que existam as formas primárias de tratamento, alguns casos vão necessitar o uso de medicamentos, que continua sendo importante, principalmente em casos mais graves. “É importante saber que todo tratamento para insônia com medicamentos só pode ser feito sob recomendação médica. Esses remédios apresentam efeitos colaterais que devem ser monitorados com cuidado”. Ksdy finaliza orientando que, caso haja falta de prescrição médica, pode-se recorrer aos tratamentos baseados em psicoterapia ou até mesmo a terapia mindfulness.

A cantora Pocah utilizou o seu perfil no Twitter, na última sexta-feira (27), para contar aos fãs que descobriu ter uma doença neurológica, chamada narcolepsia, que causa alternações no sono.

"Vocês já ouviram falar em narcolepsia? É um distúrbio do sono. Pois é! Descobri que tenho. Estou tratando isso e algumas outras coisas como TDAH [Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade] e ansiedade. Desculpa não estar tão ativa aqui como antes e não postar com tanta frequência nas redes", escreveu a funkeira.

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"Minha prioridade agora está sendo cuidar de mim. Para que quanto antes eu possa retomar a minha vida normal. Achei importante compartilhar isso com vocês", desabafou em outro tweet.

Lembrando que, durante a sua participação no Big Brother Brasil 21, Pocah foi alvo de memes e piadas por dormir demais durante a sua permanência na casa.

De acordo com os dados da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), em janeiro de 2020, cerca de 15% da população sofria de insônia. Com a chegada da Covid-19, a rotina de distanciamento social e a constante preocupação com o vírus, casos e relatos de problemas na hora de dormir aumentaram. Sete meses após o início da pandemia, o número de brasileiros com falta de sono subiu para 34%, segundo um novo levantamento da ABMS.

Este é o caso da diarista Neide do Carmo, 55 anos, que sofre de insônia desde os 25 anos. Aos 42, o processo de menopausa fez com que o sono dela fosse ainda mais afetado. "Ficava quatro, cinco dias sem dormir. Quando dormia, era porque já estava no meu limite. Cerca de uma ou duas horas por noite era suficiente", lembra.

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Neide decidiu fazer tratamento e teve recomendação médica de tomar um comprimido por noite. Porém, a chegada da pandemia foi o agravante para que o quadro de insônia da diarista voltasse. "Só ficava em casa, 24 horas por dia com a televisão ligada, vendo os acontecimentos, como até hoje eu fico vendo, e não dormia", conta. Após outros diagnósticos, foi recomendado a ela consumir três comprimidos por noite.

A diarista Neide do Carmo toma remédio para dormir | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a neuropsicóloga Janaite Simon, o processo de insônia está atrelado a causas psicológicas, que podem desenvolver um quadro maior em situações diferentes, como depressão, ansiedade e estresse. "Existem casos de pacientes com insônia em que é necessário o diagnóstico de um psiquiatra para avaliar o que está acarretando a falta de sono, e o mesmo prescreverá um medicamento de acordo com o diagnóstico", explica.

Já o coordenador de marketing Gabriel Carvalho, 29 anos, descobriu estar com quadro de insônia por causa de fatores ligados à apneia. "Eu costumava dormir muito tarde e acordava cedo. Percebi que meu problema era a qualidade de sono, não o fato de ficar rolando na cama até dormir", explica. Ele conta que a chegada da Covid-19 foi um "grande motivador" no processo de insônia. "Fui diagnosticado com apneia, mas eu consigo notar uma piora de 80% do meu quadro de insônia depois da pandemia. Principalmente depois que eu perdi meu pai neste processo da Covid", complementa.

Além da preocupação quanto às causas do vírus, a rotina de home office afetou o trabalho de Carvalho. "Faço aquilo que preciso, mas sei que renderia melhor se tivesse uma noite de sono melhor. Depois de me forçar a estar 100% produtivo no trabalho, eu fico esgotado. Como o hábito do sono é danificado, eu não durmo e canso cada vez mais. É um ciclo sem fim", afirma.

Insônia do coordenador de marketing Gabriel Carvalho se agravou na pandemia | Foto: Arquivo Pessoal

Para minimizar o problema, o coordenador de marketing conta que passou a se conhecer melhor. Ele usa um aplicativo, que permite acompanhar a rotina do sono e dá dicas para melhorar o momento de dormir. Segundo Carvalho, esse processo de "higiene de sono" também inclui fatores, como hábitos alimentares.

De acordo com a neuropsicóloga Janaite, uma parcela dos casos de insônia pode estar ligada a hábitos alimentares que prejudicam o organismo, como ingestão de bebidas à base de cafeína e refrigerantes, que podem acarretar no agravamento do mal desempenho no momento do sono. "Uma recomendação para quem sofre de insônia é praticar exercícios físicos e meditação. Também é preciso verificar se o quarto está propício para dormir e, assim, avaliar a qualidade do colchão e a claridade do ambiente", orienta.

O Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), junto com o Grupo de Pesquisa em Neurociências Aplicadas, Processos Básicos e Cronobiologia (GpNaPbC) e o Ambulatório de Sono (AMBSONO), divulgou o edital de seleção para o curso de especialização em sono com ingresso em 2021. Interessados devem se inscrever, até o dia 30 de outubro, enviando a documentação exigida no edital por meio Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa).

A oportunidade está ofertando 30 vagas para a especialização que visa capacitar profissionais de diversas áreas de saúde como na avaliação diagnóstica e tratamento dos distúrbios do sono para o atendimento à população. Para participar, os candidatos precisam atender a alguns requisitos como ter ensino superior em medicina, psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, odontologia e educação física.

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O processo seletivo será composto por arguição e análise curricular. O resultado final está previsto para ser divulgado no dia 20 de novembro.

As aulas, inicialmente, serão realizadas de forma remota e, posteriormente, com a possível retomada das aulas presenciais, também serão ministradas presencialmente. Confira mais informações por meio do edital ou através e-mail sono.ufrn@gmail.com.

A pandemia da Covid-19 se transformou em pesadelo para muita gente no momento em que a sociedade precisa lidar com problemas de saúde, incertezas econômicas, isolamento social, entre outros desafios. A conclusão não é apenas empírica. Estudo publicado na quinta-feira, na Frontiers in Psychology, revela que mais da metade dos sonhos ruins está relacionada ao novo coronavírus.

Segundo os cientistas, imagens e associações de ideias similares estão presentes em vários dos sonhos estudados, revelando uma espécie de "inconsciente coletivo" da pandemia. Cientistas brasileiros que também estudam o efeito da covid-19 nos sonhos confirmam a mudança na temática dos pesadelos durante a quarentena. Neste novo estudo, pesquisadores estudaram o conteúdo dos sonhos de 800 pessoas. Mais da metade dos pesadelos relatados tinha relação com a doença ou o isolamento.

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"Ficamos muito impressionados de observar conteúdos e associações nos sonhos ruins de cada um dos participantes do estudo, o que reflete o ambiente apocalíptico do lockdown imposto pela covid-19", afirmou a principal autora do estudo, Anu-Katriina Pesonen, chefe do grupo de pesquisa do sono e da mente da Universidade de Helsinque. "Os resultados nos permitem especular que os sonhos, em circunstâncias extremas, compartilham imagens e ideias parecidas, indicando uma espécie de inconsciente coletivo."

A neurocientista brasileira Julie Weingartner, do Instituto D’Or de Pesquisa (Idor), que não está participando de nenhum estudo sobre sonhos, contou que nunca teve tantos pesadelos quanto no período de quarentena. Dois deles são recorrentes. "O que mais se repete é o que estou com amigos e, de repente, percebo que todo mundo está sem máscara e bate aquele desespero", contou Julie. "Um outro que se repete muito é o que vejo um amigo muito querido e nos abraçamos bem forte, aquela sensação maravilhosa. Aí de repente me lembro que não poderia estar fazendo aquilo."

Curiosamente são dois dos temas mais frequentes constatados entre os finlandeses. Os cientistas transcreveram o conteúdo dos sonhos, selecionando as palavras mais frequentes em cada um deles, alimentando um algoritmo que selecionou as associações mais frequentes. A inteligência artificial as dividiu em 33 grupos temáticos. Vinte deles foram classificados como pesadelos, dos quais 55% estavam relacionados à pandemia.

Entre os temas mais recorrentes estão falhas no distanciamento social, ausência de equipamentos de proteção, contágio e situações apocalípticas. No grupo de falhas no distanciamento social, por exemplo, estavam os sonhos em que as pessoas se abraçavam ou apareciam em meio a grandes aglomerações, sem manter a distância adequada. "Nossos sonhos são influenciados por nosso subconsciente, revelam nossos desejos e medos mais profundos", constatou Julie Weingartner.

O estudo também ofereceu alguns dados sobre os padrões do sono e os níveis de estresse dos entrevistados durante o lockdown. Por exemplo, mais da metade dos voluntários revelou estar dormindo mais durante a quarentena, embora 10% tenham mais dificuldade de pegar no sono. Mais de um quarto dos pesquisados revelou ter pesadelos com mais frequência.

Mais da metade dos entrevistados reportou um aumento nos níveis de estresse - o que está diretamente relacionado à ocorrência de pesadelos. Os mais estressados foram os que mais relataram pesadelos com a pandemia. Por causa disso, a pesquisa oferece informações valiosas para os especialistas que estão tentando avaliar o impacto da pandemia na saúde mental da população. "Pesadelos recorrentes e intensos podem estar relacionados ao estresse pós-traumático", explicou a cientista finlandesa. "O conteúdo dos sonhos não é totalmente aleatório e pode ser importante para a compreensão das experiências de estresse, trauma e ansiedade."

Um estudo brasileiro da UFRN, pré-aprovado para publicação na MedRxiv em maio, acompanhou 42 pessoas durante o primeiro mês de isolamento, reunindo relatos de sonhos. O resultado revelou similaridades no conteúdo semântico e emocional. A proporção de palavras relacionadas à raiva e à tristeza foi bem mais alta nos sonhos pandêmicos. Bem como a presença de termos como "contaminação" e "desinfecção". A tendência de os pesadelos apresentarem conteúdos semelhantes já havia sido constatada em períodos extremos, como nas semanas que se seguiram aos atentados de 11 de setembro e durante a 2.ª Guerra Mundial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma inusitada transmissão ao vivo fez sucesso no Instagram durante a tarde da última segunda-feira (3). A cantora e influenciadora digital paulistana Tainá Costa atingiu 20 mil espectadores em um vídeo no qual ela aparece dormindo. A "live do sono" prendeu os seguidores da celebridade, que tem quase 10 milhões de seguidores em suas redes sociais.

Antes de adormecer, Tainá deixou uma publicação fixa no vídeo: "Live dormindo. Não me liguem, amigos". A transmissão começou com cerca de 11 mil pessoas assistindo e, em menos de cinco minutos, chegou à marca dos 20 mil seguidores acompanhando a soneca da cantora.

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Ao acordar, Tainá falou com os seguidores que ainda a assistiam, mas voltou a dormir sem aparecer na imagem. A audiência então despencou, e a influenciadora pôde dormir sem ser observada.

O novo coronavírus pegou o mundo desprevenido e fez boa parte da população mundial mudar hábitos e se adaptar a essa nova realidade. Para tentar conter a proliferação do vírus, as orientações são diversas: lavar as mãos, evitar tocar nos olhos, boca e nariz sem higienizá-las, manter-se hidratado, evitar aglomerações, usar máscara de proteção, entre outras.

Além disso, uma boa noite de sono é uma aliada para manter a saúde. Segundo o médico do sono e neurologista da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Lúcio Huebra, dormir bem auxilia no fortalecimento do sistema imunológico, fundamental na prevenção da doença.

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“É durante o sono que boa parte das funções do corpo se recupera e isso também acontece com o sistema imune.  É preciso uma boa qualidade do sono para que as células de defesa sejam restauradas e, dessa forma, garantam a produção de anticorpos para as diversas infecções de maneira adequada”, diz o neurologista.

Há uma relação bidirecional entre a qualidade do sono e a imunidade. Um sono de má qualidade ou encurtado leva o organismo a uma situação de estresse, aumentando a liberação do cortisol, hormônio com efeito imunomodulador e que acaba reduzindo as defesas do corpo.

Um estudo brasileiro sobre o impacto do sono na eficácia da vacina contra a hepatite A mostrou que pessoas com privação de sono tiveram resposta reduzida pela metade ao serem vacinadas, em relação ao grupo que dormiu bem. Existe também evidência de que o sono curto, com menos de seis horas, está associado a um aumento da sintomatologia do resfriado comum. Ou seja, pesquisas comprovam que pessoas que dormem menos do que o necessário ficam mais suscetíveis a infecções respiratórias.

“É importante lembrar que cada pessoa precisa de uma quantidade mínima de horas de sono diferente. Os números são médias populacionais, então pode ser que certas pessoas precisem de mais ou menos tempo. O importante é estar sempre revigorado no dia seguinte”, enfatiza Lucio Huebra.

Além da imunidade

Além da queda da imunidade, o sono de má qualidade ou insuficiente traz outras repercussões negativas para o organismo. Quando a quantidade ideal de horas de sono não é respeitada, algumas consequências podem surgir, sejam elas agudas, que aparecem já no dia seguinte a uma noite mal dormida, ou crônicas, aquelas que podem surgir ao longo da vida, como consequência de diversos episódios de sono de má qualidade.

Fadiga, sonolência, irritabilidade, desatenção, dificuldade de memorização, dor de cabeça e tontura são alguns dos exemplos de impactos agudos da restrição do sono. A longo prazo podem surgir complicações metabólicas como obesidade, dislipidemia, maior risco de diabetes; complicações cardiovasculares como hipertensão, maior risco de infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).

Além disso, várias noites mal dormidas consecutivas podem levar a um processo de declínio cognitivo, prejudicando a memória ou acelerando um processo de demência em pessoas que já tenham predisposição.

Juntamente com esses aspectos, a falta de sono adequado pode acarretar prejuízos em diferentes níveis da vida social como reduzir a produtividade, dificultar o aprendizado e aumentar o risco de acidentes, seja no trânsito ou no trabalho. O humor também fica alterado, deixando as pessoas mais irritadas e com menor tolerância à frustração, atrapalhando o trabalho em grupo e o convívio social.

Sono de qualidade

Para dormir há inúmeros conselhos que constituem a chamada higiene do sono. O processo é um conjunto de ações que buscam proporcionar um sono de qualidade todas as noites. Entre as recomendações estão:

Escolher um ambiente adequado para dormir: silencioso, confortável e escuro.

O local deve ser utilizado exclusivamente para a função, então só usá-lo quando realmente for dormir e se deitar na cama apenas quando estiver com sono. Evitar, ao longo do dia, permanecer na cama.

Todas as luzes artificiais são péssimos estímulos que interferem no sono, como celular, computador, televisão. Sendo assim, evitar usá-los próximos do horário de dormir. Durante o dia, se expor ao máximo à luz, especialmente deixando as janelas abertas, e se expondo à luz externa.

Garantir temperatura adequada, tanto do ambiente em si quanto do pijama, que precisam ser confortáveis e permitir boa mobilidade.

Ter uma boa rotina noturna, com horários regulares, fazer sempre as mesmas tarefas próximo à hora de se deitar para sinalizar ao cérebro que já é o momento de o sono vir.

O ideal é fazer refeições leves e não abusar da ingestão de líquidos. Além disso, precisa ser evitado qualquer tipo de estimulante (café, refrigerante, chocolate), tanto no fim do dia quanto durante a noite.

O neurologista lembra que o período é de grandes preocupações e ansiedade, o que também prejudica uma boa noite de sono. “Então, é importante reservar de 30 minutos a uma hora antes de dormir para se desligar de todas as notícias, buscando fazer algo que seja prazeroso e relaxante para que o sono possa vir com qualidade”.

O momento atual traz inúmeras questões que perturbam a rotina das pessoas. Essa experiência atípica de pandemia e isolamento social faz com que muitos resgatem do inconsciente temas, como doença e morte, e que podem alterar a tranquilidade na hora de dormir.

Para amenizar os hábitos nocivos ao sono neste momento, é importante se desconectar de aparelhos eletrônicos na hora de dormir, procurar se informar sobre a covid-19 no período da manhã e praticar exercícios físicos que são ótimos aliados para a liberação de serotonina (hormônio que auxilia o humor, bem estar, funções intelectuais e o sono) no cérebro. "Neste momento, podemos dizer que diversos fatores são responsáveis por uma noite de insônia. Saber ou vivenciar as consequências da pandemia podem gerar sintomas como medo, apreensão e ansiedade, o que leva o indivíduo a perder o sono", comenta a psicóloga Ana Caroline Boian.

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Para os que conseguem dormir, os sonhos passam a ser mais recorrentes. O pneumologista especialista em Medicina do Sono e diretor do Laboratório do Sono do InCor, Geraldo Lorenzi Filho, afirma que a pandemia e o isolamento social tem total relação com os sonhos e o mundo onírico em geral. Por isso, é preciso ser adpeto da higiene do sono. "Manter uma rotina é extremamente necessário. Tenha horário para dormir e acordar. Quando estiver indo para cama, fique longe de aparelhos eletrônicos. Tomar alguns minutos de sol e praticar exercícios no período da manhã também são extremamente benéficos", orienta.

Com a importância do sono durante a noite, quem está trabalhando home office de madrugada deve repensar esse hábito. "O padrão alternado de trocar o dia pela noite não é aconselhável. Com este hábito, há uma ruptura e no período diurno o tipo de sono é menor e menos regular do que o sono noturno, podendo até desencadear depressão e obesidade a longo prazo", afirma Lorenzi Filho. Também é aconselhável não se desesperar e se cobrar muito neste momento. Atividades como yoga e meditação podem ser aliadas a um estilo de vida e sono mais saudáveis.

 

“Passamos noites de frio na rua, sem cobertor, dormindo em cima de um papelão duro. Isso aqui é uma ajuda muito grande para sair da rua, mesmo que seja só a dormida, um banho, um local seguro para a gente dormir direito sem estar preocupado com pessoas que às vezes querem fazer maldade”. Nas palavras de Joelson Gomes da Silva há um breve retrato da dura vivência de quem faz das vias públicas uma moradia. Em situação de rua há 20 anos, Joelson comemora, porém, um ligeiro alívio ao saber que, a partir desta terça-feira (24), terá um canto estruturado para dormir.

Em meio ao clima natalino, a Prefeitura do Recife (PCR) inaugurou, hoje, o Abrigo Noturno Irmã Dulce, que promete proporcionar um ambiente protegido e “digno” para o descanso e sono de pessoas que vivem em situação de rua na capital pernambucana, a exemplo de Joelson. O equipamento solidário fica na Travessa do Gusmão, sem número, no Bairro de São José, área central da cidade.

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Segundo a Prefeitura do Recife, o acolhimento do abrigo será diário, das 19h às 7h. Serão oferecidos aos beneficiados espaços de convivência, banheiros e dormitórios. A estrutura tem capacidade para receber até 100 pessoas, entre homens, mulheres, adultos, idosos e pessoas com deficiência. “No local, os usuários receberão kits de higiene pessoal para utilizarem os banheiros. Também haverá espaços para guardar pertences pessoais. Entretanto, não será permitida a entrada com porte de materiais cortantes de qualquer natureza. O acesso ao abrigo será controlado por catraca, liberada após confirmada a de identificação, previamente elaborada por equipes da Secretaria Executiva de Assistência Social”, detalhou a PCR conforme informações da assessoria de comunicação.

Além do atendimento às pessoas que sofrem nas ruas da cidade, o abrigo oferece oportunidade de trabalho. Um dos 15 colaboradores é José Nilton Monteiro, de 38 anos, que já amargou a vivência em vias públicas. “Esse abrigo é muito importante e vai comportar pessoas que mais necessitam, que é os que vivem em vulnerabilidade social. Agradecemos o prefeito pela sensibilidade de dar de fato o que a gente merece com dignidade”, disse Monteiro, emocionado. Nilton comemora mais uma conquista. “Ganhei um presente de Natal com esse emprego através da prefeitura, e uma bolsa de estudos para cursar Psicologia, que é a área que eu me identifico. Agora eu vou dar a contrapartida, fazer para aqueles que precisam, o que fizeram por mim”, declarou Monteiro.

De acordo com o prefeito do Recife Geraldo Julio, o abrigo é um equipamento que dá continuidade ao trabalho solidário realizado no âmbito municipal. Recentemente o gestor lançou um restaurante popular que serve, diariamente, alimentação a vítimas da situação de rua.

“Esse abrigo que inauguramos hoje vem complementar toda uma rede que funciona em nossa cidade, que ainda tem tantos desafios para vencer, mas que é feita por gente que tem o desejo de cumprir a missão de ajudar quem mais precisa. Se hoje no Brasil tem gente que prefere governar de costas para o povo, nós vamos governar de mãos dadas, vencendo juntos os desafios”, disse Geraldo Julio.

Secretária de Desenvolvimento Social, Juventude, Política sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna destacou que, além do auxílio noturno, os usuários terão direito à alimentação, entre outros benefícios. “Esse espaço vai promover a dignidade humana, o acolhimento para essa população tão vulnerável. Uma forma de chegar mais perto dessa população, ter um diálogo, a equipe vai poder fazer uma intervenção mais qualificada. Além da dormida eles terão direito a almoço e jantar. Dentro dessa concepção de proteger e dar oportunidade, nós empregamos 15 pessoas da rua neste equipamento. São pessoas que já passaram por nossa rede de acolhimento e precisavam de uma oportunidade de emprego. Uma chance que vai dar um novo significado na vida dessas pessoas”, acrescentou Ana Rita.

Cadastros serão realizados para que sejam listadas as pessoas beneficiadas pelo serviço. A PCR promete diversos serviços que vão além da estrutura para descanso. “O cadastro irá permitir aos frequentadores o devido acompanhamento psicossocial, já que o espaço contará com a presença de psicólogos, assistentes sociais e cuidadores. Também haverá equipes administrativas, portaria e serviços gerais. Além disso, ações coletivas poderão ser realizadas no espaço para viabilizar serviços de relacionados à saúde, segurança e políticas sobre drogas. Idosos, pessoa com deficiência e pessoas que vivem a menos tempo em situação de rua serão prioridade do acesso ao Abrigo Noturno. Para garantir o bom convívio dos usuários e manter saudável a rotina do equipamento, um contrato de convivência interna está sendo elaborado pela SDSJPDDH com o objetivo de nortear as regras a serem seguidas no ambiente. O regimento será entregue aos frequentadores e estará disponível no abrigo”, informou o órgão.

Momento propício

O período natalino reflete solidariedade. Época em que parte da população, baseada nos ensinamentos de Jesus Cristo, intensifica ações de ajuda aos próximos, principalmente em prol de pessoas pobres. O arcebispo metropolitano de Olinda e Recife, Dom Antônio Fernando Saburido, participou da inauguração do abrigo; o religioso relacionou o momento aos verdadeiros propósitos do Natal.

“Esta é uma importante ação, principalmente porque esta época do ano, o Natal, a população está muito voltada para as questões sociais. Ficamos de coração partido quando caminhamos pelo Recife e vemos tanta gente em situação de rua. Oferecer um leito é algo muito significativo. Este abrigo e os restaurantes demonstram mais respeito e dignidade para com as populações de rua”, disse o líder católico.

Com informações da assessoria de comunicação da PCR

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