Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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Dilma e o ilusionismo

Adriano Oliveira, | qui, 09/04/2015 - 10:38
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Analistas e estrategistas tentam interpretar eventos presentes na realidade. Da interpretação, estratégias de posicionamento surgem. A estratégia é a arte de posicionar o ator político diante de um evento que tende a lhe trazer prejuízos. Neste caso, o ator escolherá a posição que lhe trará benefícios. A estratégia é a capacidade de utilizar os meios mais adequados para obter benefícios. Ambas as definições são complementares.

Quando o analista e o estrategista desconsideram os fatos ou insistem em premissas já postas, eles se transformam em ilusionistas. Neste caso, eles não interpretam os fatos à luz do realismo. Ao contrário, eles permitem que ideologias e julgamentos de valores guiem a análise e a estratégia. Diante disto, os fatos analisados não são iluminados. Portanto, a dinâmica deles não é decifrada e caracterizada.

Um novo termo surge, neste instante, no vocabulário de variados analistas e estrategistas: renúncia branca. Tal termo faz referência a presidente Dilma Rousseff e sugere que ela abdicou do exercício do governo em razão de ter nomeado Michel Temer para exercer a função de articulador político. A renúncia branca significa também que Dilma não governa no âmbito econômico, pois Joaquim Levy é o primeiro-ministro do governo.

A renúncia branca é obra de ilusionistas. Ou seja: tal termo não encontra correspondência com a realidade. Em regimes presidencialistas, particularmente no Brasil, ministros são nomeados para exercerem a articulação política. E em momentos de fragilidade da economia, ministros da Fazenda conquistam espaços midiáticos, os quais encobrem as atividades dos presidentes.

A caracterização realista do segundo mandato do governo Dilma Rousseff requer a adoção de outros termos, quais sejam: paralisia decisória e déficit de empatia. Construo o primeiro termo considerando dois fatos criados pela presidente Dilma: 1) A demora da presidente em defender e explicar o pacote fiscal aos eleitores; 2) Lentidão em reconhecer a importância estratégica do PMDB para o seu governo.

déficit de empatia da presidente Dilma é observado entre os eleitores. A alta taxa de reprovação do seu governo e a ausência de confiança para com ela sugere que os desafios políticos e econômicos são menores diante de um desafio maior, qual seja, conquistar a empatia dos sufragistas.

Empatia é um sentimento. A empatia de um ator político entre os sufragista é observada quando ele desperta, através dos seus diversos atos, admiração. Desta, outros sentimentos nascem, como respeito, confiança e compaixão. Tais sentimentos, incluso a empatia, não estão presentes na relação entre Dilma Rousseff e o eleitor. Portanto, paralisia decisória e déficit de empatia são termos que nascem da realidade política. Outros termos são obras de ilusionistas.

Manifestações e impeachment

Adriano Oliveira, | ter, 31/03/2015 - 10:52
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Desde junho de 2013, as manifestações ocupam a agenda midiática e as redes sociais. Neste momento, após as recentes manifestações, observo processo de mudança quanto às causas e reclamações dos manifestantes. Embora, o perfil dos manifestantes, em particular na cidade de São Paulo, seja semelhante, como bem mostrou o instituto Datafolha.

As manifestações de junho de 2013 reclamavam do PT e da presidente Dilma Rousseff. As manifestações de março de 2016 também fizeram isto. As manifestações de 2013 reclamaram do aumento das passagens dos transportes públicos. Aliás, esta foi a principal causa das manifestações. Desta vez, o aumento da passagem de ônibus não faz parte da agenda dos manifestantes. Em ambas as manifestações, os participantes reclamaram dos políticos e da corrupção.

Em junho de 2013, o Movimento Passe Livre teve participação ativa nas manifestações. Compreensível, já que a principal agenda das manifestações era o aumento das passagens dos transportes públicos. Desta vez, o Movimento Passe Livre não aparece como sujeito ativo nas manifestações. As manifestações de junho possibilitaram o surgimento dos Black blocs.

Os Black blocs trouxeram atos violentos para as manifestações do Rio de Janeiro e de São Paulo, os quais passaram a ser costumeiros. Em virtude de tais atos, pesquisas de opinião mostraram que a partir do segundo semestre de 2013, decresceu fortemente o apoio dos brasileiros às manifestações.

As manifestações de março de 2016 foram organizadas, supostamente, pelos movimentos Vem Pra Rua, Brasil Livre e Quero Me Defender. Tais movimentos não defendem a intervenção militar e, segundo eles, são apartidários. Os Movimentos Brasil Livre e Vem Pra Rua defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O Movimento Quero Me Defender não defende.

Se tais movimentos, aparentemente, incentivam a ocorrência das manifestações atuais, presumo que a agenda do impeachment fará parte fortemente das manifestações de abril. Tal tese é reforçada pelo seguinte dado: 59,7% dos brasileiros apoiam o impedimento da presidente Dilma Rousseff – Instituto MDA, pesquisa realizada em março de 2015.

Sendo assim, surgem as seguintes indagações: 1) As manifestações de abril terão força para incentivar o debate sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional? 2) Se sim, PMDB e PSDB decidirão pelo impedimento ou optarão pela cooperação com o PT, no caso, não darão forte atenção a tese do impeachment? 3) Caso o debate sobre o impeachment venha à tona fortemente, ele continuará sendo aprovado por parte majoritária dos brasileiros, ou eventos, inclusive no âmbito econômico, enfraquecerão tal tese entre os eleitores?  

As manifestações são detalhes

Adriano Oliveira, | ter, 24/03/2015 - 12:28
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As manifestações são detalhes. A avaliação da administração da presidente Dilma Rousseff e as expectativas dos eleitores para com a economia são os indicadores principais. O instituto Datafolha realizou pesquisa entre os participantes das manifestações do dia 15 de março na cidade de São Paulo. A pesquisa revelou que 82% dos manifestantes votaram em Aécio Neves no segundo turno e 68% têm renda superior a cinco salários mínimos. 

Pesquisas dos Institutos Maurício de Nassau (IPMN) e Instituto MDA realizadas entre os eleitores brasileiros após as manifestações mostram que a gestão da presidente Dilma Rousseff tem índice de reprovação acima de 64% em todas as regiões do Brasil – Aprova versus Desaprova. No Nordeste, de acordo com o IPMN, região caracterizada pela força do lulismo, e onde Dilma obteve excelentes votações nas disputas presidenciais, a reprovação do seu governo é de 64%. Na região Norte, o governo de Dilma Rousseff é reprovado por 68% dos sufragistas – IPMN. 

Considerando as pesquisas do IPMN e da MDA, constato que a administração da presidente Dilma Rousseff é reprovada em todos os segmentos econômicos. Destaco, entretanto, que entre os sufragistas que possuem renda entre 2 a 5 salários mínimos, a reprovação da presidente é de 71% - IPMN. Neste segmento estão os eleitores que tiveram mobilidade social nas eras Lula e Dilma. Portanto, estes sufragistas contribuíram fortemente para o sucesso eleitoral de Dilma Rousseff nas eleições de 2010 e 2014. 

As expectativas econômicas dos eleitores se caracterizam pelo sentimento de pessimismo. De acordo com a pesquisa do Datafolha realizada entre os eleitores brasileiros após as manifestações do dia 15 de março, 60% dos sufragistas consideram que a situação econômica do Brasil irá piorar. Quando questionados sobre a inflação, a qual representa o dia a dia do eleitor, já que ele, geralmente, gasta recursos financeiros cotidianamente, 77% afirmam que ela irá aumentar. Então, o pessimismo com a inflação condiciona o pessimismo com a situação econômica do país. 

O debate em torno do perfil dos participantes das manifestações é relevante. Porém, não contribui para explicar a realidade do governo Dilma Rousseff entre os eleitores. Ao contrário dos índices de reprovação do governo Dilma e as expectativas pessimistas dos sufragistas para com a economia. As manifestações representam uma parte da crise do governo Dilma entre os sufragistas. A desaprovação do seu governo e o pessimismo dos eleitores para com a economia representam as partes mais robustas e preocupantes do todo.   

Consenso educacional

Adriano Oliveira, | qua, 18/03/2015 - 20:35
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Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) em parceria com o Instituto de Pesquisa MDA constatou que as políticas educacionais criadas nos governos Lula e Dilma são aprovadas pela população brasileira. Apesar do desconhecimento de parte dos entrevistados para com elas. Entretanto, quem já ouviu falar nos programas PROUNI, FIES e PRONATEC os aprovam majoritariamente. O tamanho da aprovação sugere que os referidos programas adquiriram o status de consenso entre os brasileiros.

A pesquisa constatou que 50% dos entrevistados conhecem o PROUNI. Neste universo, 93% o aprovam, 93,6% dos entrevistados afirmam que ele contribui para o crescimento econômico do Brasil, 94% asseguram que o governo federal deve apoiá-lo cada vez mais, e 28% pretendem utilizá-lo. Portanto, os dados mostram que o PROUNI é consenso entre os brasileiros.   

O FIES é conhecido por 47% dos entrevistados. Neste universo, 91% o aprovam, 95,2% afirmam que ele contribui para o crescimento do Brasil, 94% desejam que o governo federal o apoie cada vez mais e 34% frisam que pretendem utilizá-lo. Quanto ao PRONATEC, 34% declaram conhecê-lo. Entre estes entrevistados, 93% o aprovam, 96,7% declaram que ele contribui para o crescimento econômico do Brasil e 30% pretendem utilizá-lo. Portanto, os dados apresentados sugerem que FIES e PRONATEC são, também, consensos entre os brasileiros.

Se tais políticas educacionais conquistaram o consenso na sociedade, qual é a razão delas não continuarem a existir com vigor? No universo de 47% dos entrevistados que declaram conhecer o FIES, 30% frisaram que souberam das recentes medidas do governo federal em relação a ele. A pesquisa revela que parcelas dos entrevistados sabem elencar as diversas medidas, dentre as quais: “reduziu o número de vagas do FIES”, “dificuldade para acessar o FIES” e “diminuição da verba do FIES”. 73% dos entrevistados, no universo de 30%, discordam das medidas do governo em relação ao FIES.

Portanto, os dados apresentados não só apresentam o consenso existente, mas revelam que grande parcela dos brasileiros não está propensa a admitir qualquer retrocesso no âmbito dos programas educacionais. Se parte dos brasileiros não deseja o retrocesso, observo que eles reconhecem a educação como instrumento eficiente para o crescimento econômico, a redução da desigualdade social, e, por consequência, como indutor da inclusão social.

Fatos e cenários

Adriano Oliveira, | seg, 09/03/2015 - 09:47
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A análise do fato requer processo de desideologização quando o analisamos. O analista que deseja criar estratégias ou construir cenários não pode exagerar nem amenizar na análise dos fatos que integram a análise da conjuntura. Pois se assim ocorrer, os cenários construídos a partir da análise, assim como as estratégias, serão equivocados. 

Quais as consequências da abertura da lista da Operação Lava Jato para o governo Dilma? A baixa popularidade de Dilma possibilitará o impedimento do seu governo? É possível Dilma recuperar popularidade? Estas são indagações que estão presentes nos atentos observadores da complexa dinâmica da política brasileira. Procurarei, a seguir, argumentar em torno das indagações apresentadas. 

1.      A lista da Operação Lava Jato não compromete fortemente o PT. E nem o PSDB. O Partido Progressista (PP) é o mais comprometido. Portanto, eleitores podem interpretar este dado, o qual corresponde à realidade, de dois modos: 1) O PT não é o único partido corrupto; 2) Todos os partidos são corruptos. Ambas as interpretações são complementares. As interpretações são plausíveis à luz do eleitor – Cenário

2.      Se as interpretações apresentadas correspondem aos sentimentos majoritários dos eleitores, observo que o Congresso Nacional está enfraquecido perante a opinião pública – Cenário. Portanto, Dilma encontrará condições propícias para lidar com o Parlamento – Cenário. Soma-se a isto, o fato de que Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos dirigentes das casas legislativas, estão presentes na lista da Operação Lava Jato. A radicalização contra o governo por parte de Cunha e Renan não é, na minha ótica, estratégia dominante, pois ela pode conduzir todos – oposição e situação – a um impasse que possibilitará mais desgaste para o Congresso e para a presidente Dilma. Portanto, em algum instante, Cunha e Renan cooperarão com o governo – Cenário

3.      As atas do Copom são unânimes em afirmar que 2016 será o ano da recuperação econômica – Cenário. Além delas, variadas consultorias também fazem a mesma afirmação. Mas a realidade econômica de 2016 depende do ajuste fiscal que o governo pretende realizar por completo em 2015. Neste sentido, segundo reportagem do Valor Econômico, 87 bilhões de Reais, do total de 111 bilhões pretendidos pelo ajuste fiscal, podem ser economizado sem o aval do Congresso Nacional. Portanto, conclui-se que parte da recuperação econômica do país depende fortemente das ações de Dilma Rousseff. 

4.      A oposição não encontrou um discurso programático para fazer oposição a presidente Dilma. Eles frisam, em particular o senador Aécio Neves, que a gestão da atual presidente tem colocado em risco as conquistas sociais e econômicas do Brasil. Ao comparar as avaliações dos três presidentes da República de 1994 até hoje, observo que a era Lula obteve o maior porcentual de aprovação popular. Portanto, parte majoritária dos eleitores reconhece que as conquistas que estão ameaçadas advêm das eras Lula e não da era FHC. Deste modo, a ausência de discurso programático da oposição favorece, em longo prazo, o aumento da popularidade de Dilma Rousseff caso ela consiga, junto com Joaquim Levy, resgatar, em parte, os indicadores socioeconômicos observados na última era Lula – Cenário.   

5.      Entretanto, não desprezo a possibilidade de intensas e volumosas manifestações contra Dilma Rousseff neste primeiro semestre. Caso elas ocorram, certamente, conquistarão atenção da mídia. Com isto, o Congresso Nacional, junto com uma oposição fortalecida, pode optar por conduzir o impedimento da presidente Dilma – Cenário. Contudo, tenho outra hipótese: as manifestações que ocorrerão serão intensas e volumosas em São Paulo, com forte participação das classes A e B. Caso isto ocorra, elas não serão suficientes, junto com outros fatores, para possibilitar o impedimento de Dilma – Cenário. 

Lava Jato, eleitores e 2016

Adriano Oliveira, | ter, 03/03/2015 - 11:32
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Esta semana será decisiva para a dinâmica da política brasileira. A divulgação da lista dos políticos que estão e continuarão a ser investigados em decorrência da Operação Lava Jato poderá trazer mudanças nas visões de mundo dos políticos e empresários e reforçar a percepção negativa que os eleitores têm dos políticos. Porém, é importante considerar também que a Operação Lava Jato poderá trazer tranquilidade para o governo Dilma entre os eleitores e no Parlamento. 

Caso a lista a ser divulgada pelo Ministério Público Federal contenha políticos de diversas agremiações partidárias, inclusive do PSDB, a CPI da Petrobrás será enfraquecida, e os parlamentares poderão ter receio em pressionar Dilma Rousseff, já que a imagem negativa do Congresso Nacional será reforçada entre os eleitores. Não é desprezível considerar que a relação entre Dilma e o Parlamento seja facilitada em virtude do enfraquecimento da imagem dos parlamentares perante a opinião pública. 

O enfraquecimento da CPI da Petrobrás em razão da divulgação da lista da Operação Lava Jato também favorecerá a governabilidade da presidente Dilma Rousseff. Portanto, a Operação Lava Jato e a esperada lista dos envolvidos são variáveis independentes que fortalecerão o governo Dilma no Parlamento – Cenário 1. Caso não fortaleça de imediato, dará condições a ela de, junto com a recuperação econômica do país, caso venha a ocorrer, pavimentar, com mais ação política, o apaziguamento da sua relação com o Parlamento e a recuperação da sua popularidade – Cenário 2

Porém, existe outro cenário (Cenário 3): a presença na lista da Operação Lava Jato de alguém próximo ao governo Dilma. Com isto, a tese do impedimento do governo Dilma Rousseff poderá ganhar força. Contudo, tal cenário, diante das informações até o instante, apresenta-se remoto. 

A lista advinda da Operação Lava Jato não enfraquecerá as manifestações programadas para o dia 15 de março. Porém, fortalecerá a segmentação dos reclames dos manifestantes. Ou seja, os manifestantes irão às ruas reclamar do governo Dilma, do Parlamento, dos políticos e dos gestores que estão à frente da administração pública, por exemplo, prefeitos. 

Embora partidos de oposição e diversos analistas prevejam que a Operação Lava Jato trará o fim precoce do governo Dilma e do PT, observo que tal prognóstico é equivocado. A Operação Lava Jato colocará todos os partidos em um mesmo nível de reconhecimento por parte da opinião pública. Com isto, a opinião pública não saberá diferenciar o insucesso inicial do governo Dilma e os problemas presentes em seu contexto social. Não saberá diferenciar, no âmbito da corrupção, qual é a agremiação partidária mais corrupta. 

Portanto, a lista da advinda da Operação Lava Jato poderá condicionar a recuperação de Dilma Rousseff em sua relação com o Congresso e a sua popularidade entre os eleitores. E fortalecerá a imagem negativa dos políticos na opinião pública. Diante disto, quais serão os desejos do eleitor na disputa municipal de 2016? 

Os desejos de mudança, independente da avaliação do prefeito, podem estar presentes na visão de mundo dos eleitores – hipótese. Diante da tal possibilidade, prefeitos, candidatos à reeleição, devem monitorar os sentimentos dos eleitores. Lembro que os desejos de mudança podem favorecer os candidatos da oposição.  

CPI e Pesquisas

Adriano Oliveira, | sex, 20/02/2015 - 09:55
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Fui convidado a construir estratégias para um candidato à prefeitura de Marte na próxima eleição que ocorrerá em 2016. Estou entusiasmado. Afinal de contas, terei a oportunidade de realizar pesquisas e orientar estrategicamente um competidor que concorrerá na eleição de outro planeta. O que devo fazer, inicialmente, para definir as estratégias do candidato? 

Pesquisas qualitativas e quantitativas são os instrumentos necessários e imediatos para a construção de estratégias. Através delas identificarei os desejos e os sentimentos dos eleitores, decifrarei a conjuntura política, perceberei as aspirações do eleitorado, compreenderei os riscos e as oportunidades de cada competidor. De posse de todas estas informações, estarei apto a propor estratégias iniciais para o candidato. 

Não é adequado criar estratégias desprezando pesquisas. A construção de estratégias eleitorais não demanda achismo. Demanda interpretação científica da realidade e do comportamento do eleitor. Quando estou diante de candidatos, eles, geralmente, propõem um conceito de campanha. E de antemão, indago: este conceito adveio de pesquisas ou é achismo? 

Resumir a pesquisa quantitativa em intenção de voto e rejeição dos competidores é ato falho. Os candidatos que hoje têm 5% podem vencer a eleição. E os competidores rejeitados em 2015, podem ser os admirados no próximo ano. Estratégias eficientes, advindas de pesquisas inteligentes, proporcionam a redução da rejeição de candidatos e a conquista de eleitores. 

Diante do exposto, indago: qual é a utilidade da CPI das pesquisas eleitorais? Por que as pesquisas eleitorais são fortemente questionadas?A tese de que pesquisas eleitorais influenciam a escolha dos eleitores é verdadeira. Elas influenciam parte dos eleitores, mas para tal feito ocorrer, a pesquisa precisa de credibilidade e de condições eleitorais propícias. 

Em certa eleição, numa cidade de Pernambuco, um apostador de eleições disse para o candidato X que apostou R$ 200.000,00 em sua vitória em razão de que a pesquisa feita por “Y tinha dado ele na frente”. Neste caso, a credibilidade e a reputação de Y condicionaram, inicialmente, o ato do apostador. A quantia e a informação da pesquisa contagiaram outros apostadores, os quais também são eleitores. Mas quantos apostadores existem no universo total de eleitores? 

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) entre os eleitores recifenses em outubro de 2014 constatou que 21% dos sufragistas reconheceram que as suas escolhas para presidente da República sofreram influência das pesquisas. Assim como sofreu e sofre das políticas sociais, das notícias da imprensa, e, em municípios menores, das fofocas em torno de assuntos privados. 

A pesquisa serve como informação para o eleitor. Assim como as notícias da imprensa. Proibir a divulgação de pesquisa é ato arbitrário numa democracia, mesmo diante da possibilidade de que ela pode influenciar a decisão dos eleitores. A estratégia ótima para os que hoje estão incomodados com a divulgação de pesquisas é construir estratégias para estar à frente nas pesquisas vindouras e com isto tentar influenciar parte dos eleitores.

Riscos para Dilma

Adriano Oliveira, | seg, 09/02/2015 - 09:01
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A tempestade atinge o governo Dilma. A tempestade abala a imagem de Dilma. Pesquisa Datafolha (08/02/2015) revela que 44% dos brasileiros reprovam o seu governo. As expectativas econômicas dos brasileiros estão pessimistas: (1) 81% consideram que a inflação aumentará; (2) 62% afirmam que o desemprego crescerá; (3) e 55% asseveram que a condição econômica do país piorará. 

No âmbito do Escândalo da Petrobrás, 77% dos brasileiros acreditam que Dilma tinham conhecimentos dos escândalos de corrupção na Petrobrás. No que condiz a imagem da presidente, 47% considera-a desonesta e 54% falsa. Portanto, existe déficit de aprovação do governo e da imagem de Dilma Rousseff.

Diante de tais dados, é possível considerar a hipótese de impeachment da presidente da República? Sim. A análise do possível impedimento de Dilma Rousseff requer a interpretação das ameaças que estão presentes e as que estão por vir. Neste instante, Dilma está frágil no Congresso Nacional. A vitória de Eduardo Cunha (PMDB) para presidente da Câmara dos Deputados e o bom desempenho do senador Luiz Henrique (PMDB) na eleição para a presidência do Senado revelam a fragilidade da presidenta. 

O desgaste da imagem do governo Dilma e da sua imagem revelados pela pesquisa do Datafolha (08/02/2015) mostram que entre os eleitores a Operação Lava Jato ocasionou transtornos para a presidente. O que a Operação Lava Jato revelará mais? Esta é a indagação chave. Será que mais eventos surgirão ao ponto de aumentar a impopularidade de Dilma? Outra indagação necessária.  

A ameaça de racionamento de energia e o pessimismo econômico da maioria dos eleitores representam combinação explosiva para incentivar o aumento da reprovação da presidente entre os eleitores. Entretanto, o aumento da reprovação, caso ocorra, possibilitará intensas e grandes manifestações populares? A atual impopularidade da presidente Dilma permitirá intensas e grandes manifestações?

São as possíveis ocorrências de manifestações populares que ameaçarão fortemente o governo Dilma. Caso ações nos âmbitos político e econômico não sejam realizadas pela presidente, as quais possibilitem efeitos positivos, as condições de hoje permanecerão. E assim ocorrendo, o impedimento da presidente Dilma será uma realidade. 

O fortalecimento da tese do impedimento de Dilma Rousseff depende do mercado, da imprensa, do Congresso Nacional e dos eleitores. Medidas que atendam os desejos do mercado possibilitam noticiário positivo. Superação dos desafios econômicos também. Por consequência, parlamentares inquietos tendem a se acalmar. Assim como os eleitores. Porém, se estes decidirem ir às ruas, mercado, imprensa e parlamentares ficarão extremamente inquietos. Com isto, o impedimento de Dilma poderá acontecer.   

Dilma e Câmara

Adriano Oliveira, | seg, 02/02/2015 - 14:46
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As eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (ALEPE) chamaram intensamente a atenção da mídia e, por consequência, de parte da opinião pública. Ambas as disputas tinham atores relevantes concorrendo à presidência.

Eduardo Cunha (PMDB) e Guilherme Uchôa (PDT) não precisaram do tradicional apoio do chefe do Poder Executivo para conquistar a preferência dos parlamentares. Cunha construiu o seu favoritismo para a eleição da presidência da Câmara através da instalação de laços de proximidade com os parlamentares, em particular, os denominados do baixo clero. Eduardo Cunha representa uma árvore que proporciona “sombra” aos deputados diante das necessidades da vida parlamentar. 

Guilherme Uchôa também é uma árvore que proporciona “sombra” aos parlamentares perante os desafios do cotidiano. Mas além da “sombra”, Uchôa é árduo defensor das demandas dos parlamentares, independente de qual sigla o deputado pertença. Além disto, Guilherme Uchôa é um escudo para qualquer questionamento feito por parte da imprensa ao Palácio Joaquim Nabuco ou a qualquer parlamentar. 

Era previsível o sucesso eleitoral de Eduardo Cunha e Guilherme Uchôa. Porém, Dilma Rousseff, presidente da República, e os seus estrategistas, optaram por enfrentar Eduardo Cunha e escolheram Arlindo Chinaglia (PT) como o seu concorrente. Segundo a imprensa, a presidente e os pensadores do governo agiram intensamente para derrotar Cunha. Portanto, o sucesso eleitoral de Eduardo Cunha representou a derrota de Dilma Rousseff

Em Pernambuco, Paulo Câmara, governador, não se pronunciou publicamente quanto à sua preferência na disputa pela presidência da ALEPE. O seu partido, o PSB, optou, publicamente, pela neutralidade e não lançou candidato à presidência da ALEPE. Diante deste quadro, parlamentares do PSB votaram majoritariamente em Guilherme Uchôa. Em razão de Câmara não ter declarado apoio publicamente a nenhum competidor e nem o PSB ter ofertado candidato, o sucesso eleitoral de Uchôa não representa a derrota de Paulo Câmara

Entretanto, considero que o sucesso eleitoral de Diogo Moraes (PSB) na disputa pela primeira-secretaria da ALEPE sugere desavenças no PSB. Os estrategistas dos PSB expuseram, desnecessariamente, as fissuras do partido ao decidirem apresentar candidato para a primeira-secretaria. 

Dilma Rousseff, como presidente, tinha, teoricamente, a obrigação de lançar candidato à presidência da Câmara. E assim fez e perdeu. Paulo Câmara, diante do cargo, também tinha teórica obrigação. Porém, optou por não enfrentar publicamente o poder de um aliado histórico do PSB e uma grande árvore que oferta sombra a todos.    

Conceito e governo

Adriano Oliveira, | qua, 28/01/2015 - 09:37
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Governos eleitos precisam ter conceitos. São os conceitos que irão possibilitar a identidade dos governos. A identidade é um atalho para que os eleitores avaliem os governos. Conceitos, portanto, representam a identidade do governo e servem para atrair a atenção do eleitor. 

Os conceitos podem ser intencionalmente criados. Neste caso, estrategistas do governo decidem previamente a identidade do governo. Ao definir a identidade, ou seja, de como o governo será reconhecido pelo eleitor, estratégias são instituídas em busca de tal fim. As estratégias que visam à construção da identidade do governo estão nos âmbitos da comunicação e da gestão. 

Um governo decide ser reconhecido por ações sociais – O governo que promove a inclusão social. Diante desta identidade previamente determinada, ações nos âmbitos da gestão e da comunicação são criadas e desenvolvidas. Neste caso, o governo criará políticas que visem à inclusão social. Por outro lado, diante dos desafios do desenvolvimento econômico e de combate à inflação, governos desenvolverão ações em buscas de tais objetivos.

Observem, então, que qualquer governo está diante de desafios. A intenção para a superação dos desafios possibilita o surgimento do conceito do governo. Os desafios representam as demandas diretas ou indiretas do eleitor. As demandas diretas advêm de pesquisas de opinião pública – qualitativas e quantitativas. Neste caso, o governante procurará atender as demandas do eleitor. Por exemplo: pesquisas revelam que a oferta de água é o principal problema. Portanto, o governante agirá para amenizar ou solucionar o problema da água. 

As demandas indiretas são as que o governante escolhe, diante dos diversos desafios/problemas presentes. Deste modo, o governante escolhe o desafio a ser superado. Por exemplo: pesquisas revelam que as demandas do eleitorado são oferta de água e saúde pública qualificada. Neste caso, o governante opta por concentrar enfaticamente as suas ações no âmbito da saúde e com isto escolhe por ser reconhecido como o gestor que “resolveu” o problema da saúde. 

A solução para as demandas diretas ou indiretas é o objetivo de qualquer governante sábio. Classifico como governante sábio, aquele que deseja ser reeleito sem dificuldades. Ou aquele que opta por fazer parte da História. O encontro do conceito do governo é ação estratégica que condiciona o sucesso dos atores políticos.

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