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Passados seis meses do terremoto que deixou mais de mil mortos e milhares de pessoas sem casa no sudeste do Afeganistão, novas casas foram construídas, para grande alívio dos desabrigados, que enfrentam o rigor do inverno.

"Quando cheguei aqui, minha mãe, meus irmãos, todos já estavam enterrados", disse à AFP Rasool Badshah, que recebeu as chaves de sua nova casa de pedra no distrito de Barmal no final de semana.

O jovem trabalhava no Paquistão quando um terremoto de magnitude 5,9 atingiu esta região empobrecida e isolada do sudeste do Afeganistão em 22 de junho.

Mais de 1.000 pessoas morreram, incluindo seus pais e parentes, e outras 3.000 ficaram feridas. Milhares de moradores também ficaram desabrigados, porque as casas de tijolo e barro não resistiram aos tremores.

Mais de 7.000 famílias foram afetadas pelo terremoto no distrito de Barmal.

"O Acnur se concentra nas famílias, cujas casas foram 100%, ou mais de 60%, destruídas", explicou à AFP Léonard Zulu, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), quando as primeiras casas foram entregues.

Das 1.000 novas casas de pedra planejadas pela agência de refugiados das Nações Unidas, cerca de 700 serão concluídas até o final de dezembro em Barmal, na província de Paktika. Mais 300 estão previstas para serem construídas no distrito vizinho de Spera, elevando para 1.300 o número total de abrigos construídos pelo Acnur até 2023 nesta região.

“Nossas casas de barro foram transformadas em casas de concreto. É muito bom, não poderíamos ter feito estas casas, nem nossos filhos e netos (...). Precisa de muito dinheiro, e não podíamos pagar”, celebrou Rasul Badshah.

As casas construídas pelo Acnur são equipadas com painéis solares e baterias para iluminação, além de fogões de cozinha. Banheiros também foram construídos perto dos quartos.

“Na primavera, começaremos a construir duas escolas nos bairros, onde a comunidade identificou e entregou o terreno. Além disso, vamos construir uma clínica para a comunidade”, contou Léonard Zulu.

O Afeganistão é, frequentemente, atingido por terremotos, em especial na cordilheira Hindu Kush, que fica perto da junção das placas tectônicas da Eurásia e da Índia.

Quando o grupo extremista Taleban tomou o controle do Afeganistão, há um ano e meio, o diplomata Shabir Ahmad, de 35 anos, se viu em uma encruzilhada. Funcionário do governo afegão em uma embaixada no Irã, ele conta que precisou decidir entre retornar ao país ou tomar um novo destino. "Eu não tinha direito de ficar no Irã, pois meu visto era político", explica. Os diplomatas eram alvo da violência. "Fizemos campanhas contra a violação dos direitos humanos pelo Taleban em nossas missões diplomáticas. Eles disseram: 'Se vierem ao Afeganistão, não aceitaremos vocês'."

Com medo, Shabir solicitou visto humanitário ao Brasil e em julho desembarcou com a família no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Por lá, dormiram uma semana no chão - hoje, há outros 80 afegãos nessa mesma condição -, até serem encaminhados para um abrigo em Morungaba, a 100 km da capital paulista. Com o diplomata, vieram a mãe, um casal de filhos pequenos e a mulher, grávida de 8 meses quando chegaram. A caçula, Fatima, nasceu semanas depois. "É um nome comum na sociedade islâmica e também na brasileira", diz ele, em inglês. "Ela agora está bem, é uma brasileira."

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Levantamento feito a pedido do Estadão pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), cooperação entre o Ministério da Justiça e a Universidade de Brasília (UnB), aponta que 3.367 imigrantes afegãos entraram no País de janeiro a outubro deste ano - 98,9% deles pelo aeroporto de Guarulhos. O número é 13 vezes maior do que o registrado no ano passado.

A tomada do poder pelo Taleban simbolizou a perseguição a vários segmentos da sociedade afegã. As mulheres, sobretudo as ativas no mercado de trabalho, passaram a ser alvo diante da repressão promovida pelo grupo extremista. Assim como grupos étnicos específicos, como o povo hazara, e quem trabalhava nas forças de segurança no país ou em outros setores visados, como a diplomacia ou as universidades. Diante disso, o Brasil concedeu vistos humanitários aos afegãos e autorizou pouco mais de 6 mil deles até o momento. O País enfrenta agora os desafios de dar um encaminhamento digno a todos.

"Não temos medo do amanhã. Nós gostamos de trabalhar, e desejamos continuar nossa vida em um lugar pacífico como o Brasil", afirma o professor de inglês Amir Ishinzada, de 32 anos. Assim como Shabir, ele foi acolhido pela Vila Minha Pátria, abrigo da Junta das Missões da Convenção Batista Brasileira que já recebeu mais de 400 afegãos.

DESASSISTIDOS. Conforme entidades que auxiliam no acolhimento dos imigrantes, alguns afegãos que vêm para o País têm para onde ir. Mas há outros que, sem destino certo, ficam desassistidos e esperam por abrigos. No último mês, segundo a prefeitura de Guarulhos, o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante, instalado no aeroporto para realizar o cadastro daqueles que precisam de ajuda, atendeu 399 afegãos. Ao longo de todo ano, o número total foi de 1.838, mais da metade dos que entraram no País.

Parte deles já foi encaminhada para vagas em centros de acolhimento da sociedade civil e de órgãos públicos, mas, como solução provisória, dezenas seguem acampados no maior aeroporto do País. Há alguns dias, dois afegãos testaram positivo para covid, o que elevou a preocupação sobre a situação que se arrasta pelo menos desde agosto.

Novos voos chegam a todo momento. O perfil predominante são famílias, muitas vezes com crianças pequenas, e homens solteiros. São normalmente representantes da classe média do Afeganistão, o que os possibilita comprar as passagens de avião e se dedicar aos trâmites para vir ao Brasil. Ao desembarcar, porém, muitos não têm dinheiro suficiente para alugar um espaço ou um lugar de confiança para ir. Também se veem limitados pela barreira linguística.

"Eu não me sentia segura mais no país desde que o Taleban chegou. Nós não sabemos quem é o alvo, o próximo alvo", diz a conselheira psicossocial Shekiva, de 27 anos, que preferiu não revelar o sobrenome e a cidade em que morava. "Eles estão matando diferentes pessoas, de diferentes lugares, mas praticamente todo povo hazara está sob o alvo. Nós não nos sentíamos seguros, então saímos do país."

Após 13 dias dormindo no aeroporto quando falou com a reportagem do Estadão, ela veio para o Brasil com os dois irmãos. Trabalhava com violência de gênero quando o Taleban assumiu o controle do Afeganistão. Na composição atual dos afegãos vivendo no aeroporto, poucos falam inglês, o que fez com Shekiva tenha se tornado uma tradutora informal. Ali, um homem se aproximou e, emocionado, pediu para ela relatar que tinha vindo para o Brasil após o assassinato do irmão, que era policial.

‘SEM COMIDA, ABRIGO OU REMÉDIOS’. "Quando a gente chegou ao aeroporto não havia ninguém nos esperando. Então nós ficamos uma semana no aeroporto, sem comida, abrigo ou remédios", conta Shabir. Ele relembra que em julho havia uma estrutura ainda mais precária. Agora, tanto o poder público quanto voluntários que atuam no local conseguem dar assistência maior.

A prefeitura de Guarulhos oferece atualmente café da manhã, almoço e jantar. Voluntários, além disso, recebem doações da sociedade civil, dão assistência a quem chega e se revezam para dormir no local com os refugiados. "Conseguimos avançar em muitas frentes", diz a voluntária Swany Zenobini, que coordena o coletivo Frente Afegã. O grupo começou a atuar na base do improviso em agosto e se articulou ao longo dos últimos meses. Entre as principais iniciativas, o Frente Afegã promove mutirões de saúde para prestar atendimento a quem está no aeroporto e leva os afegãos para tomar banho em um hotel parceiro - os banheiros comuns do aeroporto não possuem chuveiro. Busca ainda conversar sobre as possibilidades disponíveis para quem chega ao País.

Conforme o governo do Estado, o Grupo de Trabalho Acolhimento assegurou direitos à assistência social para 3,5 mil refugiados afegãos que desembarcaram em Guarulhos com vistos humanitários. As ações são em parceria com as prefeituras de Guarulhos e São Paulo, organizações sociais da sociedade civil e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

A Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado diz investir mais de R$ 4 milhões em 100 vagas de acolhimento dos afegãos. Já a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da capital informa que encaminhou, em setembro, 93 afegãos que estavam em Cumbica a um centro de acolhida na zona leste, aberto exclusivamente para esse grupo.

O Ministério Público Federal fez reunião este mês, com o objetivo de buscar saídas de acolhimento e interiorização - autoridades discutem a ida dos refugiados também para outros Estados, como o Paraná. O Ministério das Relações Exteriores diz acompanhar a situação, mas acrescenta não ter competência para criar ou executar políticas de acolhida.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Dois afegãos que estavam acampados há cerca de um mês no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, testaram positivo para Covid-19 neste domingo, 4. Voluntários que atuam no local suspeitam que pode estar havendo um surto da doença. Atualmente, 80 refugiados estão dormindo no aeroporto em busca de assistência, segundo a prefeitura da cidade.

A gestão municipal informou que os infectados foram encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento a Saúde (UPA) Cumbica, onde permanecem isolados até serem liberados para encaminhamento para um abrigo. A prefeitura reforçou ainda que acionou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre os diagnósticos, já que o aeroporto internacional é de concessão federal.

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O Afeganistão vive em guerra desde o fim do ano passado, quando o grupo armado Taleban retomou o controle do país. O Brasil passou a oferecer, então, um visto humanitário para receber refugiados, encaminhando aqueles que não tinham recursos para centros de acolhimento. Com o tempo, porém, as vagas nesses espaços tornaram-se insuficientes, e os afegãos passaram a se aglomerar no aeroporto especialmente desde agosto.

Os dois refugiados diagnosticados com covid, uma mulher de 64 anos e um homem de 21, estavam assintomáticos e só foram encaminhados por voluntários para um posto de saúde porque havia suspeita de outros problemas de saúde. Um deles apresentava complicações em decorrência da diabetes e outro, suspeita de inflamação nos rins.

Neste domingo, ativistas que atuam no aeroporto já há alguns meses realizaram uma ação de saúde no aeroporto. Cerca de vinte profissionais de saúde voluntários, entre médicos e enfermeiros, prestaram atendimento no local. Dos três refugiados que foram encaminhados para uma UPA, dois testaram positivo mesmo sem apresentar sintomas gripais.

"A gente ficou em pânico", relatou ao Estadão a ativista Swany Zenobini, uma das voluntárias que atua no aeroporto por meio do coletivo Frente Afegã. Os resultados saíram no fim da tarde de domingo. "Se de três pessoas que foram testadas, sem nem terem se queixado, porque estão assintomáticas, dois deram positivo, imagina o tanto de gente que deve estar covid naquele aeroporto."

Swany relata que o grupo notificou ainda no domingo a prefeitura de Guarulhos, que mantém um posto de atendimento no aeroporto. A gestão municipal providenciou o isolamento dos pacientes no posto de saúde. Agora, o objetivo do coletivo Frente Afegã, continuou a voluntária, é fazer com que outros refugiados sejam testados antes de serem encaminhados para abrigos.

A prefeitura informou, em nota, que "segue as orientações do governo de São Paulo, que orienta, conforme nota técnica, a testagem apenas em pessoas sintomáticas". "Semanalmente a Secretaria de Saúde de Guarulhos tem realizado ações de saúde no aeroporto, como vacinação, consultas médicas, além de orientações gerais sobre saúde", informou.

A gestão municipal afirmou que já abriu dois acolhimentos na cidade: um em agosto, com 27 vagas, e um em outubro, com mais 20. "Abriríamos ainda esta semana mais 28 vagas com o recurso enviado pelo governo federal, mas estamos verificando a possibilidade de usar este espaço para acolher os que testaram positivo ontem", afirmou. A pasta reiterou entregar café da manhã, almoço e jantar aos que aguardam acolhimento no aeroporto.

Como mostrou o Estadão em outubro, alguns dos refugiados estão sendo encaminhados para centros de acolhimento, mas o grupo acampado no aeroporto, que muda de composição a todo momento, cresce especialmente desde agosto. Segundo voluntários, o número cresceu com o aumento de voos devido à Copa do Mundo e ficou perto de 300 na última semana. Agora, conforme a prefeitura de Guarulhos, são cerca de 80.

O que dizem a Anvisa e o governo de São Paulo

Em nota, a Anvisa informou que a situação de refugiados afegãos que estão acampados no aeroporto de Guarulhos é de conhecimento da agência, que acompanha a situação desde que os primeiros grupos passaram a aguardar o encaminhamento para localidades de destino.

"A partir da observação do crescimento do grupo e do tempo de permanência, a Anvisa informou oficialmente, em 11 de outubro, o Ministério da Saúde, relativo aos riscos à Saúde de tal situação; e o Comitê Nacional Para Refugiados (Conare) do Ministério da Justiça, relativo à situação de um acolhimento para os acampados", afirmou o órgão.

A Anvisa afirmou que executa atividades de Vigilância Epidemiológica sob orientação técnica e normativa do Ministério da Saúde. Segundo a agência, o ministério indicou a atuação da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, como órgão que faria a oferta de vacinas, a coleta de amostras de casos suspeitos e o apoio na mitigação do risco de transmissão de doenças infectocontagiosas.

Após os casos positivos identificados neste domingo, a Anvisa comunicou, então, o CVE/SP e reforçou a indicação do uso de máscaras, disponibilizando-as para todo o grupo de refugiados. "Caso novos refugiados apresentem sintomas é indicada a testagem nas unidades de saúde do município e isolamento em local fora do aeroporto", apontou.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou ter recebido a notificação, pela Anvisa, dos dois casos ao Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). "Os dois pacientes estão em isolamento em uma unidade municipal e seguem sendo acompanhados pelas vigilâncias estadual e municipal", afirmou o governo estadual. Até o momento, nenhum outro caso foi identificado.

Na terça-feira (08), a Residência Transitória Todos Irmãos Migrantes e Refugiados em Guarulhos deu início aos cursos de português para os afegãos acolhidos na unidade. Até o momento, a residência conta com sete alunos, tendo duas aulas semanais com duração de duas horas.

As aulas serão ministradas por professores voluntários, indicados pela ONG Cáritas Diocesana, instituição que é responsável pelo gerenciamento da unidade, em parceria com a Prefeitura de Guarulhos.

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Os acolhidos já estudavam a língua portuguesa em outro curso, oferecido pela municipalidade, porém, havia a dificuldade do deslocamento. “Eles estavam bastante ansiosos com as aulas de português aqui na unidade. Faz toda a diferença pra eles, porque tem tanto essa parte de aprender a se comunicar quanto a facilidade de eles não precisarem se locomover para as aulas”, compartilhou Vanessa Pimenta, coordenadora da residência.

Mesmo antes do início das aulas, alguns abrigados já estudavam a língua por conta própria. “Isso é fundamental para eles, pois promove autonomia, que é um dos pontos que trabalhamos aqui. Eles precisam começar a socializar com outras pessoas, ter sua independência em atendimentos de saúde, por exemplo, ou até mesmo buscar um trabalho, que é da vontade de muitos”, complementou Vanessa.

As aulas de língua portuguesa integram uma ação da Prefeitura de Guarulhos, em parceria com a Cáritas, para facilitar a vida dos afegãos que estão no Brasil, tornando mais confortável a estadia e fornecendo recursos e ferramentas que possam ajudá-los na adaptação a um novo país.

A Residência Transitória Todos Irmãos para Migrantes e Refugiados conta com capacidade para abrigar 27 pessoas. No início de outubro, para acolher famílias com idosos, deficientes e grávidas que improvisaram abrigo no aeroporto, foram abertas outras 20 vagas.

São previstas nas próximas semanas, decorrentes de verba enviada pelo Governo Federal, mais 100 vagas disponibilizadas para a primeira acolhida em Guarulhos.

Como se voluntariar

Para aqueles que desejam trabalhar como voluntário, seja com os afegãos ou em qualquer outro serviço, é necessário entrar em contato com a Central de Voluntariado de Guarulhos pelo WhatsApp (11) 99637-2799.

Participantes de audiência da Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados (CMMIR), realizada nesta quinta-feira (3), defenderam a necessidade de o governo federal gerir um plano de fluxo migratório dos refugiados afegãos no Brasil, como aconteceu com a Operação Acolhida, que recebeu migrantes venezuelanos. 

Relatora do colegiado e autora do requerimento para a realização do debate, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) demonstrou preocupação com a situação de cerca de 114 migrantes afegãos que estão acampados próximo ao Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), sem direcionamento para nenhum abrigo temporário.   

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"A situação em Guarulhos merece atenção federal mesmo e, é claro, do estado [de São Paulo] também. É inadmissível que o governo federal não tenha criado dotação orçamentária específica e contínua para permitir a realização de ações socioassistenciais, como políticas de acolhimento, inclusão social nos estados, nos municípios que têm acolhido as pessoas do Afeganistão com solidariedade e trabalho duro", enfatizou.   

Mara pediu que a Casa Civil edite um decreto para permitir o repasse de fundos federais e outras medidas de assistência emergencial para o acolhimento de afegãos em situação de vulnerabilidade decorrente do fluxo migratório com a crise humanitária no país de origem. De acordo com ela, “há previsão legal para isso [Lei nº 13.684, de 2018] e um decreto similar já foi editado para o fluxo venezuelano”. 

O secretário de Assistência Social de Guarulhos, Fábio Cavalcante, relatou que o posto humanitário do terminal, de competência municipal, acolheu e encaminhou 1.387 pessoas a abrigos provisórios, com o auxílio do governo do estado e de outros municípios e instituições. O posto, segundo Cavalcante, ficou responsável pela primeira acolhida dessas pessoas com a garantia de segurança alimentar e o fornecimento de itens para necessidades emergenciais, como cobertores e água. Ele cobrou que o Executivo coordene a acolhida e da distribuição dos imigrantes para os demais estados do país, assim como foi feito com os venezuelanos na Operação Acolhida.   

"A gente está chegando ao nosso limite. Além disso, uma das funções do posto, que é o combate ao tráfico de pessoas, a gente não está conseguindo efetivar porque a demanda que chega todo dia é tão grande que a gente não consegue ter perna para fazer o que o posto foi efetivamente criado para fazer", disse. 

 O padre Marcelo Maróstica Quadro, da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, instituição parceira do governo do estado, afirmou que adultos e crianças enfrentam uma "situação indigna” no aeroporto. O problema, de acordo com ele, poderia ser resolvido com a participação do de um representante do Executivo federal que estabelecesse limites de acesso e colaborasse para um bom fluxo da política pública. 

  "Muitas pessoas, sensibilizadas pela imprensa, sensibilizadas por ativistas, se aproximam como voluntárias para ajudar (...) As pessoas querem ajudar, mas estão sem orientação técnica também. Então, nós percebemos o quanto é necessário pensar na política migratória do Brasil, num órgão que coordene a ação, que possa subsidiar e fortalecer as ações municipais", afirmou. 

 O secretário-geral de Articulação Institucional da Defensoria Pública da União, Gabriel Saad Travassos do Carmo,  também reconheceu que, diante das dificuldades de articulação, a coordenação da política de fluxo migratório dos afegãos deve ser de responsabilidade do governo federal, assim como na experiência da Operação Acolhida. 

  "Apesar das peculiaridades da experiência, ela [a Operação acolhida] pode ser utilizada no que diz respeito ao cofinanciamento federal, ao fortalecimento da rede socioassistencial, lembrando que a obrigação é tripartite, tanto a União quanto estados e municípios têm que realizar o acolhimento dessas pessoas", disse. 

 Apoio financeiro

A secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Célia Leão, afirmou que, além de não haver coordenação federal, falta apoio financeiro da União. Até o momento, de acordo com ela, o governo federal liberou R$ 280 mil, valor considerado insuficiente para as ações de acolhimento. Célia relatou que, de janeiro de 2022 até agora, 162 afegãos foram acolhidos na Casa Passagem Terra Nova, no bairro da Mooca, em São Paulo. A rede de assistência que compete ao governo estadual atua na urgência do acolhimento articulado com municípios e instituições internacionais, como a agência da ONU para Refugiados (Acnur) e a Cáritas São Paulo. O grupo busca moradia temporária, acesso a vacinação, auxílio na obtenção de documentação e colocação profissional. 

 O representante do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Bernardo de Almeida Tannuri Lafert, concordou que o governo pode coordenar o fluxo migratório, como aconteceu na Operação Acolhida com venezuelanos e haitianos. Mas a atuação, segundo ele, se restringiria ao acolhimento e ao encaminhamento dessas pessoas para outras cidades, numa colaboração com estados e municípios. 

A assessora para Assuntos de Imigração da Secretaria Nacional de Assistência Social, Niusarete Margarida de Lima, explicou que o governo federal só pode atuar na interiorização dos afegãos quando formalizar um pacto de cooperação com estados e municípios que possam receber os migrantes. 

 "Nós temos que compreender que, pelo pacto federativo, o governo federal não pode impor aos entes federados uma distribuição, um deslocamento de determinados grupos sem que haja uma pactuação local", esclareceu. 

 Niusarete  também alertou para a necessidade elaboração de uma lei federal que reconheça a crise migratória dos afegãos como emergência social. Segundo ela, só assim o ministério terá segurança jurídica para destinar mais recursos federais e atuar com ações necessárias. 

 Vistos humanitários

Para Mara Gabrilli, outra dificuldade que os afegãos enfrentam é a demora para emissão dos vistos humanitários nas embaixadas brasileiras. A senadora já pediu providências ao ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e encaminhou três ofícios solicitando maior agilidade. 

A juíza afegã, Gulandam Totakhai que há um ano está refugiada no Brasil, reforçou a importância de o governo brasileiro emitir vistos humanitários. De acordo com ela, é preciso que líderes e toda a sociedade civil assumam a responsabilidade com o acolhimento dos migrantes. 

  "É responsabilidade de todos nós. As comunidades, as empresas, as organizações, a sociedade civil, todos devemos nos unir para encontrarmos uma solução para esse problema. Sei que [o problema] não será apenas neste ano ou no próximo ano, sei que será um problema contínuo porque o Brasil é um país para o qual muitas pessoas querem vir", acrescentou.   

Mercado de trabalho

Dos 2.842 afegãos que chegaram ao Brasil, 919 foram atendidos e acolhidos pelo Acnur e por parceiros, como a Cáritas São Paulo e a Missão Paz. De acordo com levantamento da entidade, 50% dos migrantes têm curso superior, vêm com suas famílias e possuem capacidade profissional para inserção no mercado de trabalho. A chefe de escritório do Acnur em São Paulo, Maria Beatriz Nogueira, disse que os migrantes têm conseguido se colocar no mercado de trabalho brasileiro.   

"Pegando dados públicos do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], vemos que pessoas têm sido contratadas no Brasil. A gente tem quase 500 pessoas inseridas no mercado de trabalho, de diferentes gêneros, idades e em diferentes estados do Brasil. Isso mostra que as pessoas que têm chegado têm de fato se inseridas no mercado de trabalho. Talvez não com a qualificação equivalente à sua formação inicial (...) Então, é importante que se diga que há uma perspectiva de integração dessas pessoas aqui no Brasil", disse.   

*Da Agência Senado

Com seus diplomas universitários e vistos brasileiros em mãos, refugiados afegãos continuam a chegar ao aeroporto de Guarulhos. Servidores do governo, professores, médicos, advogados, economistas, muitos exerciam cargos de alta importância na região do Afeganistão. Atualmente, 127 deles aguardam acolhimento no Terminal 2, em um corredor em frente a uma agência do Banco do Brasil. Alguns estão no local há mais de dez dias.

Estas pessoas desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos em busca de uma nova oportunidade, um lugar mais tranquilo e longe dos conflitos que assolam sua terra natal. Porém, sem condições e apoio de autoridades locais, acabaram montando um acampamento improvisado.

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Ao chegar no Brasil, os refugiados recebem alimentos, água, itens de higiene pessoal e algumas roupas. Também foram vacinados contra sarampo, poliomielite e Covid-19. Mas, agora a luta deles é por abrigo e oportunidades para restabelecerem suas vidas de uma maneira digna.

Muitas destas pessoas formadas e bem estabelecidas deixaram tudo o que tinham em seu país -incluindo bens pessoais, famílias, amigos, histórias e a própria casa - em decorrência da tomada de poder pelo Talibã, que assumiu o controle do país no ano passado.

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DE CABUL PARA GUARULHOS

Há cinco dias no Brasil, o economista Sayed Ahmad Shapoor, de 25 anos, natural de Cabul, também encontrou neste espaço do aeroporto um acampamento provisório. Ahmad deixou mãe, pai, tios, tias e irmãos no Afeganistão. O motivo de sua fuga? Ahmed trabalhava em um projeto social em conjunto com a UN, (Organização das Nações Unidas) que visava a educação privada de alta qualidade para meninas afegãs.

Em suas palavras: “Antes (do Talibã) as coisas eram boas, mas depois que assumiram o controle as gerações mais novas ficaram em risco. O sistema educacional ficou pior, meninas foram proibidas de estudar, qualquer um que trabalhou com a UN ficou em risco, estudantes foram perseguidos, inclusive. Não era mais seguro para mim continuar lá.”

Ahmad conta também que por conta dos problemas financeiros e a falta de trabalho, já não é mais possível permanecer no Afeganistão. "Meu irmão de 18 anos, foi atingido por um bombardeio enquanto estava na sua sala de aula, estudando. Os danos físicos que sofreu foram pequenos, porém, ele ficou devastado psicologicamente, precisando de tratamento até os dias de hoje", relembra ele.

“Brasileiros me parecem educados e gentis. Saímos de lá pois não podíamos concordar com as regras deles, retrocederam nosso país em 100 anos. É improvável pensar que em um ou dois anos as coisas voltem a ser como eram antes deles (Talibã). Me pergunta como estou me sentindo nessa situação? Se você esteve em uma situação de vida ou morte, isso aqui (aponta para o corredor do aeroporto) é ótimo para mim", desabafa Ahmad.

Já no fim da conversa em inglês, Ahmad comentou sobre suas perspectivas para o futuro no Brasil: “Essa situação não é para mim. Eu trabalhei muito duro na minha vida, escola, faculdade, preparação para concursos, trabalhei com a UN, esta situação não é para mim e para os que estão aqui. Todos aqui são pupilos do Afeganistão, muitos são educados, podem trabalhar com qualquer área que possa interessar ao governo brasileiro. E se eu voltaria para o Afeganistão em uma situação melhor? Claro que sim, não há nada melhor do que o espírito de casa", disse emocionado.

O QUE DIZ A PREFEITURA DE GRU

A Prefeitura de Guarulhos, em nota, afirma que a Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social (SDAS) realiza a primeira acolhida das famílias recém-chegadas, garantindo alimentação com café da manhã, almoço e jantar, enquanto elas ainda estão no aeroporto, além de kits de higiene e cobertores.

De acordo com a assessoria de imprensa, a PMG abriu emergencialmente no dia 10 de agosto a Residência Transitória para Migrantes e Refugiados, um local que tem capacidade para abrigar 27 pessoas e que no momento está lotado. Guarulhos já não possui mais vagas disponíveis para recebê-los em casas de acolhida na cidade. Até que sejam abertas novas vagas, os afegãos não podem deixar o aeroporto. 

Segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, já foram investidos R$ 2,8 milhões para criar novas vagas de acolhimento a refugiados até dezembro e que uma casa de passagem está sendo estruturada perto do aeroporto. 

A sociedade civil também tem se organizado para ajudar, por meio de doações lideradas por ONGs como Cáritas, Missão Paz e ACNUR, além de auxiliarem os imigrantes a obter documentos junto à Polícia Federal. 

De janeiro a setembro de 2022, o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante atendeu 1.101 afegãos. Apenas em outubro, até o dia 10, foram 142 atendimentos.

De 2020 até 2022, o Governo Brasileiro já emitiu mais de seis mil vistos humanitários para refugiados do Afeganistão. É importante lembrar que os vistos são emitidos pela embaixada Brasileira em Teerã, uma vez que o Brasil não possui embaixada oficial no Afeganistão.

Serviço Embaixada:

Telefones: Telefone: +98 (21) 2680 5295/5298/5310/5314/5318

E-mail: brasemb.teera@itamaraty.gov.br

Ligações do Irã: 0912 148 5200

 

De fora do Irã: +98 912 148 5200

Vão ser acolhidos na cidade de São Paulo os 93 afegãos que estavam acampados no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo a prefeitura de Guarulhos, a ação foi possível após negociação com o governo estadual para tentar resolver o problema das pessoas que chegam ao terminal em busca de refúgio após a volta do Talibã ao poder.

  Para tentar atender a demanda, a prefeitura instalou no aeroporto um posto avançado de atendimento humanizado ao migrante e uma residência transitória para migrantes no município. No entanto, a residência, que conta com 27 vagas, já está lotada. 

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De acordo com a Polícia Federal, chegaram ao Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos 407 afegãos em julho, 292, em agosto e 459, até o dia 14 de setembro. Em setembro de 2021, entraram no Brasil pelo aeroporto 12 afegãos e, em outubro, 57. 

No início de setembro, os ministérios das Relações Exteriores e da Justiça editaram uma portaria para facilitar a concessão de visto humanitário às pessoas que vêm do Afeganistão. Segundo o Itamaraty, já foram autorizados 6,1 mil vistos a partir dessa nova política. “Parcela minoritária não conta com esse apoio prévio da sociedade civil organizada e chega ao país em situação de vulnerabilidade”, ressalta nota divulgada pelo ministério. 

Talibã Faz um ano que os Estados Unidos retiraram as tropas do Afeganistão depois de 20 anos de ocupação. Na ocasião, o presidente afegão, Ashraf Ghani, deixou o país, e o controle do palácio presidencial foi assumido pelos talibãs. 

O Talibã se tornou conhecido como um grupo religioso fundamentalista na primeira metade da década de 1990 e foi organizado por rebeldes que haviam recebido apoio dos Estados Unidos e do Paquistão para combater a presença soviética no Afeganistão, que durou de 1979 a 1989, em meio à Guerra Fria. A chegada ao poder foi consolidada em 1996, com a tomada da capital, Cabul. 

Uma vez no controle do governo, o Talibã promoveu execuções de adversários e aplicou sua interpretação da Sharia, a lei islâmica.

Um violento sistema judicial foi implantado: pessoas acusadas de adultério podiam ser condenadas à morte e suspeitos de roubo sofriam punições físicas e até mesmo mutilações. O uso de barba se tornou obrigatório para os homens, e as mulheres não podrim ser vistas publicamente desacompanhadas dos maridos. Além disso, elas precisavam vestir a burca, cobrindo todo o corpo. Televisão, música e cinema foram proibidos, e as meninas não podiam frequentar a escola. 

A ocupação dos americana foi uma reação aos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, arranha-céus situados em Nova York. Dois aviões atingiram os edifícios em 11 de setembro de 2001, levando-os ao chão e causando quase 3 mil mortes. Os Estados Unidos acusaram o Talibã de dar abrigo ao grupo terrorista Al Qaeda, que assumiu a autoria do atentado. Em outubro de 2001, tiveram início as operações militares no Afeganistão. 

Os radicais, entretanto, conseguiram retomar o controle do país no ano passado, implantando um novo governo fundamentalista.

Em um bairro de Boston, uma família afegã começa a ver a luz no fim do túnel. Israr e Sayeda já começaram a trabalhar, enquanto melhoram o seu inglês e preparam o lar para dar boas-vindas a seu primeiro filho.

Como muitos dos milhares de afegãos evacuados após a ocupação de Cabul pelos talibãs, o jovem casal tenta garantir sua nova vida nos Estados Unidos.

Apesar de ter trabalhado como tradutor do exército americano, Israr e sua esposa estão no país com um visto humanitário, um "status legal vago", segundo as organizações de acolhimento, que oferece apenas dois anos de residência.

Após deixar Cabul e passar um período em uma base militar no Texas, o casal se instalou no início do ano em Boston, sob a proteção de outro casal, que agora chamam de seus "segundos pais".

"Meu pai está trabalhando nisso", contou Israr, de 26 anos, sobre a sua situação migratória. "Ele conseguiu um advogado", acrescentou.

O jovem preparou toda a documentação antes de se dirigir ao aeroporto de Cabul, onde acontecia uma evacuação caótica no final de agosto do ano passado. Sua mulher, de 23 anos, escondeu alguns deles sob a roupa, com a esperança de que não fosse revistada pelos talibãs.

No entanto, ela foi agredida até não conseguir andar. Israr, também ferido, deixou para trás sua bagagem e a carregou nos braços.

"Perdi minha bagagem, meus documentos importantes, meu dinheiro, minha roupa, tudo", contou o jovem à AFP.

Por fim, os dois conseguiram embarcar em um avião com os passaportes e alguns documentos que puderam salvar.

Agora, o casal enfrenta um futuro incerto. Precisam de um visto especial de imigrante, reservado àqueles que ajudaram o governo americano, ou de asilo, para o qual precisam comprovar que foram alvo de perseguição dos talibãs.

- 'Óbvio' -

O reassentamento de afegãos nos Estados Unidos terminou em fevereiro. Contudo, devido à guerra na Ucrânia e a uma nova crise de refugiados, seus defensores exigem que os congressistas aprovem uma lei específica para permitir sua permanência no país.

A senadora democrata Amy Klobuchar está trabalhando em um projeto de lei e Krish O'Mara Vignarajah, titular do Serviço Luterano de Imigração e Refugiados (LIRS, na sigla em inglês), assinalou que houve reuniões com republicanos favoráveis ao projeto.

"Para nós, é óbvio", afirmou Vignarajah à AFP. Porém, ela acredita que haverá "obstáculos", especialmente para o asilo, cujos requisitos são muito mais difíceis de se cumprir.

Nesse sentido, para fazer um pedido crível, são necessários muitos documentos que os afegãos destruíram para eliminar qualquer evidência de seus laços com os Estados Unidos e evitar as represálias dos talibãs.

"A mesma documentação que poderia levar à pena de morte no Afeganistão poderia ser a chave para o asilo nos Estados Unidos", acrescentou Vignarajah.

- 'Injusto' -

Jeffrey Thielman, diretor do Instituto Internacional da Nova Inglaterra (IINE, na sigla em inglês), que ajudou Israr e Sayeda a se estabelecerem em Boston, tem notícias de que um tribunal local está negando aos afegãos os pedidos de asilo por considerar que as provas de perseguição são "genéricas demais".

Nesse sentido, Thielman teme que muitos não vão conseguir a residência permanente, disse à AFP. "Eles foram investigados, fizeram o nosso programa de orientação cultural, seus filhos estão na escola e estão conseguindo trabalho", por isso é "muito injusto" não garantir um futuro para essas pessoas no país.

Israr e Sayeda, por sua vez, estão agradecidos e felizes de estarem seguros e de terem "uma nova oportunidade" nos Estados Unidos, de onde podem enviar ajuda às suas famílias no Afeganistão.

O número de afegãos que tentam entrar no Irã aumentou desde que o Talibã assumiu o poder há dois meses, mas a maioria é rejeitada, às vezes com violência, disseram várias testemunhas.

Antes da mudança de regime em 15 de agosto, entre 1.000 e 2.000 pessoas a cada mês passavam para o Irã pelo posto de fronteira de Zaranj, na província de Nimruz, no sudoeste do Afeganistão.

Agora, são entre 3.000 e 4.000 pessoas que vão diariamente ao posto de fronteira, disse seu comandante, Mohamed Hashem, explicando que são rejeitados por falta de documentos.

Dezenas de milhares de pessoas tentam fugir do Afeganistão, economicamente paralisado desde a mudança de regime e à beira de uma grave crise humanitária, com um terço da população ameaçada de fome, segundo as Nações Unidas.

As autoridades iranianas só permitem a entrada de afegãos com autorização de residência ou visto para o Irã, ou em caso de emergência médica. Isso representa entre 500 e 600 entradas diárias, de acordo com o líder do Talibã.

As tentativas de entrada ilegal se multiplicaram e, com elas, os primeiros testemunhos de retorno com violência, maus-tratos ou roubo por parte das forças de segurança iranianas.

Do lado afegão da fronteira, Hayatulah, de barba grisalha e usando o turbante tradicional, mostrou sua mão ferida envolta em uma bandagem ensanguentada. "Os soldados iranianos pegaram nosso dinheiro e bateram em nossas mãos", disse ele à AFP.

Mohamad Nasim, que tentou uma noite escalar o muro que separa os dois países três vezes, foi baleado por guardas da fronteira iraniana. Duas pessoas morreram e uma era amiga dele, contou.

Sua tentativa subsequente resultou em uma "prisão" e uma "surra" por soldados iranianos, determinados a dar o exemplo e impedir qualquer entrada clandestina.

Nasim tentou se justificar aos soldados iranianos e lhes disse: "Se vocês estivessem na miséria e na fome que vive a nossa nação, também tentariam atravessar para o outro lado".

Se a crise humanitária piorar, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) avisou para um influxo repentino de até meio milhão de afegãos aos países vizinhos até o final do ano.

O Brasil autorizou a concessão do visto humanitário aos cidadãos afegãos que desejarem deixar o Afeganistão em razão da retomada do regime talibã. A informação foi anunciada nessa sexta-feira (3), pelos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública. Mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e seus familiares serão considerados prioridade na fila de imigração. O grupo de 270 juízas afegãs que pediu ajuda para deixar o país poderá dar entrada no pedido deste documento, segundo o governo brasileiro.

Os grupos prioritários são considerados de maior risco, uma vez que a interpretação que o talibã tem do islã faz alusão à sharia e ao cerceamento dos direitos básicos de mulheres e crianças, como o livre arbítrio - garantido pelo próprio islã -, o direito à educação e ao lazer.

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"A medida é baseada nos fundamentos humanitários da política migratória brasileira", disseram os ministérios em nota. "Reafirmando o compromisso brasileiro com o respeito aos direitos humanos e com a solidariedade internacional”, escreveram os ministérios.

Em agosto, o Itamaraty afirmou que preparava a concessão dos vistos humanitários "em termos semelhantes aos concedidos a haitianos e sírios”. O pedido de visto humanitário, diferentemente do de refúgio, tem de ser feito fora do Brasil, em alguma autoridade consular.

No caso do Afeganistão, a mais próxima é a embaixada de Islamabad, no Paquistão. Segundo o ministério, as embaixadas em Teerã, Moscou, Ancara, Doha e Abu Dhabi também estarão habilitadas a processar os pedidos de visto para acolhida humanitária.

O Airbnb "começará a acolher 20.000 refugiados afegãos gratuitamente em todo o mundo" em resposta a "uma das crises humanitárias mais graves da nossa época", anunciou nesta terça-feira (24) Brian Chesky, co-fundador da plataforma de aluguéis turísticos.

A empresa "pagará pelas estadias", mas "não poderá [fazer isso] sem a generosidade de [seus] anfitriões", explicou Chesky em um tuíte, solicitando àqueles que desejarem acolher uma família de refugiados de forma gratuita que entrem em contato com a plataforma.

Desde 2012, o grupo americano permite aos anfitriões dispobilizarem quartos para alojar solicitantes de asilo ou refugiados gratuitamente, por meio de sua plataforma "Open Homes".

"O deslocamento e reinstalação de refugiados afegãos nos Estados Unidos e outras partes do mundo representa uma das crises humanitárias atuais mais graves", continuou Chesky, que considera que é crucial agir, e espera poder "inspirar outros empresários a fazer o mesmo".

A queda de Cabul nas mãos dos talibãs em 15 de agosto provocou o deslocamento de milhares de pessoas até o aeroporto da capital afegã, única saída do país. Milhares já foram evacuados desde julho.

 Mais um voo com 195 afegãos aterrissou na Itália neste sábado (21), elevando para quase mil o número de refugiados evacuados por via aérea pelo país europeu desde o fim de semana passado.

O primeiro avião pousou no aeroporto de Fiumicino, nos arredores de Roma, na última segunda-feira (16), com 74 pessoas, incluindo aproximadamente 20 afegãos. O segundo chegou na quarta, com 85 refugiados, enquanto o terceiro aterrissou no dia seguinte, com 202.

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Já o quarto, o quinto e o sexto voos pousaram na Itália na sexta-feira (20), carregando, respectivamente, 194 e 104 e 103 afegãos.

A operação de evacuação coordenada pela Força Aérea italiana envolve 12 aeronaves e 1,5 mil militares. Os refugiados são levados de Cabul, capital do Afeganistão, para o Kuwait em aviões C-130 da Aeronáutica e depois viajam até Roma em Boeings KC-767, que têm maior capacidade.

As Forças Armadas italianas mantiveram até junho passado uma base militar em Herat, como parte da missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no país asiático.

A retirada das tropas ocidentais, no entanto, permitiu o rápido avanço do Talibã, que havia sido destituído pela invasão americana em 2001 e reconquistou o país no último fim de semana, quase sem enfrentar resistência. 

Da Ansa

A Otan pediu nesta sexta-feira (20) aos talibãs que permitam a evacuação dos afegãos que desejam abandonar o país e prometeu que os aliados manterão uma "estreita cooperação" durante a operação.

Os ministros das Relações Exteriores da Aliança Atlântica realizaram uma reunão de emergência para analisar a situação no Afeganistão e os planos de evacuação.

"Pedimos a quem estiver na posição de autoridade no Afeganistão para respeitar e facilitar a marcha ordenada e segura, também através do aeroporto internacional Hamid Karzai de Cabul", disseram os 30 ministros da Otan em seu comunicado conjunto.

"Enquanto a operação de retirada continuar, manteremos nossa estreita coordenação operacional com os meios aliados" no aeroporto, acrescentaram.

Estados Unidos e seus aliados da Otan estão evacuando seus cidadãos, trabalhadores afegãos e suas famílias de Cabul desde o fim de semana, quando o Talibã assumiu a capital e retomou o poder.

Embora milhares já tenham conseguido sair, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse no início da reunião que tanto estrangeiros quanto afegãos sofrem dificuldades para chegarem ao aeroporto de Cabul.

A aliança ocidental interrompeu sua missão no Afeganistão em maio, quando os Estados Unidos decidiram retirar suas tropas, mas mantém cerca de 800 trabalhadores civis que ajudam a administrar o aeroporto.

Vários países lançaram missões para levarem seus cidadãos e aliados locais para lugares seguros, mas Stoltenberg alertou que os países da Otan devem trabalhar juntos e os talibãs devem cooperar.

"Centenas de trabalhadores da Otan e de contratados desempenharam um papel vital", disse, agradecendo às tropas dos Estados Unidos, Reino Unido e Turquia por protegerem seus trabalhadores no aeroporto de Cabul.

"Eles mantiveram o aeroporto de Cabul funcionando, incluindo o controle do tráfego aéreo, serviços essenciais do aeroporto e as comunicações", afirmou.

"No entanto, o principal desafio é garantir que as pessoas consigam chegar e entrar no aeroporto", reiterou Stoltenberg aos ministros.

"Esperamos que os talibãs permitam a passagem segura para todos os estrangeiros e afegãos que queiram deixar o país. Esta é a tarefa mais urgente", acrescentou.

Um em cada três afegãos sofre insegurança alimentar devido aos efeitos combinados da guerra e da mudança climática, afirmou a representante do Programa Mundial de Alimentos (PMA) no Afeganistão, Mary-Ellen McGroarty.

Além do conflito, os afegãos já enfrentam uma grave crise alimentar e 2021 é um "ano extremamente difícil", disse McGroarty à AFP em uma entrevista por telefone de Cabul.

Além das consequências econômicas da pandemia de Covid-19, "o país enfrenta a segunda seca severa em três anos. As pessoas ainda se recuperam da seca de 2017/2018", afirmou.

"Aconteceu uma redução de 40% da colheita de trigo, resultado de um dos invernos mais secos dos últimos 30 anos. Tivemos pouca neve em Cabul este ano, o abastecimento de água na época de degelo é muito escasso", disse, antes de citar um "impacto devastador para o gado".

Esta situação está logicamente agravada pelo conflito que afeta todo o país, com "agricultores que não podem fazer a colheita e que fugiram de suas casas", assim como "plantações destruídas".

A destruição de infraestruturas, como pontes, represas e estradas, também compromete o acesso aos alimentos, lamentou a representante do programa da ONU.

Depois de vetar os talibãs em todos os seus aplicativos, o Facebook divulgou nesta quinta-feira (19) medidas para proteger os usuários vulneráveis no Afeganistão, onde os fundamentalistas islâmicos tomaram o poder.

"Por uma semana, nossas equipes trabalharam noite e dia para fazer o possível a fim de ajudar a manter as pessoas seguras", tuitou Nathaniel Gleicher, diretor de regulamentações de segurança do grupo californiano.

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Seguindo recomendações de defensores dos direitos humanos, jornalistas e ONGs, a rede social criou uma funcionalidade que permite ao usuário "bloquear sua conta com um único clique". A ação evita que pessoas que não estejam entre os seus contatos baixem ou compartilhem sua foto de perfil ou vejam conteúdo do seu feed.

Os usuários do Instagram no Afeganistão receberão notificações com formas de proteger as contas. "Também removemos temporariamente a possibilidade de ver a lista de amigos de um usuário para buscar contas no Afeganistão" de pessoas que poderiam ser procuradas pelos talibãs, acrescentou Gleicher. O executivo também recomendou guias para proteger a atividade na internet.

O Facebook excluiu esta semana uma conta no WhatsApp usada pelos talibãs para responder a reclamações de afegãos. "Somos obrigados a respeitar as leis americanas sobre sanções, o que inclui o bloqueio de contas que se apresentam como oficiais dos talibãs", explicou um porta-voz do aplicativo de mensagens.

Os fundamentalistas responderam na última terça-feira, em sua primeira entrevista coletiva, com críticas ao Facebook, o qual acusaram de atentar contra a liberdade de expressão.

Os talibãs mantêm postos de controle nesta quinta-feira (19) ao redor do aeroporto de Cabul e impedem a saída de afegãos que desejam abandonar o país, acusou o governo dos Estados Unidos, que pediu uma passagem livre.

Dezenas de milhares de pessoas tentam fugir do Afeganistão desde que o movimento islamita radical assumiu no domingo (15) o poder no país, após uma ofensiva militar relâmpago que permitiu a tomada da capital em 10 dias após duas décadas de guerra.

Os afegãos, que recordam o regime talibã precedente, que governo o país entre 1996 e 2001, marcado por violações dos direitos humanos, não confiam nas promessas de moderação apresentadas nos últimos dias pelo grupo.

Os insurgentes, no entanto, constituem aos poucos suas autoridades políticas, após a chegada do exílio do cofundador do movimento talibã, mulá Abdul Ghani Baradar, que ao lado de outros dirigentes do grupo se reuniu com o ex-presidente afegão Hamid Karzai.

- Afegãos bloqueados -

O governo dos Estados Unidos expressou preocupação na quarta-feira com as informações de assédio e postos de controle para cidadãos afegãos, apesar das promessas dos talibãs de não adotar represálias.

"Ao que parece estão impedindo a chegada ao aeroporto dos afegãos que desejam sair do país", afirmou a subsecretária de Estado, Wendy Sherman.

"Esperamos que permitam que todos os cidadãos americanos, todos os cidadãos de outros países e todos os afegãos que desejam partir o façam de forma segura e e sem assédio", disse.

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, prometeu durante a semana que o novo regime será "positivamente diferente" do que governou entre 1996 e 2001, quando imperou uma interpretação rigorosa da sharia (lei islâmica), com apedrejamentos e a negação dos direitos das mulheres.

Apesar das promessas, a vitória dos talibãs gerou uma onda de pânico: uma multidão correu para o aeroporto de Cabul, a única porta de saída do Afeganistão.

"Estou tentando desesperadamente partir", declarou à AFP um afegão que já trabalhou para uma ONG alemã.

"Na terça-feira eu fui ao aeroporto com meus filhos e minha família, os talibãs e os americanos atiravam contra as pessoas, mas a multidão continuava avançando porque todos sabem que uma situação pior que a morte os aguarda do lado de fora do aeroporto", disse.

- Caos e críticas -

O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 militares para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e retirar os 30.000 americanos e civis afegãos que trabalharam para Washington e temem por suas vidas. Até o momento, pouco mais de 5.000 pessoas deixaram o país.

Reino Unido, França e Espanha, entre outros países, também organizam operações de retirada.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, muito criticado em seu país e no exterior pela gestão da retirada das tropas de seu país, admitiu na quarta-feira "dificuldades" e disse que uma certa forma de "caos" era inevitável.

"A ideia de que, de alguma forma, havia uma forma de ter saído sem que isso resultasse em um caos não vejo como seria possível", declarou o presidente durante entrevista à rede ABC.

Na frente internacional, os talibãs parecem ter conseguido uma recepção menos hostil que há duas décadas, quando apenas três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita) reconheceram seu regime.

Até o momento, nenhum país reconheceu oficialmente um governo talibã, mas China, Turquia, Rússia e Irã já enviaram sinais de abertura aos talibãs. Os países ocidentais, no entanto, são muito mais reticentes e afirmam que desejam julgar por "ações" e não palavras.

Na política interna, os insurgentes divulgaram imagens do ex-presidente Karzai com Anas Haqqani, irmão mais novo de Sirajuddin Haqqani, líder da rede Haqqani, classificada como terrorista por Washington, e que tem o status de número dois dos talibãs.

Os contatos foram bem recebidos por aquele que era o presidente do país até a tomada de poder pelos talibãs, Ashraf Ghani, que fugiu no domingo para os Emirados Árabes Unidos. "Desejo sucesso ao processo" declarou Ghani em um vídeo, no qual também disse que está em negociações para "voltar ao Afeganistão".

Mas o governo dos Estados Unidos considera que Ghani, que sucedeu Hamid Karzai em 2014, "não é mais uma pessoa que conta no Afeganistão".

Os talibãs prometeram não buscar vingança contra os opositores e respeitar os direitos das mulheres em um governo "diferente" do que estabeleceram há duas décadas no Afeganistão, mas milhares de pessoas prosseguem com as tentativas de fuga do país.

As promessas foram feitas na terça-feira (17) à noite, pouco depois do retorno ao Afeganistão do cofundador e vice-líder do grupo, o mulá Abdul Ghani Baradar, o que coroou o impactante retorno ao poder dos insurgentes, que foram depostos em 2001 por uma invasão comandada pelos Estados Unidos.

Com grandes temores no mundo pelo histórico brutal na área de direitos humanos dos talibãs, dezenas de milhares de afegãos tentam fugir do país.

"Todos aqueles na oposição são perdoados de A a Z", disse em uma entrevista coletiva em Cabul o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid. "Não vamos buscar vingança", completou.

Mujahid disse que o novo regime será "positivamente diferente" daquele que lideraram entre 1996 e 2001, recordado pelas mortes por apedrejamento e por impedir que as meninas frequentassem a escola ou que as mulheres trabalhassem em contato com homens.

"Em termos de ideologia e crenças não há diferenças (...) mas se nós calcularmos com base em experiência, maturidade e conhecimento, sem dúvida há muitas diferenças", declarou Mujahid.

Ele acrescentou que o grupo está "comprometido a permitir que as mulheres trabalhem de acordo com os princípios do islã", sem revelar detalhes.

Suhail Shaheen, porta-voz do movimento em Doha, disse ao canal britânico Sky News que as mulheres não serão obrigadas a usar a burca (véu integral) - como aconteceu entre 1996 e 2001 -, mas não explicou que vestimenta seria aceitável.

- "Preocupações humanitárias" -

Apesar das promessas, afegãos e estrangeiros prosseguiram com as saídas do Afeganistão, com voos de retirada organizados pelos Estados Unidos e outros países, como França e Reino Unido, a partir do aeroporto de Cabul.

Militares americanos já retiraram 3.200 pessoas do Afeganistão, incluindo 1.100 na terça-feira, informou um funcionário da Casa Branca.

Cenas de desespero no aeroporto mostraram ao mundo imagens de afegãos aterrorizados com os talibãs e decepcionados com os Estados Unidos, país que foi incapaz de protegê-los.

Vídeos mostraram centenas de pessoas correndo ao lado de um avião da Força Aérea americana pela pista, com algumas pessoas penduradas na lateral e nas rodas da aeronave.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU anunciou que organizará uma sessão especial sobre o Afeganistão para discutir "as sérias preocupações humanitárias" sob um governo dos talibãs.

O governo do presidente americano, Joe Biden, deu uma resposta evasiva sobre as promessas de tolerância dos talibãs.

"Se os talibãs dizem que vão respeitar os direitos de seus cidadãos, vamos observar se cumprem a promessa", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

Rússia e China expressaram rapidamente disposição de trabalhar com os talibãs.

Moscou afirmou que as garantias iniciais apresentadas pelos insurgentes são um "sinal positivo" e que eles se comportam de "maneira civilizada".

- Retorno triunfal -

O mulá Abdul Ghani Baradar retornou ao Afeganistão na terça-feira à noite. Ele optou por desembarcar na segunda maior cidade do país, Kandahar, o local de nascimento e capital espiritual dos talibãs durante sua primeira passagem pelo poder.

O número dois dos talibãs chegou procedente do Catar, onde passou meses em conversações com os negociadores de paz do governo anterior do Afeganistão e com representantes americanos.

Imagens de meios de comunicação pró-talibã mostram uma multidão ao redor do mulá Baradar no aeroporto.

Mas para aqueles que temem represálias, o sentimento foi diferente.

"Às vezes paro diante da janela e penso como cheguei aqui e como tenho sorte de não estar no Afeganistão", declarou à AFP Mohamad Ehsan Saadat, pesquisador afegão dos direitos humanos que abandonou o país com a família e está no Canadá.

Em Cabul, alguns estabelecimentos comerciais reabriram as portas e o trânsito voltou às ruas, mas as escolas permanecem fechadas e persiste a tensão.

"O temor está presente", disse um comerciante, que pediu para não ser identificado, enquanto abria sua loja.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) pediu nesta terça-feira (17) a proibição das expulsões de cidadãos afegãos para seu país de origem, inclusive daqueles que tiveram o pedido de asilo previamente rejeitado.

Ao mesmo tempo, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu à comunidade internacional que ofereça todo apoio aos afegãos que enfrentam "risco iminente" em seu país, sob o novo regime talibã.

"Devido à rápida deterioração da situação em termos de segurança e de direitos humanos em grandes partes do país, além da situação de emergência humanitária, o Acnur pede aos Estados que acabem com os retornos forçados de cidadãos afegãos, mesmo que tenha sido previamente determinado que eles não requerem proteção internacional", declarou a porta-voz Shabia Mantoo durante uma entrevista coletiva em Genebra.

"Desde o início do ano, mais de 550.000 afegãos foram deslocados dentro do país, devido ao conflito e à insegurança", destacou Mantoo.

Após uma rápida ofensiva, os talibãs assumiram o controle de Cabul no domingo (15), o que significou seu retorno ao poder no Afeganistão depois de 20 anos.

A volta dos talibãs provocou cenas de caos e de pânico no domingo e segunda-feira (16), especialmente no aeroporto de Cabul, para onde seguiram milhares de pessoas, desesperadas para sair do país.

"O medo que tomou conta de grande parte da população é profundo e, levando-se em consideração o passado, totalmente compreensível", disse o porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, Rupert Colville, que estava ao lado de Mantoo.

As promessas dos talibãs de anistia geral para os funcionários públicos e de respeitar os direitos das mulheres "devem ser cumpridas. No momento, estas declarações foram recebidas com certo ceticismo" declarou Colville.

O anúncio talibã foi feito mais cedo nesta terça.

"Uma anistia geral foi decretada para todos (...), portanto, devem retomar sua vida cotidiana com total confiança", declararam os talibãs em um comunicado.

Desde que tomaram a capital do país no domingo, após uma ofensiva relâmpago que permitiu o controle de quase todo território em apenas dez dias e provocou a fuga do presidente Ashraf Ghani, os talibãs multiplicam gestos que pretendem ser tranquilizadores.

Isso não tranquiliza os moradores de Cabul, sobretudo, as mulheres. Com medo, a maioria não se arrisca a sair às ruas.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) calcula que mais de 18 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária no Afeganistão, incluindo 10 milhões de crianças.

"O Unicef precisa de acesso a todas estas pessoas e obter garantias em termos de segurança para os trabalhadores humanitários", afirmou o diretor de operações do Fundo no Afeganistão, Mustapha Ben Messaoud.

"Não as talibãs", foi o canto ouvido na noite desta segunda-feira (18) em uma praça da ilha grega de Lesbos, quando solicitantes de asilo se reuniram em uma manifestação contra a chegada dos militantes islamitas ao poder em seu país.

Cerca de 200 migrantes e refugiados do Afeganistão, juntamente com alguns do Irã, agitaram bandeiras afegãs e cantaram. “Viemos mostrar ao mundo o que acontece em meu país”, disse à AFP Amidi Rahmazolla, 35. Sua família está em Cabul, seu pai é idoso e seu irmão está doente.

Amidi diz que seus parentes também querem chegar à Grécia. "Os talibãs são pessoas perigosas. Não querem que os jovens vão à escola, as mulheres não podem ir à universidade", afirmou.

Os manifestantes disseram temer pela sorte de seus parentes no Afeganistão, alguns dos quais não puderam ser localizados. Para esses refugiados e migrantes, os últimos dias foram um pesadelo. "Não consigo dormir, minha família está mal, precisa de dinheiro", contou Abdul haq Salarzay, 29 anos, que está na ilha grega há dois anos.

Salarzay quer conseguir dinheiro emprestado com amigos para trazer a família para a Grécia. No entanto, o ministro grego de Migração e Asilo, Notis Mitarachi, descartou novos fluxos de migrantes do Afeganistão. "Nosso país não será porta de entrada para uma nova onda de refugiados", afirmou hoje à TV local.

Seis jovens afegãos, incluindo dois menores, suspeitos de estarem envolvidos com o incêndio que devastou o acampamento de imigrantes de Moria, na ilha grega de Lesbos, serão acusados nesta quarta-feira (16) - relatam autoridades locais.

Nenhum dos seis suspeitos tem mais de 20 anos, segundo essas fontes.

Quatro deles foram presos em uma operação policial na última segunda-feira (14) em uma estrada de Lesbos, onde o incêndio reduziu a cinzas o campo de Moria, o maior da Europa. Cerca de 12.000 refugiados viviam nessa estrutura superlotada, em condições precárias e insalubres.

Os outros dois, de 17 anos, foram transferidos para a Grécia continental em uma operação de evacuação de 400 menores desacompanhados, informou a agência oficial de notícias ANA. Posteriormente, foram detidos.

Autoridades gregas afirmaram desde o início que o incêndio em Moria foi iniciado. Uma semana após o drama, milhares de pessoas ainda dormem ao relento e lutam para encontrar comida e água.

As autoridades gregas habilitaram outro campo provisório, que terá capacidade para 9.000 pessoas. No momento, conta com 1.200 migrantes. Pelo menos 35 casos de coronavírus já foram registrados entre eles.

Os migrantes mostram grande relutância em entrar neste novo acampamento, porque acreditam que sua transferência para a Europa continental será impossível no curto prazo.

Nesta quarta-feira, 13 migrantes foram detidos em Samos, outra ilha grega, suspeitos de terem causado um incêndio que pode ter-se espalhado para outro campo de refugiados que abriga 4.700 pessoas. Apenas três deles permanecem detidos e estão sendo interrogados, segundo a polícia.

Além de Moria, existem quatro outros campos de refugiados nas ilhas gregas, em Chios, Kos, Samos e Leros. Todos foram criados no auge da crise migratória para receber e registrar demandantes de asilo procedentes da Turquia.

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