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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a "bagunça" nos cadastros deixados pela gestão anterior prejudicou o combate à fome e à pobreza no Brasil. Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV!, Haddad comentou sobre o retorno do País ao mapa da fome e ponderou que com o novo tamanho do Bolsa Família, que tem verba de R$ 170 bilhões para este ano, será possível reverter a situação.

Haddad lembrou que quando a transferência de renda do Bolsa Família começou, em 2004, a verba anual para o programa era menor, cerca de R$ 50 bilhões em valores atualizados. Com o atual orçamento do programa, o ministro disse que o foco agora é sanear os cadastros para que esse dinheiro chegue a quem precisa.

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Ele elogiou o trabalho que vem sendo conduzido pelo ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. A pasta é alvo de cobiça do Centrão. Desde o início do ano, o ministério está fazendo um pente fino nas inscrições do Cadastro Único, porta de entrada para os benefícios sociais. O objetivo é identificar fraudes.

O total de pessoas que passam fome no Brasil chegou a 10,1 milhões no ano passado, o que representa 4,7% da população, segundo dados do relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, divulgado nesta quarta-feira (12) pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O número é inferior ao registrado pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), com execução em campo do Instituto Vox Populi, Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Oxfam, entre outras instituições. Esse levantamento apontou, no ano passado, que 33,1 milhões de brasileiros não tinham o que comer.

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No mundo, de acordo com o documento da ONU, são entre 690 milhões e 783 milhões de pessoas (entre 8,7% e 9,8% da população do planeta) com fome. Apesar de a fome global ter estagnado nos últimos dois anos, ela ainda atinge 122 milhões de pessoas a mais do que antes da pandemia de covid. Segundo o relatório, o aumento dos preços dos alimentos e da energia, intensificado pela guerra na Ucrânia, dificultou que houvesse um progresso significativo nos últimos anos.

Na comparação com dados registrados entre 2004 e 2006, o total de brasileiros que passam fome diminuiu. Na época, eram 12,1 milhões, ou 6,5%.

A insegurança alimentar no País, porém, vem crescendo e atingiu 70,3 milhões de brasileiros (32,8% da população) entre 2022 e 2022. Entre 2014 e 2016, eram 37,6 milhões. A insegurança alimentar severa mais que quintuplicou nesse intervalo, passando de 4 milhões para 21,1 milhões, ou de 1,9% para 21,1%.

No mundo, a prevalência de insegurança alimentar alcançou 29,6% da população, ou 2,4 bilhões de pessoas. Dessas, 900 milhões sofrem de insegurança severa.

A ONU estima que 600 milhões de pessoas ainda passarão fome no mundo em 2030. São 119 milhões a mais do que haveria se não tivesse ocorrido a pandemia nem a guerra na Ucrânia. O órgão espera que haja uma redução da fome na Ásia nos próximos sete anos. Na América Latina e no Caribe, não deve haver progresso, enquanto, na África, o número de pessoas sem ter o que comer deve crescer significativamente.

Sete em cada dez pessoas transgênero enfrentaram insegurança alimentar durante a pandemia de covid-19. Para um quinto do grupo minoritário, o quadro foi severo, já que não tinha condições de fazer todas as refeições do dia, nem como comprar alimentos, passando fome.

É o que comprova estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal da Paraíba (UFPB), publicado hoje (10), no periódico científico Plos One.

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Como forma de averiguar o cenário, a equipe de cientistas analisou relatos de experiências de 109 pessoas, por meio de um questionário. Os participantes, que responderam de modo voluntário, eram de todas as regiões do país, sendo a maioria negra.

O critério aplicado para se definir o estado de insegurança alimentar foi o da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que entende como contextos em que o acesso ao alimento está sob ameaça. Isso significa quantidades insuficientes de comida, medo de o alimento acabar e a falta de estabilidade no fornecimento. Também se enquadra na classificação a inadequação da comida disponível, do ponto de vista cultural e/ou nutricional.

Mortes

Sávio Marcelino Gomes, autor principal do artigo,  nutricionista e docente da UFPB, destaca que a comunidade trans é uma das mais vulneráveis. "O Brasil, apesar de a gente ter alguns avanços na saúde, como o processo transexualizador e de existir uma política nacional de saúde para a população LGBTQIA+, de forma geral, é também o país que mais mata pessoas trans em todo o mundo", assegura.

O pesquisador comenta que, ao não poder entrar no mercado de trabalho, por conta da discriminação, chamada, nesse caso, de transfobia, as pessoas trans acabam em uma circunstância de suscetibilidade quanto à alimentação, camada que se soma à da fragilização por meio da violência. Gomes faz, ainda, uma crítica aos dados sobre a população trans que se tem, atualmente, à disposição no Brasil.

"À medida que sofrem rejeições de empregos, sofrem violências dentro do mercado de trabalho, do setor da educação e também na área de assistência em saúde, quando tentam acessar a atenção primária, essas pessoas sofrem também experiências de estigma, e tudo isso junto, coloca essas pessoas em uma posição social de vulnerabilidade aos piores males que nossa sociedade tem. E a fome é um deles, apesar de a gente não [ter] esse resultado de forma nacional, porque nossos inquéritos, por muito tempo, também não mostram essa população. É uma população que está invisibilizada", afirma Gomes, que é doutor em saúde pública.

O Brasil voltou, este ano, para o Mapa da Fome da ONU. Mais da metade da população vive em situação de insegurança alimentar, enquanto milhões amargam a miséria e pobreza extrema. A fome é, novamente, uma chaga de nossa sociedade cada vez mais presente, como reflexo de uma pandemia devastadora. Combatê-la se faz imperativo e urgente, uma vez que, com fome, ninguém tem capacidade de trabalhar, estudar nem viver. A fome não só mata, ela tira a perspectiva de futuro.

Senti fome na minha infância, embora não possa dizer que vivia na miséria. Éramos muito pobres, em uma cidade no interior da Paraíba. Minha família precisou sair de lá para fugir da seca, meus pais sempre em busca de melhores condições. Conseguimos vencer e melhorar de vida. Mas sempre me pego imaginando a vida de outras pessoas que não tiveram o mesmo destino. A fome dói, amarga. Mais que isso, ela debilita, faz minar as forças, o que desencadeia um ciclo de “afundamento”: com fome, não se consegue desenvolver atividades que levem ao sustento. Esse é um ponto que carece de muita atenção.

O ponto principal é: falar na fome não é só falar na falta de alimento, mas também na falta de desenvolvimento – pessoal, profissional, econômico. Segundo a ciência, na infância, a falta de alimentação correta retarda o desenvolvimento cerebral, com consequências até irreversíveis. Na adolescência, pode afetar o crescimento do indivíduo. E esse é um grave problema. Com uma parcela tão grande da população que atualmente não consegue se alimentar bem, não é estranho dizer que a situação pode ter impactos a médio prazo, inclusive, no mercado de trabalho e na economia, caso não se resolva. A mão de obra cada vez mais incapacitada é uma perspectiva extremamente triste. Não se pode deixar que isso ocorra.

Neste momento, é preciso um esforço extra do poder público, em todas as esferas, para combater a fome. Não basta conceder auxílios, mas urge a realização de programas e ações estruturantes que prestem assistência aos mais necessitados. É surreal termos mais da metade da população nacional passando por insegurança alimentar, sem saber se vai ter o que comer na próxima refeição. Reverter essa realidade que se apresenta tão duramente vai além de salvar vidas da desnutrição: significa salvar o próprio país de uma crise ainda mais grave. É, em suma, cuidar do nosso futuro.

O Ministério da Cidadania vai fazer uma revisão no cadastro do Auxílio Brasil. O objetivo é cumprir os requisitos do programa e evitar o pagamento às famílias que tenham renda superior ao limite estabelecido.

“Estamos com uma política muito forte nesse batimento de dados, nesse cruzamento de dados para fazer com que o recurso realmente chegue nessas famílias que necessitam”, afirmou o ministro da Cidadania, Ronaldo Bento, em entrevista ao programa Brasil em Pauta, apresentado pelo jornalista Paulo La Salvia, que vai ao ar neste domingo (11), na TV Brasil. 

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O trabalho de fiscalização envolve um conjunto de órgãos, como Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU) e Polícia Federal. O cruzamento de informações no Cadastro Único (CadÚnico) perpassa 34 fontes de dados. 

Os pagamentos do Auxílio Brasil, no valor de R$ 600, começaram em agosto a famílias que se enquadram no perfil de vulnerabilidade social previsto no programa. Essas famílias também tiveram direito ao Vale Gás no valor de R$ 110. Esses valores são resultados de Emenda Constitucional, promulgada pelo Congresso Nacional, que ampliou o volume de benefícios destinados à população de baixa renda no país.

  O ministro explicou que o Auxílio Brasil busca promover uma mudança social alicerçada na autonomia das pessoas de forma que os incentivos possam ser também uma alavanca, uma porta de saída. “O principal eixo do programa é trazermos oportunidades para as famílias, com essas oportunidades elas conseguem gerar renda própria e renda é sinônimo de liberdade”, disse. 

Segundo o ministro, hoje, todas as famílias na pobreza e na extrema pobreza estão recebendo o benefício. Ele explicou que as famílias que ainda não recebem o benefício devem se dirigir a um Centro de Referência em Assistência Social (Cras), nos municípios, para serem inscritas no CadÚnico, banco de dados que é uma porta de entrada para os programas sociais. O pré-cadastro também pode ser feito por meio do aplicativo Cadastro Único. A projeção do Ministério da Cidadania é chegar a 21 milhões de famílias recebendo o Auxílio Brasil até o final do ano.

Segurança alimentar Durante a entrevista, Ronaldo Bento falou ainda sobre o programa Alimenta Brasil, que tem como finalidade ampliar o acesso à alimentação para a população em situação vulnerável e incentivar a produção de agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, povos indígenas e demais populações tradicionais. 

“O programa visa combater a insegurança alimentar fomentando a produção local de alimentos. Isso faz com que a gente tenha um alimento saudável sendo entregue a essa população de maneira mais rápida”, disse o ministro. “A gente garante a compra desses produtos para fins de entrega a bancos de alimentos e, a partir dali, vai para a merenda escolar, vai para toda essa rede de segurança alimentar. É um sistema de segurança alimentar que nós temos”, completou. 

Ainda sobre o assunto, o ministro da Cidadania ainda comentou sobre a importância do Brasil na produção de alimentos em escala mundial, sendo o país um dos maiores produtores do planeta. “Produzimos um a cada cinco pratos de alimento no mundo. Sem o Brasil hoje o mundo passa fome”, destacou Ronaldo Bento. 

O Brasil em Pauta vai ao ar neste domingo (11) às 22h30.

Um estudo realizado em Salvador por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) revelou que os lares chefiados por mulheres negras são os mais ameaçados pela fome: 21,2% deles têm insegurança alimentar moderada ou grave e outros 25,6% possuem insegurança alimentar leve.

Somadas as duas categorias, os dados indicam que preocupações em relação ao acesso à comida em quantidade e qualidade estão presentes em mais da metade desses domicílios.

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Os resultados do estudo constam de artigo científico publicado na edição de hoje (5) da Revista Cadernos de Saúde Pública, editada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Os pesquisadores trabalharam com uma amostra de 14.713 domicílios em 160 bairros da capital baiana. Um questionário com 62 perguntas foi aplicado de forma presencial e online. A coleta de dados ocorreu entre 2018 e 2020.

Gravidade

Os pesquisadores utilizaram a classificação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). A situação é considerada grave quando há ocorrência de fome ou quando a quantidade de alimentos para as crianças é restrita, moderada quando os alimentos para adultos são restritos e leve quando as pessoas não sabem se terão acesso à comida num futuro próximo.

Já a segurança alimentar se configura quando há acesso à alimentação em quantidade e qualidade. Essa situação está mais presente em lares chefiados por homens brancos. Em 74,5% deles, não há preocupações relacionadas com a comida.

A nutricionista Silvana Oliveira, uma das pesquisadoras que assina o artigo, explica que diversos estudos comprovam que a insegurança alimentar se relaciona com fatores socioeconômicos como renda e escolaridade. Ela pondera, no entanto, que eles não explicam tudo e a discriminação racial também deve ser considerada.

"As pessoas ainda têm uma visão que o lugar da mulher negra é no trabalho doméstico. São alguns estereótipos que estão associados, por exemplo, à falta de oportunidades de ter melhor renda. Mesmo que tenha a escolaridade igual a de uma mulher branca, a mulher negra tende a ter um salário menor porque paira no imaginário social que ela tem uma menor valoração", analisa.

Segundo Silvana, para ter efetividade, as ações para combater a fome precisam estar associadas ao reconhecimento da desigualdade racial e ir além de medidas universais que desconsideram especificidades.

"As políticas públicas devem incorporar a interseccionalidade, que é esse olhar para as diferenças dentro dos grupos e para a interação entre os diferentes eixos de opressão. A desigualdade racial afeta toda a população negra. Mas também existem demandas específicas da mulher negra. E é preciso levar em conta essas demandas que estão sendo colocadas", diz.

Desigualdade racial

Embora a pesquisa tenha se debruçado sobre a realidade de Salvador, a nutricionista afirma que os resultados dialogam com dados que documentam a desigualdade racial no país.

Além disso, explica que o referencial teórico foi composto com estudos nacionais. "Considero que a pesquisa veio para somar e contribui para a discussão do quadro de insegurança alimentar não apenas de Salvador, mas do Brasil", afirma.

Ao mesmo tempo, ela observa que as características específicas da capital baiana foram levadas em conta. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com aproximadamente três milhões de habitantes, Salvador tem 80% de sua população autodeclarada preta ou parda.

Dentre os 14.713 domicílios que compuseram a amostra da pesquisa, a maioria (50,1%) tinha como responsável uma mulher negra, seguida de homem negro (35,4%), mulher branca (8,3%) e homem branco (6,2%). "Apesar de ter uma população majoritariamente negra, Salvador tem uma desigualdade muito profunda que não foi enfrentada", finaliza Silvana.

O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado nesta quarta-feira (8) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), alertou para o aumento da fome no país. Segundo o estudo, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer diariamente.

Em números absolutos, 14 milhões de pessoas passam fome no Brasil, constituindo aproximadamente 15% das famílias. A pesquisa também identificou que 125,2 milhões de brasileiros, equivalente a 58,7% da população, vivem em insegurança alimentar. Os índices se equiparam à realidade vivenciada na década de 90, apontou a PENSSAN.

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O ex-presidente Lula (PT) se posicionou sobre os dados e lembrou que seu governo priorizou a garantia alimentos à população. "[...] tiramos o Brasil do Mapa da Fome. Mas infelizmente nosso país andou para trás e o flagelo da fome voltou para 33 milhões de pessoas. Vamos ter que reconstruir nosso país", escreveu em seu perfil nas redes sociais.

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Na primeira versão da pesquisa, divulgada em abril do ano passado, 19 milhões de brasileiros não tinham o que comer em 2020 e 10,3 milhões em 2018. Um aumento que corresponde a cerca de 9 milhões.

A PENSSAN indicou que a falta de atuação da gestão federal influenciou para o aumento da fome no país. “A continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19 tornaram o quadro desta segunda pesquisa ainda mais perverso”, destacou a instituição. "Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, acrescentou a médica epidemiologista e pesquisadora Ana Maria Segall.

A fome no Brasil voltou a patamares registrados pela última vez nos anos 1990, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, lançado nesta quarta-feira, 8. Atualmente 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer no País; 14 milhões a mais do que no ano passado. A nova edição da pesquisa mostra ainda que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderado ou grave).

Especialistas que participaram do levantamento dizem que o desmonte de políticas públicas por parte do governo, o agravamento da crise econômica, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia contribuíram para a piora do quadro. No ano passado, o número de brasileiros que não tinham o que comer era de 19 milhões. Em 2018, eram 10 milhões. A falta de acesso regular à água para beber e cozinhar, a chamada insegurança hídrica, também é um problema para 12% da população brasileira.

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"Já não fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013 reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros (tirando o País do mapa da fome mundial)", explica o coordenador da Rede Penssan, Renato Maluf. "As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante do cenário de alta inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulneráveis."

Como explica a gerente de programas da Oxfam-Brasil, Maitê Gauto, a pandemia surgiu neste contexto de agravamento da pobreza e o estado não tinha mais estruturas para responder à altura. Não por acaso, 15,9 milhões de pessoas (8,2% da população) relataram "sensação de vergonha, tristeza ou constrangimento" por terem sido obrigadas a usar de meios "social e humanamente inaceitáveis para obtenção de alimentos".

A pesquisa é realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), com execução em campo do Instituto Vox Populi, Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Oxfam, entre outras instituições. Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, por meio de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios distribuídos pelos 26 estados e o Distrito Federal. A pesquisa usa a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), a mesma usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa anterior, de 2020, mostrava que a fome no Brasil tinha voltado a patamares equivalentes aos de 2004. Este ano, o levantamento mostra que apenas quatro em cada dez domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação; ou seja, são considerados em condição de segurança alimentar. De acordo com os pesquisadores, os números atuais são similares aos do início da década de 90, quando o Brasil tinha 32 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou uma campanha nacional contra a fome.

"O Auxílio Brasil não responde à altura do problema; embora seu valor seja maior do que o do Bolsa Família, a cobertura dele é bem menor", explica Maitê Gauto, da Oxfam-Brasil. "Além disso, até o ano passado, um salário mínimo era suficiente para que a pessoa não entrasse em situação de fome; nesta pesquisa, isso já mudou, o valor da cesta básica já está batendo o do salário mínimo."

A nova pesquisa mostra que a fome atinge as regiões do País de forma muito desigual. Em média, 15% dos brasileiros estão abaixo da linha da pobreza. O porcentual, entretanto, chega a 25% e 21% no Norte e no Nordeste. A situação também é pior entre os negros e as mulheres.

Segundo o levantamento, 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com alguma restrição alimentar. Comparando com o primeiro inquérito, a fome saltou de 10,4% para 18,1% dos lares comandados por pretos ou pardos.

As diferenças também são expressivas na comparação entre lares chefiados por homens e por mulheres. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares em que os homens são os responsáveis, o salto foi de 7,0% para 11,9%. Segundo os pesquisadores, isso ocorre por conta da desigualdade salarial entre os gêneros.

Outro dado preocupante levantado pelo estudo é que, em pouco mais de um ano, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos de idade - passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atinge 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.

Praticamente não há fome nas famílias com renda superior a um salário mínimo por pessoa. Em 67% desses domicílios o acesso a alimentos é pleno e garantido. Ainda assim, 33% das famílias enfrentam algum grau de insegurança alimentar. A fome é maior nas casas em que a pessoa responsável está desempregada (36,1%), trabalha na agricultura familiar (22,4%) ou tem emprego informal (21,1).

Cerca de metade das famílias que deixaram de comprar arroz, feijão, vegetais e frutas nos últimos três meses, convivem com insegurança alimentar moderada ou grave. Entre as famílias que deixaram de comprar carne nos três meses anteriores à pesquisa, 70,4% estavam passando fome. Dados semelhantes foram encontrados nos lares onde os moradores não haviam comprado frutas (64%) e vegetais (63,6%).

"Esse é outro problema sério", diz a professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ, Rosana Salles, pesquisadora da rede. "Estamos abrindo uma janela para o aumento dos índices de doenças crônicas na população por conta da alimentação ruim."

A segurança alimentar, por sua vez, é maior nos lares em que o chefe da família trabalha com carteira assinada (53,8%) e entre os que têm mais de oito anos de estudo (50,6%).

"Reverter essa situação é um desafio muito grande", constata Rosana Salles. "Vai depender da reestruturação das políticas de governo, das políticas de combate à fome e à miséria, da valorização do salário mínimo, do controle dos preços da cesta básica. Além, é claro, da reestruturação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea)."

Maitê Gauto lembra ainda que medidas emergenciais devem ser tomadas o mais rapidamente possível. "Precisamos de programas de proteção social e transferência de renda para que essas pessoas possam se manter com dignidade enquanto a recuperação econômica não acontece; precisamos garantir as condições mínimas de sobrevivência para as famílias", diz. "É preciso também qualificar o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que também vem sendo desmontado."

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A fome cresce no Brasil em meio à pandemia da Covid-19, com mais da metade da população vivendo a insegurança alimentar, sem ter acesso pleno e permanente a alimentos. Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), são mais de 19 milhões de brasileiros passando fome atualmente.

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Na tentativa de diminuir a fome e possibilitar que moradores das comunidades mais carentes de Pernambuco recebam alimentos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou, em março de 2020, vários projetos como o "Marmitas Solidárias"  e o "Roçado Solidário", sendo este último responsável pelas plantações dos alimentos que são distribuídos para a Rede de Bancos Populares de Alimentos que tem dezenas de bancos descentralizados.

Assentamento Che Guevara, em Bonito, Região Metropolitana do Recife. Foto Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Nova remessa

Na manhã desta quinta-feira (14), como parte da Jornada Nacional de Soberania Alimentar, os movimentos populares que integram a Via Campesina fizeram a doação de 10 toneladas de alimentos produzidos nos assentamentos e acampamentos da reforma agrária para 19 bancos populares espalhados no Grande Recife. 

Vani Souza, integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), afirmou que "nós temos como proposta mudar esse cenário. Não vamos permitir, num país com terras agricultáveis, de camponeses e camponesas, ver 20 milhões de pessoas passando fome por um projeto de morte do capitalismo, do agronegócio e de Bolsonaro". 

Jaime Amorim, que integra a Direção Nacional do MST e da coordenação da Via Campesina Internacional revelou que "não basta ter segurança alimentar, fazer com que o alimento chegue a todas as partes do mundo. É necessário que ele seja saudável, tenha boa relação com o meio ambiente, que as pessoas sejam respeitadas, que quem produz alimentos tenha direitos. A soberania alimentar é um princípio da vida componesa", detalha.

 

Um em cada três afegãos sofre insegurança alimentar devido aos efeitos combinados da guerra e da mudança climática, afirmou a representante do Programa Mundial de Alimentos (PMA) no Afeganistão, Mary-Ellen McGroarty.

Além do conflito, os afegãos já enfrentam uma grave crise alimentar e 2021 é um "ano extremamente difícil", disse McGroarty à AFP em uma entrevista por telefone de Cabul.

Além das consequências econômicas da pandemia de Covid-19, "o país enfrenta a segunda seca severa em três anos. As pessoas ainda se recuperam da seca de 2017/2018", afirmou.

"Aconteceu uma redução de 40% da colheita de trigo, resultado de um dos invernos mais secos dos últimos 30 anos. Tivemos pouca neve em Cabul este ano, o abastecimento de água na época de degelo é muito escasso", disse, antes de citar um "impacto devastador para o gado".

Esta situação está logicamente agravada pelo conflito que afeta todo o país, com "agricultores que não podem fazer a colheita e que fugiram de suas casas", assim como "plantações destruídas".

A destruição de infraestruturas, como pontes, represas e estradas, também compromete o acesso aos alimentos, lamentou a representante do programa da ONU.

A insegurança alimentar grave, em que as pessoas relataram chegar a passar fome, atingiu 4,6% dos domicílios brasileiros, o equivalente a 3,1 milhões de lares, em 2017-2018. Esse percentual significa que 10,3 milhões de pessoas residem em domicílios nessa situação, sendo 7,7 milhões moradores na área urbana e 2,6 milhões na rural.

Os dados constam da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, divulgada hoje (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A insegurança grave aparece quando os moradores passaram por privação severa no consumo de alimentos, podendo chegar à fome.

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Em 2017-2018, dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 36,7%, o equivalente a 25,3 milhões de lares, estavam com algum grau de insegurança alimentar: leve (24%, ou 16,4 milhões), moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou grave (4,6%, ou 3,1 milhões).

Segundo o IBGE, na população de 207,1 milhões de habitantes em 2017-2018, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões moravam aqueles com alguma insegurança alimentar, assim distribuídos: 56 milhões em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões em domicílios com insegurança alimentar moderada e 10,3 milhões de pessoas residentes em domicílios com insegurança alimentar grave.

De acordo com a Escala Brasileira de Medida Direta e Domiciliar da Insegurança Alimentar, a segurança alimentar está garantida quando a família tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Na insegurança alimentar leve, há preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro e qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam a não comprometer a quantidade de alimentos. Na moderada, há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos.

Na insegurança alimentar grave, há redução quantitativa severa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.

Captada por três suplementos da antiga Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a prevalência nacional de segurança alimentar era de 65,1% dos domicílios do país em 2004, cresceu para 69,8% em 2009 e para 77,4%, em 2013.

Já a POF 2017-2018 mostra que essa prevalência caiu para 63,3%, ficando abaixo do patamar encontrado pela PNAD em 2004. A insegurança alimentar leve teve aumento de 33,3% frente a 2004 e 62,2% em relação a 2013. A insegurança alimentar moderada aumentou 76,1% em relação a 2013 e a insegurança alimentar grave, 43,7%.

Segundo o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares, André Martins, o aumento da insegurança alimentar está relacionado, entre outros motivos, à desaceleração da atividade econômica nos anos de 2017 e 2018.

Menos da metade dos domicílios do Norte (43%) e Nordeste (49,7%) tinham segurança alimentar, isto é, acesso pleno e regular aos alimentos. Os percentuais eram melhores no Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%). A prevalência de insegurança alimentar grave do Norte (10,2%) era cerca de cinco vezes maior que a do Sul (2,2%).

A rede geral de esgotos está presente em menos da metade dos domicílios em insegurança moderada (47,8%) e grave (43,4%). Em ambos os casos, a existência de fossa não ligada à rede é bastante relevante (43%).

O uso de lenha ou carvão na preparação dos alimentos foi mais frequente nos domicílios com insegurança alimentar moderada (30%) e grave (33,4%). Já o uso de energia elétrica foi mais frequente (60,9%) nos lares em segurança alimentar e menos (33,5%) nos lares com insegurança alimentar grave.

A POF pediu a avaliação subjetiva (bom, satisfatório ou ruim) dos moradores sobre seus padrões de alimentação, moradia, saúde e educação. Quase a metade (49,7%) das famílias com insegurança alimentar grave classificaram como ruim o seu padrão de saúde, enquanto quase dois quintos (33,9%) dessas famílias avaliaram como ruim o seu padrão de alimentação.

Mais da metade dos pernambucanos vive em domicílios com insegurança alimentar, ou seja, sem acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequadas, é o que mostram os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 divulgados nesta quinta-feira (17) pelo IBGE. O levantamento também aponta que 661 mil pernambucanos, ou seja, 7% da população mora em residências com insegurança alimentar grave, que leva à fome.

O percentual de domicílios em Pernambuco que se encontravam em algum grau de insegurança alimentar quase dobrou em cinco anos, passando de 25,9% em 2013 para 48,3% em 2017-2018. Nessas residências, moravam 4,8 milhões de pessoas, ou seja, 52% da população do estado.

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A pesquisa utiliza a classificação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), considerando o período de referência dos três últimos meses anteriores à data da entrevista. São domicílios considerados em condição de segurança alimentar aqueles em que os moradores têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Entre 2017 e 2018, 1,4 milhão de lares em Pernambuco tinha algum grau de insegurança alimentar. Das pessoas que viviam em lares com restrições no acesso à comida, 2,9 milhões (30,8% do total da população) habitavam locais com insegurança leve, 1,3 milhão de pessoas (14,2%) moravam em domicílios com insegurança alimentar moderada e 661 mil pessoas (7%) residiam em lares com insegurança alimentar grave. Com isso, houve um aumento de 156% no número de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave entre 2013 e o período 2017-2018, passando de 777 mil para 1,9 milhão de pessoas em Pernambuco. Este também é o pior desempenho do estado desde 2004, quando apenas 43% dos domicílios tinham segurança alimentar.

Os lares com insegurança alimentar leve são aqueles com alguma preocupação com a quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis, tendo incerteza quanto ao acesso no futuro. Nas casas com insegurança alimentar moderada, os moradores conviveram com restrição quantitativa de alimento entre adultos. Já nos domícilios com insegurança alimentar grave, além dos membros adultos, as crianças também passavam pela privação de alimentos, levando à fome.

A pesquisa registrou, no período 2017-2018, pouco mais de 3 milhões de domicílios particulares no estado. Destes, 1.5 milhão (51,7%) estava em situação de segurança alimentar. Nesses lares, moravam aproximadamente 4,5 milhões de pessoas. A comparação com 2013, a última vez em que o tema foi investigado pelo IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), aponta o salto no contingente de pernambucanos que passaram a se preocupar em conseguir comida. Naquele ano, eram 74,1% dos domicílios - nos quais viviam 6,5 milhões de pessoas - em situação de segurança alimentar. Isso significa que, em meia década, cerca de 2 milhões de pernambucanos passaram a ter algum tipo de restrição no acesso à alimentação.

A piora nos índices de segurança alimentar não é exclusiva de Pernambuco. Na região Nordeste, 50,3% dos lares estavam em situação de insegurança alimentar em 2017-2018, contra 46,1% em 2009 e 38,1% em 2013. A mesma tendência ocorreu em quase todos os estados brasileiros, exceto no Piauí, única localidade onde a proporção de domicílios com insegurança alimentar diminuiu entre 2013 e 2017-2018. Com esse desempenho negativo, a porcentagem de domicílios brasileiros que tinham algum grau de insegurança alimentar também cresceu, chegando a 36,9% das residências, pior número desde o início da pesquisa, em 2004.

Nos primeiros resultados da POF 2017-2018, divulgados em outubro do ano passado, a alimentação respondia por 21,71% das despesas com consumo das famílias pernambucanas. Entre 2008 e 2009 esse índice era de 24,08% e 27,22% em 2002-2003. Isso significa que outras despesas passaram a consumir uma fatia maior da renda das famílias, reduzindo o percentual destinado a alimentação.

Mazela da pobreza e da distribuição deficitária de renda no Brasil, a fome, historicamente, deixa marcas no corpo e na alma. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50 milhões de brasileiros sofreram algum nível de insegurança alimentar, dos quais, 7 milhões apresentam o nível mais grave.

O problema é a pauta principal do programa Vai Cair No Enem desta semana. Os professores André Luiz (biologia), Josinaldo Lins (química), José Carlos Mardock (história) e Dino Rangel (geografia) explicam, conforme suas disciplinas, como a fome e suas consequências podem ser cobradas na prova do Exame Nacional do Ensino Médio. Confira no vídeo a seguir:

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A combinação de preços altos, conflitos e condições climáticas extremas aumentaram o número de pessoas afetadas pela fome no mundo para 108 milhões em 2016, segundo um relatório elaborado pela ONU e pela União Europeia (UE) e publicado nesta sexta-feira.

Esse total representa um aumento de 35% das pessoas que enfrentam uma "insegurança alimentar grave", cujo número era estimado em 80 milhões em 2015.

A "insegurança alimentar grave" é caracterizada pela desnutrição aguda e pela falta de meios para cobrir as necessidades energéticas de maneira regular, como pode ser o caso das famílias que são obrigadas a matar seu gado para sobreviver.

Esta insegurança alimentar pode se agravar mais ainda neste ano, na medida em que a fome ameaça diretamente quatro países: Sudão do Sul, Somália, Iêmen e o nordeste da Nigéria.

O relatório, que se baseia em várias metodologias de medição, é resultado de uma colaboração entre a UE, várias agências da ONU, a agência americana Usaid e vários organismos regionais especializados.

Entre as condições meteorológicas estudadas figuram principalmente as secas e chuvas irregulares causadas pelo fenômeno El Niño. Mas em nove de dez crises humanitárias de 2016, o maior fator responsável pela fome foi um conflito civil.

Além das regiões ameaçadas pela fome, países como Iraque, Síria (assim como os refugiados sírios nos países vizinhos), Malauí e Zimbábue sofreram com uma generalização da insegurança alimentar.

"Podemos impedir que pessoas morram de fome", disse José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização de Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (Fao), que fez um chamado à "intensificar os esforços para salvar, proteger e investir em meios de subsistência rurais".

"A fome exacerba as crises, causando mais instabilidade e insegurança. O que aparece hoje como um desafio ligado à segurança alimentar se torna depois um desafio ligado à segurança", advertiu Ertharin Cousin, diretora do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas.

"É uma corrida contra o tempo, o mundo deve agir agora para salvar as vidas e os meios de subsistência de milhões de pessoas", alertou.

Mais da metade (55,6%) dos adultos quilombolas estão em situação de insegurança alimentar no Brasil. Os dados estão no estudo Quilombos do Brasil: Segurança Alimentar e Nutricional em Territórios Titulados, lançado nesta quinta-feira (20) pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). A publicação apresenta a pesquisa sobre a situação alimentar e nutricional em comunidades quilombolas e o acesso delas a serviços e programas governamentais, além do perfil socioeconômico das famílias e comunidades.

Entre crianças e adolescentes, 41,1% da população estudada estão na mesma situação de insegurança alimentar. Quando analisada por regiões, a maior taxa é encontrada no Baixo Amazonas (79,1%), e a menor em comunidades do Semiárido (15,9%). O estudo também engloba o nordeste paraense, com 43% das crianças vulneráveis, o norte maranhense (45,7%), o norte Semiárido (31,7%) e o Centro-Sul (18%).

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“O quadro vivenciado pelo Baixo Amazonas é gravíssimo quando se constata que a cada cinco residências, quatro têm crianças com carência alimentar – fome. As regiões nordeste paraense, norte maranhense e norte Semiárido têm frequências elevadas, e no Semiárido e Centro-Sul os valores são expressivamente mais baixos, porém observa-se a existência dessa situação”, diz o estudo.

A coleta em campo foi realizada em 2011, em 55 municípios de 14 estados. Foram visitados 97 territórios quilombolas, nos quais vivem 40.555 pessoas, em 9.191 domicílios distribuídos em 169 comunidades. O levantamento leva em conta as comunidades que receberam o título de posse coletiva da terra, entre 1995 e 2009, e também apresenta dados sobre o estado nutricional das crianças menores de 5 anos.

O estado nutricional de uma pessoa é o reflexo da ingestão, absorção e utilização dos nutrientes dos alimentos, e a população quilombola estudada apresentou maior déficit de estatura em crianças. “O déficit de estatura reflete a desnutrição crônica em crianças. Para o conjunto das regiões estudadas, 2,4% das crianças investigadas apresentaram este diagnóstico, sendo que o Semiárido apresentou déficit nutricional ainda maior, com frequência de 5,9%”, diz o estudo.

O risco de sobrepeso e obesidade também é evidenciado nas comunidades. Para o total de crianças avaliadas, uma em cada cinco apresenta sobrepeso, apesar da grande vulnerabilidade econômica e social destas populações. “Os quilombos do Centro-Sul, situados perto de muitos centros urbanos e com alta densidade populacional, têm 32,7% de suas crianças em situação de excesso de peso. Este diagnóstico pode estar refletido na má qualidade da dieta que as crianças têm acesso”.

O sumário executivo da pesquisa está disponível na página da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi) do MDS.

“Os resultados encontrados sinalizam para uma situação de grande vulnerabilidade vivenciada pelos quilombolas. Como fator condicionante, poderiam ser mencionados o isolamento geográfico e social, bem como a baixa integração dos territórios quilombolas com outros espaços geopolíticos dos municípios em que a oferta de bens e serviços públicos é maior. Uma vez que a relação com o território é tão particular para este segmento, a violência decorrente dos conflitos persistentes e dos problemas não resolvidos, em termos de ocupação territorial, agrava este quadro”, de acordo com o sumário.

Segundo a secretária da Seppir, Silvanir Euclênio Silva, os dados do estudo já estão servindo de instrumental para elaborar políticas públicas que resolvam a situação de vulnerabilidade em que os quilombolas se encontram, como a potencialização da capacidade de produção das comunidades.

Ela destaca ainda a importância da apresentação do estudo no Dia Nacional da Consciência Negra, que, segundo ela, é o símbolo da capacidade de superação e da resiliência e insurgência da população negra. “Um povo que foi capaz de construir um herói [Zumbi dos Palmares] e uma data, celebrada de Norte a Sul do país, independente[mente] das instituições, este dia representa a capacidade de resgatar a humanidade que nos foi negada”, disse.

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