Tópicos | Consciência Negra

No Brasil, o 20 de novembro, aniversário de Zumbi dos Palmares, marca o Dia da Consciência Negra, data em que se levantam discussões a respeito dos impactos do racismo na sociedade brasileira, altamente marcada pela escravidão negra. Nesse contexto, o afroempreendedorismo, nome dado ao empreendedorismo de pessoas negras, vem crescendo nos últimos anos junto a outras formas de ativismo antirracista. 

De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro da qualidade e produtividade (IBQP), Sebrae e GEM 2019, a taxa total de empreendedores (TTE) no Brasil entre pretos ou pardos é maior do que a de brancos: há 39% de empreendedores totais, 23,1% de empreendedores iniciais, 15,7% de novos empreendedores, 8,1% de nascentes e 16,5% de empreendedores estabelecidos pardos ou pretos. Quando se trata de empreendedores brancos, os mesmos índices são de, respectivamente, 37,8%, 23,6%, 16,1%, 7,9% e 15,2%.

##RECOMENDA##

Apesar disso, 27,1% dos empreendedores negros começam um negócio movidos pelo desemprego. Há ainda uma parcela de 1,3% que afirma empreender para “fazer a diferença no mundo”. No que diz respeito à renda, 20% dos pretos ou pardos ganham mais de 2 até 3 salários mínimos, 22% recebem mais de 3 até 6 salários mínimos e 8% ganham mais de 6 salários.

LeiaJá também

--> Instituto abre seleção para negros, pardos e indígenas

No dia da Consciência Negra, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ressaltou que a luta pela igualdade e contra o racismo é permanente. Maia destacou que a data traz uma reflexão necessária de que igualdade e representatividade precisam ser diárias. Ele postou o comentário nas suas redes sociais.

“Em tempos de intolerância, o Dia da Consciência Negra traz uma reflexão necessária a todos nós. A data de hoje tem que ser vivida e lembrada todos os dias para não esquecermos nunca que a luta pela igualdade e contra o racismo é permanente. Igualdade e representatividade precisam ser diárias, a todos nós”, afirmou Rodrigo Maia.

##RECOMENDA##

Ontem, João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, foi morto após ser espancado por seguranças da rede de supermercados Carrefour em Porto Alegre.

*Da Agência Câmara de Notícias

 

A universitária Luiza Ventura Lima, de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense, aguarda o término deste semestre para se formar em jornalismo no Centro Universitário Carioca, uma universidade privada que funciona no bairro do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro.

Luíza é negra, seus pais não têm curso superior, assim como os seus avós. Quase com o diploma na mão, ela se recorda do primeiro dia de aula. “Assim que eu cheguei na faculdade minha turma tinha uns setenta alunos. De negro, tinha eu e mais duas pessoas”, recorda.

##RECOMENDA##

Em quatro anos na faculdade, Luiza não teve nenhum professor negro, mas lembra-se de ser atendida por funcionários pretos ou pardos administrativos e da inspetoria, além dos faxineiros da faculdade. “É uma coisa para parar e pensar”, comenta a formanda. Ela vai concluir o curso aos 21 anos, dentro da faixa etária esperada para alunos que não entraram com defasagem de idade e série no curso superior, nem tiveram que trancar algum semestre já na faculdade.

Segundo a pesquisadora Tatiana Dias Silva, autora de estudo sobre ação afirmativa e população negra na educação superior, publicado em agosto pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 36% dos jovens brancos naquela faixa etária estão estudando ou terminaram sua graduação. Entre pretos e pardos, esse percentual cai pela metade: 18%. A Meta 12 do Plano Nacional de Educação (Lei n° 13.005/2014) prevê que, até 2024, 33% da população de 18 a 24 anos estejam cursando ou concluindo a universidade.

A preocupação da especialista é que a desigualdade persista por muito tempo e afete o desenvolvimento do país. “Como sociedade isso é inadmissível. Se a questão racial é um elemento estruturante, ele precisa ser enfrentado. Como a gente pode pensar o projeto de desenvolvimento do país que não incorpora esse desenvolvimento para todos os grupos?”, pergunta em entrevista à Agência Brasil.

A partir da base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo de Tatiana Silva contabiliza que, em 2017, 22,9% de pessoas brancas com mais de 25 anos tinham curso superior completo. A proporção de negros com a mesma escolaridade era de 9,3%.

Aumento de 400%

Outro levantamento, também a partir dos dados do IBGE, feito pelo site Quero Bolsa, informa que - entre 2010 e 2019 - o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%. Os negros chegaram a 38,15% do total de matriculados, percentual ainda abaixo de sua representatividade no conjunto da população – 56%.

O site ainda verifica que, em alguns cursos, a presença de negros não chega a 30%. Esses são os casos de medicina, design gráfico, publicidade e propaganda, relações internacionais e engenharia química.

Lucas Gomes, diretor de Ensino Superior do Quero Bolsa, assinala a importância da política de cotas (Lei nº 12.711/2012), do acesso a programas de financiamento (Programa Universidade Para Todos, o Prouni, e o Programa de Financiamento Estudantil, Fies) e da educação a distância para o crescimento do número de universitários negros na última década. Ele é otimista. “A tendência é que, nas próximas gerações, isso se torne mais perto da realidade”, prevê.

Fora dos cargos de liderança

O diretor assinala, no entanto, que, além de formar mais pessoas negras, é preciso que, após a universidade, o mercado de trabalho contrate mais pretos e pardos. “Ainda temos um abismo de contratação entre pessoas brancas e negras”, alerta. “O último levantamento que o Quero Bolsa realizou, com dados do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados], indica que apenas dois de cada dez profissionais em cargos de liderança em empresas privadas eram negros, em 2018.”

“Nos primeiros seis meses deste ano, de 42 mil vagas de liderança abertas em empresas privadas, apenas 23,7% foram ocupadas por homens e mulheres negros. O restante foi ocupado por brancos, outras etnias ou que não declararam cor", acrescenta Lucas Gomes.

O especialista em diversidade Carlos Paes acrescenta que a evolução no mercado de trabalho ainda tem mais obstáculos para as pessoas negras. “Criamos outras barreiras além da formação em curso superior, como falar outro idioma (inglês)”. Para ele, a ocupação de bons postos de trabalho não aumentou na mesma proporção. “Ainda estamos vendo pessoas negras e pobres em empregos que não correspondem à sua formação”, lamenta.

Efeito simbólico

O ingresso em melhores empregos impacta na renda, na possibilidade de ascensão social e, para muitos, no ingresso na classe média. O aumento de status ainda tem efeito simbólico e duradouro:  abre novas perspectivas para crianças negras e amplia a visão de mundo de crianças não negras, como salienta Janine Rodrigues, educadora, escritora e fundadora da Piraporiando, que trabalha com educação para a diversidade.

“É importante”, acredita, porque mostra a possibilidade de pretos e pardos ocuparem todos os espaços sociais. Segundo a educadora, “quando as crianças veem os negros em todos os lugares da sociedade, elas também constroem a percepção de poder.”

Janine Rodrigues aponta que o racismo institucional e nas interações sociais tem efeitos perversos. “Dia desses um pai me disse que seu filho foi racista com uma coleguinha. Mas que ele, como pai, não sabia o que dizer, pois o filho só tinha cinco anos e, falar de racismo com uma criança de cinco anos era algo muito forte” segundo ele. 

“Ora, se o filho de cinco anos não pode ouvir sobre o racismo, a coleguinha da mesma idade é obrigada a sofrer racismo e ter maturidade? Perguntei. É isso o que o racismo faz. Desumaniza.”

Para a educadora, outro efeito do racismo é limitar conhecimento, diminuir repertórios e alimentar a exclusão social. “Nossa academia, nossas escolas, nosso olhar sobre a cultura (ou a hierarquização dela) ainda têm uma visão eurocentrada. Então, o que representa o negro, a cultura negra, não está dentro. A sociedade está sempre falando de nós como 'os outros'. Tudo isso reflete nas percepções das crianças negras”, alerta.

LeiaJá também

--> Consciência negra: veja 5 questões que já caíram no Enem

--> Intercept lança bolsa para repórteres negros

Nesta sexta-feira (20), o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra. Em alusão à data, a Faculdade UNINASSAU Parnaíba realiza, entre os dias 23 a 27 de novembro, a quarta edição da semana da consciência negra. Este ano, o evento será realizado por meio de palestras on-line - no Instagram -  com a temática "Estado, Diversidade e Racismo".

De acordo com o cientista social e professor da UNINASSAU, Robert Oliveira, o evento tem como objetivo promover um debate sobre a temática. “Queremos desmistificar pensamentos sobre as condições neuróticas da cultura brasileira”, explica.

##RECOMENDA##

As palestras serão ministradas por pesquisadores da área e transmitidas pelo Instagram da UNINASSAU Parnaíba. Não é necessária inscrição prévia para acompanhar o debate.

Programação:

23.11

19h - “Notas sobre as contribuições de Lélia Gonzalez para o debate da condição neurótica da cultura brasileira.” - Palestrante: Jéssica Kellen;

24.11

19h - “Masculinidades e Necropolítica” - Palestrante: Danilo Eustáquio;

25.11

20h - “O reencontrar-se" - Palestrante: Dinara Carvalho;

26.11

19h - “Genocídio dos Povos Tradicionais de Matriz Africana” - Palestrante: Iya Oyaiyele;

27.11

19h - “Educação e pretitude: os lugares da discriminação racial na escola.” - Palestrante: Jessica Luana.

*Da assessoria

O negro que reconhece sua origem comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, nesta sexta-feira (20), e carrega a data como um marco de resistência em busca de respeito e representatividade social. No cenário político, houve o aumento de 2% de vereadores negros eleitos em 2020. Ao todo, 50 quilombolas venceram nas urnas e 44% das cadeiras municipais das capitais serão ocupadas por negros, com destaque para Carol Dartora - primeira vereadora negra de Curitiba, no Paraná - e Dani Portela - a vereadora mais votada do Recife, que integra o índice de 28% dos negros eleitos ao cargo na cidade.

Em caminho expresso para a conquista do protagonismo político, o atual avanço dos negros na administração pública é resultado da prévia articulação diversas personalidades, que consolidaram o espaço e quebraram paradigmas ao longo da atuação pública. O LeiaJá fez um breve resumo de algumas destas figuras, acompanhe:

##RECOMENDA##

1- Abdias do Nascimento

Natural de Franca, Interior de São Paulo, Abdias é considerado o primeiro senador negro, eleito em 1997. Em 1983, ele já havia ocupado o cargo de deputado federal, pelo Rio de Janeiro.

Com status de ativista, ele foi um dos responsáveis por instituir o Dia Nacional da Consciência Negra, no dia 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, fundou o Teatro Experimental Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN), o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), idealizou o Memorial Zumbi e o Movimento Negro Unificado (MNU), atuou na Frente Negra Brasileira. Chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010.

Com uma extensa carreira acadêmica no exterior, Abdias é um dos fundadores do PDT no Brasil e também foi um dos principais atores no processo de criação da Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura para assuntos afro-brasileiros.

2- Antonieta de Barros

Nascida em Florianópolis, Santa Catarina, Antonieta foi professora e fundou diversos jornais para defender ideais feministas na região. Em 1934, participou da primeira eleição em que mulheres poderiam votar e ser votadas para cargos no Executivo e Legislativo e conseguiu ser eleita deputada estadual em 1935 e em 1947. Sua vitória representa o primeiro acesso de uma candidata negra à Câmara.

Em 1935, ela foi constituinte e ajudou a redigir os capítulos Educação e Cultura e Funcionalismo da nova Constituição. Dois anos mais tarde, a deputada presidiu a Sessão da Assembleia Legislativa e torna-se a primeira mulher a assumir a presidência de uma Assembleia no Brasil.  

Antonieta ainda é autoria da lei do Dia dos Professores em Santa Catarina, comemorado no dia 15 de outubro, que mais tarde seria reconhecida no restante do país.

3- Nilo Peçanha

Eleito vice-presidente, após a morte do mandatário nacional Afonso Pena, assumiu o cargo e tornou-se o primeiro presidente negro do Brasil, em 1909. Vale destacar que neste período, o vice também era escolhido pelo povo.

Seu mandato durou cerca de um ano, com destaque para avanços importantes como a criação do Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, do Serviço de Proteção aos índios (SPI), que antecedeu a Fundação Nacional do índio (Funai). O carioca dos Campos dos Goytacazes, também inaugurou a primeira escola técnica do Brasil, o que lhe concedeu a honraria de patrono da Educação Profissional e Tecnologia no país.

O ex-presidente ainda foi governador do Rio de Janeiro por duas ocasiões, também foi senador e ministro das Relações Exteriores.

4- Pedro Augusto Lessa

Lessa é considerado o primeiro negro do Supremo Tribunal Federal, quando foi nomeado em 1907. Ainda em 1891, ele assumiu a chefia da Polícia de São Paulo e chegou a ser eleito deputado ao Congresso Constituinte, sendo um dos principais colaboradores das leias nacionais, assim como Antonieta.

Natural de Serro, em Minas Gerais, como ministro do STF, Lessa conseguiu ampliar o estatuto do Habeas-corpus a casos não previstos na Constituição brasileira de 1891, contribuindo para a criação do mandado de segurança.

Ele ainda colaborou com o ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e chegou a ocupar a 11 da Academia Brasileira de Letras.  

5- Benedita da Silva

Benedita foi eleita a primeira senadora negra do Brasil, em 1994. Atual deputada federal, antes ela já assumiu a vice governadoria e, posteriormente, foi governadora do Rio de Janeiro entre 1998 e 2002.

A pioneira iniciou na política como vereadora, em 1982, após ser militante da Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro. Em 86, ela foi eleita deputada federal e conseguiu ser reeleita em 90.

A deputada chegou a presidiu a Conferência Nacional de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em 2001, e assumiu a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial.

Durante a pandemia da Covid-19, Benedita foi autora da Lei de Emergência Cultural Aldair Blanc, para mitigar os impactos econômicos à classe artística.

7- Gilberto Gil

O cantor e compositor nascido em Salvador, na Bahia, foi ministro da Cultura em 2003 e reafirmou a luta em defesa da cultura popular do Brasil, mesmo criticado por personalidades do meio artístico.

Em uma carreira musical com mais de 50 álbuns, Gil idealizou o movimento Tropicalista e expandiu a Cultura do negro brasileiro em todo o mundo. O que poucos se lembrar é que o ex-ministro já tinha sido eleito vereador em sua cidade natal, em 1989.

Ele já foi embaixador da ONU para Agricultura e Alimentação e foi nomeado pela UNESCO como "Artista pela Paz", em 1999.

8- Marina Silva

Uma das líderes do movimento ambientalista no Brasil, Marina firmou parceria com Chico Mendes em defesa da Amazônia. Ela largou o sonho de ser freira para ajudar a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre, em 1984, quando mobilizou seringueiros e trabalhadores rurais.

Em 1988 e em 1990, bateu recordes de votação, quando foi eleita vereadora e deputada estadual no Rio Branco. Com apenas 35 anos, em 1994, tornou-se a senadora mais jovem do país, conquistando a reeleição em 2002. No ano seguinte, assumiu o Ministério do Meio ambiente e carrega como conquista o Plano de Ação para Prevenção e o Controle do Desmatamento da Amazônia Legal.

Em 1996, Marina foi premiada com o Goldman, equivalente ao Nobel do Meio Ambiente. Em 2007, o jornal britânico "The Guardian" a incluiu em uma lista com as 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta. No mesmo ano, conquistou o principal prêmio da ONU na área ambiental.

9- Jean Wyllys

O professor universitário de Alagoinhas, no Interior da Bahia, foi eleito deputado federal do Rio de Janeiro em 2010, 2014 e 2018. Reconhecido nacionalmente após vencer a quinta edição do Big Brother Brasil, em 2015 foi classificado pela revista britânica "The Economist" como uma das 50 personalidades que mais lutam pela diversidade no mundo.

Em 2012 e 2015 foi eleito por internautas como o melhor deputado federal do país. Jean ainda um dos autores dos projetos de lei pelo reconhecimento da união estável e casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a regulação da atividade dos profissionais do sexo.

Embora eleito em 2018, ameaças de opositores o fizeram desistir do terceiro mandato e saiu do Brasil para prosseguir com a carreira acadêmica. No mesmo ano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) exigiu proteção à Jean por parte do Governo Federal, diante das constantes ameaças de morte. Antes de deixar o Brasil, ele vivia sob escolta policial.

10- Marielle Franco

Ainda como assessora de Marcelo Freixo, ela assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde prestou auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de assassinatos ou policiais vitimados. Um dos casos de maior repercussão foi a elucidação de um caso envolvendo a morte de um policial civil por um colega.

Eleita vereadora em 2016, com mais de 46 mil votos, naquele ano, Marielle foi a segunda mulher mais votada ao cargo municipal em todo país. Em sua atuação, presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e foi relatora de outra com o objetivo de monitorar a intervenção federal do município. Ela criticava a medida e denunciava constantes abusos e violações aos direitos humanos por parte dos policiais. Em pouco mais de um ano, esteve envolvido em 16 projetos de lei.

Em março de 2018, a vereadora sofreu uma execução e foi morta com três tiros na cabeça e um no pescoço. A motivação para o assassinato segue como mistério, mas os autores foram presos pelas autoridades. Tratam-se do policial reformado Ronnie Lessa - autor dos disparos - e do ex-militar Élcio Vieira de Queiroz - que dirigia o veículo em perseguição. Ambos têm relação com o Presidente Jair Bolsonaro e seus filhos.

A morte de Marielle levantou uma onda mundial de reações, com diversos protestos online e manifestações nas ruas. Na época, sua execução chegou a estremecer a relação econômica entre União Europeia e Mercosul. Em julho, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou a lei que consolidou o dia 14 de março como o Dia Marielle Franco, que representa a luta contra o genocídio da Mulher Negra.

Em 2019, foi agraciada 'in memoriam' pelo Congresso Nacional com o Diploma Bertha Lutz, concedido a mulheres que tenham contribuído na defesa dos direitos femininos e questões de gênero no Brasil. Mais diversas homenagens ressaltaram a importância da atuação da ex-vereadora, que batiza ruas no Brasil e um jardim em Paris, na França.

 

A jornalista e apresentadora Glória Maria usou seu perfil no Instagram para marcar a Semana da Consciência Negra. Com uma foto do início da sua carreira, a profissional relembrou como era “solitário” ser uma das únicas negras no jornalismo da TV e aproveitou para ‘cutucar’ os haters que a criticaram quando se posicionou contra a militância atual. 

Na postagem, Glória marcou a data e falou, de forma orgulhosa, sobre sua vivência. “Na semana da consciência negra muito orgulho de lembrar um tempo em que eu era uma presença quase solitária no telejornalismo”. Ela também aproveitou para alfinetar quem a criticou por ter falado mal da militância atual: “Minha posição simples e direta de combate ao racismo não precisava de likes. Vida que segue”. 

##RECOMENDA##

[@#video#@]

Nos comentários, a jornalista recebeu o apoio e carinho dos seguidores. “Eu só queria ser como você! Mulher poderosa!”; “Você é um exemplo”; “Minha inspiração”; “Excelente profissional, admirável ao extremo”; “Grande ser humano”; “Preta linda ..queria ter um terço da sua gentileza e inteligência você é única”.

A Gerência Regional de Educação (GRE) Mata Centro promove concurso fotográfico “Heranças Negras: olhares fotográficos sobre ancestralidade”. A iniciativa tem como objetivo estimular a percepção, a criatividade e a captura de elementos da cultura africana presentes na vida cotidiana dos estudantes, através de registro fotográfico, bem como vivenciar o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, que são celebrados nesta sexta-feira (20). 

Para participar do concurso, o estudante deve olhar sobre o que há de cultura africana ao seu redor e em sua vida cotidiana, produzir fotos com celular, apresentar a fotografia à turma para debate e reflexão, montar exposição na escola e organizar material para postar no Instagram da GRE Mata Centro. Após realizar todas as etapas, as escolas repassam para a GRE.

##RECOMENDA##

A SEE-PE informou que a ação também visa discutir sobre a importância da herança dos povos africanos na construção da sociedade brasileira, refletir sobre a presença na vida cotidiana do Brasil da herança africana e sobre o respeito a esta como patrimônio cultural material e imaterial ancestral.

O candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Republicanos, Celso Russomanno, afirmou que “foi criado por uma mãe de leite negra e que não há diferença de brancos”. A declaração dada durante uma sabatina promovida pelo UOL, na manhã desta sexta-feira (6), foi em repúdio à ação da Prefeitura para o Dia da Consciência Negra, de colocar imagens com punhos fechados nos semáforos da cidade. Para o republicano, as figuras “polarizam” o tema e remetem ao socialismo.

"Eu não vou polarizar essa questão. Eu fui criado por uma mãe de leite, negra. Eu sou uma pessoa que não vejo diferença entre os negros e os brancos. Tenho grandes amigos que são negros. E tive namorada, inclusive. Eu não tenho problema nenhum com isso. Agora, a prefeitura não pode fazer uma campanha e não dizer para população o que é que ela está fazendo", disse o conservador.

##RECOMENDA##

Russomanno disse que a prefeitura falhou em não comunicar a população sobre a ação em homenagem à data.

"Depois que eu tomei conhecimento do que a Prefeitura queria fazer. A Prefeitura deveria ter feito uma campanha, porque se a gente remeter essa história, nós vamos mostrar que em 1917 Lênin usava o punho fechado como defesa do socialismo", disse. "Esse gesto é um gesto que é tido, ao longo de quase cem anos, como um gesto de esquerda. A gente tem que apagar a história primeiro para depois a gente falar sobre isso."

O punho cerrado é uma representação da luta negra antirracista, com utilização simbólica em diversos momentos históricos, como na guerra civil dos Estados Unidos, na década de 1860, os conflitos raciais em 1950 e os jogos olímpicos de 1968, no México.

Entretanto, para Russomanno, o uso nos semáforos da cidade de São Paulo contraria a legislação de trânsito. "Eles vão responder por crime de improbidade", concluiu o candidato.

A Fundação Cultural Palmares, órgão cultural do governo voltado ao fomento da cultura negra no país, não realizará atividades de comemoração da consciência negra, em novembro.

Segundo publicou a coluna do jornalista Guilherme Amado no site da revista Época, abriu apenas um edital ao longo de 2020 e não terá atividades voltados à comemoração do mês da consciência negra.

##RECOMENDA##

Até agora, o único edital publicado pela organização, de R$ 690 mil, foi voltado para premiar 100 iniciativas de cultura negra no país. Apesar de não ter nada específico voltado à consciência negra, a Fundação afirma que o resultado do edital será divulgado em novembro.

Os dados, informa a coluna, foram obtidos via Lei de Acesso à Informação por Marivaldo Pereira, que é militante do movimento negro e também já foi candidato ao Senado Federal, em 2018, pelo PSOL.

Ao longo da gestão do atual secretário, Sérgio Camargo, a Fundação Palmares mudou de postura em relação às comemorações do 20 de novembro, o dia da consciência negra. Crítico do movimento negro, Camargo, em mais de uma ocasião, se disse favorável a dar mais importância ao 13 de maio, quando se comemora a data da assinatura da Lei Áurea.

O 20 de novembro é considerado pelo movimento negro como uma data mais adequada para comemorar a cultura negra no país por ser uma data que simboliza a resistência contra o racismo no Brasil.

Da Sputnik Brasil

Conscientizar, estimular o debate sobre a representatividade do povo negro e promover o autoconhecimento foram um dos principais pilares que nortearam o Dia da Consciência Negra, que aconteceu nesta quarta-feira (20), no Centro Universitário Joaquim Nabuco, em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife.

O evento, aberto ao publico, contou com palestra, apresentação de grupo de dança, que exaltou a cultura negra, seguido de um desfile étnico-racial com moradores do município. Confira os detalhes na reportagem:

##RECOMENDA##

[@#video#@]

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a condenar, nesta quarta-feira (20), a destruição, pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), de uma placa contra o genocídio negro, nessa terça (19). A arte do cartunista Carlos Latuff é parte de uma exposição sobre o Dia da Consciência Negra, comemorado hoje.

A mostra apresenta a história de diversas personalidades negras do país e está montada no túnel que faz ligação entre as comissões e o plenário principal. A placa tem uma charge do cartunista Carlos Latuff, com um policial de costas com revólver na mão e um jovem negro caído no chão com a legenda 'O genocídio da população negra'. Sob o argumento de que o conteúdo ofendia o trabalho dos policias militares, o deputado gravou um vídeo destruindo a placa e foi alvo de críticas.

##RECOMENDA##

Rodrigo Maia condenou a violência e afirmou que o gesto não pode virar um precedente para outros atos semelhantes, porque desrespeita a livre manifestação artística na Câmara. “Estamos vendo uma solução para esse problema. É lamentável, [ocorrer em] uma exposição que a Câmara autorizou. Uma coisa é fazer uma crítica a uma peça e chegar à conclusão de que ela não está no lugar adequado, outra coisa é tirar essa peça com violência. Então, a gente tem que encontrar um caminho para encerrar esse episódio para que não se repita”, disse.

Sobre a recolocação da placa na exposição, o presidente da Câmara disse que está avaliando o caso com a diretoria responsável pela exposição. “Vamos ver se se consegue encontrar um caminho no qual se respeite o trabalho do artista e valorize nossa polícia. Não devemos generalizar, porque, quando se generaliza contra a política, a gente não gosta, então não deve generalizar a PM [Polícia Militar], mas também não deve generalizar a violência contra as exposições livres”, ponderou.

Nesta quarta-feira, 20 de Novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra, em referência à morte de Zumbi dos Palmares - símbolo da luta pela liberdade e valorização do povo afro-brasileiro. A data, porém, é feriado em apenas alguns dos 5.570 municípios brasileiros - menos de 15%, segundo levantamento do Estado com base em dados da Secretaria Nacional de Políticas Promoção da Igualdade Racial, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

A data foi incluída no calendário escolar nacional em 2003 e, em 2011, a Lei 12.519 instituiu oficialmente o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

##RECOMENDA##

A lei, no entanto, não incluiu o Dia da Consciência Negra no calendário de feriados nacionais, já que o Congresso Nacional não legislou sobre o tema. Cinco Estados - Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro - já aprovaram leis estaduais que determinam o feriado de 20 de Novembro.

Maior Estado do País em população, com cerca de 45 milhões de habitantes, São Paulo comemora o feriado em algumas das 645 cidades, incluindo a capital. Já em Minas Gerais, unidade federativa com maior quantidade de municípios (853), é feriado em apenas 11 cidades. Apesar de ter instituído em 2015 o dia 20 de novembro como o Dia Municipal da Consciência Negra, a prefeitura de Belo Horizonte não considera a data como feriado local e não há suspensão de serviços públicos, por exemplo.

Quem foi Zumbi dos Palmares?

Zumbi foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares, o mais conhecido núcleo de resistência negra à escravidão no Brasil. Palmares surgiu a partir da reunião de negros fugidos da escravidão nos engenhos de açúcar da Zona da Mata nordestina, em torno do ano de 1600. Eles se estabeleceram na Serra da Barriga, onde hoje é o município de União dos Palmares, em Alagoas. Ali, por causa das condições de difícil acesso, puderam organizar-se em uma comunidade que, estima-se, chegou a reunir mais de 30 mil pessoas.

Muitos dos quilombolas eram índios e brancos pobres, segundo a Fundação Joaquim Nabuco. Nabuco foi expoente do movimento abolicionista.

"A vida de Zumbi, o rei do Quilombo dos Palmares, é pouco conhecida e envolta em mitos e discussões", afirma o texto.

Logo, vários dos trechos abaixo são objeto de polêmicas entre os historiadores.

Ao longo do século 17, Palmares resistiu a investidas militares dos portugueses e de holandeses, que dominaram parte do Nordeste de 1630 a 1654. Segundo o historiador Pedro Paulo Funari, no artigo A República de Palmares e a Arqueologia da Serra da Barriga, em 1644, um ataque holandês matou 100 pessoas e aprisionou 31, de um total de 6 mil que viviam no quilombo.

Funari também afirma que o quilombo era chamado pelos portugueses de República dos Palmares, nos documentos da época, e termos como "mocambo" foram posteriormente utilizados no sentido pejorativo.

Quilombo dos Palmares

O quilombo era composto por várias aldeias, de nomes africanos, como Aqualtene, Dombrabanga, Zumbi e Andalaquituche; indígenas, como Subupira ou Tabocas; e portugueses, como Amaro; e sua capital era chamada de Macacos, termo de origem incerta. Zumbi nasceu livre, em Palmares, provavelmente em 1655, e, segundo historiadores, seria descendente do povo imbamgala ou jaga, de Angola.

Ainda na infância, durante uma das tentativas de destruição do quilombo, ele foi raptado por soldados portugueses e teria sido dado ao padre Antonio Melo, de Porto Calvo (hoje, em Alagoas), que o batizou de Francisco e ensinou-lhe português e latim. Aos 10 anos, tornou-o seu coroinha. Com 15 anos, Francisco foge, retorna a Palmares e adota o nome de Zumbi. Aos 20 anos, Zumbi destacou-se na luta contra os militares comandados pelo português Manuel Lopes. Nesses combates, chegou a ser ferido com um tiro na perna.

Em 1678, o governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, propõe a Palmares anistia e liberdade a todos os quilombolas. Segundo o historiador Edison Carneiro, autor do livro O Quilombo dos Palmares, ao longo dos quase 100 anos de resistência dos palmarinos, foram inúmeras as ofertas como essa.

Ganga Zumba, então líder de Palmares, concorda com a trégua, enquanto Zumbi é contra, por argumentar que o acordo favoreceria a continuidade do regime de escravidão praticado nos engenhos.

Zumbi vence a disputa, é aclamado pelos que discordavam do acordo e, aos 25 anos, torna-se líder do quilombo. Ao longo da vida, Zumbi teria tido pelo menos cinco filhos. Uma das versões diz que ele teria se casado com uma branca, chamada Maria. Ao longo de seu reinado, Zumbi passou a comandar a resistência aos constantes ataques portugueses.

Em 1692, o bandeirante paulista Domingo Jorge Velho, uma espécie de mercenário da época, comandou um ataque a Palmares e teve suas tropas arrasadas. O quilombo foi sitiado e só capitulou em 6 de fevereiro de 1694, quando os portugueses invadem o principal núcleo de resistência, a Aldeia do Macaco.

Ferido, Zumbi foge. Resistiu na mata por mais de um ano, atacando aldeias portuguesas, e, em 20 de novembro de 1695, depois de ser traído pelo antigo companheiro, Antonio Soares, Zumbi é localizado pelas tropas portuguesas.

Preso, Zumbi é morto, esquartejado, e sua cabeça é levada a Olinda para ser exposta publicamente. Um dos objetivos de terem feito isso com a cabeça dele era o de acabar com os boatos que corriam entre os negros escravizados de que o líder quilombola era imortal.

Ao longo do século 17, Palmares resistiu a investidas militares dos portugueses e de holandeses, que dominaram parte do Nordeste de 1630 a 1654. Segundo o historiador Pedro Paulo Funari, no artigo A República de Palmares e a Arqueologia da Serra da Barriga, em 1644, um ataque holandês matou 100 pessoas e aprisionou 31, de um total de 6 mil que viviam no quilombo.

Funari também afirma que o quilombo era chamado pelos portugueses de República dos Palmares, nos documentos da época, e termos como "mocambo" foram posteriormente utilizados no sentido pejorativo.

A segunda edição do mês de novembro da Terça Negra celebra a memória de Tia Inês, a africana Inês Joaquina da Costa (Infá Tinuké), matriarca do Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão, considerado o primeiro terreiro de Pernambuco, terceiro do país. A festa integra as comemorações do projeto para o mês da Consciência Negra e acontece no Pátio de São Pedro, no Recife. 

Localizado no bairro de Água Fria, o Ilê Obá Iguntê Sìtio de Pai Adão foi o primeiro terreiro de nação Nagô fundado no Brasil e o primeiro de Pernambuco, criado em 1875. A matriarca da casa, conhecida como Tia Inês, será lembrada e reverenciada, nesta terça-feira (12), em edição especial da Terça Negra, tradicional festa realizada pelo Movimento Negro Unificado com o objetivo de abrir espaço e dar visibilidade à cultura afro brasileira. 

##RECOMENDA##

Nesta terça, participam do evento as nações de maracatu Raízes de Pai Adão e Aurora Africana, os afoxés Omô Inã e Povo de Oguntê, além do Coco das Estrelas e a Escola de Samba Gigantes do Samba. 

Serviço

Terça Negra

Terça (12) - 19h

Pátio de São Pedro, no Recife

Gratuito

É rotineiro falar de quantas pessoas pretas são mortas no Brasil por conta da cor de sua pele. O que não é muito comum neste País é a conquista da justiça para esse mesmo povo que é exterminado, ainda mais quando o culpado por essa morte é o Estado.

Pernambuco, segundo o último levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, registrou um salto das mortes causadas por policiais. Em 2015, foram 45 pessoas mortas pelos agentes. Em 2016, último ano da pesquisa, esse número subiu para 75 pessoas assassinadas pelos policiais.

##RECOMENDA##

Entre elas está Mário Andrade de Lima, de 14 anos, morto pelo ex-sargento reformado da Polícia Militar Luiz Fernando Borges, no dia 25 de julho de 2016. Mario estava brincando de bicicleta com o seu amigo, um adolescente de 13 anos, quando ambos colidiram com a moto do policial, um motivo aparentemente fútil, mas que custou a vida do garoto.

Joelma Andrade de Lima, 36, é a mãe de Mario. Como toda mãe, ela recebeu a notícia da morte do seu filho e ficou em choque, sem acreditar no que ouvia. Sua família foi devastada e a sua filha mais velha quase entra em depressão. “Ela pedia para Deus levar ela porque queria se juntar com o irmão no céu (sic)”, relata Joelma.

Diante de todos esses problemas, mesmo sabendo que não é fácil conseguir justiça no Brasil, ainda mais quando se é preta e favelada, sem condições financeiras para contratar o melhor advogado, Joelma não esmoreceu e perseverou até ver o culpado pela morte de seu filho atrás das grades.

Foram dois anos e quatro meses realizando protestos no Recife, indo de encontro à Justiça e até ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo do Estado. Numa dessas idas, Joelma lembra como trataram o assassinato de seu filho. “Quando cheguei no Palácio mostrei 3 mil assinaturas colhidas para confirmar que meu filho não era bandido, porque o policial tinha dito que meu filho estava armado e iria assaltá-lo. Neste momento o secretário disse pra mim: ‘mãe, se a gente fosse dar conserto à todos os canos estourados na rua?’

Foi nesta comparação do assassinato de Mario com um cano estourado que Joelma, sem acreditar no que tinha ouvido, retrucou: “É, mas esse cano tem dona, e a dona dele sou eu. E já que vocês não podem dar o conserto, eu vou lutar para fazer”. E fez.

Depois de quatro audiências e várias manifestações, com a ajuda da população civil organizada, Joelma viu a Justiça condenar Luiz Fernando Borges a 28 anos e 4 meses de prisão pelo homicídio de Mario e pela tentativa de homicídio contra o outro adolescente de 13 anos, que foi baleado, mas conseguiu sobreviver.

Joelma Andrade furou o sistema e em dois anos conseguiu “solucionar” a morte de seu filho. E isso, infelizmente, também é exceção no Brasil, onde de todos os homicídios dolosos (com intenção de matar), apenas 6% são solucionados, segundo levantamento feito pela organização Sou da Paz.

“Nem eu sei de onde tirei força porque eu lutei contra o Estado. Sou um peixinho diante de um tubarão. Só que aí eu tinha um cardume ao meu redor”, exclama Joelma.

Depois da última audiência que condenou o ex-sargento, agora as advogadas de Joelma - que se propuseram a ajudar sem a mãe de Mario desembolsar um centavo, irão processar o Estado pela morte do adolescente.

A partir de sua história e de sua garra para “honrar” o nome de seu filho, como faz questão de falar, para que assim “ele descansasse em paz”, Joelma acabou se tornando um símbolo de resistência para a periferia que diariamente sofre com as barbáries social e, consequentemente, policial. Mas ela é humilde e não acredita ser a personificação da resistência.

[@#video#@]

“Eu me vejo como uma mãe que lutou e que mostrou para as outras mães que a gente tem voz. Não é porque somos pretas, moradores da periferia que a gente deve ficar calado”, ressalta a mãe de Mario.

Tudo o que passou despertou o desejo para que Joelma ajudasse outras mães a partir da sua história. Agora, após o caso solucionado, além de querer se juntar à outros - retribuindo a força que se somou a ela, Joelma também tenta combater o mal que recebeu, devolvendo o bem para a sua comunidade e para quem ela conseguir estender a mão.

A Consciência no Alto, que é Preto

Contra as comunidades mais periféricas permeiam as dificuldades de raça - principalmente por ser habitada em maioria por pessoas pretas - acesso ao básico, violência, ação policial, tráfico de drogas. É lá onde pesa a desigualdade social.

Entendendo as consequências sociais por serem negros e favelados, o Coletivo Fala Alto, atuante nas comunidades do Alto do Pascoal e Alto Santa Terezinha, “coirmãs” da Zona Norte do Recife, se organizou na vontade de conscientizar essas comunidades, visando o entendimento de uma vida mais digna e reconhecimento do “eu” que representa cada morador das vielas que cortam a região que vive à margem da sociedade.

São 6 jovens. Tem MC, artesã, percussionistas, fotógrafo e estudante de direito compartilhando conhecimento na favela. É assim que eles conseguem conscientizar os seus.

São vários trabalhos que o Fala Alto elabora, mas as discussões sobre o que diz respeito à miséria, machismo, encarceramento e extermínio do povo preto é o que permeia esses encontros, sejam eles em cine debates, rodas de diálogos ou uma simples intervenção comunitária por meio da arte.

[@#podcast#@]

“Diferente do que acontece em vários movimentos sociais, nossa discussão dentro da comunidade não se limita a discussão política (partidária), nem muito menos nos vendemos em épocas eleitorais para conseguir votos para determinado candidato. Esse não é o nosso papel aqui”, aponta Kayo.

“É a partir do que acontece na comunidade e o conhecimento de mundo dos adolescentes (maioria participante dos debates) que a gente tenta elaborar as discussões. A gente debate coisas que a galera saiba do que se trata, como por exemplo a violência policial que os jovens sabem que acontece (tendo muitos deles já sofrido tal repressão)”, relata a estudante de direito Carol Barros, de 22 anos.

O Coletivo Fala Alto, na sua bolha, tenta lutar contra as estatísticas do Brasil. Já que no país, sete em cada dez pessoas assassinadas são negras. Na faixa etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas perdidas para a violência a cada duas horas, segundo aponta a Organização das Nações Unidas (ONU). Estando este extermínio totalmente voltado para as periferias.

O coletivo tenta burlar essas estatísticas, tudo por meio do diálogo e da conscientização de seu povo. São jovens que não entraram nas estatísticas de morte, unidos pela mudança social.

“O mínimo que a gente teve de espaço para conseguir sair, mesmo se arranhando pela brechinha, conseguimos pegar (conhecimento) lá fora e estamos trazendo pra dentro da comunidade”, salienta Kayo.   “Nossa discussão central refere-se a nossa própria vida, nossa própria existência”, complementa Carol.

O Fala Alto acredita que tanto a comunidade do Alto Santa Terezinha, quanto o Alto do Pascoal, são muito grande e passaram muito tempo sem esses debates que estão diretamente ligados com a sua existência. Por isso, confiam na força e consolidação desse movimento, que ainda é novo no bairro - tendo sido criado em abril deste ano.

“A gente quer defender o nosso povo negro que sofre, que é atendido numa casa que foi feita em posto de saúde porque a Upinha está sendo construída há 10 anos. O que queremos é que nossa população busque espaços de forma que ela se sinta representado, não só ter um Compaz (Centro Comunitário da Paz) pra dizer que tem, esse espaço tem que dialogar com a comunidade”, fala Kayo.

Enquanto movimentos sociais se firmam no centro e, juntamente com alguns partidos políticos se esquecem da classe operária que vive massivamente nas periferias, o Coletivo Fala Alto se articula para atender os anseios sociais da favela. É um ponto de resistência e, a cada encontro comunitário promovido para a discussão do que os assola, conscientizam a sua população negra que tanto é marginalizada.

“Não somos nós que moramos numa casa que tem porteiro e interfone para a polícia ligar e perguntar se pode entrar”.

*Fotos de Júlio Gomes e Rafael Bandeira - LeiaJáImagens

A próxima terça (20) será de estreia para os alunos de canto coral da Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Ipojuca. Eles farão seu primeiro concerto oficial no Teatro da Caixa Cultural Recife, homenageando o Dia da Consciência Negra, que é celebrado na mesma data. A apresentação começa às 19h30.

Para a estreia do Coral dos Meninos do Ipojuca foram escolhidos temas que remetem à força da cultura africana e à herança deixada pelo povo negro para a cultura brasileira. O repertório contará com obras compostas por artistas importantes da música nacional como Milton Nascimento e Sandra de Sá, além de músicas populares do continente africano.

##RECOMENDA##

O Coral da Orquestra Criança Cidadã (OCC) Ipojuca é composta por 33 sopranos, 28 contraltos, 23 tenores e 13 baixos. A OCC é um projeto social gerenciado pela Associação Beneficente Criança Cidadã e patrocinado pela Prefeitura do Ipojuca.

Serviço

Coral dos Meninos do Ipojuca na Caixa Cultural Recife, em homenagem ao Dia da Consciência Negra

Terça (20) | 19h30

Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505 - Praça do Marco Zero, Bairro do Recife)

Gratuito

Na partida desta quarta-feira (14) contra o Ceará, na Fonte Nova, o Bahia irá aproveitar para dar continuidade às homenagens do clube ao mês da Consciência Negra. No jogo contra a Chapecoense, no último dia 04, a camisa do time baiano foi estampada por nomes de personalidades negras históricas. 

O destaque do confronto desta quarta-feira (14) será para negros notáveis ainda vivos. Todos os nomes escolhidos realizaram algum tipo de contribuição em diferentes áreas em prol do povo negro. A camisa do Bahia é assinada pela Esquadrão, marca própria do clube.

##RECOMENDA##

Para celebrar o mês da Consciência Negra, novembro, a Terça Negra - evento voltado para a cultura afro realizado no Pátio de São Pedro, no centro do Recife -, terá edições especiais. Durante todas as semanas do mês, o Pátio recebe artistas para promover um verdadeiro desfile de tradições e celebrações de matriz africana.

A programação conta com nomes consagrados como o Mestre Zé Negão e a banda Lamento Negro, além de artistas do Hip Hop e capoeira. No dia 20, o dia em que se celebra a Consciência Negra, o Pátio será tomado durante toda a terça com atividades que vão de exibições de filmes, oficinas, contação de história e shows.

##RECOMENDA##

Programação

Dia 13

Terça Negra

19h – Capoeira

20h – Coletivo Hip Hop Camaragibe

21h – Mestre Zé Negão

22h – Encantaria

Dia 20 – Dia da Consciência Negra

9h às 18h - Feira Afroempreendedora e serviços de saúde (distribuição de preservativos, aferição de pressão e glicemia, vacinação, teste rápido de sífilis, hepatite e HIV, Reiki e auriculoterapia)

9h - Oficina de Dança Afro com Paulo Queiroz

10h – Contação de história – Roma Julia

10h – Olha! Recife – Bairro de Santo Antônio

11h20 às 12h – Microfone aberto

14h às 15h – Microfone aberto

15h – Roda de diálogo o sobre o Papel do Hip Hop no fortalecimento da identidade da população negra, com Zé Brown e Jouse Barata

17h – Maracatu Linda Flor

18h – Espetáculo Tereza

Casa do Carnaval

14h30 - Oficina Juventude Participa

Memorial Chico Science

14h – Exibição de filmes que abordam a questão racial – UNEGRO

Núcleo da Cultura Afro-brasileira

15h - Oficina sobre cuidados com o Cabelo crespo e cacheado e maquiagem – Félix Oliveira

Maquiagem para pele Negra com Gênesis 

Terça Negra

19h – Capoeira

20h – Tambor Falante

21h - Lamento Negro

22h – Lucas & a Orquestra dos Prazeres

Dia 27

Terça Negra

19h – Capoeira

20h – Massapê

21h – Faces do Subúrbio

22h - Marlevou

A Secretária de Saúde de Olinda promove a partir desta quinta-feira (8) ações em referência ao dia da Consciência Negra, que é comemorado no dia 20 de novembro. A data homenageia Zumbi dos Palmares, líder quilombola que se tornou um símbolo de resistência do povo negro em todo o Brasil.

Os eventos serão realizados em terreiros de matriz africana, no Quilombo Xambá e em espaços públicos. O intuito das ações é colocar em evidência e fortalecer a Política Nacional de Saúde da População Negra. A Coordenação de Atenção a Saúde da População Negra do município, em conjunto com a Coordenação de Promoção em Saúde, vai realizar diálogos e orientações, para informar o público e chamando atenção para o tema.

##RECOMENDA##

Debates abordarão assuntos como a saúde nos terreiros, racismo, anemia falciforme, novembro azul e terá também contação de histórias, avaliação nutricional e aferição de pressão. A programação de evento segue até o dia 28.  

por Jéssika Tenório

O centro do Recife recebe, nesta quinta-feira (1º), a 12ª edição da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, tradicional cortejo das religiões de matriz africana. O evento tem como objetivo assegurar a visibilidade e o respeito às religiões de matriz africana, como o candomblé, a jurema e a umbanda.

A celebração começa às 14h com concentração no Marco Zero, onde haverá falas de lideranças, danças e cânticos para os orixás. Por decreto instituído em 2015, a caminhada também celebra a abertura do Mês da Consciência Negra. 

##RECOMENDA##

A caminhada seguirá pela Avenida Marquês de Olinda, Ponte Buarque de Macedo, Praça da República, Dantas Barreto, Avenida Guararapes e Pátio de São Pedro. A celebração é promovida pela Associação Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, com apoio da Prefeitura do Recife, organização do Movimento Negro Unificado e Ilè Egbe Ase Awo.

Em 2017, a Ouvidoria da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) recebeu duas denúncias relacionadas à intolerância religiosa ou preconceito/racismo. Já neste ano, foram computadas 29 notificações do tipo. Para o governo, o crescimento significa que a ouvidoria está sendo mais utilizada pela população.

O projeto “Sons da África” realizará uma série de shows de artistas brasileiros e africanos entre os dias 8 e 24 de novembro, na Caixa Cultural do Recife, com o objetivo de celebrar o mês da Consciência Negra. Os shows serão realizados nas quintas e sexta-feiras às 20h e nos sábados às 18h e às 20h.

Entre os músicos convidados estão a cantora Lenna Bahule, o percussionista Luizinho do Jeje, Mariama, Aiace, Mû Mbana e Tiganá Santana. A apresentação dura 60 minutos, tem classificação indicativa de 12 anos e os ingressos, que custam R$ 30 (meia-entrada a R$ 15) devem ser adquiridos na bilheteria do local.

##RECOMENDA##

Segundo o coordenador e idealizador do projeto, Emílio Mwana, a união de artistas distintos tem por objetivos desfazer ideias pré-projetadas. “Queremos desconstruir estereótipos. Por isso, estarão aqui artistas de países e sonoridades bem distintas. Estamos falando da riqueza de sentidos e referências de um continente que tem mais de 50 países”, explica ele.

O “Sons da África” já foi realizado duas vezes, ambas em Salvador, e de acordo com Emílio, é muito importante e significativo trazer a iniciativa também ao Recife pela importância histórica da cidade para o tema do evento. “Pernambuco, como a Bahia, é uma referência no que diz respeito à preservação da nossa cultura e à difusão de princípios como respeito, tolerância e cuidado com o próximo. Muito além da qualidade das artistas, o projeto vai mostrar que a cultura Africana está impressa na história e na cultura da nossa gente, influenciando a muitas produções artísticas e nos ensinando o respeito e o apreço pelo diferente”, disse ele. 

Serviço

Projeto Sons da África

Quinta (8) até Sábado (24) | Quintas e Sexta-feiras às 20h - Sábados às 18h e às 20h

Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero, Bairro do Recife) R$ 30 (R$ 15 a meia-entrada)

(81) 3425-1915

LeiaJá também

--> Terça Negra homenageia mestre Moa do Katendê

--> Modelos negras são comparadas a escravas em rede social

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando