O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta segunda-feira (28) que começará a analisar esta semana os pedidos de abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Segundo Cunha, há entre 10 e 15 pedidos aguardando avaliação, e "alguns deles" devem passar pelo crivo do presidente da Câmara já nos próximos dias.
"Esta semana já despacho alguns. Não vou conversar com ninguém, vou despachar alguns, ler pareceres, pedir mais e tomar decisões em função do que está colocado lá", afirmou Cunha, após participar de seminário na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O presidente da Câmara, porém, não precisou quantos requerimentos devem ser analisados já nesta semana.
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Na última quinta-feira (24), Cunha leu no Plenário da Câmara o rito de um eventual processo de impeachment. Em uma resposta à questão de ordem apresentada pela oposição, Cunha lista exigências mínimas para a admissão de denúncia de crime de responsabilidade. Há questões formais, como necessidade de firma reconhecida e apresentação de provas, além de indicação de testemunhas, "em número mínimo de cinco, caso necessário", mas não houve resposta a questões de mérito.
Lava Jato - O presidente da Câmara ainda se recusou a comentar seu suposto envolvimento na Operação Lava Jato. No fim da semana passada, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, operador do PMDB no esquema, confirmou em delação premiada que Cunha teria recebido propina de pelo menos US$ 5 milhões por contratos de aluguel de navios-sonda pela Petrobras. A acusação já havia sido feita pelo empresário Julio Camargo.
Cunha tampouco quis comentar notícias veiculadas na imprensa de que teria lucrado R$ 900 mil de forma indevida em operações realizadas com fundos de investimentos movimentados pela Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Cedae, companhia de água e esgoto do Rio. "É uma coisa muito antiga, não tenho nem memória disso. Sobre esse assunto eu não falo", disse.
CPMF - Eduardo Cunha afirmou também que o ajuste fiscal não ocorrerá se o governo estiver contando com a recriação da CPMF para reequilibrar as contas públicas. Isso porque, segundo Cunha, é "pouco provável" que a medida seja aprovada pelo Congresso - e, mesmo que seja, o prazo para que sua implementação impedirá geração de resultados ainda em 2016. "Se o governo está lastreado na CPMF para fazer seu ajuste fiscal, acha que isso é o que vai controlar as contas públicas, elas não se controlarão. O governo precisa sinalizar com corte de despesas", afirmou Cunha após participar de seminário na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Segundo o presidente da Câmara, é "pouco provável" que o governo atinja o superávit de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem com as últimas medidas de cortes de despesas e aumento de receitas apresentadas. "Ali tem R$ 26 bilhões de supostos cortes de despesas. Na realidade, apenas R$ 2 bilhões desses R$ 26 bilhões são cortes", afirmou Cunha. "O governo precisa cortar despesas de verdade, para aí tentar conversar com a sociedade sobre o que precisa fazer a mais para manter o superávit. A CPMF, além de ser difícil passar no Congresso, acho pouco provável que passe, ela terá muita dificuldade de ser implementada no seu tempo pelo processo legislativo", acrescentou o presidente da Câmara.
Além da noventena necessária para que entre vigor após a aprovação, Cunha lembrou que a proposta de recriação da CPMF tem de passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que leva três meses, por uma comissão especial, com 40 sessões, e votação em dois turnos, tanto na Câmara quanto no Senado. "É impossível estar em vigor em 2016 para gerar superávit primário", afirmou. "Eu não diria que é um beco sem saída fiscal, nem a gente quer isso. O governo precisa ter consciência de fazer ajuste fiscal correto, que é pelo corte de despesas, e não impor à sociedade mais despesas", acrescentou o parlamentar.
Críticas - O presidente da Câmara dos Deputados ainda fez ataques ao governo por apoiar a recriação do Partido Liberal (PL), iniciativa capitaneada pelo atual ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), para rivalizar com o PMDB e esvaziar a oposição. Cunha declarou que o governo está de novo errando, "como já errou no início do ano", ao estimular criação de partidos com o único objetivo de "vir para cima do PMDB" e de outros partidos. "Nós não podemos aceitar", disse.
O deputado voltou a defender que sua sigla não ocupe nenhuma pasta após a reforma administrativa planejada pela presidente Dilma Rousseff (PT) e que desembarque de vez do governo. Ele disse estar "absolutamente sem apetite por ministérios". Autodeclarado defensor da redução do número de pastas, Cunha afirmou que o partido "não tem que se condicionar a nenhum ministério para dar apoio" ao governo e reiterou sua posição pessoal sobre o futuro de seu partido. "Defendo que PMDB saia do governo", disse.