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O mais antigo mercado público do Brasil, o Mercado de São José, patrimônio histórico no coração do Recife, ficou 36 horas sem energia elétrica. O fornecimento de energia ocorreu apenas no final da manhã desta segunda-feira (7), resultando em muitas queixas dos comerciantes. A Prefeitura do Recife (PCR) informou que um curto-circuito, ocasionado pelas fortes chuvas, provocou o interrompimento do serviço desde a noite do sábado (5).
##RECOMENDA##O expediente desta manhã foi marcado por correria por parte dos vendedores, que precisaram comprar sacos de gelo às pressas para conservar os produtos. O mercado é popular pela oferta de pescados, laticínios e frios no geral. No entanto, pelas condições de climatização e armazenamento disponíveis no local atualmente, a refrigeração paralela, improvisada pelos comerciantes, é frequente.
“Normalmente chego aqui às seis da manhã, de segunda a sábado, e no domingo não venho. Cheguei hoje e estava sem energia. Esse freezer meu, depois de aproximadamente 18 horas, se transforma em um forno. Os produtos que estavam dentro dele tiveram que ser descartados; foram salsicha, salsichão, queijo coalho, queijo manteiga. Os frios que estavam aqui do que ficou no sábado. São produtos que recebemos resfriados, é a forma como a gente trabalha. Eles ficaram sem condições de comercialização”, disse ao LeiaJá Sales Júnior, de 46 anos, proprietário da Granja Passarinha, que perdeu 16 quilos somente de peças de queijo após o ocorrido .
Sales alegou também que os comerciantes não recebem muitas informações. "Se houvesse uma rede de contatos ou apoio oficial, que abrangesse a todos, o problema poderia ser amenizado", diz ele.
“Não é a primeira vez que tenho prejuízos do tipo aqui. Infelizmente, essa parte da energia está comprometida, porque eventualmente ocorre esse tipo de situação. Não vou dizer que ocorre todo mês, mas tem vezes que ocorre e passa até mais tempo. Nem de gelo eu precisei, porque já tinha se perdido tudo, senão tinha comprado. Se eu tivesse tomado conhecimento, teria vindo aqui e refrigerado tudo manualmente”, continuou.
Essa comunicação "independente", na qual o comércio se vira sozinho, é algo que a comerciante Ruth de Miranda Bezerra, de 67 anos, também critica. Sem prejuízos diretos desta vez, a proprietária da ‘Rutinha Pescados’ diz que a situação tem piorado de maneira gradativa: “A gente se antecipa, toma providência. Evita o prejuízo porque já entende. Acho que gasto uns 50 reais por dia só comprando gelo, para conservar a mercadoria”.
A autônoma continua: “Mesmo sem prejuízo [com perda de mercadorias], a gente se prejudica porque tem que gastar dinheiro com gelo, temos que ter muita atividade e cuidado, porque se o movimento estava ruim, sem luz fica pior. Aliás, desde 2020 que a realidade da gente é essa. A cada dia piora. É falta de cliente, de segurança. O mercado de São José está basicamente abandonado”.
O irmão de Ruth, Joel Gomes, de 63 anos, também tem uma banca própria de pescados, onde divide espaço de trabalho com familiares. Há cerca de 45 anos trabalhando no São José, na atividade que é herança de família, ele denuncia que a situação vem de anos e outras gestões prometeram reformas que nunca chegaram.
“Desde a pandemia que a situação ficou mais caótica. O começo foi um dos piores momentos da vida da gente. Os governantes não entendem o que é preciso fazer e não podemos contar muito com eles. Quem entende da casa é quem mora nela. Falta muita coisa aqui dentro. Inclusive, uns anos atrás, houve uma reunião, falando que houve verba federal, pensaram em reforma e tudo, mas só foi aquilo ali. Nunca aconteceu”, afirmou.
Gomes diz que nem mantém mais as esperanças no alto, mas que espera algum tipo de intervenção, pois o mercado está se “acabando”. “A gente precisa de uma reforma geral, o que já está nos planos há tempo. Falar em climatizar já seria sonhar alto demais, a insegurança eu já sei que tem em toda parte. Mas, ao menos, melhorar as condições de trabalho. A gente precisa de mais espaço, mais freezers. Há muita coisa para fazer aqui”, completou.
Motivo para a falta de energia
De acordo com a administração do Mercado de São José, o suporte da Neoenergia chegou ao local por volta das 11h, para realizar os reparos e religar a fiação elétrica. Um caminhão de suporte havia seguido ao Mercado no domingo (6), mas a equipe não tinha autorização para realizar a religação.
Em nota ao LeiaJá, a PCR informou o motivo do curto-circuito. Confira na íntegra:
"A Autarquia de Serviços Urbanos do Recife (CSURB) informa que, na madrugada de domingo (06), houve um curto-circuito na subestação elétrica do Mercado de São José, devido às chuvas. Para realizar o reparo, a equipe de manutenção da autarquia solicitou à Neoenergia o desligamento da eletricidade, que foi feito às 11h30, tendo o serviço sido concluído às 13h. Tão logo foi realizado o conserto, houve solicitação à concessionária para o religamento da energia, o que aconteceu apenas na manhã desta segunda-feira (7)".