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O podcast Educação Financeira do G1 inaugura um novo quadro com entrevistas mais longas com especialistas, para que o ouvinte entenda mais a fundo os assuntos fundamentais para guardar e gerir bem o dinheiro, além de dicas tradicionais de organização para sair das dívidas.  

Na primeira edição, a conversa é com Sara Delfim, sócia da Dahlia Capital e profissional com 20 anos de experiência no mercado financeiro. Ela fala sobre as perspectivas para a economia em 2022 e os principais desafios para quem começa ou procura oportunidades para investir. 

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“O nosso trabalho é prever o futuro, mas foge do nosso alcance. A pandemia é um grande exemplo. Como se preparar no mundo dos investimentos com o imprevisível?”, começou Sara. Para ela, a crise de 2008 foi o período em que marcou suas finanças, pois trabalhava no banco americano do qual faliu. Na situação atual do Brasil, a vacina avançou melhor que a economia.  

 

A inflação no Brasil, na pandemia, tem as causas principais: reabertura das economias com a demanda voltando, problema de desequilíbrio na cadeia de oferta e suprimento, questões das secas, falta de energia e por último, o petróleo. Isso impacta no frete, exportação e importação de alguns produtos. A inflação determina o rumo e os juros do Brasil.  

O processo de ajuste da inflação tem volatilidade e com o tempo, se normaliza e acomoda. O mercado vem se preparando para esses sinais, principalmente no Brasil, a mudança da renda variável para a fixa que é um movimento natural. “O imprevisível pode ocorrer a qualquer momento", relembrou Sara. As empresas perderam 70% do seu valor em 1 ano e a Bolsa ficou barata. No ponto de vista da Sara, nunca tiveram uma saúde financeira tão boa quanto tem hoje. As empresas que estão na Bolsa são as maiores e melhores do Brasil, são sobreviventes em qualquer crise.

O podcast pode ser ouvido no Spotfy em: https://open.spotify.com/episode/0jUxgwaARDcyqG6Fnu2593?si=2ipQoobDQlq6dGP1iiBEaw&utm_source=copy-link

por Camily Maciel

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), 75,6% das famílias brasileiras estavam endividadas no final de 2021. Com a proposta de transmitir mais conhecimentos sobre finanças, a Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN) promove, na próxima terça-feira (15), a aula “As oportunidades de empreender com educação financeira”.

A “MasterClass” faz parte da cerimônia de conclusão das pós-graduações relacionadas ao temas, realizadas pelo Portal DSOP, organização dedicada à educação financeira, e pela Universidade Oeste Paulista (Unoeste).

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O evento será online, com início às 19h, por meio da plataforma Zoom e os participantes terão direito a certificado. Para participar, os interessados devem fazer as inscrições por meio do formulário online.

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) divulgou o edital para 150 vagas na especialização gratuita de educação financeira. O curso é voltado a professores e técnicos administrativos da rede de escolas públicas. Esse ano, não só profissionais da Paraíba poderão participar como de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. As inscrições vão de 23 de outubro a 4 de novembro por meio do Sistema Integrado de Gestão Académica (Sigaa).

Para participar, os interessados devem anexar ao formulário de inscrição no Sigaa a documentação exigida no edital e gerar a Guia de Recolhimento da União (GRU) da taxa de inscrição no valor de R$ 50,00. Os candidatos que se enquadram nos requisitos apontados no edital podem solicitar a isenção.

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As vagas serão distribuídas da seguinte forma: Secretaria da Educação e da Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba (até 30), escolas públicas do Estado do Ceará (até 30),  escolas públicas do Estado de Pernambuco (até 30), escolas públicas do Estado de Rio Grande do Norte (até 30), para professores e gestores financeiros do quadro ativo da Prefeitura Municipal de João Pessoa (até 15) e para servidores efetivos do quadro ativo da Universidade Federal da Paraíba, que estejam em exercício na instituição (até 15 vagas).

A seleção será composta por três etapas de caráter eliminatório e classificatório: prova de conhecimentos em educação, prova de títulos e experiência profissional. A nota mínima em cada etapa é de cinco pontos. O candidato que tirar nota inferior, estará automaticamente eliminado. O resultado final está previsto para ser divulgado dia 3 de dezembro.

O educador financeiro Zé Guila promove, entre os dias 6 e 9 de setembro, um curso sobre educação financeira e investimentos. A capacitação será totalmente on-line e os encontros serão ministrados no perfil oficial do Instagram do educador (@zeguila), sempre às 20h. As inscrições podem ser feitas por meio de endereço eletrônico.

Após o cadastro, o participante será encaminhado a um grupo de WhatsApp, onde devem ser tiradas dúvidas sobre a Semana de Liberdade Financeira. No encontro, os participantes aprenderão a realizar investimentos financeiros, mesmo aqueles que não tenham qualquer conhecimento prévio sobre o assunto, de forma totalmente democrática, pioneira e acessível.

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“As pessoas encontrarão temas que ainda são incomuns sendo abordados de forma simples e aplicável”, segundo o professor Zé Guila.

Serviço

Semana da Liberdade Financeira

De 6 a 9 de setembro, no Instagram oficial de Zé Guila (@zeguila)

PLA-POU-CRÉ. Parece um trava-língua, mas é a base do programa de educação financeira que o Banco Central quer levar a 100 mil escolas municipais, estaduais e federais do Ensino Fundamental: planejamento (PLA), poupança (POU) e crédito (CRÉ) são os pilares do Aprender Valor, que tem como objetivo chegar a 5 milhões de alunos até o fim de 2022.

A primeira perna aborda o orçamento, o entendimento do dinheiro que entra e que sai. A segunda trata do conceito de economizar e é levado ao estudante, por exemplo, a diferença de poupança passiva (a que é feita com as sobras de recursos) e a ativa (que é separada no momento inicial de um pagamento). A terceira aborda os diferentes tipos de financiamento e empréstimos.

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"Talvez a criança não aproveite o CRÉ porque não tem acesso ao sistema financeiro, ou tenha alguma dificuldade com o POU porque os recursos são escassos, mas quero incutir nela o conceito", afirma o diretor de Relacionamento Institucional do BC, Maurício Moura. "Quero que saiba que, se guardar R$ 1 ou R$ 2 de R$ 10, mesmo que seja obtido na rua, e gaste os outros R$ 8, quando chegar ao final de um ou dois meses pode ter uma quantia de dinheiro que ela não tinha", diz.

O projeto-piloto teve início em abril em cinco Estados (Pará, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná) e no Distrito Federal. De 429 escolas, o Aprender Valor passou a ser usado em 10,4 mil. O número de municípios saltou de 257 para 1.630, com representantes de todas as regiões. O universo de 36 mil estudantes na fase inicial se multiplicou para 308 mil. Mais para frente será aberta a segunda fase, que terá início em 2022, quando o objetivo é chegar a 5 milhões de alunos. Moura está confiante de que muito mais adesões ocorram, já que a primeira fase ainda contou com momentos de incerteza da volta às aulas pós-pandemia.

O público-alvo, sem dúvida, são os estudantes, mas a intenção do projeto é envolver ao máximo os professores, um total de 1,2 milhões de profissionais. "Muitas vezes, os professores não têm educação financeira nem para gerir seu próprio recurso e têm pouco tempo para desenvolver programas de educação financeira", afirmou o diretor do BC. Por isso, paralelamente ao conteúdo para as crianças, eles contam com um curso de finanças pessoais.

'Curso puxado'

Glaucia Bravin, diretora da Escola Estadual Braz Sinigaglia, de Batayporã, uma cidade de 11,3 mil habitantes no interior do Estado de Mato Grosso do Sul, teve sua escola selecionada e implantou o Aprender Valor aos 35 alunos do 5.º ano fundamental. "O programa traz coisas novas até para nós, professores, diretores e coordenadores. A gente acha que sabe do assunto porque não deve para ninguém, mas não é isso coisa nenhuma. O curso é bem puxado e atual", disse. "Até eu, que sou professora de matemática, tive de parar em alguns momentos para refletir sobre o tema."

O programa para os alunos é voltado para os anos ímpares do Ensino Fundamental e vai prontinho para o professor: desde a preparação da aula, o material a ser utilizado e a forma de se fazer a avaliação. No geral, os 35 projetos a serem usados de cinco a 10 aulas são feitos de forma transversal, ou seja, dentro de uma disciplina já prevista na grade curricular das escolas, como matemática, português, história ou geografia.

Para colocar o projeto de pé, o BC participou de um edital para obter financiamento do Fundo de Direitos Difusos (FDD). O programa foi aprovado e a autoridade monetária recebeu R$ 11 milhões, que serão usados até 2022. O BC tinha o conhecimento de educação financeira, mas precisava de uma parceria para levar a proposta mais próxima das escolas. Por isso, com os recursos contratou o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), que desenvolveu o conteúdo e fez a interação com as secretarias de Educação.

Foi criada, então, uma plataforma online onde os professores, coordenadores e diretores registram a escola, as turmas e os alunos. "Com essa plataforma, eu chego ao Brasil todo ao mesmo tempo. Não preciso estar no Amazonas ou no Rio Grande do Sul para fazer isso", disse Moura.

O Ministério da Educação (MEC) anunciou, nessa segunda-feira (21), que promoverá um curso de educação financeira para professores das redes pública e privada de ensino do Brasil. A iniciativa, em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), visa oferecer conhecimentos básicos sobre finanças pessoais, disciplina integrada à grade curricular de estudantes, para que os docentes possam lecioná-la.

De acordo com o órgão, a formação capacitará, em três anos, 500 mil professores que poderão ministrar aulas sobre a temática a mais de 25 milhões de estudantes. O curso gratuito será oferecido virtualmente a todos os profissionais que atuam na educação básica, independentemente de sua licenciatura.

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A parceria entre o ministério e a CVM está prevista para ser assinada em julho. A formação deve ser implementada nas escolas do país a partir do segundo semestre deste ano. Os anos finais do ensino fundamental serão os primeiros focos da formação.

O MEC e a CVM vão acompanhar e conceder, ao final do curso, certificado de conclusão aos profissionais da educação. Segundo o diretor de Formação Docente e Valorização dos Profissionais da Educação do MEC, Renato Brito, a parceria também objetiva monitorar e avaliar os resultados da formação para melhorar o projeto.

Na internet, é comum surgirem propagandas de cursos que prometem sucesso financeiro, como o da empresa Empiricus Research, que viralizou em 2019, quando a garota propaganda Bettina Rudolph surgiu em vídeos com a frase: "Oi. Meu nome é Bettina, eu tenho 22 anos e 1 milhão e 42 mil reais de patrimônio acumulado".

Após o vídeo de Betina, muitos internautas passaram a questionar a veracidade dos cursos de finanças, embora proposta de ser bem sucedido financeiramente seja atrativa. A ideia de altos ganhos também é propagada por muitos influenciadores digitais, como o músico e youtuber Nando Moura, que divulgou para os seguidores o curso Mestres do Capitalismo, em 2019.

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O professor de inglês João Antunes, 22 anos, de São Paulo (SP), decidiu fazer um curso de educação financeira da escola Conquer. "Um dos aprendizados que eu aplico no meu dia a dia é a organização financeira. Para isso, eu sempre anoto todas as minhas finanças e gastos, além de ter um documento que organiza todas as minhas despesas e o quanto poderei guardar", conta. Embora tenha aproveitado o conteúdo do curso, Antunes conta que não colocou em prática todo o conhecimento adquirido, mas que, graças ao curso, zerou as dívidas, e suas contas são pagas em dia.

O professor de inglês João Antunes fez curso de finanças online | Foto: Arquivo Pessoal

O especialista em finanças do IB Consulting, Leandro Araújo, alerta que existem ótimos profissionais para esse segmento de curso, mas também há os vendedores de sonhos. Ele orienta que o futuro aluno conheça os tutores desses cursos, e converse com outros que assistiram as aulas, para que eles possam descrever as experiências. "Outra dica é descobrir se o autor do curso ganha dinheiro fora desse negócio de vendas ou se ele aplica na prática o que ensina", recomenda.

Outra modalidade de cursos são os que se propõem a ensinar as pessoas a trabalharem com internet e, por consequência, serem bem remuneradas por esses trabalhos. O especialista e consultor de marketing digital Emerson Bergamaschi, destaca os treinamentos que ensinam as pessoas a se tornarem atendentes de grandes companhias de tecnologias, como Google e Facebook. "Normalmente, estas empresas remuneram as pessoas por hora de trabalho e, em alguns casos, pagam em dólar ou euro", explica.

Também existem os cursos de dropshipping, que ensinam técnicas para importar produtos e vendê-los em serviços, como a Amazon. "Pessoas que têm perfil de vendas normalmente se dão muito bem com esta modalidade", afirma Bergamaschi.

Alguns cuidados são necessários na hora de escolher um curso online de finanças. O especialista em marketing digital recomenda evitar aqueles que prometem resultados fora da realidade e ganhos fáceis. Além disso, também é importante analisar o feedback público dos alunos, tanto positivos como negativos. "Só adquira cursos em sites sérios e que sejam especialistas em treinamentos online. Estas plataformas, inclusive, devolvem o dinheiro investido, caso a pessoa não goste do curso ou se arrependa da compra por qualquer motivo", destaca.

O início do ano costuma ser o período em que muitos brasileiros refletem sobre o planejamento financeiro. É também o momento de pagar dívidas, já que os gastos de fim de ano pesam no orçamento, além dos impostos e da volta às aulas, entre outros.

Planejar as finanças em 2021 é uma meta para o estudante de Tecnologia da Informação e streamer Bruno Henrique, 32 anos, de São Paulo, que não quer fazer dívidas que vão além de seus ganhos e deseja continuar a manter o cartão de crédito em dia. Ele precisou investir em um microfone de R$ 1.159 para realizar as lives em seu canal no YouTube, e se prepara para uma nova despesa. "A maior dívida de 2021 será alugar e mobiliar uma casa", conta.

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Para iniciar um planejamento financeiro, é necessário ter anotado em papel, planilhas ou aplicativos, os gastos fixos, que são aqueles presentes todos os meses, como luz, água, internet e telefone. Ao fazer isso, o consultor financeiro, especialista em investimentos e finanças pessoais Guilherme Prado explica que os custos poderão ser subtraídos da receita mensal. "O segundo passo é estipular um valor que você pode gastar com custos extras, como roupas, acessórios, restaurantes, entre outros gastos que não são periódicos. Primeiro as obrigações previsíveis e periódicas e, depois, o resto", recomenda.

No Brasil, o começo do ano é marcado por despesas como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA). Além disso, existem os gastos escolares para aqueles que têm filhos. O consultor financeiro aconselha buscar promoções de materiais escolares, tentar honrar os compromissos de moradia, água, luz, impostos e, sempre que possível, se prevenir para o próximo ano. "Digamos que seu IPVA para 2022 é de R$ 800. Que tal guardar R$ 67 por mês durante 2021 para quitar à vista. Você pode fazer isso com qualquer despesa previsível e sazonal", orienta Prado.

O cartão de crédito pode ser uma ferramenta benéfica na gestão financeira, mas pode ser prejudicial ao ser utilizado de maneira indevida. Muitos possuem limites de crédito igual ou maior que suas rendas mensais, e alguns optam por gastar tanto o salário, como o limite do cartão de crédito. "A forma mais simples de lidar com isso é escolher. Ou você usa tudo no débito ou tudo no crédito, para evitar dores de cabeça no futuro", explica Prado.

O consultor financeiro destaca que negociar dívidas ou solicitar descontos deve ser um hábito para aqueles que estão endividados ou desejam reduzir os gastos. "Se você busca negociar, isso demonstra uma responsabilidade da sua parte e, na maioria dos casos, você terá êxito na negociação", finaliza.

Cortar gastos faz parte da rotina de quem, com muito esforço, tenta resistir à crise. Ausência de educação financeira, porém, dificulta o processo. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

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Por Nathan Santos e Camilla de Assis

Nem os mais experientes economistas fariam previsões tão negativas para o cenário financeiro do Brasil em 2020. Dificilmente projetariam que o ano seria afetado pela mais enlutada crise de saúde dos últimos tempos, que culminou em uma severa restrição econômica em brasileiros de diferentes classes sociais, principalmente os das camadas mais pobres. No entanto, contrariando os palpites não trágicos, a realidade mostrou-se bastante diferente das projeções anteriores ao novo coronavírus: desemprego, inflação, suspensão de atividades econômicas, fechamento de empresas e acirramento da crise política estão entre os resquícios oriundos da pandemia da Covid-19.

Mesmo ante um cenário envolto de problemas, alguns brasileiros bem estruturados, economicamente falando, resistiram com menos prejuízos à crise provocada pelo novo coronavírus. Segundo especialistas, entre os fatores para essa resistência está a prática da educação financeira em suas rotinas familiar e profissional. Por outro lado, a parcela mais robusta da população - sem base de educação financeira e marcada por desigualdades sociais - amarga baques em seus orçamentos.

Artes: João de Lima/LeiaJáImagens

Os números evidenciam a crise: levantamento da Serasa Experian, empresa referência em informações financeiras, aponta que o Brasil registrou 63 milhões de endividados neste ano, bem como mais de 5 milhões de negócios apresentaram algum tipo de inadimplência. Se considerarmos apenas a questão do desemprego, por exemplo, um dos problemas mais latentes da pandemia, uma vez que empresas paralisaram atividades presenciais, 2020 já registra o pior resultado desde 2012. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País chegou a ter 14 milhões de desempregados.

Também alarmantes são os dados resultantes da mais recente pesquisa “Endividamento e Inadimplência do Consumidor”, promovida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com o estudo, em novembro deste ano 66% dos brasileiros estavam endividados, dos quais, 25,7% possuíam dívidas ou contas em atraso e 11,5% não tinham condições de pagar.

Cortes nos cabelos e nos gastos

A habilidade de Rodrigo Barbosa, 30 anos, ao desenvolver penteados da moda em seus clientes, não é a mesma quando o assunto é organização financeira. Se por um lado o barbeiro esbanja talento ao picotar os fios de cabelo da clientela, por outro, quebra a cabeça para manter em ordem as contas da família e de sua barbearia, situada no bairro da Iputinga, periferia do Recife.

“Não ganho mal, mas os gastos lá de casa são muito grandes e ainda tenho os custos fixos da barbearia, como o aluguel. Aí descontrola tudo, às vezes não consigo separar o que é de casa e o que é da barbearia”, revela o barbeiro.

Rodrigo empreendeu no ramo há cinco anos, pois não se fixou no mercado de trabalho convencional, segundo o empresário, devido à sua baixa escolaridade. Ele não concluiu o ensino fundamental. Levantamento promovido pelo C6 Bank, banco para pessoas físicas e jurídicas, mostra que entre os Microempreendedores Individuais brasileiros, 65% perderam renda durante a pandemia. Desse percentual, 16% informou que a renda foi zerada de uma hora para outra. A pesquisa também revelou que esses empresários têm baixa educação financeira e sentem dificuldades para acessar serviços financeiros.

Barbeiro sentiu queda em seu faturamento durante a pandemia. Foto: LeiaJáImagens

Diante da crise provocada pela pandemia de Covid-19, o barbeiro diz que o período de isolamento social, iniciado em março deste ano em Pernambuco, foi um dos momentos mais delicados para o seu negócio, culminando em um imbróglio econômico típico dos empresários que não conseguem dividir as contas dos negócios das contas pessoais.

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Mas, na prática, qual a relação concreta da educação financeira com a saúde econômica e o bem estar dos brasileiros, principalmente em momentos severos de crise, como a pandemia da Covid-19? E como desenvolver educação financeira entre cidadãos adultos que, na infância e na adolescência, não tiveram acesso a conteúdos sobre o tema? Em entrevista ao LeiaJá, especialistas revelam sugestões e reforçam a importância do assunto em prol do bem estar das famílias brasileiras e da sobrevivência dos empreendimentos. 

Na vida e nos negócios, a regra é planejar

Associar educação financeira apenas a dinheiro tende a ser a primeira percepção de quem pensa a respeito do assunto. Porém, de acordo com Liao Yu Chieh, professor e fundador da plataforma de educação corporativa ‘IDEA9’, empresa do grupo C6 Bank, essa simples associação é errônea. Para o especialista, é fundamental ter uma compreensão mais ampla.

“Muita gente associa educação financeira a ganhar dinheiro, guardar, ficar rico, que é uma noção errada. Dinheiro é um meio. A gente planeja a vida da pessoa, e não apenas o bolso. A vida da pessoa é mais que dinheiro. Então, você tem a qualidade de vida, da família, da segurança, a questão do conforto, e da tranquilidade. Há vários fatores que não são apenas o fato de ganhar, guardar ou economizar dinheiro. Fazer essas ações é parte de um plano maior, que basicamente é você ter tranquilidade e segurança para desfrutar da vida com a família”, esclarece Liao Yu Chieh.

O coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, defende que, ao pensar em educação financeira, o indivíduo precisa colocar em prática um planejamento. Segundo Teixeira, não planejar é uma das principais causas de descontrole financeiro dos brasileiros. “Por impulso, por idade - a própria idade faz com que você seja um pouco mais impulsivo também -, a pessoa começa a gastar sem fazer um planejamento e acaba criando um problema na própria vida. Essa pessoa poderia ter conseguido as mesmas coisas dentro de um planejamento, mas acaba em um descontrole no orçamento”, explica o especialista.

Na análise do professor da FGV, a busca por educação financeira precisa levar em consideração diferentes realidades, além de ser introduzida à rotina das famílias. “Quando a gente fala de educação financeira, estamos buscando as melhores práticas aplicadas à realidade de cada um. É como se fosse uma educação doméstica sobre o que você pode e não pode fazer. A gente está querendo que as pessoas tenham em mente quais são as melhores práticas sem necessariamente terem que ficar pensando a respeito; tem que fazer parte da sua vida”, opina Teixeira.

“Para que você tenha uma boa educação financeira, tem que ensinar a sua família, como um todo, a todo mundo que convive com você, como fazer um planejamento financeiro. Entender que você só pode gastar o que já tem ou, se for em um prazo mais longo, o que vai receber, desde que o recebimento e o pagamento estejam casados. Você deve, sempre, fazer uma poupança para enfrentar as adversidades que sempre aparecem, que sempre acontecem; essas adversidades vão ocorrer, só não sabemos quais. A poupança é importante também para a gente construir riquezas, porque você só consegue construir riquezas poupando”, acrescenta o professor da FGV.

Ao tratar especificamente de negócios, o especialista da Fundação Getúlio Vargas destaca que assim como nas finanças pessoais, os empreendedores precisam criar estratégias de planejamento que garantam a sobrevivência das empresas mesmo diante de um cenário grave de crise. “Você vai planejar quanto pretende receber, pois não tem a garantia ainda porque as pessoas não compraram, mas projeta quanto imagina, quanto vai precisar gastar para conseguir o faturamento e quanto vai sobrar. Tem que restar um saldo positivo, salvo em algumas situações, como na pandemia. Mas mesmo em uma situação como essa da pandemia, logo no primeiro mês, você tem que fazer um novo planejamento: ‘Meu faturamento caiu drasticamente, como vou resolver essa situação?’. Não pode manter os compromissos de antes, sem pensar em como iria pagar, já que o faturamento poderia ir a zero. O que muda basicamente em relação às contas pessoais? O volume dos recursos que você vai tanto receber e precisar gastar, a ordem de grandeza muda completamente e também a perspectiva sobre quanto você pode receber a curto, médio e longo prazos. O princípio básico é faturar mais do que está gastando. E também é preciso construir uma poupança”, aconselha o coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getúlio Vargas.

Segundo levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgado em outubro deste ano, 74% das Micro e Pequenas Empresas (MPE) apresentaram queda no faturamento. Outra pesquisa desenvolvida pela mesma instituição e com publicação em agosto mostrou que 36% das empresas tinham dívidas em atraso.

Ainda de acordo com o Sebrae, micro e pequenas empresas representam 99% dos negócios no Brasil. Em dezembro de 2019, a estimativa – mais recente -  é que o País tinha 15,4 milhões de empreendimentos considerados MPE. O setor do comércio, com 41% das companhias, possui a maior concentração de empreendimentos.

Economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo em Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos alerta para os riscos que há em negócios fragilizados financeiramente. Em entrevista ao LeiaJá, o especialistas revela dicas importantes para os donos de negócios que, auxiliados pela educação financeira, almejam manter seus empreendimentos mesmo sob os efeitos da crise econômica.

De acordo com Liao Yu Chieh, fundador da ‘IDEA9’, enquanto na vida pessoal associamos educação financeira a bem estar, no mundo dos negócios, há ainda um elo com sustentabilidade. Também é necessário haver um casamento entre a paixão de um empreendedor e a gestão financeira, uma vez que na prática, é importante amar o que faz, mas sem deixar de lado a gestão financeira do negócio. “Você nunca pode menosprezar o lado financeiro, porque ele vai permitir que você continue fazendo bem e mais. Se não tiver esse controle, esse planejamento, é muito comum a empresa se dar mal. No fim, acaba afetando também a sua vida pessoal, porque ocasiona prejuízo. Normalmente, paixão é um alicerce. Mas um alicerce não é a sua casa, é apenas uma primeira parte. Uma vez que você tem um alicerce, você precisa de outras habilidade para que possa tocar o negócio para frente”, frisa o especialista.

Liao Yu Chieh identifica que, durante o processo de gestão e planejamento financeiro, existe um problema crônico nas empresas, que é a dificuldade de separar as finanças pessoais das finanças dos negócios. “Quando você fala de um empresário bem pequeno, é quase impossível fazer essa separação, mas ela é muito importante. Muitas vezes, o negócio está indo bem, mas a pessoa física está gastando o que a pessoa jurídica está ganhando e isso prejudica a saúde financeira dela. De repente, estão tirando mais do que a empresa tem capacidade, porque foram misturadas as contas com a pessoa física”, alerta Liao.

Em 2018, levantamento do Sebrae apontou que 34% dos donos de pequenos negócios não acostumavam acompanhar o saldo de caixa de suas empresas ou faziam esse procedimento, no máximo, uma vez por mês. Trinta e seis por cento dos microempreendedores individuais não estavam satisfeitos com os resultados financeiros de seus empreendimentos e mais de 77% dos entrevistados nunca fizeram cursos ou treinamentos em gestão financeira.

Cidadania financeira

“Exercício de direitos e deveres que permite ao cidadão gerenciar bem seus recursos financeiros”. Assim o Banco Central define o termo “Cidadania financeira”, englobando quatro pilares que, na visão do BC, são essenciais para o bem estar e sustentabilidade econômica dos brasileiros.

De acordo com o chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central, Luis Gustavo Mansur Siqueira, um dos pilares é batizado de inclusão financeira. É quando o cidadão tem acesso a serviços financeiros que se adequem às suas necessidades.

A educação financeira se apresenta como o segundo pilar. Na prática, conforme o Banco Central, ela ocorre quando o indivíduo tem oportunidade de desenvolver capacidades e autoconfiança para gerenciar bem seus recursos financeiros.

O terceiro pilar da Cidadania financeira é a proteção ao consumidor. Ela consiste no fato de que o cidadão conta com um ambiente de negócios que gera confiança, por meio de informações e mecanismos de soluções de conflitos.

Por fim, de acordo com o BC, o quarto pilar é a participação. Por meio dela, os brasileiros possuem canais para participar do debate sobre o funcionamento do sistema financeiro.

Segundo Luis Gustavo Mansur, o Brasil tem uma Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), cujo objetivo é fomentar educação financeira, securitária, previdenciária e fiscal entre a população. Sua governança é conduzida por meio do Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF), criado em junho de 2020, com a participação de diversos órgãos, tais como o próprio BC, a Comissão de Valores Mobiliários, a Secretaria de Previdência da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia, Ministério da Educação (MEC), entre outras organizações.

“De maneira geral, a Estratégia Nacional de Educação Financeira tem o objetivo de fomentar ações de educação financeira, securitária, previdenciária e fiscal no Brasil, garantindo que essas linhas estejam em linha com as boas práticas internacionais, contribuam para fortalecer a estabilidade financeira e o bem estar dos cidadãos e suas famílias. O Fórum foi recém criado, constituído basicamente por meio de parcerias”, detalha Mansur.

No âmbito de sua agenda institucional, o Banco Central promove projetos e ações de difusão da educação financeira no País. Qualificar professores para que possam propagar educação financeira em escolas públicas é uma delas, assim como a sétima edição da Semana Nacional de Educação Financeira, iniciativa promotora de palestras e capacitações sobre a temática de maneira gratuita. Para mais informações, acesse o site do Banco Central.

Da carteira ao caixa

Virar empreendedor, seja por oportunidade ou necessidade, é realidade de uma boa parcela dos brasileiros, segundo dados disponibilizados pelo Sebrae. Em 2019, a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) apontou que a taxa de empreendedorismo no Brasil atingiu a marca de 23,3%, segundo melhor patamar desde 2002. Contudo, ainda segundo o Sebrae, estima-se que esse patamar aumente ainda mais neste ano, devido à pandemia que obrigou milhares de pessoas a recorrerem à abertura dos seus próprios negócios como fonte de renda familiar.

E para fazer do negócio um sucesso, é preciso que haja planejamento. Apesar disso, poucos são os empreendimentos feitos por necessidade que conseguem estudar o mercado para poder, só assim então, abrir as portas. Diante desse quadro, a educação financeira, entre uma série de fatores, é peça fundamental para o desfecho do empreendimento - o negócio será duradouro ou irá à falência -? 

A engenheira química e criadora de conteúdo Geórgia Barbosa, fundadora do projeto 'Afroricas', vivencia e compartilha dicas de educação financeira nas redes sociais. Ela identificou que o recorte de gênero e raça também é um fator corroborante para a sina do empreendedorismo. “A maioria das mulheres negras e chefes de família tem suas rendas por base nos serviços, que foram prejudicados pela pandemia. Elas não podem ficar em casa e acabam saindo para poder garantir a comida na mesa, alimentando um sistema cada vez mais opressor”, explica Geórgia. A última Síntese dos Indicadores Sociais do Brasil, pesquisa realizada em 2019 pelo IBGE, aponta que 63% dos lares chefiados por mulheres negras estão abaixo da linha de pobreza.

Avaliar o que consumimos é essencial para evitar desfalques financeiros, alerta a produtora de conteúdo Geórgia Barbosa. Foto: Cortesia

E quando essas mulheres - ou quaisquer outras pessoas - precisam recorrer ao empreendedorismo como forma de sobrevivência, existe uma lacuna entre a preparação profissional e pessoal, que se misturam e podem ser o combo perfeito para o insucesso nos negócios. O primeiro passo, diz Geórgia, para a aplicação de uma educação financeira na população pobre, é a avaliação do que se consome.

“Se faz educação financeira e pode ser ponderado o que se gasta nas coisas consumidas. É aquela assinatura que pode ser retirada sem muito prejuízo. Mas eu sei que a conta não fecha para a maioria desse recorte populacional, então minha dica é não se endividar. O ideal seria fazer uma reserva financeira de pelo menos R$ 100, ou qualquer coisa, mas quando isso não é possível, meu conselho é sempre evitar ficar no vermelho, é não consumir mais do que se ganha”, orienta Geórgia. 

E quando essa ponderação chega às empresas, o trabalho deve ser ainda mais intenso. Em 2020, por conta da pandemia, 522 mil negócios fecharam de forma temporária ou permanentemente, segundo o último levantamento publicado pelo IBGE sobre o assunto, em julho. Segundo Geórgia Barbosa, uma das formas de evitar que as contas se misturem e a empresa vá à falência, é separar qual dinheiro é pessoal e qual é do negócio. 

“É importante que um valor seja definido para o empreendedor, para o dono da empresa, o pró-labore. É o pagamento que é realizado a sócios e gerentes pelo trabalho; é um ponto chave, até mesmo para que as pessoas consigam equilibrar as duas finanças, que é onde o MEI [Microempreendedor Individual] se embaralha”, explana Geórgia. A seguir, a criadora de conteúdo lista um passo a passo sobre como ter um planejamento financeiro pessoal:

1) Avalie a sua renda mensal para entender o seu contexto financeiro.

Renda mensal líquida = todo o dinheiro que você ganha, descontando os impostos.

2) Identifique os seus gastos essenciais e extras.

Gastos essenciais = despesas que não podem ser evitadas. Exemplos: moradia, alimentação, transporte.

Gastos extras = gastos que te deixam feliz e melhoram o seu estilo de vida. Exemplos: assinaturas, viagens, restaurantes.

3) Verifique quanto da sua renda será aplicada para cada tipo de gasto.

Se o seu dinheiro é utilizado apenas para suas contas, a sugestão é que até 50% da sua renda seja utilizada em gastos essenciais e até 30% em gastos extras. Caso você seja responsável pelas contas de familiares, o ideal é que os gastos essenciais não ultrapassem 70% da sua renda.

Os gastos extras devem ser adequados ao seu contexto financeiro, sofrendo cortes sempre que necessário.

4) Estabeleça uma meta financeira. O que você quer alcançar em 2021? 

Defina um objetivo financeiro e estabeleça uma meta mensal para que você guarde dinheiro com propósito.

Uma boa indicação de meta é montar uma reserva financeira para futuras emergências.

Reserva financeira mínima = gastos essenciais x 6 meses. Exemplo: se você precisa de R$ 1 mil mensais para suas contas fundamentais, a sua meta mínima de reserva será R$ 1 mil x 6 meses = R$ 6.000 (R$ 500 mensais). 

5) Acompanhe os seus gastos por meio de anotações, planilhas ou aplicativos. 

Revisite as suas contas sempre que necessário e reconheça os momentos que você teve sucesso e falhas no seu planejamento.

Educação financeira deve ser disseminada na infância, mas também pode ser aprendida na vida adulta

Se educar financeiramente é um processo que deve vir desde o berço. Assim como outras vertentes de formação do ser humano, o núcleo familiar é o que sustenta e dá base para formação de caráter, integridade, como também é a principal variável que pode definir o destino de um indivíduo. E esse processo não é diferente quando se fala das finanças. Uma família bem estruturada financeiramente tende a ter gerações que continuam com prosperidade em relação ao dinheiro.

Segundo o levantamento "Educação Financeira e a Gestão do Orçamento Familiar” realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), somente quatro em cada dez brasileiros conversam sobre o orçamento familiar. A pesquisa explica, ainda, que as pessoas não estão dispostas a conversar com seus parceiros e/ou familiares sobre o quanto ganham por uma questão de autonomia e privacidade. 

Na parcela de entrevistados casados, 43% informa apenas partes das compras realizadas aos parceiros, enquanto 48% já brigaram por dinheiro. Esse levantamento também mostra uma realidade preocupante: cerca de 32% dos casados entrevistados costumam gastar mais do que têm para satisfazer as vontades do cônjuge.

De acordo com o coordenador do MBA em gestão financeira da FGV, Ricardo Teixeira, é importante que se aprenda sobre finanças dentro do próprio seio familiar e não apenas algo restrito às bases acadêmicas e educacionais. “Logicamente, que se você chegou na idade adulta, se chegou na pós-adolescência, já sendo adulto, mas ainda muito jovem, e você quer aprender um pouco mais, você pode procurar curso, mas a educação financeira deve fazer parte da nossa vida desde pequeno. Isso tem que estar dentro do ‘DNA’ de cada um, saber planejar para que você gaste sempre menos do que você tem e menos do que o que você terá e para que você poupe sempre também”, explica.

Em 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu o assunto de Educação Financeira na disciplina de matemática. Em 2020, os estudantes dos ensino infantil e fundamental já teriam noções de como se relacionar com as finanças. Com isso, a Estratégia Nacional de Educação Financeira, desenvolvida com apoio do Governo Federal, lançou o Programa Educação Financeira nas Escolas, levando esse conhecimento para a educação básica.

Além do processo de educação nas escolas, no âmbito acadêmico também há formas de educar financeiramente. O Projeto Pé de Meia, realizado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), ensina finanças para a população. O projeto conta com modalidades de “Poupança e Orçamento”, “Juros e Compra Parcelada”, “Investimentos” e “Dinâmica”. Neles, além do aprendizado do conceito de cada uma das etapas de consideração do gasto de dinheiro, há a oportunidade de simular uma prática de administração de salário durante um período de doze meses.

Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a educação financeira ganhou mais relevância no cenário pós-pandemia. "Com a retração forte da economia, que vamos ter de 4% ou 5%, é inevitável que a inadimplência suba de patamar. Precisamos lidar com isso, bancos estão precavidos", disse o presidente do órgão, Isaac Sidney, durante evento de lançamento do Programa de Aceleração Meu Bolso em Dia Febraban.

O foco da ação, feita em conjunto com o Banco Central, é ir além daqueles que já são atendidos pelo setor bancário por meio do incentivo de ações junto a empresas, que podem ou não integrar o mundo financeiro. "Precisamos fazer da educação financeira um caminho sem volta. Por meio do programa, queremos escalar o compromisso de orientar consumidores", disse Sidney, durante evento virtual do lançamento da iniciativa.

Com promessa de incentivo de R$ 1 milhão em investimentos em mentoria, o programa conta com inscrições para o seu processo seletivo até o dia 9 de fevereiro de 2021, pela internet. Serão selecionados 20 projetos para participar da ação.

Além do alerta para a importância da educação financeira, o programa prevê o empréstimo de dinheiro. Em meio à crise, os bancos emprestaram R$ 3 trilhões, considerando contratações novas, renovações e suspensão de parcelas de dívidas feitas anteriormente.

Entre a teoria e a realidade

Segundo aponta Geórgia, a propagação da educação financeira ainda não alcançou integralmente as escolas no Brasil e várias questões podem ser levantadas sobre o problema. “Eu acho que incluir educação financeira nas escolas é essencial, foi até tarde, mas me levanta uma pergunta: será que as pessoas assinaladas para ensinar têm educação financeira para passar à frente?”, questiona a engenheira e criadora de conteúdo.

Apesar disso, existem formas de contornar a situação e a carência de educação financeira tanto no seio familiar quanto no núcleo educacional. Além das capacitações que estão disponíveis, de forma gratuita ou paga, há maneiras informais de se educar financeiramente para que exista a possibilidade de sucesso e organização dentro do empreendedorismo e nas finanças pessoais.

“O segredo é o planejamento. É preciso que as finanças pessoais e da empresa sejam separadas e que haja um controle de caixa de tudo o que se gasta e se recebe. Outro ponto a ser visto é se está recebendo ou pagando para trabalhar, para que assim faça sentido o negócio”, explica Geórgia Barbosa.

Outro ponto discutido pela criadora de conteúdo é saber precificar o serviço ou produto. De acordo com Geórgia, os empreendedores precisam colocar um valor de forma justa e levar em consideração diversos fatores. “A população negra tem muita dificuldade de precificação, assim como uma taxa elevadíssima de falta de pagamento. É muito importante ler sobre como colocar o preço nas coisas, levando em consideração a região, a matéria-prima, inflação, entre outras coisa”, completa. 

Não deixe de ver e ouvir - O professor Liao Yu Chieh, do C6 Bank, em entrevista ao LeiaJá, detalhou um passo a passo para um planejamento financeiro direcionado a empreendedores. Confira as informações na arte e no áudio a seguir (clique na barra cinza):

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Quem deseja acrescentar a educação financeira no estilo de vida pode contar com vários cursos voltados à área. Muitos deles, realizados on-line, contam com matrizes distintas que oferecem o desejado para cada necessidade - seja pessoal ou profissional -. Entre as instituições, está o Sebrae, com capacitações gratuitas e pagas em formas de educação financeira para o crescimento dos negócios.

A IDEA9 também qualifica corporações e interessados em cursos no segmento de finanças pessoais e voltadas aos negócios. Com metodologia on-line, a Endeavor também oferta capacitações em áreas como a de Finanças Básicas para Empreendedores.

Da próxima segunda-feira (23) até o dia 29 deste mês, será realizada a 7ª Semana Nacional de Educação Financeira, promovida entre Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Piauí (Sebrae) e o Fórum Brasileiro de Educação Financeira, de forma gratuita. 

Será um momento virtual com o tema “Resiliência financeira: como atravessar a crise?”, que pretende concentrar ações gratuitas de educação financeira, securitária, previdenciária e fiscal de entidades públicas e privadas, que enfrentam as adversidades trazidas pela pandemia da Covid-19. 

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Para participar, basta submeter inscrição da sua iniciativa financeira por meio deste link. Outros detalhes serão encaminhados aos participantes inscritos por meio dos contatos cadastrados. No ano passado, mais de 70 milhões de brasileiros foram alcançados por mais de 14 mil ações.

A instituição financeira XP Inc. abriu inscrições até o próximo domingo (15) para o Pitch Day, prêmio que contemplará uma startup em educação financeira no Brasil com R$ 25 mil. As apresentações das empresas selecionadas serão transmitidas no canal do Youtube da XPEED

Cinco startups serão selecionadas para concorrer. A apresentação e os projetos serão julgados por uma banca avaliadora e pelos espectadores no dia 24 de novembro. Os critérios de seleção dos premiados serão maturidade das empresas, quantidade de colaboradores, quantidade de clientes, modelo de negócio e setor de atuação, entre outros. 

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"Apesar de estarmos evoluindo, a educação financeira no Brasil ainda é algo pouco fomentada. A XPEED nasceu com a missão de transformar esse cenário. Temos uma escola de empreendedorismo e sabemos que nosso papel transcende o apoio com conhecimento. Nossa escola quer cada vez mais fomentar o ecossistema com recursos e iniciativas como essa. Impulsionar a prosperidade do empreendedorismo e amplificar o acesso à educação financeira são os nossos verdadeiros compromissos com o país", explica Izabella Mattar, CEO da XPEED. 

A banca de avaliadores contará, além de Izabella Mattar, com Marcos Sterenkrantz (Head da XP Ventures), Thiago Nigro (Primo Rico), José Berenguer (CEO do Banco XP) e Thiago Godoy (Head de Educação Financeira da XPEED). O público da transmissão também participará do processo de seleção através de um QR Code que dará acesso à página de avaliação dos projetos. A nota final de cada competidor será composta metade pelo público e a outra parte pela banca avaliadora. 

Além do prêmio em dinheiro, a empresa vencedora ganhará cursos livres sobre mercado financeiro para todo o time e um MBA de empreendedorismo e gestão exponencial da XPEED para pessoa fundadora. Para mais informações, acesse o site da XP Inc.

Educação financeira é um tema importante não apenas em temporadas de vacas magras, mas em qualquer momento em que seja preciso lidar com dinheiro. Para ajudar quem quer acompanhar de perto suas movimentações financeiras Lorelay Lopes, Head de Negócios do UP Consórcios, fintech criada pela área de inovação da Embracon, dá dicas de seis aplicativos feitos para ajudar a manter as economias pessoais e familiares no lugar. Confira:

Guiabolso - aplicativo para ajudar no controle financeiro pessoal, com funções para quem quer ficar de olho em gastos excessivos e estipular metas de economia. Ele permite categorizar despesas, criar gráficos de desempenho, além de funções simples, como consulta de saldo, extrato e fatura de cartão. Está disponível para iOS, Android e web, grátis.

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Finance - app para gestão financeira completo, que inclui recursos para controle de contas bancárias, conta caixa, cartão de crédito, conta poupança, contas a pagar e receber. Possui também a funcionalidade Lista de Compras, que permite cadastrar, com facilidade e praticidade, suas listas do dia a dia (supermercado, padaria, farmácia), de médio e longo prazos (móveis, reparos na residência) e de sonhos (viagens, veículos, imóveis). Além disso, os preços podem ser atualizados para que suas decisões de compras sejam cada vez melhores e caibam no orçamento. Somente para iOS.

Minhas Economias - aplicativo para organizar as finanças e controlar os gastos. Ele divide as despesas e receitas em categorias, algumas como alimentação, transporte, casa, entre outras que já vêm pré-estabelecidas. O usuário pode alterá-las e adicionar novas categorias e contas. Dentro de cada segmento é possível criar subcategorias. Na seção casa, por exemplo, é possível editar aluguel, luz e água. Ao classificar as despesas, é possível ter um maior controle dos recursos financeiros e acompanhar como o dinheiro está sendo gasto.

MoneyWise - disponível apenas para Android, permite monitorar o saldo por dia, semana, mês ou ano. O aplicativo ajuda o usuário a criar orçamentos para atingir metas e não ficar mais no vermelho. Os dados, que podem ser exportados para o computador e importados em um app de planilhas, servem para o usuário fazer um orçamento semanal, quinzenal ou mensal. A própria pessoa que decide quais transações serão incluídas e adiciona gastos com tags como transporte, restaurante e outros.

Orçamento Inteligente - este aplicativo disponibiliza mais de 30 tipos de transações. Tem um layout didático, simples e moderno. É possível sincronizá-lo com outros dispositivos da família em uma só planilha. Faz alertas de contas a vencer e pagamentos com três dias de antecedência. Grátis apenas iOS.

Mobills - gerenciador financeiro grátis que tem como função administrar as finanças pessoais, disponível para dispositivos Android e iOS Permite assumir os gastos com supermercado, lazer, cabeleireiro, transporte, contas de luz, água, telefone, entre outros, por meio de filtros como as categorias forma de pagamento e período de tempo. O app fornece gráficos interativos dos gastos, que podem ser exportados para Excel.

A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) Pernambuco promove, nesta quarta-feira (29), um curso gratuito sobre Noções Básicas de Educação Financeira. Foram disponibilizadas mais de 100 vagas para a capacitação.

Os interessados podem se inscrever gratuitamente no site do Procon, na internet. O evento será realizado no Auditório Ribeira, localizado no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, Região Metropolitana do Recife.

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O curso tem carga horária de quatro horas/aulas, e será realizado das 8h às 12h. Ao final, participantes receberão certificado de conclusão. Na programação de conteúdo estão assuntos como Superendividamento, Reserva Financeira, Diagnóstico Financeiro Pessoal, entre outros.

Com a saída de R$ 7,1 bilhões de investimento estrangeiro da Bolsa e com a queda da Selic (a taxa básica de juros), o investidor local está ganhando um papel mais relevante no mercado acionário.

De um lado, a redução dos juros tem forçado os investidores a deixar a renda fixa (como títulos do Tesouro) para que seus aportes tenham um bom retorno. Muitos querem recorrer às ações - ativos mais voláteis e que podem apresentar rendimentos mais altos que os da renda fixa -, mas ainda não compreendem esse mundo. Do outro lado, a Bolsa de Valores quer atrair um maior número de pessoas físicas e, para isso, anunciou na semana passada a redução de tarifas para o pequeno investidor.

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No meio dessas duas pontas, estão as gestoras de investimento, que, para conectá-las, estão produzindo conteúdo de educação financeira - especialmente nas redes sociais - para estimular o ingresso de pessoas física nos investimentos de risco.

Ao dialogar com o público que tem vontade de investir mas não teve acesso a informações amplas sobre o mercado de ações, as gestoras esperam deixar as pessoas confiantes e, assim, angariar novos clientes.

Diante da acirrada disputa por clientes, as gestoras estão adotando algumas estratégias de fidelização do público. A Easynvest, plataforma independente de investimentos, está repaginando a forma com que produz conteúdo e, para isso, contratou o jornalista Dony De Nuccio e o economista Samy Dana, ambos ex-GloboNews. Eles estão comandando o novo canal de análises do mercado financeiro, cuja previsão de lançamento é o primeiro trimestre de 2020.

A Easynvest tem um milhão de contas e, no cadastro de novos clientes, 40% deles passaram por alguma rede social da empresa antes de tomar decisões, conta o gerente sênior de marketing, Anderson Paiva.

Outra corretora que está apostando em novos conteúdos é a Ativa Investimentos, que contratou o jornalista Guto Abranches, também ex-GloboNews, para apresentar dois programas no canal do YouTube.

Já a gestora Constellation, que sempre contou com uma forte presença de investidores estrangeiros em sua clientela, criou um novo serviço para atrair os investidores locais, diz o fundador e chefe de investimentos, Florian Bartunek.

Em dezembro, a gestora lançou um curso de nove vídeos no canal Constellation University, no Youtube, mostrando o dia a dia da equipe, desde a escolha de ações até detalhes mais técnicos, como a projeção de lucro de uma empresa que está na Bolsa. "Há a falsa sensação de que não é preciso estudar para investir. Vou na Bolsa, compro uma ação e pronto. Mas ninguém entra em um avião e vai logo pilotar", diz Bartunek.

Momento

Uma dúvida entre aqueles que querem entrar no mercado acionário é por que fazer isso agora, justamente no momento em que o investidor estrangeiro está deixando o País. Há riscos que o brasileiro não está considerando e dos quais os estrangeiros estão fugindo?

Segundo Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, a forma com que o brasileiro enxerga o Brasil é diferente da dos estrangeiros. "Quando falamos de grandes números (de fuga de capital) estamos falando de investidores institucionais. Eles comparam o Brasil com qualquer outro país do mundo", diz. "E esse efeito das crises da Argentina e do Chile pode ter tido um impacto negativo quando se trata de América Latina."

Já o brasileiro, que, segundo ela, não considera tanto a diversificação internacional, analisa quase todas as oportunidades de investimento dentro de casa: renda fixa, variável, fundo de investimento. E, com a taxa de juros baixa, a renda variável costuma ser mais atraente. Além disso, a grande maioria dos bancos também aposta que, dado o cenário econômico brasileiro, as empresas devem continuar avançando na Bolsa neste ano, o que torna o investimento no mercado acionário atraente.

Apesar do crescimento do investidor local na Bolsa neste último ano e da fuga do investidor de fora, os estrangeiros ainda são 45,2% dos investidores na Bolsa. Em 2018, no entanto, eram 47,2%. As pessoas físicas - que atingiram o recorde de 1,5 milhão em 2019 - são 18,2%, ante 17% em 2018. Tudo indica que ainda há muito cliente brasileiro para as gestoras atraírem e disputarem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quer levar o mercado de capitais até as comunidades indígenas. Uma missão parte em janeiro para o Pará com o objetivo de desenhar um programa de educação financeira orientado para o empreendedorismo e a busca de soluções para financiar o desenvolvimento sustentável de aldeias da região.

Um primeiro contato com os índios foi feito no início de novembro, quando o superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores do órgão regulador, José Alexandre Vasco, passou seis dias em visita a aldeias dos povos Jaraki, Arapiun e Tapajó, na Amazônia.

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Acostumado a ambientes formais e a plateias de engravatados, ele levou quatro horas e meia de barco a partir de Santarém até a aldeia em que ficou baseado. Dali teve de pegar trilhas na mata para chegar às demais. "Tivemos um encontro com caciques de sete aldeias de uma região no noroeste do Pará. É um território que preserva a Amazônia, mas em que os índios enfrentam dificuldades imensas para dar uma vida digna às suas famílias. A gente queria conhecer essa realidade de perto pensando em um programa de educação financeira", contou ele.

Entre outros pontos, Vasco explicou aos índios como funciona o mercado de capitais e conceitos como os de financiamento coletivo (conhecido como crowdfunding) e de mercado de crédito.

Endividados

Em agosto, uma pesquisa de campo sobre educação financeira em duas aldeias indígenas no Território Cobra Grande foi orientada pelo professor Alexandre Damasceno, do Núcleo de Formação Indígena da Universidade do Pará. Na aldeia Lago da Praia, a pesquisa com as famílias mostrou que 95% delas nunca receberam orientação financeira e 85% se disseram endividadas. A maior parte tem conta bancária, mas 80% declararam que não fazem investimentos. Os 20% que investem o fazem via aplicação na caderneta de poupança.

Segundo a pesquisa, na maioria das vezes quem tem renda entre os índios são funcionários públicos temporários com vínculo escolar (professor, vigia, servente, auxiliar de secretaria). Fora isso, as atividades mais comuns são a pesca e o artesanato. Os dados são um ponto de partida, mas ainda há muito a desenvolver.

Financiamento

A ideia nesta segunda missão da CVM, em janeiro, é aprofundar o conhecimento dessa realidade para entender quais seriam os melhores instrumentos para financiar o desenvolvimento sustentável desses povos.

O projeto deve envolver o Laboratório de Inovação Financeira (LAB), um projeto conjunto de CVM, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) que, entre outras coisas, se propõe a promover soluções de mercado para financiar o desenvolvimento sustentável. Há também conversas com a Fundação Nacional do Índio (Funai). "O que falta a eles é capital. Pedimos que pensassem sobre sua vocação econômica", relata Vasco.

Ele dá exemplos de experiências frustradas na gestão de recursos, como no financiamento a um barco que acabou gerando inadimplência ao líder de uma aldeia, e a dificuldade em levantar recursos para a compra de um equipamento que ajudaria a melhorar o aproveitamento econômico da pesca em uma outra aldeia.

De acordo com o superintendente da CVM, se der certo, o projeto poderá ser replicado junto a outros grupos considerados vulneráveis na região: comunidades quilombolas, povos ribeirinhos e agricultores familiares. A meta da CVM é divulgar os resultados da primeira fase do programa em outubro de 2020. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Aprender a poupar e a planejar os gastos desde cedo. Esse é o objetivo de famílias que usam métodos de educação financeira para as crianças em casa. E essa tarefa pode ser simples. Os responsáveis podem, por exemplo, organizar um quadro de tarefas para cumprir e remunerar quando objetivos são alcançados ou dar um cofrinho para as crianças guardarem moedas.

O envolvimento das crianças com as finanças pode começar aos 3 anos de idade, como explica o especialista em Planejamento Financeiro e diretor da Allea WM, Francisco Levy. Segundo ele, o envolvimento com o tema deve ocorrer aos poucos, na medida da compreensão das crianças sobre o dinheiro.

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Para começar a trabalhar a educação financeira em casa, Levy sugere que para crianças pequenas, com idades entre 3 e 5 anos, seja adotado o clássico cofrinho para guardar moedas. A criança deve ser ensinada que para ter um brinquedo ou um passeio é preciso economizar.

Dos 6 aos 8 anos, a dica é já dividir os recursos recebidos em uma parte para gastos, outra para poupar e uma terceira para doar para pessoas mais necessitadas, compartilhar ou mesmo usar em presentes para amigos e familiares. Segundo Levy, nessa idade o senso de solidariedade também deve ser introduzido.

Aos 9 anos é hora de evoluir para uma conta bancária onde a criança vai começar a colocar suas economias. “É só aos 12 anos que a semanada se torna mesada, pois a criança já tem alguma noção de como gerir o dinheiro e já deve começar a aprender a fazer planos mais longos, como para uma viagem no fim do ano, por exemplo”, explica Levy.

“É fundamental também ao longo de toda infância, envolver os pequenos no orçamento familiar, mostrar restrições e objetivos, sempre em um ambiente realista e ponderado. Discussões tensas sobre o tema vão ser absorvidas pelas crianças e não ajudarão em nada”, explica. Ajudar a lidar com dinheiro e planejar o uso dos recursos desde pequenos, na opinião do especialista, vai criar adultos mais conscientes da necessidade de planejar e investir.

Aprendizado para a vida toda

“Muitos acreditam que lidar bem com o dinheiro ou ter capacidade de poupar é uma característica pessoal, mas não é bem assim. Podemos ensinar a eles como fazer isso desde muito pequenos e incentivar”, diz Levy.

O especialista acrescenta que três conceitos são fundamentais: receitas, despesas e acúmulo. Na visão de Levy, os pais devem ter a iniciativa de remunerar por pequenas tarefas, pois isso ajuda a criar o entendimento de que o dinheiro vem do trabalho. "Ajude a criar metas de acúmulo, desenvolvendo o planejamento para o alcance de um objetivo; assim, se quer um brinquedo que custa R$ 50, pode poupar R$ 10 por semana e ao final de cinco semanas terá o dinheiro para comprar”, explica.

O especialista também orienta a definir metas para comprar coisas mais caras. “Se querem algo que custa R$ 500, que poupem R$ 250 e os pais completarão com o resto. O importante é não suavizar o impacto das falhas na poupança, não guardou, não vai dar para comprar. É importante fazer com que eles sintam o custo de não ter planejado, isso vai trazer um aprendizado importantíssimo para a vida adulta.”

Na prática

A advogada Raquel Araújo Portela conta que desde os 4 anos dos filhos tem ensinado sobre o valor do dinheiro. E há cerca de dois anos tem estimulado a poupança por meio de um cofrinho para a Ana Clara, 11 anos, e o Leonardo, 8 anos. “Eles economizam o ano todo para comprar algo que eles queiram muito e que seja mais caro. Quando nós vamos ao shopping, eles já sabem que se querem comprar algo tem que ter dinheiro. Muitas coisas que eles compravam antes e deixavam jogado em casa, hoje já nem compram porque acham caro”, contou.

Raquel disse que os filhos juntaram dinheiro desde o início deste ano para comprar um videogame. A cada semana, eles ganham R$ 10 reais e quando tiravam nota máxima em uma prova da escola, recebiam R$ 50. “Em outubro, eles completaram o plano financeiro com mais de R$ 1.500”, disse Raquel. Com todo esse forço, os pais completaram o valor do videogame, que custava R$ 1.799.

A psicóloga Juliene Azevedo Oliveira também conta que ensina o filho de 8 anos a poupar e a administrar o dinheiro. “Desde os 7 anos do Guilherme, eu faço um quadro de tarefas em casa e todo sábado a gente faz a contabilização da semana. Quando ele cumpre com todas as tarefas, ele recebe dinheiro”, disse. Ela contou ainda que estabelece metas para o filho. “Ele queria comprar uma colcha para a irmã. Ele comprou e agora a próxima meta é um vídeogame”, disse, destacando que o filho se empenha para cumprir as tarefas. “Se cumprir tudo direito, em abril consegue comprar o videogame”.

Ao cumprir com as tarefas da semana, Guilherme recebe R$ 50 e já tem a própria carteira para guardar o dinheiro.

Antes de estimular a educação financeira em casa, Juliene conta que o filho não tinha noção do valor das coisas. “Como ganhava brinquedos sempre, não estava valorizando. E agora que ele está comprando, está conquistando, ele fica muito mais empolgado e dá mais valor”, ressaltou.

“A irmã pequena [de 5 anos] já está vendo. Ela já fica empolgada e quer participar, mas a gente está esperando um pouquinho”, disse Juliene.

A plataforma de serviços financeiros para pequenos empreendedores, MEI Fácil, lançou um canal de suporte para microempreendedores que precisam de ajuda para gerir seu próprio negócio. A ajuda vem via WhatsApp, na forma do projeto "Zap do MEI", que oferece lições de educação financeira e de gestão pelo mensageiro.

Durante dez dias, os interessados receberão dicas de gestão financeira, orientação sobre MEI e dicas de como crescer o negócio por meio do CNPJ. São dez passos abordados no projeto, entre eles os benefícios do INSS, nota fiscal, parcelamento do MEI, declaração anual do MEI, maquininha de cartão, entre outros. Ao final da consultoria, faz-se uma recapitulação dos assuntos abordados com orientações finais para o empreendedor.

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Quem quiser receber as dicas oferecidas pelo serviço precisa instalar o aplicativo do MEI Fácil. Nele há uma opção que indica o Zap do MEI. Após clicar, o usuário deve preencher um formulário autorizando a empresa a entrar em contato com ele e aguardar a liberação para entrar no grupo do curso.

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No ensino fundamental, a educação financeira já é lei desde dezembro. Em breve, o tema deve entrar no currículo do ensino médio, já que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe que o tema seja incluído de modo interdisciplinar. Mas a realidade é que essas aulas ainda não chegaram à maioria das escolas do País e muitos dos professores não tiveram treinamento sobre o assunto. Quem sai prejudicado é o aluno, que perde a chance de aprender a controlar os gastos ainda na infância, o que é essencial para uma vida financeira saudável no futuro, segundo especialistas.

A situação é mais grave nas Regiões Centro-Oeste e Nordeste, onde estão, respectivamente, só 7% e 8% das escolas do País que trabalham o conteúdo, segundo a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF Brasil). Superintendente da entidade, Cláudia Forte ressalta que o ensino é ainda mais importante em regiões carentes. "Nesses locais que percebemos a semente frutificar."

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O Norte figura no topo do levantamento feito em abril. As atividades de seus colégios representam 33% do total nacional. Só que o índice é puxado pela experiência do Tocantins, considerado modelo no ensino de educação financeira. O Sul aparece com 32% e o Sudeste, com 20%. O mapeamento da AEF é de participação voluntária, enviado à rede de 25 mil contatos da associação e contabiliza iniciativas ligadas ou não à educação formal. O Ministério da Educação diz não ter balanço sobre o tema - cada Estado tem autonomia nos currículos.

De 15 países pesquisados no teste de cultura financeira feito pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil teve o pior desempenho. O estudo foi divulgado em maio de 2017 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dos alunos brasileiros, 53% ficaram abaixo do nível mínimo de conhecimentos financeiros, atrás do Chile (38%) e do Peru (48%). Só 3% dos brasileiros atingiram a pontuação mais alta.

Não é que nada tenha sido feito. Mas o processo é lento e está longe de atingir a maioria dos Estados. Desde 2010, o País vem desenvolvendo a Estratégia Nacional da Educação Financeira (Enef), que levou material pedagógico e treinamento a professores de 3,8 mil escolas públicas. Em cada colégio, três educadores foram capacitados. Hoje, Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul estão em fase de desenvolvimento dos polos de educação financeira, para capacitar docentes da rede pública.

Entre os desafios está a falta dessa cultura na comunidade escolar. Os educadores sentem dificuldades em ensinar o tema. "O professor ganha mal, gasta mal e, como cidadão, não é valorizado", diz Cláudia, da AEF. Capacitar professores é o primeiro passo, mas o Tocantins, que oferece atividades nas 425 escolas estaduais, é uma exceção.

Para a coordenadora da inclusão do tema no currículo do Tocantins, Alessandra Camargo, o ideal é identificar o assunto em projetos já existentes na escola, para assim superar a resistência de professores que veem como um trabalho extra. "O programa dissemina o tema em sala de aula para formar contínua e progressivamente cidadãos conscientes e atuantes em sua vida financeira desde as primeiras fases escolares."

Outras experiências

A Secretaria Municipal de Educação de Bagé (RS) também pretende inserir a educação financeira no currículo das 64 escolas de educação infantil e de fundamental a partir de 2019. "A criança tem peso no momento de decisão de compra. Por isso, queremos usar essa influência para auxiliar a família a consumir de maneira mais consciente", diz a secretária, Adriana Lara.

Em Estados em que as pastas não fazem programas específicos, há parcerias de instituições que tratam do ensino de finanças e planejamento pessoal para crianças e jovens. É o caso de São Paulo.

O jornal O Estado de S. Paulo participou do projeto-piloto da Enef em 2010, mas não continuou com o programa. Segundo a Secretaria da Educação, o conteúdo está na matriz curricular, na disciplina de Matemática, e há estímulo para que escolas participem de iniciativas na área. Mas não foram desenvolvidos cursos específicos para capacitar os docentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Sistema Público Municipal de Emprego, Trabalho e Renda de Campina Grande (Sine-CG) está com inscrições abertas em seis cursos gratuitos de capacitação profissional. Estão sendo oferecidas 80 vagas e os cursos são destinados especialmente para o público feminino.

Para se inscrever é necessário ter idade mínima de 18 anos, apresentar RG, carteira profissional, não ser empregado ou estar à procura de emprego. As inscrições podem ser feitas até quarta-feira (7), na sede do Sine-CG, localizada no prédio da Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, na Rua Santa Clara, próximo ao Parque Evaldo Cruz no Açude Novo. O horário de atendimento é das 8h às 12h.

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Os cursos serão realizados nas dependências do Sine-CG, nos dias 12, 13 e 14 deste mês. Estão disponíveis os cursos: ‘Educação Financeira e Empreendedorismo’, ‘A mulher no mercado de trabalho’, ‘Marketing Pessoal’, ‘Atendimento ao cliente’, ‘Recepção Clínica’ e ‘Secretariado’. Todos os cursos serão ministrados por profissionais da Escola Técnica Redentorista, Faculdade Pitágoras e Prepara Curso.

Ano novo, dívidas novas. Sempre que passa a euforia do último mês do ano, as festas natalinas e o reveillon, as obrigações chegam “lembrando ao seu bolso” que um novo ano começou. Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), matrícula escolar - juntamente com o material - fazem uma somatória que podem pesar no bolso. Por isso, é preciso estar preparado para esses desembolsos que vão ser necessários, se não quiser começar 2018 com novas inadimplências e pagar altos juros típicos do setor financeiro do Brasil.

O mês de dezembro de todos os anos é marcado como um mês de incremento dos recursos, por conta do pagamento do 13º salário. O educador financeiro Arthur Lemos ressalta que esse recurso "extra" deve ser empenhado para tentar quitar essas dívidas e auxiliar aquelas pessoas que estejam inadimplentes perante o mercado. Fazer provocações do tipo: "o que vou fazer com o meu 13º salário? Quais tipos de economias devo fazer?", são importantes para mentalizar o estado financeiro em que se encontra.

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"Educação Financeira é um processo muito particular. O que funciona para uns, pode não funcionar para outros. Talvez o melhor primeiro passo para qualquer família e/ou indivíduo é entender a situação em que está inserido atualmente, ou seja, fazer um diagnóstico de sua realidade financeira", explica o financista.

Arthur, que também é fundador da Empreender Dinheiro, ainda chama a atenção para a necessidade de se programar, anotar tudo o que sai, e o que entra no "caixa". “Muitos brasileiros gastam mais do que ganham por não ter noção de seu salário líquido, ou seja, aquele que vai chegar em suas mãos com os descontos já feitos em folha: impostos, retenções. Se você ganha R$ 2 mil, não pode fazer uma dívida desse mesmo valor; não esquece que ainda faltam os impostos que incidem sobre ele. É importante, também, ter noção do que se está gastando, e do que se entra em 'caixa'. Uma listagem de todo o orçamento é de suma importância para a manutenção desse controle”, alerta o planejador. Ele ainda complementa: “uma dica é que faça um registro fiel de todas as suas despesas por categoria, durante pelo menos 30 dias", explana.

Para se ter noção da importância da “Educação Financeira”, em maio de 2017 o número de consumidores inadimplentes no país chegou a 61 milhões, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor. Trata-se do maior registro da série histórica desde 2012. Somente no mês de maio de 2017, cerca de 900 mil consumidores ingressaram no cadastro de inadimplência.

Arthur Lemos afirma que muito disso deve-se a falta de uma compreensão desse gerenciamento financeiro na escola, dentro de casa com os pais. “Ao longo de todo o ano, não só no fim, nós somos bombardeados de informações para o consumo excessivo desde quando vamos dormir, até a hora em que nos acordamos. Por isso, em algum momento as pessoas entendem que precisam comprar determinado produto e vão ao comércio. É aí onde está um dos problemas, porque ele acaba ultrapassando as barreiras do 13º salário”, confirma.

O dia 20 de dezembro foi a data limite para o pagamento da segunda parcela do 13º salário. “Nós podemos fazer três perguntas: O que eu quero? Quanto custa? E, por fim, quando eu quero realizar? Com essas informações eu consigo minimamente desenhar o planejamento financeiro; começando 2018 com um entendimento mais claro da situação. É importante salientar que economizar é um processo importante, mas ele não traz necessariamente um conforto financeiro. Economias acontecem quando as pessoas começam a consumir de maneiras mais conscientes e com o entendimento de suas obrigações anuais, no caso do IPTU, IPVA; que não são dívidas esporádicas. Todos sabem que esses impostos são anuais e certamente deveriam capitalizar elas nas suas obrigações financeiras”, ressaltou o educador.

No vídeo abaixo o educador financeiro dá algumas dicas de como tentar usar bem o seu dinheiro neste fim de ano. Confira e tente colocar em prática.

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