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A Guarda de Nazaré, que existe há 45 anos, agora é Patrimônio Cultural e Imaterial de Estado do Pará. A declaração, resultado de projeto da deputada Ana Cunha (PSDB), foi feita na sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), na manhã de terça-feira (11).
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O grupo tem atuação importante na organização e condução das festividades do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que ocorre no segundo domingo de outubro, em Belém. Conta com mais dois mil homens e é reconhecido pelo Vaticano como a maior guarda católica do mundo. "Esse título nos faz criar uma responsabilidade ainda maior com relação ao trabalho humanitário que nós já fazemos. É uma responsabilidade muito grande", disse Guilherme Azevedo, coordenador-geral da Guarda de Nazaré.
Segundo o coordenador, a notícia encheu os Guardas de Nazaré de felicidade e alegria. "Foi motivo de felicidade, não pelo fato do engrandecimento do ego, mas pelo fato de um reconhecimento de todo um trabalho voluntário que nós fazemos há 45 anos, trabalho esse que muitas vezes acaba sendo apenas reconhecido como se fosse na época do Círio, e não. O Círio é o ápice do nosso trabalho, mas durante o ano inteiro colaboramos em ações sociais, campanhas de doações de sangue, ajudamos no treinamento de outros guardas, ajudamos a Basílica durante todas as celebrações. A gente tem todo um trabalho grande e isso daí faz com que as pessoas reconheçam de fato o nosso trabalho. Isso para nós é muito bom, muito gratificante", detalha Guilherme.
Guilherme está na Guarda há 11 anos e diz que as pessoas que entram para a equipe têm mudança de 360 graus na vida delas. "É um giro que a pessoa dá na vida. Ao longo de todo um trabalho que a gente faz dentro da Guarda, com os guardas, ocorre um avanço muito grande, principalmente no que diz respeito ao lado espiritual de cada um. Os guardas se tornam pessoas boas, eles melhoram. Aqueles que entram para a Guarda acabam tendo uma outra visão do amor, da fraternidade, da humildade, e tudo isso faz com que a pessoa seja transformada. Essa é a grande vantagem que nós temos ao entrar na Guarda, esse preparo espiritual, esse engrandecimento espiritual", detalha.
Caminhos da fé
O coordenador explica que quem trabalha na Guarda sempre tem histórias de fé para contar. "Cada um já viveu uma experiência extraordinária, algo que realmente deixa a gente arrepiado", disse ao contar que, antes de ser coordenador, enquanto fazia o isolamento do altar da Basílica, uma senhora insistia em ultrapassar o isolamento para pegar as flores do altar. Depois de muita insistência ele pegou algumas pétalas, colocou nas mãos da senhora e pediu para que ela sentasse para fazer suas orações e deixasse de insistir. "Peguei as pétalas e dei para ela, ela guardou num lenço. Ela foi embora. Sumiu. Passou a quinzena, veio o mês de novembro, e quando chegou em dezembro, próximo ao Natal, essa senhora apareceu na igreja e me encontrou durante uma celebração. No final da missa ela me perguntou se eu lembrava dela, eu disse que não lembrava, e ela disse 'eu sou aquela senhora que tentou pegar as pétalas durante a quinzena do Círio e você não queria deixar, até que no final você me de as pétalas, estás lembrado?'. Eu pedi desculpas por só ter pego as pétalas. Elas disse não, não. Só as pétalas que pegaste para mim, já resolveu. Ela me mostrou o exame dela antes de pegar as pétalas e depois. Antes de pegar as pétalas ela estava com problema de câncer, quando ela pegou as pétalas, foi para a casa dela e fez um chá. Passados uns dias ela foi fazer uns exames do pré-operatório para remover o câncer, e simplesmente saiu no exame que ela estava curada. Ela trouxe aquilo para me mostrar. Para mostrar para o padre e para dar esse testemunho da graça e do poder que Nossa Senhora tem", revelou.
Guilherme explica que a equipe se esforça sempre para dar seu melhor e atua de forma que as pessoas se sintam atraídas e próximas. "Às vezes, a dificuldade de se aproximar da imagem naquele momento é criada por todo um sistema de segurança, e obviamente a Guarda está envolvida nisso, mas a gente sempre procura, durante os Círios, trazer a melhor forma de conduzir as pessoas, principalmente aquelas que estão na corda pagando as suas promessas, que estão nas estações e até mesmo aquelas pessoas que acompanham. A gente atende mais as pessoas que estão nas proximidades das estações, da berlinda, da própria corda, do que atende os guardas que passam mal durante as procissões. A gente procura melhorar cada vez mais", explicou.
Formação criteriosa
A Guarda de Nossa Senhora de Nazaré é formada por pessoas do sexo masculino, maiores de 18 anos, que tenham bons antecedentes e que sejam pessoa de referência para a sociedade. "A gente preza muito para que os Guardas de Nazaré sejam pessoas que promovam a palavra de Deus, que preguem o evangelho, que preguem a caridade, que promovam a humildade, o amor ao próximo. Ser um Guarda de Nossa Senhora de Nazaré não é vestir aquele uniforme, é muito mais que isso, para isso a gente investe muito em treinamento, em adorações, em missas, em reuniões, enfim, a gente faz com que haja uma transformação interna em cada um. Ser um Guarda de Nossa Senhora de Nazaré, é ser um homem de fé, um homem que traz a sua família para dentro da igreja, que leva a palavra de Deus para dentro de casa, que leva o amor ao próximo para o seu vizinho, isso tudo a gente faz", disse Guilherme.
As reuniões dos Guardas de Nazaré são quinzenais até o fim de junho. Em julho, o grupo entra em recesso, mas continua participando das ações. De agosto até o Círio, as reuniões são semanais, sempre às quintas-feiras.
A coordenação da Guarda se reúne todos os dias da semana. Este ano o presidente da Guarda é o padre Luiz Carlos. O requisito mínimo para o ingresso na Guarda de Nazaré é ser indicado por um dos Guardas, sendo que a pessoa que indica precisa ter no mínimo dois anos de vivência dentro do grupo. Após essa indicação, o aspirante passa por um treinamento, um curso com duração de três meses e meio. "Após esse curso, dependendo do comportamento dele, da frequência, da atividade dele dentro dos padrões que nós estipulamos, aí sim ele passa a se tornar um Guarda de Nossa Senhora de Nazaré, dentro de uma cerimônia pronta para esse momento. A condição que faz com que nós nos tornemos padrinhos de quem vai entrar é de que nós possamos ter a responsabilidade sobre essa pessoa. A última turma foi de 420 aspirantes. Desses, 304 foram efetivados na Guarda", explicou Guilherme.
Ser Guarda de Nazaré, segundo Guilherme, é uma forma de retribuir à Virgem de Nazaré o que ela tem dado aos membros. "Quando ingressa na Guarda, a gente só está ali porque ela fez o chamado e a gente fica devendo a ela essa mudança em nossa vida. Uma forma que a gente tem de retribuir é através das ações humanitárias que nós fazemos. Ser Guarda de Nazaré é ser homem de fé, de reconhecimento por aquela que sofreu pelo seu filho, mas está ali no meio de nós. Isso sim é ser um verdadeiro Guarda de Nazaré", concluiu.