Dentistas paraenses fazem cirurgia bucomaxilofacial inédita no Brasil, usando planejamento virtual e impressão em 3D de peças customizadas para o paciente. A técnica, que até então só era empregada na Bélgica e na França, foi usada em Belém para corrigir anomalias genéticas em dois pacientes.
O procedimento foi trazido pelos especialistas Paulo Hemerson e José Thiers e é indicado em diversas condições clínicas. O primeiro beneficiado foi o estudante Darley Albuquerque. Ele nasceu com síndrome de Goldenhar, uma doença rara que afeta principalmente homens. Aos 19 anos, Darley já passou por 17 cirurgias. A síndrome causa problemas cardíacos e diversas alterações em funções essenciais como mastigação, fonação e respiração, além da estética. Em Darley, que tem um lado da face malformado, as sequelas resultantes do diversos procedimentos cirúrgicos sofridos impediram o crescimento dos ossos dessa região.
##RECOMENDA##No final do ano passado, ele foi levado pela mãe, Dilza, à Associação Brasileira de Odontologia para fazer a extração de um dente. O tratamento teria que ser feito com um especialista no atendimento a pacientes com lábios leporinos porque Darley também tem má formação da fenda palatina e a ABO/PA mantém parceria com a AFLAB (Associação Voluntária de Apoio aos Portadores de Fissura do Lábio Palatal). Mas o que seria apenas um tratamento odontológico se transformou em uma oportunidade. Darley conheceu o coordenador do curso de especialização em cirurgia bucomaxilofacial da ABO/PA, JoséThiers. "Alguns indivíduos apresentam apenas algumas características e outros, todos os sintomas da síndrome. Em alguns casos há apenas a presença de fissuras. Darley, além das fissuras labiopalatais, apresentou fissuras raras de face, tinha uma assimetria estética, devido às falhas de maturação dos processos maxilares. O nariz e a orelha direita também não se desenvolveram corretamente", informou José Thiers. “O caso dele tinha todas as indicações para o uso pioneiro das placas customizadas”, avalia.
A cirurgia (realizada no hospital Ophir Loyola) com o uso de customização possibilitou o avanço da maxila e o reposicionamento da mandíbula de Darley. Agora, ele já consegue falar, respirar e mastigar adequadamente, recuperando a funcionalidade, além da melhora estética. Darley ainda deve passar por mais cirurgias, de outras especialidades médicas, para correções no nariz e ouvidos. “Antes, o cirurgião tinha apenas peças padronizadas, pré-fabricadas, que precisavam ser adaptadas ao rosto do paciente durante a operação, mas além de enfraquecer as placas com as dobras, o encaixe nunca era perfeito e a recuperação não era tão boa”, avalia Paulo Hemerson.
Sucesso - Glauber Quadros dos Santos, de 32 anos, também passou por cirurgia com a nova tecnologia. Ele descobriu aos 22 anos que tinha Síndrome de Crouson, também conhecida por Disostose craniofacial. É uma doença rara em que ocorre um fechamento prematuro das suturas do crânio, levando a diversas alterações cranianas e faciais. “Desde criança, sofria na escola com brincadeiras dos colegas sobre minha aparência. Mas eu me olhava no espelho e achava normal. Nenhum médico falou sobre a doença para a minha mãe. Só desconfiei de algum problema quando fui tirar a carteira de motorista. A examinadora comentou e fui pesquisar na internet”, lembra Glauber.
No procedimento, além de reposicionar o maxilar de Glauber, foi feito também o preenchimento da área abaixo dos olhos, onde a síndrome causou uma depressão óssea. “O planejamento virtual e as placas customizadas vão mudar não apenas as feições, mas também a vida dele”, avalia Paulo.
Pioneirismo - José Thiers, coordenador do curso de especialização em cirurgia bucomaxilofacial da Associação Brasileira de Odontologia, coordenou o trabalho em parceria com o cirurgião bucomaxilo facial Paulo Hemerson de Moraes, que reside na Bélgica. Juntos, eles desenvolveram uma tecnologia inédita em cirurgia bucomaxilofacial, com o uso de placas para fixação dos ossos customizadas, ou seja, feitas sob medida para o paciente e impressas em 3D.
A novidade do procedimento cirúrgico está no uso de peças customizadas impressas em 3D, a partir de um planejamento virtual. “Fizemos uma tomografia computadorizada para a reconstrução 3D da região afetada e posteriormente o planejamento virtual das movimentações da face”, explica Thiers. A partir destes planejamentos, o cirurgião bucomaxilo Paulo Hemerson de Moraes, que também é engenheiro de softwares, idealiza as customizações necessárias nas placas de fixação. As peças foram desenhadas ainda nos softwares de forma individualizada, respeitando todas as particularidades anatômicas do paciente.
“Todas as peças foram feitas de acordo com o planejamento virtual em titânio. Usamos impressoras 3D a laser para fazer a fusão do metal, camada por camada, garantindo a capacidade de resistência adequada de cada peça”, explica Paulo. Segundo ele, além das placas de fixação, as guias de corte que marcam onde os ossos devem ser seccionados para reposicionar e corrigir as más formações também foram feitas em 3D.
Vantagens - A customização das peças com impressão 3D minimiza os custos hospitalares com a redução do tempo de cirurgia, do período de internação, do uso de medicamentos e tempo de bloco cirúrgico e geralmente elimina a necessidade de UTI. A técnica elimina a necessidade de o cirurgião buscar adaptações das peças pré-fabricadas (tamanhos pré-definidos) durante os procedimentos. As peças pré-fabricadas (estoque) ofertam limitações em adaptação, e muitas vezes são insuficientes para reabilitar o paciente com perfeição.
Com informações da assessoria da ABO/PA.