Nas últimas semanas, a tensão que permeia a relação entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte é o assunto mais citado na imprensa internacional. Provocações mútuas, ameaças nucleares e o uso da retórica agressiva entre os países se intensificaram em 2017 e levantaram o alerta de uma Terceira Guerra Mundial.
A relação dos dois países nunca foi amistosa. Os EUA e a Coreia do Norte têm desavenças antigas, desde a Guerra da Coreia, na década de 1950. Na época, a Força Aérea americana bombardeou e usou o químico ‘napalm’ em regiões norte-coreanas, matando um total de 20% da população do país.
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Já entre os anos de 1958 e 1991, os EUA mantiveram armas nucleares destinadas a um possível uso contra os norte-coreanos no território da Coreia do Sul. Já o país asiático, que havia assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN), em 1985, foi acusado pelos americanos de desenvolver atividades nucleares irregularmente. Em 1993, o país anunciou a saída do Tratado.
Treze anos após a saída do TPN, em 2006, a Coreia testou a primeira bomba atômica com sucesso. Mais quatro testes nucleares foram realizados nos anos 2000. Desde então, a relação do país com o ocidente se estremeceu a diversas sanções foram impostas aos norte-coreanos por causa dos testes atômicos.
No dia 8 de abril de 2017, um novo teste de míssil frustrado foi realizado pela Coreia do Norte. Em resposta, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou ter enviado "uma arma muito poderosa" para a península coreana. No último dia 24 de abril, o site oficial norte-coreano Uriminzokkiri declarou que os Estados Unidos serão "varridos da face da Terra" se desencadearem uma guerra na península.
Para entender se o mundo está à beira de um novo conflito nuclear em nível global, o LeiaJa.com consultou especialistas em Geopolítica mundial e Relações Internacionais. Os estudiosos consultados entendem que as chances de um conflito nuclear entre os países são remotas, nas condições atuais.
Para o cientista político e especialista em Relações Internacionais, Thales Castro, a comunidade internacional tem que estar atenta aos fatos, mas a chance uma nova guerra mundial é uma realidade distante. “A Coreia tem muito a perder diante do potencial bélico dos EUA. Já os norte-americanos sabem que não podem ser muito incisivos nessa relação porque existem países aliados no comércio exterior no entorno da Ásia, como o Japão e a própria China”, afirmou Castro.
O estudioso acredita que as ameaças devem seguir no campo da retórica agressiva porque uma eventual guerra seria mais negativo do que positivo para ambos os países. “A imprensa norte-coreana utiliza essa tônica de expressões como varrer do mapa e dizimar americanos. É uma retórica repetitiva e apesar de não ser vazia, falta muita substancialidade. Soa mais como provocação e propaganda política interna, já que na Coreia os aparelhos de mídia são controlados pelo estado”, apontou Thales.
Especialista em Segurança Internacional e Relações Internacionais, o professor Antônio Lucena faz uma ressalva de que na administração do republicano Donald Trump houve um aumento da tensão entre os países. Para ele, assim como a auto-afirmação da política norte-coreana, o presidente dos EUA também precisa se legitimar com seus eleitores. “É uma tendência natural as farpas continuarem pela importância do fortalecimento na política interna”, explicou.
Lucena admite que na política internacional nada pode ser totalmente descartado, muito menos uma guerra na península coreana, apesar disso, o pesquisador não acredita em um conflito armado. “Atualmente não temos as mesmas condições da 2ª Guerra Mundial, como a grande potência que era a Alemanha nazista”, diz. Para o professor, uma das razões que poderiam levar ao conflito armado seria o ataque da Coreia do Norte a alguma base dos EUA ou a construção do míssil balístico intercontinental. “Ele teria condição de atingir os americanos com uma ogiva nuclear e, nesse caso, acho que o Trump reagiria militarmente”.
De acordo com Lucena, o desenvolvimento de armas nucleares é muito importante para a Coreia do Norte por serem o único impeditivo de uma invasão norte-americana. “Durante o governo Obama houve uma tentativa frustrada para o país abandonar as armas. Com esses equipamentos, a tendência é que eles evitem uma possível invasão, assim como aconteceu no Afeganistão e no Iraque”, afirmou.
Já Marcos Costa Lima, professor do departamento de Ciência Política da UFPE e coordenador do Instituto de Estudos da Ásia, defende que o futuro da situação entre os países é uma incógnita. “Não dá pra saber se teremos um conflito. Os líderes dos dois países são desequilibrados e radicais, representando um perigo para o mundo. A situação se complica mais ainda porque ao que parece a Coreia do Norte não vai retroceder”, lamentou.
Fotos:Ed Jones/AFP