Tópicos | Bolívia

A Bolívia e o México vivem uma verdadeira "guerra diplomática" devido a um grupo de nove membros do governo do ex-presidente Evo Morales que se refugiaram na embaixada mexicana em La Paz. Desde 23 de dezembro, policias e forças de segurança da Bolívia estão no entorno do prédio controlando, inclusive, os carros que acessam a embaixada para evitar que as nove pessoas fujam.

O governo de Jeanine Áñez, que assumiu a Bolívia após a renúncia de Morales, nega-se a conceder um salvo-conduto para que o grupo deixe o país. Isso porque a Justiça boliviana pretende processá-los junto com Morales. La Paz afirma que a operação policial na embaixada se trata de um pedido de proteção feito pelo próprio México. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores mexicano definiu a situação como "um verdadeiro assédio", o que violaria a Convenção de Viena sobre sedes diplomáticas.

##RECOMENDA##

Nesse sentido, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, anunciou a intenção do país de levar o caso para a Corte Penal Internacional (CPI), em Haia, na Holanda. Em reposta, o ministro da Presidência boliviano, Yerko Nuñez, rebateu que a decisão mexicana de acionar a Corte de Haia "não faz sentido". "Queremos oferecer segurança à embaixada do México, mas também queremos que todos que cometeram atos de terrorismo e sedição, que incentivaram distúrbios, sejam submetidos à Justiça", afirmou.

Ontem à noite (26), o subsecretário de Relações Exteriores do México, Maximiliano Reyes, propôs à chanceler boliviana, Karen Longaric, um encontro em um país neutro para discutir o caso. A Bolívia aceitou a oferta, mas exigiu que o negociador fosse Ebrard, e não Reyes. No grupo refugiado na embaixada estão quatro ex-ministros de Morales: Juan Ramón Quintana (Interior), Javier Zavaleta López (Defesa), Félix César Navarro Miranda (Minas e Energia) e Wilma Alanoca (Cultura).

Evo Morales renunciou à Presidência em novembro, após uma série de protestos populares sobre possíveis violações nas eleições. Em um primeiro momento, ele ficou no México, depois seguiu para Cuba e, agora, está na Argentina.

Da Ansa

A Organização dos Estados Americanos (OEA) rejeitou nesta quarta-feira a violência racial na Bolívia e pediu que se respeitem os direitos dos povos indígenas, em uma resolução que acolhe com agrado a investigação dos eventos que ocorreram no contexto das eleições de outubro, muito questionadas.

O texto proposto pela Comunidade do Caribe (Caricom) foi aprovado por 18 votos, incluindo os da Argentina, México, Nicarágua e Uruguai.

Contra foram Bolívia, Colômbia, Estados Unidos e Venezuela (representada por um delegado do líder da oposição Juan Guaidó).

Dos 34 membros ativos da OEA, 11 se abstiveram, incluindo Brasil e Canadá, e o Haiti estava ausente.

A Promotoria de La Paz solicitou, nesta quarta-feira (18), uma ordem de prisão contra o ex-presidente Evo Morales. Ele é acusado pelos delitos de sedição e terrorismo. Atualmente, o político está refugiado na Argentina, após ter saído do posto em meio a uma onda de protestos.

Com base nessa ordem, a polícia deve cumprir o requerimento judicial, afirmou o coronel-major Luis Fernando Guarachi, chefe da polícia anticrime da capital boliviana. Guarachi falou em entrevista à emissora de televisão Unitel.

##RECOMENDA##

Ministro do Governo, Arturo Murillo apresentou há alguns dias uma demanda penal contra Morales, acusando-o de promover violentos enfrentamentos que deixaram 35 mortos. A acusação é baseada em um áudio no qual supostamente se escuta o ex-presidente ordenando que se resistisse e também por um cerco nas cidades a fim de derrubar a presidente interina Jeanine Áñez. 

O ex-presidente boliviano Evo Morales poderá realizar declarações políticas durante sua permanência na Argentina, onde recebeu o status de refugiado, disse o chefe de gabinete do governo argentino Santiago Cafiero.

"Um refugiado tem os mesmos direitos que um cidadão argentino, incluindo liberdade de expressão, liberdade de declarar, pensar e dizer o que quiser. Não restringiremos suas liberdades", disse Cafiero em entrevista ao jornal La Nacion, publicado neste sábado.

##RECOMENDA##

Morales viverá na cidade argentina de San Ramon de la Nueva Oran, no noroeste da Argentina, a menos de uma hora de carro da fronteira com a Bolívia. A partir daí, ele planeja coordenar a campanha presidencial de seu partido no próximo ano, disse ele no Twitter.

"Um mês após o golpe na Bolívia, realizamos nossa primeira reunião em Buenos Aires com alguns líderes departamentais e nacionais de movimentos sociais, prefeitos, líderes do MAS e membros da assembléia para fazer uma avaliação política e planejar a campanha", declarou Morales.

Morales fugiu para o México no mês passado, depois que protestos em massa contra sua reeleição resultaram em sua renúncia. Ele desembarcou na Argentina na quinta-feira como refugiado.

Da Sputnik Brasil

O governo interino da Bolívia decidiu nessa sexta-feira (13) conceder asilo político a 200 cidadãos venezuelanos que, de acordo com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), fugiram de seu país por causa da "perseguição política" da gestão de Nicolás Maduro, disse a ministra das Relações Exteriores Karen Longaric.

"Eles estão em situação irregular e muitos deles com autorização de residência temporária no território boliviano", disse.

##RECOMENDA##

Segundo a funcionária, "esses cidadãos eram contra o regime Maduro". (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, foi nomeado coordenador de campanha do seu partido, o Movimento Para o Socialismo, nas próximas eleições. Ele foi escolhido durante um congresso extraordinário da sigla, em Cochabamba, neste sábado, 7, no qual não esteve presente.

Morales está exilado no México desde novembro, quando renunciou à Presidência da Bolívia em meio a protestos e acusações de fraude eleitoral. Na sexta-feira, surgiram notícias de que o ex-mandatário havia deixado o país da América Central rumo a Cuba.

##RECOMENDA##

"Agradeço a confiança de me nomearem chefe de campanha. Elegeremos um candidato unitário e novamente ganharemos as eleições em primeiro turno. Obrigado por não me abandonarem, sempre estarei com vocês", disse Morales pelo Twitter.

Desde novembro, a senadora Jeanine Áñez age como a autoproclamada presidente interina da Bolívia. A data para as novas eleições no país ainda não foi definida.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou nessa quarta-feira (27) para o ex-presidente da Bolívia Evo Morales. Segundo o Instituto Lula, "foi uma ligação de solidariedade e preocupação humanista com Evo", que está exilado no México desde o dia 12, depois de renunciar ao cargo sob pressão dos militares e de manifestações de rua.

Segundo colaboradores próximos ao petista, o ex-presidente tem dito que não entendeu os motivos que levaram Evo a renunciar e teria comparado o caso da Bolívia com o da Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro sofre pressões há anos, mas continua resistindo no cargo.

##RECOMENDA##

Em entrevista ontem ao Brasil 247, Lula disse também que Bolívia vivia um raro período de crescimento econômico e estabilidade política. As manifestações se intensificaram depois que a OEA apontou suspeitas de fraude na apuração da eleição presidencial do dia 9. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, na semana passada, Lula disse que Evo errou ao tentar um quarto mandato.

Desde a renúncia, mais de 20 pessoas morreram em confrontos na Bolívia. Na entrevista ao Brasil 247, Lula disse que não pretende ir à posse do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. "Um ex não tem o que fazer lá", avaliou Lula.

O ex-presidente disse ainda que pretende tirar um novo passaporte, pois o seu foi furtado junto com documentos que estavam no carro de um de seus filhos no dia em que foi preso, em abril de 2018. "Não quero mais passaporte diplomático. Quero um passaporte verde igual ao de todo mundo", afirmou. Os passaportes brasileiros hoje são azuis.

Lula revelou que pretende ir a Paris para receber o título de cidadão parisiense conferido pela prefeitura local e, se possível, fazer uma visita ao papa Francisco. "Se até lá eu tiver casado, queria aproveitar para passar uma lua de mel com a Janja", disse Lula, que está noivo da socióloga Rosângela da Silva.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, formalizou neste domingo uma lei para convocar novas eleições para substituir Evo Morales, sem estabelecer data para isso. Caberá a um novo tribunal eleitoral, ainda não nomeado, definir a data, mas a notícia sobre a disputa futura nas urnas diminuiu os protestos pelo país.

Autoridades do governo interino dizem que Morales não poderá concorrer e também que será escolhida uma nova Assembleia Legislativa na disputa. Os protestos já duram 35 dias e deixaram 32 mortos, provocando a renúncia de Morales e seu posterior exílio para o México. "Meu mandato é organizar eleições justas, limpas e transparentes", afirmou Jeanine Áñez.

##RECOMENDA##

O novo Tribunal Supremo Eleitoral será escolhido em 20 dias pelos legisladores. Ele estabelecerá uma data para a disputa que não deve superar 120 dias a partir da posse dos magistrados, segundo um acordo com a bancada majoritária do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de Morales. A mediação da Organização das Nações Unidas, da União Europeia, da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de bispos católicos possibilitou os acordos.

Um eventual segundo turno se realizaria 45 dias depois, o que poderia exceder o mandato constitucional de 120 dias do governo interino de Áñez. Ela iniciou no sábado uma negociação com setores que protestam para escutar suas demandas, entre eles a liberação de detidos e a retirada dos militares das ruas. Ainda há conflitos menores, mas "o caminho está mais claro para a pacificação", disse o ministro da Presidência, Jerjes Justiniano. A entrada de alimentos e combustíveis já se normalizou em grande parte de La Paz. Fonte: Associated Press.

O Senado da Bolívia aprovou, neste sábado, projeto de lei para a realização de novas eleições presidenciais no país. De acordo com o texto, que agora segue para avaliação dos deputados bolivianos, ex-presidentes que já tenham ocupado o Executivo local por dois mandatos não podem se candidatar - o que veta a participação do ex-presidente Evo Morales no pleito.

A realização de novas eleições vem em meio a uma forte crise política e social. A Bolívia vive uma onda de protestos violentos desde que foi anunciada a eleição de Evo Morales para um quarto mandato, no fim de outubro, em votação contestada pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

##RECOMENDA##

Hoje, a Bolívia é comandada pela autoproclamada presidente interina, Jeanine Añez, que assumiu o cargo após Morales renunciar e receber asilo político do México. Desde que conquistou um novo mandato, o ex-presidente socialista vinha sendo pressionado por grupos opositores e pelas Forças Armadas do país a deixar o posto.

O governo interino da Bolívia está acusando o ex-presidente Evo Morales de terrorismo e sedição.

O atual ministro do Interior, Arturo Murillo, disse nesta sexta-feira que a acusação está relacionada a um vídeo em que Morales é supostamente ouvido coordenando bloqueios durante os protestos na Bolívia.

##RECOMENDA##

Murillo disse que o governo busca uma pena máxima para o ex-presidente boliviano, entre 15 e 20 anos de prisão. Morales, por sua vez, já afirmou que o vídeo é uma montagem.

A Bolívia vive uma crise política desde que Morales disse ter vencido as eleições de 20 de outubro, apesar de protestos generalizados em meio a alegações de fraude eleitoral.

O ex-presidente da Bolívia, que governou o país durante quase 13 anos, renunciou em 10 de novembro, alegou ter sofrido um golpe e se autoexilou no México.

Membros do partido de Morales e a oposição disseram nesta sexta-feira que estão perto de um acordo para chamar novas eleições. Fonte: Associated Press

Milhares de manifestantes carregaram nesta quinta-feira (21) durante uma marcha em La Paz, na Bolívia, os caixões com os corpos de mortos em um confronto com a polícia na cidade de El Alto.

Em um ato nesta terça-feira (19) contra o governo interino de Jeanine Áñez, três manifestantes morreram atingidos por armas de fogo durante a confusão que ocorreu nas proximidades de uma usina que produz combustíveis. Além disso, outras 30 pessoas ficaram feridas no tumulto.

##RECOMENDA##

Pedindo "justiça" e carregando a bandeira "wiphala", os manifestantes deixaram El Alto e foram até La Paz carregando cinco caixões. No entanto, as forças de ordem reprimiram o ato quando o grupo tentou colocar os caixões em um tanque militar. Os agentes lançaram gás lacrimogêneo e prenderam dezenas de pessoas.

Enquanto isso, do México, Evo Morales afirmou que foi vítima de um golpe, após ter perdido o apoio de militares e policiais. "Denuncio o governo em exercício na Bolivia por fazer uma montagem com a intenção de me denunciar internacionalmente", escreveu o ex-presidente no Twitter.

Na quarta-feira (20), Áñez apresentou um projeto de lei para convocar eleições gerais no país. De acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Cidh), mais de 20 pessoas já morreram durantes os protestos na Bolívia.

Da Ansa

Os Estados Unidos sugeriram nesta quinta-feira (21) que o ex-presidente da Bolívia Evo Morales deve permanecer à margem nas próximas eleições no país andino, que Washington disse que devem ser "livres, justas e inclusivas".

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, prometeu o apoio dos Estados Unidos ao governo de transição liderado por Jeanine Áñez, que assumiu depois de Morales renunciar, pressionado após as eleições questionadas de 20 de outubro.

##RECOMENDA##

"Admiramos o povo boliviano por defender sua Constituição, sua democracia e suas eleições livres, justas e transparentes", disse Pompeo em um comunicado.

"Aos que participaram das escandalosas irregularidades e da manipulação dos votos nas fracassadas eleições de 20 de outubro devem, pelo bem da Bolívia, se afastar e deixar que os bolivianos reconstruam suas instituições", afirmou Pompeo, em um comunicado.

Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia, que mantinha relações turbulentas com os Estados Unidos, buscava um quarto mandato. Acusado de manipular os resultados das eleições, o presidente renunciou em 10 de novembro sob pressão de seus oponentes e das forças de segurança, que pediram sua renúncia para permitir a "pacificação" e "estabilidade" do país.

Em entrevista publicada nesta quinta-feira no site da revista alemã Der Spiegel, Morales, refugiado no México desde 12 de novembro, disse que tem o "direito" de participar das novas eleições, mas que ficará de fora se participação impedir o fim da crise política.

A Assembleia Legislativa da Bolívia, onde o Movimento pelo Socialismo (MAS) liderado por Morales é majoritário, procura dar um sinal verde à convocação de eleições gerais para tentar parar a violenta crise que fraturou o país e deixa pelo menos 32 mortos em tumultos.

Pompeo pediu a todas as partes que se abstivessem de atos de violência.

"Os serviços de segurança devem respeitar os direitos dos manifestantes pacíficos, e as autoridades bolivianas devem garantir que sejam responsabilizados por qualquer violação dos direitos dos cidadãos", afirmou.

A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, enviou na quarta-feira (20) ao Congresso um projeto de lei para convocar eleições gerais em 2020. O texto, porém, não fixa uma data, que será marcada somente depois da formação de um novo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Senadora conservadora, ela assumiu o poder no dia 12, dois dias após a renúncia de Evo Morales.

A Constituição boliviana estabelece prazo de 90 dias para uma eleição presidencial, a contar da nomeação do interino. Jeanine, que se declarou presidente em uma sessão sem quórum, depois de todas as autoridades acima dela renunciarem, não se comprometeu a cumprir este prazo. Suas primeiras medidas foram nomear uma nova cúpula milita, um novo gabinete e novos embaixadores.

##RECOMENDA##

O envio de seu projeto ao Congresso ocorre em meio a forte pressão externa por uma definição no processo eleitoral. As delegações da Colômbia e do Brasil encabeçaram ontem uma proposta de resolução na Organização dos Estados Americanos (OEA) para cobrar a convocação de eleições "urgentemente" e o estabelecimento de um "calendário eleitoral claro".

O texto, aprovado pelo Conselho Permanente da OEA, com voto a favor de 26 dos 34 países, também prevê o envio de apoio técnico para auxiliar nos trâmites eleitorais.

Jeanine disse que a convocação de novas eleições será monitorada por organizações internacionais e outras instituições, como a Igreja Católica, que estão facilitando o diálogo entre as partes. Um novo TSE deve ser formado porque as autoridades que compunham o órgão foram detidas.

A renúncia de Evo foi seguida pela saída em cascata do vice e demais autoridades que poderiam substituí-lo constitucionalmente. O ex-presidente, que partiu para o exílio no México, disse ser vítima de um golpe de Estado, em consequência da pressão das Forças Armadas bolivianas para que ele deixasse o poder após semanas de protestos contra fraudes no primeiro turno da eleição, em outubro.

Uma auditoria da OEA apontou, antes da renúncia, "graves irregularidades" no processo eleitoral que colocaram em xeque a legitimidade da reeleição de Evo - seria seu quarto mandato como presidente. Em 2016, ele já havia sido derrotado em um referendo que rejeitou a possibilidade de Evo concorrer mais uma vez. O presidente, no entanto, conseguiu ser candidato graças a uma decisão judicial.

Nas eleições de outubro, Evo obteve 47% dos votos. Em segundo lugar ficou Carlos Mesa, com 36,5%. O partido de Jeanine, Unidade Democrata, obteve apenas 4,24% dos votos.

Violência

Os países da OEA também pediram que todos os atores políticos e civis da Bolívia, incluindo autoridades e Forças Armadas, cessem a violência nas manifestações. Os membros da organização também fizeram um "apelo às autoridades bolivianas para que garantam a proteção dos direitos humanos".

Nos últimos dias, conflitos na região de Cochabamba e na cidade de El Alto aumentaram o caos na Bolívia. Na terça-feira, a polícia e os militares invadiram a refinaria de Senkata, ocupada por partidários de Evo que impediam o fornecimento de combustível para La Paz. A invasão deixou seis mortos, ampliando para 30 o número total de mortes nos distúrbios após as eleições.

O governo interino boliviano divulgou ontem um áudio em que um homem, cuja voz é atribuída a Evo, instrui um líder sindical a manter os bloqueios que desabasteceram La Paz. O país precisou recorrer à importação de gasolina de países vizinhos e implementou subsídios à carne de frango para evitar uma disparada dos preços. (Beatriz Bulla com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As delegações da Colômbia e Brasil encabeçaram uma proposta de resolução na Organização dos Estados Americanos (OEA) nesta quarta-feira, para cobrar a convocação de eleições "urgentemente" na Bolívia e o estabelecimento de um calendário eleitoral claro no país.

O texto, aprovado pelo Conselho Permanente com voto a favor de 26 países, também prevê o envio de apoio técnico da OEA para auxiliar nos trâmites eleitorais bolivianos. A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, anunciou hoje que convocará eleições gerais nas próximas horas.

##RECOMENDA##

A última reunião do Conselho Permanente da OEA para discutir o caos institucional na Bolívia aconteceu na semana passada. Na ocasião, 15 países manifestaram em uma declaração a defesa de convocação de novas eleições na Bolívia.

Agora, o texto passou de uma mera declaração para resolução - documento que é colocado em votação e tem maior peso simbólico na OEA - e o apoio explícito à convocação de novas eleições subiu para 26 países.

O anúncio de renúncia de Evo Morales, no dia 10, foi seguido pela renúncia em cascata do vice e demais autoridades que poderiam assumir o cargo. A OEA se reuniu dois dias depois em uma clara divisão interna sobre a narrativa de Morales de que sofrera um golpe de Estado, em consequência da pressão das Forças Armadas bolivianas para que ele deixasse o poder após semanas de protestos no país.

Auditoria da OEA apontou, antes da renúncia, "graves irregularidades" no processo eleitoral de outubro, que colocaram em xeque a legitimidade da eleição da qual Evo Morales saiu vitorioso para um quarto mandato como presidente.

O texto da OEA de hoje foi apresentado pela Colômbia e copatrocinado pelo Brasil. No total, 26 dos 34 países votaram a favor. México, Nicarágua e São Vicente e Granadinas votaram contra a resolução. Uruguai, Suriname, Barbados, Trinidad e Tobago se abstiveram.

A resolução aprovada hoje manifesta o apoio dos países à iniciativa do Secretário-Geral da OEA, Luís Almagro, para mobilizar uma delegação do organismo que ajude a garantir as eleições transparentes.

O Conselho Permanente também pede que a Secretaria de Fortalecimento da Democracia da OEA, que fica responsável pelas observações eleitorais, preste apoio técnico à Bolívia 'para que se dê início imediato ao processo eleitoral".

Pressão por fim da violência na Bolívia

A resolução aprovada tem cinco pontos, sendo o primeiro o chamado às autoridades bolivianas para que "convoquem eleições urgentemente, em conformidade com o mandato constitucional e legal da Bolívia, adotando prontamente um calendário eleitoral que dê certeza ao povo boliviano sobre um processo eleitoral com todas as garantias democráticas".

Os países da OEA também pedem que todos os atores políticos e civis, incluindo autoridades e forças armadas, cessem a violência nas manifestações no país e faz um "apelo às autoridades para que garantam a proteção dos direitos humanos".

"É imperioso que os atores políticos e sociais na Bolívia assumam atitude pacífica e condizente com os princípios constitucionais e democráticos, a fim de contribuir para o imediato estabelecimento de condições para a realização de novas eleições, limpas e transparentes, dentro do marco constitucional e com monitoramento internacional independente", afirmou o embaixador do Brasil na OEA, Fernando Simas, na sessão de hoje.

O diplomata também disse confiar que os "técnicos eleitorais da OEA poderão prestar todo o apoio às autoridades bolivianas" para a realização de novas eleições

Os Estados Unidos elogiaram a Bolívia nesta segunda-feira pela expulsão de centenas de funcionários cubanos de seu país, em uma mudança da diplomacia boliviana após a renúncia do presidente Evo Morales.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, disse em coletiva de imprensa que o governo interino da Bolívia, encabeçado pela ex-senadora Jeanine Áñez, fez "o correto" na sexta ao iniciar a repatriação de mais de 700 cooperantes cubanos.

##RECOMENDA##

"Isso era o correto. Cuba não estava enviando médicos e funcionários à Bolívia para ajudar o povo boliviano, mas para apoiar um regime pró-Cuba encabeçado por Evo Morales, que se propôs a se manter no poder através da fraude eleitoral", opinou Pompeo.

"A Bolívia agora se une ao Brasil e ao Equador em reconhecer a ameaça cubana à liberdade. Em cada caso, esses governos livres de interferência externa agiram para proteger sua própria soberania nacional e defender seus próprios interesses cidadãos. Bravo, Bolívia", declarou.

No poder desde 2006, Morales renunciou em 10 de novembro após as forças de segurança retirarem seu apoio a ele, em meio a fortes protestos por acusações de fraudes no pleito de 20 de outubro.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou, neste domingo (17), por meio de rede social, 'crimes cometidos contra a humanidade' durante a 'repressão policial e militar' no país. Morales exigiu que o atual governo identifique os responsáveis pelas mortes de 24 civis, que segundo o político, teriam ocorrido em cinco dias.  

“Exigimos que o governo de fato de Áñez, Mesa e Camacho identifique os autores das 24 mortes em 5 dias devido à repressão policial e militar. Eu denuncio à comunidade internacional esses crimes contra a humanidade que não devem permanecer em impunidade”, manifestou-se o ex-presidente via Twitter.

##RECOMENDA##

Em outro post publicado no microblog, Morales disse que o 'governo de fato' - referindo-se a gestão interina de Jeanine Áñez, está usando do decreto 27977 para 'oferecer impunidade aos assassinos'.  O decreto assinado pela autoproclamada presidente da república, autoriza que as Forças Armadas atuem nos confrontos sem que sejam responsabilizados pelos crimes.

A crise social e política na Bolívia se intensificou com a renúncia do então presidente, Evo Morales, após 13 anos no poder. Desde então, manifestações violentas vêm acontecendo no país envolvendo apoiadores do ex-presidente e militares. De acordo com o mais recente relatório divulgado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), só no domingo foram nove mortes e 122 feridos. Ao todo, segundo a entidade, são pelo menos 23 pessoas que morreram e outras 715 pessoas que ficaram feridas em meio aos confrontos.

Desde a renúncia de Evo Morales no dia 9, a cidade de Yapacaní, no Departamento de Santa Cruz, tem sido alvo de confrontos entre cocaleiros apoiadores do ex-presidente e moradores locais. Um jovem de 20 anos morreu, vítima de arma de fogo, e várias casas e instalações públicas, entre elas a única rádio local e o posto da Polícia Nacional, foram incendiadas. Vinte e oito pessoas estão presas.

Os cocaleiros vindos de Chapare, no Departamento de Cochabamba, estavam acampados no entorno da cidade e bloquearam a ponte que dá acesso a Yacapaní duas semanas atrás, mas não havia registro de incidentes violentos até que no dia 10 adversários de Evo distribuíram via WhatsApp um vídeo no qual comemoravam efusivamente a renúncia do ex-presidente. A postagem desencadeou a onda de violência que levou à morte do jovem.

##RECOMENDA##

Segundo fontes da polícia, o caso de Yapacaní é um exemplo de como as redes sociais têm sido usadas para incitar a violência entre grupos políticos opositores. "Estamos com muita dificuldade para lidar com isso. As pessoas não conseguem distinguir o que é verdade do que é mentira", disse um oficial. Segundo ele, uma das condições colocadas pelos cocaleiros para desarmar o bloqueio foi um pedido de desculpas formal pelo vídeo postado.

"Nossa gente se sentiu extremamente ofendida com aquele vídeo. Aquilo é uma provocação", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o cocaleiro Hugo Casas, que ajuda a manter o bloqueio em Yapacaní.

Uma tentativa de acordo mediada ontem pela polícia fracassou e o bloqueio continua, ameaçando a cidade de desabastecimento de comida e outros itens básicos.

Ontem, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) divulgou um balanço de 23 mortos desde o início da crise boliviana, no dia 21, e classificou como "grave" um decreto assinado pela autoproclamada presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, que autoriza as Forças Armadas a usarem "todos os recursos" para controlar distúrbios de ordem política e isenta militares de responsabilidade penal em casos de "cumprimento de suas funções Constitucionais, ataque em legítima defesa ou estado de necessidade".

O decreto foi assinado um dia antes de 9 cocaleiros serem mortos a tiros pela polícia de Cochabamba quando tentavam furar um bloqueio. Ontem, o ministro da Presidência, Jerjes Justiniano, negou que o documento seja um estímulo à violência. "De nenhuma maneira o decreto é uma licença para matar. É um elemento dissuasivo. O que o governo pretende é evitar os confrontos que podem levar a mais mortes", afirmou.

Desde o início da crise uma avalanche de notícias falsas tem invadido as redes sociais bolivianas. Uma delas dava conta da queda de um avião com um ex-ministro de Evo com dólares e armas na fronteira com o Brasil. Outras citavam uma conta falsa de Jeanine, que também foi alvo de montagens em vídeo. No início da semana passada, imagens de opositores de Evo queimando uma wiphala (a bandeira multicolorida que representa o orgulho indígena) provocou protestos violentos em La Paz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Alberto Sassín, de 21 anos, aluno do quarto ano do curso de Comunicação Social, conta com orgulho que não dorme em uma cama limpa há mais de duas semanas. Ele faz parte da brigada responsável pela barreira improvisada em uma esquina da Rua Potosí que dá acesso à Praça Murillo, no centro de La Paz.

Ele tem passado as noites ali com mais uma dúzia de colegas da faculdade armados com tacos de beisebol e escudos feitos de latão para impedir que apoiadores do ex-presidente Evo Morales ocupem o centro de poder da capital boliviana.

##RECOMENDA##

Antes do dia 21, quando ficaram evidentes as suspeitas de fraude nas eleições do país andino, Alberto nunca tinha participado de um ato político. O rapaz de classe média alta admite que sofreu influência dos protestos no Chile, também liderados por jovens.

Uma das diferenças entre a crise que levou à queda do ex-presidente da Bolívia Evo Morales no domingo passado em relação às outras dezenas que sacodem o país há décadas é o protagonismo dos jovens.

Mobilizados via WhatsApp, eles se articularam para levantar dezenas de bloqueios que tornam La Paz quase intransitável, conferir as listas de votação, marcar manifestações e levantar ajuda material para manter os movimentos que levaram à renúncia de Evo.

Desde o início da crise, no dia 21, todas as universidades de La Paz tiveram as atividades paralisadas. Oito dos dez mortos em confrontos contabilizados até quinta-feira tinham até 22 anos de idade.

"A história dessas semanas poderia ser contada como uma insurreição ética que teve como protagonistas principais os jovens de classe média da Bolívia", disse o analista político Roberto Laserna. "Não se trata de desmerecer a participação em massa e decisiva de todos os setores, com papel fundamental das mulheres, mas o movimento foi iniciado por jovens de classe média e foram eles que deram a tônica dos protestos", completou.

Agora, na condição de protagonistas, os jovens bolivianos querem mudanças mais profundas na política. Em uma reação semelhante à ocorrida em várias partes do mundo, eles rejeitam os políticos tradicionais como os dois candidatos da eleição do dia 20, Evo e o também ex-presidente Carlos Mesa, da União Democrática (UD), e apostam no surgimento de uma nova opção eleitoral vinda da sociedade civil.

Neste cenário surge com força o nome do advogado Luís Fernando Camacho, de 40 anos, presidente do Comitê Cívico pró-Santa Cruz, que liderou a insurreição contra Evo manejando um discurso radical, por vezes violento, e uma bíblia na mão.

"Camacho, sim, é uma opção. Ele motivou e uniu as duas regiões da Bolívia, ocidente e oriente, que sempre estiveram muito separadas", disse Vivi Rodríguez, também estudante de Comunicação Social.

Esquerda

 

No outro polo da disputa política a bailarina e atriz Cintia Cortez, de 27 anos, moradora de El Alto, teve de correr das bombas de gás lacrimogêneo atiradas pela Polícia Nacional contra manifestantes que protestavam contra o governo da autoproclamada presidente interina, Jeanine Áñez.

Com uma wiphala (a bandeira multicolorida que representa o orgulho indígena) ela tem se manifestado ao lado de defensores de Evo desde que ele renunciou sob acusações de fraude eleitoral e pressões de manifestações populares e das Forças Armadas, mas não defende a volta do ex-presidente ao poder.

"Decidi vir para cá quando vi um vídeo dos opositores ao governo queimando a wiphala como forma de festejar a queda de Evo. Mas o que eu quero é que venha um líder novo que dê continuidade ao processo de mudança. Agradecemos a Evo, mas queremos novos líderes, não necessariamente do MAS (Movimento ao Socialismo, partido do ex-presidente)", disse Cíntia.

Entre os jovens que defendem a renovação da esquerda boliviana, o nome mais citado é o da senadora Adriana Salvarierra, que aos 30 anos já foi presidente do Senado, cargo ao qual renunciou no domingo passado, juntamente com Evo.

Segundo analistas, a renúncia do ex-presidente também pode arejar a esquerda boliviana. "Um dos efeitos dessa crise é a queda do tabu no MAS de que só Evo pode ser candidato. Nomes como Adriana e a deputada Susana Rivero surgem neste cenário", disse o cientista político Marcelo Arequipa, da Universidade Católica.

O aumento da participação dos jovens na política é visível desde que Evo decidiu desrespeitar o resultado do plebiscito realizado em fevereiro de 2016 que o proibia de disputar o quarto mandato. Em meados deste ano, também foram jovens que provocaram um incêndio na região de Chiquitania em protesto contra a política ambiental de Evo.

Para o analista Gonzalo Mendieta, a visibilidade conquistada pelos líderes civis dos protestos que derrubaram Evo nas últimas semanas já os coloca no centro do debate eleitoral. "Uma das discussões das próximas semanas é como os cívicos vão viabilizar suas candidaturas. Creio que Camacho pode ser candidato, sim. Ele ganhou muita notoriedade", afirmou.

O governo autoproclamado tem prazo constitucional de 90 dias para organizar novas eleições gerais na Bolívia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Violentos confrontos entre policiais e cocaleiros que tentavam chegar à cidade de Cochabamba para se manifestarem em favor do ex-presidente Evo Morales deixaram 5 mortos, 26 feridos e 169 detidos, segundo a Defensoria Pública. Militares e policiais tinham levantado um bloqueio na ponte Huayllani para evitar que os cocaleiros do Chapare, reduto de Evo, entrassem na cidade e, segundo as autoridades, os confrontos começaram quando os indígenas forçaram a passagem.

Os detalhes do confronto estavam incertos, mas o estudante universitário Emeterio Colque, de 23 anos, disse que as vítimas foram mortas a tiros, versão confirmada por outras testemunhas. O defensor Nelson Cox, da Defensoria do Povo de Cochabamba, pediu investigação para apurar responsabilidades. De acordo com o governo, dez pessoas morreram desde o início da crise, provocada pelas contestadas eleições de 20 de outubro. Os manifestantes pró-Evo falam em 20 mortos.

##RECOMENDA##

Ontem, 15, a Polícia Nacional reprimiu com bombas de gás uma manifestação pacífica de apoiadores de Evo no centro de La Paz. Centenas de partidários do ex-presidente se concentravam na Praça São Francisco à espera de um grupo de mineiros que vinha de El Alto, na região metropolitana da capital boliviana, para se juntar ao protesto contra o governo da autoproclamada presidente interina Jeanine Áñez por volta das 15h30 quando um grupo de policiais em motocicletas surgiu em uma rua lateral disparando bombas de gás lacrimogêneo.

Os disparos provocaram uma correria geral. Entre os manifestantes havia muitas mulheres de idade avançada. Enquanto corriam para o lado oposto ao das bombas, outro grupo de policiais atacou encurralando os manifestantes. A reportagem do Estado viu duas mulheres em trajes típicos pacenhos desmaiarem sob efeito do gás.

Desabastecimento

"No rio revolto está o lucro do pescador", praguejou o taxista Mario na manhã de ontem em La Paz. Ele acabara de receber uma chamada da central de táxi para a qual presta serviços informando que em um posto da Zona Sul a gasolina estava sendo vendida a B$ 10 o litro. O preço normal é B$ 3,74.

O desabastecimento de combustíveis é um dos sintomas mais visíveis para a população de La Paz da crise que se instalou no país andino desde que vieram à tona as suspeitas de fraude nas eleições de 20 de outubro. A maioria dos postos de combustível está fechada, cercada de tapumes de madeira e zinco para evitar depredações. Os poucos postos abertos têm filas quilométricas que demoram até duas horas. Isso fez florescer um mercado negro no qual a gasolina é vendida pelos olhos da cara. O esquema funciona em vielas estreitas nas quais homens desconfiados entregam os galões de combustível.

O motivo da falta de combustível em La Paz são os bloqueios em rodovias que dão acesso à capital boliviana feitos por apoiadores do ex-presidente na região do Altiplano.

Anteontem a YFPB, a estatal de combustíveis, comunicou oficialmente o risco de desabastecimento. Àquela altura mais da metade dos postos da cidade já estava fechada. Jeanine anunciou um plano conjunto entre os ministérios dos Hidrocarburetos, Defesa, Exército e Polícia Nacional para normalizar o abastecimento.

Além de gasolina, começam a se tornar escassos alguns itens básicos de alimentação como carne e verduras. Isso também provocou aumento de preços. Em alguns mercados, o litro de leite, que normalmente custa B$ 6, está a B$ 8. A dúzia de ovos foi de B$ 9 para B$ 13, o quilo do peito de frango aumentou de B$ 29 para B$ 35 e o pé de alface que custava B$ 4 sai a B$ 8.

Sem prazo para deixar o poder

Questionada duas vezes sobre quando pretende deixar o governo, a autoproclamada presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, não respondeu à pergunta. Segundo ela, a data de sua saída vai depender do andamento dos trabalhos para a realização de novas eleições gerais no país, sua prioridade. A Constituição estipula prazo de 90 dias que termina em 22 de janeiro de 2020.

Ontem, Jeanine concedeu sua primeira entrevista a correspondentes internacionais. Ladeada pela ministra da Comunicação, Roxana Lizárraga, e pelo ministro da Economia, José Luiz Parada, ela entrou no salão central do Palácio Quemado, sede do governo boliviano, aparentando estar à vontade na nova função.

Em meio a negociações com o Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales que detém dois terços do Parlamento, para pacificação do país, Jeanine contrariou a principal demanda dos socialistas, a garantia de que Evo poderá voltar ao país sem sofrer represálias. Segundo ela, se o ex-presidente voltar, terá de enfrentar na Justiça acusações de fraude eleitoral e denúncias de corrupção.

Em entrevista à agência Reuters, Evo afirmou que está disposto a não participar das eleições. "Pela democracia, se eles não querem que eu participe, não tenho nenhum problema. Só me pergunto por que tanto medo do Evo", afirmou na Cidade do México, onde está asilado. O ex-presidente disse ainda que não sabe quem poderia ser o candidato da esquerda caso não participe das eleições.

Jeanine se posicionou de maneira enérgica no campo contrário ao de países governados pela esquerda como México, Cuba, Venezuela e Nicarágua.

O governo cubano determinou o retorno dos médicos e colaboradores que enviou à Bolívia como parte de um programa de cooperação com a gestão de Evo após classificar de "falsas" as acusações do governo de Jeanine de que cubanos teriam financiado protestos. Ontem, Havana denunciou a "prisão injusta" da chefe de sua equipe médica na Bolívia, Yoandra Muro. Outros cinco integrantes da missão estão presos.

Parada, ministro interino da Economia, chegou a prever ontem a derrocada econômica do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. Pouco depois, a nova chanceler, Karen Longáric, anunciou o rompimento de relações com o governo Nicolás Maduro e a expulsão de centenas de funcionários da embaixada venezuelana em La Paz. Karen também anunciou que a Bolívia deixará a Alba (Aliança Bolivariana) e está avaliando sair da Unasul (União das Nações Sul-americanas).

Autoproclamada em uma sessão esvaziada do Congresso e alvo de contestações internas e externas por não ter o número mínimo de parlamentares previsto em lei, Jeanine disse que impugnará a sessão realizada na quinta-feira, 14, pelo Senado, que escolheu a nova mesa diretora da Casa, sob comando do MAS. O motivo, segundo Jeanine, é a falta de quórum na sessão.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Jeanine na sede do governo:

Novas eleições

"Espero que tenhamos tempo e a madurez suficientes para levar a cabo o mais rápido possível primeiro a eleição de administradores do processo eleitoral que sejam transparentes, com personalidade reconhecida, capazes, com méritos e que demonstrem aos cidadãos bolivianos que vão fazer as coisas bem. Que não vai haver manipulação dos resultados de um processo eleitoral. O país agora demanda paz e eleições transparentes."

Golpe

"Golpe de Estado é o que sofremos, nós bolivianos, em 20 de outubro, com eleições descaradamente fraudulentas."

Exílio

"Evo Morales, em sua qualidade de asilado político, não poderia estar fazendo declarações públicas. Essa é uma explicação que o Estado mexicano tem que dar e é objeto de uma reclamação feita pela chancelaria. Ele está violando a legislação relativa a um exilado."

Participação do MAS nas eleições

"Os presidentes dos tribunais eleitorais que eles indicaram estão privados de liberdade e isso tem como consequência o título de delito eleitoral. Neste momento, estamos tratando de formar um Tribunal Eleitoral probo e qualificado que tomará a decisão se um partido político envolvido em fraudes eleitorais deve sofrer as sanções pertinentes."

Retorno de Evo

"Ele sabe que tem contas pendentes com a Justiça boliviana. Se o ex-presidente quer voltar, que volte, mas terá de responder à Justiça. Há um delito eleitoral e o tribunal que vamos eleger terá de emitir uma decisão sobre isso. Além do mais, há muitíssimas denúncias de corrupção contra o seu governo que estão impunes, pois o Judiciário estava às ordens do Executivo."

Negociações com o MAS

"A mesa dos negociadores continua porque as mobilizações incentivadas pelo MAS continuam. E devo dizer que continuam de maneira muito mal intencionada. Pois não se pode causar temor na população como eles estão fazendo. E um dos mecanismos de manipulação era as redes sociais."

Tempo de governo

"Insisto que este é um governo de transição e no menor tempo possível queremos levar adiante a convocatória de eleições que é nosso objetivo. Eu me comprometo a levar às eleições transparentes. Se conseguirmos isso até 22 de janeiro, tenho a certeza de que então vamos sair."

Símbolos religiosos

"Quanto ao ingresso da Bíblia quero dizer que sou uma mulher de fé, de Deus. Respeito todas as tradições, mas creio que se estou no Palácio, a Bíblia também vai estar, pois me sinto mais fortalecida quando apelo a uma oração para poder atuar bem."

Brasil: modelo para mudança econômica

O ministro da Economia do governo interino, José Luiz Parada, citou a política econômica do governo Jair Bolsonaro como exemplo a ser seguido. Segundo ele, a reforma da Previdência do Congresso brasileiro é um exemplo de como a responsabilidade fiscal pode ser uma ferramenta para que o Estado tenha condições econômicas de dar conta das demandas sociais.

Parada disse que pretende fazer uma transição na economia local. "Temos que fornecer a informação que não foi transparente durante 14 anos (do governo Evo Morales). E dar aos novos governantes toda a realidade da situação econômica do país que lhes permitam elaborar uma política de desenvolvimento clara. Pois os governos do socialismo do século 21 fizeram políticas partidárias", disse. Nos 14 anos do governo Evo, a Bolívia cresceu em média 5% ao ano e a miséria foi reduzida pela metade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A nova ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Karen Longaric, anunciou nesta sexta-feira (15) o rompimento das relações com o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, a retirada da União de Nações sul-americanas (Unasul) e da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) e a saída de médicos cubanos do país, em uma mudança de 180 graus em relação à política exterior empregada por quase 14 anos pelo ex-presidente Evo Morales.

A ministra disse em uma coletiva de imprensa que a Bolívia deixará a Unasul porque, na verdade, o "o bloco não funciona mais, já não existe e não serve".

##RECOMENDA##

"Não somos mais a Alba", disse ela sem maiores explicações, acrescentando que o embaixador venezuelano na Bolívia será declarado persona non grata.

A presidente interina, Jeanine Áñez, já havia antecipado que seu governo de transição reconheceria o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e tinha pedido que ele enviasse um embaixador à Bolívia.

A ministra das Relações Exteriores disse, também, que o novo governo boliviano enviou uma queixa ao México por "pronunciamentos hostis" que o ex-presidente Morales faz desde que se exilou em solo mexicano. Fonte: Associated Press.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando