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O ministro da Defesa, Celso Amorim, saiu em defesa do Comandante do Exército, general Enzo Peri, que teve o seu pedido de demissão solicitado em nota endereçada à presidente Dilma Rousseff por 21 entidades de direitos humanos e 105 ex-perseguidos políticos e parentes de vítimas do regime militar. "Eu não tenho nenhuma razão para não ter confiança no general Enzo, no que ele está me dizendo e no que ele tem feito", disse o ministro, que reconheceu, no entanto, que houve demora em alguns procedimentos. Mas, segundo ministro, "não há nenhuma obstrução, nenhum desejo de obstruir". E avisou: "e se eu souber de um caso específico (de obstrução), eu vou agir".

O pedido de demissão foi feito após as entidades e familiares terem tomado conhecimento da orientação do Comandante do Exército de centralizar em seu gabinete todas as informações sobre pedidos que busquem dados do período entre 1964 e 1985. Em resposta à carta, o comandante do Exército emitiu, nesta terça-feira, nota informando que "tem atendido às solicitações recebidas da Comissão da Verdade ou do Ministério Público, dentro dos princípios legais vigentes".

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Na nota, o general Enzo explica ainda que a orientação sobre a centralização de informações foi feita em 18 de novembro de 2010, antes da criação da Comissão da Verdade. Diz que a medida segue determinação legal de "orientar seus subordinados quanto a procedimentos administrativos a serem adotados na Força" e que a centralização de informações visa "padronizar procedimentos, contextualizar os fatos, evitar o fornecimento de informações incompletas e atender o mais rápido possível às demandas".

Em entrevista, após abrir uma feira de equipamentos de defesa, em Brasília, o ministro Celso Amorim disse que a nota do comandante do Exército "é correta" e que "este ofício, que causou tanta perturbação, é anterior à criação da Comissão da Verdade e que ele é apenas de centralização de procedimentos". O ministro assegurou que, "se chegar um pedido da Comissão ou do Procurador Geral da República, o Exército vai responder, vai mandar o documento, vai cumprir a lei e é o que tem sido feito".

Para o ministro, todo este processo "não é fácil" e "não é simples", mas assegurou que "as coisas estão avançando". E falou das dificuldades, "às vezes há dificuldades até de natureza cultural, de compreender plenamente as exigências da sociedade. Mas a lei está sendo cumprida de forma correta e há boa vontade". Lembrou que foram feitas visitas a várias instalações militares e citou que, naquele momento, a comissão estava verificando todas as folhas de alteração (que dá o histórico de todos os militares), no Ministério da Defesa. "Portanto, há uma cooperação ampla", declarou.

Ao reconhecer que houve demora na abertura de alguns documentos, o ministro afirmou: "houve uma demora. Eu reconheço. É porque é preciso que haja uma confiança nos procedimentos e há preocupações legítimas, a meu ver, porque podem haver aspectos da privacidade (na abertura dos histórico dos militares) que podem não ter nada a ver com o que está sendo investigado". Segundo o ministro, foi feito um "acerto" e já foram dados acessos a documentos da Marinha. "Com a Aeronáutica está na metade e com o Exército já começou, de maneira tranquila e normal". "Portanto, tem havido uma colaboração grande", concluiu.

Os restos mortais do desaparecido político Epaminondas Gomes de Oliveira, morto em 1971 durante o governo militar, foram localizados na capital federal. O anúncio foi feito pela Comissão Nacional da Verdade, em sua reunião desta sexta-feira. A confirmação de que o corpo exumado em 24 de setembro de 2013 do cemitério em Brasília era mesmo de Epaminondas veio com o laudo do Instituto Médico Legal (IML) da capital federal, solicitado pela comissão da verdade.

Apesar de o então líder comunista maranhense estar enterrado em Brasília, a família nunca teve acesso aos seus restos mortais até então. Epaminondas teria sido morto aos 68 anos, quando estava sob custódia do Exército, no antigo Hospital de Guarnição de Brasília, no Setor Militar Urbano, em Brasília, em 20 de agosto de 1971. Epaminondas é o primeiro desaparecido político identificado pela Comissão Nacional da Verdade.

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O guerrilheiro maranhense foi preso em um garimpo paraense, em 7 de agosto de 1971, durante a Operação Mesopotâmia, realizada para tirar de circulação lideranças políticas da oposição na região do Bico do Papagaio (divisa tríplice entre Pará, Tocantins, então Goiás, e o Maranhão), com o objetivo de tentar detectar focos guerrilheiros na região.

De acordo com depoimentos colhidos pela Comissão da Verdade, segundo o Portal Brasil, Epaminondas foi torturado numa área do extinto Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER), localizada na estrada entre Porto Franco, cidade onde vivia à época, e Imperatriz, ambas no Maranhão. De lá, foi levado para Brasília, onde permaneceu preso e, depois, novamente torturado no Pelotão de Investigações Criminais (PIC), e morreu em 20 de agosto de 1971, no Hospital Militar de Área de Brasília. Para recompor a história da morte de Epaminondas, a Comissão da Verdade investigou a Operação Mesopotâmia em Brasília, no Maranhão e em Tocantins e ouviu 41 depoimentos sobre o caso.

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio e a Comissão Estadual da Verdade (CEV-RIO) realizaram nesta terça-feira uma audiência pública para debater o destino do prédio onde funcionou o antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no centro do Rio, usado para repressão política e torturas durante a ditadura militar.

Atualmente sob a guarda da Polícia Civil, o espaço está inutilizado pelo menos desde 2008. Consultado pela CEV-RIO sobre a proposta de transformar o prédio em um Espaço de Memória, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos manifestou apoio à iniciativa. O prédio foi tombado em 1987 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). Na audiência, foi apresentada uma minuta de decreto que vincule o prédio às secretarias estaduais de Cultura e de Assistência Social e Direitos Humanos. Representantes da Polícia Civil defenderam a instalação do Museu da Polícia no local.

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"O ex-governador Sergio Cabral (PMDB), no dia da posse da CEV-Rio, fez duas promessas: destinar recursos para fomentar pesquisas que auxiliassem o trabalho da comissão e destinar o prédio para a construção de um centro de memória. Nós queremos que o governo cumpra com a sua palavra. O meu desejo é que a Comissão da Verdade do Rio possa deixar esse legado para o povo brasileiro", disse Nadine Borges, presidente da comissão.

A comissão elaborou um plano de uso para o lugar. A ideia é, por exemplo, ter um Centro de Referência dos Direitos Humanos, ser a sede do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos e da Comissão de Reparação de Ex-Presos Políticos do Estado do Rio de Janeiro, além de local de armazenamento dos documentos do Dops, que estão abandonados. "A transformação do prédio do Dops é uma luta antiga de ex-presos políticos, de ativistas de direitos humanos e de familiares de mortos e desaparecidos. Mais de 50 entidades da sociedade civil organizada já assinaram o manifesto para transformar o Dops em um marco na defesa e na promoção dos direitos humanos ao construir, naquele local, um memorial da resistência. É preciso que aquele espaço seja ligado à vida", disse Ana Miranda, que passou nove meses presa no Dops e, na audiência, representou a campanha Ocupa Dops.

Gilbert Stivanello, assessor de Relações Institucionais, assumiu que o prédio não está em boas condições, mas reiterou o desejo de que ali seja criado o Museu da Polícia, para contar os 104 anos da corporação. "O Dops funcionou em apenas uma sala e era gerenciado pelos militares e não pela Polícia Civil. Nós nos envergonhamos do Dops e não temos o intuito de esconder a história, mas precisamos preservar a história da polícia", disse ele, acompanhado de Fernando Vila Pouca, chefe de gabinete da Polícia Civil.

Acusado de difundir calúnias contra regime militar no Brasil e classificado como "um dos líderes da esquerda no cinema", sendo o que "mais atuava na campanha contra o país, na Europa", o cineasta Glauber Rocha foi vítima de espionagem e perseguição pela ditadura. Neste sábado, (16) a Comissão Estadual da Verdade revelou documentos produzidos pelas Forças Armadas contra o diretor.

A entrega do dossiê militar à família foi feita no Parque Lage, na zona sul do Rio de Janeiro, com uma série de atividades que marcaram os 50 anos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, completados no último dia 10. Oficialmente, Glauber morreu de septicemia, uma infecção na década de 1980.

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Produzidos pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), os documentos compilam atividades do cineasta, declarações dadas aos jornais fora do país e lista artistas ligados à Glauber e que criticavam o regime militar, como, também o cineasta Luiz Carlos Barreto, apontado como "porta-voz da esquerda cinematográfica nacional".

Um dos documentos lembra que Glauber foi preso, por ter vaiado o presidente Castelo Branco, em 1965 e acusa o diretor de ter "difundido calúnias" ao denunciar a jornais ingleses torturas e perseguições no Brasil pela ditadura.

O ator Othon Bastos, um dos personagens principais do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol é mencionado no dossiê do SNI com o favorito de Glauber e citado por "conhecido envolvimento político e ideológico". Presente ao evento na Comissão da Verdade, Bastos disse que ficou surpreso com a revelação. "São tantas pessoas famosas aqui e estou entre um deles, eu não sabia de nada".

A presidenta da Comissão Estadual da Verdade, Nadine Borges, destacou que os documentos encontrados no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro contém marcas que expressam a intenção dos militares de eliminar Glauber. Ela se referia as palavras "morto", em lápis, no alto dodossiê, na primeira página.

"Recebemos a informação de um agente da repressão que atuou na época, que, em geral, era hábito escrever à mão um indicativo de ordem. Então, isso nos faz pensar que ele estava marcado para morrer. Por sorte, ele se exilou antes", comentou.

A presidenta cobra que o general José Antonio Nogueira Belham, que assina um dos documentos, preste depoimento para esclarecer esse e outros casos.

Durante a revelação dos documentos, o cineasta Zelito Viana, parceiro de Glauber no filme oDragão da Maldade, que venceu o Festival de Cinema de Cannes, e o Terra em Transe, que concorreu no mesmo festival poucos anos antes, lembra os tempos difíceis da ditadura. "Viver era arriscado no Brasil", ressaltou. Ele levou Terra em Transe clandestinamente para participar do festival no França.

Amigo de Glauber, Silvio Tendler destacou que a perseguição à Glauber, que se exilou em 1971, e às pessoas que contestavam o regime prejudicou o Brasil. "Aliás, prejudicou os artistas, os estudantes, os sindicalistas. A ditadura foi um preço muito alto para Nação. Sou de uma geração que desaprendeu a falar e estamos aprendendo a falar depois de velho. Antes, era tudo proibido".

Tendler lembrou também que Glauber foi um artista brilhante, mas não o único alvo da ditadura. "Eu e muito outros fomos perseguidos, como Joaquim Pedro de Andrade, que foi preso, e Olney São Paulo, barbaramente torturado".

No dossiê, estão transcritos ainda trechos de artigos de Glauber. Entre eles, uma justificativa para sua atuação, contra o regime. "O cinema não será para nós uma máscara, porque, o cinema não faz revolução - o cinema é um dos instrumentos revolucionários e para isto deve(-se) criar uma linguagem latino-americana, libertária e revelador", disse à revista Cine Cubano, em 1971, segundo SNI.

Laudo do médico-legista Nelson Massini, apresentado na manhã desta segunda-feira, 11, em audiência da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), comprova que o engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira, preso em agosto de 1971, durante a ditadura militar, foi torturado e morto dentro do Hospital Central do Exército (HCE).

Em dezembro, relatório produzido pela família de Raul Amaro já havia revelado documentos inéditos como um ofício encaminhado ao diretor do HCE em 11 de agosto de 1971 pelo então comandante do I Exército, general Sylvio Frota, que ordenava a entrada de dois agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) "a fim de interrogarem o preso". Raul Amaro tinha 27 anos na época. Ele morreu às 15h50 do dia seguinte, de acordo com o atestado de óbito apresentado à família, no qual constava que a causa da morte dependia de "resultado de exame laboratorial". No entanto, relatório do DOI produzido na véspera apontava que "não houve tempo para inquiri-lo sobre todo o material encontrado em seu poder", o que indicava que ele poderia ter morrido um dia antes, durante o interrogatório no HCE.

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Massini, que já atuou em casos emblemáticos como a chacina da Candelária, o massacre do Carandiru e a morte de Chico Mendes, concluiu que Raul Amaro foi torturado em pelos menos três ocasiões durante a semana em que permaneceu no HCE, a últimas delas na véspera da morte. "Médicos omitiram a real condição de morte do Raul. Acho que cabe neste caso um pedido de perdão dos conselhos de medicina à família. Este caso comprova e dá início à investigação de possíveis novos casos", afirmou o médico-legista.

O sobrinho de Raul Amaro, Felipe Nin Ferreira, divulgou uma nota da família em que pede que o Conselho Federal de Medicina acompanhe a reconstrução dos fatos. "Como uma instituição médica poderia permitir e tolerar que atentados à vida de paciente pudessem ocorrer em suas dependências? A família se sente chocada com a contradição entre o que já é público sobre o caso Raul Amaro e as versões oficiais de que a instituição militar desconhece torturas ocorridas em pessoas mantidas presas sob sua responsabilidade durante a ditadura militar e manifesta a expectativa de algum procedimento das autoridades sobre o caso", escreveram os parentes do engenheiro e preso político.

A presidente da CEV-Rio, Nadine Borges, afirmou que a comissão não obteve resposta do Ministério da Defesa após ter pedido, em duas ocasiões, acesso aos prontuários do HCE. "Temos reunião marcada em breve com o Ministério Público Federal. Caso a gente não obtenha essa resposta, o caminho é, junto com o MPF e o Conselho Regional de Medicina, atuar neste sentido, para ter acesso aos prontuários, porque isso é sobretudo um direito das pessoas que por lá passaram. É inadmissível que em 2014 que o Exército não forneça os prontuários de quem foi atendido no HCE durante a ditadura."

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o juiz aposentado Nelson da Silva Machado Guimarães, que atuou na 2ª auditoria da Justiça Militar Federal de São Paulo a partir de 1969, reconheceu nesta quinta-feira que havia tortura sistemática de presos políticos no DOI-Codi de São Paulo. Guimarães relatou que teve conhecimento de casos de tortura em dependências militares e policiais durante a ditadura, mas em várias ocasiões não pediu que os crimes fossem investigados porque, segundo afirmou, isso "era inútil e iria favorecer os guerrilheiros treinados fora do Brasil".

"Todos sabem que havia tortura (durante a ditadura militar), como há tortura hoje no Brasil. Só que não são mais os filhos do patriciado. São os pobrezinhos, os bandidos, sim, mas que não tiveram educação, não tiveram nem família", disse o juiz aposentado em entrevista após o depoimento, realizado na sede do Arquivo Nacional, no centro do Rio. Sentado ao lado da mulher, Guimarães tentou justificar sua omissão em relação aos crimes cometidos por agentes do Estado afirmando que "na guerra se mata e se tortura nos dois lados". "A estupidez de um extremismo acaba gerando, naqueles que deveriam se opor a essa estupidez de maneira legal, um outro tipo de estupidez."

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Ele disse aos integrantes da CNV que chegou a encaminhar ofícios ao Comando do Exército solicitando a abertura de inquérito para apurar denúncias de tortura no DOI-Codi e citou o caso específico do ex-ministro Paulo Vannuchi. Mas relatou saber que esses pedidos, "por razões óbvias", naquela situação, não dariam em nada. "Na vida pública, vocês sabem, temos que engolir alguns sapos." Guimarães citou a "teoria da proporcionalidade" para justificar suas decisões numa situação de "choque de valores" em que, segundo afirmou, "um dos lados deve ser preservado, tendo em vista um bem maior".

Visita

Ele confirmou ter visitado Frei Tito em um hospital militar, após ele ter sido levado para o DOI-Codi. "Estava deitado e despido, com evidentes marcas de pau de arara nas mãos e nos tornozelos. Eu disse que tomaria as providências que estivessem ao meu alcance e procurei o general no dia seguinte. Primeiro ele negou. Eu disse o que tinha visto. Então ele afirmou que tinha sido a polícia", relatou Guimarães à CNV. "Pedi que isso não se repetisse com presos da Justiça Militar e me pareceu que nada mais eu podia fazer."

O juiz aposentado terminou seu depoimento afirmando que tomou na ocasião "as medidas que eram mais justas, embora não fossem as ideais". Durante a audiência, foi apresentado depoimento gravado da advogada Eny Moreira, integrante da Comissão da Verdade do Rio. Ela citou decisão do então juiz, que autorizou a retirada de dois presos políticos da Casa de Detenção, onde faziam greve de fome, para o DOI-Codi, onde foram torturados. Os presos eram Vannuchi e Paulo de Tarso Venceslau. Apesar dos ferimentos aparentes e evidentes em Vannuchi, que mal podia andar em virtude de torturas no saco escrotal, o juiz não autorizou o retorno deles à penitenciária, afirmou Eny. Guimarães também viu no telão o depoimento do jornalista Arthur Scavone, ex-preso político, que afirmou ter visto o magistrado no DOI-Codi de São Paulo. Sobre um dos casos relatados na audiência, o de Madre Maurina, Guimarães declarou: "Ela me contou que sofreu choques nas pontas dos dedos. Isso não é uma coisa gravíssima. Gravíssimo é morrer ou ser todo quebrado. Isso (choques) é apenas a estupidez humana."

Contradição

Rosa Cardoso, integrante da CNV, apontou uma contradição no depoimento do juiz. "Ele disse que não tomou providências na maior parte dos casos porque era inútil, elas não seriam cumpridas. Mas termina dizendo que a Justiça Militar era independente, ou seja, que não funcionava como instrumento do sistema repressivo."

Rosa diz que houve prevaricação. "Um juiz é obrigado a denunciar os crimes de que tem notícia. Ele atuava ilegalmente porque prevaricava, deixando de tomar as providências devidas, e, de outro lado, ampliando a política de desaparecimento e de ocultação de cadáveres." José Carlos Dias, outro integrante da comissão, lembrou que até hoje as Forças Armadas continuam negando a existência de tortura em suas dependências, como ocorreu recentemente em resposta às sindicâncias solicitadas pela CNV. "O depoimento do juiz desmente a resposta das Forças Armadas."

O general reformado Wilson Luiz Chaves Machado, de 66 anos, compareceu à sessão da Comissão Nacional da Verdade (CNV) na manhã desta quinta-feira, 31, mas, por orientação de seu advogado, Rodrigo Roca, optou por não responder às perguntas. Ele prestaria depoimento sobre o atentado à bomba no Riocentro (30 de abril de 1981), que o feriu e matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário.

Machado, que era capitão na época, disse que prestou três depoimentos para a Justiça Militar e dois para o Ministério Público Federal e não faria novas declarações. "Inclusive já fui julgado pelo Superior Tribunal Militar. Não tenho mais nada a declarar. A verdade está nos depoimentos. A história está lá (nos cinco depoimentos)." Ele acrescentou que esteve lotado no Destacamento de Operações de Informações (DOI)do Rio de agosto de 1980 a abril de 1981.

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Houve uma discussão entre o advogado e o coordenador da CNV, Pedro Dallari, que, na presença de jornalistas, perguntou se Machado responderia às 13 perguntas elaboradas pela comissão. "Você (Pedro) deu sua palavra de homem e não cumpriu comigo", disse Roca.

Antes, Roca afirmara que nenhum de seus clientes "declarará mais nada sobre o período de exceção". "Tenho certeza que ele (Roca) voltará a nos ajudar", disse Dallari à imprensa.

O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, membro da CNV, afirmou não haver motivo para recusa de Machado em depor porque ele não responderia a nenhum processo criminal pelo teor do que viesse a falar.

Na saída, o coronel não respondeu às perguntas da imprensa. Questionado se o Puma que explodiu no Riocentro era dele, se foi ele quem saiu ferido quando a bomba explodiu e que 20 mil pessoas poderiam ter morrido, o militar apenas riu.

À tarde, o juiz Nelson Silva Machado Guimarães, que durante a ditadura militar brasileira esteve lotado na 2o Auditoria da Justiça Militar Federal de São Paulo, comparecerá à Comissão. O depoimento estava marcado para terça-feira passada, 29, mas foi reagendado porque a CNV rejeitou seu pedido para depor por escrito. Ele, então, compareceu na data marcada, mas os membros da comissão disseram não estar preparados para interrogá-lo e remarcaram a audiência.

O general reformado Nilton de Albuquerque Cerqueira, do Exército, não permitiu que a imprensa acompanhasse seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade, na manhã desta terça-feira, 29, no Arquivo Nacional, no Centro do Rio. O oficial chegou com uma hora de atraso ao depoimento, que estava marcada para as 9 horas. Estava acompanhado do advogado Rodrigo Roca.

No depoimento, espera-se que o general fale sobre o atentado ocorrido em 1º de maio de 1981 ao centro de convenções Riocentro (zona oeste do Rio), onde ocorria um show de música popular. Também deverá ser perguntado sobre a guerrilha do Araguaia, na primeira metade dos anos 70, em áreas do Pará, Maranhão e Goiás (hoje Tocantins), e sobre a Operação Pajuçara, que resultou na morte a tiros do líder guerrilheiro Carlos Lamarca, em 17 de setembro de 1971.

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Na época do atentado ao Riocentro, Cerqueira era comandante geral da Polícia Militar (PM) do Rio. De Brasília, ele teria mandado suspender o policiamento na área do centro de convenções. O general é acusado pelo Ministério Público Federal da prática de homicídio doloso por motivo torpe, uso e transporte de explosivos e associação criminosa armada. Esta é a segunda vez que Cerqueira depõe na Comissão Nacional da Verdade.

Entre dezembro de 1973 e fevereiro de 1974, Cerqueira atuou na operação militar do Araguaia, que nas contas da Comissão Nacional da Verdade, matou 41 militantes do PC do B que tinham sido vistos com vida por camponeses em poder dos militares.

A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara ( CEMVDHC) vai ouvir o depoimento de alguns jornalistas que vivenciaram o período da ditadura militar, na próxima quinta-feira (17). A reunião será na Fundação Joaquim Nabuco, às 9h. Serão ouvidos os jornalistas Antônio Portela, Aldo Paes Barreto, Carlos Garcia, Ivanildo Sampaio, Juracy Andrade, Nagib Jorge e Roberto Tavares.

Segundo o presidente da Comissão, Fernando Coelho, a escuta aos profissionais servirá para trazer à tona a atuação da imprensa na época do regime. “Buscamos relatos, através da visão de cada um, sobre a fase da censura. Dados que possam contribuir com o trabalho da Comissão de Pernambuco”, explicou Coelho. Cada jornalista terá a oportunidade de falar durante a sessão pública e, no momento seguinte, responder aos questionamentos dos membros da CEMVDHC.

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Retrospectiva -  A  Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara em 2012 e teve seu prazo prorrogado em 2014 por mais dois anos. Os membros trabalham numa lista preliminar com os nomes de 51 pernambucanos mortos, desaparecidos ou vítimas de graves violações dos direitos humanos, ocorridas no estado ou no Brasil, durante a repressão. No período de junho de 2012 a maio de 2014, a CEMVDHC realizou 34 sessões públicas, 18 reservadas e foram colhidos 69 depoimentos.

A Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio) divulgou um relatório de 240 páginas, com a íntegra dos depoimentos prestados em março pelo coronel reformado do Exército Paulo Malhães, torturador confesso de presos políticos durante a ditadura militar. Em 23 horas de gravação, o militar revelou que ajudou a deportar perseguidos políticos argentinos, integrantes de grupos guerrilheiros como Montoneros, Exército Revolucionário do Povo (ERP) e Tupamaros. O oficial também disse que compartilhou informações e treinou agentes da repressão de Angola, Chile, Uruguai e Argentina. Com os militares dos dois últimos países, disse ter "um relacionamento ótimo".

Malhães disse que durante os anos de chumbo, percebeu a entrada maciça de argentinos no Rio e resolveu fotografá-los e acompanhá-los. Posteriormente, policiais e militares argentinos pediram ajuda do Brasil e conseguiram identificar alguns líderes guerrilheiros que estavam exilados no País.

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No depoimento, o coronel citou o caso de um líder do grupo Montoneros, que desembarcou no Brasil em um voo que seguia para a Venezuela para um encontro da Junta de Coordenação Revolucionária (que reunia organismos revolucionários de vários países da América Latina). Um dublê seguiu com o passaporte e os documentos do detido para Caracas.

Aqui, o líder guerrilheiro foi capturado e detido pelos agentes da repressão argentina. Um médico argentino veio ao Brasil para dopar o guerrilheiro e levá-lo de volta para a Buenos Aires. O homem foi engessado e transportado dormindo em um avião "com atestado (médico) de que foi acidentado". "A gente dava um estalo e dava a solução para o problema".

O militar também contou que ganhou "uma porção de frasquinhos" que "serviam para várias coisas", inclusive para fazer uma pessoa ter um enfarte "definitivo". O material chegou a ser usado pelo Serviço Nacional de Informação (SNI).

Questionado pelo ex-presidente Emílio Garrastazu Médici, de quem disse ter se tornado amigo íntimo, o coronel contou a versão verdadeira e ironizou. "(O líder dos Montoneros) Passou, realmente, por aqui. Mas embarcou para a Venezuela. Se sumiu, sumiu na Venezuela, no Brasil não foi".

Malhães também descreveu uma conversa com o ex-presidente militar: "Aconteciam problemas, o Médici mandava me chamar (...) no palácio. Ele perguntava, 'E aí?'. Eu dizia, 'O senhor quer que eu resolva? Eu resolvo'. (Médici respondia) 'Então tá, Malhães, resolve'".

Na apresentação do documento, nessa sexta-feira, 30, o presidente da CEV-Rio, Wadih Damous voltou a questionar a linha investigativa da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, que segue a tese de latrocínio (roubo seguido de morte). Para ele, "há detalhes que não foram explicados" e a tese de queima de arquivo não pode ser descartada. Na manhã de sexta, o pedreiro Anderson Pires foi preso no bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, ele é acusado de participar do assalto que culminou com a morte do coronel.

A Câmara Municipal de São Paulo deu o aval, em primeira votação, para a criação da Comissão da Memória e da Verdade da Prefeitura de São Paulo na tarde desta terça-feira, 27. O projeto de lei, enviado à Casa pelo prefeito Fernando Haddad (PT), contou com 34 votos favoráveis, duas abstenções e dois contrários - dos ex-coronéis da PM Camilo (PSD) e Telhada (PSDB).

A aprovação da proposta foi alcançada após acordo com a oposição, que se diz favorável à criação da comissão, mas contrária à criação de cargos. No projeto original, estavam previstos sete novos cargos. Com o acordo, esse número caiu para três. Com a redução, a estimativa é que o custo com o pagamento de salários seja de R$ 20 mil por mês. Para virar lei, o projeto precisa ser novamente apreciado pelos vereadores em plenário. "Para a segunda votação, vamos tentar eliminar também esses três novos cargos. A Prefeitura tem muitos cargos congelados, não precisa criar mais", disse o vereador Floriano Pesaro, líder do PSDB.

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Com mais de um ano de atraso, a comissão municipal deve ser instalada dentro da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, com o objetivo de apurar crimes cometidos dentro das dependências da Prefeitura durante o período da ditadura militar. Na Câmara, grupo de trabalho similar foi criado em fevereiro de 2013.

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Requintes de maldade, barbárie, e tiros. Essas são algumas características de como foi encontrado o corpo do Padre Antonio Henrique em 27 de maio de 1969. Nesta terça-feira (27), após 45 anos da tortura sofrida pelo religioso, os nomes de todos os culpados do crime foram apresentados no relatório final da Comissão da Verdade e Memória Dom Helder Câmara (CMVDHC), na Igreja de São Jose dos Manguinhos, nas Graças, Zona Norte do Recife.

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Segundo a CMVDHC cinco pessoas são culpadas pela tortura ao sacerdote: dois agentes da Polícia Civil - Rivel Rocha e Humberto Serrano, o então delegado de investigações da Secretaria de Segurança Pública, Bartolomeu Gibson que era também promotor de Justiça, o seu familiar que na época era menor de idade Jerônimo Gibson e o estudante Rogério Matos do Nascimento. Entre esses, Rogério e Jerônimo são os únicos vivos. 

De acordo com o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, o caso realmente foi de ordem política. “Infelizmente eu acho que a intenção seria atingir Dom Hélder e o padre Henrique foi à vítima. Um padre novo com 29 anos apenas, com três anos de ministério sacerdotal. Atualmente estaria com 74 anos e poderia está ainda na ativa, nos ajudando na caminhada pastoral”, relembrou o religioso que também na cerimônia enviou uma carta a Congregação da Causa dos Santos, solicitando o início de canonização do ex-arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara.

Revelando todos os detalhes da violência, o secretário Geral e relator da CMVDHC Henrique Mariano, contou que a data para exibição do relatório final foi escolhida propositalmente pela Comissão. “Hoje faz 45 anos do assassinato do Padre Antônio Henrique, razão pela qual a Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara escolheu esta data emblemática para prestar contas a Arquidiocese de Olinda e Recife e a sociedade pernambucana, apresentando o relatório conclusivo do caso do padre Antônio Henrique”, destacou. 

Mariano explicou que a versão oficial até então vigente era de que o padre Henrique foi assassinado em fase de um crime comum, praticado por toxicômanos na época, em 1969. “Hoje, a Comissão da Verdade apresenta provas documentais mostrando cabalmente que naquela época as investigações desenvolvidas pelo Ministério Público e pela Polícia do Estado de Pernambuco houve uma total interferência do Ministério da justiça a fim de sonegar as informações (...). Então, agora, a Comissão da Memória e Verdade prova primeiro que o assassinato do padre Henrique foi um crime eminentemente político e segundo: estamos apresentando a relação das pessoas que participaram do sequestro e assassinato do padre”, contextualizou. 

Depois de relatar o caso, Henrique Mariano deu esperanças de uma possível punição dos culpados vivos informando que a partir de agora todo material apurado será entregue ao Ministério Público Federal. “Hoje o Supremo Tribunal Federal (STF) entende que a Lei de Anistia anistiou todos os agentes do Estado que tenham praticado crimes de desumanidade, mas esse entendimento do STF ainda não transitou em julgado. Existe um recurso ainda pendente de julgamento na Ordem dos Advogados do Brasil, e que nós estamos fazendo gestão junto ao STF para reverter esta decisão e que no Brasil, a Justiça de transição possa ser implementada em sua plenitude efetivamente responsabilizando civilmente e penalmente, os agentes do Estado ainda vivos, que perpetraram crime de desumanidade”, pontuou. 

Presente no evento, a irmã do sacerdote, Isaíras Pereira Padovan, mostrou satisfação pela conclusão do caso, porém cobrou justiça em relação à punição dos culpados. “Eu acredito que se nós formos ao Tribunal de Haia (Tribunal Internacional de Justiça), então teremos justiça, mas hoje não foi justiça, foi oficializado aquilo que nós já sabíamos e que minha mãe sempre disse, sempre sonhou, sempre gritou e que fui sufocada por isso, mas isso ainda não é justiça. Tornaram oficial quem são os banidos, quem foram, e tudo. Agora eu acredito que justiça mesmo só quando recorrer ao Tribunal de Haia”, desabafou Padovan.

Homenagem – Entre as autoridades presentes, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), disse estar orgulhoso por participar do momento. “Governar a cidade num momento em que a verdade tem se vindo à tona é muito importante para mim”, destacou.

O socialista também anunciou duas novidades durante discurso: a construção de um busto em homenagem ao padre Henrique no Largo do Parnamirim e se comprometeu em criar dentro da Prefeitura do Recife, uma assessoria da Memória e Verdade. “Para que ela possa servir de interlocutora com a Comissão da Verdade estadual e nacional e funcione de forma permanente dentro de suas unidades uma assessoria que possa ajudar nos trabalhos”, garantiu. 

 

O presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, quer que a Polícia Federal acompanhe as investigações da Polícia Civil sobre a morte do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães. Ele defenderá a proposta amanhã, em reunião da Comissão de Direitos Humanos do Senado. Damous estranha que a morte - inicialmente investigada como causada por asfixia mecânica - tenha sido atribuída, na guia de sepultamento, a problemas cardíacos.

"A investigação e a conclusão sobre a morte de Malhães não podem ser baseadas apenas nessa perícia", disse Damous. Para ele, o caso não pode ser tratado como consequência de um assalto comum. A hipótese de latrocínio (roubo com morte) tem sido investigada pela Divisão de Homicídios/Baixada Fluminense.

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Um dos mais notórios torturadores da ditadura de 1964-85, o oficial foi achado morto na última quinta-feira em um dos quartos de sua casa, em Nova Iguaçu. Fora mantido prisioneiro por assaltantes por quase dez horas. Sua mulher, Cristina Batista, e o caseiro, identificado apenas como Rogério, também foram rendidos no assalto.

Uma hipótese para explicar o crime seria "queima de arquivo". Em depoimentos às Comissões da Verdade do Rio e Nacional, Malhães deu detalhes sobre assassinatos, torturas e desaparecimentos de presos políticos na ditadura. Os três invasores fugiram levando uma coleção de armas, joias, dinheiro e dois computadores.

Pedro Dallari, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, também defende que a PF entre no caso. Em nota divulgada na sexta-feira, ele informou ter pedido ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a participação de policiais federais nas investigações.

Até agora, porém, essa possibilidade tem sido descartada. Os crimes sob investigação - homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte) - são da esfera estadual. Um dos invasores, segundo a viúva de Malhães confidenciou a pessoas que chegaram ao local do crime na manhã de sexta, teria dito ter parente de uma vítima do oficial.

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, solicitou nesta sexta-feira, 25, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal acompanhe as investigações da Polícia Civil do Rio sobre o assassinato do ex-agente do Centro de Informações do Exército (CIE), Paulo Malhães, ocorrido nesta quinta-feira, 24, à noite na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Dallari e Cardozo conversaram por telefone.

Malhães prestou depoimento à CNV em 25 de março, quando deu sua versão sobre operação do Exército para desaparecer com os restos mortais do deputado federal Rubens Paiva. Informou também que agentes do CIE mutilavam corpos de vítimas da repressão assassinadas na Casa da Morte, em Petrópolis (Região Serrana do Rio), arrancando suas arcadas dentárias e as pontas dos dedos para impedir a identificação, caso os corpos fossem encontrados.

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Para a CNV, a morte de Manhães e a eventual relação desse crime com as revelações feitas por ele à CNV, à Comissão Estadual da Verdade do Rio e à imprensa devem ser investigadas com rigor e rapidez. "Por se tratar de uma situação que envolve investigação conduzida pela CNV, que é órgão federal , pedi que a Policia Federal fosse acionada para acompanhar as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio", afirmou Dallari.

Integrantes da Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog (CMVVH), de São Paulo, e da Comissão Nacional da Verdade (CNV) vão se reunir, em data a ser confirmada em breve, para discutir a morte do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek. O presidente da CMVVH, vereador Gilberto Natalini (PV), contesta o relatório da CNV que afirma que o ex-presidente e seu motorista morreram vítima de um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra, em 22 de agosto de 1976. "A morte de JK é um caso em aberto e precisamos confrontar os pontos contraditórios", frisou Natalini, que recebeu a confirmação do encontro entre os integrantes das duas comissões do coordenador da CNV, Pedro Dallari.

Em relatório de 10 de dezembro do ano passado, atualizado em 19 de fevereiro deste ano, a CMVVH, em documento de 30 páginas, conclui que JK e Ribeiro foram vítimas de conspiração, complô e atentado político. O "Relatório JK" lista, de acordo com Natalini, 103 indícios, evidências, testemunhos e provas do assassinato do ex-presidente e de seu motorista. O presidente da CMVVH diz que o relatório preliminar da CNV legitima as investigações e perícias conduzidas por agentes de Estado, policiais e peritos criminais a serviço do regime militar, em 1976, defendendo a tese de acidente.

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O vereador lembra que entre as várias testemunhas ouvidas pela CMVVH, foram tomados os depoimentos do motorista do ônibus, Josias Nunes de Oliveira, e de Paulo Oliver, um dos nove passageiros que confirmaram não ter havido choque entre o ônibus e o automóvel. E reitera que além de a CNV não ouvi-los, Oliveira declarou que recebeu uma tentativa de suborno para admitir ter provocado o acidente, o que também foi desconsiderado pela CNV.

Natalini destaca ainda que a CNV menosprezou o relatório da CMVVH e ouviu basicamente policiais que elaboraram as perícias de 1976, como Sérgio Leite e Roberto de Freitas Villarinho, diretor do Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro, além de corroborar os trabalhos da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, presidida pelo então deputado Paulo Otávio, no ano 2000. E que também serviu para endossar a versão oficial sobre a morte de JK.

A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta terça-feira, 22, relatório que indica que o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o motorista dele, Geraldo Ribeiro, morreram em consequência de um acidente de trânsito na rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, em 1976. A pesquisa sobre o caso descarta versões de que eles teriam sido assassinados.

A polêmica em torno do assunto começou ainda nos anos 80, quando peritos encontraram, durante uma exumação, um fragmento metálico no crânio do motorista, que depois se constatou se tratar de um cravo usado no revestimento do caixão. Essa polêmica voltou à tona em dezembro do ano passado, quando Comissão da Verdade instalada na Câmara Municipal de São Paulo apresentou uma pesquisa, considerada falha e sem base, de que JK e seu motorista teriam sido vítimas de homicídio doloso. Integrantes da comissão paulista chegaram a pedir ao Palácio do Planalto que o governo reconhecesse oficialmente "os assassinatos". A pesquisa foi considerada uma jogada política dos vereadores paulistas, sem bases históricas.

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"O ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e seu motorista, Geraldo Ribeiro, morreram em decorrência de lesões contundentes, sofridas quando da colisão frontal entre o veículo Chevrolet Opala, em que viajavam, e o Scania Vavis", destaca o relatório apresentado hoje pela Comissão Nacional da Verdade. "Não há nos documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados vítimas de homicídio doloso".

A Comissão Nacional da Verdade divulgou nesta segunda-feira (7), um relatório preliminar de atividades sobre centros clandestinos de violações de direitos humanos que funcionaram durante a ditadura, entre 1970 e 1975, em diferentes partes do País. O relatório aponta sete centro já investigados e lista outros dez que, mencionados em depoimentos de ex-presos políticos, ainda serão pesquisados.

O objetivo dos centros clandestinos, segundo a historiadora Heloísa Starling, assessora da Comissão Nacional e responsável pelo relatório, era o extermínio de opositores do regime. "Faziam parte da estrutura dos serviços de inteligência e de repressão e obedeciam ao alto comando da Forças Armadas", afirmou. "Uma de suas funções era o desaparecimento de corpos. As pessoas interrogadas nos centros clandestinos já estavam condenadas à morte."

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Uma cópia do relatório deverá ser enviado ao Ministério da Defesa, com pedidos de explicações das autoridades, a exemplo do que já ocorreu com denúncias sobre violações de direitos humanos em instalações militares. "Acredito que, em algum momento, as próprias Forças Armadas tomarão a iniciativa de patrocinar investigações dessa natureza", disse o presidente da comissão, Pedro Dallari.

O mais violento dos centros listados no relatório foi a chamada Casa Azul, que funcionou num imóvel à beira da Rodovia Transamazônica, entre 1972 e 1974. Eram enviados para lá os militantes do PC do B que integravam a Guerrilha do Araguaia. "Nenhum sobreviveu", disse Heloísa, ao apresentar uma lista de 24 pessoas cujos corpos nunca foram encontrados.

Entre os outros centros clandestinos já investigados, dois estavam no Rio; três em São Paulo; e um na cidade de Belo Horizonte, em Minas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) poderá incluir no relatório sobre as violações dos direitos humanos  no período da ditadura militar (1964-1985) a ser concluído no início do segundo semestre, a proposta de criar penalidades contra atos homofóbicos. A informação é do cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, um dos membros da CNV, presente na audiência pública Ditadura e Homossexualidade no Brasil ocorrida no sábado (29), no Memorial da Resistência.

“Vinte e cinco anos depois da Constituição de 1988 não existe uma legislação que puna o delito de discriminação por homofobia”, disse Pinheiro. Ele acrescentou que no período em que foi baixado o Ato Institucional  nº 5 (AI-5), em 13 dezembro de 1968, houve um freio ao movimento contra a discriminação por orientação sexual.

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Entre os participantes da audiência, o pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC),Rafael Freitas informou ter tido dificuldades para obter dados oficiais sobre as torturas, perseguições e outras atrocidades sofridas pela militância  naquele período, pois, após cinco anos, os arquivos podem ser expurgados. Segundo ele, os apontamentos que conseguiu relativos às ações desenvolvidas em São Paulo dizem respeito à política de repressão durante os governos de Paulo Egydio Martins e Paulo Maluf, entre o final da década de 1970 e o início de 1980.

O pesquisador relatou na audiência que uma portaria de 1976 foi usada para perseguir homossexuais, que eram levados presos a pretexto de contravenção penal por vadiagem e, depois, obrigados a declarar quanto ganhavam, e em alguns casos, passavam também a ser vítimas de extorsão. Além disso, continuou, quando a Secretaria de Segurança Pública, tinha sob o seu comando o coronel Erasmo Dias, “muitos travestis cortavam os pulsos para evitar a prisão”.

Era a Operação Limpeza, desenvolvida pelo delegado José Wilson Richetti, em maio de 1980, com o propósito de prender homossexuais, travestis e prostitutas  no centro da capital paulista, e mais de 1.500 pessoas foram detidas, esclareceu James Green, homossexual norte-americano, professor de história e cultura brasileira na Brown University, nos Estados Unidos. Ele vivia no Brasil, no final da década de 70 e ajudou a organizar a primeira parada gay do país , em 13 de junho de 1980, pelo fim da repressão policial. “Os movimentos buscavam convencer a sociedade a aceitar que pessoas do mesmo sexo pudessem se amar e reivindicar os seus direitos. Havia um estado de terror e as pessoas tinham medo de se organizar”, disse.

No Itamaraty, exemplificou, havia uma campanha para expulsar do órgão aqueles que eram considerados subversivos, viciados em álcool e homossexuais. Já, no Rio de Janeiro,” existia uma paranoia contra os bailes à fantasia no Theatro Municipal  porque consideravam um lugar de homossexuais que se fantasiavam de roupas luxuosas para o concurso”. De acordo com ele havia preconceito até mesmo entre os esquerdistas, condição que só começou a mudar após o período do exílio por conta do movimento internacional protagonizado pelo jornalista, escritor e político Fernando Gabeira.

 

A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro estuda medida jurídica para obrigar o Exército a colaborar com as investigações sobre o paradeiro de desaparecidos políticos. O presidente da comissão, Wadih Damous, informou que está discutindo o assunto com juristas. "Tenho discutido a hipótese de medida jurídica. Não sei se seria ação ou se uma interpelação judicial. Mas um mecanismo para obrigar o Estado brasileiro a se pronunciar oficialmente sobre o que aconteceu", afirmou Damous. A declaração foi feita no dia seguinte ao depoimento do coronel reformado Paulo Malhães à Comissão Nacional da Verdade, em que ele confirmou ter torturado e assassinado presos políticos, mas se recusou a fornecer nomes de vítimas e torturadores. Ele também negou ter sido o oficial que desapareceu com o corpo do deputado Rubens Paiva - embora tivesse assumido a autoria deste crime à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro.

"Tenho reiterado que não há mais nada a se fazer a respeito dessas declarações. Nunca vamos ter certeza se é verdade ou mentira. O Exército tem que vir a público e esclarecer o que aconteceu. Não é pedir documento A, B, C ou D. É de se presumir que não haja mais documento. Agora é fazer pergunta direta: o corpo de Rubens Paiva foi jogado no rio?", afirmou Damous. Ele comentou ainda as informações contraditórias nos depoimentos e entrevistas de Malhães. "Para nós, ele disse que pessoalmente se livrou do corpo. Pegou o saco e levou a um rio. Ao Globo, disse que jogou no mar. À Comissão Nacional, que não foi ele. Para quem mentiu? Não dá para assinar embaixo do que ele fala. Tem que ter a palavra oficial", defendeu, alegando questão humanitária.

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O Ministério Público Federal também tem cobrado maior transparência do Exército. Em fevereiro, quando foram denunciadas seis pessoas pelo envolvimento no atentado do Riocentro, os promotores entraram com pedido de busca e apreensão de documentos em posse do Exército. A Justiça ainda não se pronunciou. "O Exército demora, não fornece informações completas ou dá informações contraditórias ao que havia informado. Das três forças é a que mais dificulta o acesso", afirmou o procurador Sergio Suiama, que integra o Grupo de Trabalho Justiça de Transição. "A gente nem espera mais ter o paradeiro. O que a gente gostaria é que o Exército cumprisse a lei e fornecesse as informações requeridas".

A recusa de Malhães em fornecer nomes de presos políticos que passaram pela Casa da Morte ou informar os destinos que tiveram frustrou as expectativas das famílias de desaparecidos durante a ditadura que, na manhã de terça-feira, assistiram à audiência pública sobre o centro de tortura que funcionou numa casa em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.

"O governo jamais reconheceu a morte do meu irmão, nunca soubemos as reais circunstâncias. Tudo o que sabemos é o que foi levantado pelo Tortura Nunca Mais: ele foi preso em 27 de outubro de 1973 e enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. O corpo nunca foi achado. Nesse período a Casa da Morte estava em funcionamento. As investigações avançam em dose homeopática. Meu pai tem 95 anos, está lúcido e quer saber o que foi feito do filho", afirmou o engenheiro Romildo Maranhão do Valle, irmão de Ramires, militante do PCBR.

No depoimento à Comissão Estadual da Verdade, Malhães disse que os corpos jamais serão encontrados. "Podem esburacar o Brasil todo. Não vão achar ninguém", afirmou. O Serviço de Comunicação Social do Exército foi procurado ontem pelo Estado, mas informou que precisaria de tempo para elaborar a resposta.

A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) irá celebrar na próxima quinta-feira (27) à celebração dos 30 anos do Movimento Diretas Já. Na ocasião, serão homenageadas personalidades que participaram da luta pela redemocratização no país. O presidente da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, Fernando Coelho faz palestra com um resgate da memória histórica daquele período. O vice-governador João Lyra Neto, irmão de Fernando Lyra (um dos homenageados in memorian), irá falar em nome dos que serão agraciados na sessão. O evento ocorre às 10h.

"Pernambuco teve significativo protagonismo naquele momento histórico do país, que ansiava pela retomada da democracia. Por isso, propomos esta homenagem àqueles que contribuíram para ressuscitar a coragem e a esperança", destaca o deputado Isaltino Nascimento (PT).

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Confira a lista dos homenageados:

Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara

José da Silva Brito (in memorian, ex-vereador Abreu e Lima)

Severino Farias da Silva (ex-vereador Abreu e Lima)

Reginaldo Pereira da Silva (ex-vereador Abreu e Lima)

Antônio Amaro Cavalcanti (in memorian, ex-vereador Abreu e Lima)

Fernando Lyra (in memorian)

Dom Helder Câmara (in memorian)

Gregório Bezerra (in memorian)

Movimento Tortura Nunca Mais

UNE-PE

Gajop

Cendhec

Elzita Santa Cruz

Abelardo da Hora

Frei Aloisio Fragoso

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