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O coronel da reserva Paulo Malhães, que havia assumido ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, voltou atrás nesta terça-feira (25) nas declarações ao prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade. Pressionado pelos integrantes da comissão, Malhães confirmou ter torturado presos políticos e ter "matado pouca gente". Ele se negou a fornecer nomes de presos assassinados durante a ditadura militar, de agentes da repressão e a informar o número de pessoas que passaram pela Casa da Morte, centro de tortura clandestino que funcionou em Petrópolis (RJ).

"Eu acho que foi um depoimento importante, esclarecedor. Ele acabou por reconhecer que é um torturador. Poucas vezes nós tivemos a confissão de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo critério para o crime comum, e ele assumiu que sim - para o roubo, para o tráfico. E que não tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, integrante da CNV, que interrogou Malhães.

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Inicialmente, o coronel da reserva aceitou comparecer à audiência, mas queria ser ouvido reservadamente. Por fim, aceitou falar com a presença da imprensa, desde que repórteres não fizessem pergunta. Ele chegou ao Arquivo Nacional às 14 horas, e se locomoveu numa cadeira de rodas. Malhães não se encontrou com a historiadora Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, que participou da audiência na parte da manhã.

Malhães disse que foi mal interpretado nas entrevistas aos jornais O Dia e O Globo, quando falou "por meio de parábolas". Ele disse que chegou a receber a missão de dar sumiço no corpo de Rubens Paiva, mas foi deslocado para outra função. "Eu só disse que fui eu porque eu acho uma história muito triste quando a família diz que leva 38 anos querendo saber o paradeiro do corpo. Não sou sentimental, não. (Falei) Para não começar uma guerra para saber onde estava o corpo".

Segundo ele, os restos mortais de Rubens Paiva eram "uma massa morta, enterrada e desenterrada". "Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele". O coronel negou que tivesse sofrido ameaças por conta das declarações, mas afirmou que seus cinco filhos e oito netos sofreram "sanções" depois que suas declarações foram publicadas.

Malhães falou por 2 horas e 11 minutos. Ele minimizou o que era a Casa da Morte. Para o militar, o local era uma "casa de conveniência, onde se procurava ganhar o preso para ele voltar como infiltrado na própria organização". "Conseguimos vários", disse, sem informar nomes. O coronel foi evasivo em várias respostas. Disse que a casa funcionou por quatro ou cinco anos e defendeu a tortura como meio de se obter informações de "elementos de grande periculosidade". "Não diria que ele tenha sido corajoso. Foi um exibicionista, mostrando todo este lado mórbido que está presente no caráter dele", afirmou Dias. "O caso Rubens Paiva está esclarecido. Ele diz que não participou da missão, mas não importa, porque ele reconheceu que houve a missão".

O coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos, chegou por volta das 14h desta terça-feira, 25, para prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade, em audiência no Rio sobre a Casa da Morte, centro clandestino de tortura que funcionou em Petrópolis, na Região Serrana do Estado do Rio, nos anos 70.

Malhães contou recentemente em depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio que foi o responsável por sumir com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva. Ele também detalhou os métodos para se livrar dos presos políticos mortos no local sob tortura.

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A audiência começou às 10h. O coordenador da CNV, Pedro Dallari, detalhou as investigações. Foi revelado que Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, reconheceu há dez dias, por fotografias, cinco algozes: o coronel Freddie Perdigão Pereira (já morto); o sargento da reserva Rubens Gomes Carneiro; o comissário da Polícia Civil Luiz Claudio Vianna; o oficial Antonio Fernando Hughes de Carvalho; e o tenente-coronel da reserva Rubens Pain Sampaio. Até então, Inês só havia reconhecido o médico Amílcar Lobo (já falecido) e o subtenente Ubirajara Ribeiro de Souza. Ubirajara e Rubens Sampaio foram convocados para depor à comissão nesta terça, mas não compareceram.

Para Dallari, as investigações deixam claro que a Casa da Morte não foi uma iniciativa isolada, mas era "uma política de Estado de tortura operada por integrantes do Centro de Operações do Exército". A Comissão Nacional da Verdade chegou a pelo menos 20 nomes de presos políticos mortos na casa. Ele espera que Paulo Malhães forneça outros nomes de vítimas.

Os próximos passos da CNV é identificar outras casas que funcionaram como centros de tortura, como a de Petrópolis.

O coronel da reserva do Exército Paulo Malhães, que afirmou à Comissão Estadual da Verdade do Rio ter participado de operações para fazer desaparecer corpos de presos políticos assassinados sob tortura na ditadura militar, disse a investigadores da CEV que o coronel do Exército Freddie Perdigão - que era conhecido como Dr. Nagib no DOI-Codi, órgão de repressão política ligado ao I Exército - assassinou o jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982.

Ligado ao Serviço Nacional de Informações (SNI), Baumgarten foi encontrado morto a tiros na praia da Barra da Tijuca, em 25 de outubro daquele ano, dias depois sair para pescar na traineira Mirimi. A embarcação e os corpos da mulher de Baumgarten, Jeanette Hansen, e do barqueiro Manoel Valente Pires, desapareceram. Antes de morrer, Baumgarten deixou com amigos um dossiê em que responsabilizava o então ministro-chefe do SNI, general Octávio Medeiros, e o chefe da Agência Central do órgão, general Newton Cruz, caso morresse. O texto foi revelado depois que o corpo apareceu. Cruz foi denunciado à Justiça, mas foi absolvido por falta de provas.

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De acordo com Malhães, Perdigão - que morreria nos anos 90 - seguiu a Mirimi com outro barco, a interceptou e matou o jornalista a tiros. O corpo foi jogado no mar. A traineira foi afundada. Não há, no depoimento, informações sobre o que aconteceu com Jeanete e com Pires. A eliminação do jornalista envolveria a "Operação O Cruzeiro", uma tentativa do "serviço" de usar um título da revista do mesmo nome para criar uma corrente de opinião pública favorável à ditadura, então cada vez mais impopular. Baumgarten adquiriu os direitos do título em 1979 e atuava à frente da revista a mando do SNI, que se encarregava de extorquir publicidade para a publicação e lhe dar dinheiro diretamente. O novo "O Cruzeiro" não resistiu ao fracasso editorial, e Baumgarten, sob ameaça, foi obrigado pelo SNI a vendê-lo.

O nome de Perdigão surgiu depois de três horas de conversa, quando a equipe da CNV, interessada no destino dos restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva, insistia em saber onde eram jogados os corpos dos presos mortos pela repressão. Malhães explicou que não era possível enterrar, porque, segundo disse, sempre acabam achando cadáveres enterrados nessas circunstâncias. Quando lhe perguntaram se as vítimas eram jogadas no mar, respondeu que apenas a Aeronáutica agia assim. "O único corpo que jogaram no mar foi o Perdigão, foi uma cagada", disse. Quando lhe perguntaram o que o oficial fizera, ele afirmou: "Foi aquela do cara que escrevia no 'Cruzeiro'". "Von Baumgarten?", insistiram os pesquisadores. "Von Baumgarten", confirmou Malhães.

Segundo o coronel da reserva, Perdigão e seus comparsas, após o que chamou de "combate de caravelas", chegaram a pensar em simular um afogamento para encobrir o homicídio, o que não foi possível, devido aos ferimentos a bala. Depois, já no Instituto Médico-Legal, agentes do SNI tentaram, segundo ele, trocar o corpo do jornalista por outro, remanejando a etiqueta de identificação, mas isso também não teria funcionado. Perdigão/Nagib é citado no Projeto Brasil Nunca Mais como torturador.

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados também aprovou na tarde desta quarta-feira (14) convite para que o general reformado José Antonio Nogueira Belham vá à Casa prestar esclarecimentos sobre a execução do deputado Rubens Paiva em 1971, período do regime militar.

Belham era comandante do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do Rio de Janeiro quando o ex-parlamentar foi executado. Se aceitar o convite, o general reformado deverá ser ouvido em sessão conjunta das comissões de Direitos Humanos e Minorias, Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN).

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A aprovação dos convites atende a um apelo da Comissão Nacional da Verdade ao Parlamento, uma vez que se trata do desaparecimento de um ex-deputado. Ontem (18), o coordenador da Comissão, Pedro Dallari, entregou o relatório preliminar sobre o assassinato do deputado e propôs que a Câmara trabalhe em conjunto com a Comissão na tentativa de descobrir o destino dos restos mortais de Paiva.

A Comissão Nacional da Verdade e a Câmara dos Deputados devem trabalhar em conjunto na tentativa de convocar o general reformado José Antonio Nogueira Belham, ex-comandante do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do Rio de Janeiro, onde em 1971 foi torturado e executado o deputado Rubens Paiva.

Em reunião nesta terça-feira (18) entre o coordenador da Comissão, Pedro Dallari, e o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ficou decidido que o Legislativo vai acompanhar os trabalhos e poderá chamar o general reformado para descobrir o que foi feito dos restos mortais do deputado assassinado durante a ditadura militar.

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"A atuação da Câmara será um elemento a mais para gerar uma pressão para que o general e as Forças Armadas relatem o que foi feito do corpo do deputado e resolva com isto a última incógnita dessa questão, porque o resto a Comissão conseguiu demonstrar", disse Dallari. O coordenador entregou ao presidente da Casa o relatório preliminar de pesquisa sobre o assassinato do deputado.

Os deputados ainda discutirão nesta tarde, em reunião de líderes partidários, de que forma o Legislativo poderá atuar no caso, já que se trata de um parlamentar executado. Segundo o líder do PDT na Casa, Vieira da Cunha (RS), que acompanhou a audiência, os trabalhos podem acontecer em sessões conjuntas com uma das comissões permanentes da Casa ou pode ser criada até uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para tratar do caso Rubens Paiva.

Os deputados devem discutir também de que forma o general reformado pode ser chamado à Câmara. "Com certeza o general será convocado pelo Parlamento, assim como já foi feito pela Comissão da Verdade", disse Vieira da Cunha.

A Comissão Nacional da Verdade já conseguiu comprovar que Paiva deu entrada na unidade em 20 de janeiro de 1971, onde foi torturado e morto no local no dia seguinte. Resta saber ainda o destino do corpo do deputado. "Seja numa comissão permanente ou numa CPI, queremos saber a verdade", afirmou o líder do PDT.

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, disse que as descobertas feitas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), como o esclarecimento da morte do deputado Rubens Paiva, abrem uma oportunidade para "todos aqueles, militares ou civis, que participaram daquela época de torturas em nome do Estado, façam um acerto de contas com a consciência, que devem ter". A declaração foi feita nesta sexta-feira, 28, em Porto Alegre, onde a ministra participou do lançamento local da Campanha Nacional pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes.

Na quinta-feira, 27, no Rio de Janeiro, a CNV afirmou que Paiva foi torturado e morto pelo então tenente Antônio Fernando Hugues de Carvalho, já falecido, em 21 de janeiro de 1971, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 1º Exército, com a ressalva de que o militar pode não ter agido sozinho. Também sustentou que o comandante do DOI à época, o então major José Antônio Nogueira Belham, hoje general reformado, estava informado da tortura.

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"O Brasil não aceita mais que os torturadores de ontem ou de hoje permaneçam impunes diante de seus crimes", afirmou Maria do Rosário. A ministra admitiu que o País tem a barreira da Lei da Anistia para casos ocorridos no regime militar e que eventuais caminhos para a superação disso podem ser apontados pelo Ministério Público Federal e a própria CNV.

Para Maria do Rosário, a revelação da verdade pode ser a principal punição "para esses que tiveram uma falsa ideia de que estariam sob o manto de uma mentira ou da impunidade terem seu nomes conhecidos pelas atuais gerações e terem vergonha de serem apontados como torturadores".

Peritos escalados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluíram nesta sexta-feira, 28, a primeira parte das escavações para elucidar dois assassinatos emblemáticos ocorridos durante a Ditadura Militar, de Márcio Beck Machado e Maria Augusta Thomaz. Ainda não foram encontrados vestígios novos, mas a próxima etapa dos peritos e um levantamento aéreo para indicar o local das covas. O Estado apurou que a meta da CNV agora é também deslanchar investigações sobre oito desaparecidos políticos que tiveram foco em Goiânia, "envolvendo ações da segurança pública estadual e da Polícia Federal durante a ditadura", informou Daniel Lerner, gerente de projeto da CNV.

Os peritos usaram um radar de solo e fizeram o escaneamento de uma área de cerca de quatro metros quadrados onde escavaram até dois metros de profundidade. Segundo Lerner, a busca por novos vestígios continuará em uma extensão de 100 metros quadrados prevista em um croqui da área confeccionado em 1980 e a partir dos vários testemunhos sobre o caso. "Documentos inéditos também estão contribuindo", afirmou Lerner, sem detalhar quais são. Iniciadas na quarta-feira, 26, as buscas em Rio Verde têm o objetivo de localizar restos mortais ou objetos pessoais de Márcio e Maria Augusta, estudantes guerrilheiros que militavam no Movimento de Libertação Popular (Molipo) e que foram metralhados em 1973, em Rio Verde. Eles viviam clandestinamente, disfarçados com os nomes de Neusa e Raimundo, em uma fazenda chamada Rio Doce, palco das buscas. Os corpos nunca foram encontrados.

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Além dos testemunhos e documentos, já houve coleta de botões, fragmentos de ossos e dentes em uma cova clandestina, atribuídos às vítimas, além de cápsulas de balas. Esses vestígios foram encontrados depois que foi descoberta a realização de uma "operação limpeza", feita por agentes federais em 1980. Eles teriam removido os corpos logo depois que equipes de um jornal e familiares das vítimas estiveram na fazenda fazendo buscas por conta própria. Mas a pressa em ocultar novamente os restos mortais deixou para trás os vestígios. O livro "As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomas", do jornalista Renato Dias, nas páginas 182 e 183 republica fotos do acervo do jornal Diário da Manhã, que mostram restos mortais (dentes) e botões de roupas provavelmente do casal, recolhidos na fazenda.

Os corpos de Márcio e Maria Augusta foram vistos por moradores da fazenda no dia 17 de maio de 1973, após rajadas de metralhadoras terem atingido o barraco onde viviam, por volta das 3 horas da madrugada, conforme os relatos que existem nos autos do inquérito do Ministério Público Federal (MPF), que também participa das buscas, junto com a Polícia Federal.

Quem eram.

Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck pertenciam ao chamado Grupo dos 28, formado por jovens integrantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento de Libertação Popular (Molipo), envolvido em ações armadas audaciosas. A mais notória foi o sequestro de um Boeing 707 da Varig em Buenos Aires que foi desviado para o Chile e depois voou para Cuba em 1969. Eram ligados ao guerrilheiro Carlos Marighela, assassinado em 1963. Os dois estudaram táticas de guerrilha em Cuba e retornaram em 1971 para o Brasil, vivendo clandestinamente.

Crime permanente.

Para o MPF, desde o sumiço dos restos mortais das vítimas o crime se tornou permanente, razão pela qual os procuradores da República que atuam no caso afastam a hipótese de prescrição e insistem na inaplicabilidade da Lei da Anistia. Eles sustentam que, se os corpos nunca foram encontrados, o crime de ocultação permanece, então, o prazo para a prescrição nem começou a contar, o que valeria também para suspeitos de participação nas mortes e ocultação de cadáver, mesmo se tiverem mais de 70 anos de idade.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) afirmou nesta quinta-feira, 27, que o ex-deputado Rubens Paiva foi assassinado, após sessões de tortura, pelo então tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho (já falecido). O crime ocorreu em 21 de janeiro de 1971, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 1º Exército, na Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio. A única informação que falta para a comissão encerrar o caso Rubens Paiva é localizar o paradeiro do corpo do ex-parlamentar.

"Diante dos documentos e depoimentos que a comissão já colheu, podemos dizer que Hughes foi o autor da morte de Rubens Paiva. Ainda não temos outros nomes (de pessoas que teriam participado das torturas), mas isso não quer dizer que Hughes agiu sozinho. Vamos continuar investigando", disse a conselheira Rosa Cardoso, em entrevista coletiva, no Rio.

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Um militar que servia no DOI na época da morte de Paiva, identificado pela Comissão como "agente Y", revelou em depoimento que viu, por meio de uma porta entreaberta, o interrogador Hughes "utilizando método não tradicional de interrogatório" em uma pessoa de meia idade. O "agente Y", então, foi à sala de seu superior, capitão Ronald Leão, e os dois decidiram relatar pessoalmente a tortura ao comandante do DOI, o então major José Antônio Nogueira Belham (atualmente general reformado), "alertando-o para as possíveis consequências".

O torturador foi descrito pelo "agente Y" como um "militar loiro". Na última segunda-feira, 24, o "agente Y" reconheceu, por foto, o torturador de Rubens Paiva como sendo o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho. A descrição do torturador corresponde com a foto (de um homem loiro de olhos claros). O reconhecimento foi noticiado na edição desta quinta do jornal "O Globo".

Segundo o jornal, o "agente Y" seria o coronel da reserva Armando Avólio Filho, ex-integrante do Pelotão de Investigações Criminais da Polícia do Exército (PIC-PE). A Comissão da Verdade informou que estava impedida de revelar a identidade do "agente Y" porque ele pediu para ser mantido no anonimato.

A Comissão vai solicitar ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB), a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para convocar para depor o general reformado Belham, a fim de que ele revele onde está o corpo do ex-deputado Rubens Paiva. Belham comandou o DOI do 1º Exército entre novembro de 1970 e maio de 1971. Paiva deu entrada na unidade em 20 de janeiro de 1971 onde foi torturado e, segundo investigações da CNV, foi morto no local no dia seguinte.

Entretanto, a CNV possui três provas de que Belham estava, sim, na unidade na data da morte do ex-deputado. A primeira é uma cópia da folha de alterações funcionais de janeiro de 1971, que mostra que o então major recebeu diária de alimentação no dia 20 daquele mês, referente a "deslocamento de caráter sigiloso". A segunda comprovação é uma lista dos bens de Rubens Paiva recolhidos pelo DOI, no dia em que ele deu entrada na unidade. No item 2 do documento, referente aos documentos pessoais de Paiva, uma observação manuscrita diz que "2 cadernos de anotações encontram-se com o MAJ. BELHAM".

E a terceira prova são os depoimentos do "agente Y" e do coronel Ronald Leão, que revelaram à CNV que, em 21 de janeiro de 1971, alertaram o então major Belham sobre a tortura contra Rubens Paiva. Leão faleceu no início deste ano.

Em depoimento à CNV em 13 de junho do ano passado, Belham disse que estava de férias naquela ocasião, e que não tem qualquer conhecimento do que se passou com Paiva nas dependências do DOI. Em relação ao pagamento da diária, Belham alegou que houve erro do Exército.

"A alegação do general de que há erro em sua folha de alterações é muito pouco crível. Ele poderia fazer um gesto de grandeza em pôr um ponto final nessa história. Vamos sugerir que a CPI seja de curta duração e tenha um objetivo específico, que é descobrir o paradeiro do corpo de Rubens Paiva", afirmou Pedro Dallari, coordenador da Comissão da Verdade.

O policial civil aposentado Manoel Aurélio Lopes, de 77 anos, admitiu nesta terça-feira, 25, em audiência pública da Comissão Nacional da Verdade, em São Paulo, ter presenciado cenas de tortura de presos políticos nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), nos anos da ditadura militar. Ele atuou naquela instituição entre 1969 e 1972. Depois foi transferido para o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Informações de Defesa Interna (DOI-Codi), vinculado ao 2.º Exército, onde voltou a presenciar torturas, segundo seu depoimento.

Esta foi a segunda vez que um agente de Estado admite perante a Comissão da Verdade, em audiência pública, a existência de tortura nas instituições policiais e militares naquele período. O primeiro foi o policial militar Valter Jacarandá, que prestou depoimento no Rio, em agosto do ano passado.

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Lopes era escrivão e, segundo informou, cuidava principalmente da transcrição de depoimentos. Ele negou ter participado de interrogatórios nos quais os presos eram torturados. Ao ser perguntado, porém, se nunca tinha presenciado cenas de torturas, ele admitiu que sim, tanto no Dops quanto no DOI-Codi. Disse que tinha autorização para circular pelas dependências das duas organizações e que testemunhou casos em que o prisioneiro, homem ou mulher, era forçado a se equilibrar sobre duas latas de leite em pó, com os braços abertos e segurando folhas de papel. Quando o detento perdia o equilíbrio ou deixava os braços caírem, apanhava. Entre ex-presos políticos, esse tipo de tortura é conhecido como Cristo Redentor.

Ele também fez referência à cadeira do dragão, que era de ferro e servia sobretudo para aplicar choques elétricos nos prisioneiros. "Outro quadro que presenciei foi o 'pendura'", disse a jornalistas, após a audiência, referindo-se ao chamado pau-de-arara.

Lopes é diabético, tem problemas circulatórios e dificuldades de audição. Na avaliação dele, "aquela foi uma fase do Brasil', na qual teriam ocorrido "excessos dos dois lados.

Ele contou que os policiais civis que eram transferidos para atuar sob ordens de militares, no DOI-Codi, recebiam uma gratificação extra, em dinheiro. "Era um presente para quem ia trabalhar lá, uma casquinha", observou.

A gratificação não aparecia na folha de pagamento e, segundo Lopes, saía diretamente do gabinete do secretário de Segurança. Todo mês era preciso retirar o dinheiro no gabinete do secretário, que então funcionava na Avenida Higienópolis.

"O trabalho no DOI era degradante. Não se ajustava a qualquer pessoa", afirmou, referindo-se aos policiais que atuavam diretamente nos interrogatórios, a chamada turma da "análise de informações".

O policial aposentado também fez referências ao apoio dado por grandes grupos financeiros e industriais à repressão. Entre outros, citou o caso, já bastante conhecido, do Grupo Ultragaz, que fornecia refeições para os agentes do DOI-Codi.

Lopes foi chamado para depor porque foi um dos agentes do DOI-Codi que assinaram o auto de exibição e apreensão de armas e documentos que teriam sido encontrados com Arnaldo Cardoso Rocha, militante da Ação Libertadora Nacional morto em 1973. Segundo a versão oficial, ele teria sido morto durante um confronto com a polícia. Mas, de acordo com documentos que estão em posse da Comissão da Verdade, ele foi torturado e executado

O auto de apreensão foi redigido quatro dias após o suposto tiroteio e as armas não foram apresentadas ao escrivão. Nesta terça, ele disse que essa prática não era incomum. Também afirmou que não podia garantir que a assinatura era mesmo dele.

Diante da insistência de Iara Xavier Pereira, companheira de Arnaldo, para que o policial desse alguma informação, qualquer coisa que ajudasse a esclarecer as circunstância da morte, ele respondeu: "Lamento que eu não tenha convicção para falar mais."

Iara, que estava na mesa e participou diretamente do interrogatório, disse ao Estado que considerou o depoimento do policial extremamente cauteloso e, alguns pontos, inverossímil. "Ele disse que nunca ouviu os gritos das pessoas torturadas no DOI-Codi. Isso é impossível. Todas as pessoas que passaram por lá disseram que ouviam."

Lopes disse que aceitou o chamado para depor porque deseja contribuir para o esclarecimento dos fatos ocorridos naquele período. Se ele não fosse, poderia ser convocado pela Comissão Nacional.

A audiência foi a segunda realizada pela CNV e pela Comissão Rubens Paiva sobre oito casos de mortes de jovens integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) em São Paulo.

A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta segunda-feira, 18, ao Ministério da Defesa um relatório sobre violações de direitos humanos no tempo da ditadura em sete unidades militares no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Em reunião com o ministro da Defesa, Celso Amorim, os membros da comissão se adiantaram e cobraram a instalação de sindicâncias militares para apurar nove assassinatos e 15 casos de tortura ocorridos nessas unidades.

É uma nova fase do trabalho da Comissão, criada pela presidente Dilma Rousseff para apurar crimes do regime militar (1964-1985). Até então, o colegiado fazia pedidos para os militares abrirem seus arquivos e suas unidades. Agora, os membros da comissão, de certa forma, lembram aos militares que, como agentes do Estado, eles também são responsáveis em apurar as violações como estabelece a legislação sobre a Comissão da Verdade.

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"Estamos criando uma oportunidade de diálogo com as Forças Armadas. Essa é uma oportunidade de reflexão para eles", afirmou a advogada Rosa Cardoso, membro da comissão, em tom ponderado.

O coordenador da comissão, Pedro Dallari, avaliou que o uso das unidades militares para tortura se caracteriza como um dano ao erário, com o desvio de finalidade. Ele observou que o dano ao erário é um crime imprescritível. "Estamos lidando com o direito administrativo, com o ilícito do desvio de finalidade. A qualquer momento pode haver um ressarcimento para o Estado", disse.

Dallari ressaltou que a tortura no tempo da ditadura se converteu numa "política pública" executada com recursos e instalações públicos. Para ele, as violações como as que ocorreram na base aérea do Galeão no Rio ou nas instalações do DOI do quarto Exército em Pernambuco, unidades citadas no relatório apresentado hoje pela Comissão da Verdade, não foram resultados de ações "isoladas" de "alguns psicopatas", mas de uma estrutura de Estado.

Rosa Cardoso explicou que o desvio de finalidade neste caso foi "jogado para cima", referindo-se a ordens superiores. "O desvio de finalidade é a política de Estado", disse. A advogada defendeu o estudo dos espaços físicos e da estrutura dos centros de tortura. "Sem o conhecimento das câmaras de gás e outras estruturas criadas pelo nazismo na segunda guerra, não seria possível conhecermos a política do regime (de Hitler)", exemplificou. "É importante entendermos as estruturas onde as violações de direitos humanos ocorreram porque isso permite uma caracterização política do regime militar", completou.

Os membros da comissão disseram que a formação das sindicâncias solicitadas não tem por objetivo principal buscar os nomes dos agentes que praticaram tortura. Os conselheiros observaram que esses nomes, em sua maioria, já são conhecidos. A proposta é apresentar um retrato da estrutura.

Durante entrevista para divulgar o relatório enviado a Celso Amorim, os membros da comissão procuraram demonstrar que estão tendo "um bom diálogo" com as Forças Armadas. Eles, no entanto, fizeram questão de ressaltar que a comissão não digeriu a tese dos comandantes militares de destruição dos documentos da ditadura.

Pedro Dallari disse que o relatório apresentado ao Ministério da Defesa não faz juízo de valor e apresenta as violações a partir de dados sólidos analisados pelas comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos. "As situações descritas de mortes e torturas já foram reconhecidas pelo Estado brasileiro", disse. Além desses casos, a comissão pretende fazer novos relatórios para exigir informações especialmente dos centros das unidades militares do sul do Pará, onde no começo dos anos 70 ocorreu a Guerrilha do Araguaia, locais de tortura, execuções de guerrilheiros e moradores. "Nós temos o direito de exigir que todo o Estado participe da investigação. As Forças Armadas têm o seu dever, não só de fornecer informações, mas auxiliar diretamente nas investigações", disse o conselheiro José Carlos Dias.

Já Paulo Sérgio Pinheiro observou que, em muitos países de regime ditatorial, as torturas ocorreram em lugares clandestinos, muitas vezes alugados pelo Estado. "Imaginem violações que ocorreram em unidades militares oficiais. Funcionários públicos batendo ponto: 'hoje é meu dia de fazer tortura'. Isso tudo ocorreu no Brasil dentro de prédios públicos, a custo do contribuinte brasileiro", disse.

Uma sessão solene para rememorar os 40 anos do desaparecimento dos militantes pernambucanos  Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), será realizada pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), nesta terça-feira (18). Durante o ato, será entregue aos familiares de Santa Cruz, cópia de documento secreto, difundido pelo Ministério da Aeronaútica referente a resposta a um pedido de Busca, nº 655/A2/COMCOS/78, sobre regresso ao Brasil de banidos, asilados e auto-asilado. A cerimônia está marcada para às 15h, na sede da OAB/PE, no Recife.

Segundo o membro e relator da CEMVDHC, Manoel Moraes, o texto oficial revela como Santa Cruz foi preso.“Os órgãos oficiais,  até aquele momento, diziam aos familiares e aos organismos internacionais que Eduardo Collier e Fernando Santa Cruz respondiam processos na auditoria militar e, portanto, deveriam ser considerados foragidos. O que o arquivo revela é que, mesmo depois de reiteradas solicitações de informações sobre o sequestro dos militantes da APML, o Estado reafirmou esta versão. No escrito, temos um relatório classificado como secreto que informa Fernando como preso”, disse. Para Moraes, a divulgação do documento "pode e deve representar uma nova e importante etapa de internacionalização do caso, que foi nominado de 1844 na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)". 

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Lideranças estudantis, ambos tinham 26 anos e foram vistos pela última vez em 23 de fevereiro de 1974, num sábado de carnaval, em Copacabana, Rio de Janeiro, por ocasião das prisões efetuadas por agentes do DOI-CODI/RJ.

A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara vai realizar uma sessão pública, na próxima quinta-feira (13), sobre o atentado à bomba no saguão do Aeroporto Internacional dos Guararapes, em 25 de julho de 1966. A retomada do assunto foi a partir do pedido do ex-vereador do Recife, Flávio Régis de Carvalho. A sessão está marcada para às 9h, no auditório da Sede do Ministério Público Federal, bairro do Espinheiro, Recife. 

“Foi um crime que não teve uma investigação séria e até hoje não sabemos quem é o responsável. Quando eu era criança, as pessoas perguntavam como meu pai tinha morrido, eu dizia que foi de bomba”, diz Régis no pedido. O ex-vereador é filho do jornalista Edson Régis de Carvalho - morto juntamente com o Almirante Nelson Gomes Fernandes - no atentado. O alvo da explosão seria o então ministro do Exército e candidato à Presidência da República, General Costa e Silva.

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Flávio Régis entrou com um pedido à Comissão da Verdade para a realização de audiência pública, alegando a necessidade de “cumprir seu papel e fazer justiça a todos que foram vítimas deste triste período da vida brasileira. É preciso investigar os fatos em sua completude”. Em 17 de dezembro, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE), campus UFPE, a advogada Iara Lobo de Figueiredo, filha de Raimundo Gonçalves de Figueiredo, também prestou depoimento sobre o episódio à CEMVDHC.

No final do ano passado, a Comissão Dom Helder Câmara apresentou ao governador Eduardo Campos documentos comprobatórios da inocência dos engenheiros Ricardo Zarattini e Edinaldo Miranda - este último já falecido. “Viemos ratificar a grave violação dos direitos humanos praticada pelo Estado que produziu material inverídico culpabilizando e punindo inocentes. O Estado tinha conhecimento da verdade e permitiu, por exemplo, que Edinaldo fosse preso, torturado, processado e condenado. O ato da CEMVDHC teve grande importância para o restabelecimento da verdade na  historiografia pernambucana e brasileira”, disse Fernando Coelho, coordenador da Comissão Dom Helder.

*Com informações da Assessoria de Imprensa

 

O Brasil assinou nesta quarta-feira, 29, dois acordos bilaterais, um com a Argentina e outro com o Uruguai, para a abertura dos arquivos da ditadura. A ideia é que a troca de informações ajude os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que investiga crimes e omissões cometidos pelas Forças Armadas durante o regime militar.

"Sem dúvida esses acordos vão ajudar os trabalhos da Comissão da Verdade, pois fazem parte do contexto de recuperação da memória", disse o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo.

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O chanceler subscreveu os memorandos de entendimento no último dia da II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Havana, que declarou a região como "zona de paz". Os dois acordos preveem que os países signatários "prestarão assistência e cooperação mútua mediante o intercâmbio de documentação relevante para a investigação e esclarecimento das graves violações, com o propósito de contribuir para o processo de reconstrução histórica da memória, verdade e justiça".

Pelos memorandos, Brasil, Argentina e Uruguai se comprometem a realizar todas as ações possíveis, "seja por intermédio de vias administrativas, judiciais e/ou legislativas" para esclarecer graves violações dos direitos humanos. Segundo Figueiredo, não há um período definido para a investigação sobre violação de direitos humanos.

A iniciativa para a assinatura dos acordos partiu do governo brasileiro e, nas palavras do chanceler, contou com a "imediata compreensão" tanto da Argentina como do Uruguai. "A partir de agora, documentos que tivermos, eventualmente de interesse deles, também podem ser compartilhados. Isso vai ser útil para todos nós", argumentou Figueiredo.

No ano passado, uma das principais ações da Comissão da Verdade foi a autorização para a exumação do corpo do presidente João Goulart, que morreu no exílio, na Argentina, em 1976. A exumação foi feita porque a família de Goulart acredita que ele tenha sido envenenado, e não vítima de problemas cardíacos.

Instalada em 2012, a Comissão da Verdade já passou por várias divergências internas, que levaram ao pedido de demissão do ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles, então coordenador do grupo. Até agora houve muitas discordâncias no colegiado sobre a revisão da Lei da Anistia, com punições a agentes do Estado que atuaram na ditadura, e também sobre a abertura dos arquivos do regime militar.

Militantes da resistência à ditadura militar que ficaram presos na Polícia do Exército (PE), na Vila Militar (zona oeste do Rio), reviveram nesta quinta-feira, 23, um pouco dos dias de cárcere e tortura durante visita à antiga unidade, organizada pelas Comissões Nacional e Estadual da Verdade. O prédio está totalmente modificado e hoje abriga salas de trabalho, alojamento e refeitório da Companhia de Comando da 1ª Divisão do Exército. Os ex-presos políticos contaram em detalhes a disposição das celas e corredores da PE para os peritos das comissões da verdade.

A visita foi preparatória para audiência pública, marcada para esta sexta-feira, 24, sobre as mortes de dois presos torturados nas dependências da PE, em 1969. Cinco militares que serviam na unidade militar e foram acusados de tortura estão convocados a depor. Até agora, os militares que compareceram a audiências das comissões se recusaram a falar ou negaram envolvimento em tortura e morte dos presos.

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"Passamos por aqui, fomos torturados. Visitar o passado não é nenhuma festa. A localização física significa pouco, importante para nós é que nossos algozes tenham a hombridade de comparecer amanhã (esta sexta-feira) e, quem sabe, aconteça o milagre de eles fazerem uma autocrítica", disse o ex-militante Francisco Celso Calmon, que, como muitos outros presos levados para a PE, seguia a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares).

A audiência desta sexta discutirá a morte sob tortura do sargento da Polícia Militar Severino Viana Colou, integrante do Comando de Libertação Nacional (Colina), em maio de 1969, e do estudante de medicina Chael Charles Schreirer, em novembro do mesmo ano. Preso em 16 de outubro de 1969, o cineasta Silvio Da-Rin disse que o corpo de Schreirer ficou estirado diante da cela onde estava durante uma hora, até que os militares decidissem retirá-lo de lá.

"Chael chegou cinco semanas depois da minha prisão. Numa madrugada, houve grande tumulto, ouvimos três vozes, duas masculinas e uma feminina, de presos que estavam sendo torturados. Minha cela ficava no primeiro corredor interno, vi Chael sendo arrastado para o banheiro e depois o corpo ficou na minha frente", afirmou Da-Rin. Os dois torturados com Schreirer foram o jornalista Antônio Roberto Espinosa, que participou nesta quinta-feira, 23, de visita e estará sexta-feira na audiência pública, e a guerrilheira Maria Auxiliadora Lara Barcelos, que estava entre os 70 presos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em 1971, e se suicidou no exílio, na Alemanha, em 1976.

Integrante da Comissão Nacional da Verdade, a advogada Rosa Cardoso disse que o grupo foi recebido com "bastante cordialidade" pelo comandante da 1ª Divisão do Exército, general José da Costa Abreu. "Ele compreendeu os objetivos da visita, que é o reconhecimento do local onde houve tortura e extermínio", afirmou. Representante da comissão estadual, João Ricardo Dornelles disse que a partir de 13 de março será realizada no Rio um série de eventos para marcar a "descomemoração" dos 50 anos do golpe militar, com ato público, seminários, exposições e manifestações em frente a locais de prisão e tortura dos presos políticos. As comissões da verdade trabalham para que essas antigas unidades da repressão sejam transformadas em centros de memória da resistência e das vítimas do regime militar.

Por unanimidade, o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região decidiu extinguir a ação popular proposta pelo coronel reformado Pedro Ivo Moézia de Lima contra a União. Seu objetivo era a anulação da Lei 12.528, de 2011, que criou a Comissão Nacional da Verdade. Segundo o militar, que também é advogado e fez parte dos quadros do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), durante a ditadura militar, a lei "é parcial, tendenciosa, discriminatória, fere princípios constitucionais que norteiam a administração pública e, acima de tudo, é ilegal e lesiva ao patrimônio público".

Os desembargadores mantiveram a decisão de primeira instância, proferida pela juíza Maria Cândida de Almeida, da 17ª Vara Federal do Distrito Federal. Ela disse que o militar não conseguiu demonstrar quais os atos "que teriam o condão de causar lesão ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural" - como se exige no caso de ação popular.

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Ainda segundo a juíza, "não há que se falar em tal ação no caso de inconformidade do autor com o conteúdo de uma lei, que, de mais a mais, tem, sim, o objetivo precípuo de esclarecer fatos recentes da nossa história, que culminaram em graves desrespeitos aos direitos humanos".

Ao final de sua manifestação, Maria Cândida também lembrou que o pedido de anulação de uma lei pela Justiça Federal não tem nenhum amparo legal. "Como é sabido, até mesmo pelos recém ingressos nos bancos acadêmicos das faculdades de direito, uma lei pode ser revogada, ter seus efeitos cessados, perder eficácia, ter declarada sua inconstitucionalidade, total ou cessados, perder eficácia, ter declarada sua inconstitucionalidade, total ou parcial, mas jamais anulada. Ainda mais pelo Poder Judiciário!"

O coronel reformado apresentou a ação em 2011, logo após a aprovação da lei pelo Congresso Nacional e a sanção pela presidente Dilma Rousseff. Na época, em entrevista ao repórter Evandro Eboli, do jornal O Globo, ele negou a existência de torturas durante a ditadura: "Existia rigores de entrevista. Rigores no interrogatório. Nunca toquei a mão em ninguém. O Ustra (coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o Doi-Codi em São Paulo) também não."

Sobre o fato de seu nome aparecer em listas de torturadores, elaboradas por ex-presos políticos e familiares, ele respondeu: "Apareço em várias listas. Mas isso não é verdade. Lista qualquer um pode fazer a que quiser. Lutei pelo meu país, pela minha pátria e cumpri minha missão."

A presidenta Dilma Rousseff prorrogou, por meio da Medida Provisória (MP) 632, publicada nesta quinta-feira (26), no Diário Oficial da União, os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O decreto de criação previa a conclusão das atividades em maio de 2014, após dois anos de trabalho. A prorrogação estabelece mais sete meses, até 16 de dezembro do próximo ano, para a apresentação do relatório final.

A MP altera o Artigo 11 da Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, que passa a ter a seguinte redação: “A Comissão Nacional da Verdade terá prazo até 16 de dezembro de 2014 para a conclusão dos trabalhos e deverá apresentar, ao final, relatório ciscunstanciado contendo as atividades realizadas, os fatos examinados, as conclusões e recomendações”.

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A prorrogação era pleiteada desde o primeiro semestre deste ano. Em abril, um pedido foi apresentado à presidenta durante reunião com lideranças do movimento estudantil. Em maio, membros da própria CNV apresentaram as demandas da sociedade civil, incluindo comissões estaduais da Verdade, comitês de Memória e Justiça e centrais sindicais, para que os trabalhos fossem prorrogados.

Os membros da CNV consideravam difícil a conclusão do relatório final até maio e importante a prorrogação para o aprofundamento dos trabalhos. A CNV foi criada para apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar. De acordo com a lei que a criou, a comissão tem o objetivo de esclarecer fatos e não tem caráter punitivo. O grupo também utiliza informações produzidas há 17 anos pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e há 11 anos pela Comissão de Anistia.

A Comissão de Memória e Verdade Dom Helder Câmara irá realizar mais uma sessão pública na próxima quinta-feira (19), às 9h, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE), localizada no Campus da UFPE, na Cidade Universitária .

Na ocasião prestará depoimento a Genivalda Melo da Silva, viúva do José Manoel da Silva, um dos seis militantes de esquerda mortos durante o episódio conhecido como “Massacre da Granja São Bento”, que aconteceu no município de Abreu e Lima, em 1973.

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O PPS enviou ofício Comissão Nacional da Verdade sugerindo que seja investigado a suposta colaboração do ex-presidente Lula com o regime militar nos anos 1980. Em entrevista à revista "Veja", o ex-secretário nacional de Justiça no governo Lula Romeu Tuma Júnior afirmou que Lula teria sido informante de seu pai, o ex-delegado Romeu Tuma, junto ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social), polícia política da ditadura.

Na entrevista, Tuma Junior sugeriu que há documentos nos arquivos que comprovariam sua versão. "Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a certo informante de codinome Barba". O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), afirmou à comissão, em ofício, que "espera que sejam tomadas as providências cabíveis para que sejam os fatos devidamente averiguados, a fim de que seja estabelecida a verdade histórica". E justificou: "O Brasil precisa saber se é verdade que o ex-presidente era um informante da polícia política da ditadura militar e, ainda, com qual finalidade. Teria sido Lula um delator de seus companheiros? Quem ele teria delatado? Quando isso teria ocorrido?." A Comissão Nacional da Verdade investiga episódios sobre violações dos Direitos Humanos no Brasil no século 20, em períodos de Ditadura Militar.

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O PPS e o PSDB também analisam convidar Tuma Júnior a participar de um debate na Câmara no próximo dia 18. Para furar o bloqueio do governo, que não aprova o convite para que ele fale oficialmente às comissões da Casa, os partidos estudam fazer um evento paralelo no auditório da Câmara.

A Comissão da Verdade de São Paulo relatou que não há dúvidas sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Para o colegiado, JK foi assassinado durante a ditadura militar. O ex-gestor faleceu em um acidente de carro em 1976.

De acordo com o presidente da Comissão, o vereador Gilberto Natalini, existem 90 provas que JK não sofreu apenas um acidente de carro, durante a viagem que fez na Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro.

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A comissão da Verdade de São Paulo já tinha ouvido o depoimento do motorista Josias Nunes de Oliveira, hoje com 69 anos, que foi apontado como o responsável pelo acidente. Na época, o motorista disse que dois homens ofereceram dinheiro para assumir a culpa pela morte de JK. Ele dirigia o ônibus que bateu contra o carro do ex-presidente.

O mistério sobre a explosão de uma bomba no Aeroporto dos Guararapes no dia 25 de julho de 1966 foi revelado nesta terça-feira (10). A versão real sobre o caso foi apresentado pela Comissão da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC) na sede provisória do governo, no Centro de Convenções em Olinda.

Com a presença do governador Eduardo Campos (PSB), deputados estaduais e secretários além de familiares e uma da vitimas acusada pelo crime, o coordenador geral da CEMVDHC, Fernando Coelho, explicou a inocência do ex-deputado federal Ricardo Zarattini e do professor Edinaldo Miranda. "Sabíamos que era injusto, mas até agora não tínhamos nenhum documento oficial. Conseguimos então o documento que reconhece a parte do Estado e a não participação de Zarattini e Edinaldo", contou.

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Tomando a palavra para tratar do fato, o ex-parlamentar Ricardo Zarattini fez questão de homenagear o líder estudantil Odijas Carvalho pela Comissão da Verdade entregar também no evento, o atestado de óbito reficado. “Agradeço a presença de todos e neste momento, numa só voz, gostaria que todos fizessem uma homenagem a Odijas”, iniciou Zarattini gritando em seguida em tom forte “Odijas presente”. O ex-deputado também contou que até a aeronáutica o condenou pela bomba e, inclusive, foi acolhido por Dom Hélder Câmara quando fugiu, mas apesar das acusações desejou continuar perseverante. “Vamos à luta”, concluiu. 

Após investigações, à Comissão da Verdade identificou que a bomba do Aeroporto dos Guararapes foi colocada por Raimundo Gonçalves de Figueiredo, pertinente ao Centro Militante da Ala Vermelha do PCdoB. Também compareceu ao evento a filha de Edinaldo Miranda, o segundo acusado de ter colocado a bomba.

Certidão de óbito - Durante o evento a CEMVDHC também entregou ao governador e familiares do Líder estudantil de Agronomia da Universidade Rural de Pernambuco e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Odijas Carvalho de Souza, a certidão de óbito retificada com a verdadeira causa da morte da vítima.

No documento foi exposto que houve homicídio por lesões corporais múltiplas decorrentes de atos de tortura, emitido no Cartório Registro Civil da Graça 60 Distrito Judiciário da Capital (Recife). 

Emocionada, a viúva de Odijas, Maria Yvone Loureiro, que também foi presa na época do crime, agradeceu o trabalho realizado pela Comissão da Verdade e fez questão de frisar que seu esposo lutava por ideais e não abriu mão em nenhum segundo de buscar isso. “É uma emoção muito grande. Desde que saí da prisão eu passei 20 anos sem conseguir falar sobre isso. Ele teve a vida ceifada aos 25 anos, e na época eu tinha 23”, relembrou, descrevendo Odijas como uma pessoa heroica, terna, mas também animado e apreciador de música. 

Mesmo com a apresentação dos dois importantes documentos, Fernando Coelho garantiu não parar os trabalhos. “Nós vamos continuar investigando e temos já milhares de documentos coletados em relação à opressão daquela época”, prometeu.

Fechando os discursos oficiais, o governador Eduardo Campos disse ser “difícil estarmos tratando de duas pessoas que foram réus sem crime”, e avaliou a situação como um resgate dos fatos. “A gente percebeu que este ato é um resgate (...). É a verdade que se sabe e que não se comprovava e permite fazer o reconhecimento do Estado brasileiro de como Odijas foi morto, tocado por aquilo que já sabíamos”, disse Campos, pontuando posteriormente a revelação da bomba no Aeroporto dos Guararapes. 

Morte - Odijas morreu em 08 de fevereiro de 1971, nas dependências do Hospital da PMPE, no Recife. O atestado divulgado durante a ditadura indicou embolia pulmonar (morte natural), assinado pelo médico Ednaldo Paes Vasconcelos.  O caso dele é um dos 51 que compõem a lista preliminar de mortos e desaparecidos políticos pernambucanos e que são alvo de análise da CEMVDHC. 

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