As audiências de custódia têm contribuído decisivamente para a diminuição da superpopulação carcerária no Pará. O resultado do trabalho realizado neste primeiro mês de atividades foi analisado na segunda-feira (19), no Fórum Criminal. Participaram do encontro representantes do Tribunal de Justiça do Pará, Ministério Público do Estado, Centro de Perícias Renato Chaves, Defensoria Pública do Estado, Polícia Civil, Pro Paz e Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). As informações são da Agência Pará.
Instalado no Estado desde o dia 25 de setembro, em cerimônia que teve a presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Ricardo Lewandowski, o projeto das audiências de custódia determina a apresentação a um juiz, no prazo de 24 horas, de qualquer pessoa presa em flagrante. A proposta garante o direito da pessoa presa e também considera, de maneira mais ágil, a necessidade ou não da continuidade da prisão.
##RECOMENDA##
Desde que foram iniciadas, as audiências atendem casos de prisão em flagrante registrados nas unidades policiais dos bairros de Icoaraci, Terra Firme, Marambaia, São Brás e Sacramenta. Após os trâmites nas delegacias, os presos são encaminhados para o Fórum Criminal de Belém, onde são ouvidos pelos juízes Flávio Sanches, da Vara de Inquéritos, e Rafael Maia, juiz substituto.
“A audiência de custódia foi a maior inovação democrática que poderia ter havido nos últimos anos no Direito Processual Penal Brasileiro. A gente tem visto no dia a dia como os resultados são realmente diferentes do que seriam se a gente fosse simplesmente analisar os documentos do flagrante. Depois que o detento passa pelo atendimento social nós temos a clareza da condição dele e isso reflete até mesmo nos casos em que são determinados pagamentos de fiança ou não”, afirmou o juiz Flávio Sanches, em entrevista à Agência Pará.
No primeiro mês de funcionamento do projeto no Pará, 72 audiências foram realizadas. Deste total, 68,06% dos presos receberam alvará de soltura. Isso significa que esse percentual não foi somado aos 13.490 presos, já custodiados nas 42 unidades prisionais do Estado, segundo mostra o último balanço mensal da Susipe publicado em setembro. Do total de presos sob a tutela do Estado, mais de 5.600 ainda aguardam julgamento pela Justiça. No Brasil, são 240 mil detentos em penitenciárias sem decisões de condenação.
Para o titular da Susipe, André Cunha, os resultados das audiências de custódia são extremamente positivos. “Isso imprime uma significativa redução no fluxo de entrada de presos no sistema prisional. No período de 28 de setembro a 16 de outubro, o percentual de não ingresso significa que de cada 10 pessoas que são apresentadas na audiência de custódia 6, ao menos, não chegam a ingressar no sistema prisional, sendo submetidos a um outro tipo de medida alternativa”, explicou.
Nos casos analisados, foram praticados crimes como roubo e embriaguez ao volante. As audiências mudam o cenário processual penal na medida em que evita que os presos passem longos períodos sem ter contato com os juízes. “É muito importante e de difícil mensuração, ponderar que aqueles que têm a conversão da prisão, que são mantidos recolhidos ao cárcere, já saem das audiências muito mais conscientes da sua situação jurídica uma vez que já estiveram frente a frente, logo após a sua prisão, com o juiz, com o promotor, com o defensor. Então eles já saem daqui para o sistema penitenciário cientes da sua situação, do tempo que vão ficar presos, do porquê que vão aguardar o processo recolhidos ao cárcere. Isso vai interferir diretamente no seu comportamento na unidade prisional”, afirmou André Cunha.
Com informações de Timoteo Lopes, da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe).