A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discute o que seria uma reação aos avanços do presidente Jair Bolsonaro (PL) e da primeira-dama Michelle sobre o eleitorado evangélico. O temor é que a campanha bolsonarista reforce a alegação de que o petista, se eleito, "fecharia igrejas". A agenda é vista como uma reedição da discussão sobre o "kit gay" da corrida eleitoral de 2018.
Na última semana, Michelle afirmou que o Palácio do Planalto era "consagrado a demônios" antes de 2019 e compartilhou um conteúdo que associava às "trevas" um ritual de candomblé em que Lula participava.
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Nas redes sociais, bolsonaristas divulgaram publicações sobre um falso compromisso de Lula de fechar igrejas se voltar ao poder. A ameaça espalhada a fiéis foi repetida nesta segunda-feira, 15, pelo pastor Marco Feliciano (PL-SP), deputado federal que apoia a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao jornal O Globo. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que estuda acionar a Justiça.
Gleisi declarou que vai estudar "tudo o que é possível". "Não pode é deixar que a campanha vá para fake news, para mentira. Eles não têm o que debater com o povo, o que eles fazem é eleitoreiro", afirmou a dirigente em São Paulo, após reunião com Lula e outros líderes da campanha.
Para o pastor Paulo Marcelo Schallenberger, conselheiro de Lula na comunicação com os religiosos, as mensagens do fechamento de igrejas reeditam o "kit gay", de 2018, quando bolsonaristas alegavam que o então candidato petista, Fernando Haddad, era responsável pela criação de uma cartilha contra a homofobia que, segundo Bolsonaro, estimulava as crianças a se interessarem pelo sexo. Na ocasião, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a determinar a remoção de seis postagens no Facebook e no YouTube em que o candidato associava o material à gestão de Haddad à frente do Ministério da Educação.
"O 'kit gay' de 2018 vai virar a demonização do presidente Lula, principalmente vinculando a Janja (mulher do ex-presidente) à macumba", afirmou Schallenberge.
Em resposta à ofensiva bolsonarista, o site "Verdade na rede", criado pelo PT, começou a divulgar peças publicitárias reforçando que Lula é católico e que foi responsável por sancionar a lei de liberdade religiosa, em 2003, que instituiu personalidade jurídica às organizações religiosas.
Como mostrou o Estadão, Schallenberger conversou com o vice na chapa do PT, Geraldo Alckmin (PSB), para encaminhar respostas "urgentes". Entre as propostas está a realização de um grande culto pentecostal em São Paulo, com a presença do ex-presidente, que aconteceria na Casa de Portugal, na Liberdade. Schallenberger também sugere a realização de uma live para Lula expor atos da sua gestão na Presidência em favor da liberdade religiosa.
O pastor lista como exemplo, além da lei de 2003, a sanção da lei que institui o dia nacional da Marcha para Jesus no Brasil, de 2009. Na data, a solenidade contou com a participação de representantes de várias igrejas evangélicas, inclusive dos bispos Estevam e Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, e do então senador Marcelo Crivella (ex-PRB).
Gleisi também destacou a lei em sua fala. "Lula governou esse país por oito anos. Quando é que fechou uma igreja, perseguiu evangélicos, um pastor? Foi nossa, foi dele a sanção da lei da liberdade religiosa", disse a petista. "Lula sempre respeitou todas as religiões. Então, vamos enfrentar esse debate com muita tranquilidade e clareza, mostrando para o povo que eles querem ganhar com mentira, com medo sobre a população", acrescentou.
"Essa não é uma disputa religiosa, tem que deixar isso claro. É disputa política. Você disputa projeto para o País. Mas obviamente que nesse bojo a gente tem que esclarecer as mentiras e as fake news. Mas, se precisar, vamos fazer fala específica [para evangélicos], não há problema nesse sentido", disse a presidente da legenda.
Levantamento recente mostra que o Bolsonaro reverteu, em um mês, empate técnico com Lula entre evangélicos em Minas Gerais e, segundo pesquisa Genial/Quaest, está 18 pontos porcentuais à frente.
Igrejas
A ideia de que Lula fecharia igrejas começou a circular em templos evangélicos e foi encampada pelo deputado federal e pastor Marco Feliciano. Ele também assumiu pregar sobre a pauta em entrevista à Rádio CBN. "Conversamos sobre o risco de perseguição, que pode culminar no fechamento de igrejas. Tenho que alertar meu rebanho de que há um lobo nos rondando, que quer tragar nossas ovelhas através da enganação e da sutileza. A esmagadora maioria das igrejas está anunciando a seus fiéis: 'tomemos cuidado'", afirmou.
Publicações sobre o tema também surgiram nas redes sociais. Neste mês, usuários do Twitter publicaram um vídeo que mostra um cerco policial contra o bispo Rolando Álvarez, na Nicarágua, para colar a imagem de Lula à do presidente nicaraguense Daniel Ortega.
Publicações falsas sobre o tema, no entanto, já começaram a circular nas redes no ano passado. Em fevereiro deste ano, o Estadão Verifica mostrou que era falso um vídeo de 2021 que tentava acusar o PT de intolerância religiosa. No conteúdo, um suposto membro do partido defendia que a esquerda precisa "atacar", "denunciar" e "não deixar abrir" as igrejas porque os fiéis estariam apoiando o presidente Jair Bolsonaro.