Tópicos | pessoas trans

Em 2023, houve 155 mortes de pessoas trans no Brasil, sendo 145 casos de assassinatos e dez que cometeram suicídio após sofrer violências ou devido à invisibilidade trans. O número de assassinatos aumentou 10,7%, em relação a 2022, quando houve 131 casos.

Os dados são na 7ª edição do Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2023  da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), divulgado nesta segunda-feira (29) no Ministério dos Direitos Humanos, como parte da programação dos 20 anos do Dia da Visibilidade Trans, celebrado anualmente em 29 de janeiro..

Em 2023, a média foi de 12 assassinatos de trans por mês, com aumento de um caso por mês, em relação ao ano anterior. De acordo com o levantamento, dos 145 homicídios ocorridos no ano passado, cinco foram cometidos contra pessoas trans defensoras de direitos humanos.

##RECOMENDA##

No ano passado, também foram registradas pelo menos 69 tentativas de homicídio – 66 contra travestis e mulheres trans, além de três homens trans/pessoas transmasculinas (aqueles que, ao nascer, foram designadas como sendo do sexo feminino, mas se identificam com o gênero masculino).

Segundo a Antra, a publicação do dossiê tem o objetivo de contribuir para a erradicação da transfobia, da travestifobia, do transfeminicídio e de outras violências diretas e indiretas contra a população trans no país. A secretária de Articulação Política da Antra, Bruna Benevides, afirma que as trocas de informações pretendem assegurar o direito à vida de pessoas trans. “O dossiê lança luz sobre o problema sistemático que acontece no Brasil, e a gente precisa assumir o compromisso para garantir que a população trans pare de ser assassinada, temos esse desafio”, diz Bruna, que é responsável pela coordenação e análise de dados para produção do dossiê.

Em entrevista à Agência Brasil e à Rádio Nacional, Bruna Benevides questionou o por quê de, mesmo com a redução de 4,09% de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) (40.464 casos, em 2023, no Brasil), os atos violentos contra pessoas trans estarem na contramão e crescerem no último ano. “Chama muito a nossa atenção pelo fato de que os homicídios diminuíram no contexto geral na sociedade brasileira, em 2023. Então, isso acende um alerta de que a comunidade trans continua sendo assassinada.”

O dossiê da Antra menciona também o monitoramento internacional feito pelo Trans Murder Monitoring (TMM), que analisa relatórios de homicídios de pessoas trans e com diversidade de gênero, em todo o planeta, desde 2008. O documento assinala o Brasil como o país que mais mata pessoas trans no mundo, pelo 15º ano consecutivo.

Na divulgação mais recente do TMM, em novembro de 2023, pelo Dia Internacional da Memória Transgênero, foram contabilizados mundialmente 321 assassinatos, registrados entre outubro de 2022 e setembro de 2023. Pelo menos 100 deles foram no Brasil (31% do total).

Localidade dos assassinatos

O dossiê informa que, no ano passado, São Paulo foi o estado em que mais ocorreram assassinatos de pessoas trans, com 19 casos, o que representa aumento de 73%, em relação a 2022. No Rio de Janeiro, o número de assassinatos dobrou de 8, em 2022, para 16, em 2023 e saiu da quinta posição para a segunda no ranking de homicídios contra este grupo.

Os estados do Ceará, com 12 casos, do Paraná, com 12, e Minas Gerais, com 11, ocupam, respectivamente, a terceira, quarta e quinta posições. A Antra não encontrou casos de assassinatos, em 2023, nos estados do Acre, de Roraima, Santa Catarina, Sergipe e do Tocantins, mas pode haver subnotificação.

A maior concentração de assassinatos foi observada na Região Sudeste (37% dos casos); seguida pelo Nordeste (36%); Sul (10% dos assassinatos); Norte (9%); e a região Centro-Oeste (7%).

Os crimes ocorrem majoritariamente em locais públicos (60%), principalmente, em via pública, em ruas desertas. Dos 40% restantes, em locais privados, a residência da vítima aparece com o local onde mais houve casos, além de motéis, unidades de saúde e ainda residências de terceiros.

A maior parte dos assassinatos ocorreu no período noturno, com 62% dos casos brasileiros.

Em 2023, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil também identificou 5 assassinatos de travestis/mulheres transexuais brasileiras no exterior, sendo 2, na Itália; 2, na Espanha; e 1, no Paraguai.

Perfil

Dentre as 145 pessoas trans assassinadas no ano passado, 34 casos não tinham informações sobre a idade das vítimas. Se considerados apenas os 111 casos com identificação da idade, 90 das vítimas tinham entre 13 e 39 anos, o que representa 81% do total. A idade média das vítimas foi de 30,4 anos. A mais jovem trans assassinada no ano passado foi uma adolescente de 13 anos. “Quando vemos determinadas bandeiras falando de proteção das infâncias, sempre questionamos quais são as infâncias que estão sendo protegidas no país?”, reflete Bruna.

Sobre o contexto social em que viviam as vítimas, a prostituição é a fonte de renda mais frequente. O estudo chama a atenção para o fato de 57% dos assassinados serem de travestis e mulheres trans que atuam como profissionais do sexo, consideradas mais expostas à violência direta, mais estigmatizadas e marginalizadas. “Buscamos, não apenas proporcionar condições seguras para o exercício dessa atividade, mas também criar oportunidades para aquelas que desejam buscar outras formas de emprego ou geração de renda”, propõe o dossiê.

No último ano, dentre os casos de homicídios em que foi possível identificar a raça da vítima, a Antra observou que, pelo menos, 72% das vítimas eram pessoas trans negras (pretas e pardas).

O estudo indica também que uma pessoa trans, que não fez modificações corporais e não expressa sua inconformidade de gênero claramente, não está exposta às mesmas violências que as demais,"porque não confronta a sociedade cisgênero" (quando a identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento).

“É possível afirmar que tanto a raça quanto a identidade de gênero são fatores de risco de morte para a população trans negra. Sobretudo considerando que são as pessoas trans negras as que menos acessam as tecnologias de gênero, seja por meio da transição social, física, hormonal ou cirúrgica e, por consequência, acabam sendo muito mais facilmente sendo lidas a partir do olhar da cisgeneridade e da patrulha de gênero, como alguém que não pertenceria ao gênero que expressa”, diz o estudo.

Quanto à identidade de gênero, aumentou 4,6% o número de travestis e mulheres trans assassinadas em 2023, na comparação com 2022. Das 145 vítimas de assassinatos localizadas e consideradas na pesquisa, 136 eram travestis/mulheres trans. Já homens trans e pessoas transmasculinas são minoria em crimes de assassinatos: 9 casos.

Perfil dos suspeitos

A maior parte dos suspeitos, em geral, não costumam ter relação direta, social ou afetiva com a vítima, aponta o Dossiê de 2023.

Entre os casos em que os suspeitos foram efetivamente reconhecidos, 11 tinham algum vínculo afetivo com a vítima, como namorado, ex ou marido. Outros 12 casos ocorreram em contextos de programas sexuais contratados pelos suspeitos. Em diversos casos, a pesquisa identificou a narrativa em que os suspeitos tentaram transferir a responsabilidade ou justificar o assassinato, sob alegação de legítima defesa.

Violência e crueldades

O dossiê divulga também dados sobre os meios usados para cometer o assassinato, como tiro, facada, espancamento, estrangulamento, apedrejamento e outros.

Os casos ocorrem em sua maioria (54%) com uso excessivo de violência e requintes de crueldade.

Dos 122 casos com informações, 56 (46%) foram cometidos por armas de fogo; 29 (24%) por arma branca; 12 (10%) por espancamento, apedrejamento, asfixia e/ou estrangulamento e 25 (20%) de outros meios, como pauladas, degolamento e corpos carbonizados. Houve, ainda, 24 casos de clara execução, com número elevado de tiros ou a queima-roupa ou de alto número de perfurações por objeto cortante.

Antigênero

O dossiê conclui que a permanência das violências contra a comunidade trans faz parte de um projeto político conservador, que, de acordo com a Antra, tornou-se preocupante para as pautas de interesse desse grupo no Congresso Nacional.

Bruna Benevides rebate o que considera ser um ambiente social e político hostil que tem como alvo as pessoas trans, devido à existência de uma pauta antigênero. “Em 2023, foram mais de 300 projetos de lei que pretendiam institucionalizar a transfobia, no âmbito da Câmara Legislativa Federal. Temos preocupação porque os acenos que esses representantes, que esses políticos e figuras públicas fazem, é que as nossas vidas não importam, o aceno que fala para a juventude é que não há um futuro para elas existirem”, lamenta Bruna.

Subnotificação e impunidade

A Antra aponta ainda a ausência de dados e a dificuldade de acesso a registros de violência LGBTfóbica, somada à subnotificação de casos deste tipo, que prejudica a realização de pesquisas.

Segundo a associação, não existem referências demográficas sobre a população trans brasileira que possibilitem o cálculo da proporção por habitantes, dos casos de violência contra esse público no Brasil. O que se torna um grande desafio na produção de estatísticas, ressalta Bruna.  “O aumento [do número de assassinatos] simboliza também um chamado urgente para que os órgãos de segurança pública em todos os âmbitos: federal, municipal e estadual, se comprometam a ter dados, porque este é o primeiro ponto. O Estado brasileiro não produz dados sobre violência, sobretudo, o assassinato contra a comunidade trans. E a sociedade civil tem que produzi-los”, acrescenta.

A associação destaca ainda a ausência de ações de enfrentamento da violência contra pessoas LGBTQIA+ por parte do Estado brasileiro; a falta de rigor nas investigações policiais de casos de transfobia; a constante ausência, precariedade e fragilidade de dados usada para ocultar ou simular uma diminuição dos casos, na realidade, contribuem para impunidade, que favorece novos assassinatos e gera insegurança na população trans.

“Ficou como um resquício da ditadura [militar] em relação à comunidade trans. Algumas narrativas nos colocam como inimigas. Então, as pessoas trans não vão confiar na segurança pública, que é uma potencial violadora de seus direitos, de sua própria segurança. Então, além de sofrer toda essa violência, as pessoas não se sentem seguras”, constata Bruna Benevides.

Evento 

O dossiê foi apresentado nesta segunda-feira (29) em cerimônia em homenagem aos 20 anos da Visibilidade Trans, promovida pelo  Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).  A atividade aconteceu no âmbito da campanha do MDHC alusiva aos 20 anos da visibilidade trans. 

“Esse dossiê é um pedido de socorro para que nós possamos definitivamente enfrentar e erradicar a transfobia e os assassinatos contra a nossa comunidade”, disse a secretária de articulação política da Antra, Bruna Benevides. 

Durante o evento, a secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, disse que a meta do governo é entregar uma política nacional dos direitos das pessoas LGBTQIA+. "Ainda é a semente do que a gente quer, que essa política continue promovendo acesso, dignidade, respeito e autonomia para a nossa população que é tão vulnerabilizada e tão atacada". 

Para o ministro Silvio Almeida, as questões relacionadas aos direitos das pessoas LGBTQIA+ se desdobram em questões de interesse nacional. “Se falarmos em políticas de saúde, educação, trabalho, emprego e renda e segurança pública sem falar das pessoas trans, não estamos falando de nenhuma dessas políticas da maneira que elas devem ser faladas. Não existirá cidadania, democracia e desenvolvimento econômico no Brasil se as pessoas LGBTQIA+ não poderem exercer seus direitos", disse. 

O MDHC também entregou o Troféu Fernanda Benvenutty para iniciativas de promoção da conquista de direitos e à formulação de políticas voltadas à cidadania e à dignidade das pessoas trans ao longo dos últimos 20 anos.

*Colaborou Sabrina Craide

Janeiro é considerado o mês de conscientização sobre a saúde mental e também marca o período de reflexões sobre a importância da visibilidade trans. Dois temas que estão intimamente relacionados. Segundo o Atlas da Violência de 2023, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com dados de 2020 e 2021, houve um aumento de 9,5% na violência física e de 20,4% na violência psicológica contra esse grupo no Brasil nos últimos anos.

Ao olhar para o perfil das vítimas de violência, os dados indicam que a população negra é a mais impactada. Veja:

##RECOMENDA##

Entre mulheres trans

Negras: 58%

Brancas: 35%

Entre homens trans

Negros: 56%

Brancos: 40%

Entre travestis

Negras: 65%

Brancas: 31%

Para Jovanna Baby, um dos principais expoentes do movimento trans no Brasil e fundadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FonaTrans), é fundamental olhar para a questão da raçaao falar sobre violência contra pessoas trans. "Dados mostram que mais de 78% da população trans brasileira é preta", comenta. "E, dos casos de transfeminicídio no Brasil, a maioria tem o recorte racial", afirma.

Violências de todos os tipos

O advogado Júlio Mota, pós-graduado em Processo Civil pela PUC-Minas e em Relações de Gênero e Sexualidade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), observa que vários tipos de agressões estão presentes na vida de uma pessoa trans - vão desde o desrespeito ao nome social ou à identidade de gênero até à recusa de empregá-la por ser transexual ou travesti.

"A discriminação está em todos os contextos: familiar, profissional, escolar. E tudo isso contribui para que pessoas trans sejam colocadas à margem da sociedade sem conseguir, inclusive, acessar direitos básicos", ressalta o advogado, que também é fundador do Transtornados, o primeiro time de homens trans e pessoas não binárias de Juiz de Fora (MG).

Para Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), muitas vezes o adoecimento mental dessa população começa dentro de casa, entre a família - e a religião costuma ser o pano de fundo.

"Grupos que poderiam pregar que a religião é o amor, o perdão e a compaixão, não fazem isso. Eles atacam diretamente as pessoas dentro das suas individualidades", afirma. Todo esse cenário contribui para a solidão e o isolamento dessa população.

Transfobia e a repercussão na saúde

A transfobia - como é chamada a gama de comportamentos discriminatórios contra quem é trans - tem um impacto importante na saúde dessas pessoas. O primeiro ponto de atenção diz respeito ao bem-estar emocional.

"A transfobia adoece e mata e há uma insuficiência de dados acerca de nossa população no que se refere à saúde. Devido aos processos de exclusão e preconceito, como acontece com todas as minorias, a saúde mental de nossa população é extremamente afetada", analisa Sayonara Nogueira, secretária de comunicação da Rede Trans Brasil.

O 1° Mapeamento de Pessoas Trans do Município de São Paulo, conduzido pelo CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea) em parceria com a SMDHC (Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania do Município de São Paulo), mostrou que os principais motivos que levaram pessoas trans a buscar tratamento psicológico ou psiquiátrico incluem a depressão (47%) e ansiedade associada a nervosismo e estresse (25%). Na sequência, vem procedimentos cirúrgicos de redesignação sexual, tanto antes quanto depois (12%), e condições como bipolaridade e esquizofrenia (10%).

Mas, também devido à transfobia, a procura por apoio de profissionais de saúde não é algo tão simples entre pessoas trans. Isso porque o estigma e preconceito frequentemente afastam essa população dos consultórios. Com isso, há atraso no diagnóstico e no tratamento dos mais variados tipos de condições médicas, não só as psiquiátricas.

Nesse mesmo levantamento, 45% da população trans expressou carência ou insegurança em relação a algum tipo de acompanhamento médico especializado. Entre as especialidades que mais fazem falta para o grupo estão endocrinologia (46%) e psiquiatria/psicologia (23%). Os motivos têm a ver com o desrespeito à identidade de gênero, a hostilidade dentro dos hospitais, além da percepção de que os profissionais são mal informados e insensíveis em relação a necessidades específicas do grupo.

"Falta essa dimensão onde o Estado, instituições privadas e pessoas físicas se engajem, de fato, na construção de políticas para a garantia da nossa saúde mental e da vida, porque a perda da vida é uma consequência de todo um processo de adoecimento e de violação da população", analisa Jaqueline Gomes de Jesus, doutora em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações e presidente da Associação Brasileira de Estudos da Transhomocultura (Abeth).

Avanços importantes

O psiquiatra e psicanalista Bruno Branquinho, do Núcleo de Medicina Afetiva (NuMA), ressalta que a retirada da transexualidade da lista de transtornos mentais e a equiparação da LGBTfobia ao crime de racismo pelo Supremo Tribunal Federal foram conquistas relevantes.

"Até 2018 e 2019, os manuais de diagnóstico da saúde ainda continham o termo 'transexualismo'. Hoje, nós já falamos de transexualidade, pois sabemos que isso não é uma patologia e, sim, uma identidade de gênero", conta. "Portanto, acho importante também (notar) o avanço da discussão. Hoje em dia, fala-se muito mais (sobre o assunto) e as pessoas conseguem mais informações para entender a sua própria identidade de gênero e sexualidade."

O valor dos grupos de acolhimento

Uma saída para o enfrentamento das distintas violências que atingem a população trans e travesti está nos chamados grupos de acolhimento ou casas acolhedoras de pessoas LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros,Transexuais, Queers e Intersexuais).

Para Marco José de Oliveira Duarte, professor da UFJF e um dos co-fundadores do Centro de Referência LGBTQI+, pessoas trans devem ser acolhidas cuidadas por equipes fixas e permanentes. Mais, acima disso, ele acredita que o atendimento deve ser realizado por seus pares. "Particularmente no debate da atenção psicossocial, discordo de ter pessoas que não sejam LGBTs para nos atender, porque vivemos coisas que você não vai aprender nos livros, na clínica escrita, essa clínica da experiência".

Outro programa que tem trabalhado no acolhimento e no apoio à população trans é o "Fala Trans". Criado em 2018, o projeto de extensão da Faculdade de Psicologia da UFJF tem a missão de não apenas oferecer um ambiente seguro e inclusivo como também desempenhar um papel crucial na promoção do bem-estar dessa comunidade.

Segundo a psicóloga Alinne Nogueira Coppus, professora na UFJF e coordenadora do projeto, a ideia é oferecer suporte emocional e endereçar as diversas necessidades enfrentadas pela população. "Muitas vezes, as pessoas chegam até nós em um estado de muita fragilidade e angústia, e isso requer cuidado", comenta. Ainda de acordo com ela, o propósito fundamental é auxiliar as pessoas trans a se aceitarem e se enxergarem como indivíduos dignos de respeito e cuidados.

*Esse conteúdo foi produzido com o apoio do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS)

No primeiro mês do ano, é celebrado o mês da visibilidade trans. Em janeiro, muitas pautas são levantadas para destacar os desafios e possíveis soluções para diminuir a desigualdade e o preconceito com pessoas transsexuais e travestis. No mercado de trabalho, os desafios não são menores, mas as soluções são possíveis. 

Segundo dados do Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras de 2021, apenas 4% da população trans feminina possui empregos formais no Brasil. A população trans enfrenta sérios obstáculos causados pela transfobia no meio social e no meio corporativo. Neste contexto, algumas empresas se posicionam com iniciativas transformadoras.

##RECOMENDA##

Um dos exemplos de empresas brasileiras com estas iniciativas é a marca de telefonia TIM. A agência possui, atualmente, 35 colaboradores trans, com uma área dedicada ao programa de diversidade e inclusão, que foi incluída em 2019, ao colocar o pilar LGBT como prioritário. Dentre os projetos desenvolvidos, o “Transforma TIM” é um dos mais conhecidos por disponibilizar vagas afirmativas para pessoas trans, em áreas diversas de atuação.

Além da contratação, a firma também oferece graduação gratuita para todos os colaboradores trans, visando o dado divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transsecuais, o ANTRA, em que apenas 0,02% das pessoas trans têm acesso a uma universidade no Brasil. Atitudes ativas podem tornar o ambiente de trabalho um local menos violento com a população trans.

“Uma das principais barreiras hoje para a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho é o preconceito. É uma população muito marginalizada, que tem muita dificuldade de acessar as oportunidades. Então a gente tem um trabalho que é integrado de sensibilização de toda a companhia, de sensibilização dos líderes e das equipes onde essa pessoa trans vai ser acolhida, vai ser incluída”, declara Alan Kido, o gerente executivo de diversidade e inclusão da TIM.

Alan Kido trabalha na área desde 2019 e defende a importância do trabalho afirmativo por parte das empresas. Para ele, os negócios são um extrato da sociedade e devem representar o aspecto social. O gerente defende que o papel das empresas é “deixar um legado positivo” para o meio que está inserida. 

“Quando a gente olha os grupos minorizados de uma forma geral, se você for observar, muito dessa não-inclusão está associado a aspectos de qualificação ou de empregabilidade, né? E as empresas não têm só um papel, mas eu acredito que essas empresas tem uma responsabilidade social de contribuir com essa transformação também da realidade do país”, afirma Kido.

O emprego não gera só uma ocupação, mas uma renda que gera dignidade e autonomia. Mesmo não sendo uma realidade na maioria das empresas brasileiras, Alan defende que o investimento em ações afirmativas no mercado de trabalho são muito válidas, seja pequena ou não, pelo poder de mudar a vida de alguém. Segundo o mesmo, estas atitudes deveriam ser “prioridade de todos”.

Profissionais que vivem as iniciativas

Dentro dos projetos apresentados, Marcela Sena e Iris Becker são, atualmente, mulheres trans contratadas pela agência de telefonia na sede de Pernambuco e contam com o suporte afirmativo e inclusivo no seu dia a dia corporativo. Iris Becker foi contratada como jovem aprendiz pela iniciativa “Transforma TIM”, com as vagas voltadas para pessoas trans. Hoje, a colaboradora é estagiária de inteligência comercial da firma.

Estagiária de inteligência comercial Iris Becker. Foto: Assessoria/TIM

Becker está no sexto período de administração e está vivendo seu primeiro estágio. A jovem conta com o apoio da companhia na formação do ensino superior, pela iniciativa de disponibilizar graduação gratuita. Ela explica que o programa é positivo para quem está entrando no mercado de trabalho, pois visa a “capacitação”. 

“Para mim é muito importante essas políticas afirmativas, (...) principalmente porque o problema sempre vai ser a falta de oportunidade, nunca capacitação. Gente capacitada a gente sempre teve. Mas principalmente agora que a gente está na era da tecnologia, a gente coloca muito em pauta essa questão de diversidade adentrando o mercado de trabalho nesse momento que está sendo revolucionário, tanto com tecnologia, inteligência artificial e muitas pessoas trans que trabalham com tecnologia”, cita Iris.

A profissional defende que práticas de inclusão no mercado se tornem mais comuns. O empreendedorismo pode se abrir para receber pessoas diversas no seu meio. Segunda ela, a falta de conhecimento está ligada com a falta de interesse das companhias em se conscientizar. Contratada pelo projeto de diversidade, a estagiária explica que as vagas afirmativas “são uma necessidade”.

“Nós trans às vezes nem conseguimos nem terminar o ensino médio, então a gente já vive uma dificuldade no background dessa história não só no mercado de trabalho, mas de vivência. Muitas acabam na rua, na prostituoição (...) Então quando a gente vê uma pessoa trans que se dar a oportunidade de estudar porque a gente não pode ajudar um pouco mais dando o excesso a ela que sempre foi negado?”, destaca Becker.

Para o futuro, Iris Becker espera continuar na área em que trabalha, além de continuar estudando para aprimorar seu conhecimento e alcançar um cargo de maior competência no futuro, como uma coordenação. Ao seu lado, Marcela Sena trabalha com Iris, na área de consultoria de relacionamento. Com 28 anos, Marcela também é uma mulher trans no mercado de trabalho.

A consultora transacionou em 2018, com 23 anos. Na época, ela tinha acabado de ser demitida de onde trabalhava e passou um ano sem emprego, vendendo brigadeiro no Marco Zero, no centro do Recife. Nas suas vendas, ela dividia sua história e sua dificuldade de conseguir emprego por ser trans. Neste contexto, as portas abertas por parte dos empregadores são essenciais para valorizar essas pessoas.

Consultora de relacionamentos Marcela Sena. Foto: Assessoria/TIM.

“Quando eu transicionei, eu imaginava [a dificuldade]. Eu anotei no caderno os pontos positivos que eu ia ter e os pontos negativos. E um deles era justamente a questão no emprego, porque a população trans no Brasil é jogada e empurrada pra prostituição, né? A gente tem aí um dado de 90% pela ANTRA de desempregos para a gente e a única oportunidade é o trabalho informal, que é a prostituição”, compartilha Sena.

A entrevistada relata que também foi empurrada para prostituição quando ficou desempregada, mas recorreu a venda de brigadeiros por não ser um mercado que ela quisesse e soubesse lidar, por medo. Hoje em dia, Marcela conseguiu uma carteira de trabalho assinada e faz graduação em criminologia. Para ela, o trabalho de inclusão empresarial é possível em qualquer empreendimento.

“Eu acho importante um treinamento de diversidade e inclusão mas não com pessoas cis, não com pessoas fora dessa vivênvia. Se você é uma empresa que está iniciando a  contratação de pessoas trans, você pode buscar referências com outras mulheres trans que a empresa vai ter conhecimento. (...) Eu acredito que o RH tem que ter esse posicionamento de procurar uma pessoa trans, dizer que quer incluir e contratar e, também, contratar essa pessoa para dar essa palestra e explicar sobre a diversidade”, especifica.

O ato de conscientizar o time de colaboradores promove que o ambiente de trabalho se torne um espaço seguro e confortável para quem chega. A consultora explica que as empresas precisam se posicionar, “no final das contas é o nome da empresa que está em jogo”. Apesar do seu começo no mercado de trabalho não ter sido amigável, Marcela se sente feliz em estar em uma empresa onde pode “ser quem quiser” e cria expectativas para seu futuro profissional:

“Eu quero seguir o cargo de liderança e quero poder ser a mais nova mulher trans que tá liderando outras pessoas, que estão ali empoderando e poder, em um dado momento, com a solicitação da empresa fazer contratação de outras pessoas trans, participar desse processo… É isso que eu quero, é isso que eu estou visando”, divide.

Em celebração ao mês da visibilidade trans, Marcela Sena pede que outras mulheres trans não percam a esperança de conseguir um emprego. “O mundo está mudando. Eu quero que outras mulheres trans entendam que aqui a gente está aberta para ajudar nesse sentido e diminuir esse dado que é tão alto de 90% de desemprego trans”.

Um índice inédito, que vai medir a saúde mental dos brasileiros, identificou, em sua primeira edição, lançada nesta sexta-feira (4), que a sanidade mental é mais atingida em mulheres, pessoas trans, jovens e entre os desempregados. “Esses foram alguns dos destaques dos indicadores associados com taxas demográficas e hábitos de vida”, disse à Agência Brasil a gerente executiva do Instituto Cactus, Luciana Barrancos.

O Índice Instituto Cactus - Atlas de Saúde Mental (iCASM) investiga diferentes aspectos, hábitos e situações que refletem a saúde mental dos brasileiros pelos lados positivo e negativo. Os fatores que apresentaram maior associação com a saúde mental dos entrevistados foram gênero, orientação sexual, renda, situação profissional, relações familiares e prática de esportes.

##RECOMENDA##

Foram realizadas pesquisas, com base em questionários usados internacionalmente, com 2.248 pessoas, de 746 municípios de todas as regiões do país, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano. Luciana Barrancos explicou que o 1º iCASM vale para o primeiro semestre deste ano. Em setembro e outubro, o Instituto Cactus fará coleta de informações referentes ao segundo semestre do ano, visando a divulgação das respostas em dezembro.

“A ideia é que o índice se repita semestralmente, para a gente ter essa série histórica da saúde mental e poder, de fato, comparar ao longo do tempo, acompanhar a evolução e, também entre os grupos, como se manifestam essas diferenças”. O intuito do Instituto Cactus é que o índice sirva como referência de dados sobre saúde mental para a sociedade como um todo, gestores públicos, pesquisadores, e para a formulação de políticas públicas.

Módulos

O iCASM é uma ferramenta que mede de zero a mil pontos. Nesta primeira edição, ele ficou em 635 pontos. As respostas foram divididas em três áreas: confiança, foco e vitalidade. Elas consideram confiança como autoestima e autoconfiança sobre o papel da pessoa na sociedade; foco como a habilidade de relacionamento com seu entorno de forma produtiva para tomar decisões e realizar atividades do dia a dia; e vitalidade englobando disposição e capacidade para superar desafios. “Com base nisso, a gente criou esse indicador que é um parâmetro que vai de zero a mil”, explicou a gerente executiva. O indicador para confiança atingiu 733 pontos, enquanto os de vitalidade e foco obtiveram, respectivamente, 637 e 535 pontos.

A pesquisa foi composta por um módulo fixo e um módulo variável. O módulo fixo se baseia em dois questionários internacionalmente validados, que são o Questionário de Saúde Geral (QSG-12, ou GHQ-12, do inglês General Health Questionnaire’) e o Teste Online de Depressão PHQ-9 (Patient Health Questionnaire-9). Já o módulo variável terá o tema substituído a cada coleta. A ideia é conseguir investigar e aprofundar questões de interesse. Para o primeiro iCASM, o tema escolhido para o módulo variável foram o uso e acesso a serviço mental no Brasil.

“Nesse tema, a gente conseguiu ver que somente 5% dos brasileiros fazem psicoterapia, o que representa um terço dos que relataram fazer uso de medicação. Outros 62,5% disseram não fazer uso de serviços de apoio à saúde mental, enquanto 20,9% utilizam serviços privados e 16,6% usam serviços públicos”. Por outro lado, 41% disseram estar insatisfeitos com serviços de saúde de modo geral, contra 30% que se declararam satisfeitos ou muito satisfeitos.

Parcela de 16,6% da população relatou tomar medicação de uso contínuo para problemas emocionais, comportamentais ou relacionados ao uso de substâncias, sendo que a grande maioria (77%) vem fazendo uso desses remédios há mais de um ano. Além do tratamento médico ou psicológico, 11,9% da população afirmaram fazer algum outro tipo de terapia, como, por exemplo, meditação, ioga, fitoterapia, massagem.

Finanças e gênero

Segundo expôs Luciana Barrancos, a condição financeira é motivo de grande inquietude para os brasileiros. Nove em cada dez consultados relataram ter se preocupado com essa questão muitas vezes ao longo das duas últimas semanas. Os que se preocuparam três vezes ou mais somaram 58% dos respondentes, contra 30% que se preocuparam uma ou duas vezes, e 12% que não se preocuparam nenhuma vez.

Entre as pessoas desempregadas, o índice foi de 494 pontos, 186 pontos abaixo dos assalariados (680) e 141 pontos abaixo da média populacional. Em termos de renda, as pessoas com menor renda, de até R$ 2 mil, marcaram 576 pontos, contra 737 pontos daquelas com renda acima de R$ 10 mil.

Um relação a gênero e identidade de gênero, o iCASM revela que as mulheres e as pessoas trans detêm as pontuações mais baixas. As mulheres obtiveram iCASM de 600 pontos, 72 pontos abaixo do iCASM para homens (672 pontos) e 35 pontos abaixo da média populacional. Para a população trans, o iCASM foi de 445, 193 pontos abaixo dos Cisgêneros (638) e 190 pontos abaixo da média populacional. Aqueles que se declararam heterossexuais atingiram 665 pontos, contra 576 pontos do grupo que se identifica como homossexual. Para os bissexuais, a média foi de 488 pontos.

O iCASM aponta que os mais jovens, entre 16 e 24 anos de idade, apresentam a pontuação mais baixa de sanidade mental: 534 pontos, enquanto nos mais velhos, de 60 a 100 anos, a pontuação é mais elevada: 757 pontos.

Relações sociais

O Instituto Cactus apurou também o que acontece em relações sociais, envolvendo encontros com amigos e brigas com familiares. “Foram perguntas que revelaram resultados importantes”, disse a gerente executiva. Os entrevistados que não relataram brigas com familiares nas últimas duas semanas apresentaram iCASM de 715 pontos, contra 370 entre aqueles que reportaram três ou mais episódios de brigas nesse período. Sobre encontros com amigos, a pesquisa indicou que aqueles que se encontraram com amigos três ou mais vezes nas últimas duas semanas alcançaram iCASM de 734 pontos. Já entre aqueles que não tiveram encontros com amigos em igual período, o iCASM foi de 508 pontos.

Luciana destacou também questões de autoestima, que tiveram resultados mais baixos, quando as perguntas abordavam se a pessoa se sentia feia e pouco atraente: o iCASM foi de 384 pontos, contra 776 para aqueles que não tinham esse sentimento. Entre os que se julgavam pouco inteligentes, o iCASM ficou em 326 pontos, contra 752 daqueles que não tinham essa preocupação. Entre os consultados que reportaram ter sofrido bullying três vezes ou mais nas últimas semanas, o indicador alcançou 486 pontos, contra 659 para aqueles que não relataram nenhum episódio.

O Instituto Cactus constatou também que a prática de esportes está associada a um índice de saúde mental mais alto. O iCASM de quem se exercita três ou mais vezes na semana atingiu 722, enquanto o grupo que não pratica atividade física teve índice de 580.

Do total de entrevistados, 68% relataram se sentir cansados ou com pouca energia para fazer as atividades diárias, abrangendo 58% das mulheres e 69% das pessoas trans. “Também é um número bem relevante que chama a atenção”, comentou Luciana. Outros 54% afirmaram sentir pouco prazer ou interesse em fazer as coisas no cotidiano. Já 49% afirmaram não se sentir deprimidos, ao passo que 51% responderam de forma afirmativa.

Quinze por cento dos brasileiros revelaram ter consumido álcool três vezes ou mais nas últimas duas semanas, sendo que 40% dos entrevistados confessaram ter sentido necessidade de reduzir o consumo de bebidas alcoólicas ou mesmo parar de beber; já 16% consumiram cigarros no mesmo período.

O iCASM é uma iniciativa do Instituto Cactus, entidade filantrópica de direitos humanos que se dedica à promoção da saúde mental no Brasil, em parceria com a AtlasIntel, empresa especializada em pesquisas e inteligência. O estudo contou com a supervisão de um comitê científico independente e a aprovação de um comitê de ética.

Os deputados da Rússia aprovaram nesta sexta-feira (14) por grande maioria uma lei que proíbe as transições de gênero e a adoção de crianças por pessoas transexuais, em um momento extremamente conservador da sociedade russa, em particular após a ofensiva na Ucrânia.

"Esta decisão protege nossos cidadãos, nossas crianças", afirmou no Telegram o presidente da Câmara Baixa do Parlamento (Duma), Viacheslav Volodin.

As mudanças de estado civil, as operações cirúrgicas para mudança de sexo e os tratamentos hormonais se tornaram acessíveis na Rússia após a queda da União Soviética.

Em um comunicado publicado nesta sexta-feira, a Duma afirma que a lei proíbe "qualquer intervenção médica" para mudança de gênero, em particular as cirurgias e terapias hormonais. Também proíbe a mudança de sexo nos documentos de identidade.

O texto prevê exceções, que devem ser avaliadas por uma comissão especial, que permitem cirurgias em casos de "doenças congênitas" em crianças durante a formação de seus órgãos genitais.

Os casamentos com a participação de uma pessoa trans serão "anulados" após a entrada em vigor da lei, segundo a Duma.

As pessoas transgênero também serão proibidas de ter filhos ou de adotar crianças na Rússia. O vice-presidente da Duma e autor do projeto de lei, Piotr Tolstoi, disse que a medida não é retroativa e que as pessoas transgênero russas que já adotaram crianças não perderão a custódia.

O projeto de lei foi aprovado em terceira e última votação e agora deve ser validado pela Câmara Alta do Parlamento, o Conselho da Federação, antes de ser promulgado pelo presidente Vladimir Putin para entrar em vigor, etapas que são consideradas simples formalidades.

Desde o início da ofensiva contra a Ucrânia, as autoridades russas multiplicaram as medidas conservadoras, em particular contra as pessoas LGBTQIA+, alegando querer eliminar comportamentos que consideram desviantes e importados do Ocidente.

- "Inimigos do povo" -

Para justificar o projeto de lei, Volodin afirmou nesta sexta-feira que as operações cirúrgicas para mudança de sexo dispararam nos Estados Unidos nos últimos 10 anos.

"Que tendência monstruosa! É um caminho que leva à degeneração de uma nação. É inaceitável para nós", disse Volodin.

Ele também afirmou que a Rússia viraria "Sodoma", se o país adotasse leis similares às europeias, em uma referência à cidade citada na Bíblia e que é associada à ideia de perversão.

O Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia prendeu na quinta-feira um ativista transgênero acusado de "alta traição" em favor da Ucrânia.

Antes da aprovação do texto, Ian Dvorkine, um psicólogo de 32 anos que dirige uma ONG russa de ajuda às pessoas transgênero, a Centre T, declarou à AFP que temia um aumento dos suicídios na comunidade com a lei.

Ele explica que o Estado russo agora designa as pessoas transgênero "como 'inimigos do povo', retira seus direitos, ajudas, e as transforma em pessoas fora da lei".

A proibição da terapia hormonal poderia "alimentar o mercado clandestino de hormônios", e o uso sem orientação médica representaria riscos muito graves, adverte.

Desde 2013, uma lei proíbe na Rússia a "propaganda de relações sexuais não tradicionais", um texto denunciado pela ONG como um instrumento para reprimir a comunidade LGBTQIA+.

Em dezembro, a aplicação da lei foi consideravelmente ampliada. Agora proíbe a "propaganda" LGTQIA+ a todos os públicos, quando anteriormente citava apenas os menores de idade.

Sete em cada dez pessoas transgênero enfrentaram insegurança alimentar durante a pandemia de covid-19. Para um quinto do grupo minoritário, o quadro foi severo, já que não tinha condições de fazer todas as refeições do dia, nem como comprar alimentos, passando fome.

É o que comprova estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal da Paraíba (UFPB), publicado hoje (10), no periódico científico Plos One.

##RECOMENDA##

Como forma de averiguar o cenário, a equipe de cientistas analisou relatos de experiências de 109 pessoas, por meio de um questionário. Os participantes, que responderam de modo voluntário, eram de todas as regiões do país, sendo a maioria negra.

O critério aplicado para se definir o estado de insegurança alimentar foi o da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que entende como contextos em que o acesso ao alimento está sob ameaça. Isso significa quantidades insuficientes de comida, medo de o alimento acabar e a falta de estabilidade no fornecimento. Também se enquadra na classificação a inadequação da comida disponível, do ponto de vista cultural e/ou nutricional.

Mortes

Sávio Marcelino Gomes, autor principal do artigo,  nutricionista e docente da UFPB, destaca que a comunidade trans é uma das mais vulneráveis. "O Brasil, apesar de a gente ter alguns avanços na saúde, como o processo transexualizador e de existir uma política nacional de saúde para a população LGBTQIA+, de forma geral, é também o país que mais mata pessoas trans em todo o mundo", assegura.

O pesquisador comenta que, ao não poder entrar no mercado de trabalho, por conta da discriminação, chamada, nesse caso, de transfobia, as pessoas trans acabam em uma circunstância de suscetibilidade quanto à alimentação, camada que se soma à da fragilização por meio da violência. Gomes faz, ainda, uma crítica aos dados sobre a população trans que se tem, atualmente, à disposição no Brasil.

"À medida que sofrem rejeições de empregos, sofrem violências dentro do mercado de trabalho, do setor da educação e também na área de assistência em saúde, quando tentam acessar a atenção primária, essas pessoas sofrem também experiências de estigma, e tudo isso junto, coloca essas pessoas em uma posição social de vulnerabilidade aos piores males que nossa sociedade tem. E a fome é um deles, apesar de a gente não [ter] esse resultado de forma nacional, porque nossos inquéritos, por muito tempo, também não mostram essa população. É uma população que está invisibilizada", afirma Gomes, que é doutor em saúde pública.

A Prefeitura de Petrolina, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDESDH), desenvolve, desde junho de 2021, o programa “Retifica Petrolina”, que garante a retificação do registro civil, permitindo a alteração do nome e do gênero em todos os documentos.   

Nesta quarta-feira (22), mais cinco pessoas trans tiveram seus direitos garantidos em Petrolina. “Realização de um sonho”, foi assim que Monalisa Araújo da Cunha, 34 anos, descreveu a emoção ao receber a nova Certidão de Nascimento. “Agora tudo será diferente, não terei que passar por constrangimentos em nenhum lugar”, disse Monalisa.  

##RECOMENDA##

“Estou muito feliz, é uma sensação muito boa. É um sentimento de renascimento, de olhar a certidão e ver que é o meu nome escrito aqui, o nome que eu sempre quis ter”, relata Marcos Eduardo da Silva, 23 anos, um dos contemplados com a retificação.  

De acordo com a secretária executiva de Direitos Humanos da SEDESDH, Rosarinha Coelho, até o momento, 50 pessoas realizaram o sonho de receber a nova Certidão de Nascimento. “Nosso papel como poder público é justamente facilitar e assegurar esse direito garantido por lei”, explica.  

A iniciativa conta com a parceria do Cartório do Registro Civil e do Cartório do 1º Ofício de Notas e de Protestos de Petrolina, que tem como titular o Dr. Marcos Timóteo Torres e Silva. Para ter acesso ao programa “Retifica Petrolina” o público trans deve procurar a Secretaria Executiva de Direitos Humanos. A sede do órgão fica na Avenida Gilberto Freire, S/N°, Vila Mocó. Mais informações através do telefone: (87) 3862-1508. 

Da assessoria 

 

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) considera que características do novo modelo da carteira de identidade, previstas em decreto editado pelo governo Jair Bolsonaro, estimulam "violações dos direitos humanos" contra pessoas trans. A indicação se dá em razão de o novo modelo estabelecer que o nome civil deve ser disposto antes do nome social, junto da inserção de sexo.

"O fato de o nome de registro passar a compor o mesmo espaço do nome social, em posição de destaque, aliado à limitação da solicitação de inclusão do nome social à base da receita federal, intensifica a repulsa da iniciativa", afirmam o procurador federal dos direitos do cidadão, Carlos Alberto Vilhena, e o coordenador do Grupo de Trabalho Populações LGBTI+: Proteção de Direitos, Lucas Almeida Dias.

##RECOMENDA##

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as ponderações feitas em nota técnica visam não contribui com atuação do órgão no bojo de ação civil pública, mas também auxiliar a Equipe de Transição do governo eleito, "no que tange a análise dos debates em torno do reconhecimento da inconstitucionalidade e inconvencionalidade dos critérios constantes no decreto".

O nome civil é o que foi registrado no momento do nascimento da pessoa, junto ao Cartório de Registro de Pessoas Naturais. Já o nome social independe de registro em qualquer documento e tem relação com a forma pela qual as pessoas se identificam.

É nesse contexto que a Procuradoria argumenta que os critérios do novo modelo de RG implicariam em "constrangimento", em especial para as pessoas trans que não querem ou têm dificuldades para mudar seu nome e/ou gênero em cartório. As informações foram compartilhadas pelo MPF.

Para o MPF, com averbação do nome e/ou gênero em cartório, o nome pelo qual a pessoa trans se identifica deixa de ser nome social e passa a ser o nome civil. "Ou seja, os documentos pessoais e os demais registros identitários devem ser alterados, sendo vedadas as informações que possibilitem discriminações de qualquer espécie", explica o órgão.

Segundo Vilhena e Dias, o uso do nome social por pessoas trans, que não se identificam com o nome e/ou o sexo registrais, "integra o processo de reposicionamento delas dentro da estrutura social". Os procuradores ressaltam que o direito à igualdade consiste na exigência de um tratamento sem discriminação.

"É dever do Estado reconhecer e validar a identidade da pessoa, enquanto resultado de um processo individual de autodeterminação, bem como garantir meios para o desenvolvimento efetivo das potencialidades do ser no meio social, de maneira a promover o respeito e assegurar a proteção da livre expressão identitária", frisam.

Ambos apontam ainda ausência de registro de diálogo entre a administração pública e entidades representantes da comunidade LGBTI+ para a construção do novo modelo de Carteira de Identidade. Segundo o MPF, "rompeu-se com os mecanismos de participação social na gestão democrática das políticas públicas".

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pretende restaurar no sistema de saúde as normas antidiscriminatórias voltadas para pessoas trans, que foram eliminadas no mandato de seu antecessor, Donald Trump, anunciou a Casa Branca nesta segunda-feira (25).

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) reforçará uma disposição da Lei de Tratamento Acessível - conhecida popularmente como Obamacare - que proíbe discriminações por motivos de raça, cor, origem, sexo, idade e deficiência.

"Todo mundo nos Estados Unidos deveria poder obter o atendimento que precisa de qualquer provedor de saúde no país, especialmente se esse provedor está recebendo financiamento do HHS", comentou o secretário de Saúde, Xavier Becerra.

"Queremos garantir que os americanos não sejam discriminados quando tentarem acessar o atendimento que necessitam", acrescentou.

Segundo grupos de defesa, as pessoas transgênero e não-conformantes de gênero enfrentam uma discriminação endêmica no atendimento médico, como assédios ou mesmo a negação total de cuidados.

Além das implicações para as pessoas trans, a lei também "deixa claro que a discriminação por razão de sexo engloba a discriminação por gravidez ou condições relacionadas, incluindo a 'interrupção da gravidez'", conclui o comunicado.

No início do mês, o HHS emitiu um guia para 60 mil farmácias de todo o país "lembrando suas obrigações em virtude das leis federais de direitos civis", já que recebem fundos federais.

O guia foi distribuído após vários relatos de que até mesmo em estados onde o aborto segue sendo legal, algumas farmácias se negavam a fornecer medicamentos com receita para interromper a gestação.

A nova regulamentação também exigirá às entidades que providenciam treinamento para seus funcionários sobre a prestação de serviços de assistência linguística às pessoas com nível de inglês limitado.

Becerra disse que, após um período aberto para comentários, espera que a norma entre em vigor no próximo ano.

Se terminar o ensino básico já é um desafio para travestis e transexuais, entrar na universidade e seguir carreira acadêmica são um sonho ainda mais distante para grande parte dessas pessoas. Ainda pequena, a presença de professores trans e coletivos de alunos LGBT+ já faz a diferença e ajuda a trazer mais diversidade, combater preconceitos e pautar novos debates nos câmpus, mas esbarra em problemas estruturais dessa população e resistência de parte dos corpos docente e discente.

PIADA

##RECOMENDA##

Professora de biofísica molecular desde 2007 na Universidade Federal do ABC paulista (UFABC), Ana Lígia Scott, de 53 anos, realizou o processo de transição de gênero no fim de 2016. Respeitada na comunidade acadêmica em que já atuava por mais de dez anos quando começou o processo, ela de repente se viu na função de educar muitos dos alunos e colegas que lidavam com o tema pela primeira vez. "Na época, tínhamos apenas duas estudantes transexuais que eu conhecia. Mas no corpo docente e entre os funcionários não tinha ninguém. Foi uma novidade", lembra Ana. Enquanto o processo de transição avançava, ela se viu na obrigação de abrir o jogo com as turmas em que lecionava. "Senti a necessidade de informá-los, porque me conheciam havia muito tempo e começaram a me olhar estranho. Escrevi uma carta, colei na porta da sala e chamei os alunos para conversar no laboratório." A reação de todos a surpreendeu.

"Eles disseram: ‘Mas é só isso? Achamos que ia fechar o laboratório. Estamos felizes por você’." Alguns colegas do corpo docente, entretanto, foram menos gentis. "A primeira vez que usei o banheiro feminino, sofri piada transfóbica de outra professora. Outros dois colegas se recusavam a pegar o elevador comigo, como se eu tivesse uma doença contagiosa", lembra.

À medida que as unhas ganharam cor, as roupas mudaram e a transição começou a aparecer, Ana decidiu adotar seu nome social em todos os sistemas acadêmicos, algo teoricamente possível e imediato nas repartições públicas, graças a um decreto de 2015. Foram meses de conversa, e-mails e ameaças de judicialização para que Ana pudesse usar o nome nos sistemas da Fapesp, do CNPq e do Capes, que estão diretamente atrelados à função de pesquisadora.

UFRJ

Na Universidade Federal do Rio (UFRJ), a experiência também pioneira de Daniela Balbi não chegou a passar por esses tipos de violência, mas ela acredita que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que o meio acadêmico seja de fato acolhedor para pessoas trans. Em 2019, ela assumiu o posto de professora substituta na Escola de Comunicação. "A instituição, a universidade em geral, está mais receptiva ao debate do que era há 15 anos, quando fui aluna da graduação. Com o corpo docente e técnico-administrativo, fiz amigos que vou levar para a vida, que sempre se colocaram à disposição, desde o cotidiano da vida prática até se caso houvesse algum episódio de transfobia", comenta. "Eles faziam questão de me auxiliar em conjunto. Foi um sonho."

ALUNA

Ex-aluna da mesma instituição, Dani viu com prazer o crescimento e fortalecimento de coletivos estudantis que pautavam e debatiam a questão LGBT+ de forma mais atuante, o que ela encara como um reflexo dos avanços conquistados pelo movimento social nos últimos anos. "O meio acadêmico está mais preparado do que já esteve, com a universidade se apresentando assim sem medo e sem recalque. Ao mesmo tempo, a pauta não está esgotada. Temos de aumentar a oferta de professores e alunos, mas isso também passa pelo acesso ao ensino básico, porque nossa realidade é de abandono, vulnerabilidade e informalidade."

ACESSO

Em 2018, uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) apontou que pessoas trans representavam apenas 0,1% de todas as matrículas no ensino superior público. Depois disso, uma pequena parte das universidades brasileiras tem adotado cotas especiais para essa população, que ainda não são totalmente preenchidas pela própria falta de candidatos aptos.

Em 2018, a UFABC implementou uma política de oferecer 1,6% das vagas na graduação para a população trans, mas encarou escassez de matrículas. "Isso nos informa que existe um gargalo na educação básica. A EJA precisa de fortalecimento e, enquanto essas pessoas trans não estiverem formadas, vamos pegar as poucas que conseguiram se formar", aponta Rena Orofino, presidente da Comissão Especial para Pessoas Transgêneras, Transexuais e Travestis (CEPT) na instituição.

Ela aponta que, dois anos após a abertura dessas vagas, a UFABC já contava com 60 estudantes autodeclarados trans, um total aquém do ofertado. Ativistas e acadêmicos trans apontam que, durante a infância e adolescência, essa população passa por um sistema de "abandono compulsório" da vida escolar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um estudo realizado pela consultoria Santo Caos, em todos os estados do Brasil e em diferentes setores da economia, revelou que 65% dos profissionais LGBTQIA+ já sofreram discriminação no ambiente de trabalho e 28% deles já foram assediados. O índice de casos é ainda maior quando são analisadas apenas pessoas trans, com 96% de relatos de discriminação e bissexuais, com 72%.

As informações foram coletadas com mais de 20 mil trabalhadores de todas as faixas etárias entre novembro de 2020 e abril de 2022. Entre as descobertas, 48% das pessoas LGBTQIA+ afirmaram que revelam sua orientação sexual ou identidade no trabalho, entre as pessoas trans esse número cai para 40%. Em relação ao assédio, 28% afirmam que já passaram por algum caso, índice que é de 18% para pessoas que não fazem parte desse grupo.

##RECOMENDA##

Para o levantamento, discriminação compõe todo tipo de atividade preconceituosa, mesmo que velada, como ironias, piadas e insinuações jocosas. No caso de assédio, o estudo considerou o ato de ofender explicitamente alguém por conta de sua característica.

Ainda segundo os dados do levantamento, 47% da população LGBTQIA+ tem renda média abaixo de quatro salários mínimos, frente a 36% das pessoas que não fazem parte desse grupo. Em relação ao tempo de empresa, aqueles que se declaram LGBTQIA+ ficam aproximadamente 3,07 anos em uma companhia, ao passo que os não LGBTQIA+ permanecem em média 4,13 anos.

O Instituto IT Mídia, em parceria com a TransEmpregos, está com 28 bolsas de estudos abertas exclusivamente para pessoas trans. As oportunidades são para o curso on-line de Introdução à Ciência de Dados, que tem por objetivo oferecer uma qualificação profissional em tecnologia e facilitar o ingresso de pessoas transgêneros nesse mercado de trabalho. Os interessados podem se inscrever até o dia 30 de junho pelo site Eu Capacito.

O curso irá fornecer uma introdução abrangente sobre Ciências de Dados, explorando os principais conceitos envolvidos e as diferentes possibilidades para a carreira. Entre os conteúdos, haverá o ensino de Analytics: introdução e nivelamento; Big Data; Questões Éticas em Ciência de Dados e LGPD e metodologia do projeto, que será a Management Analytics, no qual os estudantes terão acesso a conceitos, enquadramentos, storytelling com dados, entre outras práticas.

##RECOMENDA##

Para participar, é preciso ter o ensino médio completo, acesso à internet e computador, além de disponibilidade de horário para realizar o curso e acompanhar as aulas ao vivo. A formação começará no dia 1º de agosto e terá duração de seis semanas, com dois encontros on-line por semana com o tutor. As reuniões serão realizadas nas quartas e sextas, das 9h às 11h da manhã.

Um homem, que não teve a identidade revelada, utilizou a Sala de Atendimento ao Cidadão, do Ministério Público Federal (MPF), para questionar a legalidade da reserva de vagas para pessoas trans na seleção 2022 para o mestrado interdisciplinar em estudos latino-americano da Universidade Integração Latino-Americana (Unila), localizada no Paraná.

Diante da contestação, o MPT se manifestou, em duas instâncias, favorável à iniciativa. Ao analisar o caso, a procuradora da República, Indira Bolsoni Pinheiro, sentenciou que caberia arquivamento. O entendimento foi homologado, no dia 26 de abril, durante sessão de julgamento realizada pelo Núcleo de Apoio Operacional à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, na 4ª Região.

##RECOMENDA##

A decisão do colegiado foi amparada pela Constituição Federal que estabelece "a política de ações afirmativas para a sobrelevação de desigualdades incrustadas na sociedade brasileira, definida pelo racismo institucional, pela desigualdade, pela não recognição de direitos a minorias e grupos vulneráveis, sejam tais grupos as mulheres, os indígenas, os pretos, os pardos, as pessoas com deficiência, os transgêneros, os quilombolas, as comunidades tradicionais ou qualquer outra minoria vulnerável".

lém disso, o Ministério Público Federal ressaltou que a política de reserva de vagas para pessoas trans é uma iniciativa justificada pela alta vulnerabilidade e "estigmatização a que essa parcela da população está sujeita".

Em 2021, foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no Brasil. Deste total, 135 tiveram como vítimas travestis e mulheres transexuais e cinco vitimaram homens trans e pessoas transmasculinas.

O número foi menor do que o do ano anterior, quando foram registrados 175 assassinatos de pessoas trans. Mas foi superior ao de 2019, no período pré-pandemia, quando foram contabilizados 124 óbitos. O número de 2021 está acima da média desde 2008, de 123,8 homicídios anuais de pessoas pertencentes a esse segmento.

##RECOMENDA##

Os dados estão no Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2021. O estudo foi realizado pela da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) com apoio de universidades como a Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Federal de São Paulo (Unifesp) e Federal de Minas Gerais (UFMG).

O Brasil foi, pelo 13º ano consecutivo, o país onde mais pessoas trans foram assassinadas. Em relação à distribuição geográfica, São Paulo foi o estado com mais homicídios (25), seguido por Bahia (13), Rio de Janeiro (12) e Ceará e Pernambuco (11). Além dos casos no Brasil, foram identificados dois assassinatos de brasileiras trans em outros países, um na França e outro em Portugal.

Os perfis das vítimas não puderam ser completamente traçados. Dos assassinatos com informações sobre a idade - 100 casos -, 53% tinham entre 18 e 29 anos; 28% entre 30 e 39 anos; 10% entre 40 e 49 anos; 5% entre 13 e 17 anos e 3% entre 50 e 59 anos. Quanto à raça, 81% das vítimas se identificavam como pretas ou pardas, enquanto 19% eram brancas.

As principais vítimas foram as profissionais do sexo - 78% das pessoas mortas identificadas na pesquisa. Segundo a autora, esse perfil majoritário das vítimas indica pessoas “empurradas para a prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, onde muitas se encontram em alta vulnerabilidade social e expostas aos maiores índices de violência, a toda a sorte de agressões físicas e psicológicas.”

O texto informa que as pessoas trans também sofreram intensamente os efeitos da crise sanitária, econômica e social da pandemia da Covid-19, com dificuldade de acesso a auxílios governamentais e de obtenção de empregos em empresas.

A pesquisa chama a atenção para a dificuldade de obtenção de dados. Isso ocorre pela ausência de um recorte que contemple as pessoas trans nas estatísticas de secretarias de segurança e de instituições de direitos humanos que recebem denúncias de violações, como no caso do Disque 100.

“Nos casos de assassinatos, muitas vezes esses dados se perdem nos próprios registros de ocorrência. Da mesma forma, nos laudos dos Institutos Médicos Legais, ignora-se a identidade de gênero da pessoa, se destoante do padrão sexual binário”, pontua a autora do estudo, Bruna Benevides.

A autora destaca que há um crescimento de iniciativas com repercussões na ampliação da violência contra pessoas trans e que esse segmento é o que sofre mais violações de direitos humanos entre a comunidade LGBTQIA+.

“Temos assistido a um levante contra as discussões sobre linguagem inclusiva de gênero para pessoas não-binárias, projetos de lei antitrans e o discurso que incluiu o ódio religioso contra direitos LGBTQIA+ tem ganhado mais espaço, trazendo impactos significativos no dia a dia”, observa.

Violência política

O texto cita também a violência contra políticas eleitas trans. Foram registradas no ano passado ameaças de morte contra a vereadora de Niterói Benny Briolly (Psol/RJ), levando-a a deixar o país.

A vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT/MG) também virou alvo de ameaças de morte na capital mineira. A vereadora Érika Hilton (Psol/SP) teve o gabinete invadido e passou a ter que circular com seguranças para coibir ataques.

Papel do Estado

O dossiê critica a falta de ações dos governos, parlamentos e entes estatais para combater a violência transfóbica. A falta de respostas do Estado atinge também adolescentes trans, que em geral sofrem com a falta de acolhimento no seio familiar e nas escolas.

 apresenta recomendações ao Poder Público para enfrentar o cenário de violência contra a população trans. O documento também defende o reconhecimento pelos órgãos estatais da autodeclaração de gênero das pessoas trans e diversas, o que inclui a acolhida nos abrigos públicos. O texto coloca a importância da inserção nos currículos de temas de educação sexual inclusiva.

O documento sugere mutirões em órgãos de assistência social para emissão de documentos e inclusão em programas para população LGBTQIA+. O texto advoga por medidas específicas de proteção das profissionais do sexo e pelo impedimento da prisão de pessoas nessa atividade.

Entre as recomendações, ações de apoio à comunidade trans para enfrentar condições de vulnerabilidade à fome, como a distribuição de alimentos e itens de higiene e de proteção contra a Covid-19 para a população LGBTQIA+.

Para as forças de segurança, o dossiê recomenda a criação de protocolos policiais para combater a violência contra a população LGBTQIA+, a formação e sensibilização dos agentes e a inclusão desse recorte nas estatísticas e na sistematização dos dados sobre assassinatos e violências.

A Agência Brasil entrou em contato com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos sobre as políticas voltadas à população trans e aguarda retorno.

A Tim, empresa de telefonia, está com inscrições abertas para o programa Transforma TIM, que visa qualificar e incluir pessoas trans no mercado de trabalho, até o dia 31 de janeiro. A iniciativa, que está na primeira edição, disponibiliza para este público vagas de emprego em lojas e call center da empresa.

De acordo com a instituição, o processo seletivo será conduzido pela consultoria Transcendemos e conta também com a oferta de bolsas de 100% na graduação para as pessoas contratadas. As candidaturas são realizadas através do site do programa.

##RECOMENDA##

Para participar da seletiva é necessário ter o ensino médio completo. As oportunidades são para as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Pessoas que não forem selecionadas, ainda segundo a instituição, serão indicadas para oportunidades no parceiro comercial de televendas, como também, farão parte do banco de talentos LGBTI+ da TIM.

“É uma realidade que nos impacta, mas, ao mesmo tempo, nos motiva a buscar soluções para transformá-la (...) no ano passado, aderimos ao Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ e estamos focados na inclusão e na ampliação de da representatividade de pessoas LGBTI+ no mercado de trabalho. O programa Transforma reflete nossos valores – coragem, respeito e liberdade, que também estão presentes no cotidiano das pessoas trans”, comenta Giacomo Strazza, através da assessoria, Head de Desenvolvimento, Educação e Inclusão no RH da TIM.

O Itaú Unibanco está com inscrições abertas para o programa gratuito 'Bootcamp Itaú Devs', voltado unicamente para pessoas trans. São 40 vagas disponíveis para a capacitação direcionada a desenvolvedores, e em seguida a integração na equipe de trabalho.

As inscrições vão até o dia 2 de setembro apenas por meio do site de recrutamento da empresa. O programa busca aprimorar a carreira de analista junior em todo o País. Segundo Moisés Nascimento, CDO do Itaú, a iniciativa tem como objetivo promover mais oportunidade e diversidade no mercado de trabalho, em especial no setor de tecnologia.

##RECOMENDA##

“Proporcionar conhecimento para quem deseja aprender e se especializar nessa área é um ganho social e dobramos esse ganho quando temos a oportunidade de estimular a visibilidade, segurança e respeito às pessoas trans. Somos diversos e queremos construir um banco cada vez melhor para atender nossos clientes que também são diversos”, comentou nascimento.

Para participar, é preciso ter acima de 18 anos, disponibilidade de oito horas diárias, e bom raciocínio lógico. Não serão exigidos diploma de graduação ou experiência prévia na área.

A capacitação será virtual, por meio de webinários, e contará com informações técnicas e conteúdo comportamental para desenvolver habilidades essenciais na atuação profissional. Os candidatos têm até o dia 5 de setembro para fazer o teste de raciocínio fluido.

Ainda será realizado um painel com especialistas de 8 a 15 do mesmo mês, e o resultado dos aprovados na seleção será divulgado no dia 20. O início do curso está previsto para o dia 18 de outubro.

Os participantes serão contratados pelo Itaú a partir do primeiro dia da capacitação, recebendo todos os benefícios oferecidos pela empresa. As pessoas selecionadas terão acesso a atendimento psicológico, psiquiátrico e endócrino para quem está em transição hormonal ou que tenha interesse em iniciar a transição em parceria com a Educatransforma.

O Assaí Atacadista anuncia seleção de emprego para pessoas transgênero. As oportunidades são para as lojas localizadas nas cidades de Belém, Macaé e Recife e exigem do profissional ensino médio completo. Os interessados devem realizar inscrições on-line e eleger o município e cargo que pretendem atuar.

O processo seletivo conta com seis etapas: cadastro do candidato, teste, entrevista com RH do Assaí, entrevista com gestor, preenchimento de dados de pré-contratação e contratação (assinatura do contrato de trabalho). Entre os cargos ofertados pela rede estão açougueiro, assistente de TI, nutricionista, chefe de administrativo e fiscal de caixa.

##RECOMENDA##

Os aprovados na seletiva receberão, além do salário, benefícios como assistência médica e odontológica, vale transporte, cesta básica, cartão mamãe, enxoval do bebê, seguro de vida, entre outros.

As vagas exclusivas para pessoas trans são uma parceria entre o Assaí Atacadista e a plataforma Transempregos. As candidaturas são realizadas através dos links: BelémMacaéRecife

 

 

 

 

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) recebe inscrições, até 31 de março, para a seleção de ingresso em cursos de graduação, semestre letivo 2021.2, direcionado a índios aldeados, moradores de comunidades quilombolas e pessoas trans. Também podem participar do processo seletivo refugiados em situação de vulnerabilidade e imigrantes.

De acordo com a instituição de ensino, os estudantes devem escolher uma opção de curso e requerer inscrição até 17h do dia 31, por meio do site da seleção. Os candidatos devem ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2019 ou 2020; esse requisito, porém, será opcional para refugiados e imigrantes. As candidaturas não cobram taxa de participação.

##RECOMENDA##

A previsão é que sejam selecionados até quatro concorrentes além da quantidade de vagas definida para cada graduação. Haverá uma vaga para índios aldeados, uma para moradores de comunidades quilombolas, uma oportunidade para pessoa trans que tenha estudado o ensino médio em escola pública, além de uma vaga para imigrante/refugiado em situação de vulnerabilidade social, que tenha cursado o ensino médio ou equivalente em outra nação.

Ainda no que diz respeito aos imigrantes e refugiados, essa condição deverá ser comprovada por meio de visto humanitário permanente ou temporário emitido pelo Conselho Nacional de Imigração. Já as condições de quilombola e índio aldeado serão comprovadas por meio da Fundação Cultural Palmares e da Fundação Nacional do Índio (Funai), respectivamente.

Segundo a UFBA, a condição de pessoa trans poderá ser comprovada por meio de documento de autodeclaração disponível no próprio site da instituição de ensino. Confira os cursos disponíveis na Universidade e, para mais informações, acesse o edital do processo seletivo.

Estão abertas, até o dia 5 de janeiro, as inscrições para o curso gratuito ‘Curadoria nas Artes para Corpos Dissidentes’. A capacitação oferece 40 vagas, destinadas a pessoas do grupo LGBTQIA+, pessoas negras, mulheres e pessoas com deficiência (PCD). Interessados devem realizar as candidaturas por meio do formulário on-line.

Conforme o informações divulgadas pelo grupo organizador, a qualificação tem como principal objetivo “problematizar e ampliar o debate sobre a ausência de corpos dissidentes - notadamente corpos LGBTQIA+, negros, mulheres, pessoas com deficiência, etc - nos espaços de decisão e de produção de pensamento sobre as artes e, por consequência, os exíguos espaços de difusão dos artistas dissidentes”.

##RECOMENDA##

A iniciativa reserva 70% das vagas do curso para pessoas trans, travestis, pessoas negras e PCDs. Após a seleção, os candidatos participarão de oito encontros on-line e ao vivo, que serão realizados entre os dias 12 de janeiro até o dia 5 de fevereiro de 2021, com duas horas de duração em cada aula. Os participantes serão certificados, desde que tenham participado de pelo menos 75% dos encontros.

As aulas serão ministradas por artistas e pesquisadores ligados à área. São elas: Corpos políticos e crise das narrativas, com Fabiano de Freitas; Políticas de linguagem, pedagogias e saberes sobre a dissidência, com a Renata Pimentel; Deslocamentos do olhar e a cena dissidente nas artes, com o pesquisador Miro Spinelli; Corpodissidência e olhares decoloniais sobre a arte e o mundo, com Helena Vieira; além do tema Ficções, ausências e repetições nas narrativas dissidentes, com a curadora e pesquisadora Anti Ribeiro; e o Mercado de arte, gestão e curadoria sobre arte em dissidência, por Paulo Mattos.

Para mais detalhes, basta acessar o email curadoriadissidente@gmail.com e sanar as dúvidas.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando