Escrever uma redação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige conhecimentos técnicos, como, por exemplo, de como fazer introdução, desenvolvimento e conclusão. Mas, além disso, é necessário que o candidato tenha conhecimento da sociedade e entenda pautas importantes de luta para a construção de um futuro melhor. Uma delas é o combate ao racismo no Brasil. Entre outros elementos que continuam perpetuando a cultura racista, estão os termos que humilham e constrangem negras e negros.
Racismo é crime no Brasil desde 1989, quando foi sancionada a Lei 7.716, pelo então presidente José Sarney. Mas desde muito antes disso, algumas expressões foram enraizadas no vocabulário popular de uma forma com que fossem repetidas e perpetuadas, muitas vezes por desconhecimento de seus reais significados; mas sempre constrangendo, importunando e humilhando pessoas negras, com seus cunhos racistas. Por isso, termos, frases e expressões ainda bastantes utilizados no dia a dia devem ser abolidos da redação do Enem, tanto como forma de permanecer dentro do propósito de respeito aos Direitos Humanos, como também de conscientização.
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Segundo a jornalista e ativista Taísa Ágatha, diversas expressões se configuram como racistas pois ligam a figura do negro à negatividade. “Como se o fato de serem negras intrinsecamente fosse uma coisa negativa criando-se assim os estereótipos. Grupos subalternizados geralmente sofrem com uma construção de imaginário social que os diminui enquanto sujeitos”, explica.
Por isso, uma das formas de combater o racismo é evitar alguns termos e expressões. “Continuar a perpetuar ideias escravocratas é perpetuar o suposto lugar social a que pessoas negras devem ocupar, sempre subalterno. Portanto, evitar expressões racistas é quebrar o ciclo de opressão estrutural a que pessoas negras são submetidas todos os dias”, completa.
Confira abaixo alguns termos racistas que deve ser evitados e podem ser substituídos na redação do Enem.
Denegrir
Com o significado de “tornar negro, escurecer”, denegrir se torna uma expressão racista quando é usada, comumente, de forma pejorativa, semelhante à difamação. O dicionário ainda considera duas formas corretas de escrevê-la: denegrir e denigrir, mas ambas carregam consigo a imagem do negro como algo negativo. Essa palavra pode ser substituída por humilhar, menosprezar.
Da cor do pecado
Termo que já foi título de novela, “da cor do pecado” se refere à imagem do negro (sobretudo da negra) como uma raça tentadora, sedutora e sensual, mas ainda assim negativamente. A expressão ainda ressalta a mulher negra como objeto de sexualização. Este termo não deve ser utilizado.
Criado-mudo
A origem está nas atividades desempenhadas pelos escravos aos seus senhores de engenho. Com a função de segurar as coisas para os donos das residências, os negros deveriam permanecer mudos para não atrapalhar os moradores das casas grandes. Assim surgiu o termo, aplicado ao móvel. Substitua por mesinha-de-cabeceira.
Lista negra, mercado negro, ovelha negra, magia negra…
Mais uma vez como forma de menosprezar a cor negra e tratá-la como negativa, as palavras compostas que geralmente são acompanhadas de “negro” ou “negra” devem ser evitadas do vocabulário escrito e falado. Elas carregam a o racismo estrutural dentro de suas composições. Para mercado negro, por exemplo, pode ser utilizado mercado ilegal.
Mulata, morena
A palavra “mulata” faz referência à mula e é usada para referenciar pessoas negras de pele clara. Morena, por sua vez, tem a mesma função, quando, na realidade, seu significado original é para caracterizar uma pessoa branca de cabelos pretos. Os termos ganharam a conotação porque racistas acreditam que caracterizar uma pessoa como “negra” é ofensivo.
Doméstica
Pouco difundido, o significado da palavra “doméstica” faz referência às escravas negras que saiam da senzala e do trabalho nas terras para a casa dos senhores de engenho, geralmente por terem peles mais claras e traços mais europeus. Lá, elas eram “domesticadas”, por meio de lições de bons modos e “corretivos”.. A expressão é uma forma de dizer que um animal foi civilizado, o que torna a expressão racista
Cabelo ruim
Muito utilizado para descrever cabelos cacheados e crespos, característica das raças de matrizes africanas, a expressão “cabelo ruim” é uma forma de praticar o racismo com os fenótipos e características dos negros.
Inveja branca
Se por um lado o negro é tratado como algo negativo, por outro, o branco ganha status de qualidade. Quando uma pessoa afirma ter uma “inveja branca”, ela quer dizer que sua inveja é “menos prejudicial” ou é uma “inveja boa”. Entretanto, não existem defeitos bons.
Ainda não entendeu? Nós preparamos um vídeo com alguns desses termos e suas possíveis substituições dentro ou fora de uma produção textual. Confira.
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