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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu nesta sexta-feira, 23, o comando do Ministério do Meio Ambiente à senadora Simone Tebet (MDB-MS). O Estadão apurou que Simone disse ao presidente estar disposta a aceitar a pasta, desde que o arranjo proposto seja aprovado pela deputada eleita Marina Silva (Rede-SP).

Lula teria um encontro com Marina ainda na tarde desta sexta-feira. Ele pretende convidá-la para assumir o novo posto de Autoridade Climática. Nas redes sociais, publicações mostram indignação com a possibilidade de Simone ser titular do Meio Ambiente, uma vez que ela é ligada ao agronegócio. Foi criada até a hashtag #TemQueSerMarina.

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A nove dias da posse, o presidente eleito ainda não completou a equipe de governo. Lula anunciou nesta quinta-feira, 22, 16 ministros, incluindo na lista o futuro vice-presidente Geraldo Alckmin, que será titular de Indústria e Comércio. O presidente eleito também apresentou as primeiras mulheres que vão integrar a Esplanada, como Nísia Trindade Lima para Saúde.

O perfil dos nomes mostra que, até agora, Lula escolheu somente aliados de primeira hora do PT e de partidos com quem tem mais afinidade política por não conseguir superar a tempo os inúmeros entraves para abrigar indicados por alas do MDB, do PSD e do União Brasil. Além disso, o petista também aguardava a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição ser aprovada pelo Congresso para medir a fidelidade dos novos apoiadores. Já promulgada, a PEC permite ao governo aumentar gastos para pagar o Bolsa Família.

Em pronunciamento na cerimônia de diplomação, no último dia 12, Lula destacou o papel dos partidos que o apoiaram na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro, acenando para uma gestão além do PT para ter governabilidade. A cota petista na equipe, atualmente, está em oito nomes, mas deve chegar a pelo menos dez dos 37 ministérios da Esplanada, no terceiro mandato de Lula.

O maior impasse ainda reside nas cadeiras para Simone e Marina. Lula recebeu, nesta quinta-feira, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga, além do líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), para tratar da composição do governo.

O MDB terá três ministérios, mas Simone é considerada como um nome da "cota pessoal" de Lula. O senador eleito Renan Filho (MDB), ex-governador de Alagoas, comandará Transportes. Nessa partilha, o Ministério das Cidades, a ser recriado, foi oferecido ao MDB da Câmara. Ficou combinado que o governador do Pará, Helder Barbalho, fará a indicação, uma vez que a bancada do Pará tem nove parlamentares.

Embora o deputado José Priante (PA) esteja em campanha pelo cargo, Helder se recusa a apadrinhá-lo. Os dois são primos, mas não se dão bem. É por isso que Cidades também pode ser uma alternativa para Simone, assim como o Ministério do Planejamento, ainda sem nome definido.

Simone apoiou Lula no segundo turno e queria Desenvolvimento Social, mas, por pressão do PT, o ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias, ex-governador do Piauí. Foi naquele Estado que Lula lançou o Fome Zero, em 2003. O programa deu origem ao Bolsa Família.

A pasta de Desenvolvimento Social é vista pelo partido como "coração do governo". Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e com um dos maiores orçamentos da Esplanada.

Se depender do comando petista, Marina Silva também não deve voltar a comandar Meio Ambiente porque pode ter novos embates no ministério, sobretudo com o agronegócio. Ministra no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, Marina saiu do governo sob desgaste, em 2008, e se desfiliou do partido. Somente se reaproximou de Lula nesta campanha, por intermédio de Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda.

O desejo de Lula é que ela assuma Autoridade Climática, cargo que ficaria sob o guarda-chuva da Presidência da República. Na campanha, Marina sugeriu ao petista a criação desse posto, mas não planeja ocupá-lo porque o considera muito técnico. Além disso, avalia que Autoridade Climática precisa ficar na estrutura do Meio Ambiente, e não da Presidência.

"É mais difícil montar um governo do que ganhar as eleições", disse Lula ao anunciar a lista com 16 ministros. Nas entrelinhas, mandou um recado a Simone ao observar que ele e o PT são "devedores" de muitos que o ajudaram na campanha. "O presidente Lula sabe do papel que teve e tem a senadora Simone Tebet", afirmou Wellington Dias.

Desde o início do mês, Lula anunciou titulares para 21 pastas - outros cinco nomes já haviam sido divulgados no último dia 9. Ele ainda precisa escolher 16 ministros.

Nessa temporada, Lula enfrentou a pressão do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que queria o Ministério da Saúde, uma espécie de feudo do partido há vários anos. Mas Lula bancou Nísia, a presidente da Fiocruz, que vai herdar uma das pastas mais problemáticas do governo de Jair Bolsonaro.

Na equação difícil de fechar com o centro e o Centrão, o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ficará com dois ministérios. Um deles é Agricultura, que terá à frente o senador Carlos Fávaro (PSD-MT). O partido também reivindica a vaga de Minas e Energia para o senador Alexandre Silveira (MG), aliado de Pacheco.

O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), pode ficar com Integração Nacional. Homem da confiança de Lira, Elmar também quer manter o controle sobre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Parnaíba e São Francisco (Codevasf). Dona de um orçamento de R$ 3,5 bilhões para 2023, a Codevasf foi a autarquia que mais recebeu recursos do orçamento secreto nos últimos anos, como mostrou o Estadão, protagonizando escândalos de compras superfaturadas.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva terá uma conversa definitiva, nesta sexta-feira (23), com a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e vai oferecer a ela, como primeira opção, o Ministério do Meio Ambiente. Simone disse a interlocutores que pode aceitar, desde que não passe na frente da deputada eleita Marina Silva (Rede-SP). Lula afirmou a aliados que, caso não haja acordo para que Marina assuma o novo posto de Autoridade Climática, oferecerá a Simone o Planejamento.

A nove dias da posse, o presidente eleito ainda não completou a equipe de governo. Nessa quinta-feira (22), ele anunciou 16 ministros, incluindo na lista o futuro vice-presidente Geraldo Alckmin, que será titular de Indústria e Comércio. Lula também apresentou as primeiras mulheres que vão integrar a Esplanada, como Nísia Trindade Lima para Saúde.

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O perfil dos nomes mostra que, até agora, Lula escolheu somente aliados de primeira hora do PT e de partidos com quem tem mais afinidade política por não conseguir superar a tempo os inúmeros entraves para abrigar indicados por alas do MDB, do PSD e do União Brasil. Além disso, o petista também aguardava a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição ser aprovada pelo Congresso para medir a fidelidade dos novos apoiadores. Já promulgada, a PEC permite ao governo aumentar gastos para pagar o Bolsa Família.

Em pronunciamento na cerimônia de diplomação, no último dia 12, Lula destacou o papel dos partidos que o apoiaram na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), acenando para uma gestão além do PT para ter governabilidade. A cota petista na equipe, atualmente, está em oito nomes, mas deve chegar a pelo menos dez dos 37 ministérios da Esplanada, no terceiro mandato de Lula.

O maior impasse ainda reside na cadeira a ser ocupada por Simone e nas vagas que devem ser oferecidas ao União Brasil. Lula recebeu, nesta quinta-feira, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga, além do líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), para tratar da composição do governo.

O MDB terá três ministérios, mas Simone é considerada como um nome da "cota pessoal" de Lula. O senador eleito Renan Filho (MDB), ex-governador de Alagoas, comandará o Ministério dos Transportes. O deputado José Priante (PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho, deve ser a indicação do MDB da Câmara para o cobiçado Ministério das Cidades, a ser recriado.

Simone apoiou Lula no segundo turno e queria Desenvolvimento Social, mas, por pressão do PT, o ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias, ex-governador do Piauí. Foi naquele Estado que Lula lançou o Fome Zero, em 2003. O programa deu origem ao Bolsa Família.

A pasta de Desenvolvimento Social é vista pelo partido como "coração do governo". Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e com um dos maiores orçamentos da Esplanada.

Se depender do comando petista, Marina Silva também não deve voltar a comandar Meio Ambiente porque pode ter novos embates no ministério, sobretudo com o agronegócio. Ministra no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, Marina saiu do governo sob desgaste, em 2008, e se desfiliou do partido. Somente se reaproximou de Lula nesta campanha, por intermédio de Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda.

O desejo de Lula é que ela assuma Autoridade Climática, cargo que ficaria sob o guarda-chuva da Presidência da República. Na campanha, Marina sugeriu ao petista a criação desse posto, mas não planeja ocupá-lo porque o considera muito técnico. Além disso, avalia que Autoridade Climática precisa ficar na estrutura do Meio Ambiente, e não da Presidência.

Desde o início do mês, Lula anunciou titulares para 21 pastas - outros cinco nomes já haviam sido divulgados no último dia 9. Ele ainda precisa escolher 16 ministros.

Nessa temporada, Lula enfrentou a pressão do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que queria o Ministério da Saúde, uma espécie de feudo do partido há vários anos. Mas Lula bancou Nísia, a presidente da Fiocruz, que vai herdar uma das pastas mais problemáticas do governo de Jair Bolsonaro.

Na equação difícil de fechar com o centro e o Centrão, o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ficará com dois ministérios. Um deles é Agricultura, que terá à frente o senador Carlos Fávaro (PSD-MT). O partido também reivindica a vaga de Minas e Energia para o senador Alexandre Silveira (MG), aliado de Pacheco.

Essa cadeira, no entanto, também é cobiçada pelo líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Homem da confiança de Lira, Elmar está de olho, ainda, no Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta à qual a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Parnaíba e São Francisco (Codevasf) está subordinada. Dona de um orçamento de R$ 3,5 bilhões para 2023, a Codevasf foi a autarquia que mais recebeu recursos do orçamento secreto nos últimos anos, como mostrou o Estadão, protagonizando escândalos de compras superfaturadas.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) pode fazer uma "dobradinha" com a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) no Ministério do Meio Ambiente. A ideia é defendida, nos bastidores, pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda há divergências no PT sobre como seria a configuração desse modelo.

Marina foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, mas saiu desgastada com o partido. Se depender da cúpula do PT, Simone será titular do Meio Ambiente e Marina ficará com Autoridade Climática, cargo a ser criado.

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A ideia é que Autoridade Climática seja acomodada sob a estrutura do Meio Ambiente. Até agora, porém, Marina resiste a essa configuração e prefere ser ministra. Simone, por sua vez, não quer entrar em atrito com a colega.

Terceira colocada na disputa presidencial, a senadora do MDB apoiou Lula no segundo turno da campanha. Ela só não entrou na lista de ministros anunciada ontem porque Lula cedeu à pressão do PT. Simone queria comandar Desenvolvimento Social, mas a pasta é vista pelo partido como "coração do governo". O ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias (PT-PI), ex-governador do Piauí, Estado onde Lula lançou o Fome Zero, em 2003. Foi esse programa que deu origem ao Bolsa Família, considerado vitrine da gestão petista. Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e, com um dos maiores orçamentos da Esplanada.

Ao anunciar a lista com 16 ministros, Lula disse ser mais difícil montar um governo do que ganhar as eleições. Nas entrelinhas, mandou um recado a Simone ao observar que ele e o PT são "devedores" de muitos que o ajudaram na campanha. "O presidente Lula sabe do papel que teve e tem a senadora Simone Tebet", afirmou Dias.

No relatório final do gabinete de transição, a proposta é que Autoridade Climática funcione como uma espécie de autarquia vinculada ao Meio Ambiente. Marina não concorda e quer que o cargo seja diretamente subordinado ao ministério. Dirigentes do PT, por sua vez, avaliam que seria recomendável a função ficar sob a estrutura da Presidência da República.

Diante dessas dúvidas, a situação de Simone não está definida. A aliados, a senadora que deixa o mandato neste ano tem dito que prefere ficar fora do governo a receber um "prêmio de consolação".

MDB

Lula recebeu ontem o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM), além do líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), para tratar da participação do partido no governo.

O presidente eleito dará três ministérios ao MDB, garantindo Simone no primeiro escalão. Na reunião, Lula disse que Simone entrará na equipe em sua cota pessoal. O senador eleito Renan Filho (AL) ficará com Transportes e o deputado José Priante (PA) é o nome indicado até agora para o Ministério das Cidades, que será recriado. Priante é primo do governador do Pará, Helder Barbalho, que ainda será consultado.

Aparecida Gonçalves, mais conhecida como Cida Gonçalves, vai comandar o Ministério da Mulher no governo Lula. O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 22.

Cida integrava a equipe de transição e era responsável pela elaboração de políticas públicas para à área - ela é especialista em gênero e violência contra a mulher.

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Nos últimos anos, a futura ministra atuava como consultora em política públicas para o enfrentamento da violência contra a mulher e dava palestras e cursos para prefeituras e governos estaduais sobre a atuação na área.

Durante os dois primeiros mandatos de Lula e também na gestão Dilma Rousseff, Cida ocupou o cargo de secretária nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres. Ela também foi assessora da Coordenadoria à Mulher da Secretaria de Assistência Social, Cidadania e Trabalho do Mato Grosso do Sul em uma das gestões de Zeca do PT, no início dos anos 2000.

Cida nasceu em Clementina, em São Paulo, mas mora em Campo Grande (MS) desde o fim dos anos 1980. Sua atuação no Estado foi marcada pela militância dos direitos das mulheres. Ela chegou a se candidatar a vereadora da capital do Estado pelo PT, em 1988 e em 2000. Cida se candidatou ainda à deputada constituinte, em 1986.

No início dos anos 90, coordenou processo de articulação e fundação da Central dos Movimentos Populares, entidade que agrupa movimentos sociais brasileiros de diversas áreas, como saúde, direitos mulheres, igualdade racial, entre outras.

O futuro ministro da Educação, Camilo Santana (PT), disse nesta quinta-feira, 22, que o foco de seu trabalho será recuperar a educação básica do País. Confirmado no cargo pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Camilo não fechou, porém, as portas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (FNDE) para nomes do Centrão.

Em breve pronunciamento na sede do governo de transição, em Brasília, o futuro ministro se limitou a dizer que pretende fazer uma discussão ampla sobre quem ficará à frente do FNDE. "Vou conversar com especialistas para definir o melhor perfil. O meu perfil, como gestor, é de diálogo", destacou.

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O FNDE é um dos órgãos mais cobiçados pelo Centrão porque faz obras e contratos de grande valor, em todo o País. No governo de Jair Bolsonaro (PL), foi um dos focos da corrupção que derrubou o ex-ministro Milton Ribeiro e expôs a deficiência nas políticas públicas educacionais.

Pastores do MEC influenciavam a destinação de verbas do FNDE conforme interesses pessoais, mesmo sem ligação formal com o ministério. O caso foi revelado pelo Estadão. Era operado pelo FNDE, ainda, o esquema das "escolas fake" do governo Bolsonaro, nas quais novas obras eram anunciadas nas cidades por motivação eleitoral sem que houvesse garantia de recursos para realizá-las.

O atual presidente do FNDE é Marcelo Ponte, apadrinhado do chefe da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira (PP).

Sem indicar um veto às negociatas políticas com o fundo de financiamento estudantil, Camilo enfatizou que retomará o investimento na formação escolar de nível fundamental e médio. Ex-governador do Ceará, o futuro ministro seguiu a toada do discurso de Lula e disse que o governo Bolsonaro "desorganizou a educação", sendo, segundo ele, necessário implementar o sistema nacional de educação. Camilo afirmou, ainda, que os danos provocados pela pandemia de Covid-19, como a evasão escolar de mais de 650 mil crianças, segundo o Censo Escolar, será o foco da nova gestão do MEC.

"É uma determinação do presidente colocar a educação como prioridade, principalmente a educação básica. É preciso voltar a ter visão sistêmica da educação. O foco é a educação básica, da educação infantil ao ensino médio", disse Camilo. "A minha ideia é que será um ministério de pactuação social e federativa", completou.

Com a escolha de Alexandre Padilha como ministro das Relações Institucionais, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva projeta um formar triunvirato para comandar sua articulação política com o Congresso. Esse grupo deve ser formado por três petistas pragmáticos da velha guarda: o senador Jaques Wagner (BA), que fica na liderança do governo no Senado, o deputado José Guimarães (CE), na liderança do governo na Câmara, e Padilha, que já ocupou o cargo no segundo mandato de Lula, na operação das demandas da base no Palácio do Planalto.

No início da transição, o senador eleito Wellington Dias (PI) assumiu o protagonismo da articulação com o Congresso ao ser escalado por Lula para negociar a PEC da Transição e o orçamento. Jaques Wagner, porém, discretamente acabou se destacando no processo devido ao bom trânsito no Senado, onde já exerce o cargo de senador.

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A opção de Lula por Padilha, que também foi ministro da Saúde, teve a "bênção" dos principais dirigentes partidários, da esquerda ao Centrão, e de líderes do Congresso. "Padilha é no PT o deputado que mais tem entradas suprapartidárias. É um excelente nome e terá como uma das principais missões ampliar a base de sustentação do governo na Câmara para matérias que exigem quórum qualificado", disse ao Estadão o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL).

Deputados do PSD e União Brasil fazem reservadamente a mesma leitura e ressaltam o perfil pragmático e conciliador de Padilha.

Com o mapa da máquina federal em mãos, Padilha terá a tarefa de criar pontos com a centro-direita, que conquistou 273 das 513 cadeiras na Câmara, e atrair parte do PL do presidente Jair Bolsonaro, que elegeu 99 deputados federais e 13 senadores, tornando-se a maior legenda do Congresso.

Petista da velha guarda, o deputado também vai administrar a complexa e nem sempre pacífica relação da máquina partidária com o governo federal, além de organizar a mesa de trabalho de Lula com os governadores.

"Padilha se saiu bem nesse cargo no último governo Lula. Ele tem bom trânsito no Congresso e é respeitado pelos governadores. Seu nome também está pacificado no PT", avalia o deputado federal Paulo Teixeira (SP), que integra a direção nacional petista.

Quase na Fazenda

Quando o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) percorria São Paulo na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes durante as eleições, o nome de Padilha era um dos mais cotados no partido para assumir o Ministério da Fazenda.

Sempre que a sua formação como médico especialista em doenças infecciosas era citada como um empecilho, petistas e aliados próximos a Lula lembravam que Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, também era médico e que, ao contrário de Jair Bolsonaro, o petista não teria um "posto Ipiranga" como Paulo Guedes à frente da economia.

Foi na condição de favorito para a pasta que Padilha cumpriu na campanha o papel de interlocutor de Lula com empresários.

Em várias ocasiões, o deputado agiu como bombeiro para acalmar investidores depois de declarações polêmicas do candidato petista, como no caso da promessa de revogar a reforma trabalhista. Padilha esteve na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), em um jantar do grupo Esfera Brasil e até em um evento da XP nos Estados Unidos.

Considerado no PT um político pragmático, leal e sem raízes em nenhuma corrente macroeconômica, o deputado parecia à vontade nessa função.

Mas após a derrota de Haddad no segundo turno para o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-ministro da Educação, ex-prefeito e ex-presidenciável descartou voltar para a antiga pasta e se colocou no páreo para a Fazenda.

Caberá também a Padilha reforçar, junto à Secretaria Geral da Presidência, os mecanismos de escuta com entidades sindicais, movimentos como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, estudantes e o mosaico de organizações que compõem a base de Lula e são sua conexão com as ruas.

Filho de militantes da Igreja que foram perseguidos pela ditadura militar, Padilha foi formado politicamente no movimento estudantil do PT do fim dos anos 80 e começo dos 90, quando foi dirigente do DCE da Unicamp, onde estudou Medicina.

Em sua trajetória no PT, atuou intensamente na campanha de Lula em 1989, sempre esteve ao lado das correntes mais pragmáticas e sem se envolver diretamente nas disputas internas. No governo de Haddad na capital paulista, Padilha foi secretário da Saúde e se cacifou como um dos principais quadros na área.

No segundo governo Lula, o petista sucedeu José Múcio como ministro chefe da secretaria de Relações Institucionais quando ele foi para o Tribunal de Contas da União (TCU). Os dois agora vão se reencontrar nas reuniões ministeriais, com Múcio no Ministério da Defesa.

Em 2014, quando Dilma disputou um segundo turno acirrado contra Aécio Neves, Padilha, seu ex-ministro da Saúde, foi escolhido o "poste" de Lula para disputar o governo paulista, mas acabou em terceiro lugar.

Descrito por acadêmicos como um dos maiores intelectuais brasileiros da sua geração, o jurista e filósofo Silvio Almeida será o futuro ministro dos Direitos Humanos no novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um dos principais nomes na área e conhecido como um estudioso, Almeida terá o desafio de conciliar uma pauta de governo que foi alvo de denúncias por ONGs durante os quatro anos de Jair Bolsonaro no Executivo.

Notado por um grande trabalho na luta antirracista, Almeida é autor do livro Racismo Estrutural (Pólen, 256 páginas), publicado em 2019 e um dos trabalhos mais influentes sobre o tema, é doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), presidente do Instituto Luiz Gama e do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE).

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"Silvio Almeida é uma das mais importantes referências dos direitos humanos que temos hoje no Brasil. É uma pessoa que tem uma visão extremamente moderna e contemporânea", diz Rogério Sottili, diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog.

Pedro Serrano, professor de Direito da PUC-SP, acredita que Silvio Almeida enfrentará uma "grande dificuldade", mas que poderá ser superada. "Ele terá que lidar com um tema que uma parcela da sociedade brasileira compreende muito mal. Esse trabalho não é importante para ele, mas para a consciência da sociedade que os direitos humanos são uma relação civilizada entre Estados e pessoas e não para defender bandido", disse.

Para Serrano, Almeida defende os direitos humanos "como um solo comum entre direita e esquerda". "Não conheço nome melhor do que ele", afirmou.

Em novembro, o governo Bolsonaro foi alvo de nova denúncia encaminhada a relatores de Direitos Humanos e Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) formulada por cinco ONGs brasileiras. O documento aponta dados de desmatamento na Amazônia e no Cerrado e de violência contra povos indígenas para sustentar que a atual gestão do País representa risco "às gerações futuras" de todo o mundo.

Silvio Almeida é filho de Barbosinha, ex-goleiro que passou pelo Corinthians em 1967, que ganhou o apelido em referência a Barbosa, que defendeu o gol brasileiro na Copa de 1950, acusado de falhar na final, em que a seleção foi derrotada pelo Uruguai. Assim como o arqueiro vice-campeão, Barbosinha ficou apenas um ano no Corinthians, após falhar em clássico contra o Palmeiras.

Foi também na relação com o pai que Almeida notou o racismo na sociedade brasileira. "Eu notei que o apelido do meu pai era por conta de eles serem negros. E meu pai não herdou apenas o apelido, mas o estigma sobre os goleiros negros", disse o jurista em entrevista ao SporTV, em 2020.

"É como se as pessoas sempre estivessem olhando para você esperando que você cumpra a sua sina. Ou seja, que você falhe. Porque o goleiro deve ter um coisa que as pessoas geralmente não associam ao negro. E isso é racismo. Que é a confiança. Sempre há uma desconfiança", afirmou Almeida em outra entrevista ao UOL.

Descrito por pessoas do entorno como uma pessoa humilde, Almeida também terá que agir politicamente. "Silvio tem capacidade de diálogo e trânsito em todos os espectros políticos e em todas as faixas sociais", afirmou Yuri Silva, coordenador de Direitos Humanos no IREE e membro do grupo de transição na área de igualdade racial. "Ele é um intelectual negro que fala para os negros, para a esquerda brasileira, consegue dialogar com o centro político, e fala também para a mãe de família de classe média que assiste a Globo e que não necessariamente é de esquerda, ou às vezes é até conservadora."

Para Gabriel Sampaio, coordenador do programa de enfrentamento à violência Institucional da Conectas Direitos Humanos e membro do grupo técnico de transição na área de Justiça e Segurança Pública, Silvio Almeida poderá trazer avanços significativos no campo de construção de políticas públicas antirracistas no Brasil.

"É fundamental que o ministério de Direitos Humanos tenha a real dimensão e adote uma postura condizente com o tamanho do desafio do enfrentamento ao racismo estrutural do Brasil. Ele (Almeida) é o melhor sistematizador sobre as origens, as dimensões do racismo estrutural no Brasil", afirmou.

Escolhida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar o Ministério da Saúde a partir de janeiro de 2023, a cientista social Nísia Trindade Lima será a primeira mulher a chefiar o órgão desde que ele foi criado, em 1953. Desde então, passaram pelo cargo 50 ministros, todos homens.

Nísia já havia feito história na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao tornar-se a primeira mulher a ocupar a presidência da instituição em seus 120 anos de existência. Cientista social com mestrado em ciência política e doutorado em sociologia, ela assumiu o cargo mais alto da fundação em 2017, após ser a mais votada da lista tríplice. Foi reeleita em 2020 para outros quatro anos de um segundo mandato, que iria até 2024.

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Antes de assumir a presidência da Fiocruz, Nísia já acumulava mais de três décadas de trabalho na instituição, entre cargos técnicos e executivos. Ingressou na fundação em 1987 como pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, onde tornou-se diretora em 1999. Em 2006, assumiu a gestão da Editora Fiocruz. De 2011 a 2016, foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz.

Ganhou ainda mais protagonismo durante a pandemia de covid-19, quando liderou, pela Fiocruz, iniciativas essenciais para o enfrentamento da pandemia, como a produção de milhões de testes diagnósticos de coronavírus e a parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica Astrazeneca para a produção da vacina inglesa no Brasil com ingrediente farmacêutica ativo (IFA) importado.

Como presidente da Fiocruz, também criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos, além de monitorar e divulgar informações para subsidiar políticas públicas contra o coronavírus e seus impactos sociais. Em dezembro de 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na categoria ciências sociais.

Desafios

No comando do Ministério da Saúde, Nísia terá como principais desafios as dificuldades orçamentárias deixadas pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e a recuperação de programas como o Farmácia Popular e de vacinação, enfraquecidos nos últimos quatro anos.

Como mostrou o Estadão, o governo de transição busca uma recomposição orçamentária de quase R$ 23 bilhões para a Saúde para conseguir arcar com ações regulares e ampliar programas. Esse foi o valor cortado do Orçamento de 2023 pela gestão Bolsonaro.

Nísia também terá que encabeçar ações de fortalecimento do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que apesar de ser modelo para o mundo, vem assistindo à queda expressiva da cobertura vacinal de quase todos os imunizantes. Lula e os membros do governo de transição já haviam anunciado que uma grande campanha de vacinação será uma das ações prioritárias para os primeiros meses de gestão.

Outro problema é a fila de procedimentos da saúde, problema histórico agravado durante a pandemia de covid-19, quando milhões de consultas, exames e cirurgias eletivas foram adiadas ou canceladas.

O Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Saúde (Conass) estima que 11,6 milhões de cirurgias (hospitalares e ambulatoriais) deixaram de ser feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2020 e 2021. Os Estados pediram ao grupo de transição R$ 3 bilhões para atender a demanda. O governo eleito avalia a possibilidade de parceria com a rede privada para mutirões.

Faltando poucos dias para deixar o cargo de ministro da Educação, Victor Godoy, nesta quinta-feira (22), usou as redes sociais para criticar o relatório final de transição de governo sobre a atuação do Ministério da Educação (MEC). Na publicação, em formato de ‘fio’, Godoy classifica as pontuações presentes no documento como “rasas e desconexas da realidade” o que, segundo ele, “desenham o futuro preocupante da Educação no Brasil”.

Tecendo críticas ao PT, o ainda ministro afirma que o partido deixou mais da metade dos estudantes do 5º, do ensino fundamental, “sem saber ler e escrever”. De acordo com Victor Godoy isso refletiu na posição do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos, indicativo que sempre é utilizado pelo atual governo para criticar as ações educacionais da época petista.

“O Governo PT foi quem deixou, em 2016, 55% das crianças do 3o do EF sem saber ler e escrever, que colocou o Brasil nas últimas posições do PISA em 2018 e que deixou, em 2019, 45% dos estudantes do 3o ano do EM com proficiência muito baixa ou baixa em português ou matemática”, escreveu.

Em outro trecho, o responsável pela pasta justificou a má condução do MEC durante a crise sanitária de Covid-19 à gestão do PT, pois, o partido deixou de “preparar a rede pública de ensino com tecnologia, equipamentos e formação docente para enfrentar a pandemia, condenando milhões de crianças a ficarem sem condições de manterem as atividades escolares durante o fechamento das escolas”. Vale ressaltar que tanto o antigo ministro da Educação, Milton Ribeiro, quanto Godoy foram defensores da reabertura das escolas antes mesmo de todos os profissionais da Educação e alunos estarem vacinados.

Negligenciando os atuais cortes orçamentários nas universidades públicas e institutos federais ocorridos na gestão Bolsonaro, Victor Godoy também culpabilizou o PT. “Foi o Governo do PT que deixou milhares de obras da educação básica e do ensino superior paralisadas sem recursos”, afirmou. Em 2022, universidades públicas e institutos federais foram impactados três vezes por cortes nos recursos destinados à Educação por parte do Governo Federal.

Em junho, as instituições foram impactadas por uma perda orçamentária de 7,2%. No início de outubro, foi anunciado um bloqueio de R$ 2,4 bilhões. No entanto, diante da pressão das instituições e estudantes, o valor foi liberado. O mesmo ocorreu no final de novembro, em que um novo bloqueio no orçamento das universidades públicas e institutos federais, e, mais uma vez, diante de pressão, foi revogado.

A publicação do ministro da Educação finaliza ressaltando que as políticas educacionais adotadas pelo MEC não são um retrocesso, mas, “políticas que estão transformando a alfabetização brasileira, trazendo tecnologia e inovação e recuperando os conhecimentos dos estudantes. Políticas premiadas e reconhecidas internacionalmente”, disse.

E complementa: “Espero que a educação brasileira seja conduzida por pessoas que tenham a hombridade de reconhecer os avanços e seguir no caminho da prosperidade”. Confira, a seguir, a publicação:

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O cearense Camilo Santana, de 54 anos, é um político em ascensão no PT e que pode fazer do Ministério da Educação (MEC) um degrau importante dessa escalada. Seu reconhecimento nacional estará atrelado ao sucesso em traçar um plano para recuperar a aprendizagem das crianças, que regrediram para o que sabiam em Matemática em 2013 e mal conseguem entender um texto de duas linhas aos 7 anos no pós-pandemia. E ainda em reestruturar uma pasta crucial para o desenvolvimento da sociedade e do País, mas que deixou de olhar a educação durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) para se resumir a lutas ideológicas, cortes de verba e pastores corruptos.

Apesar de não ter o nome associado à educação, Camilo era até este ano governador reeleito do Ceará, o Estado que é imbatível no critério de reconhecimento de escola pública de sucesso. Continuou com êxito uma política começada pelo PDT no Estado há 20 anos, que levou os cearenses ao topo do ranking das avaliações nacionais. Não sem ressalvas de uma parte dos educadores, que alegam se tratar de um currículo voltado para performance em avaliações e não para a formação crítica do estudante. No xadrez político, no entanto, não há no PT ou fora dele quem tivesse força para contestar seu nome.

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Camilo entende a força política da educação como poucos. Quando se candidatou pela primeira vez ao governo em 2014, já levou com ele a então secretária de Educação de Cid Gomes (PDT), Izolda Cela, para vice. Responsável pela revolução no ensino de Sobral, a maior referência cearense, Izolda já era o nome forte na área no Estado e entrou na chapa pela aliança histórica dos dois partidos, que ruiu este ano com a ajuda do então candidato à Presidência Ciro Gomes.

Era ela que aparecia desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como favorita para, pela primeira vez, o Brasil ter um Ministério da Educação comandado por uma mulher. No País, são 80% de professoras na carreira docente. Elogiada por ter criado um sistema coerente, que junta formação de professores, avaliação de alunos e incentivos financeiros para melhorar principalmente a alfabetização das crianças, Izolda era o sonho de ministra de muitos especialistas. Mas, na briga pelo cargo, uma ala do PT a acusou de representar interesses de fundações privadas. O partido indicou o deputado Reginaldo Lopes (PT) para a vaga e conclamou sindicatos para uma "defesa da escola pública".

No meio do fogo amigo, Camilo entrou no jogo. O petista tem histórico de bom negociador e elegeu este ano seu sucessor ao governo do Ceará, Elmano de Freitas (PT), no primeiro turno, derrotando o candidato de Bolsonaro. Seu desempenho ajudou Lula a vencer com muita folga no Estado e ainda lhe deu uma cadeira ao Senado.

O presidente eleito queria Camilo no ministério e, na matemática da Esplanada, não cabia dois do Ceará. Entre uma ministra sem partido e o ministro petista que acumula vitórias, ele ganhou de novo.

Conhecida pela humildade e gentileza, agora Izolda segue com Camilo para ocupar a Secretaria Executiva ou a da Educação Básica no MEC. Vai fazer o que sabe. Ser a mentora das políticas educacionais para as crianças das escolas públicas e recuperar a tão necessária articulação com Estados e municípios, que desapareceu nos últimos anos. Enquanto o ministro precisará negociar com Congresso, receber prefeitos e donos de faculdades que enchem o gabinete.

Trajetória

Nascido no Crato, no interior do Ceará, Camilo é pai de três crianças, formado em Engenharia Agrônoma e já foi professor de faculdade técnica. Entrou na política como secretário de Desenvolvimento Agrário no governo de Cid Gomes em 2006, apesar de já ser do PT. Em 2010 foi o deputado estadual mais votado do Ceará, continuou no governo como secretário das Cidades até 2014, quando se candidatou a governador.

Eleito como o menos petista dos petistas, como se dizia no Ceará, se saiu bem ao enfrentar seca, crise política e econômica durante o governo Dilma Rousseff (PT). E ainda facções criminosas que tomaram o Estado, com escalada de violência e motim de policiais militares. A greve culminou em 2019 com o episódio dramático de Cid Gomes baleado em Sobral, justo lá, na cidade referência em educação, ao tentar furar um bloqueio.

Antes de deixar o governo para se candidatar ao Senado este ano, Camilo ainda anunciou que todas as escolas de ensino médio do Ceará funcionariam em tempo integral até 2026. O modelo é visto como uma das políticas de sucesso no mundo todo, que leva à melhora na aprendizagem, maiores salários para os formados, redução da desigualdade e até queda no número de homicídios de jovens.

Foi uma das políticas abandonas pelo MEC de Bolsonaro. Os Estados que puderam, como o Ceará, pagaram sozinhos pela ampliação do ensino integral. Boa parte das crianças do País fica cerca de quatro horas apenas na escola, muito menos que nos países desenvolvidos.

Em seus discursos, Camilo gostava de dizer que "a educação é o melhor caminho para termos um Estado mais justo, humano e desenvolvido". Agora, é preciso correr a passos largos nesse trajeto. Não dá tempo de acomodar amigos do antigo governo e esperá-los aprender.

Na transição, a brincadeira corrente era a de que um ministro que demorasse três meses para descobrir onde fica banheiro do MEC estaria em maus lençóis. O ministério que cuida de bebês a universitários precisa de gente experiente em navegar pelos seus prédios e anexos - e preparada para as surpresas desagradáveis que sairão das gavetas e computadores da turma que está indo embora.

Há contratos de livros didáticos para serem finalizados; os materiais têm que estar nas salas de aula no começo do ano, programas da creche ao ensino médio paralisados, a penúria das universidades, e é preciso pré-testar itens do Enem (mais ainda, saber de antemão o que significa pré-testar itens do Enem). É um exame de metodologia complexa, que precisa de ajustes e define a vida de milhões de jovens. Os homens de Bolsonaro não entenderam isso em quatro anos. Ao menos, a PEC da transição garantiu R$ 11 bilhões a mais para um orçamento maltratado.

Repercussão

"O Brasil tem que aprender muito com o próprio Brasil, com as boas práticas educacionais que já existem", diz a diretora do centro de políticas educacionais da Fundação Getulio Vargas, Claudia Costin, ao comentar a escolha de Camilo. E se diz "aliviada" por acreditar que o País vai sair de um "longo período sem ter um formulador e implementador de politicas educacionais". Destaca ainda a política de colaboração entre os municípios do Ceará, em que os melhores em educação passaram a ajudar os piores.

A presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, exalta a "dobradinha" Camilo e Izolda. "Coloca substância e consequência à fala recente do presidente eleito de que educação básica será sua obsessão ao lado do combate à fome." Par ela, a dupla é um casamento de "decisão política e capacidade técnica" que pode resultar numa nova educação para o País.

Entidades ligadas ao ensino privado também elogiaram a escolha de Camilo, com "experiência no executivo" e que "reunirá os melhores técnicos". "O ensino privado está ao lado do ensino público no compromisso de oferecer uma educação de qualidade às crianças e aos jovens", disse o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP), Bruno Eizerik.

Alguns membros da academia não mostraram o mesmo entusiasmo. "Vai haver uma grande ampliação da política educacional voltada para resultados e o PT não vai ser contra isso", afirma o professor aposentado da Universidade Federal do Ceará e integrante do Comitê Ceará da Campanha pelo Direito à Educação, Idevaldo Bodião. "Qual a política no Ceará? É ir bem no Ideb. O que se faz é treinar o aluno, não se educa no sentido amplo de acesso à cultura e à participação na vida cidadã."

Ele se refere ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado justamente pelo ex-ministro Fernando Haddad durante o governo Lula, que passou a balizar a avaliação de qualidade de ensino no País. O Ceará está sempre entre as primeira colocações nos últimos anos.

Com foco excessivo ou não em avaliações, é indiscutível que o modelo de educação de Izolda, da família Gomes e de Camilo fez o Ceará, seus professores e estudantes sentirem orgulho da escola pública, perante os ricos do Sudeste. Deu às famílias pobres e nordestinas o sentimento de que valorizar a educação é a melhor escolha. De que é possível, sim, aprender a ler e a escrever. E isso é muito para um País que ainda vota em candidato que diz que polícia militar na escola é a solução. Claro que é preciso ir além. Mas é dever do novo ministro começar a tirar a educação brasileira do lugar da desesperança, como o Ceará já bem ensinou.

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta quinta-feira, 22, que Rogério Ceron será o secretário do Tesouro Nacional. Auditor fiscal de carreira, ele já presidiu o SP Parcerias, vinculado à Prefeitura de São Paulo.

Haddad destacou ainda que Ceron ocupou a Secretaria de Finanças da Prefeitura de SP, que tem o quarto maior orçamento da República. "Transformou capital endividada em credor líquido", disse, afirmando que foi o único caso no País.

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Como também antecipou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, Haddad também confirmou que o ex-procurador-chefe da Fazenda da capital paulista Robinson Barreirinhas comandará a Receita Federal. Ao comentar a escolha, Haddad afirmou que Barreirinhas o ajudou a sanar a dívida herdada da administração Celso Pitta em São Paulo.

O economista Guilherme Mello, que participou da campanha do presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva e integrou o grupo de Economia da transição, foi confirmado como secretário de Política Econômica da pasta.

O futuro ministro disse que Mello teve papel decisivo na formulação de argumentos para nortear as negociações da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, promulgada ontem pelo Congresso Nacional. "Tivemos êxito porque nossos argumentos eram bons."

Haddad também confirmou o nome do advogado Marcos Barbosa Pinto para a nova Secretaria de Reformas Econômicas. Ex-diretor do BNDES, ele foi sócio da Gávea Investimentos e trabalhou com Haddad no Ministério do Planejamento no primeiro mandato de Lula.

Segundo Haddad, no Planejamento, Barbosa contribuiu para a elaboração das legislações para formatar o modelo do Prouni, programa de bolsas de estudos, e de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

O futuro ministro já havia anunciado os nomes de Gabriel Galípolo como secretário executivo, Bernard Appy para secretário especial para a reforma tributária, e Anelize Almeida para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

Haddad afirmou que, apesar de ter optado por uma equipe "jovem", os futuros secretários já passaram por testes de estresse significativos e têm grande experiência no setor público. "São pessoas testadas e aprovadas, com resultados palpáveis".

Ele afirmou que irá, junto com sua equipe, endereçar questões da Receita, inclusive o bônus dos servidores. Após trazer nomes de São Paulo para os postos-chave da pasta, o futuro ministro garantiu que os adjuntos do Fisco e Tesouro serão funcionários de carreira dos dois órgãos. "Os servidores serão valorizados, mas serão cobrados por resultados de curto prazo."

"O Estado brasileiro está muito desorganizado. Essas pessoas são as mais qualificadas para reorganizar o Estado Brasileiro", disse. O ministro afirmou ainda que na próxima semana irá se debruçar sobre a escolha do nome para assumir a Secretaria de Assuntos Internacionais da Fazenda.

Bancos públicos

Questionado sobre indicações para comandar bancos públicos, Haddad afirmou que irá discutir na semana que vem com o presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva os nomes para o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (Basa), além do Serpro. "Os nomes para Caixa e o Banco do Brasil estão mais adiantados, temos feito várias consultas", concluiu.

Márcio Luiz França Gomes (PSB) foi escolhido como ministro de Portos e Aeroportos do novo governo Lula. O nome do ex-governador de São Paulo foi indicado pelo PSB, do qual o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também faz parte. Porém, a sigla sinalizou a Lula que a escolha de Dino, considerado um novato - ele era do PCdoB até 2021 -, foi uma escolha pessoal do presidente eleito. Seja como for, França mirava o Ministério das Cidades, visto como uma pasta "mais política".

Márcio França começou a carreira política em São Vicente. Ele foi prefeito da cidade da Baixada Santista, em São Paulo, por dois mandatos. Além disso, foi deputado federal, também por dois mandatos. Em 2014, foi eleito vice-governador de São Paulo, em chapa com Geraldo Alckmin (PSDB). Com a renúncia de Alckmin para disputar a Presidência, França virou governador. E concorreu à reeleição em 2018, mas perdeu no segundo turno para o tucano João Doria. França foi o primeiro governador do Estado de São Paulo a ser derrotado em uma tentativa de reeleição.

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França tem 59 anos e é advogado formado pela Universidade Católica de Santos. Ocupou o cargo de secretário de Turismo de São Paulo. Neste ano, ele cedeu à pressão do PT e aceitou abrir mão da candidatura ao governo do Estado para concorrer ao Senado na chapa de Fernando Haddad (PT). Embora fosse favorito no pleito, foi superado pelo astronauta e ex-ministro da gestão Bolsonaro, Marcos Pontes (PL).

Após perder a eleição para o Senado, França afirmou que a nova composição da Casa, com perfil mais de direita e conservador, não será problema para a governabilidade de Lula. Ele citou, inclusive, o caso de Pontes que, em sua avaliação, deverá ser aliado do novo governo. "Pontes foi filiado ao meu partido durante 10 anos, então ele não tem nada a ver nem com Bolsonaro nem com coisa nenhuma. Estava lá naquele momento, quis tirar casquinha e pegou o finalzinho da casquinha", disse.

Ex-governador do Piauí e recém-eleito senador pelo Estado, Wellington Dias (PT-PI) foi escolhido ministro do Desenvolvimento Social do novo governo Lula. Dias foi um dos articuladores da campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O paraibano, de 60 anos, esteve à frente da organização do evento de lançamento da pré-candidatura do ex-presidente. Ele chegou a ser apontado por lideranças do mercado financeiro como uma das apostas para o Ministério da Economia do novo governo.

José Wellington Barroso de Araújo Dias foi governador do Piauí por quatro mandatos. Ele ocupou o Palácio de Karnak de 2003 a 2010. No fim desse período, se candidatou ao Senado e obteve a maior votação daquele pleito, de quase 1 milhão de votos válidos. Em 2014, voltou a governar o Estado, tendo sido reeleito em 2018.

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Dias se destacou durante o período mais crítico da pandemia da covid-19. Ele foi o representante do fórum dos governadores na CPI da Pandemia. No Ministério do Desenvolvimento Social, Wellington Dias vai cuidar também do Bolsa Família. Trata-se de um desafio e tanto. Seja como for, os ministérios da Saúde, Educação e do Desenvolvimento Social têm, juntos, R$ 509 bilhões de orçamento previsto para 2023. Ficam atrás apenas do Ministério do Trabalho e Previdência, que gere as aposentadorias e benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Wellington Dias é defensor do diálogo e já fez críticas inclusive ao seu partido. Em 2020, ele chegou a dizer que o PT precisava "atualizar o projeto", uma vez que as principais demandas da sociedade já não são mais as mesmas de 30 anos atrás. Na época, ele disse ao Estadão que "a pauta da fome ainda existe, mas não é mais com a mesma demanda que tinha lá atrás."

Após adiar o anúncio de 13 ministérios, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), admitiu que montar o governo "é mais difícil" do que ganhar as eleições. "Quero dizer para companheiros que ainda não foram contemplados, vamos contemplar quem ajudou. Esperem que a sua vez vai chegar", afirmou nesta quinta-feira.

Para os ministros já anunciados, ele enfatizou que é preciso "não ter vergonha da política", repetindo que é necessário montar um governo com "gente diversa". "Foi o legado político que deixamos (PT) que fez com que a gente ganhasse essa eleição. A gratidão do povo pelos governos que exercemos foi reconhecida nas eleições", completou.

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Lula repetiu que o bolsonarismo não quer reconhecer a derrota no pleito deste ano e chamou a militância a derrotar os apoiadores do atual presidente. "Além de governar com eficiência, vamos ter que derrotar o bolsonarismo. Precisamos derrotar o bolsonarismo para o País voltar a ser feliz", reafirmou.

Para o presidente diplomado, o novo governo precisa ter a competência para recuperar "a fraternidade, a solidariedade e o amor". "Só vamos recuperar isso se tiver eficiência (no governo) e cumprir cada palavra da campanha. Temos só uma missão, fazer o povo voltar a ser feliz, estudar, comer decentemente", completou.

O presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmou, nesta quinta-feira (22), que a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), Nísia Trindade, chefiará o Ministério da Saúde a partir de janeiro. Como mostrou o Estadão/Broadcast, antes mesmo de ser confirmada no cargo, ela já estava montando sua equipe para a pasta.

Nísia já sondou Ana Estela Haddad, professora titular do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria da USP, e Ethel Maciel, epidemiologista e professora titular da Ufes, para comandarem secretarias no ministério.

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Nos bastidores do Ministério da Saúde, circula que Ana Estela, casada com o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderia assumir a Secretaria de Saúde Digital, que deve ser criada no novo governo. Já Ethel, que se destacou com estudos sobre a Covid-19 durante a pandemia, é a favorita para a Secretaria de Vigilância Sanitária no Ministério da Saúde. O nome do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes, circula para a Secretaria de Atenção Primária à Saúde.

O presidente diplomado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmou, nesta quinta-feira (22), que o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), será o ministro do recriado Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

"Resolvi colocar o meu vice para trabalhar. Alckmin vai ter muito trabalho, mas terá imenso sucesso no MDIC. Com sua capacidade de articulação, ele será extraordinário no MDIC", disse.

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Como mostrou o Estadão/Broadcast, a escolha pelo vice ocorreu após empresários de renome recusarem o convite. Estudioso de assuntos como reforma tributária, Alckmin tem bom trânsito no setor produtivo e, na avaliação de Lula, pode atuar como um facilitador do diálogo do governo com o mundo industrial.

Nos últimos dias, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e filho do ex-vice-presidente José Alencar, Josué Gomes da Silva, recusou o convite por estar enfrentando um movimento para destituí-lo da Fiesp. Já Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, não teria aceitado a proposta por não poder abandonar suas atividades privadas.

"Josué me disse que não poderia assumir MDIC porque é presidente da Fiesp em disputa na Fiesp. O (Paulo) Skaf tenta convocar assembleia para tirar Josué", acrescentou Lula.

Gestão

O presidente diplomado também confirmou a ex-secretária do Planejamento na gestão Dilma Rousseff (PT) Esther Dweck como futura ministra da Gestão. Ela participou da transição de governo no grupo de trabalho na área de planejamento. Em 1º de janeiro, Lula vai editar uma Medida Provisória com a nova configuração da Esplanada e o atual Ministério da Economia será dividido em quatro: Fazenda, Planejamento, Gestão e MDIC, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez um aceno ao Congresso Nacional nesta quinta-feira (22), e iniciou seu discurso agradecendo aos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e líderes partidários pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição na quarta-feira (21).

"Acho que é a primeira vez que um presidente da República toma posse e começa a governar antes da posse. Tivemos a responsabilidade de fazer uma PEC e todo mundo sabia que não era nossa; era para cobrir a irresponsabilidade do governo que vai sair que não tinha colocado dinheiro no Orçamento para cumprir as promessas que ele fez", disse Lula em evento que marca a entrega de relatórios pelos 32 grupos temáticos da transição - com posterior anúncio de novos ministros do governo.

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O presidente eleito disse que o que parecia impossível "aconteceu" e destacou a votação expressiva da proposta. Segundo Lula, partidos que não são da base do governo votaram pela aprovação do texto, o que ele disse ter sido uma "demonstração de solidariedade ao povo", sobretudo aos mais vulneráveis.

Relatório de Transição

Lula recebeu hoje o relatório final dos grupos técnicos do governo de transição - afirmando que não pretende fazer show e pirotecnia com o diagnóstico e que há quatro anos que todos esperavam o momento de restabelecer a democracia.

"Não pretendo fazer pirotecnia e escândalo com material da transação. Quero que a sociedade saiba que País encontramos em dezembro de 2022. Depois de quatro anos de mandato, recebemos governo em situação de penúria, coisas mais simples não foram feitas de forma responsável, porque o presidente preferia contar mentiras no cercadinho em vez de governar o País", disse.

O presidente diplomado também disse que irá entregar ao fim de seu mandato, em 2026, um relatório sobre cada área do governo para que a sociedade, deputados e senadores possam comparar com o diagnóstico feito pelo gabinete de transição sobre atual gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Se eu pudesse transformar em dinheiro o trabalho de vocês, o Banco Central não teria todo o dinheiro para pagar. Vamos pagar com política social, recuperando a Saúde, recuperando a Educação e dando comida para as pessoas. A partir do dia 1º de janeiro, iremos ao trabalho, não haverá tempo para descanso nos próximos quatro anos", afirmou.

Prioridade

Lula disse que quer que todos ganhem em seu governo, mas voltou a destacar que a prioridade será dada aos mais pobres. "Se eu terminar meu mandato com cada brasileiro tomando café, almoçando e jantando todo dia, se as pessoas não estiverem dormindo na rua, sinceramente eu serei o homem mais feliz do planeta. É para isso que vou trabalhar", repetiu.

O presidente diplomado ainda pediu que seus colaboradores continuem cobrando e criticando o governo quando detectarem ineficiências na gestão. "Não deixem de cobrar, porque se vocês não cobram, a gente acha que está acertando. Nós não precisamos de puxa-saco ou tapinha nas costas. O governo tem que ser cobrado todo santo dia, para que possamos aprimorar nossa capacidade de trabalho. Cobrem, cobrem e cobrem para que a gente faça, faça e faça", encerrou.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), em uma nova publicação no Instagram, criticou os deputados que votaram a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, organizada pela equipe do Governo Lula e com alternativas que furam o teto de gastos. Ao comentar o avanço da proposta, a atual primeira-dama escreveu: “Triste e decepcionante”, além de ter exposto os nomes dos 331 parlamentares favoráveis à matéria na noite dessa quarta-feira (21). 

A PEC amplia o teto de gastos em R$ 148 bilhões. O texto foi aprovado na Câmara dos Deputados, em dois turnos, e no Senado. A promulgação foi publicada na edição desta quinta (22) do Diário Oficial da União. Michelle se filiou ao PL, mesmo partido de Bolsonaro, em maio deste ano. A primeira-dama atuou diretamente na campanha presidencial e esteve presente nas últimas manifestações públicas que cercaram o Planalto e a Alvorada. 

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O Congresso Nacional promulgou no final da noite dessa quarta-feira (21) a PEC da Transição em sessão aberta pelo presidente, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), exclusivamente para isso. Mais cedo, Câmara e Senado avalizaram a PEC depois de longas negociações com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ampliação será válida por um ano, mas o orçamento geral de 2023 seguirá em análise. 

A publicação de Michelle foi feita na ferramenta de Stories do Instagram e tem validade de 24 horas. Confira abaixo:

Foto: Reprodução/Instagram

O futuro vice-presidente Geraldo Alckmin será também ministro de Indústria e Comércio. O anúncio será feito nesta quinta-feira (22), pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que decidiu chamar Alckmin após empresários de renome recusarem o convite. Estudioso de assuntos como reforma tributária, Alckmin tem bom trânsito no setor produtivo e, na avaliação de Lula, pode atuar como um facilitador do diálogo do governo com o mundo industrial.

Nos últimos dias, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, e Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, foram convidados por Lula para comandar Indústria e Comércio, ministério que será recriado, mas não aceitaram. Filho do vice-presidente José Alencar, morto em 2011, Josué é alvo de críticas de um grupo de empresários que quer destituí-lo da Fiesp. Ele disse a Lula que sobreviverá à crise, mas não poderia assumir o ministério como um "derrotado", pois pareceria "refugiado" dentro do governo.

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Dono da Coteminas, Josué alegou, ainda, que teria de se desligar da empresa, caso aceitasse o cargo. Pedro Wongtschowski, que apoiou a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) ao Palácio do Planalto, foi na mesma linha e, segundo apurou o Estadão, alegou não poder abandonar suas atividades.

Desde que saiu do PSDB e aceitou ser vice de Lula, filiando-se ao PSB, Alckmin tem feito reuniões com empresários e especialistas em orçamento. Munido de um caderno universitário, o ex-tucano sempre anota as respostas às suas indagações sobre os problemas do País. Em recentes conversas, Alckmin quis saber dos interlocutores, por exemplo, sugestões para o novo arcabouço fiscal do País e onde era possível cortar gastos do governo. A reforma tributária, as parcerias público-privadas e a nova política industrial planejada por Lula também são temas sempre tratados nas reuniões do ex-governador de São Paulo.

Visto como um curinga na equipe, Alckmin já foi cotado para ser ministro da Fazenda e até da Defesa. As duas pastas, porém, já têm titulares anunciados - Fernando Haddad e José Múcio Monteiro, respectivamente. O vice-presidente eleito sempre se define como um "copiloto" de Lula.

Em janeiro deste ano, o presidente do PT paulista, Luiz Marinho, mostrou desconforto com a aliança entre Lula e Alckmin. À época, Marinho disse ao Estadão que o ex-governador precisaria se mostrar "engolível" se quisesse ser vice na chapa do PT. Nesta quinta-feira, onze meses depois, Marinho será anunciado como ministro do Trabalho e Alckmin, o vice, titular da Indústria e Comércio. Hoje, os dois são amigos.

A dez dias de tomar posse, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciará, nesta quinta-feira (22), as primeiras mulheres que farão parte da Esplanada. A nova leva de ministros inclui o "núcleo duro" do governo - que ficará com o PT e terá o deputado Alexandre Padilha em Relações Institucionais -, mas deixará de fora cargos sobre os quais ainda há impasse, como Minas e Energia e Cidades, negociados tanto com o MDB quanto com o Centrão.

Dos 37 ministérios da Esplanada, aproximadamente 24% terão mulheres no comando. Uma delas é a socióloga Nísia Trindade Lima, a presidente da Fiocruz, que será ministra da Saúde. Nos últimos anos, a pasta era considerada uma espécie de "feudo" do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), mas, agora, Lula recusou o pedido do Centrão e bancou o nome de Nísia.

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A economista Esther Dweck, por sua vez, será titular de Gestão. Dweck já atuou no Ministério do Planejamento como secretária de Orçamento do governo Dilma Rousseff. O Ministério de Gestão é fruto do desmembramento de Economia, que será dividido em quatro. Além de Fazenda e Gestão haverá Indústria e Comércio e Planejamento.

Lula convidou o economista André Lara Resende para assumir o Planejamento, mas ele ainda hesita. O petista pediu, então, para o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice eleito, Geraldo Alckmin, conversarem com Lara Resende, na tentativa de convencê-lo a aceitar. Outro nome sondado para o Planejamento, na semana passada, foi o do senador eleito Renan Filho (MDB-AL), ex-governador de Alagoas.

A indicação, no entanto, é da bancada do MDB no Senado, que reivindica uma pasta com orçamento mais robusto e visibilidade, como Cidades, a ser recriada, ou Minas e Energia. Os dois ministérios também entraram na fatura cobrada pelo Centrão como contrapartida por ajudar Lula a aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição no Congresso, que permite ao futuro governo ampliar os gastos.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que ficou em terceiro lugar na corrida presidencial e apoiou Lula no segundo turno, virou outro problema para a montagem do ministério. Simone gostaria de comandar o Ministério do Desenvolvimento Social, que abrigará o Bolsa Família. O programa, no entanto, é considerado a vitrine do novo governo e o PT não quer entregar esse ministério, com muita visibilidade e recursos, para uma possível adversária nas eleições presidenciais de 2026.

O Estadão apurou que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tentou convencer Simone a aceitar a pasta de Agricultura ou de Meio Ambiente. Ela não aceitou e disse preferir ficar fora do governo a ganhar um "prêmio de consolação". Caso não haja acordo, o Ministério do Desenvolvimento Social deve ficar com o senador eleito e ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT-PI).

O Meio Ambiente (MMA) ficará com Marina Silva, que já foi ministra da pasta no primeiro mandato de Lula. Deputada eleita pela Rede, Marina quer agora que a Autoridade Climática, a ser criada, fique sob a estrutura desse ministério.

Atualmente, o MMA já abriga uma Secretaria de Clima e Relações Internacionais. O relatório que o grupo ambiental do gabinete de transição concluiu, porém, aponta uma composição diferente, na qual a Autoridade Climática funciona como autarquia vinculada ao ministério.

COZINHA

Lula escolheu, mais uma vez, Alexandre Padilha para Relações Institucionais. O ministério é o responsável por fazer a "ponte" entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Na articulação política, Padilha terá o auxílio de dois conhecidos parlamentares petistas: o deputado José Guimarães (PT-CE) será líder do governo na Câmara e, Jaques Wagner (PT-BA) ocupará a mesma função no Senado.

A Casa Civil, entregue ao governador da Bahia, Rui Costa, terá um perfil mais técnico e de gestão, nos moldes do que era quando Dilma Rousseff comandou a pasta, de 2005 a 2010, no governo Lula. O deputado Márcio Macêdo (SE), que foi tesoureiro da campanha presidencial e é um dos vice-presidentes do PT, ficará com a Secretaria-Geral da Presidência.

Com essa configuração, a chamada "cozinha" do Planalto terá o domínio do PT. Considerado hábil articulador, Padilha já comandou a então Secretaria de Relações Institucionais no segundo governo Lula. Foi também ministro da Saúde na gestão de Dilma, presidente que sofreu impeachment em 2016. Na campanha deste ano, Padilha fez várias reuniões com empresários, a pedido de Lula, tanto que seu nome também chegou a ser cotado para a Fazenda.

A ativista Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, será ministra da Igualdade Racial. A pasta das Mulheres deve ficar com a professora Maria Helena Guarezi, que foi diretora de Itaipu quando a futura primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, trabalhou na empresa. A cantora Margareth Menezes será confirmada na Cultura e a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), deve ir para Ciência e Tecnologia.

Futuros ministros foram chamados ontem para conversas individuais com Lula no hotel onde ele tem despachado, em Brasília. Na listava estava o ex-governador Márcio França, que queria Cidades, mas perdeu a disputa para o Centrão e é cotado para assumir Portos.

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