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Nem todas as pessoas comemoram o Natal no dia 25 de dezembro. Algumas culturas, nem sequer comemoram o Natal, como referência ao nascimento de Jesus Cristo (ou Jesus de Nazaré).

Natal é um feriado e festival religioso cristão originalmente destinado a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno e adaptado pela Igreja Católica, no terceiro século d.C., pelo imperador Constantino para comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré.

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Porém, nem todas as culturas absorveram a tradição de celebrar o dia 25 de dezembro, seja como uma homenagem ao nascimento de Jesus, ou, pela adoração da passagem do sol ao redor da Terra.

Islamismo

Ao contrário das religiões cristãs - para as quais Jesus é o Messias, o enviado de Deus - o islamismo dá maior relevância aos ensinamentos de Mohamad, profeta posterior a Jesus (que teria vivido entre os anos 570 e 632 d.C.), pois este teria vindo ao mundo completar a mensagem de Jesus e dos demais profetas.

Em relação à celebração do Natal, os muçulmanos mantêm uma relação de respeito, apesar de a data não ser considerada sagrado para o seu credo.

Para os muçulmanos, existem apenas duas festas religiosas: o Eid El Fitr, que é a comemoração após o término do mês de jejum (Ramadan) e o Eid Al Adha, onde comemoram a obediência do Profeta Abraão a Deus.

Judaísmo

Os judeus não comemorem o Natal e o Ano Novo na mesma época que a grande maioria dos povos, mas para eles, o mês de dezembro também é de festa. Apesar de acreditarem que Jesus existiu, os judeus não mantêm uma relação de divindade com ele.

Na noite do mesmo dia 24 de dezembro os judeus comemoram o Hanukah, que do hebraico significa festa das luzes. Esta data marca a vitória do povo judeus sobre os gregos conquistada, há dois mil anos, em uma batalha pela liberdade de poder seguir sua religião.

Apesar de não ser tão famosa no Brasil, a festa de Hanukah, que, tradicionalmente, dura 8 dias, em outros países é tão "pop" como o Natal. Em Nova Iorque, por exemplo, as lojas que vendem enfeites de Natal também vendem o menorah (candelabro de 8 velas considerado o símbolo da festividade judaica). "Para cada um dos 8 dias acendemos uma vela até que o candelabro todo esteja aceso no último dia de festa", explica o rabino.

O peru e bacalhau típicos do Natal católico são substituídos por panquecas de batata e bolinhos fritos em azeite. E em vez de desembrulharem presentes à meia-noite, as crianças recebem habitualmente dinheiro.

Budismo

Não há envolvimento do budista com a característica particular da comemoração do Natal do mundo ocidental, ou seja, da comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Mas, os budistas admiraram as qualidades daqueles que lutam pela humanidade e, por isso, respeitam a tradição já estabelecida, respeitando a figura de Jesus Cristo, que para eles é considerado um “Bodhisattva” – um santo ou aquele que ama a humanidade a ponto de se sacrificar por ela. Para os budistas ocidentais, o dia 25 de Dezembro tem um cunho não cristão, mas sim, espiritual.

Protestantismo

Embora seja uma religião cristã, é subdividida em diversas “visões” da Bíblia. Algumas comemoram o Natal como os católicos, outros buscam na Bíblia e no histórico religioso, cuja data de nascimento de Cristo é discutida, um fundamento para não comemorar a data tal como é comemorada no catolicismo. É o caso das testemunhas de Jeová, por exemplo. Já a Assembleia de Deus e a Presbiteriana comemoram o Natal com o simbolismo da presença de Cristo entre os homens, onde a finalidade é levar a uma instância reflexiva a respeito de Cristo. Festejar condignamente o Natal é uma bênção e inspiração para todos quantos nasceram do Espírito ao tornarem-se filhos de Deus pela fé em Cristo, para os evangélicos.

Afro-Brasileiras (Candomblé e Umbanda)

Yemanjá, Yansã e Oxum são entidades comemoradas ao longo do ano nas religiões afro-brasileiras, que têm no mês de dezembro um simbolismo todo especial. Mas para os umbandistas a comemoração do natal cristão é algo mais natural, porque a maioria dos seus seguidores e médiuns praticantes veio da religião cristã. A umbanda encontrou um lugar para Cristo no rol de suas divindades – ele é associado a Oxalá, considerado o maior Orixá de todos. No dia 25 de dezembro, os umbandistas agradecem à entidade que, segundo a sua crença, comanda todas as forças da natureza.

Alguns terreiros de Candomblé também oferecem algum ritual especial à data, mas a prática não configura uma passagem obrigatória em todos os centros.

Hinduísmo

As mais importantes celebrações do hinduísmo são ocorridas na Índia, por meio da Durga Puja, o Dasara, o Ganesh Puja, o Rama Navami, o Krishna Janmashtami, o Diwali, o Holi e o Baishakhi. O Durga Puja é a festa da energia divina. Já o festival de Ganesh é celebrado nos estados do sul da Índia, com danças alegres e cantos. O Diwali é o “festival das luzes” em que em cada casa, em cada templo são colocadas milhares e milhares de luzes, acesas toda a noite. O significado destas festas é adorar a Energia Divina.

Taoísmo

O taoísmo, religião majoritariamente vista na China, não tem qualquer celebração no Natal. No entanto, a religião tem inúmeras datas onde se comemora o nascimento de grandes mestres ou sua ascensão. O Ano Novo Chinês, assim como no budismo, é a data mais comemorada para os taoístas. Nesse dia se celebra o Senhor do Princípio Inicial.

A cantora Elba Ramalho gravou um vídeo se dizendo arrependida por ter tecido comentários negativos sobre religiões de matriz africana, após a repercussão de gravação anterior em que ela critica o candomblé. O pedido de desculpas foi divulgado pelo centro religioso Casa de Oxumaré, localizado em Salvador, capital da Bahia.

A instituição religiosa havia publicado um texto de repúdio ao vídeo em que Elba fala mal das religiões de matriz africana, que já foi retirado do Youtube. A cantora então deciciu de retratar. "Meus irmãos do candomblé, da umbanda, de todos os segmentos afrobrasileiros. Eu estou aqui para pedir perdão (...) por ter magoado vocês, ter interpretado mal os preceitos de vossa religião", diz Elba no início do vídeo.

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"Em uma atitude louvável e sem precedentes no meio artístico, a Cantora Elba Ramalho nos procurou, solicitando-nos a publicação do vídeo", escreveu em seu perfil no Facebook a Casa de Oxumaré, na postagem do vídeo. O centro religioso afirma ainda que acredita no pedido de desculpas da cantora paraibana, e que as críticas às religiões de matriz africana tinham sido fruto de um "entendimento equivocado, provocando distorções e divisões".

Elba Ramalho também diz em sua retratação: "Eu sei e tenho consciência das perseguições que vocês sofrem e já sofreram no passado. (...) Temos que caminhar abraçados e unidos".

Na postagem, que já foi compartilhada quase 1,9 mil vezes e visualizada mais de 66 mil vezes, os comentários se dividem entre os que exaltam a atitude da cantora e os que a criticam. "Não aceito as desculpas dela não pois só está fazendo isso porque ela é uma pessoa conhecida e pra nao perder ou sujar sua imagem está se desculpando", postou Bruno Nino. "Um pedido de desculpa não sincero, uma retratação visando menos repercussão midiática e menos polêmica", opinou Samuel Santos.

Já para Elias Bernardino, a atitude da cantora foi louvável: "Estou surpreso com a nobreza da Elba! Parabéns à ela pela atitude!" Pensamento compartilhado por Tiago Silva Marques: "Elba não é e nunca foi uma pessoa do mal. Ela falou uma besteira, se arrependeu e se desculpou", escreveu no Facebook.

Assista ao pedido de desculpas de Elba Ramalho aos seguidores de religiões de matriz africana:

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“Tire os sapatos! Aqui só entra descalço, pois o solo é sagrado”, avisa a placa em frente ao terreiro. O som forte do tambor, os cânticos entoados e o cheiro de ervas convidam a entrar. O bairro é Vasco da Gama, Recife. Na parte interna da casa, velas de diversas cores, pratos de comida espalhados pelo chão e imagens de orixás e caboclos, completam o cenário. Gritos e gemidos saem de uma sala, algumas pessoas que estão no espaço começam a se debater, e a falar uma linguagem desconhecida. A cena descrita faz parte de uma cerimônia de umbanda, chamada gira, na qual as pessoas rezam, cantam, dançam e incorporam várias entidades.

Este mesmo ritual ocorre em todo o País desde a constituição da crença, datado de 15 de novembro de 1908. Há dois anos, a data foi oficializada como o Dia Nacional da Umbanda.  Porém, devido ao preconceito e o desconhecimento que o culto ainda carrega pouco se tem a comemorar. “Para muita gente a umbanda é sinônimo do mal, de ‘macumba’, despacho”, diz o engenheiro e funcionário público, Jairo Jogaib.

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Carioca, Jairo teve o primeiro contato com a religião há 14 anos, no Recife. “Eu era católico, assim como meus pais. Fui parar na umbanda por acaso. Minha esposa foi chamada por uma amiga para fazer uma consulta e fui acompanhar. Assim que cheguei senti uma coisa diferente e quando começaram a tocar os atabaques entrei em alfa. Depois disso não parei mais de ir”, relata.

Hoje, médium, o engenheiro ajuda a mãe de santo nos trabalhos realizados em um centro umbandista, localizado no Ipsep, zona sul da capital. “Na nossa casa tem a desobsessão, fluído terapia, um tratamento de saúde que é uma aplicação de luzes através da mente. Realizamos vários outros trabalhos sem cobrar nada por isso. É caridade pura, buscamos fazer apenas o bem”.

Discriminação, desconhecimento e medo

Sobre o preconceito, Jairo diz que costuma levar na brincadeira. “As pessoas ficam chocadas quando falo qual é minha religião. Trabalho no Tribunal Regional Federal e faço questão de dizer que sou umbandista. Nas quartas, aviso que vou para o centro. Quando vejo que alguém acha estranho, na mesma hora brinco que vou fazer uma macumba e que se no outro dia a pessoa for parar no hospital a culpa foi minha”, diz aos risos.

O funcionário público faz questão de completar a frase explicando o que é macumba. “É uma árvore africana enorme e por isso tem muita sombra. Era embaixo dela onde as pessoas cultivavam seus deuses. E era da madeira dessa espécie de onde saíam os tambores utilizados em cerimônias religiosas. Foi daí que veio o nome macumbeiro, e não tem nada de ruim nisso”, detalha.

Não é como a mesma naturalidade que a enfermeira Júlia Lins encara a intolerância religiosa. “Sou filha de santo, faço consultas, mas não é para todo mundo que revelo. Já fui vítima de muito preconceito”, desabafa. 

Júlia não entra na taxa dos 0,3 % da população brasileira que se declara seguidor da religião. “Prefiro falar que sou espírita, pois os próprios praticantes não conhecem a filosofia da crença, misturam com o candomblé (religião afro-brasileiras), a jurema (doutrina de matriz indígena). Nós não usamos sangue, não fazemos sacrifícios de animais. A nossa filosofia prevê a humildade e a caridade, mas boa parte dos centros, mais conhecidos como terreiros, cobram pelo trabalho. Essa não faz parte da minha crença”, argumenta.

Foto: Úrsula FreireA enfermeira completa falando sobre o medo que as pessoas têm da religião. “Existe, sim, o despacho com intuito de fazer mal as outras pessoas. E as negatividades. Mas não ocorre em todos os centros (terreiros) e só funciona para quem não é do bem. Todo mal que é feito para pessoas de coração bom, acaba voltando para quem fez”.

Outro ponto citado pela umbandista é a incorporação. “A maioria da sociedade pensa que ao entrar em um terreiro, vai ‘baixar um santo’ e perder a consciência. Não funciona assim. Não é qualquer pessoa que pode incorporar. Existe uma preparação para isso, e leva um tempo”, completa.

“As pessoas deveriam visitar um centro umbandista para conhecer. Não precisa seguir a religião, é só para não ficar tirando conclusões cheias de preconceito”, finaliza a filha de santo. 

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O juiz federal Eugênio Rosa de Araujo, autor da polêmica decisão segundo a qual candomblé e umbanda "não se constituem em religiões", voltou atrás. Ele manteve a decisão liminar em que autorizou a permanência no YouTube dos vídeos da Igreja Universal, considerados ofensivos pelo Ministério Público, mas mudou a argumentação de que os cultos afro-brasileiros não são religiões.

No novo texto, Araujo explica que a decisão de manter os vídeos teve como fundamento a defesa da liberdade de expressão. Ele lembra que reconheceu na liminar "que tais vídeos são de mau gosto, como ficou expressamente assentado na decisão recorrida, porém refletem exercício regular da referida liberdade".

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"Destaco que o forte apoio dado pela mídia e pela sociedade civil demonstra, por si só, e de forma inquestionável, a crença no culto de tais religiões, daí porque faço a devida adequação argumentativa para registrar a percepção deste Juízo de se tratarem os cultos afro-brasileiros de religiões, eis que suas liturgias, deidade e texto-base são elementos que podem se cristalizar, de forma nem sempre homogênea", escreveu.

Ele ressaltou ainda que "inexiste perigo de perecimento das crenças religiosas afro-brasileiras", já que a liminar dizia "respeito à liberdade de expressão e não à liberdade de religião ou de culto".

O MPF pediu a retirada dos vídeos postados no YouTube por entender que afrontavam as religiões afro-brasileiras. Ao analisar o caso, o juiz Araujo escreveu que "as manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões". Referindo-se à umbanda e ao candomblé, o magistrado afirmou ainda que "não contêm os traços necessários de uma religião" por não terem um texto-base (como a Bíblia ou o Corão), uma estrutura hierárquica nem "um Deus a ser venerado".

A decisão causou revolta em praticantes das religiões afro-brasileiras. Está marcado para esta quarta-feira um ato em solidariedade às religiões de matriz africanas na Associação Brasileira de Imprensa. O MPF recorreu da decisão de Araujo.

O juiz federal Eugenio Rosa de Araújo, da 17ª Vara Federal do Rio, afirmou em uma sentença que "as manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões". Referindo-se à umbanda e ao candomblé, o magistrado afirmou que elas "não contêm os traços necessários de uma religião" por não terem um texto-base (como a Bíblia ou o Corão), uma estrutura hierárquica nem "um Deus a ser venerado".

Nessa decisão, emitida em 24 de abril, o juiz negou um pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que obrigasse o Google a retirar 15 vídeos ofensivos à umbanda e ao candomblé postados no site YouTube. O episódio começou no início do ano, quando a Associação Nacional de Mídia Afro levou ao conhecimento do MPF, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, um conjunto de vídeos veiculados na internet por meio do site YouTube.

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Segundo essas gravações, as religiões de origem africana estão ligadas ao "mal" e ao "demônio". Um dos vídeos afirma que "não se pode falar em bruxaria e magia negra sem falar em africano" e outro associa o uso de drogas, a prática de crimes e a existência de doenças como a Aids a essas religiões. Embora as opiniões sejam atribuídas a grupos evangélicos, não foi possível identificar quem publicou ou divulgou essas gravações na internet.

Para o Ministério Público Federal, esses vídeos disseminam o preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de origem africana. Por isso, o órgão enviou recomendação ao Google no Brasil para que retirasse as gravações da internet.

Mas a empresa se negou a atender o pedido, afirmando que o material divulgado "nada mais é do que a manifestação da liberdade religiosa do povo brasileiro" e que os vídeos discutidos não violam as regras da empresa. Diante da postura do Google, o MPF foi à Justiça para pedir a retirada dos vídeos. Mas o juiz não atendeu o pedido. "Os vídeos contidos no Google são manifestações de livre expressão de opinião", afirmou Araújo.

O procurador da República Jaime Mitropoulos já recorreu da decisão ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região. "O ordenamento jurídico brasileiro estabelece que as relações sociais devem primar pela solidariedade, liberdade de crença e de religião, pelo respeito mútuo, pela consagração da pluralidade e da diversidade. A liberdade de expressar crença religiosa ou convicção não serve de escudo para acobertar violações aos direitos humanos, atacando ou ofendendo pessoa ou grupo de pessoas", afirma o procurador.

"Realmente não há uma hierarquia nem um código canônico que oriente as religiões de origem africana, mas isso não faz com que elas não sejam religiões. Além de serem religiões, o candomblé e a umbanda são filosofias de vida e manifestações culturais enraizadas no Brasil", afirmou Manoel Alves de Souza, presidente da Federação Brasileira de Umbanda.

Márcio Righetti, presidente da Associação Nacional de Mídia Afro, entidade que denunciou os vídeos ao MPF, classificou como "infeliz" a decisão do juiz. "Essa intolerância tomou uma proporção absurda. A gente não pode conviver com isso com naturalidade. Hoje são (atacadas) as religiões africanas, amanhã podem ser os judeus, os católicos, os evangélicos", afirmou ao canal de TV Globonews.

As propagandas espalhadas por vias movimentadas do Recife e nos jornais chamam atenção. “Trago seu grande amor em 130 dias”. Outros comerciais são “menos otimistas” e apenas apresentam o serviço: “jogam-se tarô, cartas e búzios”. Independente da propaganda, os serviços místicos ou religiosos são comuns e há anos mechem com a fé e a crença da sociedade. Se são verdadeiros ou se não há nada de verídico sobre eles, não consigo responder. Porém, é fato que muita gente ganha dinheiro com esse trabalho e cada vez mais tem a aceitação de novos clientes. E, justamente por alguns desses cartazes, que o LeiaJá foi conhecer a história de Sarah de Iemanjá.

Boa Viagem, Zona Sul do Recife. É na área nobre que funciona uma das “unidades” de trabalho da Sarah de Iemanjá. Antes de chegar ao local, nossa reportagem imaginou a personagem como uma senhora velha, de cabelos brancos. Contrariando todos, Sarah é uma jovem de 30 anos, pele levemente bronzeada, cabelos loiros, lisos e compridos, e com uma vaidade à tona: maquiada, cheia de joias, batom de forte cor vermelha, vestido branco, com as pernas a mostra e um corpo esbelto. “Não gosto de mostrar meu rosto porque as pessoas têm a imagem da Sarah velha, uma idosa cheia de rugas. Por eu ser nova, se colocasse meu rosto nas propagandas, talvez não passasse tanta credibilidade”, conta a jovem, que é descendente de ciganos.

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Natural de Salvador, na Bahia, desde os 7 anos ela mora em Pernambuco. Nessa idade, a cartomante conta que recebeu a irradiação de Iemanjá, se consagrando como filha do orixá. Ainda criança, ela começou a atender o povo, assim como sua mãe, que já desempenhava o trabalho. Porém, foi aos 18 anos que Sarah ganhou destaque como cartomante e cigana, viajando todo o Brasil realizando o trabalho. Atualmente, ela concentrou seus serviços em Pernambuco, com atendimentos no bairro do Janga, na cidade de Paulista, Região Metropolitana, e na própria unidade de Boa Viagem. “Tirei meu diploma com 18 anos. Não é algo exigido pelo Ministério do Trabalho, mas, é um documento de certificação dado por federações religiosas”, frisa a jovem.

No apartamento em Boa Viagem, assim como na unidade do Janga, para se consultar com a filha de Iemanjá é preciso agendar. Os atendimentos não têm tempos determinados, uma vez que variam de cliente para cliente, conforme o problema e o “corpos carregados”. Porém, os preços são muito bem definidos. O jogo de búzios, em que o orixá – intermediado pela Sarah – confirma fatos para os clientes, mas sem descrever nomes e números, custa R$ 90. Já as cartas ciganas, que segundo a cartomante desvenda coisas do passado e fala do presente, têm um valor de R$ 120 por consulta. O tarô, classificado como cartas mais complexas, trabalha o mapa astral da pessoa. Quem precisa desse serviço tem que desembolsar um valor de R$ 150. “Meu preço é mais caro porque meu serviço é de qualidade. Aqui, o cliente só paga pela consulta. O trabalho feito para organizar a vida das pessoas, após as consultas, é de graça”, comenta Sarah. Assim como num comércio - apesar da Sarah não descrever seu trabalho dessa forma -, até com cartão de crédito os clientes podem pagar pelas consultas. Curiosamente, os adesivos das bandeiras dos cartões ficam próximas a imagem de uma santa.

De acordo com a religiosa, os valores cobrados nas consultas servem para a manutenção de seus estabelecimentos e de sua vida familiar. A jovem já trabalhou em outras áreas, porém, é no “mundo das adivinhações” que quer continuar. Casada com um advogado e mãe de um garoto de oito anos, Sarah de Iemanjá é ciente da desconfiança e preconceito de muitas pessoas, entretanto, seu trabalho continua firme e forte e com perfis de clientes bem definidos. “Atendo, por dia, em torno de nove clientes. Meu público é formado por homens e mulheres de 40 a 50 anos. Geralmente eles me procuram para tirar dúvidas do que já sabem. Outros querem trabalhos sobre relacionamentos amorosos, mas, também temos um bom número do mundo dos negócios”, explica. Segundo ela, juízes, empresários, políticos, jogadores de futebol e até médicos estão entre seus clientes.

Clientes convictos, desesperados e os esperançosos

“O agir a tempo salva muitas vidas”. O depoimento é de uma cliente antiga da Sarah de Iemanjá, que conversou com a nossa reportagem enquanto a cartomante realizava um atendimento. A mulher de 58 anos e que se diz secretária, contou que há dois anos procurou os serviços para saber se um tio que estava com uma doença terminal iria sobreviver. De acordo com a cliente, Sarah confirmou que o homem não morreria. “Meu tio era uma caveira ambulante. Hoje, ele está vivo e muito bem. Desde então nunca deixei de procurar a Sarah. Nem sei dizer quanto paguei até aqui. Mas, você renovar sua espiritualidade não tem preço”, disse a cliente.

Indicada por uma amiga, Suely Maria da Silva, 53, que cuida de crianças em uma escola privada, foi pela primeira vez receber a consulta da Sarah. Ela intercedeu pela filha, que há anos sobre com depressão. “Me informaram que a Sarah é uma pessoa boa. Eu pago o que for para ver a minha filha bem. Espero que Deus faça que ela fique bem”, falou Suely. Logo depois do atendimento dela, uma amiga, que não quis ser identificada, aprovou o serviço místico. “Achei ótimo. Vi coisas que fiquei muito surpresa. A Sarah só me fez confirmar o que já sei”, contou, afirmando que pagou R$ 100 pelo serviço e que vai voltar várias vezes.

Teologia – Para o teólogo Carlos Moreira, que há 30 anos trabalha na área, religião e negócios sempre “andaram juntos”. “Lhe dar com o sagrado, seja de qualquer origem, sempre foi um bom negócios”, explica. Segundo eles, a busca pelo futuro e o místico fascinam as pessoas, fato que eleva a procura dos clientes.

Moreira, como teólogo e religioso, não é a favor dessas cobranças. “Não sou favorável. Eu acho que religião não deve se misturar com negócios”, opinou o teólogo.

O dia dos Santos Cosme e Damião, que é celebrado nesta sexta-feira, 27 de setembro, logo remete aos doces e pipocas que são oferecidos às crianças como pagamento de alguma promessa por parte dos adultos. Mas para a Igreja Católica, o ato de entregar as guloseimas não tem nenhum significado real. Baseia-se apenas em práticas* que não são próprias da igreja, mas adotadas por católicos e atribuídas aos santos. 

O que vale mesmo, de acordo com Abdon Santana, estudante de teologia e um dos coordenadores da 478ª edição da Festa de Cosme e Damião, é o exemplo de vida destes dois homens, irmãos gêmeos, que são provavelmente do século III, da Ásia Menor, atual território da Turquia. Cosme e Damião são conhecidos popularmente como padroeiros das crianças – por isso a entrega dos doces – além dos farmacêuticos, médicos e da cidade de Igarassu, no Grande Recife, onde fica instalada a igreja mais antiga em funcionamento do Brasil, que é dedicada aos santos.

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Os santos viveram com a mãe e os outros três irmãos. O pai morreu assim que eles nasceram. Eles cresceram na prática cristã e formaram-se médicos, não cobrando nada para exercer a profissão. De acordo com a história, que não está narrada em nenhum livro bíblico, os santos médicos conseguiram curar doenças que nenhum outro profissional achou solução. Além de usar os remédios da época e eles faziam sempre o sinal da cruz. “Eram pessoas simples e colocaram seus conhecimentos à disposição de todos, sem cobrar nada”, relatou o coordenador.

A professora Heloísa Pimentel é um exemplo de católicos que oferece guloseimas às crianças. Ela herdou da mãe a prática, que fez isso em pagamento a uma promessa pela saúde das duas filhas mais velhas. “Neste dia, fazemos quebra-panela, distribuição de bombons, doces e presentes. Não há um ritual específico, apenas muita alegria e o desejo de proporcionar um dia melhor para as crianças”, relatou.

De acordo com Abdon Santana, as graças que podem ser atribuídas por intercessão dos santos variam desde um emprego alcançado à cura de uma doença. A história conta que os santos protegeram a cidade de Igarassu, inclusive da contaminação de doenças que atingiram cidades vizinhas. “Num período em que povoados como Recife, Olinda e Goiana eram aterrorizadas pela febre amarela, Igarassu era protegida por meio de Cosme e Damião. Isso é motivo de comemoração. Celebrar essa festa é lembrar a importância que eles tiveram e têm na história dessa cidade”, disse.

SANTIDADE – Embora antigamente não existisse o processo de canonização, os homens eram considerados santos por ‘Vox Populi’, ou seja, por eleição do povo. Cosme e Damião nunca chegaram a pisar no Brasil, mas acredita-se que as imagens dos santos chegaram à Igarassu através dos portugueses em 1535. As originais encontram-se atualmente no altar principal da capela.

RELIGIÃO AFROBRASILEIRA* – Na Umbanda, no Dia de São Cosme e São Damião, também tem celebração. O santo faz referência a Ibeji, dois orixás ligados às crianças e gestantes, são eles: Oxum e Erê. Isso se dá porque, na época da escravidão, em que os escravos eram obrigados a cultuar os santos católicos, eles o faziam ligando a sua crença. O Oxum, diz respeito a fertilidade da mulher, já o Erê, pede proteção às crianças. Nessa época, também há oferenda de doces para as crianças, isso explica o sincretismo entre as religiões católica e afrobrasileira.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), vetou nesta terça-feira, 17, o projeto de lei que tornava a umbanda patrimônio imaterial de São Paulo. A proposta, assinada por 18 dos 55 vereadores paulistanos, "não pode ser tratado por meio de lei própria, vez que a declaração de um bem como patrimônio imaterial reveste-se de aspectos que extrapolam critérios exclusivamente políticos, técnicos ou jurídicos", segundo a justificativa do veto feita pelo prefeito.

O projeto aprovado em duas votações no Legislativo foi liderado pelo vereador Laércio Benko (PHS), umbandista que costuma defender as religiões de "matrizes africanas" em seus discursos no plenário do Palácio Anchieta. Para Haddad, porém, "para que a umbanda possa ser declarada patrimônio cultural imaterial paulistano, é necessário ser a proposta correspondente submetida a criterioso estudo técnico, envolvendo equipe multidisciplinar, formada inclusive por historiadores e antropólogos, o que só pode ser realizado por meio do procedimento administrativo" dentro da Secretaria Municipal de Cultura.

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O único patrimônio cultural imaterial de São Paulo continua sendo a Casa Godinho, inaugurada em 1888 no centro de São Paulo. A decisão foi tomada após dois anos de estudos dentro do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp), cuja avaliação foi de que a Casa Godinho "ainda mantém o sistema de atendimento ao cliente no balcão, direto e pessoal, característico dos antigos empórios de secos e molhados".

Na fila para ganhar o mesmo status da Casa Godinho estão o sotaque da Mooca e a Festa de San Genaro - os pedidos para se tornarem bens imateriais seguem sob análise do órgão municipal.

Ao vetar a umbanda como bem imaterial paulistano, o prefeito também citou que a religião tem o 15 de novembro como data comemorada anualmente no calendário oficial da cidade como Dia da Umbanda e do Umbandista. (colaborou Caio do Valle)

TEXTO Jullimaria Dutra   EDIÇÃO Raquel Monteath

Na beira da praia, o balanço do mar contínuo leva o barco cheio de oferendas. Em um cortejo que envolve homens, mulheres, idosos e crianças - em sua maioria, seguidores do candomblé ou do catolicismo -, uma celebração religiosa acontece em todo o Brasil e presentes são jogados nas águas para ela, a Rainha do Mar.

E é assim todo dia dois de fevereiro. Os pedidos e oferendas para Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora dos Navegantes (em um paralelismo com a religião Católica) são realizados. Comemora-se nesta data o dia de uma das orixás que fazem parte da Mitologia Africana: Iemanjá. Na Umbanda, além de ser a deusa padroeira dos náufragos, ela é considerada a mãe de todas as cabeças humanas.

A santa, cujo nome deriva da expressão Iorubá “Yèy Omo ejá” (Mãe cujos filhos são peixes) é um orixá africana, conhecida por todos como Rainha dos Mares. Na mitologia Yoruba, a dona do mar é Olokun que é mãe de Yemojá, ambas de origem Egbá que é cultuada em muitos países e por variados nomes - inclusive na África, onde seu nome Aiocá significa “terras misteriosas da felicidade e imagem das terras natais”.  

Durante o período da escravidão no Brasil, os negros africanos passaram a usar o pseudônimo de Iemanjá e encontraram na maneira mais branda - o “sincretismo”, que é a fusão de doutrinas de diversas origens – uma forma de perpetuar os cultos tradicionais sem a intervenção dos seus senhores, que consideravam inadmissíveis as manifestações pagãs em suas propriedades, por terem uma formação religiosa católica.

No País, o culto a Iemanjá ganhou o gosto popular e foi difundido das religiões afro-descendentes para o meio artístico. São inúmeras as composições de autoria popular para saudar “Janaína do Mar”, assim como canções litúrgicas. Adriana Calcanhoto, Otto, Marisa Monte e Maria Betânia são alguns dos que reverenciam em suas letras e interpretações a santa, que ganhou o mundo com a imagem vestida, ora de azul ora de verde, de seios fartos (que remete à fertilidade) e de beleza escultural.

(...) Perfume, flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Para ela se enfeitar
Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?
Alodê, Odofiaba,
Minha-mãe, Mãe-d'água,
Odoyá!
Qual é seu dia,
Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar (...)

(Canto de Oxum - Maria Bethânia)

Conhecida por ser vaidosa, os seguidores da deusa da fertilidade a presenteiam, quase sempre, com espelhos, pentes, flores, colares e brincos para agradá-la. Alguns entendem que, se ela devolve o presente jogado ao mar, significa que o desejo não será realizado. Por esta razão, há pessoas que soltam suas oferendas apenas em alto mar, evitando que seus pedidos não sejam realizados.

O etnólogo e fotógrafo franco–brasileiro, Pierre Verger, em seu livro Dieux D’Afrique registrou: “Iemanjá é o orixá dos Egbá, uma nação ioruba estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemoja. Com as guerras entre nações, os iorubas levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokuta, no início do século XIX. Não lhes foi possível levar o rio, mas, transportaram consigo objetos sagrados, suportes do axé da divindade e o rio Ògùn, que atravessa a região, tornou-se a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser confundido com Ògún, o orixá do ferro e dos ferreiros”.

A versão de Verger foi introduzida no País e Iemanjá passou a ser representada como a mãe que protege os filhos a qualquer custo; a mãe de vários filhos e peixes, que cuida de crianças e animais domésticos.

Na cidade de Salvador, no Estado da Bahia, acontece uma das maiores festas do Brasil em sua homenagem. A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até o templo-mor, localizado próximo à foz do Rio Vermelho, onde depositam variedades de oferendas.

Já no Recife, em Pernambuco, o dia de Iemanjá é comemorado em oito de dezembro, mas no dia dois de fevereiro existem pequenas celebrações referentes à deusa dos mares, muito embora a maior parte dos terreiros e cultos sejam direcionados ao orixá Oxúm, representado no catolicismo por Nossa Senhora da Saúde. A costureira D. Enilda Dutra, moradora do bairro do Arruda, há mais de 30 anos frequenta terreiros de Umbanda. “No Recife, a data não é tão celebrada quanto em Salvador, pois o dia em que comemoramos é o de Nossa Senhora da Conceição, em dezembro. Mas existem alguns locais na cidade que celebram, em fevereiro, a data de Iemajá”, explica.

Ainda no mês do fevereiro, Iemanjá é também cultuada em diversas praias brasileiras. Uma manifestação que reúne milhares de pessoas, das mais variadas condições sociais. Negros, brancos, ricos, pobres se encontram e curvam-se em reverência às mãos dos orixás, em busca de crescimento e da proteção espiritual.

Saiba mais sobre a Rainha do Mar:

Dia: Quinta-feira
Data: 2 de fevereiro
Metal: prata e prateados
Cor: prata transparente, azul, verde água e branco
Comida: manjar branco, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, ebôya, ebô e vários tipos de furá
Arquétipo dos seus filhos: voluntarioso, fortes, rigorosos, protetores, caridosos, solidários em extremo, ingênuos, amigo, tímido, vaidosos com os cabelos principalmente, altivos, temperamentais, algumas vezes impetuosos e dominadores, e tem um certo medo do mar
Símbolos: abebé prateado, alfange, agadá, obé, peixe, couraça, adê, braceletes, e pulseiras

Confira a riqueza da festa de celebração à Iemanjá em Rio Vermelho, na Bahia:


Serviço

Recife:
Panela de Iemanjá
Local: Brasília Teimosa
Horário: 19h

Salvador:
Mirante Yemanjá
Atrações: Batifun e Filhos de Jorge
Local: Terraço Hotel Golden Tulip, Rio Vermelho
Horário: 13h
Ingressos: R$ 150 (só a festa) e R$ 270 (festa + hospedagem) - ALL INCLUSIVE
Vendas: Ticketmix/ Tri Tour Eventos

Festa Odoyá Yemanjá
Atrações: Alexandre Peixe, Psirico e Magary Lord
Local: estacionamento da Villa Forma
Horário: 14h
Ingressos: Arena – R$ 50 (feminino) e R$ 60 (masculino) / Front Stage – R$ 90 (feminino) e R$ 120,00 (masculino) - ALL INCLUSIVE
Vendas: Padaria Bar, Academia Villa Forma (Rio Vermelho) e Ilha exclusiva de venda no Shopping Iguatemi

Oferendas - Dia de Iemanjá
Atrações: Bloco de hoje a 8, Marcela Bellas, DJs Pavlos Neptune, Camilo Fróes, Riffs, Suki 4 Tons, Bankiva e Maira 16 Toneladas
Local: Orla do Rio Vermelho - Rua da Paciência
Horário: 12h
Gratuito

Festa de Yemanjá
Atrações: Banda TH e Nata do Samba
Local: Zen - Dining & Music (Rio Vermelho)
Horário: 12h
Ingressos: R$ 90 (feminino) e R$ 120 (masculino) - ALL INCLUSIVE

Feijoada Terra & Mar
Atrações: Roney e Raney, samba Clube e Dj Nenga
Local: Moema Batataria
Horário: 13h
Ingressos: R$ 80 (feminino) e R$ 120 (masculino) - ALL INCLUSIVE

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