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A liberação do aborto foi discutida entre os candidatos à Presidência da República nesta sexta-feira (28), no debate da TV Globo para o segundo turno das eleições. Na ocasião, Lula (PT) leu uma declaração de Bolsonaro (PL) quando ainda era deputado federal, em 1992, na qual ele defende a distribuição de pílulas abortivas para as mulheres.

O petista leu um trecho do discurso de Bolsonaro à época: “‘Não adianta uma multidão de brasileiros subnutridos sem condições de servir ao seu País. Conclui o então deputado, que oferece que seja distribuído pílula de aborto para a sociedade brasileira em 1992’. Você falou isso ou não?”, questionou Lula, em provocação. 

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Ao se defender do próprio discurso, Bolsonaro diz que não lembrava do que havia dito. “30 anos atrás? Não confunda com pílula do dia seguinte”, disse. “Outra coisa, 30 anos atrás, eu posso mudar. Agora você, a poucos dias, falou claramente que abordo é questão de saúde pública, que as madames iam fazer aborto lá fora e aqui dentro as mulheres faziam outras coisas”, lembrou. O chefe de Estado completou, ainda, o uso do Cytotec, remédio abortivo. 

“Você é abortista, Lula. Você é abortista convicto. E você sempre trabalhou com isso. As suas ex-ministras dos Direitos Humanos trabalhavam com isso. Então, você é abortista. Pegou uma matéria de 30 anos atrás que nem lembro mais do que se tratava”, repetiu. 

Em resposta, Lula assegurou ser contra o aborto e exaltou “respeitar a vida”. “Eu sou contra o abordo e as minhas mulheres eram contra o aborto. Minha mulher [Janja] é contra o aborto. Eu respeito a vida porque eu tenho cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Portanto, se você quis jogar a culpa do aborto em alguém, jogue em você memo, porque em mim não cola”, garantiu.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, ordenou, nesta quinta-feira (20), que as Forças Armadas facilitem o acesso de seus integrantes ao aborto, enquanto um número cada vez maior de estados aprova restrições a este procedimento.

Em junho, a Suprema Corte anulou o direito constitucional federal ao aborto e devolveu aos estados a decisão sobre permiti-lo ou não. Desde então, mais de uma dúzia de estados aplicaram severas restrições ou proibiram a interrupção voluntária da gravidez.

Isso dificulta o acesso das integrantes das Forças Armadas ao aborto, pois obriga as que desejam realizar o procedimento a tirar uma licença e viajar para lugares onde é legalizado.

A decisão da Suprema Corte "diminuiu o acesso ao cuidado da saúde reprodutiva, com impactos no recrutamento, retenção e prontidão em toda a força", declarou um funcionário do Pentágono a repórteres.

"Isso criou complexos, confusão e ansiedade para membros do serviço e suas famílias, que agora podem precisar percorrer distâncias significativas para receber cuidados de saúde reprodutiva”, acrescentou.

A lei federal proíbe o Departamento de Defesa de financiar ou fornecer serviços para terminar uma gravidez, exceto nos casos em que a vida da mãe esteja ameaçada. No entanto, Austin emitiu um memorando descrevendo outros passos para facilitar o acesso.

Ele pediu que o departamento desenvolva uma política para permitir que militares tirem licença administrativa para receber "cuidados de saúde reprodutiva não cobertos" e estabeleça subsídios de viagem e transporte para ajudá-los a cobrir os custos.

O memorando também pede que sejam tomadas medidas para aumentar a privacidade de suas integrantes, como estender o tempo que elas têm para informar os comandantes que estão grávidas. Por sua parte, os profissionais de saúde do Departamento de Defesa que não poderão divulgar informações de saúde reprodutiva aos comandantes.

Mas há exceções para ambas, como "riscos à saúde ocupacional" no caso da primeira medida, e "danos à missão" na segunda.

Austin também quer proteger os provedores de saúde do Departamento de Defesa de ações legais resultantes do "desempenho adequado de seus deveres oficiais".

O candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, afirmou que, em um eventual governo, não irá propor discussões sobre a flexibilização do aborto em seus seis primeiros meses de mandato. Com críticas a questões relacionadas ao tema, ele afirmou que o assunto faz parte de uma "guerra híbrida", feita para dividir o eleitorado.

Com a população cristã em foco, Ciro disse que o assunto faz parte dos temas que "não têm centralidade" na vida da população. "Estou preocupado em emancipá-las (as mulheres) da miséria pela fome, pela pobreza, que nos une", disse. "Quem é que pode ser a favor da tragédia do aborto", afirmou, "ninguém é a favor do aborto, a questão é qual é o papel do Estado diante da tragédia do aborto", continuou, ao dizer que o tema "divide" a população.

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Armas

Sobre os decretos de armas editados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), o candidato deu a entender ser totalmente contra, afirmando que em um eventual governo seu, a arma de fogo seria proscrita das ruas. "No meu governo, ninguém vai portar arma se não for autoridade", afirmou.

Ciro deu as declarações durante sabatina promovida pelo Estadão em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado.

Um juiz federal americano bloqueou na quarta-feira (24) parte de uma lei que proíbe a maioria dos abortos no estado de Idaho, uma vitória para o governo do presidente Joe Biden.

O estado não pode processar médicos que realizam abortos pelo bem da saúde da mulher grávida, decidiu o juiz B. Lynn Winmill.

A liminar permanecerá em vigor até uma decisão sobre um processo judicial que contesta a lei do aborto, determinou o magistrado.

Idaho, um estado rural e conservador, foi um dos primeiros a aprovar uma lei estrita que proíbe o aborto na maioria dos casos depois que a Suprema Corte dos Estados Unidos anulou o direito nacional a este procedimento em junho.

O restante da lei, que continua sendo muito restritiva, entra em vigor nesta quinta-feira.

O procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, havia solicitado ao tribunal que bloqueasse o conjunto do projeto de lei, alegando que viola a lei federal sobre emergências médicas porque não estabelece uma exceção para casos de risco à saúde da paciente grávida, ao mesmo tempo que autoriza ações legais contra os prestadores de serviços de saúde.

Apesar da abordagem reduzida, a decisão representa uma vitória para o governo Biden.

"Garante que as mulheres no estado de Idaho possam obter o tratamento médico de emergência a que têm direito de acordo com a lei federal. Isto inclui o aborto quando este é o tratamento necessário", afirmou Garland em um comunicado.

Após a decisão da Suprema Corte de junho, 13 estados proibiram o aborto e analistas acreditam que metade dos 50 estados deve proibir o procedimento.

Um tribunal de apelações da Flórida confirmou uma decisão segundo a qual uma garota de 16 anos não seria “suficientemente madura” para realizar um aborto, o que provocou a ira de legisladores americanos.

Dois meses depois da Suprema Corte dos Estados Unidos revogar o direito ao aborto em todo o país, o caso da adolescente está gerando uma nova irritação ao redor dos direitos das mulheres nos EUA.

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A jovem, que não foi identificada, disse ao tribunal que “não estava pronta para ter um bebê”, que estava ainda na escola, que não tinha trabalho e que o pai não teria condições de ajudá-la.

Menores de idade que desejam abortar na Flórida precisam do consentimento de ao menos um de seus progenitores. Porém, a menina não tem pais, vive com um parente e tem um tutor designado, segundo documentos.

Ela buscava uma exceção a essa norma, mas a corte decidiu que ela “não estabeleceu mediante evidência clara e convincente ser suficientemente madura para decidir sobre a interrupção de sua gravidez”.

Na segunda-feira, o tribunal de apelações estadual ratificou essa decisão.

“Se está furiosa porque uma corte está forçando uma adolescente a levar adiante sua gestação após uma decisão judicial que diz que ela não é ‘madura’ o suficiente para um aborto, não está sozinha. É aberrante”, escreveu no Twitter a congressista Pramila Jayapal.

Lois Frankel, parlamentar da Flórida, descreveu o caso como “inaceitável” e acrescentou que é “um exemplo perigoso e horroroso da guerra da Flórida contra as mulheres”.

A garota afirmou ao tribunal que, nas 10 semanas de gravidez, seu tutor havia autorizado o procedimento, mas aparentemente não o fez por escrito, de acordo com os documentos.

Depois que a medida da Suprema Corte deixou a questão do aborto nas mãos de cada estado, a Flórida mudou suas leis para proibir a interrupção da gestação após as 15 semanas, em vez de 24 como antes.

A médica D. nunca teve tanto trabalho com agora. A clínica de abortos onde atua, em Jacksonville (Flórida), está tomada por pacientes de estados que restringiram amplamente a interrupção voluntária da gravidez após uma polêmica decisão da Suprema Corte americana.

"Antes, em dia típico havia 25 pacientes, agora atendo cerca de 45. Há muita procura", lamenta esta médica que prefere manter o anonimato por medo de ameaças de militantes antiaborto.

Apesar de reduzir o prazo para o procedimento de 24 a 15 semanas, a Flórida é agora o estado onde ficou mais fácil interromper uma gestação no sudeste dos Estados Unidos.

A seu redor, outros estados de maioria conservadora como Luisiana, Mississípi, Alabama e Geórgia proibiram quase por completo a prática ou reduziram seu prazo para seis semanas, depois que a Suprema Corte revogou em 24 de junho o direito ao aborto em nível federal.

Esta decisão tem levado muitas mulheres a procurar clínicas na Flórida, entre elas, o centro onde trabalha D., que é de propriedade da ONG Planned Parenthood, uma dos maiores prestadoras de serviços reprodutivos do país.

"Estamos em uma situação desesperadora. Eu a chamaria de emergência de saúde pública", disse Laura Goodhue, diretora-executiva da aliança de afiliados desta organização na Flórida.

A Planned Parenthood se viu obrigada a abrir suas portas nos finais de semana e a ampliar sua jornada de trabalho até 12 horas em algumas clínicas, diante do aumento de pacientes, em sua maioria da Geórgia, Alabama e Texas.

Também será preciso contratar novos médicos. Muitos destes profissionais viajam à Flórida vários dias por semana de estados onde não podem mais trabalhar, explica Goodhue.

- Muitos obstáculos -

As pacientes de outros estados precisam se ausentar vários dias do trabalho, já que a nova lei da Flórida exige que a mulher faça duas consultas com pelo menos 24 horas de intervalo elas antes de realizar um aborto.

Também devem encontrar um jeito de viajar e se hospedar em outro estado e, em alguns casos, procurar alguém que cuide de seus filhos. A série de obstáculos se soma à redução do prazo legal para abortar na Flórida.

"Infelizmente, se fizermos uma ecografia e virmos que já tem mais de 15 semanas, não podemos ajudá-las e temos que encaminhá-las a outros estados. E isso prolonga ainda mais sua jornada para conseguir um atendimento de saúde essencial", explica a médica D.

Cerca de 450 km ao sul de Jacksonville, na clínica da Planned Parenthood em West Palm Beach, Jasmine (pseudônimo) está prestes a se submeter a um aborto cirúrgico.

Ela tem 23 anos e engravidou quando o rompeu o preservativo do rapaz com quem ela saía há três meses. A pílula do dia seguinte que comprou pela internet chegou tarde demais.

Ela pensou muito antes de decidir, mas preferiu abortar para terminar seus estudos. "É o melhor para mim, ainda que seja uma decisão difícil", garante. "O erro de uma noite não precisa mudar minha vida para sempre", justificou.

Jasmine mora na Flórida e não pode nem imaginar a experiência vivida por quem viaja de outro estado para o procedimento. Mas ainda assim, sofreu as incertezas e o stress gerados pela decisão da Suprema Corte.

"Na Flórida, temos até 15 semanas, e isso poderia ter mudado a qualquer momento, como nos demais estados. Foram muitas lágrimas e muito nervosismo", lembra.

Nas ruas de Leawood, próspera cidade do Kansas, inúmeras faixas eleitorais adornam os jardins: o estado se prepara para a primeira votação importante sobre o aborto desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos anulou o direito federal à interrupção da gravidez.

Os moradores do Kansas votarão na terça-feira (2) para decidir se retiram, ou não, o direito ao aborto da Constituição deste estado tradicionalmente conservador.

Aqueles que querem a mudança - partidários do "sim" - afirmam que ela permitiria aos legisladores regular a interrupção legal da gravidez sem interferência da Justiça.

"Restaura nossa capacidade de conversar", diz Mackenzie Haddix, porta-voz do movimento "Value Them Both", uma entidade que busca acabar com a proteção constitucional decorrente de uma decisão de 2019 da Suprema Corte deste estado.

A proibição do aborto não é o objetivo oficial da campanha desta entidade.

Vários apoiadores do "sim" veem essa posição como o primeiro passo para que a assembleia estadual, controlada pelos republicanos, proíba essa prática, como já fizeram oito estados em todo país desde a decisão de junho da Suprema Corte de anular sua decisão histórica de 1973 no caso Roe vs Wade.

"Decisões sobre nosso corpo"

Os defensores do "não" observam com ansiedade os estados vizinhos de Missouri e Oklahoma, que impuseram restrições quase totais. O primeiro, por exemplo, proíbe até o aborto em casos de estupro, ou incesto.

No Kansas, um congressista conservador local apresentou um projeto de lei este ano que contempla a proibição do aborto sem exceção, seja por estupro, incesto, ou para proteger a vida da mãe.

Até agora, o aborto é legal no Kansas até 22 semanas de gravidez. Menores precisam de autorização dos pais.

"Em última análise, a emenda tira esse direito à autonomia pessoal", comenta Ashley All, porta-voz da campanha pelo "não" na Kansas Constitutional Freedom (KCF).

"Tomar decisões sobre nossos corpos, nossas famílias, nosso futuro sem interferência do governo é um direito", alegou.

A votação coincide com as primárias do Texas e será a primeira vez que os americanos se pronunciarão sobre o aborto após a decisão da Suprema Corte.

Outros estados, incluindo Califórnia e Kentucky, votarão a questão em novembro, juntamente com as eleições parlamentares de meio de mandato ("midterms"), durante as quais republicanos e democratas esperam unir seus apoiadores em torno do aborto.

Anne Melia, voluntária na campanha em favor do direito ao aborto da KCF, visitou Leawood na quinta-feira (28) para defender sua causa.

"Não acho que o governo deva dizer às mulheres o que fazer", afirmou a ativista de 59 anos.

Vida desde a concepção

Christine Vasquez, de 43 anos, diz que pensa em votar "sim", com a esperança de poder decidir no futuro sobre o aborto.

"Votarei para que não haja aborto. Acredito que a vida começa na concepção", declarou à AFP.

Neste contexto, o país estará atento no Kansas na terça.

Os democratas são, em grande parte, favoráveis ao aborto, enquanto os conservadores desejam impor obstáculos, ou até mesmo proibir sua prática.

A realidade política no Kansas é, no entanto, complexa.

Desde 1964, o Partido Republicano venceu as eleições presidenciais, ou seja, 15 disputas seguidas. Mas o condado mais populoso do estado elegeu uma democrata, Sharice Davids, à Câmara de Representantes em 2018; e a governadora, Laura Kelly, é democrata.

Sobre o aborto, uma pesquisa de 2021 da Universidade estadual Fort Hays revelou que menos de 20% dos cidadãos do Kansas consideram que o aborto deve ser ilegal em casos de estupro, ou incesto. E metade dos entrevistados acredita que o estado não deve legislar sobre as circunstâncias, nas quais as mulheres podem abortar.

A senadora Simone Tebet (MDB), única mulher entre os principais candidatos à Presidência da República, disse em entrevista ao Universa nesta quinta-feira (28), que a população brasileira ainda não está preparada para avançar na discussão sobre o aborto, além do que já está determinado por lei. 

"Nós estamos diante de uma sociedade conservadora. Hoje, a população não está preparada para discutir a questão do aborto além do que já é previsto em lei", declarou.

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No entanto, acredita que nos últimos sete anos, período em que está no Senado, nunca se avançou tanto em matérias legislativas voltadas para a mulher. Por outro lado, a pré-candidata avalia que na hora de colocar em prática, os políticos ainda ficam devendo às mulheres. 

"Primeiro porque temos um governo que não acredita na legislação aprovada, temos um governo misógino, que entende essas políticas públicas com olhar de retrocesso. Segundo porque em muitos estados ainda faltam boa vontade e recursos financeiros", aponta.

"Eu estou cansada de lutar sozinha. O machismo é cultural, é estrutural, e o Brasil é dos países mais violentos em relação a suas mulheres. Esse prognóstico nós já temos, mas e aí? Queremos que os homens se somem à luta pelos direitos e pela segurança das mulheres", complementa.

Se eleita, Tebet promete a moradia como principal ponto para as mulheres brasileiras. "Não há política pública mais importante para a família do que moradia própria. Quero resgatar a construção de casas populares, e a chave da casa própria, em 95% dos casos, é entregue para as mulheres. É disso que elas precisam para terem autonomia: casa própria no nome delas para poderem, em caso de violência, expulsar um pai pedófilo, que bate, espanca os filhos ou a própria mulher. Isso é prioridade absoluta", destaca.

Uma linha de políticas públicas específicas para o público feminino empreendedor e a garantia da proteção à criança e ao adolescente por meio da criação de uma secretaria nacional dedicada ao ensino - desde a creche ao ensino médio -, também está na pauta de Simone. 

O YouTube anunciou, nesta quinta-feira (21), que tomou medidas para proibir a publicação de informações falsas relacionadas ao aborto, quase um mês após a Suprema Corte dos Estados Unidos anular o direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez.

"A partir de hoje e durante as próximas semanas, removeremos conteúdo que instrua sobre métodos inseguros de aborto ou promova falsas alegações sobre os perigos do aborto", disse uma porta-voz da plataforma.

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O portal de vídeos do Google adicionará conteúdos sobre aborto às suas políticas de desinformação médica, que já proíbem conteúdo falso ou enganoso sobre covid-19 e vacinas.

A plataforma mencionou "afirmações de que abortos são muito arriscados ou muitas vezes causam câncer ou infertilidade" como exemplos de conteúdos que serão removidos.

"Estamos avaliando nossas políticas e produtos continuamente, à medida que os eventos da vida real se desenrolam", disse a porta-voz.

Desde que a Suprema Corte revogou o direito ao aborto, vigente em todo o país desde 1973, vários estados conservadores já restringiram ou proibiram o acesso a intervenções de interrupção da gravidez.

Google, Meta - empresa matriz do Facebook e do Instagram - e outras plataformas têm sido questionadas sobre esta questão por legisladores e associações, que pedem que protejam as mulheres garantindo que as mensagens e ofertas de ajuda permaneçam online e, acima de tudo, que não armazenam tantos dados pessoais.

As plataformas temem que informações pessoais de mulheres que fizeram abortos ou de pessoas que as ajudaram, como pesquisas online, viagens de Uber, etc., sejam utilizadas contra elas por promotores nos estados conservadores.

No início do mês, o Google anunciou que dados de localização dos usuários seriam automaticamente apagados ao visitar uma clínica de aborto.

Jen Fitzpatrick, vice-presidente do gigante tecnológico, garantiu que suas equipes costumam "rejeitar" os pedidos das autoridades "quando são muito extensos".

O YouTube também divulgou planos de criar um painel de informações sobre aborto, para "dar às pessoas o contexto das autoridades de saúde locais e internacionais".

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o "filho 01" do presidente Jair Bolsonaro (PL), voltou a antagonizar a esquerda em suas redes sociais, alegando que o pai é a representação do “bem” em uma disputa “entre o bem e o mal” para o Brasil. Nas redes sociais, antecipou traços da campanha do atual chefe do Executivo, rejeitando a ideia da esquerda, representada majoritariamente por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltar ao poder. 

“Nós queremos que o Brasil continue com Liberdade. Eu repito: não queremos a esquerda comunista no poder. Não queremos fome, aborto, corrupção, vítimas fatais dos roubos de celulares... Bolsonaro é o bem e, agora, estamos numa luta do bem contra o mal”, escreveu Flávio. Junto à mensagem, publicou uma imagem de Jair Bolsonaro com uma criança no colo.  

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Esta semana, o parlamentar voltou à ofensiva contra os opositores, mesmo após a Suprema Corte decidir favoravelmente ao Partido dos Trabalhadores em uma ordem recente. Nessa terça-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes ordenou a remoção de conteúdos falsos associando o PT ao Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do país. 

Nas redes sociais, o senador declarou que a delação de Marcos Valério vinculando o PT ao PCC é apenas uma das "evidências do DNA criminoso do partido de Lula". A acusação foi feita após a decisão do magistrado ter determinado a remoção de conteúdos falsos já postados e novas publicações sobre o assunto em questão. 

Dias depois que o estado americano de Ohio proibiu o aborto, a médica Mae Winchester recebeu uma paciente que necessitava interromper a gravidez para salvar sua vida.

Em 24 de junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou o direito ao aborto que vigorava há quase meio século.

Com a decisão, muitos estados conservadores proibiram ou restringiram amplamente os procedimentos.

Com esta virada histórica, o panorama legal deixou muitas lacunas e "um nível significativo de estresse" na profissão, afirma Harry Nelson, advogado especialista na área médica.

Em Ohio, onde Winchester trabalha, os abortos ainda são permitidos, mas somente até as seis semanas de gravidez e o entendimento sobre "emergência médica" é ambíguo.

Sua paciente já tinha ultrapassado esse prazo, então a médica precisou consultar o departamento jurídico do hospital.

"Sei o que devo fazer como médica. Mas do ponto de vista legal, como a protejo, como me protejo, como protejo a instituição, as enfermeiras e anestesistas envolvidas no caso?", questionou.

"Afeta a todos", declara esta obstetra à AFP.

"Confusão"

As leis que proíbem o aborto preveem sanções substanciais para os profissionais de saúde. As penas variam de multas caras a até 10 anos de prisão.

A ameaça de processos e os custos legais levam a "uma situação estranha, na qual os médicos ficam tensos ao prestar um atendimento legítimo em casos potencialmente mortais", destaca Nelson.

O governo do presidente Joe Biden tentou trazer a estes profissionais um pouco mais de segurança ao garantir que a lei federal "prevalece" sobre a estatal em emergências.

Se um médico acreditar que um aborto é necessário para "estabilizar" uma emergência, deve praticá-lo, escreveu o ministro da Saúde, Xavier Becerra, à equipes dos serviços de urgência do país.

No entanto, o estado do Texas já recorreu aos tribunais, acusando o governo democrata de querer "transformar cada sala de emergências do país em uma clínica de aborto sem data marcada".

O presidente da poderosa organização de planejamento familiar Planned Parenthood, Alexis McGill Johnson, estima que esta denúncia aumenta "a confusão e cria perigo de morte em caso de gravidez ectópica, septicemia, entre outros".

"Medo"

Mais de 90 procuradores locais disseram que não apresentarão denúncias nestes casos em suas jurisdições, mas outros estão determinados a fazê-lo.

O procurador-geral de Indiana, um ultraconservador, ameaçou processar uma ginecologista que ajudou uma criança de 10 anos a abortar após um estupro.

A menina precisou viajar de seu estado Ohio porque excedeu as seis semanas de gravidez. As interrupções voluntárias de gravidez continuam legais em Indiana, mas o procurador-geral Todd Rokita acusou a médica de descumprir com a obrigação de informar sobre o caso.

No fim, os advogados da médica comprovaram que ela havia informado.

Nelson estima que este caso mostra como alguns procuradores, funcionários eleitos, podem usar "táticas intimidatórias" para desmotivar os médicos.

"Entre a cruz e a espada"

Os médicos não são os únicos que correm riscos.

No Texas, Idaho e Oklahoma, as leis autorizam processos civis contra qualquer pessoa que ajude mulheres a abortarem, o que poderia afetar um taxista ou até mesmo uma instituição que financie o procedimento.

As leis são vagas e isso traz dificuldades também em outras situações, como por exemplo, quando o tratamento para um câncer ameaçar a gravidez.

Desde a decisão da Suprema Corte, os ginecologistas se sentem presos "entre a cruz e a espada", explica Kristin Lyerly, do Colégio de Ginecologistas dos EUA que, junto com 75 organizações, denuncia interferências legislativas no trabalho dos médicos.

"O que devemos fazer: realizar más práticas ou ser presos por praticar um aborto?", questiona.

A Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou nesta sexta-feira (15) medidas para proteger o acesso ao aborto, em resposta a uma sentença da Suprema Corte. A menos que ocorra uma surpresa, os dois textos não resistirão ao crivo do Senado.

"Há apenas três semanas, a Suprema Corte acertou um forte golpe em nossos direitos fundamentais", denunciou a presidente democrata da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi.

"Por isso (...) vamos tomar novas medidas para defender a liberdade reprodutiva das mulheres", disse pouco antes da votação, cercada de congressistas vestidas com roupas na cor verde, usada em manifestações pró-aborto.

O primeiro dos projetos de lei, aprovado unicamente com votos dos democratas, legalizaria novamente o aborto em todo o país. O outro daria proteção às mulheres que viajam de um estado a outro para abortar.

Mas estes textos não têm quase nenhuma chance de serem aprovados no Senado, onde seria necessário o apoio de dez republicanos, a maioria contrários ao direito ao aborto.

Desde que a Suprema Corte anulou o direito federal ao aborto em 24 de junho, vários estados conservadores já o proibiram em seu território.

O presidente americano, Joe Biden, pede aos americanos que votem em seu partido nas eleições legislativas de meio de mandato de novembro, com a esperança de ampliar a maioria no Senado.

Mas estas eleições costumam beneficiar a oposição e é muito possível que façam os democratas perder sua estreita maioria no Congresso.

A decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de revogar o direito ao aborto em nível federal aumentou a pressa em um país onde o acesso a esse procedimento será proibido em muitos de seus estados.

As buscas na internet por "controle de natalidade", "DIU (Dispositivo Intrauterino)" e até "esterilização médica" dispararam, enquanto as farmácias tiveram que limitar as compras da chamada "pílula do dia seguinte" para atender a demanda.

Três mulheres conversaram com a AFP sobre seus planos, enquanto as batalhas legais contra as leis antiaborto acontecem em vários estados do país.

Armazenar pílulas

Quando a Suprema Corte revogou no mês passado a sentença de 1973 que legalizou o aborto em todo o país, deixando a decisão para os estados, Sarah Kratzer teve medo que o Texas fosse além da proibição do aborto e também dificultasse o acesso à pílula do dia seguinte.

Restringir o planejamento familiar ou o uso da pílula do dia seguinte parece muito distante, mas as pessoas temem que aconteça.

Dona de casa de 39 anos, Kratzer vive em San Antonio, Texas, o estado do sul que possui algumas das leis antiaborto mais rígidas do país. Ela disse à AFP que começou a estocar pílulas anticoncepcionais de emergência em maio, depois que o projeto de decisão da Suprema Corte vazou.

Recebeu três caixas gratuitas em uma manifestação local como parte dos protestos nacionais "Bans Off Our Bodies", que ela participou com uma de suas filhas. E encomendou várias extras em um Walmart.

Embora Kratzer não possa mais ter filhos por motivos de saúde, guardou as pílulas do dia seguinte para suas três filhas, de 15, 19 e 20 anos. Também comprou testes de ovulação e gravidez.

"Elas ainda têm o direito de decidir 'Sim, eu quero esse bebê' ou 'Não, eu não quero'", comentou.

As pílulas anticoncepcionais de emergência duram de três a quatro anos, e Kratzer espera que durem até que os Estados Unidos restabeleçam o direito ao aborto, embora isso seja improvável.

DIU e esterilização

Kayla Pickett está preocupada com outros direitos além do aborto. "Não se sabe o que mais vão fazer", disse a estudante de enfermagem à AFP.

Ela e o namorado moram em Akron, Ohio, um estado que proibiu o aborto após seis semanas de gestação. Pickett, de 22 anos, e seu namorado de 21 planejam se mudar para o Colorado no ano que vem e depois para o exterior

"Somos afro-americanos. Queremos estar em um estado em que tenhamos direitos e saibamos que ficaremos bem se algo acontecer", explica.

"Assim que estivermos financeiramente estáveis, planejamos deixar os Estados Unidos", acrescentou.

Enquanto isso, como tantas outras mulheres, Pickett correu para colocar DIU, uma decisão que ela tomou depois que o projeto de decisão do tribunal superior vazou em maio.

Pickett usava pílulas anticoncepcionais desde os 15 anos, mas queria mudar para algo de longo prazo, caso Ohio tentasse tornar o controle de natalidade difícil ou ilegal.

O DIU dura cerca de cinco a 10 anos antes de precisar ser substituído.

Quando Meagan McKernan soube da revogação do direito ao aborto, sentiu terror e raiva, mas também "puro alívio" por ter uma estratégia.

McKernan, de 33 anos, que trabalha para uma empresa de leilões online, já iniciou o processo de ligamento da trompas porque não quer ter filhos.

Sua consulta pré-operatória será em 9 de julho. Ela levou um susto de gravidez no início de maio, mais ou menos nas mesmas datas em que vazou o rascunho com o parecer da Corte, e lembra que se sentiu "aterrorizada".

"O fato de que minhas decisões possam ser ainda mais limitadas me aterroriza", disse à AFP. "Preciso de uma solução permanente para não me sentir assim novamente".

McKernan admite estar nervosa com a esterilização, mas também animada que seu ginecologista concordou.

Ele reconheceu que é um "privilégio" ter flexibilidade financeira para se submeter à operação, que pode custar até US$ 6.000, e morar em Connecticut, um estado onde a laqueadura voluntária está disponível.

O Parlamento Europeu pediu, nesta quinta-feira (7), que o direito ao aborto seja incluído na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (UE), depois de uma polêmica sentença da Suprema Corte dos Estados Unidos estabelecendo que não é um direito constitucional aplicável em todo país.

Por 324 votos a favor, 155 contra e 38 abstenções, os eurodeputados decidiram solicitar ao Conselho Europeu (que representa os Estados do bloco) que inclua esta noção na carta dos direitos fundamentais, afirmando que "toda a pessoa tem direito a se beneficiar de um aborto seguro e legal".

Adotada em 2000, esta carta, juridicamente vinculativa, tem o mesmo valor que os tratados.

Incluir o aborto entre os direitos fundamentais precisa, no entanto, da unanimidade dos países-membros, de acordo com os tratados atuais da UE, uma vez que o assunto divide os 27.

Por esta razão, os eurodeputados também solicitaram ao Conselho "que se reúna para discutir uma convenção, permitindo revisar os tratados", a fim de levar a questão da unanimidade à mesa.

O pedido foi acompanhado de uma condenação do Parlamento Europeu ao "retrocesso dos direitos das mulheres (...), dos direitos sexuais e reprodutivos nos Estados Unidos e em alguns Estados-membros" do bloco.

Em 24 de junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos encerrou a garantia legal federal do aborto em todo país. Agora, cabe a cada um dos 50 estados americanos decidir sobre o assunto.

"Os países da UE devem garantir o acesso a serviços de aborto seguro, legal e gratuito, a serviços de assistência pré-natal e materna, a planejamento familiar voluntário, a contracepção, a serviços para jovens", afirmaram os legisladores europeus na resolução.

Eles também pediram apoio para "prevenção, tratamento e apoio às pessoas portadoras de HIV, sem discriminação".

Muito antes do escândalo planetário sobre a decisão da mais alta corte dos Estados Unidos, o presidente francês, Emmanuel Macron, havia sugerido em janeiro deste ano a inclusão do direito ao aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da UE.

Na quarta-feira, a comissária europeia para a igualdade, Helena Dalli, disse no Parlamento que "os direitos das mulheres são um bem e uma característica essencial das democracias".

Por isso, acrescentou, "voltar atrás não é uma opção para um continente que aspira a ganhar o futuro".

Por sua vez, Stéphane Sejourné, líder do bloco centrista, pediu que se dê "às mulheres da Europa a garantia de que nenhum juiz poderá extirpar, e para que lembremos aos reacionários o que eles realmente são: uma relíquia do passado sem futuro na UE".

Em anúncio nessa sexta-feira (1º), o Google comunicou que irá excluir de imediato o histórico de localização de pessoas que visitam clínicas de aborto e outras unidades médicas nos Estados Unidos, após a derrubada da Suprema Corte no caso Roe v. Wade, na semana passada. A preocupação é de que dados pessoais poderiam informar à normativa legal se um indivíduo interromper uma gravidez ilegalmente. 

Como as leis estaduais que limitam o aborto foram estabelecidas pelo Judiciário, o procedimento não é mais garantido pela Constituição. Assim, a iniciativa do Google é válida para dados envolvendo não apenas clínicas de aborto, mas também de cirurgia estética, de fertilidade, controle de peso e especializadas em recuperação de dependentes químicos em território estadunidense. 

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"Hoje, estamos anunciando que, se nossos sistemas identificarem que alguém visitou um desses lugares, excluiremos essas entradas do Histórico de localização logo após a visita", escreveu Jen Fitzpatrick, vice-presidente sênior de sistemas e experiências principais do Google, no informativo. 

Fitzpatrick observou que as visitas a lugares como centros de aconselhamento, abrigos para violência doméstica, clínicas de aborto e centros de fertilidade "podem ser particularmente pessoais". A Alphabet, controladora do Google, possui dispositivos e serviços de dados altamente populares, incluindo Android, Fitbit, Pesquisa e Google Maps. 

A postagem do Google diz: "Usuários Fitbit que optaram por rastrear seus ciclos menstruais no aplicativo podem excluir registros de menstruação um de cada vez, e lançaremos atualizações que permitem que os usuários excluam vários registros de uma só vez". 

A decisão da mais alta corte do país anulou quase 50 anos de precedente legal ao reverter sua opinião original de que as mulheres têm direito constitucional ao aborto. Durante semanas, o Google e outras empresas de tecnologia evitaram responder a perguntas da mídia e dos legisladores sobre suas práticas e armazenamento de dados, bem como sobre como cumprirão possíveis solicitações de aplicação da lei. 

O Google, que enviou um e-mail aos funcionários com recursos para seus próprios funcionários em meio à decisão, também enfrentou perguntas sobre seus resultados de pesquisa, além da privacidade dos dados. Mesmo antes da decisão se tornar oficial, os legisladores pediram ao Google e à Federal Trade Commission que garantissem que os dados de consumidores on-line que procuram atendimento fossem protegidos no caso de a decisão histórica ser revogada. 

Exclusão de dados foi previamente solicitada 

Em maio, um grupo de 42 parlamentares democratas solicitou ao CEO do Google, Sundar Pichai, em uma carta, que a empresa parasse de coletar e manter dados de localização desnecessários ou não agregados que poderiam ser usados para identificar pessoas que buscam abortos. 

O comunicado do Google não disse como responderia a possíveis solicitações das autoridades. Em vez disso, a empresa esclareceu que "continuaria a se opor a demandas excessivamente amplas ou legalmente censuráveis". A Alphabet também informou que a responsabilidade é compartilhada por muitas instituições. 

“Dado que esses problemas se aplicam a provedores de saúde, empresas de telecomunicações, bancos, plataformas de tecnologia e muito mais, sabemos que as proteções de privacidade não podem depender apenas de empresas ou estados individuais agindo individualmente”, dizia o post. 

 

"Corram para as urnas". A menos de quatro meses das cruciais eleições legislativas de meio de mandato, o Partido Democrata de Joe Biden espera que a batalha contra o aborto que divide os Estados Unidos provoque a mudança política que o presidente necessita de maneira desesperada.

De um lado, os republicanos comemoram o grande momento de quase 50 anos de ativismo contra a decisão histórica de 1973 que garantia a proteção federal do direito ao aborto, sob a alegação de que naquele momento a decisão foi tomada de maneira equivocada.

Os democratas, agora em alerta pela eliminação de meio século de proteção aos direitos reprodutivos, temem que os republicanos retomem o controle do Congresso e tentem ir ainda mais longe, com o acréscimo de uma proibição federal que ameace o acesso legal em todo o país.

Diante do confronto eleitoral em novembro, o presidente Biden disse na sexta-feira que "os eleitores devem ser ouvidos" e expôs junto, ao lado da presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, sua percepção do que está em jogo para essas eleições. "As liberdades individuais estarão nas cédulas", previu.

A eleição de meio de mandato nos Estados Unidos, que renova todas as cadeiras na Câmara e um terço do Senado, tradicionalmente não é favorável ao governo e provoca pouco entusiasmo entre os eleitores.

Ainda assim, "o aborto é um dos raros temas que possivelmente chamam a atenção" a favor dos democratas, diz Shana Gadarian, professora de Ciências Políticas da Universidade de Syracuse, "porque é uma questão sobre a qual um grande número de pessoas têm uma opinião sólida".

"A opinião pública geralmente está a favor do direito ao aborto, inclusive entre os republicanos", advertiu.

Uma pesquisa CBS News/YouGov divulgada na sexta-feira, pouco depois de a Suprema Corte acabar com o direito federal ao aborto, mostrou que 50% dos democratas consideram mais provável votar depois da decisão do tribunal.

- Outros direitos reprodutivos em jogo? -

Conscientes das estatísticas, os candidatos democratas de todo o país decidiram concentrar sua campanha no tema, na esperança de transformar a revolta dos eleitores em votos.

"Os ataques não vão parar por aí", alertou Cheri Beasley, candidata ao Senado pela Carolina do Norte.

"O acesso às pílulas anticoncepcionais, a fertilização in vitro, os DIU (Dispositivos Intrauterinos) também estão ameaçados", alertou, antes de pedir que os eleitores "corram para as urnas" em novembro.

"O que está em jogo não poderia ser mais importante, enviem-me a Washington para proteger os valores democratas", pediu no fim de semana John Fetterman, um democrata da Pensilvânia que concorrerá ao Senado em novembro contra um famoso cirurgião apoiado por Donald Trump.

No dia 8 de novembro também acontecerão eleições locais e quase 30 estados escolherão seus governadores, um cargo importante porque dá direito de veto às leis aprovadas por suas assembleias locais.

Em Michigan, a governadora Gretchen Whitmer, candidata à reeleição, prometeu lutar para proteger o direito das mulheres ao aborto.

Whitmer já recorreu aos tribunais para impedir a implementação de uma lei de 1931 que proibia a interrupção voluntária da gravidez.

Gerard Filitti, conselheiro do grupo Lawfare Project, com sede em Nova York, acredita que os democratas podem reposicionar-se nas eleições de meio de mandato e concentrar a disputa na batalha pelos direitos fundamentais, e não sobre o custo de vida.

"A preocupação sobre os direitos civis pode facilmente superar a preocupação com a economia, e os republicanos não têm mais certeza de um caminho livre para a vitória", disse.

- "Incendiar os Estados Unidos" -

Do lado republicano, onde o fim do direito ao aborto foi muito elogiado, políticos tentam garantir que a decisão da Suprema Corte não acabe virando uma maçã envenenada que afaste seus eleitores moderados das urnas.

"Os republicanos farão todo o possível para que o debate retorne à inflação, à economia e aos preços da gasolina", temas com os quais atacam o governo Joe Biden há meses, prevê a consultora política e pesquisadora Carly Cooperman.

Em Nevada, onde o direito ao aborto é amplamente protegido, o candidato republicano Adam Laxalt pediu que a decisão do tribunal não "distraia os eleitores de observar os preços exorbitantes, o aumento da criminalidade ou a crise (migratória) em nosso fronteira".

Conservadores importantes como o republicano Lindsey Graham rapidamente colocaram a crise de segurança no centro do debate, acusando os manifestantes pró-escolha como "anarquistas" que querem "incendiar os Estados Unidos". Embora dezenas de detenções tenham sido anunciadas durante o fim de semana de protestos em todo o país, os incidentes de violência e vandalismo foram isolados e limitados.

Um juiz da Louisiana suspendeu temporariamente nesta segunda-feira (27) leis que proíbem o aborto neste estado do sul dos Estados Unidos, em uma rápida contraofensiva legal após a decisão da Suprema Corte de revogar esse direito a nível nacional.

Estudantes de medicina e demais interessados impugnaram na justiça local três leis que proíbem o aborto na Luisiana, argumentando que são demasiadamente "vagas" ao não especificarem claramente as exceções e sanções associadas.

Por isso, o juiz Robin Giarrusso suspendeu estas leis até uma audiência em 8 de julho.

"Os abortos podem ser retomados na Luisiana", tuitou imediatamento o Centro de Direitos Reprodutivos, que representou os demandantes.

"Cada dia a mais que uma clínica estiver aberta pode fazer a diferença na vida de alguém", disse sua presidente, Nancy Northup, em nota.

No entanto, é possível que esta vitória dure pouco, já que o procurador-geral da Luisiana, Jeff Landry, prometeu "fazer tudo o que estiver a seu alcance para garantir que as leis que protegem as crianças não nascidas entrem em vigor".

A Suprema Corte anulou na sexta-feira a jurisprudência obtida com o caso "Roe v. Wade", que durante 50 anos garantiu o direito das mulheres a interromper a gravidez, deixando aos estados a decisão de proibir ou não o aborto.

Vários dos estados governados por conservadores se apressaram para ilegalizar o aborto, apoiando-se em leis que permaneceram inativas até o momento.

Porém, estados democratas como California e Nova York buscaram converter-se em "santuários" para que as mulheres que desejem abortar possam fazê-lo com segurança.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, no último domingo (26), que se a sua filha mais nova, Laura Bolsonaro, de apenas 11 anos, fosse vitima de um estupro e engravidasse “faria o possível para que a criança nascesse viva”.

A declaração do mandatário aconteceu durante sua participação no programa 4X4, no Youtube. Ele foi questionado pelos jornalistas sobre o que achava do aborto que uma garota, de 11 anos, fez em Santa Catarina após ter sido vítima de um estupro.

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“Nós temos três condições para se realizar o aborto legal no Brasil: a anencefalia, riscos para a mãe, isso não chegou a conhecimento nosso, e em ultimo caso o estupro - que sempre fica uma incógnita -, já que muitas vezes a pessoa diz que foi estuprada e não revela o nome do abusador”, disse o presidente.

Bolsonaro disse entender que qualquer relação sexual com uma criança abaixo dos 14 anos, mesmo sendo “consentida”, é configurada como estupro no Brasil. No entanto, apontou acreditar “que não tem lei que possa dizer que esse aborto poderia ter sido legal. A condição que se encontrava a menina, com sete meses de gravidez, não se podia falar em aborto em hipótese alguma”, opinou o chefe do Executivo.

“Eu tenho uma filha de 11 anos, rezo a Deus que não aconteça isso com ela, mas se acontecesse, faríamos o possível para que essa criança nascesse viva”, assegurou.

A vítima de 11 anos conseguiu realizar o aborto na última semana. O seu caso ganhou bastante repercussão nacional após a Justiça de Santa Catarina negar a realização do aborto legal, que estava grávida a 22 semanas.

O MPF havia solicitado que o Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago (HU) realizasse o procedimento com urgência, porque, de acordo com o órgao, o aborto legal não requer autorização judicial. O HU havia negado anteriormente a interrupção da gestação, mas acabou acatando a ordem do MPF. 

A secretária da Família do governo Jair Bolsonaro, Angela Gandra, atuou no processo em que a Suprema Corte dos Estados Unidos reviu a prerrogativa jurídica que viabilizava o aborto regulamentado no país. Ela integrou um grupo de 19 brasileiros listados no processo como "amici curiae", convidados para a função de fornecer subsídios e embasamento às decisões do tribunal.

Ao todo, a Corte americana consultou 141 "estudiosos do Direito, incluindo ex-juízes e funcionários da Justiça, reitores e professores de faculdades". Filha do jurista Ives Gandra, Angela é doutora em Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e secretária do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

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A ex-ministra da pasta Damares Alves disse estar "orgulhosa" do trabalho desempenhado pela secretária nos EUA. No documento apresentado à Suprema Corte, os 141 juristas, incluindo os 19 brasileiros, "asseveram o direito inerente à vida do nascituro e reconhecem o interesse do Estado do Mississippi em limitar o acesso ao aborto".

"Os amici informam o tribunal que não há direito humano internacional ao aborto, e que o direito internacional baseia-se no entendimento do nascituro como titular de direitos", foi a conclusão do grupo.

Em jogo, estava uma lei de 2018 do Mississippi que proibia abortos se "a idade gestacional provável do feto humano" fosse determinada em mais de 15 semanas. Na prática, ao chancelar a lei do Mississippi, o tribunal se sobrepôs ao precedente legal estabelecido pelo caso Roe versus Wade, que estava em vigor havia quase 50 anos e mantinha a regulamentação do aborto a nível federal.

Proximidade

A lista oficial de "amici curiae" do julgamento cita Angela Gandra sem mencionar seu cargo no governo. Na prática, porém, o caso demonstra proximidade entre conservadores americanos e brasileiros. A decisão de dispor aos Estados a regulamentação do aborto, levando à proibição da prática em parte do território americano, foi comemorada nas redes por aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL). Como mostrou o Estadão, a determinação americana afetará leis sobre aborto pelo mundo, podendo ocasionar um efeito dominó para a derrubada de leis mais permissivas em outros países.

Quando F. descobriu que estava grávida pela oitava vez, teve vontade de chorar. Dona de casa e dependente do marido, agonizou durante três semanas sobre o que fazer e sempre chegava à mesma conclusão: "Não posso ter esse filho".

A coisa mais difícil para ela foi descobrir como os Estados Unidos se tornaram hostis contra o aborto. "Que opções eles nos deixam?", perguntou a mulher de El Paso, no estado conservador do Texas.

Depois que a Suprema Corte derrubou esse direito na sexta-feira, a expectativa é que mais da metade dos estados torne o procedimento ilegal, obrigando as mulheres a viajar centenas de quilômetros para ir a estados liberais que, devido ao sistema federal, podem manter regulamentos locais.

F., que pediu anonimato para não ser julgada, teve sorte de encontrar uma consulta a 45 minutos de casa.

A Clínica de Saúde Reprodutiva das Mulheres funciona desde 2015 em Santa Teresa, uma pequena cidade no Novo México, na fronteira com o Texas. A localização é única. Fica em um estado onde o aborto é legalizado, mas a cinco minutos da fronteira com o Texas, onde o procedimento é proibido após a sexta semana, quando muitas mulheres ainda não sabem que estão grávidas.

Na sala de espera da clínica, a maioria das mulheres chega sozinha e aguarda em silêncio. As paredes em tons quentes contrastam com o uniforme fúcsia de algumas enfermeiras. Outros vestem camisetas com o mapa do Texas e a legenda: "A acusação é injusta".

As pacientes dizem que se sentem envergonhadas e julgadas em seus ambientes sociais, mas com máscaras cobrindo metade do rosto, ganham anonimato. Uma por uma, elas são chamadas por números e não por seus nomes.

Ataques

"A coisa mais difícil para mim foi decidir como chegaria aqui, porque sei que há muito estigma", diz Ehrece, uma engenheira de 35 anos que viajou mais de 1.600 quilômetros de Dallas.

"Pedi ao taxista que me deixasse no posto de gasolina mais à frente e caminhei até aqui, para não saber para onde estava indo", admitiu a jovem ,que tem namorado e que não quer começar um família agora por motivos profissionais.

Ehrece não exagera. A chamada "Lei do Batimento Cardíaco" em vigor no Texas desde setembro permite criminalizar qualquer pessoa que contribua para o procedimento, incluindo motoristas ou pessoal médico.

"Eles não facilitam as coisas para você", lamentou Emily, uma professora de yoga de 35 anos que não quer ser mãe. "Antes de vir você se preocupa que alguém te ataque fora da clínica ou que algum louco virá com uma arma".

As mudanças não assustam o Dr. Franz Theard, responsável pela clínica. O obstetra de 73 anos realiza abortos desde 1984, pouco antes de agressores nos Estados Unidos bombardearem clínicas e matarem médicos.

"Tivemos sorte que o estado do Novo México tenha leis muito liberais", disse ele à AFP. "Temos certificação para tudo, mas eles não nos perseguem. No Texas, tínhamos que relatar todos os detalhes de cada paciente mensalmente".

Theard não faz mais cirurgias, prescrevendo apenas pílulas abortivas, permitidas até a décima semana no Novo México: um comprimido de Mifepristone, que impede o avanço da gravidez, e quatro de Misoprostol no dia seguinte, que induzem o sangramento. O procedimento custa US$ 700, com algumas exceções socioeconômicas.

Como as enfermeiras e assistentes da clínica, Theard não teme retaliação, nem se intimida com as poucas pessoas que ficam do lado de fora de sua clínica todos os dias pedindo às pacientes que repensem sua decisão.

Lá dentro, o telefone não para de tocar. "Quantas semanas você tem?", pergunta ao telefone a assistente Rocío Negrete. "Temos consultas, mas só podemos atendê-la se for até a décima semana", continua.

O diálogo é repetido várias vezes ao dia. Negrete conta que, com as restrições, aumentou o número de pacientes de outros estados. Mas algumas mulheres, por medo ou razões econômicas, cruzam outra fronteira.

"Exaustivo"

A meia hora de carro, na cidade fronteiriça mexicana de Ciudad Juárez, algumas farmácias vendem o Misoprostol sem receita, também indicado para tratar úlceras. A caixa de 28 comprimidos custa entre 20 e 50 dólares. A mifepristona não está disponível abertamente, mas é oferecida de forma ilícita.

"As mulheres compram isso e não sabem como tomar", disse um farmacêutico na Ciudad Juárez com uma caixa de Misoprostol nas mãos. "É um perigo, elas podem ter hemorragia, então é melhor consultar um médico".

Em Santa Teresa, as mulheres, com diferentes contextos e circunstâncias econômicas, concordam que daí a importância da legalidade do procedimento e de acabar com o estigma.

“Se uma mulher quiser fazer um aborto, ela o fará. Haverá todo tipo de alternativas ilegais, com as quais uma mulher pode até morrer”, diz Ehrece.

"É exaustivo. Não faz sentido que em 2022 não possamos tomar nossas próprias decisões", acrescenta.

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