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Em Kandahar, berço do Talibã no Afeganistão, quase nenhuma mulher foi vista nas ruas desde o retorno ao poder dos fundamentalistas islâmicos. Mas Fereshteh, Fauzia e outras colegas tentam superar seus medos para continuar trabalhando ou estudando.

Fereshteh e Zohra têm quase a mesma idade, 23 e 24, e o mesmo medo: que um talibã se aproxime de surpresa e jogue ácido em seus rostos.

Desde seu retorno ao poder em meados de agosto, o Talibã não atacou fisicamente mulheres que estudam ou trabalham em Kandahar (sul), de acordo com vários depoimentos. E o último ataque com ácido a estudantes da mesma cidade data de mais de doze anos.

Mas a memória dos anos 1990, quando o Talibã impedia as mulheres de trabalhar, estudar ou sair sozinhas ou sem burca, basta para que estas abandonassem as longas e poeirentas avenidas comerciais de Kandahar.

As poucas mulheres vistas nas ruas são como sombras em burcas, correndo pelas lojas, com sacolas de compras nas mãos.

"Antes éramos felizes por vir trabalhar, agora isso nos aflige", diz à AFP Fereshteh Nazari, diretora da escola feminina Sufi Sahib em Kandahar.

"Na rua, os talibãs não dizem nada, mas dá para ver que eles nos olham de soslaio".

Na escola onde trabalha, "a maioria dos pais não manda mais suas filhas com mais de 10 anos para a aula", porque "elas não se sentem mais seguras".

Naquele dia, 700 meninas foram para a escola, em comparação com 2.500 que frequentavam antes.

"Além das compras, que fazemos muito rapidamente, não vamos mais a lugar nenhum, vamos muito rápido para casa", confirma Fauzia, uma estudante de medicina de 20 anos que prefere não revelar seu nome verdadeiro por questões de segurança.

Já os homens aproveitam para bater um papo por horas na calçada, em restaurantes ou bares de "shisha".

Zohra, uma estudante de matemática que também não quer dar seu nome verdadeiro, decidiu parar de ir às aulas, como várias de suas amigas, após rumores de possíveis ataques de ácido.

"Para mim, a vida é mais importante do que qualquer outra coisa", diz.

Mas outras não podem se dar ao luxo, como Fereshteh e suas colegas professoras, que aguardam seus salários, congelados desde a queda do governo anterior há quase dois meses.

"Podemos acabar pedindo esmolas no mercado", suspira a jovem diretora, morena de grandes olhos pretos realçados com kohl, que usa um lenço preto bordado com lantejoulas cintilantes nos cabelos.

"Não temos mais dinheiro. Meu marido perdeu o emprego e tenho que alimentar nossos dois filhos", explica uma colega de Fereshteh, que prefere não revelar seu nome e que, como muitas mulheres no Afeganistão, diz que está "deprimida" .

- "Problema delas" -

Fauzia também está com problemas. Órfã, ela é responsável por alimentar seus quatro irmãos com entre 13 e 17 anos. Até agosto, trabalhava em uma rádio local, onde dava voz a comerciais.

Mas depois de tomar a cidade, o Talibã "postou mensagens no Facebook dizendo que não queria mais música ou vozes femininas nas rádios", disse uma das autoridades da estação.

"Paramos e é uma pena, porque as vozes das mulheres funcionam melhor para atrair a atenção do público", acrescenta.

Desde então, Fauzia deixou seu currículo por toda a cidade, principalmente para cargos de professora. Mas tudo parece estagnado. "Eles me dizem para esperar", diz.

Mas começa a desesperar, porque "o Talibã não diz mais nada".

Oficialmente, os fundamentalistas negam querer retornar ao regime extremista dos anos 1990. "Não proibimos nada às mulheres", disse o mulá Noor Ahmad Saeed, um dos líderes talibãs da província de Kandahar.

"Se não se sentem seguras ou não voltam ao trabalho, é problema delas", afirmou, indiferente. Os talibãs, que vão seguir "as regras do Islã" acima de tudo, "ainda estão estudando" o assunto, acrescentou, sem dar mais detalhes.

Fauzia vê a pressão social aumentar, mesmo em sua própria casa. "Meu irmão me diz para cobrir o rosto, para não ver mais meus amigos, para não ir a lugar nenhum, exceto para a escola".

No pátio da escola, uma das alunas de Fereshteh, Shahzia, de 12 anos, sente falta do governo anterior, que havia promovido a educação de meninas. "Queremos liberdade", mas na realidade "teremos que fazer o que eles nos dizem, caso contrário, teremos problemas".

Pelo menos dois civis foram mortos e outros três feridos numa explosão em Cabul, no Afeganistão, neste domingo, 3, perto da mesquita de Id Gah, onde se celebrava uma cerimônia em memória à mãe de um líder do Taleban.

Até agora, nenhum grupo ou organização armada reivindicou a responsabilidade pelo ataque. A mesquita Eid Gah, localizada na capital do Afeganistão, fica a poucos metros do palácio presidencial e da sede do Ministério da Defesa.

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"Segundo as nossas informações, dois civis foram mortos e três feridos na explosão", disse à AFP o porta-voz do Ministério do Interior, Qari Sayed Khosti.

Alguns minutos antes, o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, tuitou: "Uma explosão teve como alvo durante a tarde uma reunião de civis perto da entrada da mesquita Id Gah em Cabul e matou várias pessoas."

Ahmadullah, um comerciante cuja loja está perto da mesquita, disse à AFP que "ouviu o som de uma explosão seguida de tiros".

Após o ataque, a área em torno da mesquita foi isolada pelos taleban, com forte esquema de segurança.

Os taleban tinham anunciado numa declaração no dia anterior que a cerimônia seria realizada na mesquita no domingo à tarde.

O último ataque mortal em Cabul ocorreu em 26 de agosto, quando pelo menos 72 pessoas morreram e mais de 150 ficaram feridas numa explosão ao aeroporto de Cabul reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (IS).

Sob o nome Estado Islâmico da Província de Khorasan, IS-K reivindicou a responsabilidade por alguns dos ataques mais sangrentos dos últimos anos no Afeganistão.

Reunião taleban

No início da manhã, os taleban organizaram uma primeira reunião de quase 1.500 apoiadores para celebrar sua vitória, sete semanas depois de assumirem o controle do país, em 15 de agosto.

O comício ocorreu em Kohdaman, perto de Cabul.

No palco, Mawlawi Muslim Haqqani, vice-ministro dos assuntos religiosos, elogiou a vitória do movimento islâmico, que disse ter marcado a derrota dos "cristãos" e dos "ocidentais".

Apenas homens e rapazes participaram do evento, em cadeiras ou sentados no chão debaixo de lonas erguidas no meio de um terreno baldio.

Ao redor, dezenas de guardas armados ficaram de prontidão enquanto os combatentes taleban chegavam.

"A América derrotada. Impossível. Impossível. Mas é possível", disse uma das canções tocadas, apesar de a música ser teoricamente proibida pelo movimento islâmico.

O evento começou solenemente com uma procissão de homens armados que agitavam a bandeira branca taleban com a profissão de fé muçulmana inscrita em preto. Alguns carregavam um lançador de foguetes sobre os ombros.

Os civis participantes na reunião usavam vestuário tradicional ou pelo menos chapelaria. A maioria estava desarmada. Quando os organizadores chegaram, cantaram o tradicional "takbir", a fórmula religiosa "Allah Akbar" (Deus é o maior) repetida várias vezes. Alguns gritaram slogans pró-Taleban.

Outro orador, que disse chamar-se Rahmatullah, afirmou que após 20 anos de guerra no país, a vitória foi possível graças "às fileiras de jovens que se apresentaram como candidatos ao martírio".

'Os seus termos'

"As Nações Unidas são simplesmente o outro nome dos Estados Unidos e o seu objetivo é destruir países muçulmanos, se aceitarmos os seus termos, não faremos melhor do que o governo anterior", disse Mohamad Akram, chefe de um grupo de comando taleban.

Sete semanas após a tomada do poder pelos combatentes, o "Emirado Islâmico", o novo regime decretado pelo Taleban, tenta afirmar a sua legitimidade tanto aos olhos da população como a nível internacional.

Milhares de afegãos e parte da oposição fugiram do país por medo de represálias por parte do movimento fundamentalista.

No interior do país, a oposição civil tornou-se impossível. Desde 8 de setembro, os taleban reprimiram todas as manifestações e tomaram "medidas legais severas" contra qualquer pessoa que infringisse as suas regras.

Em setembro, taleban armados dispersaram manifestações em várias cidades, incluindo Cabul, Faizabad e Herat, onde duas pessoas foram mortas.

Na capital, milícias armadas dispersaram à força as poucas manifestações que reuniam um punhado de mulheres para exigir o direito à educação.

No início de agosto, os taleban formaram um governo chefiado por Mohamad Hasan Akhund, antigo associado próximo do fundador do movimento, Mullah Omar, que morreu em 2013. Todos os membros pertencem ao grupo fundamentalista e quase todos são pashtuns étnicos.

O governo enfrenta o desafio da gestão civil num país economicamente empobrecido e ameaçado por uma grave crise humanitária.

Nenhum país reconheceu ainda o novo regime do Afeganistão, embora Paquistão, China e Catar tenham dado sinais de abertura.

A Secretária de Estado Adjunta dos EUA Wendy Sherman viajará para o Paquistão na quinta e sexta-feira para discutir, entre outras coisas, como o novo regime taleban pode ser pressionado a respeitar os direitos fundamentais. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Quase 1.500 simpatizantes do movimento Talibã se reuniram neste domingo (3) para celebrar a vitória no Afeganistão, no primeiro encontro organizado fora de Cabul, sete semanas após o retorno dos fundamentalistas ao poder.

A concentração aconteceu no município de Kohdaman, perto da capital do país.

No palanque, Mawlawi Muslim Haqqani, vice-ministro de Assuntos Religiosos, elogiou a vitória do movimento islamita que, segundo ele, marca a derrota dos "cristãos e dos ocidentais".

Apenas homens e meninos estavam presentes na celebração, organizada em um terreno baldio.

Do lado de fora, dezenas de guardas armados vigiavam, enquanto os combatentes talibãs chegavam de caminhonetes.

"Estados Unidos derrotado. Impossível. Impossível. Mas possível", afirmava uma das canções de boas-vindas, apesar de a música, em tese, ser proibida pelo movimento islamita.

O ato começou com um desfile de homens armados vestidos com roupas de combate e que exibiam a bandeira do Talibã com a profissão de fé muçulmana. Alguns carregavam lança-foguetes no ombro.

Muitos civis que participaram no encontro usavam roupas tradicionais. A maioria estava desarmada. Quando os organizadores chegaram, eles entoaram o tradicional "takbir", a frase religiosa "Alá Akbar" (Deus é grande) repetida várias vezes. Alguns gritaram slogans pró-Talibã.

Outro orador, que se identificou apenas como Rahmatullah, afirmou que após uma guerra de 20 anos no país, onde os combates parecem ter sido interrompidos, a vitória foi possível graças "às fileiras de jovens que se apresentaram como candidatos ao martírio".

- "Termos" -

"ONU é simplesmente o outro nome dos Estados Unidos e seu mandato consiste em destruir os países muçulmanos. Caso aceitem os seus termos, não farão melhor que o governo anterior", disse Mohamad Akram, líder de um comando Talibã.

Sete semanas após a tomada de poder, o "Emirado Islâmico", novo regime decretado pelos talibãs, tenta estabelecer sua legitimidade tanto entre a população como a nível internacional.

Milhares de afegãos e parte da oposição fugiram do país pelo temor de represálias do movimento fundamentalista.

A oposição civil se tornou impossível. Desde 8 de setembro, o Talibã reprime todas as manifestações e adotam "ações legais severas" contra quem não obedece suas normas.

Nas últimas semanas, combatentes talibãs armados dispersaram manifestações em várias cidades, incluindo Cabul, Faizabad e Herat - duas pessoas morreram nesta última.

Na capital, milícias armadas dispersaram à força as poucas manifestações que reuniram algumas mulheres para exigir o direito à educação.

Ao mesmo tempo, o Talibã convidou 300 mulheres, completamente cobertas por véus, para expressar apoio público ao novo regime em uma conferência organizada na Universidade de Cabul em setembro.

No início de agosto, o grupo anunciou um governo liderado por Mohamad Hasan Akhund, colaborador e próximo ao fundador do movimento, o mulá Omar, falecido em 2013. Todos os membros são talibãs e quase todos da etnia pashtun.

O governo enfrenta o desafio da gestão civil em um país paralisado economicamente e ameaçado por uma grave crise humanitária.

Nenhum país reconheceu até o momento o novo regime do Afeganistão, embora Paquistão, China e Catar tenham apresentado sinais de abertura.

A subsecretária de Estado americana, Wendy Sherman, viajará ao Paquistão durante a semana e pretende abordar, entre outros temas, a maneira de pressionar o novo regime Talibã a respeitar os direitos fundamentais.

"Isto é o Afeganistão", grita com alegria um combatente talibã ao sentar em um barco pirata com alguns colegas de armas em um parque de diversões ao oeste de Cabul.

Com os fuzis Kalashnikov ou MP4 amarrados ao peito, os soldados se agarram a bancos de aço coloridos enquanto são jogados para frente e para trás, com seus lenços e turbantes ao vento.

Eles decidiram que o lança-foguetes que um deles carregava minutos antes deveria ficar no chão. Por precaução.

Os combatentes talibãs parecem tranquilos seis semanas após a chegada do movimento islamita à capital afegã e seu retorno ao poder, duas décadas após a expulsão de Cabul durante uma intervenção internacional liderada pelos Estados Unidos.

Desde então, a população teme o retorno do regime fundamentalista imposto nos anos 1990, quando a maioria das opções de entretenimento - como a música, fotografia e televisão - foram proibidos.

Os islamistas tentam tranquilizar os afegãos e a comunidade internacional e afirmam que serão menos rígidos que no passado. Mas as promessas provocam ceticismo entre os analistas.

Este grupo - com integrantes de 18 a 52 anos - aproveita um pequeno parque de diversões próximo do lago Qarghah, nos arredores da capital afegã. De modo geral, o local atrai famílias e crianças para aproveitar a roda gigante e o carrossel.

Desde que assumiram o poder, milhares de talibãs de todo país, geralmente procedentes da área rural, chegaram a Cabul.

Dentro deste pequeno grupo de combatentes, a maioria entra pela primeira vez em um parque de diversões. Após a volta de três minutos termina, eles aplaudem e sorriem. E o lança-foguetes volta para os braços de seu dono.

Às margens do lago pitoresco, outros membros do Talibã entram em pedalinhos com a forma de cisne, enquanto o sol começa a se pôr atrás das colinas próximas.

Ainda com suas armas, eles partem em pares através da água nos pequenos pedalinhos com as cores rosa, azul, verde e amarelo. Os talibãs sorriem durante os choques dos pequenos barcos.

Vestidos com uniformes de camuflagem ou roupas tradicionais afegãs, eles posam com seus fuzis enquanto amigos tiram fotos.

Alguns membros mais velhos do Talibã aproveitam o momento para rezar no pequeno cais, onde depositam seus xales entre dois botes.

Em busca de legitimidade internacional, o Taleban nomeou seu porta-voz baseado em Doha, Suhail Shaheen, como embaixador do Afeganistão na Organização das Nações Unidas (ONU) e pediu espaço para um discurso de seu chanceler, Amir Khan Muttaqi, durante a Assembleia-Geral, que vai até segunda-feira (27).

O ministro das Relações Exteriores do governo do Taleban, Amir Khan Muttaqi, fez o pedido em uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na segunda-feira.

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Muttaqi pediu para falar durante a reunião anual da Assembleia-Geral, que termina na próxima segunda-feira. O porta-voz do português, Farhan Haq, confirmou o recebimento da correspondência.

A iniciativa do grupo extremista, que retomou o poder após a retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, é mais um passo em busca de legitimidade internacional - que, por sua vez, auxiliaria a ampliar a ajuda humanitária e a obter fundos em reservas internacionais para reativar a economia.

Da primeira vez em que governou o país, de 1996 a 2001, o Taleban tinha reconhecimento oficial apenas de Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

O movimento estabelece um conflito com o atual representante do país na ONU, Ghulam Isaczai, nomeado pelo governo de Ashraf Ghani. O ex-presidente, derrubado pelo Taleban, se refugiou em Abu Dhabi no dia da reconquista da capital, Cabul. A mensagem do Taleban diz que a missão de Isczai está "considerada encerrada".

Guterres disse que o desejo do Taleban de reconhecimento internacional é a única alavanca que outros países têm para pressionar por um governo inclusivo e que respeite os direitos humanos, especialmente das mulheres, no Afeganistão.

Até que uma decisão seja tomada pelo comitê, Isaczai permanecerá na cadeira, de acordo com as regras da Assembleia-Geral. Ele deverá discursar no último dia da reunião, em 27 de setembro, mas não ficou claro se algum país poderia objetar após a carta do Taleban.

O comitê tradicionalmente se reúne em outubro ou novembro para avaliar as credenciais de todos os membros da ONU antes de enviar um relatório para aprovação da Assembleia-Geral antes do final do ano. O comitê e a Assembleia-Geral geralmente operam por consenso em relação às credenciais, disseram diplomatas.

Um porta-voz da entidade disse que o secretário-geral recebeu também uma segunda carta, enviada pelo atual embaixador, com data de 15 de setembro, informando os integrantes da delegação afegã.

Shah Mahmood Qureshi, chanceler do Paquistão, país vizinho ao Afeganistão, disse em uma entrevista classificou o pedido do Taleban como complexo.

"Quem ele representa? A quem ele se reporta? Que tipo de comunicação você pode ter com uma pessoa na ONU que não tem reconhecimento? É uma situação complexa e que está em andamento", disse, segundo relatado pelo jornal americano The New York Times.

Haq explicou que o pedido de Muttaqi foi encaminhado para um comitê de credenciais, que possui entre seus nove membros EUA, China e Rússia - Pequim e Moscou buscam ocupar o vácuo de influência deixado pela retirada de Washington do Afeganistão e já disseram que podem firmar relações com os taleban.

É improvável, no entanto, que a cúpula se reúna para discutir a questão antes de segunda, o que torna difícil um pronunciamento de Muttaqi no evento que reúne mais de cem líderes mundiais em Nova York.

Pelas regras da ONU, as credenciais continuam com Isaczai, que teria seu pronunciamento na Assembleia-Geral pré-agendado para o próximo dia 27. O comitê de credenciais se reúne geralmente entre outubro e novembro para analisar os pedidos das delegações.

O Taleban ainda é alvo de sanções econômicas de organismos multilaterais, e delegações alertaram à Assembleia-Geral que qualquer mudança na representação do Afeganistão precisaria ser analisada de forma criteriosa.

Líderes que já discursaram no evento iniciado na terça-feira, 21, manifestaram preocupação com o futuro do Afeganistão. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Aos poucos, o Talibã exclui as mulheres da vida pública no Afeganistão, mas algumas estão decididas a se manifestarem, apesar das represálias do movimento fundamentalista islâmico.

No mandato anterior, de 1996 a 2001, os talibãs ganharam fama por esmagarem os direitos das mulheres, que eram proibidas de estudar ou trabalhar e só podiam sair de casa na companhia de um homem.

De volta ao poder, prometeram mudar e afirmaram que respeitariam os direitos das mulheres de acordo com a lei islâmica, promessas que, no entanto, despertaram dúvidas.

Em Cabul, a cidade que mais mudou nos últimos 20 anos, algumas jovens, como a ativista Shaqaiq Hakimi, se recusam a passar pelo exílio forçado após o retorno ao poder do regime talibã.

"Quero lutar e recuperar os direitos que nos foram tirados. Não precisamos ir para outro país. Esta é a nossa casa", disse à AFP.

"Se eles não nos obrigarem a sair, não iremos a lugar nenhum".

O Talibã garante que as restrições ao retorno das mulheres ao trabalho ou ao ensino médio serão suspensas assim que os novos sistemas forem colocados em prática.

Mas essas medidas lembram os primeiros dias de seu primeiro governo, quando as mulheres nunca mais foram autorizadas a exercer sua profissão ou a retornar às salas de aula.

Farkhunda Zahidbaig, de 21 anos e funcionária de uma ONG, contou que o Talibã entrou em seu escritório e disse aos chefes que as mulheres deveriam voltar para casa e parar de trabalhar.

"Depois disso, nosso chefe tomou a decisão de que o resto de nós não deveria voltar para o escritório".

"As mulheres querem ter uma profissão, mas [...] não podem continuar em seus empregos. O Talibã retirou sua liberdade de trabalhar", garante.

- "Medo" -

Shabana, uma afegã de 26 anos que deseja permanecer anônima, disse que tem medo de nunca encontrar trabalho novamente.

Sem emprego, não será capaz de atender às necessidades de seus entes queridos.

"Estou muito preocupada porque eu sou a única que sustento a minha família", afirma a mulher, ex-funcionária de uma organização sueca.

As vitórias conquistadas pelas mulheres durante os 20 anos de governos apoiados pelo Ocidente foram praticamente limitadas às cidades deste país profundamente conservador. Agora, o Talibã tem sido duramente criticado por desfazê-las.

Diante das críticas, o movimento disse na terça-feira que permitiria que as meninas voltassem à escola "o mais rápido possível", mas não forneceu um cronograma.

Seu governo, composto apenas por homens, também fechou o ministério dedicado aos assuntos da mulher da gestão anterior e o substituiu por outro que ganhou notoriedade durante seu primeiro governo, com o objetivo de reforçar a doutrina religiosa.

À preocupação que as mulheres sentem por terem perdido o emprego, soma-se o medo de muitas delas saírem sozinhas de casa.

"Temos medo de sair na rua e que os talibãs nos chicoteiem ou nos espanquem", admitiu Shabana, que se locomovia por Cabul com seu pai.

"Não podemos nem ir à feira sozinhas", acrescentou.

Enquanto isso, Hakimi disse que vai esperar para ver se o Talibã cumpre sua promessa e se as mulheres afegãs voltarão a trabalhar ou estudar.

"Eu só espero que o façam".

As alunas do ensino médio voltarão em breve às escolas do Afeganistão, afirmou nesta terça-feira (21) o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, que também anunciou os nomes de vários ministros, confirmando que o novo governo será 100% masculino.

"Estamos finalizando as coisas e isto acontecerá assim que possível", disse o porta-voz. As meninas não foram autorizadas a retornar com os meninos às aulas do ensino médio no sábado passado, o que provocou críticas dentro e fora do país.

A comunidade internacional teme a repetição da situação registrada entre 1996 e 2001, durante o regime Talibã anterior, quando as mulheres foram impedidas de trabalhar e estudar, entre outras proibições.

As aulas no Afeganistão foram interrompidas em agosto, quando os combatentes talibãs assumiram o poder e foi concluída a retirada das tropas estrangeiras do país.

Desde então, as meninas do ensino fundamental e as universitárias retornaram às aulas, mas com restrições, começando pela separação dos alunos homens.

Também nesta terça-feira, Mujahid anunciou os nomes dos ministros que ainda faltavam para completar o governo. No dia 7 de setembro, o Talibã havia anunciado a maior parte do novo Executivo, formado por líderes históricos do movimento islamita radical.

O governo é composto apenas por homens e não existe um ministério dedicado às mulheres - o governo derrubado pelo Talibã tinha uma pasta ministerial dedicada à questão.

O porta-voz afirmou que este é um governo de transição que será reforçado no futuro.

Além disso, ele garantiu que o Talibã tem fundos para pagar os funcionários públicos, mas "precisa de tempo". Muitos trabalhadores reclamaram nas ruas do país nos últimos dias porque não recebem os pagamentos há pelo menos dois meses.

O grupo Estado Islâmico no Afeganistão (EI-K) reivindicou a autoria de ataques realizados neste sábado e domingo contra os talibãs na cidade de Jalalabad, segundo seu órgão de propaganda Amaq.

Em dois comunicados, o EI afirma ter sido o autor de "três atentados a bomba separados contra três veículos dos talibãs" ocorridos ontem em Jalalabad, e de outro "ataque a bomba" realizado neste domingo contra "um veículo dos talibãs" naquela mesma grande cidade do leste afegão.

O Conselho de Segurança da ONU renovou nesta sexta-feira (17) por seis meses sua missão política no Afeganistão (Manua) em uma resolução que também pede um "governo inclusivo e representativo" do Talibã e a participação das mulheres na vida social.

A resolução, aprovada por unanimidade pelos 15 membros do Conselho, insiste na "importância de estabelecer um governo inclusivo e representativo" e apela à "participação plena, igualitária e significativa das mulheres e ao respeito pelos direitos humanos, incluindo mulheres e crianças e minorias".

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O texto foi elaborado pela Estônia e pela Noruega, país que celebrou a "mensagem de união" que o Conselho envia ao Afeganistão.

Em agosto, uma resolução do Conselho de Segurança pedindo liberdade de movimento para os afegãos que desejam deixar o país obteve apenas 13 votos, com a abstenção da Rússia e da China.

Em seu último documento, o Conselho de Segurança destaca o "importante papel que as Nações Unidas continuarão a desempenhar na promoção da paz e da estabilidade no Afeganistão".

A resolução também reconhece "a necessidade de redobrar os esforços para fornecer ajuda humanitária ao Afeganistão" e destaca a "importância da luta contra o terrorismo" no país.

Segundo fontes diplomáticas, o Talibã não se opôs à extensão da missão da ONU.

“Eles são obrigados a serem mais flexíveis” e “são mais pragmáticos” do que durante seu governo anterior no final dos anos 1990, considerou um especialista em Afeganistão das Nações Unidas que pediu para permanecer anônimo. “O Talibã precisa da ONU e é a nossa porta para influenciar suas decisões”, disse ele à AFP.

Os membros do Conselho de Segurança também pedem em sua resolução que o secretário-geral da organização, Antonio Guterres, lhes informe sobre a situação no Afeganistão e as atividades da Manua a cada dois meses até meados de março. Eles também pedem a apresentação de um relatório escrito até 31 de janeiro sobre o futuro do mandato da missão da ONU.

Este documento deve incluir "recomendações operacionais e estratégias considerando os recentes eventos políticos, de segurança e sociais", especifica a resolução.

Nas últimas semanas, várias ONGs, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, insistiram para que a ONU e os seus quase 2.000 representantes no Afeganistão mantivessem a sua presença no país para fiscalizar possíveis abusos de direitos humanos.

Era um dos lugares mais temidos pelos talibãs, onde milhares deles ficaram presos por lutarem contra o governo afegão. Hoje, o centro penitenciário de Pul-e-Charkhi, ao leste de Cabul, é um local totalmente abandonado.

Os uniformes dos guardas estão pelo chão, abandonados em meio à debandada das antigas autoridades. Nas celas, vê-se roupas, sapatos e rádios, entre outros objetos. Os detentos muitas vezes fugiram com a roupa do corpo e o que conseguiram levar nas costas.

Cobertos de moscas, alimentos apodrecem aqui e ali. Há lixo no chão e nas escadas do presídio. Um odor fétido emerge do local, ao qual se mistura o cheiro das latrinas.

Os talibãs que controlam Pul-e-Charkhi afirmam que cada um dos 11 blocos da ala principal abrigava 1.500 reclusos, em uma prisão construída, originalmente, para receber cerca de 5.000.

Muitos fundamentalistas acabaram presos, rodeados por ladrões, criminosos, ou combatentes do grupo Estado Islâmico (EI).

O lema da bandeira do EI aparece pintado de preto na parede de uma cela. No vão de uma escada, as palavras "Estado Islâmico" estão gravadas em gesso.

O novo regime afegão garante que investigações estão sendo feitas para encontrar prisioneiros do EI. Os talibãs e o EI são rivais, e seus combatentes lutaram ferozmente no leste do país.

- "Horror" -

A construção do Pul-e-Charkhi, a maior prisão do Afeganistão, começou na década de 1970. Este centro penitenciário foi criticado por grupos de defesa dos direitos humanos pelas condições de vida subumanas impostas aos detentos.

Nos parcos dormitórios, aglomeravam-se entre 15 e 20 prisioneiros. Grandes lenços serviam como cortinas para garantir um mínimo de privacidade.

Algumas paredes são revestidas de papel com motivos tropicais e as três cores da antiga bandeira afegã - vermelho, verde e preto. Agora, a bandeira nacional é a talibã, branca e com uma inscrição em preto da profissão da fé muçulmana.

A sala de oração, onde dezenas de tapetes estão cuidadosamente dobrados, é, sem dúvida, o lugar mais organizado da prisão. Uma outra área do centro foi transformada em uma pequena madrassa (escola corânica).

Perto de uma das entradas, um escritório foi completamente incendiado. Tudo que restou foi a estrutura de aço do beliche de um agente penitenciário. A sala foi queimada para destruir documentos relacionados aos prisioneiros, explicam os talibãs presentes.

Uma parede está crivada de buracos de balas. Na véspera da retomada do poder por parte do Talibã em meados de agosto, ex-policiais do governo abriram fogo, matando vários de seus membros que estavam presos, relatam os islâmicos. A AFP não conseguiu verificar estas informações com fontes independentes.

Pul-e-Charkhi era um "lugar de horror", disse Mawlawi Abdulhaq Madani, um combatente talibã de 33 anos, feliz que seus colegas tenham podido deixar esta prisão.

Do lado de fora, cães e gatos perambulam pela estrada ao redor deste vasto complexo circular, delimitado por um muro de quatro metros de altura, coberto com arame farpado e torres de vigilância agora desnecessárias.

Do futebol à natação, passando pelo atletismo e hipismo. Em Cabul, o novo diretor de esportes do Taleban, Bashir Ahmad Rustamzai, anunciou nesta quarta-feira que todos os homens do Afeganistão estão autorizados a praticar "até 400 esportes". No entanto, o direito ainda não foi estendido às mulheres do país para realizar qualquer atividade esportiva em público.

Segundo Rustamzai, a única exigência é que todos os esportes "sejam praticados de acordo com a lei islâmica", o que representa poucos problemas para os homens. Para cumprir com a sharia - conjunto de leis islâmicas baseadas no Alcorão -, eles precisam apenas cobrir os joelhos. Isso vale para todos os esportes, incluindo o futebol.

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Governos do ocidente esperam uma mudança por parte do grupo em relação ao assunto. Algumas declarações, porém, geram sérias dúvidas. Há uma semana, o funcionário taleban Ahmadullah Wasiq disse ao jornal australiano SBS que o governo não deve permitir que as mulheres joguem críquete, se estiverem expostas ao público.

"É possível que enfrentem uma situação em que seu rosto e corpo não estejam cobertos. O Islã não permite que as mulheres sejam vistas assim", destacou.

Depois das declarações de Ahmadullah Wasiq, a Austrália ameaçou cancelar a primeira partida histórica masculina entre os dois países, programada para ser disputada em novembro, em Hobart. Nesta quarta-feira, cerca de 100 jogadoras afegãs de futebol feminino conseguiram deixar o país e embarcaram rumo ao vizinho Paquistão.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump aproveitou o vigésimo aniversário dos ataques de 11 de Setembro para criticar a "administração inepta" de Joe Biden por sua "incompetência" em se retirar do Afeganistão.

"Este é um dia muito triste", disse o ex-presidente, acrescentando que o 11 de Setembro "representa uma grande dor para o (seu) país".

"É também um momento triste pela forma como a nossa guerra contra aqueles que causaram tantos danos ao nosso país terminou na semana passada", continuou.

Trump se referiu ao fim da guerra no Afeganistão, lançada após os ataques da Al-Qaeda ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono em Washington DC.

A Al-Qaeda se refugiou no Afeganistão, controlado pelos talibãs, e a invasão americana derrubou o regime islâmico na tentativa de encontrar os líderes do grupo.

Mas os talibãs logo lançaram uma insurgência e, após duas décadas de combates em que civis afegãos pagaram um alto preço, voltaram ao poder no mês passado, quando os Estados Unidos retiraram todas as suas tropas.

"O líder do nosso país pareceu um idiota e isso nunca pode ser permitido", acrescentou.

Ele culpou o "mau planejamento, fraqueza incrível e líderes que realmente não entendiam o que estava acontecendo".

Trump também lamentou a morte de 13 soldados americanos em uma explosão em Cabul no mês passado durante a retirada frenética do Afeganistão, e os bilhões de dólares em equipamentos militares dos EUA deixados para trás e recuperados pelo regime talibã "sem ser disparado um único tiro."

"Joe Biden e sua administração inepta se renderam derrotados", continuou Trump. "Vamos lutar para nos recuperar da vergonha que esta incompetência causou."

O novo governo do Afeganistão, de linha dura apesar das promessas do Talibãs de que seria representativo, enfrenta a partir desta quarta-feira (8) o desafio de convencer o mundo sobre suas boas intenções, em meio a protestos organizados nas grandes cidades do país.

Como nos últimos dias, a quarta-feira registrou vários protestos contra o regime talibã, após a morte na véspera de duas pessoas durante uma manifestação em Herat (oeste).

Um pequeno grupo de manifestantes foi rapidamente dispersado por combatentes talibãs em Cabul. O mesmo aconteceu em Faizabad (nordeste), segundo a imprensa local.

No poder desde meados de agosto, duas décadas após o regime fundamentalista e brutal que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, o Talibã anunciou na terça-feira a formação de um governo interino.

Todos os membros do Executivo, liderado por Mohammad Hasan Akhund, um ex-colaborador próximo ao fundador do movimento, o mulá Omar, são talibãs. E quase todos pertencem à etnia pashtun.

Vários novos ministros, incluindo alguns que foram muito influentes no regime Talibã anterior, figuram nas listas de sanções da ONU. Quatro deles passaram pela prisão americana de Guantánamo.

Abdul Ghani Baradar, cofundador do movimento, é vice-primeiro-ministro e o mulá Yaqub, filho do mulá Omar, titular da pasta da Defesa.

O ministério do Interior foi atribuído a Sirajuddin Haqqani, líder da rede Haqqani, a facção mais violenta do Talibã e considerada terrorista por Washington.

- Sem mulheres -

Durante o anúncio do governo, o porta-voz dos fundamentalistas, Zabihullah Mujahid, disse que o gabinete "não está completo" e que o grupo vai tentar "incluir pessoas de outras partes do país".

O governo dos Estados Unidos destacou imediatamente a ausência de mulheres e expressou "preocupação com as filiações e os antecedentes de vários indivíduos". E insistiu que avaliará o regime "por suas ações, não por suas palavras", de acordo com o secretário de Estado, Antony Blinken.

Nesta quarta-feira, na Alemanha, Blinken terá uma reunião virtual com os ministros de 20 países aliados para tentar estabelecer uma estratégia comum diante deste governo.

"Queremos ver como alcançar uma forma comum de agir diante do Talibã que também sirva aos nossos interesses: respeito aos direitos humanos fundamentais, manutenção das vias de saída do país, acesso humanitário e luta contra grupos terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico", disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas.

Se o Executivo Talibã desperta preocupação na maior parte da comunidade internacional, a China considera o novo governo o "fim da anarquia" e uma "etapa importante para restabelecer a ordem no país", segundo um porta-voz do ministério das Relações Exteriores.

A União Europeia (UE) lamentou que o novo governo não seja um grupo "inclusivo e representativo" do país, como havia sido prometido.

No Catar, no centro das negociações diplomáticas, a vice-ministra e porta-voz das Relações Exteriores do emirado, Lolwah al-Khater, afirmou que o Talibã "mostrou uma boa dose de pragmatismo" e deve ser julgado por suas ações.

Desde que chegou ao poder, o movimento Talibã deseja demonstrar mais abertura e moderação, mas as promessas não conseguem convencer e muitos temem o retorno do regime fundamentalista dos anos 1990, especialmente cruel com as mulheres.

Pramila Patten, diretora da ONU Mulheres, agência sobre a Igualdade de Gênero e o Empoderamento da Mulher, declarou que a ausência de mulheres no governo "coloca em dúvida o recente compromisso (dos talibãs) para proteger e respeitar os direitos das afegãs".

Em um comunicado, o líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada, afirmou que o governo "trabalhará de maneira forte para defender as regras do islã e da sharia", a lei islâmica, o que aumentou a inquietação.

- Protestos "ilegais" -

Mas o país que o movimento fundamentalista governa agora não é o mesmo dos anos 1990 e os talibãs são confrontados com manifestações inimagináveis há duas décadas.

Na terça-feira foram registradas as primeiras vítimas fatais nos protestos: duas pessoas morreram e oito ficaram feridas em Herat.

Para o porta-voz Zabihullah Mujahid, as manifestações são "ilegais", enquanto leis não tenham sido proclamadas. Ele pediu à imprensa que não faça a cobertura das mesmas.

Na terça-feira, os combatentes talibãs atiraram para o alto em Cabul para dispersar os protestos contra a repressão dos fundamentalistas em Panjshir, um reduto de resistência, e a suposta interferência do Paquistão no Afeganistão.

A Associação Afegã de Jornalistas Independentes (AIJA) informou que 14 repórteres, afegãos e estrangeiros, foram detidos por algumas horas na terça-feira durante as manifestações, protagonizadas em sua maioria por mulheres.

A rebelião no vale de Panjshir, tradicional reduto anti-Talibã, é liderada pela Frente Nacional de Resistência (FNR) e seu chefe Ahmad Masud, filho do famoso comandante Ahmed Shah Masud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda.

O Talibã afirma que controla todo o território, mas a FNR afirma que prossegue com sua luta.

A FRN declarou que o novo governo Talibã é "ilegítimo" e em breve anunciará um gabinete próprio, depois de consultas a "importantes personalidades afegãs".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a todos os afegãos que cessem imediatamente a violência, em um relatório apresentado ao Conselho de Segurança da organização, neste fim de semana, em meio a temores de uma nova guerra civil no país.

"Peço o fim imediato da violência, o respeito da segurança e dos direitos de todos os afegãos e das obrigações internacionais do Afeganistão, incluindo todos os acordos internacionais, aos quais este país aderiu", escreveu ele neste documento obtido pela AFP e que ainda não é público.

"Convoco os talibãs e todas as demais partes envolvidas a exercerem a máxima moderação para proteger vidas e garantir que as necessidades humanitárias possam ser atendidas", observou Guterres.

O documento foi elaborado na perspectiva da renovação do mandato da missão política da ONU no Afeganistão, que termina em 17 de setembro.

Neste domingo (5), o Talibã disse ter conseguido ganhar terreno no Vale do Panshir, o último grande foco da resistência armada ao governo de todo país. De acordo com as Nações Unidas, 18 milhões de pessoas, metade da população, são afetadas pela crise humanitária.

O plano de resposta da ONU está financiado em apenas 38%, e a organização tenta angariar, urgentemente, cerca de US$ 800 milhões, diz o relatório do secretário-geral.

"Peço a todos os doadores que renovem seu apoio para que a ajuda vital seja reforçada com urgência, entregue a tempo, e o sofrimento seja aliviado", insistiu Guterres, que convocou uma reunião internacional em 13 de setembro próximo, em Genebra, com o objetivo de aumentar a ajuda humanitária.

O chefe da ONU também pede a "todos os países que concordem em receber refugiados afegãos e que se abstenham de qualquer expulsão".

"Os relatos de severas restrições aos direitos humanos em todo país são muito preocupantes, especialmente os relatos de crescentes violações dos direitos humanos de mulheres e meninas afegãs que geram temores de um retorno dos dias mais sombrios", alertou.

"É fundamental que os direitos conquistados a duras penas pelas mulheres e meninas afegãs sejam protegidos. Também é fundamental ter um governo inclusivo que represente todos os afegãos, incluindo mulheres e diferentes grupos étnicos", acrescentou o chefe da ONU.

Inicialmente previsto para sexta-feira (3), o anúncio sobre a composição do novo Executivo talibã, continuava sendo esperado para este domingo.

Em diferentes oportunidades, a comunidade internacional advertiu que julgará o governo talibã por seus atos, e não por suas palavras. Desde que recuperou o poder em 15 de agosto, o movimento fundado pelo mulá Omar prometeu instalar um governo "inclusivo" e garantiu que respeitará os direitos das mulheres.

A desconfiança em relação ao cumprimento destas promessas é grande - tanto em casa, quanto no exterior. No sábado, pelo segundo dia consecutivo, dezenas de mulheres se manifestaram em Cabul para exigir que seus direitos sejam respeitados e que possam participar do futuro Executivo.

Na véspera da reabertura das universidades privadas, os talibãs sancionaram um decreto, especificando que as estudantes destas instituições terão de usar uma abaya preta e um niqab que cubra o rosto. O texto afirma que poderão assistir às aulas, mas não poderão se misturar com os colegas do sexo masculino.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o secretário de Defesa do país, Lloyd Austin, viajam neste domingo, em missões separadas, ao Oriente Médio, a fim de fortalecer relações com os aliados na região e discutir formas de ajudar norte-americanos e cidadãos de outros países a deixarem o Afeganistão. Blinken também deve ir à Alemanha nesta semana.

Blinken e Austin vão iniciar as viagens por Doha, no Catar, sede do escritório diplomático e consular dos EUA relacionado ao Afeganistão desde o fechamento da embaixada norte-americana no país, e local também de intercâmbios diplomáticos com o Taleban nos últimos anos. Na Alemanha, Blinken deve se encontrar com o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, e participar de um encontro virtual com autoridades de outros países presentes no Afeganistão.

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Austin visitará Kuwait, Bahrein e Arábia Saudita, segundo autoridades dos EUA. Kuwait e Bahrein, bem como Catar e outros, ajudaram os EUA durante a retirada de equipes do Afeganistão, abrigando temporariamente milhares de norte-americanos, afegãos e cidadãos de outros países. Será a primeira visita do secretário de Defesa ao Oriente Médio desde que o Taleban recuperou o controle do Afeganistão, com a queda de Cabul em 15 de agosto.

Os dois secretários não devem se encontrar com funcionários do Taleban enquanto estiverem em Doha. "Não estamos nesse estágio", disse um membro do Departamento de Estado.

Um funcionário do Departamento de Estado disse na semana passada que mais da metade dos requerentes de visto afegãos que trabalharam com as forças dos EUA no Afeganistão foi deixada para trás na evacuação. Os EUA e aliados retiraram mais de 124 mil pessoas do país por meio de voos militares, comerciais e fretados.

Até 200 cidadãos americanos e milhares de afegãos que trabalharam para os EUA nos últimos 20 anos permaneceram no Afeganistão quando as últimas tropas americanas partiram na semana passada. O Departamento de Estado e a Casa Branca disseram que continuariam ajudando os que ficaram a deixar o país, sem esclarecer de que forma.

"Há uma série de questões logísticas extremamente complexas para tratar e coordenar", disse Blinken na última sexta. "Estamos trabalhando com eles o mais rápida e metodicamente possível." Fonte: Dow Jones Newswires.

"Nestes tempos turbulentos, quando os afegãos procuram refúgio, rezo pelos mais vulneráveis entre eles. Oro para que muitos países os recebam e protejam aqueles que buscam uma nova vida", pediu o Papa Francisco neste domingo, 05, durante sua bênção semanal na Praça de São Pedro.

Milhares de afegãos evacuados pelos Estados Unidos estão esperando nos chamados centros de trânsito em países como Catar, Alemanha e Itália. Centenas de outras pessoas estão tentando sair por meio de travessias de terra com países vizinhos, como o Paquistão.

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"Eu também rezo pelos deslocados internos para que tenham ajuda e proteção necessária. Que os jovens do Afeganistão recebam uma educação, que é um bem essencial para o desenvolvimento humano", disse Francisco. A última vez que os militantes islâmicos estiveram no poder no país, as mulheres não podiam trabalhar e as meninas não podiam ir à escola.

O aeroporto de Cabul retomou os voos domésticos no sábado, 04, paralisado desde a vitória do Taleban em 15 de agosto, e que operava apenas com voos de evacuação até segunda-feira, 30, data em que as últimas tropas americanas deixaram o país.

O Papa também ofereceu suas orações e condolências pelas vítimas do furacão Ida, que matou dezenas de pessoas nos Estados Unidos. "Garanto minhas orações pelo povo norte americano, que foi atingido nos últimos dias por um forte furacão", disse.

Mais de 44 pessoas morreram nos estados do nordeste dos EUA e pelo menos 12 na Louisiana, onde a tempestade atingiu o continente há uma semana. O presidente dos EUA, Joe Biden, visitará Nova Jersey e Nova York, devastadas pela tempestade, na terça-feira, 07, dias depois de viajar para Louisiana.

(Com agências internacionais)

Os talibãs disseram neste domingo (5) que ganharam terreno no Vale do Panshir, último grande bastião da resistência armada ao novo governo do Afeganistão, onde, de acordo com Washington, uma guerra civil pode explodir.

Desde que as tropas americanas deixaram o país em 30 de agosto, as forças do movimento islâmico lançaram várias ofensivas contra este vale de difícil acesso, localizado a cerca de 80 km ao norte de Cabul.

O Vale do Panshir é um antigo reduto antitalibã, que ficou conhecido pelo lendário comandante Ahmed Shah Massud, no final dos anos 1990, assassinado pela rede Al-Qaeda em 2001. Hoje, abriga a Frente de Resistência Nacional (FNR, na sigla em inglês).

Liderada por Ahmad Massud, filho do comandante Massud, a FNR é composta por milícias locais e por ex-membros das forças de segurança afegãs que chegaram ao vale quando o restante do país sucumbiu aos talibãs.

De acordo com a ONG italiana Emergency, presente em Panshir, as forças talibãs chegaram na noite de sexta-feira (3) a Anabah, um povoado localizado dentro deste vale.

"Várias pessoas fugiram dos povoados da região nos últimos dias", relatou a ONG em um comunicado, acrescentando que atendeu "um número reduzido de feridos no centro cirúrgico de Anabah".

No Twitter, uma autoridade talibã anunciou, por sua vez, que várias partes do Panshir já estavam em poder do grupo, enquanto Ali Maisam Nazary, porta-voz da FNR, garantiu no Facebook que a resistência "nunca fracassaria".

- "Reconstrução da Al-Qaeda"

Estas declarações contrastam com as do ex-vice-presidente Amrullah Saleh, mais sombrio, segundo o qual Panshir passa por uma "crise humanitária em grande escala", com milhares de deslocados, após "um ataque talibã".

As comunicações com o Vale do Panshir são muito complicadas, e a AFP não pôde confirmar estas informações, ou o avanço real dos talibãs nesta área, com fontes independentes.

Diante deste quadro caótico, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, general Mark Milley, declarou ontem (4), em entrevista à rede Fox News, que o Afeganistão entrará, "provavelmente", em uma guerra civil. Ele também alertou que estas condições podem permitir o ressurgimento de grupos terroristas no país.

"Minha estimativa militar (...) é que é provável que se deem as condições para uma guerra civil", afirmou o general.

"Acho que, no mínimo, há uma probabilidade muito forte de uma guerra civil", que pode levar a "uma reconstrução da Al-Qaeda, ou ao crescimento do EI (o grupo Estado Islâmico), ou de outros grupos terroristas", avaliou.

"É muito provável que vejamos um ressurgimento do terrorismo procedente dessa região em geral dentro de 12, 24, ou 36 meses", acrescentou.

No plano político, o anúncio sobre a composição do novo Executivo talibã, inicialmente previsto para sexta-feira, continuava sendo esperado para este domingo.

Em diferentes oportunidades, a comunidade internacional advertiu que julgará o governo talibã por seus atos, e não por suas palavras. Desde que recuperou o poder em 15 de agosto, o movimento fundado pelo mulá Omar prometeu instalar um governo "inclusivo" e garantiu que respeitará os direitos das mulheres.

A desconfiança em relação ao cumprimento destas promessas é grande - tanto em casa, quanto no exterior. No sábado, pelo segundo dia consecutivo, dezenas de mulheres se manifestaram em Cabul para exigir que seus direitos sejam respeitados e que possam participar do futuro Executivo.

No âmbito humanitário, a situação continua sendo crítica, mas as ajudas começam a chegar.

Ontem, o Catar anunciou o envio de 15 toneladas de ajuda humanitária procedente do mundo todo para o Afeganistão e disse que os voos continuarão "nos próximos dias".

Quase três semanas se passaram desde que os talibãs assumiram o controle do país, e o vaivém diplomático já começou. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, visitará o Catar de segunda a quarta-feira. O país tem estado no centro do diálogo com o novo governo afegão.

O chefe da Inteligência militar do Paquistão, Faiz Hameed, foi visto em Cabul no sábado. Especula-se que tenha se reunido com autoridades talibãs, com as quais Islamabad mantém relações estreitas.

Também no sábado, a mais de 5.000 quilômetros de distância de Cabul, a crise afegã chegou ao Festival de Cinema de Veneza, onde duas cineastas afegãs denunciaram que a chegada do Talibã ao poder mergulhará o mundo das artes em uma situação dramática.

"Em apenas duas semanas, as figuras mais brilhantes do país partiram", relatou Sahraa Karimi, 38, a primeira mulher a chefiar a Organização de Cinema do Afeganistão.

"Imagine, um país sem artistas!", lamentou ela diante de um grupo de jornalistas e cineastas, entre eles o diretor do festival, Alberto Barbera.

O Brasil autorizou a concessão do visto humanitário aos cidadãos afegãos que desejarem deixar o Afeganistão em razão da retomada do regime talibã. A informação foi anunciada nessa sexta-feira (3), pelos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública. Mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e seus familiares serão considerados prioridade na fila de imigração. O grupo de 270 juízas afegãs que pediu ajuda para deixar o país poderá dar entrada no pedido deste documento, segundo o governo brasileiro.

Os grupos prioritários são considerados de maior risco, uma vez que a interpretação que o talibã tem do islã faz alusão à sharia e ao cerceamento dos direitos básicos de mulheres e crianças, como o livre arbítrio - garantido pelo próprio islã -, o direito à educação e ao lazer.

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"A medida é baseada nos fundamentos humanitários da política migratória brasileira", disseram os ministérios em nota. "Reafirmando o compromisso brasileiro com o respeito aos direitos humanos e com a solidariedade internacional”, escreveram os ministérios.

Em agosto, o Itamaraty afirmou que preparava a concessão dos vistos humanitários "em termos semelhantes aos concedidos a haitianos e sírios”. O pedido de visto humanitário, diferentemente do de refúgio, tem de ser feito fora do Brasil, em alguma autoridade consular.

No caso do Afeganistão, a mais próxima é a embaixada de Islamabad, no Paquistão. Segundo o ministério, as embaixadas em Teerã, Moscou, Ancara, Doha e Abu Dhabi também estarão habilitadas a processar os pedidos de visto para acolhida humanitária.

O Talibã anunciou nesta quinta-feira (2) que está perto de formar um novo governo no Afeganistão que será submetido a um rígido escrutínio internacional, especialmente em relação ao tratamento dado às mulheres.

O anúncio da formação de um gabinete - que duas fontes talibãs disseram à AFP que poderia ocorrer na sexta-feira (3)- ocorrerá poucos dias após a caótica partida do país das forças dos Estados Unidos, encerrando a guerra mais longa travada por Washington no exterior.

Embora os países ocidentais tenham assumido uma atitude cautelosa em relação às promessas do movimento de impor um regime mais moderado do que o que governou o país entre 1996 e 2001, há sinais de alguma interação com as novas autoridades.

As Nações Unidas anunciaram a retomada dos voos humanitários entre a capital do Paquistão, Islamabad, e as cidades de Mazar-i-Sharif, no norte, e Kandahar, no sul do Afeganistão.

As empresas americanas Western Union e Moneygram reiniciaram seus serviços de remessas de dinheiro, dos quais muitos afegãos dependem para sobreviver.

O Catar disse que está trabalhando para reabrir o aeroporto de Cabul e que os chanceleres italiano e britânico vão viajar a países da região nos próximos dias para discutir a questão dos refugiados que ainda querem escapar do Talibã.

Além disso, um porta-voz talibã garantiu que o ministro das Relações Exteriores chinês prometeu manter sua embaixada aberta em Cabul.

- "Não temos medo" -

Agora todos os olhos estão voltados para o novo gabinete do Talibã, e se ele será capaz de recuperar uma economia devastada e honrar seu compromisso de um governo "inclusivo".

Mas, o que parece claro, de acordo com uma autoridade do Talibã, é que "pode não haver" mulheres encarregadas de ministérios ou em cargos de responsabilidade.

Durante seu período no poder entre 1996 e 2001, marcado pela aplicação estrita da lei islâmica (sharia), as mulheres foram banidas do espaço público afegão.

Nesta quinta-feira, na cidade de Herat, capital cosmopolita do oeste do Afeganistão, 50 mulheres protestaram para reivindicar o direito ao trabalho e solicitar participação no novo Executivo.

"É nosso dever ter educação, trabalho e segurança", gritaram as manifestantes em uníssono. "Não temos medo, estamos unidas", acrescentaram.

"Queremos que o Talibã aceite falar conosco", disse à AFP uma das organizadoras do protesto, Basira Taheri.

Entre as 122 mil pessoas afegãs e estrangeiras que fugiram do Afeganistão nas últimas semanas graças às retiradas organizadas pelos países ocidentais, estava a primeira jornalista afegã a entrevistar uma autoridade talibã ao vivo na televisão.

Beseshta Arghand, jornalista da rede privada afegã Tolo News, teve que fugir para o Catar, temendo por sua vida, quando os fundamentalistas tomaram o poder.

"Quero dizer à comunidade internacional: por favor, faça algo pelas mulheres afegãs", disse ela à AFP na quarta-feira.

- Economia destruída -

Por outro lado, o novo governo afegão enfrentará uma tarefa imensa: reconstruir uma economia devastada por duas décadas de guerra e dependente da ajuda internacional, em grande parte congelada após a tomada do poder pelos fundamentalistas.

Nas ruas de Cabul, essa é a grande preocupação.

"Com a chegada do Talibã, pode-se dizer que há segurança, mas os negócios estão abaixo de zero", disse Karim Jan, comerciante de eletrônicos, à AFP.

O Talibã deve encontrar fundos com urgência para pagar os salários dos funcionários públicos e manter a infraestrutura vital (fornecimento de água, eletricidade, comunicações) em funcionamento.

Uma de suas prioridades será a operação do aeroporto de Cabul, essencial para o apoio médico e humanitário de que o país precisa.

A ONU alertou no início da semana para uma "iminente catástrofe humanitária" e pediu a garantia de saída do país para aqueles que desejem ir embora.

Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Catar, Mohamed bin Abdelrahman al-Thani, disse que seu governo está negociando com o Talibã para reabrir o aeroporto de Cabul "o mais rápido possível", embora "nenhum acordo" tenha sido alcançado a esse respeito.

No dia anterior, um avião do Catar com equipe técnica pousou neste aeroporto.

Segundo comentou à AFP uma fonte informada sobre o assunto, o Catar enviou esta equipe para falar sobre a "retomada das operações no aeroporto", já que o Talibã solicitou "assistência técnica".

Nesta quinta-feira, a Turquia afirmou que estuda em colaboração com os Talibãs e outros interlocutores assumir um papel na gestão do aeroporto de Cabul.

Um porta-voz do Talibã afirmou nesta quinta-feira (2) que a China prometeu manter aberta sua embaixada no Afeganistão e aumentar a ajuda ao país, devastado por décadas de conflito.

Abdul Salam Hanafi, membro do gabinete político do grupo islâmico em Doha, no Catar, "manteve conversas com Wu Jianghao, vice-ministro das Relações Exteriores da República Popular da China", anunciou o porta-voz do grupo, Suhail Shaheen, no Twitter.

“O vice-ministro chinês garantiu que manterá sua embaixada em Cabul e que nossas relações melhorarão. (...) A China continuará e aumentará sua ajuda humanitária, em particular para o tratamento da covid-19”, acrescentou.

O governo chinês não confirmou imediatamente o anúncio. A maioria dos países está abordando com cautela o estabelecimento de relações com os talibãs, que se preparam para deixar a insurgência e assumir o controle do país.

Já a China, que criticou repetidamente o que considerou uma retirada apressada e mal planejada dos Estados Unidos do Afeganistão, está disposta a estabelecer relações "amigáveis e cooperativas" com o novo regime.

Sua embaixada em Cabul permanece operacional, apesar de o governo ter começado a evacuar seus cidadãos meses atrás por razões de segurança.

No entanto, as autoridades chinesas ainda não reconheceram o novo regime talibã e estão atentas ao possível apoio do movimento aos separatistas da minoria uigur muçulmana na região de Xinjiang, onde fica o único trecho de fronteira entre os dois países.

A China entende que uma gestão estável e colaborativa em Cabul abriria caminho para a expansão de seu principal projeto de desenvolvimento de infraestrutura internacional, segundo analistas.

Para o movimento islâmico, o gigante asiático pode ser uma fonte crucial de apoio econômico e investimento.

Além disso, as empresas chinesas estão de olho nas grandes minas de cobre e lítio do Afeganistão, embora especialistas afirmem que é improvável que haja investimento imediato devido à frágil situação de segurança.

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