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Antes ameaçado pelo medo e terror, o sonho paralímpico foi realizado. Após conseguir fugir do Taleban, a atleta de taekwondo Zakia Khudadadi estreou em Tóquio e se tornou a primeira mulher a representar o Afeganistão nos Jogos. Usando hijab branco, ela entrou na arena de competição Makuhari Messe, em Chiba, nesta quinta-feira. Suas duas derrotas foram detalhes perto do feito de pisar em solo japonês.

Khudadadi chegou ao Japão no último sábado, após embarcar secretamente em um voo rumo à Austrália para conseguir fugir do Afeganistão. Com o grupo extremista tomando o controle da capital Cabul e fechando aeroportos, a participação da jovem de 22 anos na Paralimpíada foi colocada em risco. O governo australiano não mediu esforços para conseguir tirar ela e o compatriota Hossain Rasouli do cenário de caos às vésperas da competição.

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Apesar do êxito em conseguir sair do Afeganistão, Khudadadi preferiu não comentar seu desempenho em Tóquio, evitando conversar com jornalistas depois de suas lutas. Rasouli competiu no salto em distância masculino na terça-feira e também não falou com a mídia.

"Estou preocupada com a situação no Afeganistão, mas estou muito feliz que ela tenha conseguido vir e competir comigo", disse a ucraniana Viktoriia Marchuk depois de derrotar Khudadadi na rodada de repescagem. Em seu apelo para ir aos Jogos, Khudadadi disse que não queria que toda sua preparação tivesse sido em vão.

Não se sabe imediatamente o que os atletas afegãos pretendem fazer após os Jogos, mas Alison Battisson, da organização Direitos Humanos para Todos, que esteve envolvida na evacuação, disse que a Austrália lhes concedeu vistos humanitários.

O Taleban disse que respeitaria os direitos das mulheres, permitindo-lhes trabalhar e estudar "dentro da estrutura do Islã", mas muitos afegãos temem que isso seja uma um argumento de fachada, em uma tentativa de diminuir as críticas pela comunidade internacional.

Durante seu governo de 1996-2001, também guiado pela lei islâmica sharia, o Taleban impediu as mulheres de trabalhar. As meninas não podiam ir à escola e as mulheres tinham que usar burca que cobriam tudo para sair, e apenas quando acompanhadas por um parente do sexo masculino.

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou nesta segunda-feira (30) que conseguiu retirar mais um brasileiro do Afeganistão, por meio de gestões diplomáticas. Este é o segundo cidadão brasileiro a deixar o país na Ásia Central, após a queda do governo apoiado por forças ocidentais e a volta do Taleban ao poder. Segundo o Itamaraty, ele deixou o Afeganistão no domingo (29), por terra, em direção ao Paquistão, país de fronteira.

O brasileiro estava acompanhado de seis parentes de nacionalidade afegã e todos estão em boas condições de segurança e saúde, conforme a chancelaria. A operação foi coordenada entre a embaixada brasileira em Islamabad e o governo paquistanês. O Brasil não tem representação diplomática em Cabul, a capital afegã. A embaixada é cumulativa com a de Islamabad.

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Na quinta-feira passada, dia 26, um brasileiro e seus cinco parentes afegãos deixaram o país em voo com destino a Madri, na Espanha. Esse resgate teve apoio dos governos espanhol e alemão e contatos da diplomacia brasileira.

Dos cinco brasileiros identificados pelo Itamaraty em solo afegão, os dois que solicitaram ajuda para deixar o país conseguiram sair. Houve ainda outro caso de um brasileiro que acionou a Embaixada em Islamabad, mas perdeu contato. O governo estuda agora como atender pedidos de nacionais afegãos que tenham visto de residência no Brasil para deixar Cabul.

"Um brasileiro entrou em contato com o plantão consular, por mensagem de texto no telefone da embaixada. Mas não temos muita informação ainda, estamos tentando saber mais", afirmou em entrevista ao Estadão, na semana passada, Olyntho Vieira, embaixador do Brasil responsável pelo Paquistão, Afeganistão e Tajiquistão. Segundo o diplomata, o homem brasileiro, que ele preferiu não identificar por segurança, indicou que vivia temporariamente no país.

O governo brasileiro estuda agora como atender pedidos de cidadãos afegãos que tenham visto de residência no Brasil e queiram deixar Cabul. "O Itamaraty segue monitorando a situação dos cidadãos brasileiros que manifestaram interesse em permanecer no Afeganistão. Está também atento aos pedidos de afegãos com visto de residência no Brasil, dentro das possibilidades legais de apoio a estrangeiros", disse o MRE.

Segundo o Itamaraty, o procedimento seria semelhante ao adotado para haitianos e sírios. Paralelamente, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) deu aval, em dezembro, para a simplificação do processo de requerimento de status de refugiados a afegãos que estejam fugindo do conflito.

No dia 21, o deputado e presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aécio Neves, encaminhou ofício ao Ministérios da Justiça e Segurança Pública e ao Itamaraty solicitando a concessão de vistos humanitários a afegãos. A ideia é que as embaixadas brasileiras em Islamabad e Teerã, localizadas nos dois países que mais recebem refugiados afegãos, processem e emitam os vistos.

De acordo com dados do Conare, o país já reconheceu 162 refugiados afegãos. Desde 2016, foram 88, com recorde registrado em 2020, quando 30 pedidos foram aceitos. Neste ano, dois afegãos foram reconhecidos. Ainda de acordo com o Conare, nenhum pedido foi registrado desde domingo, quando o Taleban tomou o poder.

Os talibãs celebraram nesta terça-feira (31) a saída dos últimos soldados americanos do Afeganistão, uma imagem que encerrou 20 anos de uma guerra devastadora e abre um novo capítulo marcado pela incerteza.

A retirada americana foi considerada um êxito "histórico" pelo grupo Talibã, que assumiu o controle de Cabul em 15 de agosto e derrubou o governo afegão após uma ofensiva relâmpago em todo o país.

As tropas dos Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2001, na liderança de uma coalizão internacional, para derrubar os talibãs, que se recusavam a entregar o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos.

"Felicitações ao Afeganistão (...) Esta vitória pertence a todos nós", declarou Zabihullah Mujahid, porta-voz dos islamitas, no aeroporto de Cabul, que foi controlado até segunda-feira pelas forças americanas.

"Esta é uma grande lição para outros invasores e para nossas futuras gerações .Também é uma lição para o mundo", disse Mujahid.

"É um dia histórico, um momento histórico e estamos muito orgulhosos", completou.

Na manhã desta terça-feira, os talibãs retiraram quase todos os postos de controle no caminho para o aeroporto - apenas um foi mantido. Nas estradas, os combatentes não escondiam a alegria e cumprimentavam os motoristas.

As imagens dos líderes talibãs caminhando vitoriosos pelos hangares do aeroporto, escoltados por milicianos armados que exibiam a bandeira branca do movimento, enquanto posavam para câmeras, ao lado dos helicópteros destruídos pelos americanos antes da retirada do país, resumem de maneira perfeita o novo capítulo que começa no país.

Desde que assumiram o poder, os talibãs se esforçam para apresentar uma imagem conciliadora e aberta. Eles prometeram não aplicar represálias contra as pessoas que trabalharam para o governo anterior.

"Queremos boas relações com os Estados Unidos e o mundo", garantiu Zabihullah Mujahid nesta terça-feira.

Os talibãs também informaram que pretendiam anunciar nos próximos dias a formação de um novo governo após a conclusão da retirada militar americana.

- Gosto amargo -

Após duas semanas de retiradas precipitadas e em alguns momentos caóticas, o último avião de transporte militar C-17 decolou do aeroporto na segunda-feira pouco antes da meia-noite em Cabul (16H29 de Brasília), anunciou em Washington o general Kenneth McKenzie, que dirige o Comando Central dos Estados Unidos.

A retirada americana foi concluída 24 horas antes da data-limite estabelecida pelo presidente Joe Biden, para quem este dia tem um gosto amargo.

O presidente, que justificou a decisão de retirar as tropas ao alegar que não queria uma guerra ainda mais prolongada, falará nesta terça-feira a seus compatriotas em um discurso difícil, no momento em que muitos americanos perguntam para que serviram as duas décadas de presença no Afeganistão.

Embora o objetivo de neutralizar Bin Laden tenha sido concretizado em 2 de maio de 2011, quando as forças especiais americanas mataram no Paquistão o líder da Al-Qaeda, as tropas dos Estados Unidos permaneceram no Afeganistão, sobretudo para formar um exército afegão que rapidamente desapareceu diante do avanço dos talibãs.

No total, Estados Unidos registraram 2.500 mortes e uma conta de 2,3 trilhões de dólares em 20 anos de guerra, de acordo com um estudo da Brown University.

Além disso, o país deixa o Afeganistão com uma imagem abalada por sua incapacidade de prever a rapidez da vitória dos talibãs e pela maneira como a retirada foi organizada.

- Quase 123.000 deixaram o país -

Desde 14 de agosto e durante 18 dias, aviões dos Estados Unidos e de países aliados retiraram quase 123.000 pessoas do Afeganistão, segundo o Pentágono.

Entre as pessoas que fugiram estavam cidadãos de países ocidentais, mas também milhares de afegãos que trabalharam para países e organizações estrangeiras ou que por sua profissão ou maneira de viver seriam alvos dos talibãs.

Na segunda-feira, os militares americanos admitiram que não conseguiram retirar todas as pessoas que desejavam, um fracasso que foi criticado pela oposição republicana.

Biden "abandonou americanos à mercê dos terroristas", disse o líder dos republicanos na Câmara de Representantes, Kevin McCarthy.

A grande operação de retirada a partir do aeroporto de Cabul foi manchada de sangue em 26 de agosto com o atentado suicida reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), que deixou mais de 100 mortos, incluindo 13 soldados americanos.

Grande inimigo do Talibã, o EI-K pode prosseguir como uma ameaça e executar novos ataques no país.

O Pentágono afirmou que evitou no domingo um atentado com carro-bomba do EI-K contra o aeroporto ao destruir, com um drone, um veículo que estaria lotado de explosivos.

Este ataque aéreo pode representar o epílogo da longa lista de tragédias com mortes de civis que marcou as duas décadas de intervenção americana e provocou a perda de apoio local.

Membros de uma família de Cabul afirmaram à AFP que um erro fatal foi cometido e 10 civis morreram no ataque.

"Meu irmão e as quatro filhas morreram. Eu perdi minha filha pequena, sobrinhos e sobrinhas", disse, inconsolável, Aimal Ahmadi.

- Medo de um recuo -

O governo dos Estados Unidos seguirá "ajudando" todos os compatriotas que desejam sair do Afeganistão, afirmou na segunda-feira o secretário de Estado, Antony Blinken, e "trabalharão" com os talibãs caso cumpram seus compromissos.

"Os talibãs querem legitimidade e apoio internacional. Nossa mensagem é que a legitimidade e o apoio precisam ser merecidos", completou.

Entre 100 e 200 americanos ainda estariam no Afeganistão, segundo Blinken, que anunciou a transferência para Doha das atividades diplomáticas e consulares de Cabul.

O movimento islamista herda um país devastado, apesar dos bilhões de dólares investidos pelos Estados Unidos, e com uma pobreza extrema, a seca e a ameaça jihadista.

Além disso, os novos governantes também terão que enfrentar os receios de grande parte da população, que teme um novo regime fundamentalista como o imposto entre 1996 e 2001, tristemente célebre pelo tratamento reservado às mulheres, a proibição das liberdade básicas e a brutalidade de seu sistema judicial.

"Depois de fazer a jihad durante os últimos 20 anos, agora temos o direito de dirigir o próximo governo. Mas continuamos comprometidos com a formação de um governo representativo", insistiu Mujahid.

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão cobrou do governo Jair Bolsonaro um posicionamento urgente sobre a crise humanitária no Afeganistão, quanto ao recebimento de refugiados. Em nota pública, o órgão do Ministério Público Federal ressaltou que data anunciada para a retirada do exército estadunidense é esta terça-feira, 31 de agosto, sendo que, após tal marco "há riscos de que os indivíduos não tenham condições de se deslocar do país".

O texto foi publicado no sábado, 28, e encaminhado, por ofício, ao ministro da Justiça e Segurança Pública, ao ministro das Relações Exteriores e ao presidente do Comitê Nacional para Refugiados (Conare).

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No documento, o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, e o procurador regional da República, André de Carvalho Ramos - coordenador do Grupo de Trabalho Migração e Refúgio - destacam que é necessária ação conjunta do governo federal, ao menos, com a participação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Ministério das Relações Exteriores e do Comitê Nacional para Refugiados (Conare). Eles citam notícias sobre a falta de resposta do governo aos pedidos de asilo e da não concessão de vistos humanitários a 270 juízas afegãs.

Os procuradores sugerem três medidas de acolhida humanitária aos afegãos: edição de portaria para definir procedimento de concessão de visto humanitário e autorização de residência às pessoas afetadas pelo conflito no Afeganistão; adoção de estratégia para garantir o encontro de membros de famílias que já estão em território brasileiro; notificação das autoridades competentes alertando para a garantia da não devolução de indivíduos afegãos que ingressem no território brasileiro, mesmo que de forma irregular ou sem documentação.

A nota lembra que o Brasil tem obrigações de acolhimento de migrantes, decorrente da assinatura de tratados internacionais, em especial a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, e de legislações, como a que define as obrigações e diretrizes ao Estado brasileiro para acolhimento desses indivíduos.

Os procuradores destacam ainda a Lei de Migração que prevê a possibilidade de concessão de visto temporário para ‘acolhida humanitária de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras hipóteses, na forma de regulamento’.

Há quase três anos, o afegão Sayed Sadaat, de 50 anos, era ministro de Comunicações do seu país. Atualmente, vive no oeste da Alemanha, em Leipzig, como entregador de aplicativo. Sadaat ganha a vida de bicicleta pela cidade, fazendo entregas de comida em domicílio. Para o árabe, não é motivo de vergonha, mas uma chance de recomeçar. O homem abandonou seu país em 2020, em consequência da crise política que assola o Afeganistão há décadas, segundo entrevista concedida à AFP.

A jornada é de seis horas, de segunda a sexta-feira; e de meio-dia às 22h nos finais de semana. Sayed usa um uniforme laranja, característico de sua empresa, e a mochila onde carrega os pedidos de seus clientes.

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"Não tem por que ter vergonha. É um trabalho como outro qualquer. Se há emprego, é porque há uma determinada demanda e que alguém deve se encarregar de satisfazê-la", diz ele.

Milhares de afegãos deixaram seu país recentemente, após retomada do Talibã, em voos das forças de coalizão que ocuparam o país durante 20 anos. Espera-se que mais deles devem chegar por conta própria em contingentes ainda maiores nos próximos meses e anos.

A barreira linguística

Há anos, os afegãos são o segundo maior grupo de migrantes na Alemanha, atrás dos sírios. Há cerca de 210 mil pedidos de asilo registrados desde 2015 no país europeu.

Sayed Sadaat chegou meses antes do colapso do governo de Cabul. Ele foi ministro de Comunicações do seu país natal entre 2016 e 2018. Ele diz que deixou o cargo porque estava farto da corrupção dentro do governo e encontrou trabalho como consultor no setor de telecomunicações.

Em 2020, a segurança começou a se deteriorar no país. "Então decidi ir embora", diz o ex-ministro. Embora tenha nacionalidade afegã e britânica, optou por se instalar na Alemanha no final de 2020, pouco antes do Brexit.

Em sua opinião, a economia alemã, a maior da Europa, oferece-lhe mais oportunidades em seu setor. Sem saber alemão, no entanto, é difícil encontrar trabalho. A pandemia de Covid-19 e as medidas de confinamento não facilitaram o aprendizado.

Agora ele dedica quatro horas por dia ao estudo do idioma, antes de sair com a bicicleta para fazer entregas pela empresa Lieferando. Sadaat ganha 15 euros por hora (cerca de R$ 92), um salário modesto, mesmo que seja bem acima do salário mínimo na Alemanha (R$ 58 por hora). Ele afirma que o dinheiro é capaz de atender às suas necessidades.

Como cidadão britânico, Sadaat não pode solicitar o "status" de refugiado, nem os respectivos benefícios. O ex-ministro, que não quer falar sobre sua família no Afeganistão, diz que não se arrepende de sua decisão.

Por um período limitado

O posto de entregador "é por um período limitado, até que eu encontre outro emprego", diz ele. Sorrindo, ele diz que o emprego o ajudou a ficar em forma, pedalando cerca de 1.200 quilômetros por mês. Com a retirada das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão, Sadaat acha que pode ser útil na Alemanha.

"Posso aconselhar o governo alemão e tentar fazer com que o povo afegão tire proveito disso, porque posso dar a eles uma imagem realista do terreno", completa. Por enquanto, porém, não tem contatos, então a prioridade é a entrega em domicílio.

Os ataques do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão devem acabar com a saída das tropas americanas do país ou o novo governo atuará para reprimir este grupo, afirmou à AFP um porta-voz do Talibã.

O grupo extremista Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), que há vários anos executa atentados fatais no Afeganistão e Paquistão, reivindicou o ataque de quinta-feira passada nos arredores do aeroporto de Cabul, onde estavam milhares de candidatos ao exílio após a tomada de poder em 15 de agosto pelos talibãs.

O ataque, que provocou mais de 100 mortes (incluindo 13 militares americanos), aconteceu menos de uma saída antes da data-limite para a saída das tropas americanas, estabelecida pelo presidente Joe Biden para 31 de agosto, após duas décadas de presença no país.

O EI-K também reivindicou o ataque desta segunda-feira (30) com foguetes contra o aeroporto de Cabul.

"Esperamos que os afegãos sob influência do EI (...) abandonem suas operações assim que observarem a entrada em vigor de um governo islâmico após a saída das potências estrangeiras", declarou o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, em uma entrevista concedida à AFP no fim de semana.

"Se criarem uma situação de guerra e continuarem com suas operações, o governo islâmico... vai cuidar deles", advertiu Mujahid.

Os talibãs prometeram a paz com sua chegada ao poder, depois que foram expulsos do governo há duas décadas.

As forças dos Estados Unidos executaram vários ataques aéreos no fim de semana contra alvos do EI-K. No domingo anunciaram que destruíram um carro-bomba nas proximidades do aeroporto de Cabul.

As operações irritam os talibãs. "Eles não têm permissão para executar este tipo de operação (...) Nossa independência deve ser respeitada", afirmou Mujahid.

O EI-K é o braço local do EI e há vários anos protagoniza ataques mortais tanto no Afeganistão como no Paquistão, matando civis em mesquitas, escolas e hospitais.

- "Problemas técnicos" -

Os membros do EI-K são partidários de uma linha radical sunita similar a do Talibã, mas divergem no plano teológico e estratégico. Os dois grupos disputam o protagonismo da jihad.

Como símbolo da forte inimizade entre ambos, O EI classificou os talibãs como apóstatas em vários comunicados e não felicitou o movimento pela tomada de Cabul em 15 de agosto.

À medida que avançavam militarmente nas últimas semanas, os talibãs abriram as prisões e libertaram, sem qualquer controle, tanto os seus combatentes como a os militantes do EI, uma decisão que cada vez mais é considerada um grande erro estratégico.

Os talibãs, que se esforçam para mostrar uma imagem de abertura e moderação, prometeram criar um governo "representativo", mas apenas quando as tropas estrangeiras deixarem o país.

As negociações sobre a formação do novo Executivo prosseguem em Cabul.

"É importante anunciar o governo, mas isto exige paciência. Estamos fazendo consultas para formar de maneira responsável um governo", explicou Zabihullah Mujahid, que citou "alguns problemas técnicos", sem revelar detalhe.

No momento, o país está parado. Bancos, serviços governamentais e outras instituições públicas estão, em sua maioria, fechados. Vários funcionários públicos afirmaram à AFP que o Talibã impede seu retorno ao trabalho.

"Os estudantes de religião" prometeram melhorar a economia afegã, mas, sem acesso à ajuda internacional e aos recursos mantidos no exterior, o futuro de um dos países mais pobres do mundo se anuncia complexo.

Uma mulher afegã de 26 anos, com destino a Grã-Bretanha para se refugiar, deu a luz a uma menina neste sábado (28) dentro de um voo de retirada. O parto feito a 10 mil metros de altitude teve a ajuda dos membros da tripulação.

A companhia aérea Turkish Airlines informou que o voo saia de Dubai, no Emirados Árabes a Birmingham, na Inglaterra, com a mãe da bebê, a jovem Soman Noori, começando a sentir contrações quando o avião sobrevoava o Kuwait.

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O avião transportava afegãos que trabalharam com o governo britânico no Afeganistão. A companhia aérea divulgou imagens do bebê com toda tripulação feliz com o feito, confira:

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Quem vai administrar o aeroporto de Cabul após a saída das tropas americanas? A pergunta é vital para os novos governantes talibãs do Afeganistão, mas também para os países ocidentais que ainda esperam retirar estrangeiros e afegãos do país.

Em apenas quatro dias, a partir de 1 de setembro, o aeroporto internacional Hamid Karzai será responsabilidade dos fundamentalistas de linha dura, que na sexta-feira afirmaram ter assumido o controle de algumas áreas do setor militar das instalações.

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"Vamos sair em 31 de agosto. Nessa data, devolveremos o aeroporto ao povo afegão", disse na sexta-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, acabando com as especulações sobre a possibilidade de uma gestão internacional do terminal aéreo.

Porém, apesar da queda do governo afegão com o avanço dos talibãs sobre Cabul, os outrora insurgentes, agora no poder, ainda não formaram um Executivo.

"Administrar um aeroporto não é uma tarefa simples", afirmou Price. "Acredito que talvez não seja razoável esperar operações aeroportuárias normais em 1º de setembro".

A ideia de que o aeroporto poderia ser fechado temporariamente foi mencionada durante a semana pelo secretário de Estado Antony Blinken.

Ele destacou "esforços muito ativos" por parte dos países da região para ajudar a manter o local aberto "ou, se for o caso, reabri-lo se permanecer fechado por algum tempo".

Blinken insistiu que o destino do aeroporto é importante para os talibãs, que ao que tudo indica não desejam estar de novo à frente de um regime pária, como aconteceu entre 1996 e 2001. Os islamitas esperam, em particular, um fluxo rápido de ajuda militar para o país.

Papel para a Turquia?

Mas o aeroporto também é importante para os países ocidentais, que desejam retirar seus cidadãos do Afeganistão, assim como milhares de aliados afegãos que não conseguirão deixar o país nos voos organizados pelos Estados Unidos até 31 de agosto.

Até o momento, a Otan desempenha um papel fundamental: os funcionários civis da Aliança do Atlântico Norte são responsáveis pelo controle do tráfego aéreo, o abastecimento de combustível e as comunicações, enquanto os contingentes militares da Turquia, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Azerbaijão trabalham na segurança.

Diante da iminente retirada total das forças internacionais, muitos pensaram que talvez a Turquia entrasse no cenário para garantir a segurança do perímetro do aeroporto.

A esperança era que os talibãs aceitassem a presença de uma pequena força da Turquia, uma nação majoritariamente muçulmana que também integra a Otan.

Mas depois que assumiram o poder, os talibãs repetiram diversas vezes que não aceitarão qualquer presença militar estrangeira no Afeganistão depois de 31 de agosto. E os soldados turcos iniciaram a retirada. As negociações, no entanto, prosseguem na frente diplomática.

Após as primeiras conversas na sexta-feira entre funcionários do governo turco e talibãs em Cabul, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, revelou que os fundamentalistas desejam agora supervisionar a segurança do aeroporto, enquanto ofereceram a Ancara a opção de administrar a logística.

"Tomaremos uma decisão assim que a calma prevalecer", disse Erdogan, antes de recordar que o ataque suicida de quinta-feira na entrada do aeroporto mostra como a missão é complexa.

Além da Turquia, os diálogos sobre o futuro do aeroporto incluem o Catar e operadores privados, enquanto o governo dos Estados Unidos afirma que atua como um mediador.

A administração do aeroporto é um tema delicado. Fontes americanas afirmam que, além dos problemas de segurança, o aeroporto está em condições ruins. Também alegam que, além do exército dos Estados Unidos, há poucas instituições no mundo que poderiam assumir o controle do local de um dia para o outro.

Algumas fontes afirmam ainda que um número reduzido de companhias aéreas aceitarão voar a Cabul enquanto o Talibã não conseguir oferecer garantias de segurança e infraestrutura.

França concluiu na noite desta sexta-feira (27) a ponte aérea para retirar afegãos ameaçados pelos talibãs de Cabul a Paris, anunciaram os ministros das Forças Armadas e das Relações Exteriores.

A operação "iniciada em 15 de agosto a pedido do presidente da República chegou ao fim esta noite", tuitou a ministra das Forças Armadas, Florence Parly, especificando que "quase 3.000 pessoas, incluindo mais de 2.600 afegãos" foram removidas do país.

A ponte aérea teve que ser interrompida "pela falta de condições de segurança no aeroporto" de Cabul devido à "rápida retirada das forças americanas", que vão deixar o Afeganistão em 31 de agosto, acrescentaram em um comunicado conjunto Parly e seu contraparte das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

"A equipe da embaixada da França em Cabul chegou a Abu Dhabi antes de voltar à França", destacaram.

Os ministros informaram que vão prosseguir com os diálogos com os talibãs para tentar implantar operações humanitárias com outros países aliados para tirar os milhares de afegãos com direito à proteção ocidental que ainda não puderam ser retirados.

"Nossos esforços continuam (...) Vamos continuar neste sentido o nosso trabalho com autoridades talibãs para garantir que não colocarão nenhum entrave a partir de 31 de agosto à saída daqueles que assim o desejarem", afirmaram os dois ministros.

Uma delegação francesa se reuniu na quinta-feira em Catar com representantes talibãs pela primeira vez desde que o movimento islamita voltou ao poder em 15 de agosto.

Uma grande explosão ocorreu na manhã desta quinta-feira (26) em um dos portões do aeroporto internacional de Cabul - onde uma das maiores operações de retirada aérea da história vem sendo realizada desde a tomada da capital afegã pelo Taleban. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, mas ainda não há um levantamento sobre vítimas.

O atentado ocorre na mesma semana em que autoridades ocidentais externaram preocupação com um possível ataque do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão - com indicações claras de que as pessoas evitassem o aeroporto nesta quinta-feira.

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O Estado Islâmico no Afeganistão, também conhecido como Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K), foi criado há seis anos por dissidentes do Taleban paquistanês. O grupo é grupo afiliado ao Estado Islâmico, que atuou na guerra civil da Síria, sendo apontado como responsável por dezenas de atentados terroristas no país neste ano.

Diversas lideranças mundiais alertaram sobre o perigo de uma ataque nos últimos dias, mas da noite de quarta para a manhã desta quinta, novos alertas surgiram sobre a ameaça. O ministro das Forças Armadas britânicas, James Heappey, disse à BBC hoje que havia "uma informação muito confiável de um ataque iminente" no aeroporto, possivelmente dentro de "horas".

Na noite de quarta-feira, a Embaixada dos EUA alertou os cidadãos em três portões de aeroporto para sair imediatamente dos locais devido a uma ameaça à segurança não especificada. Antes, na terça-feira, 24, o presidente americano, Joe Biden, já havia mencionado o grupo terrorista. "Cada dia que estamos no terreno é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está tentando atingir o aeroporto e atacar as forças dos EUA e aliadas e civis inocentes", disse.

Um alto funcionário dos EUA, que falou sob condição de anonimato ao The New York Times, confirmou que os EUA estavam rastreando uma ameaça "específica" e "confiável" no aeroporto programada pelo ISIS-K.

Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia também aconselharam seus cidadãos a não irem ao aeroporto nesta quinta-feira, com o ministro das Relações Exteriores da Austrália dizendo que havia uma "ameaça muito alta de um ataque terrorista". Vários países pediram às pessoas que evitem o aeroporto, onde a Bélgica disse haver ameaça de um ataque suicida.

O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, negou que qualquer ataque fosse iminente. "Não está correto", escreveu em uma mensagem de texto após ser questionado sobre os avisos. Ele não deu mais detalhes.

Em meio às preocupações, os aviões de carga militares que saem do aeroporto de Cabul já utilizam sinalizadores para interromper qualquer possível ataque com mísseis. Também há a preocupação de que alguém possa detonar explosivos na multidão em frente ao aeroporto.

"Recebemos informações a nível militar dos Estados Unidos, mas também de outros países, de que havia indicações de que havia uma ameaça de ataques suicidas contra a massa da população", disse o primeiro-ministro belga Alexander De Croo, falando sobre a ameaça em torno do aeroporto de Cabul.

Desespero

Apesar de todos os alertas, no entanto, poucos pareceram atender aos alertas faltando apenas alguns dias para o término do esforço de retirada. Heappey admitiu que há pessoas desesperadas para partir e que muitos na fila estão dispostos a se arriscar, mas reforçou que as informações sobre a ameaça eram muito confiáveis. "Há chances de que, à medida que mais relatórios forem chegando, possamos mudar a recomendação novamente e processar as pessoas de novo, mas não há garantia disso", acrescentou.

O Estado Islâmico no Afeganistão surgiu a partir de uma dissidência do Taleban no Paquistão, reunindo representantes que têm uma visão ainda mais extrema do Islã. O grupo é uma das muitas afiliadas que do Estado Islâmico (EI) estabeleceu depois que invadiu o norte do Iraque vindo da Síria em 2014 e criou um califado do tamanho da Grã-Bretanha. Desde junho de 2020, sob o comando de um novo líder, Shahab al-Muhajir, o ISIS-K "permanece ativo e perigoso" e busca aumentar suas fileiras com combatentes do Taleban insatisfeitos e outros militantes, aponta um relatório da ONU.

Oficiais de contraterrorismo da ONU disseram no relatório de junho que o grupo do Estado Islâmico realizou 77 ataques no Afeganistão nos primeiros quatro meses deste ano, contra 21 no mesmo período em 2020. Os ataques do ano passado incluíram um ataque contra a Universidade de Cabul em novembro. Acredita-se que o ISIS-K tenha sido o responsável pelo atentado a bomba em uma escola na capital, que matou 80 meninas, em maio.

Apesar de combaterem as forças americanas e do governo afegão por anos, o ISIS-K também lutou contra o Taleban ao longo dos últimos anos, e seus líderes denunciaram a tomada do país pelos rivais, criticando sua versão do governo islâmico como uma linha que não é dura o suficiente.

Prazo final

Em meio às ameaças e à iminente retirada americana, alguns países europeus disseram que teriam de encerrar suas evacuações. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse à rádio RTL que os esforços de seu país terminariam na sexta-feira (27) à noite devido à retirada dos EUA.

O ministro da Defesa dinamarquês, Trine Bramsen, advertiu sem rodeios: "não é mais seguro voar para dentro ou para fora de Cabul". O último voo da Dinamarca já partiu, e Polônia e Bélgica também anunciaram o fim de suas evacuações. O governo holandês disse que os EUA disseram para partir na quinta-feira.

O Taleban disse que permitirá que os afegãos partam em voos comerciais após o prazo final da semana que vem, mas ainda não está claro quais companhias aéreas retornarão a um aeroporto controlado pelos militantes. O porta-voz presidencial turco Ibrahim Kalin disse que conversas estão em andamento entre seu país e o Taleban sobre permitir que especialistas civis turcos ajudem a administrar as instalações. (Com agências internacionais).

Os Emirados Árabes Unidos ajudaram a retirar 28.000 pessoas do Afeganistão desde o retorno dos talibãs ao poder - disse um funcionário do alto escalão da monarquia do Golfo nesta quinta-feira (26).

Alguns dos voos de retirada de afegãos e estrangeiros feitos por países ocidentais fizeram escala nos Emirados e no Catar. Ambos serviram de base para seus aviões.

Das 28.000 pessoas que chegaram aos Emirados, cerca de 12.000 foram para o Reino Unido, e 9.000, para os Estados Unidos.

Antes da queda de Cabul, esta monarquia já havia ajudado a retirar mais de 8.500 pessoas. O funcionário, que pediu para não ser identificado, não especificou quando isso aconteceu.

No momento, os Emirados abrigam, de forma temporária, 8.500 pessoas retiradas de Cabul. A maioria deve viajar para os Estados Unidos nos próximos dias. Alguns se encontram hospitalizados, ou recebem atendimento médico.

Países ocidentais, entre eles Reino Unido, França e Estados Unidos, fazem os últimos voos de retirada do Afeganistão. Abu Dhabi espera que a operação esteja concluída até o final do mês, disse a mesma fonte da AFP.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, definiu para 31 de agosto o fim da retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão.

Os talibãs se comprometeram a permitir que cidadãos americanos e afegãos em risco deixem o Afeganistão após 31 de agosto, anunciou nesta quarta-feira (25) o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Em coletiva de imprensa em Washington, DC, o chefe da diplomacia do governo do democrata Joe Biden afirmou que "os talibãs assumiram compromissos públicos e privados para proporcionar e permitir uma passagem segura aos americanos, aos cidadãos de países terceiros e aos afegãos em risco a partir de 31 de agosto".

Blinken declarou aos jornalistas que pelo menos 4.500 cidadãos americanos dos 6.000 que queriam deixar o país já foram retirados.

Assim, segundo estimativas, restariam cerca de 1.500 americanos a ser evacuados do Afeganistão. Com 500 deles existe um "contato direto" próximo, afirmou.

"Estamos em contato ativo com eles várias vezes por dia através de múltiplos canais de comunicação (...) para determinar se ainda querem partir", disse Blinken aos jornalistas.

Nesta terça, o presidente Joe Biden disse que a ponte aérea de retirada, liderada pelos Estados Unidos a partir do superlotado aeroporto de Cabul, capital afegã, deve terminar em breve devido à ameaça crescente do braço afegão do grupo Estado Islâmico.

Pouco antes, Biden havia dito aos líderes do G7 que os Estados Unidos estavam "em vias" de concluir sua retirada militar do Afeganistão até 31 de agosto, uma condição irredutível exigida pelos talibãs em meio a complicações geradas no principal terminal aéreo, cuja segurança é garantida por 6.000 militares americanos.

Até agora, quase 60.000 pessoas, entre estrangeiros e afegãos, foram evacuadas do país a partir do aeroporto de Cabul desde 14 de agosto, a maioria delas em voos militares americanos, segundo números de Washington. Mas uma multidão continua reunida do lado de fora das instalações, esperando a oportunidade de sair do país.

As tropas americanas intensificaram nesta terça-feira ((24) as retiradas do Afeganistão, depois que os talibãs advertiram que permitiriam a continuidade deste tipo de operação por apenas mais uma semana, prazo considerado insuficiente por vários países ocidentais.

Nesta terça-feira, durante uma reunião de cúpula virtual do G7 dedicada ao Afeganistão, o Reino Unido, que preside atualmente o grupo, e outros aliados insistirão com os Estados Unidos sobre a necessidade de prorrogar a data-limite de 31 de agosto para conseguir retirar todas as pessoas que precisam deixar o país.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deseja manter a data prevista, mas é pressionado pelas imagens de milhares de afegãos desesperados que aguardam no aeroporto de Cabul por um voo humanitário que permita a fuga do regime talibã.

Antes da reunião, o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, considerou "pouco provável" que Washington aceite a prorrogação. "Mas com certeza vale a pena tentar e vamos fazer isto", declarou ao canal Sky News.

Nas palavras do ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, o prazo de 31 de agosto "não é suficiente para retirar todos os que desejam sair".

"A situação é francamente dramática e cada dia que passa é pior, porque as pessoas têm consciência de que os prazos estão acabando", afirmou a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles.

Um alto funcionário da diplomacia da França declarou que, se o governo dos Estados Unidos retirar todas as suas tropas no prazo previsto, os soldados franceses terão de encerrar as operações de retirada na quinta-feira.

- "Consequências" -

Pondo fim a duas décadas de guerra com uma ofensiva relâmpago que os levou a assumir o controle de Cabul em 15 de agosto, assim como da maior parte do país, os talibãs afirmaram que o prazo de 31 de agosto, data prevista para a retirada total das tropas estrangeiras, é uma "linha vermelha".

"Se Estados Unidos ou Reino Unido buscam mais tempo para continuar as retiradas, a resposta é não (...) Haveria consequências", alertou o porta-voz do grupo insurgente, Suhail Shaheen, para quem a presença além do prazo acordado seria o equivalente a "estender a ocupação".

Quase 50.000 pessoas foram retiradas do país a partir do aeroporto de Cabul desde 14 de agosto, a maioria delas em voos militares americanos, segundo os números de Washington. Apenas na segunda-feira (23) saíram de Cabul 16.000 pessoas em voos de vários países, informou o Pentágono.

Uma multidão permanece reunida do lado de fora do aeroporto à espera da oportunidade de deixar o país. Muitas pessoas temem que os talibãs voltem a instaurar o mesmo regime fundamentalista e brutal que imperou quando permaneceram no poder, entre 1996 e 2001.

Além disso, os cidadãos que trabalharam para governos ou empresas estrangeiras nos últimos anos, artistas ou pessoas que defenderam a abertura do país e os direitos das mulheres ou minorias sabem que são alvos dos extremistas.

Na segunda-feira, um guarda afegão morreu, e três ficaram feridos em tiroteios no aeroporto. Várias pessoas faleceram em circunstâncias obscuras durante as operações de retirada.

- "São os mesmos" -

"Os talibãs são os mesmos há 20 anos", declarou Nilofar Bayat, ativista dos direitos da mulher e ex-capitã da equipe afegã de basquete em cadeira de rodas que fugiu para a Espanha.

Nesta terça-feira, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu que a forma como o Talibã pretende tratar as mulheres, especialmente no que diz respeito ao seu direito à educação, representará uma "linha vermelha".

Bachelet, que no início de agosto havia mencionado "relatórios que mostravam violações que poderiam constituir crimes de guerra" no Afeganistão, destacou nesta terça-feira (24) que recebeu "informações confiáveis sobre graves violações do direito humanitário internacional e ataques contra os direitos humanos em várias zonas sob controle talibã".

O movimento, que trabalha na formação de um novo governo, afirma que mudou em comparação com o regime que administrou o país há 20 anos, inclusive declarando anistia para as forças militares e os funcionários do governo que estiveram à frente do país até o início do mês.

Um relatório da ONU divulgado na semana passada afirma, no entanto, que os islamitas seguem de "porta em porta" para procurar pessoas que trabalharam com o antigo governo, ou com as tropas internacionais.

Os fundamentalistas conseguiram impor uma calma relativa na capital, onde patrulham as ruas, mas o medo continua presente. Muitos cidadãos, sobretudo mulheres, não se arriscam a sair de casa.

Um núcleo de resistência aos talibãs persiste no vale de Panshir, ao nordeste de Cabul, chamado Frente Nacional de Resistência (FNR). O movimento é liderado por Ahmad Masud, filho do célebre comandante Masud, assassinado em 2001, e por Amrullah Saleh, vice-presidente do governo derrubado.

Na segunda-feira, os talibãs afirmaram que cercaram a região de Panshir, mas que preferiam negociar antes de combater.

O porta-voz da FNR, Ali Maisam Nazary, disse à AFP que se prepara "para um conflito de longa duração" com os talibãs, caso não seja alcançado um acordo para um "sistema de governo descentralizado".

Os diplomatas e militares que organizam a retirada de afegãos para a França consideram que cada avião que decola do aeroporto de Cabul é uma conquista e sabem que "tudo pode ser interrompido a qualquer momento".

"Não sabemos quanto tempo ainda temos", disse uma fonte francesa, que afirma que as dificuldades se acumulam na entrada do aeroporto e que o prazo de 31 de agosto se aproxima perigosamente.

Se os Estados Unidos reafirmarem seu objetivo de completar a retirada do Afeganistão em 31 de agosto, abandonando o aeroporto de Cabul, "para nós (...) isso significa que nossa operação termina na quinta-feira à noite. Sendo assim, nos restam três dias", disse Nicolas Roche, chefe de gabinete do ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

Os Estados Unidos, que mobilizaram 5.000 soldados no aeroporto de Cabul, não descartam ficar além de 31 de agosto, mas os talibãs já alertaram que se opõem e que isso pode gerar consequências.

"As condições são cada vez mais difíceis, nos obrigam a nos adaptarmos permanentemente, toda hora", resumiu o embaixador da França no Afeganistão, David Martinon, em uma teleconferência com Le Drian e a ministra da Defesa, Florence Parly, presentes na base aérea francesa de Al Dhafra nos Emirados Árabes Unidos.

A multidão de candidatos para a retirada se aglomera nos três portões de acesso ao aeroporto, complicando o trabalho.

"O portão sul foi derrubado e teve que ser substituído por contêineres blindados que obstruem a passagem, forçando os paraquedistas britânicos a fazerem malabarismos para que os afegãos consigam entrar", disse Martinon.

- "Ameaça" -

Do lado de fora do aeroporto, os candidatos ao exílio devem esperar por horas, às vezes dias, e quando finalmente conseguem entrar, devem abrir caminho com dificuldade em meio a uma multidão compacta.

"Sofrem tiros de balas de borracha, bombas de efeito moral, alguns são agredidos nos postos de controle dos talibãs, mas os mais decididos conseguem chegar", acrescentou Martinon.

A França, que retirou seus militares do Afeganistão em 2014, ajuda principalmente afegãos ameaçados pelo seu compromisso em defesa dos direitos das mulheres, da educação e da cultura.

Em oito dias, o país retirou quase 2.000 pessoas por meio de uma ponte aérea entre Cabul, Abu Dhabi e Paris.

No aeroporto da capital afegã, a possibilidade de um atentado é latente e os Estados Unidos aconselham seus cidadãos a não se aproximarem.

"Os talibãs estão presentes na cidade, na parte civil do aeroporto, portanto estão perto das pistas. Até o momento não demonstraram hostilidade, mas possuem armas que poderiam representar uma ameaça para nossos aviões", explica o coronel Yannick Desbois, comandante da base 104 em Al Dhafra.

O grupo extremista Estado Islâmico (EI) também revindica regularmente atentados no país.

Os aviões franceses A400M são equipados com iscas para evitar eventuais disparos de mísseis.

"Chegamos, embarcamos os passageiros que devemos transportar e decolamos imediatamente, sem descer do avião", conta o comandante Stephen, que pilota um A400M.

Entre pouso e decolagem, não passa mais de meia hora, afirma.

O Pentágono informou, nesta segunda-feira (23), que cerca de 16.000 pessoas foram retiradas nas últimas 24 horas do Afeganistão através do aeroporto de Cabul, com a aceleração das operações de transporte aéreo internacional antes do prazo de 31 de agosto.

O general Hank Taylor disse a jornalistas que 61 voos militares, comerciais e charter, nos quais vários países participaram, saíram do aeroporto internacional Hamid Karzai nas 24 horas antes de 3h00 de segunda-feira (04h00 no horário de Brasília), transportando pessoas que fugiam do país depois que os talibãs tomaram o poder.

Do total do dia, 11.000 já foram retiradas por meio das operações de transporte aéreo do Exército dos Estados Unidos, disse Taylor.

O general acrescentou que o número de pessoas transportadas do Afeganistão desde julho em voos americanos subiu para 42.000, das quais 37.000 foram evacuadas desde que as intensas operações de transporte áereo começaram em 14 de agosto, quando os talibãs se mobilizaram para tomar Cabul.

Este número inclui "vários milhares" de cidadãos americanos e milhares de afegãos que trabalharam para as forças americanas, e que solicitaram ou receberam vistos especiais de imigrante, além dos afegãos considerados em risco de sofrer ataques talibãs pelo seu trabalho em organizações não-governamentais, meios de comunicação e outros empregos, segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby.

Kirby acrescentou que a atenção continua voltada para que as operações de evacuação dos EUA sejam concluídas antes de 31 de agosto, data limite estabelecida pelo presidente Joe Biden para a retirada do país.

Isso exigiria a retirada dos 5.800 soldados dos EUA que basicamente lideraram as operações no aeroporto e mantiveram a segurança desde 14 de agosto, assim como grandes quantidades de equipamentos levados para apoiar sua missão.

Funcionários alemães, britânicos e franceses afirmaram, nesta segunda-feira, que as evacuações que eles realizam poderiam continuar depois de 31 de agosto e manifestaram o desejo de que a força dos Estados Unidos permaneça no local para ajudar o transporte aéreo internacional.

 Mais um voo com 195 afegãos aterrissou na Itália neste sábado (21), elevando para quase mil o número de refugiados evacuados por via aérea pelo país europeu desde o fim de semana passado.

O primeiro avião pousou no aeroporto de Fiumicino, nos arredores de Roma, na última segunda-feira (16), com 74 pessoas, incluindo aproximadamente 20 afegãos. O segundo chegou na quarta, com 85 refugiados, enquanto o terceiro aterrissou no dia seguinte, com 202.

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Já o quarto, o quinto e o sexto voos pousaram na Itália na sexta-feira (20), carregando, respectivamente, 194 e 104 e 103 afegãos.

A operação de evacuação coordenada pela Força Aérea italiana envolve 12 aeronaves e 1,5 mil militares. Os refugiados são levados de Cabul, capital do Afeganistão, para o Kuwait em aviões C-130 da Aeronáutica e depois viajam até Roma em Boeings KC-767, que têm maior capacidade.

As Forças Armadas italianas mantiveram até junho passado uma base militar em Herat, como parte da missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no país asiático.

A retirada das tropas ocidentais, no entanto, permitiu o rápido avanço do Talibã, que havia sido destituído pela invasão americana em 2001 e reconquistou o país no último fim de semana, quase sem enfrentar resistência. 

Da Ansa

O Talibã proibiu aulas mistas em universidades públicas e privadas na província de Herat, que até junho passado abrigou uma base militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) chefiada pela Itália.

A informação é da agência afegã Khaama Press, que diz que os governantes talibãs na província determinaram que homens e mulheres sejam colocados em classes separadas.

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Professores alertaram que isso pode impedir o acesso de mulheres à educação universitária, já que as instituições privadas não conseguem arcar com os custos financeiros de organizar cursos separados.

A província de Herat, no oeste do Afeganistão, tem cerca de 40 mil estudantes e 2 mil professores universitários. Após reassumir o poder no país, o Talibã havia prometido respeitar os direitos das mulheres e garantir seu acesso à educação, mas "à luz da lei islâmica".

Da Ansa

A repórter da CNN norte-americana Clarissa Ward, que vinha fazendo a cobertura da tomada de poder do grupo Talibã em Cabul, Afeganistão, usou seu Instagram, neste sábado (21), para revelar que deixou o país estrangeiro. Ela embarcou em uma aeronave da Força Aérea americana, junto à sua equipe e à cerca de 300 afegãos, durante a madrugada, após algumas longas horas de espera no aeroporto de  Hamid Karzai.

As fotos, feitas pelo fotojornalista William Bonnett, e pela própria Clarissa, impressionam. Nelas, é possível ver muitas pessoas deitadas no chão de terra do aeroporto de Cabul, à espera de um voo, e também, sentadas uma ao lado da outra dentro da aeronave americana lotada. Na legenda, a jornalista escreveu: “Finalmente saindo de Cabul. Muito preocupada com aqueles que não conseguiram sair, que estão esperando há dias ou se escondendo em suas casas com medo de sair”. 

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Anteriormente à sua partida, Clarissa deu uma entrevista a William Waak, da CNN Brasil, a correspondente falou sobre como estava sendo tensa a cobertura. “Talibã tem sido bem receptivo e cordial com os jornalistas dizendo que podemos sair e fazer nosso trabalho com as reportagens. Mas sempre se tem uma sensação de estar no limite. Com tantos combatentes diferentes, nunca se sabe em quem você vai esbarrar e qual vai ser a reação”. 

A Grécia ergueu uma barreira de 40 quilômetros de extensão em sua fronteira com a Turquia para bloquear uma eventual onda de refugiados do Afeganistão.

A obra havia sido iniciada em junho passado, em meio à retirada das tropas dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) do território afegão, o que indica que os países envolvidos na missão militar já esperavam uma rápida retomada do poder pelo Talibã.

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"Não podemos esperar passivamente por um possível impacto", disse na última sexta-feira (20) o ministro da Proteção dos Cidadãos da Grécia, Michalis Chrisochoidis, durante uma visita a Evros, onde fica a barreira.

A Grécia esteve na linha de frente da crise migratória de 2015, quando centenas de milhares de migrantes e refugiados, sobretudo da Síria, entraram no país a partir da Turquia e seguiram em direção ao norte da Europa através dos Bálcãs.

A chamada "rota balcânica" só foi fechada em 2016, quando a UE assinou um acordo que prevê a deportação para a Turquia de sírios que cheguem à Grécia de forma clandestina.

Segundo Chrisochoidis, a crise afegã cria a possibilidade de "novos fluxos migratórios" na Europa. "Nossas fronteiras continuarão invioláveis", prometeu o ministro, enquanto a União Europeia vem cobrando que os Estados-membros acolham refugiados do Afeganistão.

"Peço a todos os países que participaram da missão no Afeganistão, europeus ou não, que ofereceram cotas para reassentamento e corredores seguros, de modo a garantir refúgio a todos que necessitam. Estamos prontos a ajudar os Estados-membros da UE que decidam acolher", disse nesta sábado (21) a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Da Ansa

Angelina Jolie finalmente se rendeu ao Instagram. A atriz decidiu criar uma conta com a finalidade de ser uma espécie de porta-voz da população do Afeganistão, após o país ter sido ocupado pelo Talibã. Em poucas horas, a artista já havia acumulado mais de cinco milhões de seguidores em seu perfil.

Em sua primeira postagem, Angelina publicou uma carta escrita por uma menina afegã. Na legenda, ela disse estar muito preocupada com a situação no país e que não vai poupar esforços para ajudar como pode. “Vim para o Instagram para compartilhar as histórias e vozes daqueles que estão do outro lado do globo e que estão lutando por seus direitos humanos básicos. Não vou recuar, continuarei procurando por meios de ajudar e espero que você se junte a mim”. 

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Angelina está trabalhando em conjunto com a Refugees, agência da ONU que desenvolve ações em prol de refugiados. A atriz se dedica à causa há 20 anos e, agora, vai passar a usar as redes sociais como aliada na busca por melhorias para a vida dessas pessoas. 

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