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Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luiz Fux deu uma resposta contundente, nesta quinta-feira (26), à tentativa do presidente Jair Bolsonaro de retirar da Suprema Corte o ministro Alexandre de Moraes, plano já frustrado pela rejeição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ao pedido de impeachment. Fux afirmou que os juízes não devem ter "medo de decidir" e portanto precisam ter sua independência preservada. Do contrário, o País ficaria sob pena de uma "ditadura sectária inadmissível numa democracia". Para Fux, um pedido de impeachment nesse cenário tem "roupagem de ameaça".

"A democracia está consolidada e ela não admite que juízes trabalhem sobre o páreo de pena de sofrer impeachment. O impeachment é um remédio extremo", afirmou Fux durante participação em evento promovido pela XP Investimentos. "Juiz não pode decidir com uma espada de Dâmocles na cabeça. Não é possível que numa democracia as decisões judiciais sejam criminalizadas", afirmou o presidente da Corte.

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Ainda na avaliação de Fux, a falta de independência de um juiz acarreta num cenário de falta de "ordem e paz". "Se suprimir essa independência, não haverá ordem ou paz", afirmou o ministro.

O presidente Jair Bolsonaro criticou na manhã desta quinta-feira (26), em entrevista à Rádio Jornal, a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de rejeitar o pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Fez uma comparação e queixou-se de o parlamentar ter aceito a determinação do também membro da Corte, Luís Roberto Barroso, de abertura da CPI da Covid - que investiga a responsabilidade do governo federal pelo agravamento da crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus.

"O presidente do Senado entendeu e acolheu uma decisão da sua advocacia, da advocacia do Senado. Agora, quando chegou uma ordem do ministro Barroso para abrir a CPI da Covid, ele mandou abrir, e ponto final. Ele agiu de maneira diferente de como agiu no passado", reclamou.

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Frustrado com mais uma derrota em sua investida contra o Judiciário, Bolsonaro disparou contra Moraes, que, assim como Barroso, se tornou alvo preferencial do presidente. "Ele simplesmente ignora a Constituição, desconhece vários incisos do artigo 5º, que fala do direito de ir e vir, da liberdade de expressão", disse. "Simplesmente começa a investigar qualquer um. Ele prende, tira a liberdade", completou.

Moraes determinou a prisão do presidente do PTB e aliado do governo, Roberto Jefferson, por este ter feito ameaças às instituições em publicações na internet nas quais posa com armas e faz insinuações golpistas.

Marco Temporal

Às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que vai decidir sobre o futuro de centenas de demarcações de terras indígenas em andamento no País, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que uma decisão da Corte contra o Marco Temporal acabaria com o agronegócio no Brasil. "O Brasil está fadado a viver não sei como, talvez importando alimentos", sugeriu, mas questionou: "Pagando com o dinheiro? Eu não sei".

Na entrevista, o chefe do Executivo defendeu que, se o Supremo mudar o entendimento sobre o Marco Temporal, chega uma ordem judicial para Bolsonaro demarcar terras indígenas que correspondem às regiões Sudeste e Sul do País. "É uma área desse tamanho de terra indígena, sem contar os quilombolas, pontuou.

Os ministros discutirão a tese de um "marco temporal" - no qual os indígenas só poderiam reivindicar as terras que já ocupavam na data da promulgação da Constituição de 1988. O STF avalia também se o reconhecimento só é válido depois do término do processo de demarcação pela Funai.

"Essa possível decisão simplesmente acaba com o agronegócio no Brasil", garantiu Bolsonaro. À espera do julgamento que pode definir um marco temporal, representantes de mais de 170 etnias acampam desde terça-feira (24), em Brasília.

Durante exibição do telejornal “Rio Grande Record” dessa quarta-feira (25), uma mulher aproveitou a entrevista ao vivo para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Perguntada sobre o preço da gasolina, a senhora foi enfática na resposta, “está cara, graças ao Bolsonaro”, declarou inicialmente.

A matéria era sobre o aumento do preço da gasolina em Bagé, Rio Grande do Sul, e, no ao vivo, a repórter resolveu questionar uma senhora que estava com o carro no posto. “O que faz com esse preço? Enche o tanque mesmo assim?”, perguntou.

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Sem pensar duas vezes, a senhora respondeu: “Faz o impeachment do Bolsonaro”. A repórter agradeceu a resposta e para encerrar afirmou em tom de humor, que de fato está caro e só vê uma solução. “O jeito mesmo é andar de bicicleta”, disse.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), decidiu rejeitar o pedido de impeachment feito pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A decisão ainda deve ser formalizada nesta quarta-feira (25).

Segundo o blog de Natuza Nery, do G1, Rodrigo Pacheco recebeu hoje um parecer da Advocacia-Geral do Senado considerando o pedido de Bolsonaro improcedente. 

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Para a área jurídica, não há adequação à Lei do Impeachment e, portanto, falta "justa causa" para acolher o processo apresentado na última sexta-feira (20). 

Em pronunciamento nesta terça-feira (24), o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) defendeu a análise do pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O senador lembrou que, meses atrás, ele próprio entregou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido com esse objetivo. Na sexta-feira passada, o presidente Jair Bolsonaro também apresentou ao Senado um pedido de impeachment de Alexandre de Moraes.

Girão afirmou que seu pedido conta com três milhões de assinaturas e que, por isso, deveria ser deliberado pela Casa. Para ele, é preciso dar legitimidade a um anseio do povo brasileiro.

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"Eu acredito que esse vácuo que nós temos hoje no Senado não contribui para a pacificação, para o diálogo no país. Muito pelo contrário; a gente vê um Poder da República invadir a competência dos outros, estando acima dos outros", declarou.

O senador acredita que a análise do impeachment é importante para frear certos abusos e o que ele chama de "escalada autoritária" dos tribunais superiores.

*Da Agência Senado

 

O presidente Jair Bolsonaro desistiu de enviar ao Senado o pedido de impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, segundo o jornalista Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo. O trato teria sido firmado com ministros do governo, que comemoraram a decisão. 

Na última sexta-feira (20), Bolsonaro protocolou o pedido de impeachment contra o também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O presidente da República alegou que Moraes cometeu crime de responsabilidade no Inquérito das Fake News.

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Bolsonaro havia anunciado que também protocolaria um pedido de impeachment contra Barroso. O magistrado passou a ser alvo do presidente após embate sobre o voto impresso, cuja PEC foi derrotada na Câmara dos Deputados.

Em decisão divulgada na manhã desta terça-feira (24), a cúpula da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) desqualificou o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, emitido por interesse do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Em parecer elaborado pelas comissões de Estudos Constitucionais e de Defesa da República e da Democracia da OAB Nacional, e que será encaminhado aos presidentes do Senado, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do STF, o Conselho Pleno apontou que inexistem provas que assegurem a tese do crime de responsabilidade.

No documento, a Ordem ressalta que, em nenhum momento, as referidas práticas consubstanciadoras de crimes de responsabilidade foram, de fato, explicitadas pelo presidente da República em seu pleito.

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“O que se observa de toda a denúncia é, ao contrário do alegado pelo denunciante, uma tentativa de constranger um Ministro da mais alta Corte do país no exercício regular de suas funções”, aponta o parecer. Conclui, assim, que o pedido “não possui fundamento jurídico para justificar a abertura de processo de impeachment contra o referido Ministro injusta e abusivamente denunciado, razão por que deve ser liminarmente rejeitada pelo eminente Presidente do Senado Federal”.

A OAB também defende a atuação independente do STF enquanto guardião da Constituição Federal e aponta que “o pleno funcionamento de todos os Poderes da República constitui pilar de sustentação do Estado Democrático de Direito, e seu esvaziamento ou comprometimento representa a derrocada do regime democrático no país e a abertura para as mais diversas violações de direitos”.

O parecer aprovado pelo Conselho Pleno da OAB Nacional também critica as campanhas de desinformação propagadas nos tempos atuais, que “possuem alto potencial lesivo para a democracia, especialmente quando compreendidos em um contexto no qual fatos e evidências passam a ser percebidos como secundários em relação ao apelo emocional causado por narrativas desonestas ou falsas, planejadas para manipular e capturar a opinião pública”.

Favorável ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), afirmou, nesta segunda-feira (23), que um governo gerido por Hamilton Mourão, vice-presidente do país, seria "mais sério", uma vez que, segundo Dino, o general "não se comportaria como um arruaceiro". O governador também disse, durante entrevista ao Uol News, acreditar que Bolsonaro pode invadir o Congresso Nacional ou o Supremo Tribunal Federal caso perca as eleições de 2022. 

Lembrando da situação vivida nos Estados Unidos após a vitória do presidente Joe Biden, Flávio disse que "tudo indica" uma reação de Bolsonaro parecida com a de Donald Trump. O ex-presidente americano incentivou atos em todo o país e a invasão do Capitólio. 

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"Acho que a atitude nesse momento deve ser de serenidade, porém, de firmeza porque mesmo que ele [Bolsonaro] não tenha êxito nessas tentativas de invadir o Congresso, invadir o Supremo, coisas desse tipo, tudo indica que algo desse tipo será tentado. E ao tentar, já há vítimas. Nós vimos isso no Capitólio, nos EUA. E temos que evitar essa confrontação entre brasileiros. A paz deve prevalecer, o respeito às regras da democracia deve prevalecer", frisou.

Na entrevista, Flávio Dino também ponderou que a eleição de 2022 pode se deparar com uma guerra civil se o clima instaurado por Bolsonaro, de insegurança e questionamentos do pleito, continuar. 

"Porque se nós formos para a eleição nesse clima gerado pelo Bolsonaro, nós podemos não ter problemas agora no 7 de setembro, mas podemos ter problema no outro 7 de setembro quando se avizinhará a derrota eleitoral do Bolsonaro. E, aí sim, no ambiente eleitoral eles podem perpetrar algum tipo de confrontação, assolar ódio, gerar uma espécie de guerra civil", salientou o pessebista. 

Governo Mourão

Sobre o vice-presidente Hamilton Mourão, que é o primeiro sucessor do presidente em caso de destituição do mandato através do impeachment, Flávio Dino disse que o general "apesar de ser uma pessoa à direita, é uma figura que tem se comportado de modo sério, respeitável, diferente do presidente da República". 

"O Mourão é uma pessoa mais à direita, mas não se comportaria como um arruaceiro, como um bagunceiro. Seria uma saída de transição quem sabe ou será uma saída de transição uma vez que Bolsonaro a essa altura está atormentado de desgovernado, inclusive, psicologicamente. Então, talvez fosse uma saída de transição para que haja eleições em paz no Brasil", declarou Flávio Dino em entrevista ao Uol News.

Segundo Dino, Bolsonaro já cometeu reiterados crimes de responsabilidade que embasariam a sua destituição do cargo. "Sou favorável ao impeachment. A oposição tem tentado, mas o que nós não temos são votos neste instante. Somos minoria na Câmara, mas temos tentado. Eu sou a favor do impeachment não só pelos aspectos políticos, mas também pelos aspectos jurídicos. Nós temos crimes de responsabilidade sendo perpetrados gravemente. Somente esse episódio de ameaçar, coagir o ministro Barroso, coagir o ministro Alexandre de Moraes, em qualquer país seria suficiente para o impeachment", declarou o governador.

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, anunciou que a entidade vai elaborar parecer contrário ao pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes feito pelo Planalto, ao qual se referiu como "iniciativa sem qualquer fundamentação jurídica". "O pedido de impeachment apresentado pelo presidente contra o ministro Alexandre de Moraes, iniciativa sem qualquer fundamentação jurídica, reveste-se do repugnante intuito de criminalizar o Poder Judiciário", escreveu em sua conta do Twitter o jurista.

No documento apresentado ao Senado, o presidente Jair Bolsonaro atribui crime de responsabilidade ao magistrado pelo inquérito das fake news, no qual teria atuado como "censor da liberdade de expressão ao interditar o debate de ideias e o respeito à diversidade". O texto ainda pede o afastamento de Moraes de cargos públicos pelo período de oito anos.

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A investida do governo contra o ministro ocorre pouco mais de duas semanas após ele incluir Bolsonaro no inquérito que apura a divulgação organizada de informações falsas. O presidente usou notícias falsas para lançar suspeitas sobre a confiabilidade do sistema eletrônico de votos utilizado em eleições no Brasil. Prometeu pedir o impeachment do também ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, contra quem tem feito ataques sistemáticos em discursos e fala a apoiadores.

Um dos alvos da operação deflagrada nessa sexta-feira (20) pela Polícia Federal contra suposta "incitação à prática de atos violentos e ameaçadores contra a democracia", o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan, afirmou que a entidade está apoiando a manifestação do dia 7 de setembro, em Brasília, que pedirá o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a instituição do voto impresso nas eleições de 2022. A associação, no entanto, divulgou nota na qual nega apoio institucional ao ato, expondo uma divisão entre representantes do setor.

"A Aprosoja apoia o movimento do dia 7 de setembro", disse o presidente à reportagem, por meio de mensagem de texto enviada na quarta-feira. "O Movimento Brasil Verde Amarelo, junto com mais de uma dezena de outros grupos, são (sic) os realizadores do movimento de 7 de setembro", continuou. Galvan negou, no entanto, estar financiando a ida de manifestantes à capital federal. "Cada um que está indo a Brasília é com recurso próprio", disse. Procurado novamente na manhã de ontem, após a deflagração da operação da PF, ele não respondeu.

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Na mesma quarta-feira, a Aprosoja divulgou nota na qual diz que "não financia e tampouco incentiva a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) ou quaisquer atos de violência contra autoridades, pessoas, órgãos públicos ou privados". "A associação não possui qualquer ligação com atos que defendam ‘invadir’ ou ‘quebrar’ o STF, não responde institucionalmente pela organização de nenhum movimento e repudia qualquer publicação que vincule a associação a movimentos violentos ou ilegais", diz o texto. "Historicamente, a Aprosoja Brasil somente apoiou movimentos pacíficos e em conformidade com a Carta Constitucional brasileira."

Citado por Galvan, o Movimento Brasil Verde e Amarelo foi o grupo responsável por um protesto em Brasília em apoio a Bolsonaro em 15 de maio, sob o título de "Marcha da Família Cristã pela Liberdade", e com o slogan "O Agro e o Povo pela democracia". À época, a pauta era "o fim das políticas de lockdown" usadas para conter a disseminação do coronavírus, além do voto impresso e de "um Supremo Tribunal decente".

Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro foi à Esplanada dos Ministérios receber os manifestantes acompanhado de ministros, posou para fotos e desfilou montado a cavalo. Durante o ato, manifestantes portavam faixas pedindo "intervenção militar". No carro de som em que Bolsonaro discursou, uma faixa dizia "Faça o que for preciso! Eu autorizo, presidente!".

A reportagem também questionou o presidente da Aprosoja sobre a relação com Sérgio Reis. O vídeo em que o cantor convoca para os protestos foi gravado na sede da entidade em Brasília, na sexta-feira passada - Galvan estava ao lado do cantor. "Sérgio Reis nos fez uma visita na sede da Aprosoja Brasil. Ficamos muito gratos por isso. Pelo cidadão que ele é e o que ele representa", disse. Galvan se recusou, no entanto, a dizer se tinha remunerado Reis para divulgar os protestos. "Pergunta pra ele", respondeu.

De acordo com um deputado de Mato Grosso, que concordou em falar sob anonimato, a chegada de Galvan ao comando da Aprosoja, em março deste ano, foi resultado de um movimento de médios e pequenos produtores que se juntaram para derrotar os "grandes" na disputa pelo comando da entidade. Segundo políticos ligados ao agronegócio, Galvan não é considerado um "grande" produtor, embora suas plantações de soja ocupem alguns milhares de hectares no Estado. Um dos maiores produtores de soja do mundo, Blairo Maggi criticou Galvan e Sérgio Reis por defender os atos contra o STF, no começo da semana.

O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), ex-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, criticou os ataques ao Poder Judiciário e disse que as declarações e as manifestações contra o Judiciário prejudicam financeiramente o próprio setor agropecuário. "Esse gesto de voluntarismo, onde há agressão. Só prejudica a economia, prejudica o próprio agro. Há formas de vencer as questões de discordância entre o governo e o próprio Supremo que não seja a agressão pública", disse.

A deputada Aline Sleutjes (PSL-PR), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, no entanto, confirmou presença no ato de 7 de setembro previsto para ocorrer na Avenida Paulista, em São Paulo. Apoiadora fervorosa de Bolsonaro, a deputada tem criticado o STF nas redes, dizendo que se comportam como em uma "ditadura". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) emitiu nota em que expressa preocupação com o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (20).

"A convivência entre os Poderes exige aproximação e cooperação, atuando cada um nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna", afirma a nota do tribunal. Ontem, o próprio STF divulgou nota para repudiar a ação do chefe do executivo.

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Hoje pela manhã o presidente disse que o pedido não é uma "revanche" e que fez "tudo dentro das quatro linhas da Constituição".

O pedido de impeachment de Moraes foi protocolado digitalmente pela Presidência da República diretamente no gabinete do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e é assinado apenas por Bolsonaro.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello chamou de “absurda provocação” a ação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que decidiu apresentar um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. A declaração foi dada ao jornal O Globo.

Na entrevista, Mello nomeou a atitude do chefe do Executivo como uma tradução da “ofensa manifesta ao convívio harmonioso entre os Poderes da República”, e disse ainda que a denúncia contra Moraes não tem “fundamento legítimo”, além de revelar “a intenção subalterna de pretender intimidar um magistrado”.

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Segundo o ex-ministro, que se aposentou em outubro do ano passado, Alexandre de Moraes “cumpre, com exatidão e estrita observância das leis, o seu dever funcional”. Celso de Mello acrescentou que “Bolsonaro precisa ter consciência de que não está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”.

O pedido feito por Jair Bolsonaro configura um episódio inédito na política brasileira. Em nota, o STF repudiou a ação, e disse que a democracia “não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões'' e que Moraes irá aguardar a decisão do Senado.

Na manhã deste sábado (21), durante uma visita à cidade de Eldorado (SP), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou aos jornalistas sobre o pedido de impeachment enviado ao Senado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.  Segundo ele, a iniciativa não seria fruto de “revanche”.

“Não é revanche, cada um tem que saber o teu lugar. Só podemos viver em paz e harmonia se cada um respeitar o próximo e saber que tem um limite, e o limite é nossa Constituição”, declarou. Apesar disso, Bolsonaro citou o que classificou como “inquérito do fim do mundo”.

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“Eu fiz tudo dentro das quatro linhas da Constituição. Engraçado, quando eu entro com uma ação no Senado fundada no artigo 52 da Constituição, o mundo cai na minha cabeça. Quando uma pessoa, com um inquérito do fim do mundo, me bota lá, ninguém fala nada”, disse o mandatário, se referindo ao inquérito das fake news, no qual foi incluído por Moraes após fazer ataques infundados ao sistema eleitoral brasileiro.

No documento em que solicita a abertura do primeiro impeachment de um ministro da Corte, Bolsonaro ressaltou que o “Judiciário brasileiro, com fundamento nos princípios constitucionais, tem ocupado um verdadeiro espaço político no cotidiano do País” e, “justamente por isso, deve estar pronto para tolerar o escrutínio público e a crítica política, ainda que severa e dura”.

Após o pedido ser protocolado, nesta sexta-feira (20), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) se pronunciou. Ele afirmou que, da mesma forma em que não enxerga fundamentos para o impeachment do presidente da República, também não observa sustentação para a abertura de processo contra Alexandre de Moraes.

"Mas eu terei muito critério nisso, e sinceramente não antevejo fundamentos técnicos, jurídicos e políticos para impeachment de ministro do Supremo, como também não antevejo em relação a impeachment de presidente da República. O impeachment é algo grave, algo excepcional, de exceção, e que não pode ser banalizado. Mas cumprirei o meu dever de, no momento certo, fazer as decisões que cabem ao presidente do Senado", enfatizou Pacheco.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sinalizou que deve rejeitar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, protocolado pelo presidente Jair Bolsonaro.

"Não antevejo fundamentos para impeachment de ministro do Supremo como também não antevejo em relação a impeachment de presidente da República", disse Pacheco em entrevista a jornalistas na capital paulista.

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O presidente do Senado disse que mantém diálogo com Bolsonaro, apesar da investida do chefe do Planalto. O senador não deixou de fazer críticas, declarando que o Congresso dará "pronta e qualquer resposta a quem queira sacrificar a democracia brasileira".

Ele declarou que vai analisar os critérios técnicos e políticos para decidir sobre o pedido. Pacheco disse que tomará uma decisão "com firmeza e absoluto respeito à democracia". "Não vamos nos render a nenhum tipo de investida que seja para desunir o Brasil. Nós vamos buscar convergir o País, contem comigo para essa união, e não para essa divisão."

Em resposta ao pedido de impeachment apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou na noite desta sexta-feira, 20, uma nota condenando a ofensiva do Planalto. No texto, referendado por todos os ministros da Corte, a instituição diz repudiar "o ato do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, de oferecer denúncia contra um de seus integrantes por conta de decisões em inquérito chancelado pelo Plenário da Corte".

"O Estado Democrático de Direito não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, uma vez que devem ser questionadas nas vias recursais próprias, obedecido o devido processo legal", enfatiza o texto.

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A nota mostra a coesão dos ministros da Corte em resposta às investidas de Bolsonaro contra os seus integrantes. Notificados ainda na tarde desta sexta, os magistrados aguardaram em silêncio os desdobramentos da ofensiva do presidente. Recentemente, a Corte passou a preconizar respostas institucionais aos ataques de Bolsonaro, em vez de recorrer às tradicionais tentativas de conciliação com o Planalto.

Em ação coordenada com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os ministros do Supremo aprovaram a abertura de dois inquéritos contra Bolsonaro - e uma investigação administrativa na Justiça Eleitoral - por ataques aos ministros da Corte embasados em notícias falsas e distorções da realidade, assim como a divulgação de documentos sigilosos produzidos pela Polícia Federal (PF) durante a investigação de ataque ao sistema do TSE, em 2018.

Os inquéritos em andamento na Corte contra Bolsonaro são relatados por Alexandre de Moraes, alvo do pedido de impeachment apresentado ao Senado Federal. Embora o presidente eleja adversários, o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, envia mensagens diretas de que ataques a membros da Corte são recebidos como ofensas a todos os integrantes.

"O STF, ao mesmo tempo em que manifesta total confiança na independência e imparcialidade do Ministro Alexandre de Moraes, aguardará de forma republicana a deliberação do Senado Federal’, finaliza a nota.

Na segunda-feira, 20, Fux abriu a sessão de julgamentos na Corte com um aceno à retomada de diálogo com Bolsonaro. O gesto foi acompanhado por um encontro com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI), que tentava amenizar a crise entre os Poderes.

No início do mês, Fux anunciou o cancelamento da reunião entre os líderes dos Três Poderes, alegando que Bolsonaro não estaria disposto a dialogar. O magistrado afirmou que os ataques contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, ambos do TSE, também atingem os demais ministros da Corte.

"Apesar do cancelamento da reunião, o diálogo entre os Poderes nunca foi interrompido. Como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), eu sigo dialogando com os representantes de todos os Poderes. Em relação a uma nova reunião, a questão será reavaliada", disse Fux.

Agora, diante de um "contra-ataque" institucional, como havia prometido o presidente em mensagem encaminhada a aliados e apoiadores convocando-os para manifestações no dia 7 de setembro, as tratativas para restabelecer a harmonia entre os Poderes podem encontrar novas avenças.

Segundo Rodrigo Pacheco, o presidente do STF não impôs condições para realizar uma nova reunião entre os Poderes com a presença de Bolsonaro. *A declaração, todavia, foi dada antes de o presidente consumar a ameaça que vinha fazendo há semanas.

O presidente Jair Bolsonaro protocolou um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no Senado. A denúncia tem 102 páginas e denuncia o magistrado por crimes de responsabilidade, pedindo a destituição de Moraes do cargo com inabilitação de oito anos para a função pública.

O chefe do Planalto classificou Moraes como "o verdadeiro censor da liberdade de expressão ao interditar o debate de ideias e o respeito à diversidade, e ao descumprir compromisso expressamente assumido com este Senado Federal." A acusação fica em torno de supostos abusos que Moraes teria cometido no cargo.

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O inquérito das fake news, conduzido por Moraes, é apontado entre os motivos para o pedido de Bolsonaro. O presidente elencou condutas do magistrado, como ter determinado a remoção de conteúdos da internet, busca e apreensão contra autoridades, prisão de parlamentar e afastamento de auditores fiscais, além de acolher despacho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para determinar investigação contra Bolsonaro por ameaça às eleições.

 O Palácio do Planalto protocolou junto ao Senado, na tarde desta sexta-feira (20), um pedido de impeachment contra Alexandre Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento foi protocolado por uma auxiliar do presidente Jair Bolsonaro, já que o mandatário se encontra em São Paulo, onde visita familiares. Por sua vez, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, viajou para Minas Gerais, onde passará o final de semana.

Ainda hoje, Moraes proibiu o cantor Sérgio Reis e outros oito investigados pela Polícia Federal de se aproximarem da Praça dos Três Poderes, em Brasília, bem como dos ministros do STF e de senadores. Com a medida, o magistrado atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que investiga casos de incitação a atos violentos e ameaças contra a democracia.

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No dia 14 deste mês, o presidente voltou a atacar o STF depois da prisão do aliado Roberto Jefferson (PTB), por ordem de Alexandre Moraes. 

Na semana passada, Bolsonaro tinha afirmado por meio de suas redes sociais que entraria com pedidos de impeachment contra os ministros Alexandre de Moraes e Roberto Barroso. Por enquanto, apenas o pedido contra Moraes, que incluiu o presidente no inquérito das fake news, foi feito.

Segundo a CNN, no documento, Bolsonaro diz que "não se pode tolerar medidas e decisões excepcionais de um ministro do Supremo Tribunal Federal que, a pretexto de proteger o direito, vem ruindo com os pilares do Estado Democrático de Direito. Ele prometeu a essa Casa e ao povo brasileiro proteger as liberdades individuais, mas vem, na prática, censurando jornalistas e cometendo abusos contra o presidente da República e contra cidadãos que vêm tendo seus bens apreendidos e suas liberdades de expressão e de pensamento tolhidas."

*Com Jameson Ramos 

Em pouco mais de dois anos e meio na Presidência, a pressão pelo impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido) aumenta diante de centenas de acusações de crimes de responsabilidade. Considerados atentados à Constituição Federal previstos no art. 85, a Lei 1079/50 regulamenta a punição, mas depende do interesse da Câmara dos Deputados, como explica o conselheiro da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), Rodrigo Nabuco.

Esse tipo de infração político-administrativa é cometida durante a gestão do presidente, de ministros do Estado, do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do procurador-geral da República (PGR).

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Ampla denúncia

“Qualquer cidadão pode encaminhar à Câmara uma denúncia por crime de responsabilidade e cabe a conveniência do presidente [para] dar seguimento”, indica o advogado.

Na sua visão, ao defender posições controversas, o presidente da República “atenta muitas vezes contra os outros poderes, contra a democracia. Ele tem falas golpistas de impedimento do exercício normal dos outros poderes e isso pode ser enquadrado como crimes de responsabilidade”.

Por não se tratar de crime político, mesmo que culpado, Bolsonaro não pode ser preso. Contudo, a lei prevê a perda do mandato e inabilitação a novas funções públicas por cinco anos. “São crimes muito difíceis de serem processados e comprovados”, avaliou Nabuco ao pontuar sobre o teor interpretativo das acusações.

Julgamento político

No Brasil, o crivo do 'tribunal político' raramente aplica a pena, como ocorreu com os ex-presidentes Fernando Collor e, mais recentemente, Dilma Roussef. Para conselheiro da AASP, a aliança com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dificulta a instauração do processo contra Bolsonaro.  

"Como ele é aliado do presidente, dificilmente vai dar continuidade a isso. Depende dele. Não existe outra pessoa na Constituição", comentou.

Trâmite no Congresso

"Tem um componente político muito forte, porque quem vai dizer se ele atentou contra a probidade da Administração, por exemplo, vai ser inicialmente a Câmara, se admitir o processamento. Depois o Senado, que vai dizer se aquilo que o presidente fez está disciplinado como crime de responsabilidade, se está na lei aquilo, mas é um componente totalmente político”, esclareceu.

Dentre os crimes conferidos na legislação estão atentar contra a existência da União; a liberdade das entidades políticas; aos direitos políticos, individuais e sociais; a segurança interna do País; a probidade na Administração; a lei orçamentária e ao cumprimento das decisões judiciais.

Efeito negativo

Há cerca de um ano das eleições e, após as duas experiências negativas no Brasil, o advogado criminalista adverte para a gravidade de retirar um presidente eleito. “O impedimento não pode ser uma coisa corriqueira, não pode ser uma coisa comum”, considera.

Para Nabuco, o resultado das urnas eletrônicas deve ser respeitado como aceno ao processo democrático. “Por isso é muito grave. Um presidente eleito com milhões de votos, tem que ser uma coisa muito séria para que ele seja destituído do cargo”, concluiu.

Nesta sexta-feira (6), o presidente nacional do PTB protocolou um pedido de impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Roberto Barroso. Jefferson alega que o ministro estaria "exercendo atividade político-partidária e procedendo de modo incompatível com a honra, dignidade e decoro das suas funções". 

Na peça de 332 páginas, o presidente do PTB alega que “O ministro ora denunciado tem atuado e se manifestado ostensiva e intensivamente contra a adoção do voto impresso no país, utilizando-se do cargo que ocupa para descredibilizar o voto impresso, que é objeto de debate no Congresso Nacional, órgão que detém a competência para tratar da temática”, argumenta.

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Roberto Jefferson já foi condenado no escândalo do mensalão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Hoje, o petebista é ferrenho defensor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem atacado Barroso por conta das urnas eletrônicas. Nesta sexta, em Santa Catarina, Bolsonaro chegou a chamar o presidente do TSE de "filho da put*".

A reforma dos ministérios passa a tomar mais corpo conforme o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) formaliza suas intenções aos diferentes cargos. Sendo projetada há meses, mas tendo tomado voz no último dia 26, o loteamento dos cargos da administração pública já começa com duas colocações importantes e nomeadas na última semana, uma delas a mais aguardada — Ciro Nogueira na Casa Civil, cuja posse será nesta quarta-feira (4), feita de forma isolada. Na manhã de hoje (3), o general Luiz Eduardo Ramos tomou posse nesta como novo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República.

Fustigado pela pandemia, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, pelas acusações de crimes de responsabilidade, além de inúmeras saídas ministeriais que impactaram diretamente na atuação e comunicação federais durante a crise sanitária, o governo vê na reforma uma chance de se fortalecer dentro do poder legislativo. Além disso, a libertação e reabilitação eleitoral do ex-presidente Lula trouxe de volta a existência de um oponente político de força até então inexistente no possível pleito atual.

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O Brasil se caracteriza por conjugar o sistema de governo presidencial com a arena pluripartidária em duas casas legislativas: a câmara baixa, dos Deputados, e o Senado Federal, que é a câmara alta do Congresso Nacional. Isso faz com que quem quer que seja o presidente da República, seja qual for o seu espectro ideológico — esquerda ou direita, conservador ou liberal — tenha que, de tempos em tempos, contemplar os interesses dos aliados que compõem sua plataforma, para conseguir aprovar a legislação e interesses de governo no parlamento. À essa prática, os cientistas e analistas dão o nome de “nova política”.

A relação com o Executivo ainda é de maioria, mas precisa de reforços considerando a aproximação ao encerramento das atividades da gestão e as eleições de 2022. Para direcionar o tópico da reforma ministerial, o LeiaJá convidou o cientista político Elton Gomes, entrevistado desta reportagem.

Segundo Gomes, esse modelo sistêmico acontece com Bolsonaro quando ele passa a ficar mais ancorado nos partidos do chamado “Centrão”, grupo de quatorze legendas, com aproximadamente duzentas cadeiras na câmara baixa do Congresso.

“A grande reviravolta do mandato de Bolsonaro tem a ver com a saída do ex-ministro (Sérgio) Moro, que saiu fazendo graves acusações ao governo; e também com a eleição dos atuais presidentes das duas casas legislativas, Rodrigo Pacheco (DEM) no Senado e Arthur Lira (PP) na Câmara dos Deputados. Eleições essas às quais o presidente da República e sua equipe trabalharam favoravelmente. Naquele momento ele já estava muito mais comprometido com esses partidos do que do que convencionou para ele admitir. Diante da necessidade de conseguir aprovar algumas pautas, já que em 2022, ano de eleição, ninguém quer aprovar nada, o apoio político é conveniente. Por outro lado, no Senado ele encontra muitas reticências. A CPI da Covid que hoje desgasta o governo partiu de lá”, elucida inicialmente.

O que acontece com a reforma ministerial do governo Bolsonaro é algo comum aos presidentes brasileiros: lotear cargos, ou seja, entregar cargos da administração pública para os partidos, de acordo com o potencial de voto que eles podem garantir nos projetos de interesse do Executivo nas duas quadras do Congresso. Essa negociação que começa com Ciro Nogueira, um ministro da articulação política e responsável pela aproximação com o Congresso, encerra a fase do governo, que persistiu até um pouco antes da pandemia, de ser “antissistema” e de colocar a base militar para negociar com os congressistas.

“Pressionar a Câmara e até a Suprema Corte rendeu para Bolsonaro obstáculos políticos. Muito embora ele se credibilizasse diante da sua militância mais orgânica, acabou ficando prejudicado diante dos outros poderes, que reagiram. Rodrigo Maia trancou a pauta, a Suprema Corte criou um colete com o inquérito dos atos antidemocráticos. Agora, Bolsonaro adere à normalização das atividades políticas no Brasil, que é o esquema de vergonhas e trocas que caracteriza a relação do Executivo com o Legislativo”, continua o especialista.

Elton questiona, ainda, a origem dessa supostamente tardia mudança ministerial, realizada no pico da crise pandêmica e sob índices altos de rejeição do governo: “A grande questão é saber se Bolsonaro foi alguém que perdeu uma grande oportunidade por não ter feito isso desde o começo do seu governo, fazendo um “toma lá, dá cá” com os partidos antes que as condições econômicas e políticas se agravassem e antes da libertação de Lula, ou se ele foi racional e estratégico e conseguiu aprovar aquilo que era mais importante sem ter que fazer tantas negociações com as bancadas temáticas e nem entregando ministérios de portas fechadas aos apoiadores do Centrão”.

Em uma análise contínua, o cientista identifica os meios-termos e o que caracteriza o momento da reforma ministerial. Confira na entrevista abaixo:

Elton Gomes, doutor em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professor universitário.

LJ: Ainda sobre a escolha de uma reforma ministerial a um ano e dois meses das próximas eleições: o que mais, no histórico político de Bolsonaro, justifica a busca por esta coalizão?

EG: Nem ele foi completamente tolo por não montar uma coalizão logo de princípio e nem foi um grande gênio da estratégia política por ter demorado tanto. É um presidente com origem no baixo clero e que não tinha experiência em cargos executivos, nem tinha um movimento político orgânico nacional (quando se elegeu). Eram várias franjas bolsonaristas: o antipetismo, a ala ideológica, o núcleo liberal. Isso fez com que ele não tivesse recursos políticos necessários para poder montar e principalmente gerir uma coalizão de governo bem sucedida. Quando ele resolveu fazer isso foi com a pandemia e o seu projeto foi muito prejudicado. Bolsonaro também pensava criar um novo partido no qual ele fosse o cacique, razão pela qual ele deixou o PSL, que já tem dono (Luciano Bivar), e no Brasil os partidos têm dono.

A única forma dos interesses da República conseguirem a maioria é através da composição e manutenção de alianças que passam pelo loteamento de cargos e agenda dos parlamentares em seus estados de origem, o que Bolsonaro já faz, mas ele ainda não tinha distribuído os cargos de primeiro escalão. Provavelmente, outros atores do PTB, do DEM e MDB deverão ocupar cargos importantes da administração federal, já para poder credenciar Bolsonaro a aprovar algo importante e torná-lo mais forte na disputa do ano que vem. Esse apoio ele não teve em 2018, pois o Centrão estava todo com Alckmin.

LJ: O impeachment de Bolsonaro é uma tese muito vocal, mas já considerada pouco exequível. Como fica a chance dessa exoneração com os novos rostos na administração pública?

EG: Praticamente se enterra a chance do impeachment com Ciro Nogueira na Casa Civil. As chances já eram muito baixas, na verdade, mas há essa ênfase por ele possuir uma oposição ativa e ter se desentendido com a Suprema Corte e atores legislativos, além da classe artística. A legislação que configura o impeachment precisa de 343 deputados votando favoravelmente ao afastamento do presidente da República para que ele possa ser julgado pelo Senado; e também de uma prerrogativa monocrática, exclusiva do presidente da Câmara dos Deputados. Ou seja, o presidente precisa ser inimigo político do presidente da Câmara. E para se manter no poder,o PR precisa de 171 deputados lhe apoiando, o que é muito pouco. Se nem isso ele tem, é porque o governo já acabou, na prática.

Foi o que aconteceu com os ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, que não tinham mais esse quantitativo de apoio nem na câmara baixa, nem na câmara alta do Congresso. Antes tinha Rodrigo Maia na presidência, mas ele nunca pautou o impeachment pela falta de votos, pois sabia que ia perder. Além do loteamento, Bolsonaro é aliado de Lira, que chegou à cadeira favorecido pelo próprio presidente.

LJ: Essa aproximação mais legislativa e menos militar, gera algum tipo de atrito com as Forças que compõem o governo Bolsonaro desde o seu princípio?

EG: Por um lado, gera uma animosidade, porque não existe redução voluntária de poder e de renda; toda vez que alguém ganha, outra pessoa perde. Mas também não será um jogo de soma zero, em que ele só vai ganhar plano central se perder o apoio dos militares. Essa queda de braços está aí desde o começo do governo. Antes do Centrão entrar na jogada, os militares disputavam o poder com a ala ideológica do governo, e as Forças ganharam. Só Damares ficou; saiu Weintraub, saiu o assessor (Arthur), saiu o secretário da Cultura (Godoy), os da Saúde. Ciro, que marca essa troca, não tem experiência no Executivo, mas tem um enorme trânsito entre os parlamentares e não está entrando à toa, mas porque oferece ao governo uma coisa que ele precisa muito, que é quebrar as resistências no Senado e garantir um apoio mais aberto a Bolsonaro.

Nogueira diz assim: "eu tenho a chave do Senado se você me der esse ministério e tudo aquilo que vem com ele: verbas, cargos, a exoneração de adversários, a nomeação de aliados, influência, prefeituras aliadas beneficiadas. Aí, te dou caminho para fazer o que você tem condições e também consigo criar um espaço na agenda do Senado”. Assim, Ciro resolve a vida do governo e fica tranquilo no cargo até 2022. Com essa negociação, os militares vão perder poder, vão se frustrar com isso, vão reagir de alguma maneira, mas não acho que Bolsonaro perca o apoio. A única diferença aqui é a troca do preço, pois o Centrão cobra muito alto para manter o apoio.

LJ: A reforma pode acalentar mais a economia, que já visa uma recuperação até o ano que vem?

EG: Os principais indicadores e analistas falam em uma tendência à forte retomada da economia brasileira causada pela demanda reprimida. Espera-se uma recuperação acentuada já inclusive com alguns setores da atividade econômica chegando a níveis próximos ou chegando a níveis pré-epidêmicos. Pode ser um trunfo a favor do Governo. Bolsonaro quer usar isso para conseguir um ambiente político benéfico e a diminuição da sua rejeição. Porque, no fim das contas, a CPI da Covid, os crimes de responsabilidade, as acusações de corrupção são menos importantes para o cidadão comum do que suas condições de vida. As pessoas querem saber de combustível mais barato, de taxas de energia elétrica mais praticáveis, transporte público normalizado, alimentação decente.

Essa recuperação econômica já está vindo pro mercado, principalmente imobiliário e o de empréstimos. Os empresários já pegam dinheiro emprestado para investir, mas não se sabe se até outubro de 2022 isso vai conseguir se reverter em uma melhoria efetiva das condições do povo. Mesmo que gere uma inflação, o governo precisa dessa retomada para obter um cenário econômico mais propício, junto ao carisma populista de Bolsonaro que precisa conseguir contrapor o carisma de Lula. Sem isso, a reeleição encontra um cenário desfavorável.

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