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O deputado Kim Kataguiri (União-SP) protocolou, nesta sexta-feira (1º), um projeto de lei contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que responsabiliza jornais, revistas e portais jornalísticos por declarações de seus entrevistados contra terceiros se houver "indícios concretos" de que a informação é falsa.

O texto, que tem a coautoria do deputado Mendonça Filho (União-PE), diz que as empresas jornalísticas "não podem ser responsabilizadas civilmente por fala de entrevistado, mesmo se à época da publicação havia indícios concretos da falsidade de imputação e se o veículo deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade dos fatos".

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"A decisão do STF é o pior retrocesso para a liberdade de expressão da história da Nova República. Ela fere de morte o jornalismo investigativo e cria uma blindagem ainda maior para a elite política corrupta do nosso País", disse Kataguiri. "Não podemos entrar para o rol de países que não respeitam a liberdade de imprensa."

Os parlamentares ainda pretendem coletar assinaturas para elaborar um projeto de emenda à Constituição (PEC) que também trate do tema. Para isso, eles precisarão coletar 71, ou seja, 1/3, das assinaturas da Câmara.

"Com todo respeito aos ministros, acho que é um gravíssimo equívoco", disse Mendonça Filho. "Não vai ser cerceando a liberdade de expressão e da imprensa que vai se combater o ódio da extrema esquerda e direita. É um remédio que vai virar veneno contra a democracia."

Como mostrou o Estadão, associações de imprensa temem que o entendimento comprometa entrevistas ao vivo e especialistas projetam que a tese fixada pelos ministros poderá estimular a autocensura nas redações.

O julgamento do tema foi concluído em agosto, no plenário virtual do STF, mas a tese ainda não havia sido definida. Os ministros decidiram que os veículos da imprensa podem ser punidos na esfera cível, por danos morais e materiais, mas apenas se ficar provado que não checaram as informações divulgadas.

A tese tem repercussão geral, ou seja, funcionará como diretriz para todos os juízes e tribunais do País.

A proposição de Kim Kataguiri e Mendonça Filho faz parte de mais uma das empreitadas do Congresso Nacional contra decisões recentes do STF. Assim acontece em questões polêmicas como aborto, legalização de drogas e o marco temporal.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, nesta segunda-feira (16), que os parlamentares que mentiram e divulgaram fake news sobre os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes serão "chamados à responsabilidade". Em coletiva de imprensa, Lira disse que deputados não podem divulgar fatos que "não condizem com a realidade".

Lira se referiu ao deputado eleito Abilio Brunini (PL-MT), que publicou nas redes sociais um vídeo no Salão Verde da Câmara e afirmou que não houve "praticamente nenhum estrago" no local. "É que, se você fica assistindo só na internet, parece que está tudo quebrado em Brasília. Mas não é verdade", diz Brunini, no vídeo.

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"Todos que tiverem responsabilidades, vão responder, inclusive parlamentares que andam difamando e mentindo com vídeos dizendo que praticamente houve inverdades nas agressões que a Câmara dos Deputados sofreu no seu prédio. Então, esses deputados serão chamados à responsabilidade, porque todos viram a invasão, as cenas são terríveis, violentas, gravíssimas", disse Lira.

"Eles terão que ser chamados à responsabilidade porque, de qualquer maneira, é um parlamentar eleito e não pode estar divulgando fatos que não condizem com a realidade", emendou o presidente da Câmara, que visitou nesta segunda-feira um Batalhão da Polícia Militar localizado nas proximidades da Praça dos Três Poderes, junto com a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e o interventor federal na segurança do DF, Ricardo Cappelli.

Lira ressaltou, contudo, que a punição dos envolvidos nos atos golpistas será feita pela Justiça. "A Câmara tão somente vai contribuir para fornecer, como já fez, todas as evidências, filmagens, perícia, contribuir para a identificação dos culpados e ajudar na formulação de leis que impeçam que esses atos se repitam", afirmou.

Depois de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadirem e depredarem o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), a preocupação agora, segundo Lira, é com a segurança da posse de deputados e senadores, da eleição da Mesa Diretora do Congresso e do início dos trabalhos no Judiciário em 1º de fevereiro.

"Temos de ter a clareza de que muitas pessoas vão se deslocar, de todos os lugares do Brasil, para Brasília. É importante que todos nós estejamos atentos, com um plano de segurança preventivo bastante rígido", declarou Lira. "É importante que todos nós estejamos atentos, com um plano de segurança preventivo bastante rígido", emendou.

O Tribunal de Contas da União (TCU) estuda responsabilizar o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o ex-secretário de Segurança do DF Anderson Torres e os golpistas pela depredação de prédios públicos no último domingo, 8, na capital federal. O Ministério Público junto à Corte de Contas solicitou que seja aberta com urgência uma apuração para cobrar dos responsáveis reparação financeira pelos prejuízos causados.

O pedido do MP foi enviado ao presidente do Tribunal, ministro Bruno Dantas. O requerimento já foi remetido para análise da área técnica da Corte. O Estadão apurou que todo esforço será para construir o nexo de causalidade entre a omissão e o dano para que o prejuízo seja bancado pelas pessoas que forem responsabilizadas pela destruição do patrimônio público.

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Ibaneis foi afastado do cargo por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O governador é suspeito de ter se omitido na proteção de prédios públicos. O aparato de segurança enviado para a Esplanada dos Ministérios no domingo, 8, liberou o acesso dos radicais à Esplanada apesar de pedidos de autoridades do governo federal para que a região fossem interditada. Como revelou o Estadão, enquanto golpistas depredavam o Palácio do Planalto, o Supremo, a Câmara e o Senado os policias estavam comprando água de coco. Fato mencionado na decisão de Moraes que motivou o afastamento do governador.

O procurador Lucas Rocha Furtado solicitou que o TCU peça acesso à decisão do ministro. O fundamento da decisão e demais peças do processo poderão ser usadas como provas contra o governador, segundo o MP, para responsabilização pelos danos causados aos prédios públicos. Advogado em Brasília, o governador Ibaneis é dono de um patrimônio declarado de R$ 78,9 milhões. Um servidor do TCU diz que com esse patrimônio Ibaneis paga os quadros vandalizados e "fica devendo o resto".

O procurador pediu ainda que a Secretaria de Segurança Público do DF seja intimada para prestar esclarecimentos sobre a inação policial que facilitou a invasão, ocupação e depredação do STF, Planalto e Congresso.

A representação formulada pelo MP levará a Corte de Contas a identificar os danos e estimar o valor do prejuízo causado. Com abertura de processo chamado de Tomada de Contas Especial, os auditores identificam os responsáveis. Integrantes do TCU confirmaram ao Estadão que Ibaneis e Anderson Torres estão na lista dos que serão investigados, além dos extremistas que participaram diretamente das depredações.

Na manhã desta terça-feira (12), o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu - de forma unânime -, abrir um processo de responsabilização contra o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ex-procurador Deltan Dallagnol, pelo pagamento de R$ 2,7 milhões em diárias e passagens a procuradores que atuaram na Operação Lava Jato.

O ministro Bruno Dantas, relator do caso, determinou que Janot e Dallagnol devolvam o valor aos cofres públicos ou apresentem defesa em 15 dias. O ex-procurador-chefe do Paraná, João Vicente, também foi responsabilizado.

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"O modelo de gestão escolhido deliberadamente pela alta administração da Procuradoria-Geral da República adotou como regra a ser executada ao longo dos anos uma prática concebida para ser excepcional e limitada no tempo e no espaço, exatamente porque é muito onerosa aos cofres públicos", apontou Dantas em sua decisão.

Os procuradores recebiam ajuda financeira para gastos com diárias e passagens, além de pagamento da Gratificação por Acumulação de Ofícios (Geco). No entanto, o indicado era que os membros da força-tarefa fossem oficialmente transferidos para a capital paranaense.

Defesa

Deltan Dallagnol se defendeu por meio de suas redes sociais. No Twitter, o ex-procurador disse que estão tentando responsabilizá-lo por diárias pagas a outros procuradores. "Essa decisão é revoltante. Depois de ser condenado a indenizar Lula em R$ 75 mil, o TCU agora quer me responsabilizar por diárias que eu não recebi e nem autorizei", declarou.

Para Dallagnol, isso é o resultado da "vingança do sistema contra quem combate à corrupção". Deltan aponta que existe essa "perseguição" porque procuradores, secretários do MPF, auditorias e a própria área técnica do TCU foram unânimes em dizer que as diárias obedeceram a lei.

"O pagamento de diárias foi o modelo mais econômico possível para que especialistas em corrupção e lavagem de dinheiro de várias partes do BR pudessem trabalhar na força-tarefa. Como consequência, a Lava Jato alcançou resultados inéditos, como os R$ 15 bilhões recuperados", salientou.

Até a publicação desta matéria, Rodrigo Janot e João Vicente não haviam comentado sobre a decisão.

O desmatamento em 2021 na Amazônia, recorde dos últimos dez anos, e o enfraquecimento de agências como o ICMBio e o Ibama no governo de Jair Bolsonaro submetem o Brasil a um novo risco de ser alvo de medidas que afetem seu comércio exterior. Isso por causa da construção em fóruns internacionais da ideia de que o País falha em sua responsabilidade de proteger o meio ambiente.

Analistas civis e militares ouvidos pelo Estadão reconhecem a tendência que pode atingir em cheio o Brasil: a chamada securitização das mudanças climáticas quer o deslocamento do tema dos fóruns ambientais e econômicos para aqueles que tratam da segurança e defesa das populações e da manutenção da paz entre as nações.

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A retórica, que no passado consolidou a guerra ao terror, pode levar à criação de um eixo do mal ambiental. Em breve, ela poderia ser usada contra grupos ou países apontados como responsáveis pelos danos causados por eventos extremos, como secas, inundações e ciclones, que afetem as grandes potências. As mudanças climáticas vão ocupar na primeira metade do século um papel central na diplomacia mundial. E o Brasil, com a Amazônia e o pré-sal, está no olho do furacão.

Exemplo de como a securitização do meio ambiente aumenta ano a ano é o documento Nato 2030 - United for a New Era, publicado pela Otan em 2020. O coronel do Exército e especialista em geopolítica Paulo Roberto da Silva Gomes Filho contou nele 19 vezes a expressão "mudança climática". "Ela é apresentada como um dos 'desafios definidores' dos tempos atuais, representando sérias implicações à segurança e aos interesses econômicos dos 30 países que integram a aliança."

Gestão Biden

Nos Estados Unidos, a gestão Joe Biden classificou as mudanças climáticas como questão de segurança nacional, levando o país a apoiar a sua securitização no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). A proposta de que o clima passasse a ser tratado no órgão contou com o apoio do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Um projeto de resolução apresentado pela Irlanda e pelo Níger foi debatido. Ele previa a designação de um relator especial sobre o tema e a produção de relatórios.

A resolução abriria espaço para que, no futuro, o combate às mudanças climáticas pudesse servir de base a sanções e até para ações militares baseadas no princípio de responsabilidade de proteger, o chamado R2P, que fundamentou a intervenção na Líbia, em 2011. Mas, em 13 de dezembro, a resolução foi rejeitada em razão do veto da Rússia - houve ainda o voto contrário da Índia e a abstenção da China e 12 manifestações favoráveis, entre as quais a dos EUA, Reino Unido e França.

Nos debates, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, enfatizou que o apoio à resolução não significava abandono da cooperação internacional. "Devemos parar de debater se o caso das mudanças climáticas é ou não um tema para o Conselho de Segurança. Em vez disso, devemos perguntar como o conselho pode usar seu poderes exclusivos para enfrentar os impactos negativos do clima sobre a paz e a segurança."

A securitização está de acordo com o conceito de dissuasão integrada, defendido pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin. Além de integração multidomínio nos campos de batalha - terra, mar, ar, espacial e cibernético -, ele quer o mesmo nas alianças e parcerias com países. "É lógico que o Brasil, o maior país da América do Sul, seja cortejado pelos EUA, pois eles estão em disputa hegemônica com a China", disse o coronel.

Mas essa situação pode mudar, caso o Brasil seja percebido como uma ameaça. No conselho, os EUA enfrentaram a oposição da China. O embaixador Zhang Jun afirmou: "Os princípios da responsabilidade comum, mas diferenciada, respectiva capacidade e equidade são os pilares da governança climática global. Não seria apropriado o Conselho de Segurança como fórum para substituir a tomada de decisão coletiva pela comunidade internacional."

Para o coronel Paulo Filho, em um mundo em que a hegemonia é disputada, ações da ONU serão cada vez mais difíceis. Ele contou que o texto da Estratégia Nacional de Segurança russa já anunciava o veto ao dizer: "A crescente atenção da comunidade internacional às mudanças climáticas e à manutenção do meio ambiente é usada como pretexto para limitar o acesso de empresas russas ao mercado exportador, restringir o desenvolvimento da indústria russa, estabelecer o controle sobre rotas de transporte e impedir o desenvolvimento da Rússia no Ártico".

Cenário

A discussão na ONU pode afetar o Brasil. Já em 2019, o blog do Exército publicou artigo do coronel Raul Kleber de Souza Boeno no qual alertava que "uma eventual securitização da questão climática teria implicações para a soberania brasileira, com significativas consequências para suas Forças Armadas". Foi atrás de como isso pode acontecer que o pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP Gustavo Macedo produziu cenários em que o conceito de responsabilidade de proteger seria usado contra o Brasil. Dentre eles, estão os crimes contra povos indígenas e o meio ambiente.

Em 2018, Macedo foi o redator do documento Making Atrocity Prevention Effective (Tornar Eficaz a Prevenção de Atrocidades), quando trabalhava como assistente de Ivan Simonovic, o diretor do Departamento de Prevenção a Genocídio e Responsabilidade de Proteger, da ONU. Ele acredita que a ação de Bolsonaro diante de crimes ambientais e humanitários "tornou urgente falar sobre o tema no Brasil". "Pessoas de fora, como o Stephen Walt, (professor) de Harvard, já trataram da possibilidade de se aplicar ao Brasil o R2P, por causa da Amazônia."

Walt publicou em 2019 um artigo na revista Foreign Policy no qual perguntava se os países têm o direito ou a obrigação de intervir em outro país para impedi-lo de causar dano irreversível e catastrófico ao meio ambiente. Depois, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a ideia de um "status internacional à Amazônia".

"É preciso alertar o público brasileiro", disse Macedo. Para ele, essa linguagem diplomática pode ser mobilizada contra o Brasil. "A intervenção não necessariamente é militar; ela pode ser política e econômica. Na história da aplicação do conceito de responsabilidade de proteger, na imensa maioria das vezes, ele foi usado para ação política e econômica, não militar."

Vulnerabilidade

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Juliano Cortinhas, o governo brasileiro pode reduzir a vulnerabilidade do País se voltar a fazer o dever de casa, fortalecendo as agências ambientais e a matriz energética limpa para ter dados positivos na proteção do meio ambiente.

"Associar segurança e meio ambiente em relações internacionais é inevitável. Com as mudanças climáticas, a segurança de todos será afetada. E quem define os temas a serem securitizados são as grandes potências." Para ele, nossas Forças Armadas não têm como impedir a ação de grandes potências. E a solução não é aumentar o orçamento da Defesa, mas reequilibrá-lo, crescendo a conta de investimento e diminuindo a de pessoal. "A Marinha britânica tem 35 mil militares e a nossa tem 80 mil com menos da metade de navios e submarinos."

Cortinhas sublinha o efeito da adoção de padrões internacionais de proteção do meio ambiente. "Quem vai pressionar um país que tem resultados a mostrar?" Segundo ele, com Bolsonaro a vulnerabilidade do País cresceu. "Quando se começa a esconder dados, mascarar a realidade e dizer que a responsabilidade é de países que mais poluem, fica-se mais vulnerável às pressões internacionais."

Para o coronel Paulo Filho, o Brasil será pressionado se não mostrar que fez sua parte à comunidade internacional. "Precisamos ter posição madura. Não podemos negar as mudanças climáticas. Elas podem ser instrumentalizadas contra nossos interesses e servir ao protecionismo agrícola? Podem. É uma realidade. Mas elas também têm efeitos que devem ser combatidos."

Desconfiança

O governo brasileiro trata com desconfiança o interesse de potências estrangeiras na preservação da Amazônia. Para o especialista em geopolítica, coronel Paulo Filho, isso acontece em razão do protecionismo. Ou seja, a defesa do ambiente seria instrumentalizada para atacar as exportações do agronegócio do País.

"O Exército vê com desconfiança o interesse em relação à Amazônia, região com a qual tem uma relação afetiva e uma longa tradição de defesa." Na última década, a questão ambiental entrou na formação dos comandantes. "Quando fui comandar, em 2014 - a gente faz um curso -, não me falaram sobre meio ambiente. Agora, os comandantes recebem uma carga horária de 60 horas sobre meio ambiente."

No Reino Unido, o Ministério da Defesa criou um cargo, ocupado pelo general Richard Nugee, para lidar com mudanças climáticas. Após a COP-26, ele escreveu: "Devemos ser claros, nossa liberdade de manobra, da estratégia à tática, será constantemente erodida e diminuída. Portanto, para permanecer na vanguarda da capacidade operacional, é imperativo que entendamos o futuro e nos adaptemos a ele, da melhor maneira possível".

Sahel

Os exércitos estudam como as mudanças afetarão seu trabalho. Nos debates no Conselho de Segurança sobre a securitização do clima foram citados países que estão sofrendo ameaças à segurança em razão das mudanças climáticas, como os do Sahel, na África. Com a desertificação da área, populações inteiras seriam forçadas a migrar para o sul ou para o norte e para Europa.

Para Paulo Filho, o clima já é entendido como ameaça à segurança humana. "Faz parte das atribuições das Forças Armadas de todo o mundo a defesa dos seus cidadãos. Se vou ter catástrofe climática, subir o nível dos mares e provocar migrações em massa, isso se torna problema de segurança." A securitização do clima, disse ele, está ligada ainda ao fato de o Ocidente, após a Guerra Fria, ter dado mais ênfase a temas ligados à segurança humana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma análise feita em projeto do Cato Institute em 3,2 mil acusações criminais contra policiais dos EUA entre abril de 2009 e dezembro de 2010 identificou que só 33% das acusações resultaram em condenação, dos quais 36% cumpriram tempo de prisão. Se consideradas estas taxas, conservadoras perto do número de outros institutos que compilam dados sobre o tema, os cidadãos comuns são condenados e cumprem pena no mínimo o dobro de vezes mais do que policiais.

O projeto Mapping Police Violence traça um cenário de ainda maior impunidade e estima que 99% das mortes por policiais entre 2013 e 2019 acabaram sem acusação criminal.

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O promotor-geral de Minnesota, Keith Ellison, endureceu nesta quarta-feira (3) a acusação contra o ex-policial Derek Chauvin, que matou George Floyd no dia 25 ao pressionar o joelho no pescoço dele por cerca de oito minutos, apesar de o homem negro de 46 anos dizer que não conseguia respirar. Chauvin teve sua acusação ampliada para homicídio em segundo grau - assassinato não premeditado, com negligência e risco de matar e causar danos corporais à vítima. Inicialmente, a acusação era homicídio em terceiro grau, quando o responsável agiu sem intenção.

Manifestantes e parentes de Floyd pedem acusação de primeiro grau, quando há clara intenção de matar. No caso de Minneapolis, o objetivo de matar ainda deve ser discutido, mas ainda não ficou claro para a Promotoria. O promotor afirmou que Chauvin pode ser acusado pelo homicídio em primeiro grau se houver evidências. "Neste momento, levamos à máxima acusação ética que pudemos", afirmou. Os outros três policiais que ajudaram Chauvin a imobilizar o ex-segurança no chão também foram acusados por Ellison.

Os manifestantes nas ruas exigem uma resposta não apenas para o caso de Floyd. Nos EUA, poucos policiais respondem criminalmente pelo abuso da força e, quando acusados, raramente são condenados.

"Estou cansado de ver a polícia fazer o que quiser sem consequência", afirma Jayden Ford, de 18 anos, que participou dos protestos em frente à Casa Branca, em Washington. Os manifestantes pedem não só a responsabilização da polícia, mas também prestação de contas, mecanismos de controle e transparência, como forma de conter o racismo e o abuso da violência.

"Sem justiça, sem paz", gritam os manifestantes nos Estados Unidos, com pedido de responsabilização da polícia por atos de violência e racismo cometidos contra negros no país. O mote do movimento, uma releitura de frase dita por Martin Luther King em 1967, mostra que os atos continuarão enquanto a percepção sobre impunidade policial não se alterar. Nos EUA, poucos policiais respondem criminalmente pelo abuso da força e, se acusados, raramente são condenados.

"O que aconteceu com George Floyd é um catalisador, mas as pessoas não vão deixar de protestar pelo fato de uma acusação passar de terceiro para segundo grau. É só parte de um quebra-cabeças. As pessoas estão nas ruas por tudo o que acontece nas comunidades e não vira notícia. Mudar a acusação não vai aliviar a raiva e a demanda", afirma o ex-promotor Adam Foss e responsável pelo Prosecutor Impact, que treina novos promotores para lidar com questões como pobreza e desigualdade racial na Justiça criminal.

A polícia matou três pessoas por dia nos EUA em 2019. Os negros, apesar de representarem 13% da população, são mais de 30% das vítimas. Uma análise do Washington Post com pesquisadores do Bowling Green State University mostra que 54 policiais foram formalmente acusados por disparos que causaram morte entre "milhares" de registros em uma década - de 2005 a 2015.

Dos 54, 21 foram absolvidos. Na "vasta maioria" dos casos analisados, a pessoa morta estava desarmada. Em três a cada quatro casos, o policial era branco. Dois terços dos disparos de policiais brancos foram direcionados a negros. Nenhum policial negro atirou de forma a matar uma vítima branca no período analisado.

Um relatório da União Americana de Liberdades Civis de 2017 para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos relatava a falta de mecanismos de controle da polícia americana. O problema, aponta a organização, começa na falta de estrutura legal para responsabilização criminal e passa pela formatação do sistema de justiça.

A acusação de policiais é feita por promotores, que muitas vezes têm proximidade com os policiais envolvidos. Mesmo quando há acusação criminal, há tendência de júris de serem favoráveis aos policiais. Entre 2008 e 2012, a cidade de Dallas, no Texas, teve 175 júris para avaliar crimes cometidos por policiais. Só um resultou em condenação.

Nos casos em que os promotores estaduais não dão andamento à investigação, o caso pode passar a ser conduzido por procuradores federais, como foi com a morte de Eric Garner, que deu força ao movimento Black Lives Matter em 2014. Entre os crimes por policiais analisados na esfera federal, o tempo médio de investigação é de três anos e 96% das possíveis acusações acabam rejeitadas, segundo dado citado pelo Washington Post.

Em 1989, a Suprema Corte americana tomou uma decisão controvertida e decidiu que um oficial deve agir de forma "objetivamente razoável" de acordo com as circunstâncias que percebeu na ocasião, sem olhar os atos em retrospectiva. A decisão é vista como uma das que dificulta a punição policial pelo abuso da força. Em uma decisão anterior, a Corte estabeleceu que um oficial não pode usar a força de maneira letal para prevenir uma fuga, exceto se tiver "crença de boa-fé" que há uma significativa ameaça de morte ou de lesão corporal.

No caso de Floyd, o vídeo não deixa dúvidas que o americano estava vulnerável à ação policial, sem nenhuma capacidade de reação ou de ameaça aos quatro policiais que se ajoelharam em cima dele, enquanto ele foi colocado deitado de barriga para baixo no asfalto. Se a morte de Floyd não é exceção, a diferença desta vez é que tudo está gravado e disponível na internet.

Os problemas no controle da polícia não estão apenas na dificuldade de avançar com acusações criminais no caso de crimes cometidos por oficiais. Há dificuldade em coletar dados da corporação e em manter uma estrutura interna de autocontenção. Dos 50 maiores departamentos de polícia do país, apenas seis possuem conselhos formados por civis com autoridade para impor medidas disciplinares.

Os pesquisadores do centro de estudo sobre o tema da New York University, chamado Policing Project, também defendem que "problemas sistêmicos e estruturais não serão corrigidos apenas com a responsabilização". O professor de direito da universidade e uma das lideranças no grupo, Barry Friedman, afirma que as regras normais de governança democrática "desaparecem" quando se fala da polícia nos EUA.

Em comunicado após a morte de Floyd, os acadêmicos do Policing Project afirmam que o país "deixou a polícia livre para se regular". "Embora alguns deles realmente tentem, muitos não estão ouvindo o que as comunidades que estão policiando têm a dizer", afirmam.

Adam Foss teve destaque ao usar métodos alternativos de pena na Justiça criminal. Há uma tensão, segundo ele, em argumentar que não se deve usar o sistema de Justiça como resolução de problemas e, ao mesmo tempo, defender a responsabilização de policiais que cometem crimes, pois é quase inexistente no país.

"É por isso que é preciso ter empatia também com os policiais. É uma cultura que tem de mudar, há ensinamentos trazidos desde quando somos crianças. A responsabilização e a prestação de contas é uma forma de mudar as coisas, mas precisamos debater como contratamos, treinamos, testamos e possibilitamos desenvolvimento profissional desses policiais. Em 2006, um relatório do Departamento de Justiça apontou que policiais recebem mais de 100 horas de treinamento em manejo de armas e autodefesa e apenas 8 horas de treinamento em mediação de conflitos e relação com a comunidade."

A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho condenou a Ruah Indústria e Comércio de Móveis Ltda., de Sobral (CE), a indenizar os herdeiros de uma empregada morta por um colega de serviço. A Turma entendeu estar configurada a responsabilidade objetiva da empresa pelo ato praticado por empregado no local e no horário de trabalho.

Segundo os autos, a morte foi ocasionada por golpes de faca desferidos por um empregado em decorrência de abalo emocional supostamente originado de “fuxicos” entre colegas. Conforme declaração das testemunhas, ele começou a agredir um colega e, quando a vítima pediu que parasse, voltou-se contra ela e a esfaqueou.

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Os três filhos da vítima, que tinha 32 anos, ajuizaram ação com pedido de reparação por danos materiais e morais. Eles atribuíram à empresa a culpa pelo ocorrido, sustentando que o empregador tem o dever de proporcionar segurança e vigilância à integridade física de seus empregados.

A Ruah, em sua defesa, sustentou que não se tratava de acidente de trabalho, pois não decorreu do serviço. Segundo a empresa, ela não poderia ser responsabilizada por ato praticado por terceiro.

O juízo da Vara do Trabalho de Sobral (CE) entendeu que estavam presentes os elementos configuradores da responsabilidade civil porque o ato foi praticado por empregado na jornada regular de trabalho. Com isso, deferiu aos herdeiros R$ 18 mil de indenização por dano moral e R$ 104 mil por dano material, com base no último salário da vítima e na expectativa de vida de até 65 anos.

O Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região (CE), porém, excluiu a condenação por considerar que o fato “poderia ocorrer tanto no ambiente de trabalho como em qualquer lugar”. Para o TRT, seria impossível e inapropriado que a empresa mantivesse vigilância ininterrupta e contumaz de todos os empregados a fim de impedir eventos danosos entre eles. O Tribunal Regional também registrou que a faca era manuseada pelo empregado no exercício de suas funções, o que descartaria a hipótese de negligência da empresa em relação ao porte de objetos potencialmente perigosos.

No recurso de revista ao TST, os herdeiros sustentaram que a culpa da empresa decorreu do fato de ela não ter tomado as providências de segurança cabíveis na ocasião. Eles ressaltaram que, além de ter matado a mãe, o empregado em seguida esfaqueou outro colega e ainda matou um empregado de uma empresa vizinha, o que demonstraria a premeditação dos crimes.

O relator, ministro Maurício Godinho Delgado, assinalou que, no caso, aplicam-se as regras dos artigos 932, inciso III, e 933 do Código Civil, que tratam da responsabilidade objetiva do empregador pelos atos praticados por seus empregados no estabelecimento ou na empresa. Por unanimidade, a Turma manteve o valor da indenização por dano moral e, quanto ao dano material, deu provimento ao recurso para condenar a empresa a pagar aos herdeiros pensão mensal de um salário mínimo desde a morte da mãe até que eles completem 25 anos.

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Seguindo em caravana pelo Sul do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta segunda-feira (26), esperar que a polícia prenda os responsáveis pelos ataques aos ônibus que transportam ele e sua comitiva pelos estados daquela região, durante a quarta edição do projeto Lula pelo Brasil. 

Nesse domingo (25), manifestantes contrários ao líder-mor petista atiraram pedras contra os veículos, quando passavam por São Miguel do Oeste (SC), e ovos foram arremessados para o palanque em que Lula discursava na cidade.

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“Identificamos e denunciamos três indivíduos. Espero agora que a polícia faça o papel dela e prenda essas pessoas. Protesto todo mundo pode fazer, o que não pode fazer é tacar pedra no motorista do ônibus com risco de causar um acidente grave”, declarou, em entrevista à uma rádio do Paraná. 

Lula ainda chamou de "irresponsáveis" os atos. "São atitudes irresponsáveis, que podem ferir uma pessoa. Um cidadão que joga um ovo em um ato com centenas de mulheres, inclusive com criança no colo, não tem consciência. São vândalos, fascistas, engajados em alguma campanha", apontou. "Estamos denunciando e espero que quando chegar no auge da campanha de 2018 as pessoas estejam mais civilizadas", completou.

A Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) vai acionar o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) pedindo que o Governo do Estado seja responsabilizado pelo assassinato do PM Marcílio Ferreira, que fazia sozinho o policiamento na Patrulha Escolar, no Bairro de Areias, na Zona Oeste do Recife, contrariando a recomendação do manual básico de policiamento ostensivo da corporação.

Presidida pelo deputado estadual Edilson Silva (PSOL), a comissão pedirá ao MPPE a abertura de inquérito para averiguar o caso e a expedição de recomendação ao Poder Executivo para que se abstenha de designar policiais militares para fazer atividade de patrulha/ronda sozinho.

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“Quando está só, o policial militar não consegue garantir a segurança de si mesmo, como irá prestar um bom serviço à população? Um policial fazendo patrulha sozinho passa a se tornar alvo de bandidos, muitas vezes interessados em roubar a arma do PM, como aconteceu com Marcílio Xavier”, avaliou o presidente da comissão.

Na PM desde 2006, o soldado foi baleado na cabeça com a própria arma, na noite de quarta-feira (5). Ele ainda foi socorrido e levado ao hospital. Mas não resistiu. 

De acordo com Edilson Silva, por orientação da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado, a quem cabe gerenciar o Pacto pela Vida, os policiais militares do Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES), que antes faziam patrulha em dupla, conforme orienta o manual de policiamento ostensivo, passaram a fazer o serviço sozinhos.

A Controladoria-Geral da União (CGU) determinou, nesta quarta-feira (18), a abertura de mais seis processos administrativos de responsabilização contra empresas envolvidas na Operação Lava Jato. Com isso, sobre para 24 o número de empresas com procedimentos instaurados.

A nova lista inclui a Tome Engenharia S/A, a Egesa Engenharia S/A, a Carioca Christian Nielsen S/A, a Skanska Brasil Ltda, a Eit Empresa Industrial Técnica S/A e a MPE Montagens e Projetos Especiais S/a. Todas elas serão notificadas nos próximos dias. Caso sejam responsabilizadas, elas poderão ficar impedidas de celebrar novos contratos, terão que pagar de multas ou, se for o caso, receberão outras penalidades cabíveis.

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Em nota, a CGU explicou que existe a possibilidade de novos processos serem abertos contra outras empresas. As outras 18 empresas com processos administrativos de responsabilização já instaurados são as seguintes: Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Iesa, Mendes Junior, OAS, Queiroz Galvão, UTC-Constran, Alumni Engenharia, GDK, Promon Engenharia, Andrade Gutierrez, Fidens Engenharia, Sanko Sider, Odebrecht, Odebrecht Óleo e Gás, Odebrecht Ambiental e SOG Óleo e Gás.

 

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