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O Talibã pediu novamente ao governo dos Estados Unidos para liberar bilhões de dólares de fundos que estão congelados, após dois dias de negociações em Doha, enquanto o Afeganistão enfrenta uma grave crise econômica e humanitária.

O governo talibã também pediu o fim das sanções, durante uma série de reuniões lideradas por seu ministro das Relações Exteriores, Amir Khan Muttaqi, e o delegado especial dos Estados Unidos para o Afeganistão, Tom West.

Esta é a segunda rodada de negociações entre as duas partes no Catar desde que os Estados Unidos encerraram a ocupação do país e o grupo islâmico assumiu o poder.

"As duas delegações discutiram questões de política, economia, assuntos humanitários, saúde, educação e segurança, além de maneiras de fornecer os serviços bancários e fundos necessários", disse o porta-voz das Relações Exteriores do Afeganistão, Abdul Qahar Balkhi, no Twitter.

O porta-voz indicou que a delegação de seu país tranquilizou os Estados Unidos em questões de segurança e instou para que os fundos congelados sejam liberados de maneira incondicional, o fim das listas de penalizados e das sanções e que as questões humanitárias sejam separadas da política.

Washington congelou cerca de 9,5 bilhões de dólares do Banco Central do Afeganistão.

A economia - altamente dependente da ajuda internacional - entrou em colapso e alguns funcionários não recebem salários há meses. O Tesouro não pode pagar as importações.

Agências da ONU alertaram que 23 milhões de afegãos - cerca de metade da população - estão ameaçados pela fome neste inverno, devido à combinação entre a seca pela mudança climática e a paralisação econômica.

Nas negociações, Washington manteve sua posição sobre as sanções que afetam o primeiro-ministro Mohammad Hassan Akhund, mas garantiu que os Estados Unidos agirão para ajudar o povo afegão.

Washington pediu ao Talibã que dê às mulheres e meninas acesso à educação, expressou "preocupação" com relatos de violações dos direitos humanos e lembrou aos islâmicos seu compromisso de não permitir que organizações "terroristas" operem no local.

Quatro mulheres foram encontradas mortas na cidade de Mazar-i-Sharif, no norte do Afeganistão, informou um porta-voz do governo talibã neste sábado(6).

Dois suspeitos foram detidos após a descoberta dos quatro corpos em uma casa, disse o porta-voz do Ministério do Interior, Qari Sayed Khosti, em um vídeo.

“Os detidos admitiram no interrogatório inicial que convidaram as mulheres para a casa. Novas investigações estão em andamento e o caso foi encaminhado ao tribunal”, disse ele.

Khosti não identificou as vítimas, mas uma fonte em Mazar-i-Sharif disse à AFP que pelo menos uma era ativista dos direitos das mulheres. Sua família não quer falar com a imprensa.

De acordo com a BBC Persian, citando fontes da sociedade civil, as quatro mulheres eram amigas que esperavam ir para o aeroporto de Mazar-i-Sharif para deixar o país.

Um grupo de direitos humanos disse à AFP, sob condição de anonimato, que as mulheres receberam uma ligação e acreditaram que era um convite para um voo de evacuação. Elas foram levadas por um carro antes de serem encontradas mortas.

O Talibã, que chegou ao poder no Afeganistão em agosto após uma guerra de 20 anos contra o governo anterior apoiado pelos EUA, é um movimento islâmico extremamente conservador. Sob seu último governo, as mulheres não podiam participar da vida pública.

Desde seu retorno ao poder, muitos ativistas de direitos humanos fugiram do país.

Alguns dos que permaneceram protestaram nas ruas de Cabul, a capital, para exigir o respeito por seus direitos e que as meninas pudessem frequentar escolas públicas secundárias.

Os combatentes do Talibã reprimiram alguns dos protestos e o governo ameaçou prender jornalistas que cobrissem as manifestações não autorizadas.

No entanto, os líderes do movimento insistem que seus combatentes não têm permissão para matar ativistas e prometeram punir aqueles que o fizerem.

A Índia teme que o retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão represente uma injeção de ânimo para os rebeldes na Caxemira controlada por Nova Délhi, uma região de população majoritariamente muçulmana onde a tensão aumenta.

Durante a cúpula do G20 realizada esta semana em Roma, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pediu que a comunidade internacional realize maiores esforços para garantir que o Afeganistão não se transforme em refúgio para "a radicalização e o terrorismo".

Desde a chegada dos talibãs ao poder, em meados de agosto, a Caxemira vive um aumento da tensão, com ataques de rebeldes contra civis, ataques das forças de segurança contra esconderijos dos insurgentes e infiltrações através da linha de cessar-fogo entre Índia e Paquistão.

Confrontos entre rebeldes e forças do governo deixaram hoje seis mortos na parte indiana da Caxemira, segundo autoridades. Dois militantes da Frente de Resistência, incluindo um comandante, foram mortos nos arredores da cidade de Srinagar.

Horas depois, homens armados mataram um vendedor ambulante e outro trabalhador, e dois soldados perderam a vida em um tiroteio perto da linha de separação entre as Caxemiras indiana e paquistanesa.

A administração da Caxemira é dividida por Índia e Paquistão desde a independência de ambos do Reino Unido em 1947. Os dois países, no entanto, reivindicam a totalidade da região, situada no Himalaia, como parte de seu território.

Há mais de três décadas, grupos rebeldes enfrentam o Exército indiano e reivindicam a independência da Caxemira, ou a sua fusão com o Paquistão.

A Índia não relaciona abertamente a responsabilidade pelo aumento da violência com a chegada dos talibãs ao poder no Afeganistão, mas aumentou suas patrulhas perto da Caxemira paquistanesa, disseram à AFP moradores da região e responsáveis das forças de segurança.

- Risco de infiltrações -

Modi, que também manifestou suas preocupações ao presidente dos Estados Unidos Joe Biden, declarou em setembro na Assembleia Geral da ONU que nenhum país deveria ser autorizado a utilizar o Afeganistão "para seus próprios interesses egoístas".

Esse comentário foi percebido como uma alusão ao Paquistão, o principal apoiador dos talibãs, desde quando estes comandaram o Afeganistão entre 1996 e 2001.

O Paquistão, no entanto, ainda não reconheceu o novo governo talibã, mas a Índia acusa Islamabad de ajudar os grupos islamistas paquistaneses Lashkar-e-Taiba e Jaish-e-Mohammad, responsáveis por numerosos ataques na Caxemira, uma acusação rejeitada pelo Paquistão.

A Índia apoiou o governo comunista afegão até sua derrubada pelos mujahedines (combatentes islamitas), em 1992. Em 2001, Nova Délhi ajudou os Estados Unidos e seus aliados a derrubar o regime talibã. Agora, com o retorno dos islamitas ao poder, a Índia teme novas infiltrações de armas e combatentes na Caxemira.

"Tirando lições do passado, podemos dizer que, quando o regime anterior dos talibãs estava no poder, tínhamos terroristas estrangeiros de origem afegã em Jammu-Caxemira", a região controlada pela Índia, declarou o chefe do Estado-Maior do Exército indiano, o general Manoj Mukund Naravane. "Agora, temos todos os motivos para pensar que isso irá acontecer novamente", acrescentou.

Em Kandahar, berço do Talibã no Afeganistão, quase nenhuma mulher foi vista nas ruas desde o retorno ao poder dos fundamentalistas islâmicos. Mas Fereshteh, Fauzia e outras colegas tentam superar seus medos para continuar trabalhando ou estudando.

Fereshteh e Zohra têm quase a mesma idade, 23 e 24, e o mesmo medo: que um talibã se aproxime de surpresa e jogue ácido em seus rostos.

Desde seu retorno ao poder em meados de agosto, o Talibã não atacou fisicamente mulheres que estudam ou trabalham em Kandahar (sul), de acordo com vários depoimentos. E o último ataque com ácido a estudantes da mesma cidade data de mais de doze anos.

Mas a memória dos anos 1990, quando o Talibã impedia as mulheres de trabalhar, estudar ou sair sozinhas ou sem burca, basta para que estas abandonassem as longas e poeirentas avenidas comerciais de Kandahar.

As poucas mulheres vistas nas ruas são como sombras em burcas, correndo pelas lojas, com sacolas de compras nas mãos.

"Antes éramos felizes por vir trabalhar, agora isso nos aflige", diz à AFP Fereshteh Nazari, diretora da escola feminina Sufi Sahib em Kandahar.

"Na rua, os talibãs não dizem nada, mas dá para ver que eles nos olham de soslaio".

Na escola onde trabalha, "a maioria dos pais não manda mais suas filhas com mais de 10 anos para a aula", porque "elas não se sentem mais seguras".

Naquele dia, 700 meninas foram para a escola, em comparação com 2.500 que frequentavam antes.

"Além das compras, que fazemos muito rapidamente, não vamos mais a lugar nenhum, vamos muito rápido para casa", confirma Fauzia, uma estudante de medicina de 20 anos que prefere não revelar seu nome verdadeiro por questões de segurança.

Já os homens aproveitam para bater um papo por horas na calçada, em restaurantes ou bares de "shisha".

Zohra, uma estudante de matemática que também não quer dar seu nome verdadeiro, decidiu parar de ir às aulas, como várias de suas amigas, após rumores de possíveis ataques de ácido.

"Para mim, a vida é mais importante do que qualquer outra coisa", diz.

Mas outras não podem se dar ao luxo, como Fereshteh e suas colegas professoras, que aguardam seus salários, congelados desde a queda do governo anterior há quase dois meses.

"Podemos acabar pedindo esmolas no mercado", suspira a jovem diretora, morena de grandes olhos pretos realçados com kohl, que usa um lenço preto bordado com lantejoulas cintilantes nos cabelos.

"Não temos mais dinheiro. Meu marido perdeu o emprego e tenho que alimentar nossos dois filhos", explica uma colega de Fereshteh, que prefere não revelar seu nome e que, como muitas mulheres no Afeganistão, diz que está "deprimida" .

- "Problema delas" -

Fauzia também está com problemas. Órfã, ela é responsável por alimentar seus quatro irmãos com entre 13 e 17 anos. Até agosto, trabalhava em uma rádio local, onde dava voz a comerciais.

Mas depois de tomar a cidade, o Talibã "postou mensagens no Facebook dizendo que não queria mais música ou vozes femininas nas rádios", disse uma das autoridades da estação.

"Paramos e é uma pena, porque as vozes das mulheres funcionam melhor para atrair a atenção do público", acrescenta.

Desde então, Fauzia deixou seu currículo por toda a cidade, principalmente para cargos de professora. Mas tudo parece estagnado. "Eles me dizem para esperar", diz.

Mas começa a desesperar, porque "o Talibã não diz mais nada".

Oficialmente, os fundamentalistas negam querer retornar ao regime extremista dos anos 1990. "Não proibimos nada às mulheres", disse o mulá Noor Ahmad Saeed, um dos líderes talibãs da província de Kandahar.

"Se não se sentem seguras ou não voltam ao trabalho, é problema delas", afirmou, indiferente. Os talibãs, que vão seguir "as regras do Islã" acima de tudo, "ainda estão estudando" o assunto, acrescentou, sem dar mais detalhes.

Fauzia vê a pressão social aumentar, mesmo em sua própria casa. "Meu irmão me diz para cobrir o rosto, para não ver mais meus amigos, para não ir a lugar nenhum, exceto para a escola".

No pátio da escola, uma das alunas de Fereshteh, Shahzia, de 12 anos, sente falta do governo anterior, que havia promovido a educação de meninas. "Queremos liberdade", mas na realidade "teremos que fazer o que eles nos dizem, caso contrário, teremos problemas".

O número de afegãos que tentam entrar no Irã aumentou desde que o Talibã assumiu o poder há dois meses, mas a maioria é rejeitada, às vezes com violência, disseram várias testemunhas.

Antes da mudança de regime em 15 de agosto, entre 1.000 e 2.000 pessoas a cada mês passavam para o Irã pelo posto de fronteira de Zaranj, na província de Nimruz, no sudoeste do Afeganistão.

Agora, são entre 3.000 e 4.000 pessoas que vão diariamente ao posto de fronteira, disse seu comandante, Mohamed Hashem, explicando que são rejeitados por falta de documentos.

Dezenas de milhares de pessoas tentam fugir do Afeganistão, economicamente paralisado desde a mudança de regime e à beira de uma grave crise humanitária, com um terço da população ameaçada de fome, segundo as Nações Unidas.

As autoridades iranianas só permitem a entrada de afegãos com autorização de residência ou visto para o Irã, ou em caso de emergência médica. Isso representa entre 500 e 600 entradas diárias, de acordo com o líder do Talibã.

As tentativas de entrada ilegal se multiplicaram e, com elas, os primeiros testemunhos de retorno com violência, maus-tratos ou roubo por parte das forças de segurança iranianas.

Do lado afegão da fronteira, Hayatulah, de barba grisalha e usando o turbante tradicional, mostrou sua mão ferida envolta em uma bandagem ensanguentada. "Os soldados iranianos pegaram nosso dinheiro e bateram em nossas mãos", disse ele à AFP.

Mohamad Nasim, que tentou uma noite escalar o muro que separa os dois países três vezes, foi baleado por guardas da fronteira iraniana. Duas pessoas morreram e uma era amiga dele, contou.

Sua tentativa subsequente resultou em uma "prisão" e uma "surra" por soldados iranianos, determinados a dar o exemplo e impedir qualquer entrada clandestina.

Nasim tentou se justificar aos soldados iranianos e lhes disse: "Se vocês estivessem na miséria e na fome que vive a nossa nação, também tentariam atravessar para o outro lado".

Se a crise humanitária piorar, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) avisou para um influxo repentino de até meio milhão de afegãos aos países vizinhos até o final do ano.

Combatentes talibãs interromperam com tiros para o alto nesta quinta-feira (30) em Cabul uma manifestação de seis afegãs que reivindicavam o direito à educação.

Às 8h locais (0h30 de Brasília), três mulheres jovens, de véu e máscara, exibiram uma faixa com a frase (em inglês e dari) "Não politizem a educação!", diante do centro de ensino médio para meninas Rabia Balkhi, na zona leste de Cabul.

"Não quebrem nossas canetas, não queimem nossos livros, não fechem nossas escolas", completava a faixa, ao lado de uma foto de meninas com véu durante uma aula.

Quando outras três manifestantes se uniram às primeiras, uma delas com o cartaz "A educação é a identidade humana", vários talibãs armados chegaram ao local.

Os combatentes obrigaram as manifestantes a recuar para a porta de entrada do centro de ensino. Um deles derrubou o cartaz, enquanto outros avançavam contra os jornalistas estrangeiros para tentar impedir que registrassem imagens do protesto.

Um talibã disparou uma rajada curta de tiros para o alto com sua metralhadora.

As manifestantes se refugiaram dentro da escola e os talibãs perseguiram os cinegrafistas e fotógrafos, tentando retirar suas câmeras. Um combatente deu uma cabeçada em um cinegrafista estrangeiro.

Eles responderam às ordens de um jovem desarmado, mas que estava com um walkie-talkie. Ele se apresentou como Mawlawi Nasratullah, comandante das forças especiais talibãs para Cabul e sua região.

Ele pediu a seus homens que reunissem 10 jornalistas, todos da imprensa internacional, e fez um discurso.

"Respeito os jornalistas, mas esta manifestação não foi autorizada", disse. "As autoridades do Emirado (Islâmico) do Afeganistão não haviam sido informadas. Por isso não há nenhum jornalista afegão aqui".

"Se tivessem pedido autorização para a manifestação, elas teriam recebido", declarou.

"Respeito os direitos das mulheres", acrescentou, cercado por homens armados. "Vocês tentaram cobrir uma manifestação ilegal. Recordo a vocês que nos países modernos, França ou Estados Unidos, a polícia agride os manifestantes", completou.

A manifestação foi convocada na internet por um grupo chamado "Movimento Espontâneo de Mulheres Ativistas no Afeganistão".

No início de setembro, combatentes talibãs armados dispersaram manifestações em várias cidades, como Cabul, Faizabad e Herat, onde duas pessoas foram mortas.

O Talibã, no poder desde meados de agosto, proibiram todas as manifestações no país desde 8 de setembro e até o momento não autorizaram o retorno das mulheres ao ensino médio.

O Talibã basicamente concordou que as mulheres trabalhem para o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), uma das principais ONGs estrangeiras presentes no Afeganistão, mas afirmou que isto levará tempo, anunciou à AFP o diretor geral da organização.

"Nossas funcionárias devem poder trabalhar livremente com seus colegas homens em todo o país", declarou Jan Egeland à AFP após uma reunião com os ministros das Relações Exteriores, dos Refugiados e do Trabalho Humanitário, que pertencem ao movimento islamita.

Os ministros "afirmaram que, a princípio, concordam, mas admitiram que o tema avança lentamente e que vai levar tempo", completou.

O NRC é uma das organizações humanitárias mais ativas do Afeganistão. Quase um terço dos empregados no país são mulheres.

A organização tenta negociar acordos a nível local em sete das 14 províncias em que está presente para que as mulheres possam retomar o trabalho, explicou Egeland.

Como outras ONGs, o NRC precisa adaptar-se às normas flutuantes dos talibãs a respeito do trabalho das mulheres.

Em alguns lugares as mulheres podem trabalhar ao lado dos homens, em outros apenas com outras mulheres e ainda há cidades em que estão proibidas de trabalhar, tudo em função do que deseja o líder talibã local.

Durante o mandato anterior Talibã (1996-2001), as mulheres foram excluídas em grande parte da vida pública e não estavam autorizadas a trabalhar nem estudar.

Desde seu retorno ao poder em meados de agosto, os islamitas tentam tranquilizar a população afegã e a comunidade internacional, alegando que desta vez serão menos rígidos.

Mas, no funcionalismo público, as mulheres ainda não voltaram ao trabalho. As estudantes também não puderam retornar às escolas do ensino médio, apesar de o Talibã ter anunciado na semana passada que as jovens poderiam retornar às salas de aula "o mais rápido possível".

O NRC, entretanto, decidiu não reabrir suas escolas caso as meninas não possam estudar nas mesmas. "Não podemos educar se não ensinamos igualmente meninas e meninos", disse Egeland.

A ONG administra centenas de escolas dos ensinos fundamental e médio no Afeganistão. Nos últimos anos, o Talibã permitiu a presença de meninas nos colégios do NRC em áreas sob seu controle.

Ao mesmo tempo, Egeland chamou a atenção para a situação da economia afegã durante a reunião.

De acordo com a ONU, 18 milhões de pessoas (mais da metade da população) dependem da ajuda humanitária. "É uma corrida contra o tempo. As pessoas vão morrer em breve", disse Egeland.

Aos poucos, o Talibã exclui as mulheres da vida pública no Afeganistão, mas algumas estão decididas a se manifestarem, apesar das represálias do movimento fundamentalista islâmico.

No mandato anterior, de 1996 a 2001, os talibãs ganharam fama por esmagarem os direitos das mulheres, que eram proibidas de estudar ou trabalhar e só podiam sair de casa na companhia de um homem.

De volta ao poder, prometeram mudar e afirmaram que respeitariam os direitos das mulheres de acordo com a lei islâmica, promessas que, no entanto, despertaram dúvidas.

Em Cabul, a cidade que mais mudou nos últimos 20 anos, algumas jovens, como a ativista Shaqaiq Hakimi, se recusam a passar pelo exílio forçado após o retorno ao poder do regime talibã.

"Quero lutar e recuperar os direitos que nos foram tirados. Não precisamos ir para outro país. Esta é a nossa casa", disse à AFP.

"Se eles não nos obrigarem a sair, não iremos a lugar nenhum".

O Talibã garante que as restrições ao retorno das mulheres ao trabalho ou ao ensino médio serão suspensas assim que os novos sistemas forem colocados em prática.

Mas essas medidas lembram os primeiros dias de seu primeiro governo, quando as mulheres nunca mais foram autorizadas a exercer sua profissão ou a retornar às salas de aula.

Farkhunda Zahidbaig, de 21 anos e funcionária de uma ONG, contou que o Talibã entrou em seu escritório e disse aos chefes que as mulheres deveriam voltar para casa e parar de trabalhar.

"Depois disso, nosso chefe tomou a decisão de que o resto de nós não deveria voltar para o escritório".

"As mulheres querem ter uma profissão, mas [...] não podem continuar em seus empregos. O Talibã retirou sua liberdade de trabalhar", garante.

- "Medo" -

Shabana, uma afegã de 26 anos que deseja permanecer anônima, disse que tem medo de nunca encontrar trabalho novamente.

Sem emprego, não será capaz de atender às necessidades de seus entes queridos.

"Estou muito preocupada porque eu sou a única que sustento a minha família", afirma a mulher, ex-funcionária de uma organização sueca.

As vitórias conquistadas pelas mulheres durante os 20 anos de governos apoiados pelo Ocidente foram praticamente limitadas às cidades deste país profundamente conservador. Agora, o Talibã tem sido duramente criticado por desfazê-las.

Diante das críticas, o movimento disse na terça-feira que permitiria que as meninas voltassem à escola "o mais rápido possível", mas não forneceu um cronograma.

Seu governo, composto apenas por homens, também fechou o ministério dedicado aos assuntos da mulher da gestão anterior e o substituiu por outro que ganhou notoriedade durante seu primeiro governo, com o objetivo de reforçar a doutrina religiosa.

À preocupação que as mulheres sentem por terem perdido o emprego, soma-se o medo de muitas delas saírem sozinhas de casa.

"Temos medo de sair na rua e que os talibãs nos chicoteiem ou nos espanquem", admitiu Shabana, que se locomovia por Cabul com seu pai.

"Não podemos nem ir à feira sozinhas", acrescentou.

Enquanto isso, Hakimi disse que vai esperar para ver se o Talibã cumpre sua promessa e se as mulheres afegãs voltarão a trabalhar ou estudar.

"Eu só espero que o façam".

Quando o Talibã tomou Cabul em meados de agosto, Bahar e os outros músicos do Instituto Nacional de Música do Afeganistão (ANIM) enfrentaram um duro dilema: ficar e correr o risco de sofrer represálias ou sair e abandonar seus instrumentos.

"Todos fugimos. Ficamos a salvo, deixando os instrumentos no instituto", lembra esta violinista entrevistada pela AFP.

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O medo foi grande para Bahar, de 18 anos, que se sentiu duplamente atacada. Em seu primeiro governo, entre 1996 e 2001, os fundamentalistas islâmicos proibiram a música e as mulheres não tinham acesso à educação.

"Senti como se perdesse um membro da família", destaca Bahar, referindo-se ao seu violino. Especialmente porque esta jovem chegou ao ANIM diretamente do orfanato onde foi criada. Seu instrumento de cordas era seu "melhor amigo", afirma.

"Quando entrei (no instituto), meu estresse diminuiu, porque a música é alimento para a alma e eu comprovei que isso é verdade", suspira, pedindo para não usar seu nome verdadeiro por segurança.

Desde que soube que os talibãs ocuparam o instituto e usam suas salas como dormitórios, Bahar afirma ter "a impressão de não viver mais".

"Fisicamente estou com vida, mas os talibãs me roubaram a alma", diz entre soluços.

Instrumentos intactos

O Talibã ainda não anunciou sua política oficial sobre a música desde que retomou o poder, mas prometeu governar o país de acordo com sua interpretação rigorosa da Sharia (lei islâmica).

"A música é proibida pelo Islã", disse seu porta-voz Zabihullah Mudjahid no final de agosto, em declarações ao jornal americano The New York Times. "Esperamos poder persuadir as pessoas a não fazerem certas coisas, em vez de ter que pressioná-las".

Em uma visita da AFP ao ANIM, um centro misto - algo que os islâmicos também proíbem -, as conversas entre os jovens combatentes talibãs substituem as melodias de antes. Guardas armados balançam seus fuzis Kalashnikov no sereno pátio do local, à sombra de árvores cujos troncos estão pintados com claves de sol.

Um talibã mostra à AFP uma sala cheia de instrumentos intactos abandonados, enquanto os rumores afirmavam que eles foram destruídos. Os líderes do movimento ordenaram que fossem preservados, afirma.

No entanto, Awa, um guitarrista de 28 anos, se preocupa. Ele, que tinha instrumentos espalhados por todo o seu quarto em sua casa em Cabul, decidiu destruir quase todos os rastros de sua carreira musical, com exceção de sua guitarra favorita, contou à AFP.

Herança musical 

No final de agosto, um cantor de folk foi assassinado a tiros no sul do país. Os boatos mais sombrios abalam, dia após dia, a moral dos artistas afegãos.

Ao silenciar os músicos e privar as crianças de poderem tocar um instrumento, o Talibã "abre o caminho para o desaparecimento da rica herança musical afegã", afirma Ahmad Sarmast, fundador do ANIM, atualmente refugiado na Austrália.

No entanto, quer conservar a esperança de que os talibãs mudaram. Inclusive, escreveu aos líderes do movimento islâmico, defendendo o acesso à música, principalmente para as crianças. "Espero que nos permitam continuar com o nosso trabalho, para o bem do povo afegão", estima.

Do futebol à natação, passando pelo atletismo e hipismo. Em Cabul, o novo diretor de esportes do Talibã afirma que os afegãos poderão praticar até "400 esportes". Mas ainda não pode garantir se as mulheres poderão praticar algum em público.

"Por favor, não me faça mais perguntas sobre as mulheres", insiste Bashir Ahmad Rustamzai, enquanto está sentado na grande cadeira do ex-presidente do Comitê Olímpico do Afeganistão, que fugiu do país, assim como os outros membros do governo anterior.

O recém-nomeado diretor afegão de Esportes e Educação Física é um ex-campeão de luta livre e kung fu.

Durante o primeiro governo do Talibã, ocupou a função de presidente da Federação de Kung Fu e depois trabalhou com o governo pró-Ocidente, com o qual acabou entrando em conflito pela "corrupção generalizada", afirma Rustamzai.

Ele diz que deve muito aos talibãs, a começar por sua liberdade. Foi preso pelo Executivo por ser próximo aos rebeldes, e solto em 15 de agosto, após sete anos de prisão, enquanto o Talibã tomava Cabul e o poder.

De pronto, Rustamzai diz à AFP que os talibãs evoluíram desde os anos 1990, quando usavam principalmente os estádios para executarem seus oponentes. Além disso, promete que desenvolverão o esporte "em todo país, que não será mais controlado apenas por homens e que as mulheres não serão mais proibidas", como temem os ocidentais.

"Tudo isso é propaganda! Não proibiremos nenhum esporte", insistiu.

Os afegãos - continua ele - não têm nada com o que se preocupar, já que poderão continuar praticando seus esportes favoritos: futebol, críquete e as artes marciais. E muitos outros, porque "mais de 400 esportes estão permitidos pelas leis do Islã".

Os talibãs têm apenas uma exigência: que todos os esportes "sejam praticados de acordo com a lei islâmica". Isso representa poucos problemas para os homens, explica: para cumprir com a sharia, precisam apenas cobrir os joelhos. Isso vale para todos os esportes", incluindo o futebol, explicou.

- Separadas dos homens -

Mas o que vai acontecer com as mulheres?

Nesta questão sensível, na qual o Ocidente espera uma mudança por parte do Talibã, o mulá Rustamzai caminha sobre areia movediça, embora tente tranquilizar, afirmando que há mudanças entre os talibãs.

Algumas declarações geram sérias dúvidas, porém.

Há uma semana, o funcionário talibã Ahmadullah Wasiq disse ao jornal australiano SBS que o governo não deve permitir que as mulheres joguem críquete, se estiverem expostas ao público.

"É possível que enfrentem uma situação em que seu rosto e corpo não estejam cobertos. O Islã não permite que as mulheres sejam vistas assim", destacou.

Depois das declarações de Ahmadullah Wasiq, a Austrália ameaçou cancelar a primeira partida histórica masculina entre os dois países, programada para ser disputada em novembro, em Hobart.

Os talibãs permitirão que as mulheres estudem na universidade, desde que o façam separadamente dos homens, confirmou neste domingo (12) o ministro do Ensino Superior do novo regime afegão.

"Nossos combatentes assumiram suas responsabilidades" ao reconquistar o poder, disse Abdul Baqui Haqqani em um coletiva de imprensa em Cabul, na qual destacou a importância do sistema universitário.

O Ocidente acusa o regime talibã de querer negligenciar a educação.

"A partir de agora, a responsabilidade pela reconstrução do país cabe às universidades. E estamos esperançosos, porque o número de universidades aumentou consideravelmente" em comparação com a época do primeiro regime talibã (1996-2001), insistiu.

"Isso nos deixa otimistas para o futuro, para construir um Afeganistão próspero e autônomo (...) Devemos fazer bom uso dessas universidades", acrescentou.

Ele também confirmou que o governo vai proibir as aulas mistas nas universidades, permitidas pelo governo deposto em meados de agosto.

"Isso não representa nenhum problema para nós. São muçulmanos e vão aceitar isso. Decidimos separar (homens e mulheres) porque as classes mistas são contrárias aos princípios do Islã e às nossas tradições", disse.

Segundo ele, a educação mista foi imposta pelo governo pró-Ocidente dos últimos 20 anos, apesar do fato das universidades solicitarem aulas separadas para mulheres e homens.

O novo governo talibã anunciou na semana passada que permitiria que as mulheres estudassem na universidade, sob condições estritas: usar véu completo e em aulas separadas dos homens ou divididas por uma cortina se houver poucas meninas.

O anúncio preocupa algumas universidades, que afirmam não ter meios materiais e financeiros para se adequar à separação por sexo e que isso pode estimular os alunos (frequentadores de turmas mistas) a deixar o país para estudar no exterior.

Também preocupa a Unesco, que estimou na sexta-feira que o "imenso" progresso feito desde 2001 na educação no Afeganistão está em "perigo" com os talibãs e alertou para os riscos de uma "catástrofe geracional" que poderia afetar o desenvolvimento do país "por anos".

No sábado, porém, centenas de afegãs vestidas com o véu integral manifestaram em uma universidade de Cabul apoio ao Talibã.

Durante os anos em que esteve no poder (1996-2001), o Talibã suprimiu os direitos das mulheres afegãs e restringiu suas liberdades mais simples, como estudar, trabalhar ou sair sozinhas.

Os afegãos e a comunidade internacional esperam para ver como o novo governo definirá os padrões que afetarão as mulheres e sua vida em sociedade.

A sharia, lei islâmica, foi aplicada com muito rigor entre 1996 e 2001.

Segundo os fundamentalistas islâmicos, agora as mulheres também poderão trabalhar, mas respeitando os "princípios do Islã", algo que pode ser interpretado de várias maneiras.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a todos os afegãos que cessem imediatamente a violência, em um relatório apresentado ao Conselho de Segurança da organização, neste fim de semana, em meio a temores de uma nova guerra civil no país.

"Peço o fim imediato da violência, o respeito da segurança e dos direitos de todos os afegãos e das obrigações internacionais do Afeganistão, incluindo todos os acordos internacionais, aos quais este país aderiu", escreveu ele neste documento obtido pela AFP e que ainda não é público.

"Convoco os talibãs e todas as demais partes envolvidas a exercerem a máxima moderação para proteger vidas e garantir que as necessidades humanitárias possam ser atendidas", observou Guterres.

O documento foi elaborado na perspectiva da renovação do mandato da missão política da ONU no Afeganistão, que termina em 17 de setembro.

Neste domingo (5), o Talibã disse ter conseguido ganhar terreno no Vale do Panshir, o último grande foco da resistência armada ao governo de todo país. De acordo com as Nações Unidas, 18 milhões de pessoas, metade da população, são afetadas pela crise humanitária.

O plano de resposta da ONU está financiado em apenas 38%, e a organização tenta angariar, urgentemente, cerca de US$ 800 milhões, diz o relatório do secretário-geral.

"Peço a todos os doadores que renovem seu apoio para que a ajuda vital seja reforçada com urgência, entregue a tempo, e o sofrimento seja aliviado", insistiu Guterres, que convocou uma reunião internacional em 13 de setembro próximo, em Genebra, com o objetivo de aumentar a ajuda humanitária.

O chefe da ONU também pede a "todos os países que concordem em receber refugiados afegãos e que se abstenham de qualquer expulsão".

"Os relatos de severas restrições aos direitos humanos em todo país são muito preocupantes, especialmente os relatos de crescentes violações dos direitos humanos de mulheres e meninas afegãs que geram temores de um retorno dos dias mais sombrios", alertou.

"É fundamental que os direitos conquistados a duras penas pelas mulheres e meninas afegãs sejam protegidos. Também é fundamental ter um governo inclusivo que represente todos os afegãos, incluindo mulheres e diferentes grupos étnicos", acrescentou o chefe da ONU.

Inicialmente previsto para sexta-feira (3), o anúncio sobre a composição do novo Executivo talibã, continuava sendo esperado para este domingo.

Em diferentes oportunidades, a comunidade internacional advertiu que julgará o governo talibã por seus atos, e não por suas palavras. Desde que recuperou o poder em 15 de agosto, o movimento fundado pelo mulá Omar prometeu instalar um governo "inclusivo" e garantiu que respeitará os direitos das mulheres.

A desconfiança em relação ao cumprimento destas promessas é grande - tanto em casa, quanto no exterior. No sábado, pelo segundo dia consecutivo, dezenas de mulheres se manifestaram em Cabul para exigir que seus direitos sejam respeitados e que possam participar do futuro Executivo.

Na véspera da reabertura das universidades privadas, os talibãs sancionaram um decreto, especificando que as estudantes destas instituições terão de usar uma abaya preta e um niqab que cubra o rosto. O texto afirma que poderão assistir às aulas, mas não poderão se misturar com os colegas do sexo masculino.

O Talibã anunciou nesta quinta-feira (2) que está perto de formar um novo governo no Afeganistão que será submetido a um rígido escrutínio internacional, especialmente em relação ao tratamento dado às mulheres.

O anúncio da formação de um gabinete - que duas fontes talibãs disseram à AFP que poderia ocorrer na sexta-feira (3)- ocorrerá poucos dias após a caótica partida do país das forças dos Estados Unidos, encerrando a guerra mais longa travada por Washington no exterior.

Embora os países ocidentais tenham assumido uma atitude cautelosa em relação às promessas do movimento de impor um regime mais moderado do que o que governou o país entre 1996 e 2001, há sinais de alguma interação com as novas autoridades.

As Nações Unidas anunciaram a retomada dos voos humanitários entre a capital do Paquistão, Islamabad, e as cidades de Mazar-i-Sharif, no norte, e Kandahar, no sul do Afeganistão.

As empresas americanas Western Union e Moneygram reiniciaram seus serviços de remessas de dinheiro, dos quais muitos afegãos dependem para sobreviver.

O Catar disse que está trabalhando para reabrir o aeroporto de Cabul e que os chanceleres italiano e britânico vão viajar a países da região nos próximos dias para discutir a questão dos refugiados que ainda querem escapar do Talibã.

Além disso, um porta-voz talibã garantiu que o ministro das Relações Exteriores chinês prometeu manter sua embaixada aberta em Cabul.

- "Não temos medo" -

Agora todos os olhos estão voltados para o novo gabinete do Talibã, e se ele será capaz de recuperar uma economia devastada e honrar seu compromisso de um governo "inclusivo".

Mas, o que parece claro, de acordo com uma autoridade do Talibã, é que "pode não haver" mulheres encarregadas de ministérios ou em cargos de responsabilidade.

Durante seu período no poder entre 1996 e 2001, marcado pela aplicação estrita da lei islâmica (sharia), as mulheres foram banidas do espaço público afegão.

Nesta quinta-feira, na cidade de Herat, capital cosmopolita do oeste do Afeganistão, 50 mulheres protestaram para reivindicar o direito ao trabalho e solicitar participação no novo Executivo.

"É nosso dever ter educação, trabalho e segurança", gritaram as manifestantes em uníssono. "Não temos medo, estamos unidas", acrescentaram.

"Queremos que o Talibã aceite falar conosco", disse à AFP uma das organizadoras do protesto, Basira Taheri.

Entre as 122 mil pessoas afegãs e estrangeiras que fugiram do Afeganistão nas últimas semanas graças às retiradas organizadas pelos países ocidentais, estava a primeira jornalista afegã a entrevistar uma autoridade talibã ao vivo na televisão.

Beseshta Arghand, jornalista da rede privada afegã Tolo News, teve que fugir para o Catar, temendo por sua vida, quando os fundamentalistas tomaram o poder.

"Quero dizer à comunidade internacional: por favor, faça algo pelas mulheres afegãs", disse ela à AFP na quarta-feira.

- Economia destruída -

Por outro lado, o novo governo afegão enfrentará uma tarefa imensa: reconstruir uma economia devastada por duas décadas de guerra e dependente da ajuda internacional, em grande parte congelada após a tomada do poder pelos fundamentalistas.

Nas ruas de Cabul, essa é a grande preocupação.

"Com a chegada do Talibã, pode-se dizer que há segurança, mas os negócios estão abaixo de zero", disse Karim Jan, comerciante de eletrônicos, à AFP.

O Talibã deve encontrar fundos com urgência para pagar os salários dos funcionários públicos e manter a infraestrutura vital (fornecimento de água, eletricidade, comunicações) em funcionamento.

Uma de suas prioridades será a operação do aeroporto de Cabul, essencial para o apoio médico e humanitário de que o país precisa.

A ONU alertou no início da semana para uma "iminente catástrofe humanitária" e pediu a garantia de saída do país para aqueles que desejem ir embora.

Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Catar, Mohamed bin Abdelrahman al-Thani, disse que seu governo está negociando com o Talibã para reabrir o aeroporto de Cabul "o mais rápido possível", embora "nenhum acordo" tenha sido alcançado a esse respeito.

No dia anterior, um avião do Catar com equipe técnica pousou neste aeroporto.

Segundo comentou à AFP uma fonte informada sobre o assunto, o Catar enviou esta equipe para falar sobre a "retomada das operações no aeroporto", já que o Talibã solicitou "assistência técnica".

Nesta quinta-feira, a Turquia afirmou que estuda em colaboração com os Talibãs e outros interlocutores assumir um papel na gestão do aeroporto de Cabul.

França concluiu na noite desta sexta-feira (27) a ponte aérea para retirar afegãos ameaçados pelos talibãs de Cabul a Paris, anunciaram os ministros das Forças Armadas e das Relações Exteriores.

A operação "iniciada em 15 de agosto a pedido do presidente da República chegou ao fim esta noite", tuitou a ministra das Forças Armadas, Florence Parly, especificando que "quase 3.000 pessoas, incluindo mais de 2.600 afegãos" foram removidas do país.

A ponte aérea teve que ser interrompida "pela falta de condições de segurança no aeroporto" de Cabul devido à "rápida retirada das forças americanas", que vão deixar o Afeganistão em 31 de agosto, acrescentaram em um comunicado conjunto Parly e seu contraparte das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

"A equipe da embaixada da França em Cabul chegou a Abu Dhabi antes de voltar à França", destacaram.

Os ministros informaram que vão prosseguir com os diálogos com os talibãs para tentar implantar operações humanitárias com outros países aliados para tirar os milhares de afegãos com direito à proteção ocidental que ainda não puderam ser retirados.

"Nossos esforços continuam (...) Vamos continuar neste sentido o nosso trabalho com autoridades talibãs para garantir que não colocarão nenhum entrave a partir de 31 de agosto à saída daqueles que assim o desejarem", afirmaram os dois ministros.

Uma delegação francesa se reuniu na quinta-feira em Catar com representantes talibãs pela primeira vez desde que o movimento islamita voltou ao poder em 15 de agosto.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou, em suas redes sociais, a reputação internacional do Brasil e os problemas diplomáticos trazidos pela gestão de Jair Bolsonaro (sem partido). No comentário, o petista voltou a fazer paralelo do governo com o regime do Talibã, insinuando que pelas diversas feridas à diplomacia e democracia, os extremistas seriam os únicos interessados em manter relações públicas com o país.

“É lamentável que o Brasil tenha se tornado um pária internacional. Ninguém convida o Bolsonaro para visitar nenhum país. E nenhum chefe de Estado quer visitar o Brasil. Ninguém quer aparecer do lado dele”, declarou.

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“Se bem que agora é capaz que o Talibã convide o Bolsonaro”, acrescentou o petista, ao apontar a sintonia de ideias de Jair Bolsonaro com o grupo.

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Recentemente, o nome do ex-presidente voltou a ser associado ao Talibã, após redes bolsonaristas na internet circularem uma imagem falsa, com uma manchete afirmando que Lula teria comemorado a retomada do grupo no Afeganistão e que possuía interesses em se relacionar com as forças do regime. Compartilhada até mesmo pelo deputado Eduardo Bolsonaro, a notícia foi desmentida por veículos de checagem e se tratou de uma montagem (foto editada).

O Talibã proibiu aulas mistas em universidades públicas e privadas na província de Herat, que até junho passado abrigou uma base militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) chefiada pela Itália.

A informação é da agência afegã Khaama Press, que diz que os governantes talibãs na província determinaram que homens e mulheres sejam colocados em classes separadas.

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Professores alertaram que isso pode impedir o acesso de mulheres à educação universitária, já que as instituições privadas não conseguem arcar com os custos financeiros de organizar cursos separados.

A província de Herat, no oeste do Afeganistão, tem cerca de 40 mil estudantes e 2 mil professores universitários. Após reassumir o poder no país, o Talibã havia prometido respeitar os direitos das mulheres e garantir seu acesso à educação, mas "à luz da lei islâmica".

Da Ansa

Na tarde desta sexta (20), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usou seu Twitter para atacar o Facebook. Filho do presidente Jair Bolsonaro, o parlamentar disse que a rede social não tem ‘moral’ para criticar o Talibã, grupo fundamentalista islâmico que tomou o poder no Afeganistão e intensificou a crise humanitária no país.

“O facebook não ter moral para criticar o porta-voz do talibã só nos dá dimensão do fosso em que os valores ocidentais chegaram”, escreveu Eduardo Bolsonaro.

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Desde a última quarta, o Facebook começou a apagar postagens favoráveis ao Talibã, bem como proibiu que o grupo político faça uso da rede social. A empresa diz ter uma equipe de especialistas afegãos dedicados a remover as publicações. "São falantes nativos de dari e pashto [idiomas falados no Afeganistão] e têm conhecimento do contexto local, ajudando a identificar e alertar sobre questões emergentes na plataforma", disse um porta-voz do Facebook à BBC.

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Depois de vetar os talibãs em todos os seus aplicativos, o Facebook divulgou nesta quinta-feira (19) medidas para proteger os usuários vulneráveis no Afeganistão, onde os fundamentalistas islâmicos tomaram o poder.

"Por uma semana, nossas equipes trabalharam noite e dia para fazer o possível a fim de ajudar a manter as pessoas seguras", tuitou Nathaniel Gleicher, diretor de regulamentações de segurança do grupo californiano.

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Seguindo recomendações de defensores dos direitos humanos, jornalistas e ONGs, a rede social criou uma funcionalidade que permite ao usuário "bloquear sua conta com um único clique". A ação evita que pessoas que não estejam entre os seus contatos baixem ou compartilhem sua foto de perfil ou vejam conteúdo do seu feed.

Os usuários do Instagram no Afeganistão receberão notificações com formas de proteger as contas. "Também removemos temporariamente a possibilidade de ver a lista de amigos de um usuário para buscar contas no Afeganistão" de pessoas que poderiam ser procuradas pelos talibãs, acrescentou Gleicher. O executivo também recomendou guias para proteger a atividade na internet.

O Facebook excluiu esta semana uma conta no WhatsApp usada pelos talibãs para responder a reclamações de afegãos. "Somos obrigados a respeitar as leis americanas sobre sanções, o que inclui o bloqueio de contas que se apresentam como oficiais dos talibãs", explicou um porta-voz do aplicativo de mensagens.

Os fundamentalistas responderam na última terça-feira, em sua primeira entrevista coletiva, com críticas ao Facebook, o qual acusaram de atentar contra a liberdade de expressão.

Os talibãs, que tomaram o poder no Afeganistão no domingo (15), se comprometeram a respeitar a liberdade de imprensa, segundo um comunicado emitido nesta terça-feira (17) pela associação Repórteres sem Fronteiras (RSF), que mantém reservas sobre este compromisso.

"Respeitaremos a liberdade de imprensa, porque a informação dos veículos de comunicação será útil para a sociedade e poderá ajudar a corrigir os erros dos líderes", disse o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid.

"Com esta declaração ao RSF, declaramos ao mundo que reconhecemos a importância do papel dos meios de comunicação", acrescentou em uma conversa telefônica com o RSF no domingo, segundo o comunicado.

E acrescentou: "Os jornalistas que trabalham para meios de comunicação estatais ou privados não são criminosos e nenhum deles será perseguido. Na nossa opinião, esses jornalistas são civis e, além disso, são jovens com talento que constituem nossa riqueza".

Durante o primeiro período do governo talibã no Afeganistão, de 1996 a 2001, todos os meios de comunicação foram proibidos, exceto a emissora de rádio A Voz da Sharia, "que não emitia nada além de propaganda e programas religiosos", lembrou RSF.

A organização de defesa da liberdade de imprensa disse que "só o tempo dirá" se a declaração pode ser levada a sério e afirmou que cerca de 100 veículos de comunicação já deixaram de funcionar desde o rápido avanço dos talibãs no país.

Sobre as mulheres jornalistas, Mujahid disse que poderão continuar trabalhando, contando com que usem o hijab ou cubram os cabelos.

Ele afirmou que vai estabelecer um "marco legal" e que, enquanto isso, elas devem "ficar em casa, sem estresse e sem medo".

"Garanto a vocês que voltarão aos seus postos de trabalho", insistiu.

Muitos analistas recomendam ter cuidado na hora de levar os compromissos dos talibãs ao pé da letra, dado o histórico do grupo de violar acordos e sua violenta hostilidade contra qualquer um que considerem que trabalha contra seus interesses.

Os analistas também consideram que o grupo quer projetar uma imagem mais moderada para obter reconhecimento internacional.

O Afeganistão possui pelo menos oito agências de notícias, 52 canais de televisão, 165 emissoras de rádio e 190 jornais impressos, segundo RSF, citando dados da Federação Afegã de Imprensa e Jornalistas.

O país possui um total de 12.000 jornalistas, segundo a mesma fonte.

O Facebook anunciou o banimento de todas as contas ligadas ao grupo fundamentalista islâmico Talibã, que retomou o poder no Afeganistão 20 anos depois de ter sido destituído pela invasão americana.

A rede social fundada por Mark Zuckerberg formou uma equipe de especialistas afegãos para remover conteúdo relacionado ao Talibã, que usava a plataforma para promover suas mensagens.

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O banimento também vale para Instagram e WhatsApp, ambos controlados pelo Facebook, que considera o grupo fundamentalista como uma organização terrorista.

"O Talibã é sancionado como organização terrorista pela lei dos EUA, e nós os banimos de nossos serviços de acordo com nossas políticas para organizações perigosas. Isso significa que removemos contas mantidas por ou em nome do Talibã", disse um porta-voz do Facebook à rede britânica BBC. 

Da Ansa

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