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A ministra da Cultura Margareth Menezes nomeou o historiador Anildomá Willians de Souza como o novo coordenador do Escritório Estadual de Pernambuco, dentro da Diretoria de Articulação e Governança da Secretaria dos Comitês de Cultura do Ministério da Cultura (MINC). Conceituado pelos estudos da vida de Lampião, o pesquisador também é responsável pelo Museu do Cangaço de Serra Talhada, no Sertão do estado.

"O fato de ser um sertanejo, que vive e mora nem outra extremidade do Estado me permite observar de outro ângulo a pujança cultural que temos e como o MINC poderá se fazer presente juntamente com o Estado e municípios", disse Anildomá.

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Ele ainda citou a importância do papel da pasta em apoiar os fazedores de arte e cultura do estado e de preservar uma boa relação política cultural com a sociedade, valorizando e respeitando as raízes e diversidades de Pernambuco. 

A Fundação Cabras de Lampião realizará, nos dias 19, 20, 21 de março, em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, o seminário “Sertão, Beatos e Cangaceiros”. O evento visa discutir os aspectos da história do cangaço, o sincretismo religioso do sertão e o coronelismo, tendo como eixo a vida de Lampião.

Nesta quarta edição, todo o evento será realizado no canal do YouTube do grupo a partir das 20h. Na sexta-feira (19), o debate será iniciado abordando “O que dizem os livros que abordam Lampião e Maria Bonita: Fatos e Mentiras”. Participam da mesa de diálogo a neta de Lampião e Maria Bonita, a jornalista e escritora Vera Ferreira, e o pesquisador, escritor do cangaço e produtor cultural Anildomá Willians de Souza.

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No próximo sábado (20), o tema da palestra será “Religiosidade no Sertão: Sincretismo religioso”, conduzido pelo historiador, sociólogo, pesquisador, escritor e professor José Ferreira Júnior, e pela historiadora, socióloga, pesquisadora e professora Janaína Freire dos Santos Ferreira.

Já no domingo (21), a discussão será sobre “Maria Bonita – Nascimento, Vida e Morte da Rainha do Cangaço” e quem irá falar a temática é a jornalista e pesquisadora do cangaço Wanessa Campos. Todo o evento será mediado pela presidente da Fundação Cleonice Maria.

A iniciativa conta com o apoio cultural da Lei Aldir Blanc, da Prefeitura Municipal de Serra Talhada, Governo Federal e Governo de Pernambuco. Saiba mais detalhes por meio do site da Fundação Cabras de Lampião.

Devido à pandemia da Covid-19, o “Tributo a Virgolino – A celebração do Cangaço”, que desde 1994 é apresentado anualmente em Serra Telhada, no Sertão de Pernambuco, vai ser realizado em novo formato neste ano. A programação vai acontecer de forma on-line, entre os dias 26 e 28 de fevereiro, a partir das 19h, com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube do grupo Cabras de Lampião.

O evento terá palestras, apresentação de grupos de xaxado (dança típica dos cangaceiros), pastoril, capoeira e uma celebração religiosa. A abertura do ciclo de palestras, na sexta-feira (26), será com o pesquisador e escritor do Cangaço, Anildomá Willians de Souza, que falará sobre “Lampião e o Sertão do Pajeú”.

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A agenda também contará com apresentações dos poetas repentistas Damião Enésio e Zé Carlos do Pajeú, do grupo de Xaxado Gilvan Santos, do Mestre Assisão, Grupo de Xaxado Cabras de Lampião e outros artistas.

Veja a programação completa:

DIA 26/02 – SEXTA FEIRA

19h – Palestra “Lampião e o Sertão do Pajeú”, com Anildomá Willans de Souza

19h30 – Poetas repentistas Janailson Mariano e Janaildo Mariano

20h- Grupo de Xaxado Zabelê

20h30 – Pastoril de Maria

21h - Jéssica Caitano e A Cristaleira

 

DIA 27/02 – SÁBADO

19h – Palestra “A influência do Cangaço na Cultura Popular”, com Karl Marx.

19h30 - Damião Enésio e Zé Carlos do Pajeú

20h - Grupo de Xaxado Gilvan Santos

20h30 - Mistura Pernambucana

21h - As Severinas

 

DIA 28/02 – DOMINGO

09h -A Celebração do Cangaço com Padre Josenildo e participação de:

Banda de Pífanos Travessão do Caruá.

Mestre Assisão

Bacamarteiros do Pajeú

Capoeira Muzenza

Poeta e Contador de Causos Clênio Sandes

Grupo de Xaxado Cabras de Lampião

Cícero de Souza e Francinaldo Oliveira

Marquinhos do Acordeom

Naldinho Carvalho

 

O pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, nascido em 4 de junho de 1900 no vilarejo de Vila Bela (atual município de Serra Talhada), é um famoso personagem da história brasileira, em especial da região Nordeste. Mas provavelmente você o conhece pelo nome de Lampião, o famoso “Rei do Cangaço”, comumente descrito como um movimento de banditismo social brasileiro que teve início no século XVIII e durou até meados do século XX. 

Para a professora de história Thaís Almeida, no entanto, essa é uma visão reducionista. “O Nordeste era muito marcado pela violenta desigualdade social, principalmente nos interiores. O poder arbitrário dos coronéis criava uma situação de opressão muito grande, e a fome e sede eram comuns entre a população pobre. Essa realidade social criou figuras como a dos cangaceiros, bandidos que praticavam crimes violentos, e ao mesmo tempo tinham um senso de justiça social que justificava a perseguição a representantes da lei - figuras associadas pela população à violência e descaso para com ela mesma - e até mesmo a distribuição de parte dos roubos para os pobres. Ao mesmo tempo, Lampião, junto com os cangaceiros, cometia vários crimes. Dessa dualidade que marca a figura de Lampião vêm os diferentes posicionamentos em relação a ele: para alguns, ele foi um herói que desafiou as estruturas do poder dominante e opressivo. Para outros, foi um bandido cujos atos são abomináveis”, contou a professora. 

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O Cangaço se inseriu em um contexto de pobreza e miséria na região nordeste, causadas pela ausência do Estado durante o Império e também depois da Proclamação da República, tudo isso agravado pela seca. Segundo o professor de história José Carlos Mardock, “as famílias nordestinas precisavam fazer a própria justiça e acabariam levando o terror para os vilarejos e adjacências. Porém [o Cangaço] é um movimento complexo que não pode ser respondido de forma direta, sem levar em consideração que a entrada de Virgulino Ferreira representaria um marco nessa história”. 

A fama do Rei do Cangaço crescia junto com a eficiência de seu bando e dele próprio, que recebeu o apelido de Lampião porque se comentava ser capaz de atirar tão rápido que a ponta de sua arma ficava vermelha como um lampião aceso. As andanças do grupo de Lampião por uma extensa área do Sertão nordestino também colaboraram para a construção de sua fama. Segundo o professor de geografia Carlos Lima, o bando de Lampião “se concentrou no sertão e passou por vários estados, da Bahia ao Ceará, passando por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe, era uma área bem extensa”.

Essas grandes andanças, associadas à violência com que seu bando agia e também aos ideais de justiça social defendidos pelos cangaceiros, fez com que Lampião e seus homens ganhassem cada vez mais fama, de forma controversa, como explica o professor Mardock. “Pela organização, disciplina e violência com que impunha aos ‘cabras’, o respeito e as vitórias foram se avolumando. É certo também que muitas mortes foram atribuídas ao bando, o que ajudou na construção da fama. Por onde passava, torturava e matava deixando um rastro de crueldade. Por um lado, camadas mais pobres viam no bando atos de heroísmo. Por outro, os homens sobreviviam de saques às grandes fazendas. Alguns estudiosos teriam transcrito como um instrumento de ‘justiça social’, explicando o amor e o ódio que Lampião e seu bando geravam”, disse ele.

O conhecimento geográfico que os cangaceiros tinham da região da Caatinga, bioma do semi-árido nordestino que é de difícil acesso para quem não conhece a área, especialmente em tempos mais secos, garantiram vantagens militares aos cangaceiros, ainda segundo o professor de geografia Carlos Lima. 

“Como habitantes da região, eles sabiam usar a favor deles as dificuldades do terreno. Quem os combatia, eles chamavam de ‘macacos’, sofriam com o terreno, pois eram habitantes de zonas urbanizadas, não estavam acostumados. O conhecimento geográfico empírico era fundamental para os cangaceiros, que sem nenhum conhecimento técnico, somente da vivência no lugar, souberam usar isso como vantagem. Por exemplo, ocupando uma região mais alta do terreno que daria a eles uma visão melhor de possíveis ataques. Ocupando uma área mais erma, de difícil acesso, onde somente eles conheciam”, explicou Carlos.

Lampião foi morto junto com sua companheira, Maria Bonita, e os outros cangaceiros de seu grupo no dia 28 de julho de 1938, aos 40 anos de idade, com um tiro na barriga, na Grota do Angico, em Sergipe. Seus corpos foram deixados para serem devorados pelas aves de rapina, enquanto suas cabeças seriam expostas em praça pública. Segundo a professora de história Thais Almeida, a atitude da volante (grupos formados no governo de Getúlio Vargas para perseguir os grupos de cangaceiros) tinha por objetivo passar um recado de poder. “Tipo ‘isso que acontece com quem desafia os poderes do Estado’”, afirmou ela. 

Legado

O movimento do Cangaço deixou marcas profundas na sociedade nordestina, especialmente, e também diversos legados que ainda persistem. De acordo com o professor de sociologia Marlyo Alex, mais conhecido como Manolo, Lampião deixou marcas estéticas e culturais a respeito da maneira como é visto o nordestino. 

“Cria-se muito a imagem de um símbolo que acaba permeando a cultura do Nordeste e também a imagem do nordestino ser o personagem arredio que não aceita as coisas como são, luta, é sempre bravio de forma que vai estar sempre se impondo, tentando manter a cabeça erguida ou sua própria honra, o que está de certa forma ligado à questão do Cangaço, do Lampião”, contou o professor.

Questionado sobre as discussões acerca da dicotomia sobre a imagem de Lampião e do próprio Cangaço de forma geral, o professor afirma que classificar esse personagem histórico simplesmente como bandido é uma atitude simplista. “A ausência do estado, a conjuntura social e até o clima favoreceram uma cultura de violência do nordeste, que é anterior até ao fenômeno do cangaço e dentro disso nasce esse fenômeno que nos traz o Virgulino Ferreira. Ele se eterniza por imortalizar a estética visual do cangaceiro e por construir em torno de si uma aura de herói social, até pq o estado era tão opressor quanto qualquer outro em certas localidades, dessa forma um grupo de homens, jovens, bem vestidos e que vivam de forma farta e aventuras na caatinga adentro criam uma certa aura nos jovens que almejavam se tornarem também cangaceiros e até das moças que se sentiam seduzidas por esses bandoleiros”, afirmou Manolo.

Para o professor, um exemplo que ilustra bem a complexidade dessa questão é o fato de que a imagem de Lampião muda em diferentes lugares do país, a depender do que se passou com ele e seu bando no local. “A região de Serra Talhada preserva muito da memória criada em torno dessa mística idealizada do cangaceiro como herói. Já em Mossoró, no Rio Grande do Norte, existe até hoje comemorações do episódio em que Lampião e seu bando foram repelidos”, contou Manolo.

Lampião e o Enem

Questionado sobre como Lampião e o Cangaço podem aparecer na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o professor Manolo conta que isso já aconteceu uma vez, com uma questão que associava figuras de Maria Bonita e Zuzu Angel. 

“Algo que pode ser temática de questão é a relação do cangaço com o fenômeno político da época que era o Coronelismo, a Era Vargas, até porque foi nesse período que foram produzidas as únicas filmagens que temos conhecimento do Bando feitas por Benjamin Abrahão, que é imortalizado na retomada do cinema pernambucano em Baile Perfumado, e dentro da Era Vargas o fim do cangaço com o estabelecimento da volante que atuou para desmantelar esse grupos. Outro possível tema é a discussão acerca do cangaço feita pelo historiador britânico Eric Hobsbawm no livro Bandidos no tema de banditismo social, que me lembra muito a primeira faixa do disco Da lama ao Caos, de Nação Zumbi, onde ele relaciona Lampião a Zapata, Sandino e como ainda essas questões sociais estão relacionadas a violência”, disse Manolo. 

O professor de geografia Carlos Lima conta que apesar de serem mais comuns em provas de outros vestibulares, como o Sistema Seriado de Avaliação (SSA) da Universidade de Pernambuco (UPE), questões relacionando a história de Lampião e seu bando com a vegetação e o relevo nordestinos podem aparecer no Enem. 

Para a professora de história Thaís Almeida, é a dicotomia entre as imagens de herói e bandido atribuídas a Lampião que têm maiores chances de aparecer na prova, enquanto o professor Mardock aposta mais em análises didáticas de características como religião e cultura, ou abordagens que conectem o Cangaço à República Velha e ao fenômeno do Coronelismo, sem que haja, no entanto, “análise sociológica ou antropológica sobre o movimento. Logo, as mesmas abordagens que são realizadas sobre Canudos”.

O cangaço se instaurou fortemente no Nordeste brasileiro em meados do final do século 19 e início do século 20, tendo maior repercussão entre 1920 e 1930, quando ficou conhecido como banditismo social, numa referência a ir de encontro ao coronelismo vigente na época. Os cangaceiros eram caracterizados pela figura sempre em movimento, de vida quase nômade, e trajavam roupas de couro.

Armados de peixeiras e rifles, andavam em bando. As figuras de maior destaque em Pernambuco foram Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita. O legado do cangaço à cultura nordestina ganha programação especial no Centro Cultural Cais do Sertão desta segunda-feira (20) e vai até o dia 2 de agosto.

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O movimento será lembrando com extensa e plural programação on-line. Os internautas terão acesso a debates, lives temáticas, vídeos interdisciplinares e playlists abordando sempre a herança deixada pelos cangaceiros na história. "A história do cangaço é primordial para entendermos a formação social e cultural do Nordeste. Principalmente neste período de isolamento social, compreender a narrativa combatente e de resistência do nosso povo a partir da cultura e interlocução faz-se primordial", analisa a gerente do Cais do Sertão, Maria Rosa Maia.

O cangaço já começa a ser esmiuçado nesta terça-feira (21), no quadro Papo de Museu, às 15h. O quadro ao vivo trará a coordenadora do Museu do Cangaço e presidenta da Fundação Cultural Cabras de Lampião, Cleonice Maria. Ela bate um papo com o educador Perácio Gondim, do time do Cais, sobre os estudos acerca da cultura do cangaço na contemporaneidade.

Na semana seguinte, o fundador da ABLAC – Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço e sócio da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Aderbal Baptista, discorre sobre o "Movimento do Cangaço no Nordeste". A mediação é de outro educador do Cais, Sandro Santos. Na quinta-feira (30), o Conexão Cais contempla interlocução com a jornalista Vera Ferreira, neta de Lampião e Maria Bonita e pesquisadora do Cangaço.

Durante a live, ela vai comentar o legado cultural e social deixado por Lampião e Maria Bonita. O debate será mediado pela educadora Viviane Sampaio. Além das lives e bate-papos, o museu lança vídeo interdisciplinar sobre a estética do cangaço, exemplificado nas roupas de couro curtido e armamentos.

A playlist também contempla artistas que se debruçaram sobre o movimento, a exemplo de Marinês, a Rainha do xaxado. "Os xaxados de Marinês" é assinada pelo músico-educador do Cais, Diogo do Monte. Todo o conteúdo pode ser acessado gratuitamente no Instagram do Cais do Sertão.

*Da assessoria

Nesta sexta-feira (29), o sociólogo Voldi Ribeiro lança o livro “Lampião e o Nascimento de Maria Bonita”, contendo a data correta do batismo da Rainha do Cangaço, que é 17 de janeiro de 1910. O evento ocorrerá na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, às 18h30, com entrada franca.

O livro contém 196 páginas e com figuras de Maria Bonita e de Lampião que encontram colorizadas. A obra contém o prefácio e artigo de Frederico Pernambucano de Mello, referência na pesquisa do Cangaço. A pesquisa trata da área onde ela nasceu, Malhada da Caiçara que pertencia a Glória-BA, atualmente pertence a Paulo Afonso–BA.

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Na obra, o sociólogo Voldi Ribeiro discute o surgimento da data incorreta do nascimento de Maria Bonita que outros autores tinham como 8 de março de 1911. E apresenta ainda a composição da família dela, bem como alguns registros de irmãs suas.

Além disso aborda, finalmente, o encontro de Lampião com Maria Bonita, sua convivência de 1931 até 28 de setembro de 1938, data das suas mortes, na grota do Angico, Sergipe.

Voldi de Moura Ribeiro é um pesquisador que reside em Paulo Afonso, Bahia. Ele estuda este tema há mais de 15 anos, também está produzindo um novo livro sobre a participação da mulher no Cangaço.

Serviço

Lançamento do Livro 'Lampião e o Nascimento de Maria Bonita’

Sexta-feira (29) | 18h30

Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco (Rua João Lira, s/n)

Gratuita

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Maria Gomes de Oliveira nasceu no dia 8 de março de 1911, na fazenda Malhada do Caiçara, onde hoje está localizada a cidade de Paulo Afonso, na Bahia. Impressionado por sua beleza, Virgulino Ferreira da Silva passou a chama-la de Maria Bonita. Em meados de 1930, a baiana entra para o cangaço, sendo a primeira mulher a fazer parte do bando de Lampião. Os feitos de Maria Bonita, Lampião e o cangaço, fazem parte da história brasileira, sobretudo da região Nordeste. Professores afirmam que a personagem, assim como tudo que a envolve, podem ser cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).  

Na edição de 2017 do Enem, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias abordou, em uma questão, o traje usado por Maria Bonita durante sua vida no cangaço na década de 1930. Confira: 

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Ao comentar a questão, o professor de história Marylo Alex, destaca que a abordagem do Enem sobre Maria Bonita está relacionada aos feitos do cangaço e à maneira como as mulheres se comportavam fazendo parte do bando de Lampião. “A questão associando Maria Bonita a Zuzu Angel, no Enem 2017, falava sobre a questão estética do Nordeste, falava sobre a questão da figura da mulher forte, no caso a mulher nordestina. Também pode ser abordada a questão da ‘mulher macho, sim senhor’. Então, se vir a cair algo a respeito de Maria Bonita, seria associando a figura do cangaço a essa figura de uma mulher mais forte, com um caráter e com uma posição mais dominante ou preponderante. E talvez a questão da estética do cangaço em si, a estética do Nordeste, todo esse imagético, toda essa questão do uso do imaginário do Nordeste que se populariza com Luiz Gonzaga, com o próprio bando de lampião e o cangaço de uma forma geral”, pontua.  

Vida no Cangaço

Maria Bonita ingressa no cangaço em 1931, aos 20 anos. Na esteira do banditismo praticado pelo bando no Sertão nordestino, a cangaceira vive um amor com famoso e temido Lampião, chefe dos bandoleiros. Após a entrada de Maria Bonita no cangaço, outras mulheres também ingressaram no bando.

Marylo Alex afirma que a cangaceira teve um papel de liderança entre os cangaceiros, por ser esposa de Lampião. O historiador destaca que a figura da mulher no meio de um grupo formado por homens temidos em toda região, pode ser abordada pelo Enem.

“Maria Bonita em relação ao Enem, pode ser abordada em questão ao cangaço. A questão do cangaço no Nordeste e a figura da mulher no cangaço de certa forma começa a partir dela. Quando Maria Bonita ingressa no bando de lampião, outras mulheres vão acompanhar esse bando de bandoleiros, assaltantes e justiceiros. Elas começam acompanhar dando suporte. Ela acaba tendo um papel de liderança junto ao lampião, e é uma figura que no Nordeste cria toda essa imagem de mulher forte, de uma mulher com papel de liderança, sempre associando seu nome ao Lampião”, ressalta.

As cangaceiras que engravidavam ficavam escondidas durante a gestação por causa das batalhas sangrentas travadas pelos bandoleiros. Após o nascimento do bebê, entregavam a criança aos parentes e retornavam ao cangaço. Durante a sua vida ao lado de Lampião, Maria Bonita gerou Expedita de Oliveira Ferreira Nunes, nascida à sombra de um umbuzeiro, no meio da Caatinga, no estado de Sergipe. Estudiosos divergem quanto ao parentesco dos gêmeos Ananias Gomes de Oliveira e Arlindo Gomes de Oliveira, até então considerados filhos do casal.

Mulher e Cangaço

Para o professor de geografia Benedito Serafim, a trajetória de Maria Bonita evidencia a importância social da inserção da mulher no cangaço. “A importância de Maria Bonita dentro do cenário do banditismo de classes, que o cangaço brasileiro, é a inserção da mulher. (...) não tinha nenhuma mulher no bando de Lampião, a partir do momento em que Maria Bonita entra no bando, ele acaba autorizando os outros cangaceiros a terem esposas, isso é uma coisa que só se estabeleceu a partir dela”, diz.

O docente destaca que com a inserção das mulheres no bando, os cangaceiros começaram a ser mais cautelosos em relação às batalhas. “A cautela passa a ser maior com a inserção da mulher no cangaço. Uma coisa era você ter 30 ou 40 homens andando pelo Serão invadindo fazendas e cidades. Depois que eles têm esposas, eles começam ser mais cautelosos”.

Morte

Os desmandos de Maria Bonita e Lampião duraram oito anos, até que no dia 28 de julho de 1938, durante uma investida policial que atacou o esconderijo do bando, localizado em Grota do Angicos, Poço Redondo, no estado de Sergipe, Maria Bonita e Lampião foram encontrados e mortos, decapitados pelos agentes. Relatos afirmam que as cabeças das vítimas foram expostas em praça pública e os seus corpos deixados a céu aberto como comida de urubus.

 

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As particularidades, crenças e histórias do Ciclo do Cangaço e coronelismo em Pernambuco ganham vida nas páginas da HQ Luto. Lançada neste sábado (18) no Museu do Trem, área central do Recife, a obra conta com roteiro de Bruno Florêncio e edição de Gabriela Pimentel e narra, a partir de uma linguagem simples, fatos da cultura popular do Estado como a guerra entre as famílias Bezerra e Araújo. Além de ser o espaço para o lançamento de Luto, o equipamento cultural abriga uma exposição dedicada à obra que segue até o dia 31 de agosto.

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Apresentada previamente durante a  Bienal Geek em Pernambuco e no Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) em Minas Gerais, a obra faz um resgate da identidade sertaneja e do cangaço a apartir da mistura de ilustrações em xilogravura, em preto e branco, e outros desenhos em cores.

Das pesquisas etnográficas até a finalização e lançamento do livro foram contabilizados quatros anos. "O processo de pesquisa e construção da obra teve início em 2014. Foi realizado um levantamento bibliográfico e uma adaptação dela para a HQ", explica Bruno em entrevista ao LeiaJá.

De acordo com o roteirista, o título que dá nome a HQ faz referência à presença da morte em um processo de ciclo na narrativa. "O luto é um estado presente no universo dessas famílias do livro, é quase um movimento cíclico, uma obrigação de vingar a perda do pai ou parente", ressalta o roteirista.

Responsável pela edição da obra, Gabriela Pimentel reafirma o compromisso da narrativa com a divulgação da cultura popular pernambucana e a possibilidade de levá-la para além do Estado. "Estivemos em um evento em Curitiba e ficamos muito felizes com a receptividade da obra lá. Muitas pessoas ressaltaram a importância de levar esses enredos e resgatar essas histórias", comenta. Confira a entrevista com Bruno Florêncio e Gabriela Pimentel:

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Retratando as guerras das famílias Bezerra e Araújo, além de abordar a política no sertão pernambucano, a HQ Luto será lançada neste sábado (18), a partir das 10h, no Museu do Trem, localizado na área central do Recife. 

Os quadrinhos mostram importantes questões, pouco conhecidas da cultura popular pernambucana, e conta com roteiro de Bruno Florêncio, edição de Gabriela Pimentel e ilustrações de Rafael Dantas, Milton Estevam, Téo Pinheiro e Rafael Anderson, que usaram técnicas de xilogravura e outros desenhos em cores. A capa é de J. Borges.

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Durante o lançamento haverá um debate sobre a obra com o roteirista Bj Fogueteiro, professor Bruno Alves, doutor em Educação e especialista em quadrinhos Fábio Paiva, com mediação da museológica Mariza Monteiro, com tradução simultânea para Libras de Diel Moura. Na ocasião, a HQ será comercializada por R$ 20.

Serviço

Laçamento da HQ Luto

Sábado (18)| 10h às 12h

Estação Central Capiba - Museu do Trem (R. Floriano Peixoto, s/n - São José)

Gratuito

Chovia em excesso naquela madrugada de 1938, no sertão sergipano. Nas barracas montadas na antiga fazenda Angico, 34 cangaceiros dormiam sobre a tranquilidade do local que, para Virgulino Ferreira da Silva, era o esconderijo de maior segurança. Até aquela madrugada de 1938. Outra chuva, de balas, irrompeu da mata quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva encontraram o bando de Lampião. Onze morreram ali mesmo, derrotados pelas metralhadoras portáteis dos algozes. Alguns, como Maria Bonita, foram degolados ainda com vida. Era 28 de julho, 80 anos atrás.

“Neste sábado não homenageamos o aniversário de morte de Lampião, mas os 80 anos do assassinato de Lampião. O que aconteceu em Angico foi uma tragédia. Os cangaceiros foram cruelmente assassinados sem qualquer chance de defesa”, assevera Rosa Bezerra, psicóloga e pesquisadora do cangaço. A ligação vem do sangue: Generino Bezerra, pai de Rosa, chegou a fazer parte do bando de Lampião, durante muitas andanças pelo interior de Pernambuco. Até hoje, a estudiosa busca manter viva a memória do cangaço e, mais que isso, retificá-la. “A mídia e a historiografia tratam os cangaceiros como bandidos, porque a versão oficial foi construída pelo Estado, por quem esses homens sempre foram criminalizados”, aponta Rosa.

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Corre em Rosa uma veia que palpita ao lembrar “da injustiça” contra os seus. Ela sabe, sim, que a “profissão-cangaço” era sujar as mãos. Segundo pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco, o grupo de Lampião, ao invadir vilas e povoados, dizimava e matava com requintes de crueldade. “As violências cometidas pelo bando eram inúmeras: tatuagem a fogo, corte de orelha ou de língua, castração, estupro, morte lenta, entre outras”. Entretanto, para Rosa Bezerra, a postura de Virgulino e seus seguidores era contra-ataque, respostas a anos e anos de crimes cometidos pelos grandes fazendeiros, senhores de terra, contra os povos economicamente menos abastados. “Para o sertanejo, Lampião era uma espécie justiceiro”, qualifica Rosa, que é autora do livro A representação social do cangaço.

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Anualmente, como homenagem aos 11 mortos no 28 de julho, familiares, admiradores, pesquisadores e curiosos se reúnem na Grota de Angico, no município sergipano de Poço Redondo, para a tradicional Missa do Cangaço. Rosa Bezerra, que mora em Recife, não perde o evento mais importante do ano para aqueles que veem no cangaço um dos mais importantes fenômenos de resistência social do sertão nordestino.

Poder feminino no cangaço

Primeira metade do século XX, interior nordestino. A concepção de um território machista é automaticamente atrelado ao cangaço. Em contraposição a essa ideia, pesquisadores - como Rosa Bezerra - defendem que as mulheres cangaceiras quebraram paradigmas através de atitudes de resistência e valentia.

“As mulheres romperam com a estrutura social da época. Portavam armas, apesar de serem resguardadas das batalhas (exceto Dadá, mulher de Corisco, que era exímia combatente). Usavam vestidos que iam só até acima do joelho, quando o natural da época era até o tornozelo. Na minha opinião, foi gestado ali, no semiárido nordestino, o início do feminismo no país”, sustenta a pesquisadora.  

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Diversos estudos e obras refletem sobre a participação determinante da mulher no cangaço. Neste artigo de Yzy Maria e Yls Rabelo Câmara, as figuras de Dadá e Maria Bonita são demonstradas como elementos fundamentais na história dos cangaceiros. O documentário Feminino Cangaço  segue a mesma linha e, a partir de uma série de entrevistas, oferece um amplo panorama sobre o papel da mulher neste contexto histórico-cultural.

O encontro entre militares do Governo Getulista e cangaceiros liderados por Lampião e Maria Bonita é tema do espetáculo gratuito O Massacre de Angico – A Morte de Lampião, que tem texto e Anildomá Willans de Souza e direção de José Pimentel, está em cartaz até o próximo domingo (29), às 20h, na Estação do Forró (antiga Estação Ferroviária), em Serra Talhada.

No palco, 50 atores e 70 figurantes apresentam o fato histórico do Sertão pernambucano. “Este trabalho é mais do que um desafio profissional. É quase uma missão de vida, ainda mais quando se trata de Cangaço, tema polêmico que gera divergências, contradições e até preconceitos”, conta o ator e dançarino Karl Marx, que dá vida a Lampião na montagem.

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A peça faz parte da programação do “Tributo a Virgolino - A Celebração do Cangaço”, evento promovido pela Fundação Cabras de Lampião para recordar os 80 anos da morte do cangaceiro.

Serviço

O Massacre de Angico – A Morte de Lampião

Quarta (25) a Domingo (29)| 20h

Estação do Forró (Serra Talhada)

Gratuito

A partir desta quarta-feira (9), o projeto Passeando pela História promove uma imersão, para professores e alunos de escolas públicas de Serra Talhada, no Sertão do Pajeú, na história de Lampião e do cangaço. Com visitas guiadas por alguns pontos que marcaram a trajetória do bando, como a Praça Agamenon Magalhães, Casa da Cultura e Museu do Cangaço, o grupo terá contato com a história da construção da cidade e da identidade do sertão. 

 As visitas comtemplam, além de elementos religiosos e as tradicionais famílias, a biografias dos artistas, padres, prefeitos e um acervo com fotografias da cidade das décadas de 1940 a 1960. Ao todo, 12 instituições de ensino serão contempladas pela iniciativa. 

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O Passeando pela História conta com o incentivo cultural do Funcultura, Fundação de Cultura de Estado, Secretaria de Cultura de Serra Talhada e o Governo de Pernambuco, em parceria com a Prefeitura Municipal de Serra Talhada, Fundação Cultural de Serra e Secretaria Municipal de Educação. 

A Netflix lançou neste fim de semana sua primeira produção original de um filme brasileiro. Criado e dirigido por Marcelo Galvão, ‘O Matador’ é uma história de faroeste, ambientada entre as décadas de 1910 e 40, e trata da história de Cabeleira, vivido pelo português Diogo Morgado. O personagem é um matador muito temido no interior de Pernambuco, onde o filme foi gravado, usando como locação a cidade de Pesqueira.

Cabeleira foi abandonado quando bebê e criado pelo cangaceiro Sete Orelhas (Deto Montenegro) isolado da civilização. Quando adulto, o matador precisa sair em busca do seu pai adotivo e, ao chegar à cidade, encontra um ambiente dominado pelo vilão Monsieur Blanchard (Etienne Chicot).

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O diretor explica que quis retratar o ‘faroeste brasileiro’ no filme, fugindo das características americanas desse estilo e fazendo algo mais nacional, focando no cangaço. “Queria fazer um filme de ação e não queria fazer coisas que já tinham sido feitas: filme sobre favela, sobre polícia... Queria fazer uma coisa inédita e aí me apeguei a esse contexto histórico que é o cangaço. O Nordeste é o palco onde tudo isso aconteceu. Quis uma coisa mais original, mais brasileira”, disse em entrevista ao jornal Correio. 

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A Companhia de Teatro Núcleo do Tombo realiza neste sábado (8) o musical “Vanja Bonita do Cangaço Brasileiro”. O espetáculo será no Teatro Padre Bento, em Guarulhos.

A peça aborda a história de Vanja Orico, artista que ficou conhecida internacionalmente com canções como “Meu limão, Meu limoeiro”, “Mulher Rendeira” “Saudade, meu bem, Saudade” entre outras obras. O enredo do musical se passa durante a ditadura militar brasileira – ocorrida no país de abril de 1964 até março de 1985 – e retrata fatos como o assassinato de Edson Luiz, morto em novembro de 1968 no Rio de Janeiro. Durante o enterro do jovem, Vanja Orico apareceu de joelhos com um lenço branco na mão, na frente dos carros do exército aos gritos de – “Não atirem, somos todos brasileiros!”.

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Evangelina Orico nasceu no Rio de Janeiro em 1931, e ficou conhecida como Vanja Orico. Foi cantora, atriz e cineasta brasileira. Sua primeira aparição no cenário artístico foi com música “Mulher Rendeira”, trilha sonora do filme "O Cangaceiro", de 1953. Além dessa participação, também atuou em "Lampião, o rei do cangaço", gravado em 1964 e dirigiu o filme "O Segredo da Rosa", de 1974. Evangelina morreu em 2015, no Rio de Janeiro, vítima de um câncer no intestino.

Serviço                                                                                                                               

Musical: Vanja Bonita do Cangaço Brasileiro

Valor: R$ 20

Teatro Padre Bento: Rua Francisco Foot, n° 03, Jardim Tranquilidade - Guarulhos.

Telefone: 2229-5043

Data: 08,09, 15 e 16 de julho às 20h

Compra de ingressos no site: https://www.eventbrite.com.br/e/vanja-bonita-do-cangaco-brasileiro-tickets-35157484984?aff=es2

 

A partir deste sábado (13), professores e adolescentes das escolas públicas do município de Serra Talhada, Sertão do Pajeú, participam do projeto ‘Passeando pela História, no Museu do Cangaço’. A iniciativa tem como objetivo apresentar a história de Lampião e do seu cangaço. Durante o passeio, o grupo vai participar de trilhas e visitar equipamento cultural.

Durante a visita, o público vai poder vivenciar lugares que foram palcos de acontecimentos históricos de Lampião e seu bando. De acordo com a presidente da Fundação Cultural Cabras de Lampião, Cleonice Maria, o projeto visa levar as escolas a conhecerem os bens culturais “Todo o percurso será feito com acompanhamento de condutores turísticos que possuem total conhecimento dos fatos”, afirma a gestora.

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O ponto de partida da aventura será o Sítio Passagem das Pedras, local onde nasceu Lampião. Nesse percurso, o grupo irá conhecer o roteiro ‘Nas Pegadas de Lampião’, que passa pelas Pedras da Emboscada, onde aconteceu o primeiro confronto armado entre a família de Virgulino e Zé Saturnino, entre outros locais.

Já na cidade, a visita começa na Praça Agamenon Magalhães. Depois, o grupo segue para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída pelos escravos no Século XVII, a Casa do Artesão, que conta com muitas histórias e lendas que permeiam o imaginário popular e a Casa da Cultura de Serra, onde os jovens terão contato com o acervo cultural da cidade.

Por último, o grupo vai visitar o Museu do Cangaço e, além disso, vai poder saborear a culinária sertaneja e apreciar a apresentação do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião, dança criada pelos cangaceiros.

Serviço

Projeto “Passeando pela História – Museu do Cangaço”

Sábado (13) | 8h30 às 17h

Museu do Cangaço, na Vila Ferroviária (antiga estação de trem), s/n - São Cristovão, Serra Talhada

O banditismo retratado no romance Grande Sertão: Veredas se mantém com suas marcas históricas no norte mineiro e no oeste baiano: ostentação de poder de fogo, desafio à polícia e encenações espalhafatosas. Na madrugada do Dia de Reis, em 6 de janeiro, cinco homens fortemente armados explodiram o cofre de uma tonelada do Banco do Brasil que ficava dentro da agência dos Correios de Josenópolis, a 145 km de Montes Claros (MG). A notícia varou o sertão como prenúncio de mais um ano de supremacia de bandos armados.

No romance, Riobaldo descreve o jagunço como a "criatura paga para o crime, impondo o sofrer no quieto arruado dos outros, matando e roupilhando". Por hora, bandos atuais deixaram de lado sequestros, saques em comércios e assassinatos de mando para priorizar roubos a banco.

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Em 16 de dezembro, 15 homens com metralhadoras e fuzis chegaram em dois carros a São João do Paraíso do Norte (MG). Parte entrou com maçarico na agência da Caixa Econômica Federal para abrir o cofre. Outra parte foi para a frente do quartel da Polícia Militar, ali próximo, disparar, nas contas da própria guarnição, 130 tiros de fuzil. Depois, com o dinheiro já nos carros, eles jogaram pontas cortantes de aço num trecho de 15 quilômetros da estrada que liga a cidade a Taiobeiras, para furar pneus de quem ousasse persegui-los. No dia 3 do mesmo mês, cinco homens com metralhadoras, revólveres e bombas haviam explodido, em poucas horas, caixas eletrônicos de agências do Banco do Brasil em Francisco Sá e dos Correios em Caetité, também no norte de Minas.

A polícia ainda foi desafiada em Buritis (MG), onde na ficção Riobaldo tinha fazenda. Na madrugada de 11 de outubro, dez homens dispararam rajadas de tiros contra o quartel da Polícia Militar e explodiram caixas eletrônicos do Banco do Brasil e da Caixa. A ação durou 40 minutos. O bando fugiu no rumo de Brasília. "O pessoal das agências trabalha apreensivo", resume Nilton Silva Oliveira, dirigente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Montes Claros e Região.

Atuando em 72 cidades do norte mineiro, a entidade contabiliza 16 assaltos nos últimos seis meses. "As cidades são pequenas, têm quatro ou cinco policiais apenas, um efetivo pequeno para enfrentar grandes grupos armados que chegam e explodem tudo."

Escudo humano

Foi uma ação ousada que deixou em pânico a cidade baiana de Cocos, na divisa com Minas Gerais. Por volta das 11h30 de 10 de março de 2014, dez homens com fuzis entraram nas agências do Banco do Brasil e do Bradesco na praça principal de Cocos e anunciaram o assalto. Para sair dos bancos, eles montaram um escudo com bancários e correntistas e, na fuga, levaram quatro funcionários do Banco do Brasil e quatro clientes do Bradesco. Como no tempo de Antônio Dó, jagunço real descrito por Guimarães Rosa, os bandidos desfilaram pelas ruas disparando para o alto.

Nos meses seguintes, houve um debate acalorado na cidade sobre como impedir novos assaltos. Pressionada, a prefeitura tomou uma decisão drástica: fechou com correntes de ferro as ruas que circundam a praça principal no horário bancário. A medida, segundo a administração, é para evitar aproximação das agências de veículos de criminosos. O tráfego de carros-fortes para abastecer os bancos foi suspenso à noite e de madrugada e foram proibidos saques no caixa eletrônico a partir das 16 horas.

Comerciantes reclamam que a decisão afugentou clientes. "As medidas diminuíram ações de bandidos, mas o comércio acabou", afirma Edmar Miclos, dono de um pequeno hotel. "As pessoas chegam e não têm como tirar dinheiro. O sinal da máquina do cartão não costuma funcionar. Com isso, vai todo mundo fazer negócios e se hospedar em Guanambi, a 250 km daqui."

A Delegacia de Operações Especiais da Polícia Civil em Montes Claros é o principal centro de investigação dessas organizações criminosas. Pelo modo de agir, a polícia acredita que exista mais de um grupo atuando no norte mineiro. "No ano passado, houve um incremento bem grande desse tipo de crime na região", conta o delegado Herivelton Ruas Santana.

A expressão "novo cangaço", usada na região para definir quadrilhas de assalto a banco, refere-se ao modo de agir dos bandidos, adeptos de grandes ações em pequenas cidades, onde há número reduzido de policiais. Não há estimativa de valores, pois os bancos não informam às polícias as quantias levadas. "Os bandidos aproveitam a fragilidade do aparato. Em cidades maiores e capitais, há batalhões da Polícia Militar, departamentos da Polícia Civil. Eles têm atacado cidades com 20 mil, 10 mil habitantes."

Santana aponta como obstáculos ao combate do novo cangaço o baixo efetivo de policiais, a grande extensão do norte mineiro e as dificuldades de deslocamento. Como a região faz divisa com a Bahia, há ainda necessidade de intercâmbio com o Estado vizinho. "Apesar de haver uma interação, é sempre difícil fazer esse tipo de trabalho."

Urutu-Branco

No romance, o jagunço Riobaldo conta que ele e os companheiros haviam desafiado a "soldadesca" do governo e entrado e saído da Bahia cinco vezes "sem render as armas". Foi justamente nesse enfrentamento dos militares que ele foi ungido chefe do bando e rebatizado de Urutu-Branco pelo antigo chefe, Zé Bebelo, que deixou o comando após desgaste com jagunços. Urutu é o nome de uma das cobras mais venenosas do cerrado.

A ficha corrida de Riobaldo era longa. O jagunço que conquistou o mundo com seu linguajar poético e sua paixão por Diadorim esconde uma vida de crimes. Ele é autor confesso de alguns assassinatos e acusado de estar por trás de outros. A morte do inimigo Ricardão, que tinha sido rendido, ilustra seus momentos de frieza e violência.

O jornal O Estado de S. Paulo testemunhou o medo no Grande Sertão. Em Pirapora e Três Marias, a reportagem passou por revistas da polícia após denúncias de moradores preocupados com o veículo de São Paulo. Não trafegar à noite em estradas asfaltadas e evitar caminhos de terra mesmo de dia foram dicas dadas à reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Serra Talhada, no Sertão pernambucano, recebe a quinta edição do espetáculo O Massacre de Angico - A Morte de Lampião. Escrito e encenado por artistas naturais da mesma região onde o próprio cangaceiro nasceu, a montagem entra em cartaz nesta quarta (27) e faz temporada até o próximo domingo (31). As sessões são gratuitas.

A peça mostra a figura de Lampião sob uma perspectiva mais humana. O texto é do pesquisador Anildomá Willans de Souza, também autor de obras como 'Lampião, o comandante das catingas' e 'Xaxado: Dança de Guerra dos Cangaceiros de Lampião'. A direção fica a cargo do dramaturgo José Pimentel e, no papel principal, o ator Karl Marx. O elenco é integrado por atrizes e atores de Serra Talhada, Recife e Olinda.

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A proposta do espetáculo é mostrar o cangaceiro em seu lado mais humano, colocando suas dores e emoções para além da imagem de assassino violento como é comumente ilustrado. As apresentações serão na Estação do Forró, antiga Estação Ferroviária do município, sempre às 20h.

Confira este e muito mais eventos na Agenda LeiaJá.

Serviço

O Massacre de Angico - A morte de Lampião

Quarta (27) a domingo (31) | 20h

Estação do Forró (antiga Estação Ferroviária), em Serra Talhada

Gratuito

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Alceu Valença faz sua estreia oficial nos cinemas no dia 24 de março com o filme A Luneta do Tempo. O longa, escrito e dirigido pelo cantor, chega às telonas já tendo passado por importantes festivais como o Cine PE e o festival de Cinema de Gramado - no qual foi premiado nas categorias Melhor Trilha e Direção de Arte - e também pelo Festival de Circo do Brasil, em 2015. A produção é carregada de poesia, história e afetividade num enredo que foge à obviedades.

A Luneta do Tempo mostra as pelejas do bando de Lampião (Irandhir Santos) com a 'volante', grupos dos policiais da época, ao passo que o circo de um sedutor estrangeiro percorre cidades do interior nordestino. A fotografia simples remete à escassez da caatinga e os sons do filme - com os diversos ruídos do sertão - ao longo de toda a narrativa, parece contar uma história à parte; talvez por ter sido produzido por um músico. 

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O próprio tempo do longa transcorre diluído entre os elementos circenses e da cultura popular do Nordeste, como num vai e vem, demonstrando que as histórias (quase) se repetem ao longo das gerações. Talvez um 'carma' deste elemento contabilizado pelo calendário. Sotaques, expressões nordestinas e poesia de cordel dividem as cenas com uma trilha sonora marcante, toda composta pelo próprio Alceu. 

A Luneta do Tempo lança mão da simplicidade plástica e beleza nos diálogos. Talvez não seja um filme para os que preferem o modelo 'início, meio e fim', de ritmo compassado e previsível. Mas, certamente, uma boa pedida para aqueles interessados em conhecer um sertão e, sobretudo, uma lenda viva como Lampião, envoltos por afeto e rima. 


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Começa nesta quarta-feira (23), às 20h, em Serra Talhada, Sertão de Pernambuco, a terceira edição da peça O Massacre de Angico – A Morte de Lampião. Conhecida como 'O Maior Espetáculo ao Ar Livre do Sertão', a peça conta a história das últimas horas de Lampião antes do encontro entre seu bando e os militares do presidente Getúlio Vargas, no Estado de Sergipe.

Apesar de ter estreado apenas 2012, O Massacre de Angico foi escrito há mais de 25 anos, por Anildomá Williams de Souza, um grande pesquisador do cangaço. Também nascido em Serra Talhada, Anildomá dedicou sua vida a desmistificar a luta dos justiceiros sertanejos e de seu líder. 

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A ideia de O Massacre de Angico, segundo o criador, é mostrar o legado de Lampião e fazer com que as pessoas descubram e passem a conhecer um lado mais humano do cangaceiro. “A gente traz um Lampião que chora, que faz versos, se apaixona e está com medo de morrer. A gente explica os dois lados da história”, explicou Anildomá em coletiva de imprensa na última quarta (17).

A direção da peça é assinada pelo ator e diretor José Pimentel, que tem experiência em grandes espetáculos como a Paixão de Cristo do Recife e a de Nova Jerusalém e o Calvário de Frei Caneca. Pela primeira vez, Pimentel não será o roteirista de uma peça que dirige. As apresentação vão até domingo (27).

Serviço

Espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião

23 a 27 de julho | 20h

Estação de Forró (Serra Talhada)

Gratuito

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, é um dos personagens mais icônicos e controversos da cultura nordestina – até os dias atuais não é possível dizer se o Rei do Cangaço foi herói ou bandido. Entre os dias 23 e 27 de julho, será realizada em Serra Talhada, terra natal do cangaceiro, a terceira edição de O Massacre de Angico – A Morte de Lampião. Conhecida como O Maior Espetáculo ao Ar Livre do Sertão, a peça contará a história das últimas horas de Lampião antes do terrível encontro entre seu bando e os militares do presidente Getúlio Vargas.

Nesta quinta-feira (17), a produção do espetáculo reuniu a imprensa para falar um pouco mais sobre a realização da montagem e claro, de Lampião. Apesar de ter sua estreia nos palcos apenas em 2012, O Massacre de Angico foi escrito há mais de 25 anos, por Anildomá Williams de Souza, um grande pesquisador do Cangaço. Também nascido em Serra Talhada, Anildomá dedicou sua vida a desmistificar a luta dos justiceiros sertanejos e seu líder. 

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A ideia de O Massacre de Angico, segundo seu criador, é mostrar o legado de Lampião e fazer com que as pessoas descubram e passem a conhecer seu outro lado, um lado mais humano. “A gente traz um Lampião que chora, que faz versos, se apaixona e está com medo de morrer. A gente explica os dois lados da história”, explica Anildomá.

Além de fatos que realmente aconteceram nas últimas horas de vida de Lampião – como a morte de seu pai e seu encontro com Padre Cícero - a peça também irá contar com algumas passagens do imaginário popular, como a história de que Virgulino fez um cangaceiro comer dois quilos de sal por reclamar que comida estava insossa. 

Espetáculo em família

Assim como Virgulino Ferreira da Silva, Anildomá também tem a sua Maria Bonita. Cleonice Maria também é uma entusiasta do Cangaço, em Serra Talhada ela criou o Grupo de Xaxado Cabras de Lampião – uma trupe de artistas que reproduzem a diversão dos cangaceiros em meio aos combates. Eles também fazem parte do espetáculo, que juntos com os outros atores e figurantes totalizam 120 pessoas à frente da encenação.

Mas as relações de parentesco por trás da montagem de O Massacre de Angico não param por aí. Quem interpreta Lampião na peça é o filho do casal, Karl Marx, que desde criança esteve em contato com a cultura dos cangaceiros e com a história do Rei do Cangaço. “Eu tenho uma história muito próxima com Lampião, ele é um personagem de dentro da minha casa. Lampião é quase um tio meu”, brinca o ator. Ele conta que, por causa de seus pais, nasceu e se criou dentro do Cabras de Lampião, com histórias e músicas sobre o cangaceiro.

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A produção do espetáculo

Se tratando de um espetáculo ao ar livre, Anildomá e Cleonice talvez não pudessem escolher ninguém melhor do que José Pimentel para dirigir a peça – o diretor e ator tem larga experiência em montagens do tipo, como as Paixões de Cristo do Recife e de Nova Jerusalém e o Calvário de Frei Caneca.

O Massacre de Angico é a primeira peça que Pimentel é apenas o diretor e não o dono do texto. Apesar disso ele não teve problemas em aceitar a direção da peça. “Até então, os espetáculo que eu dirigi eu tinha escrito o texto, ia imaginando cada personagem e cada cenário. Mas a proposta era tão grandiosa que eu topei fazer”, explica o diretor.  Nesta edição ele também irá atuar em uma pequena parte do espetáculo como pai de Lampião.

Outro motivo que facilitou a entrada de Pimentel na jornada foi suas lembranças e ligação estreita com Lampião. Ele conta que o cangaceiro chegou a frequentar a sua casa e era amigo de seu pai. “Eu convive com a história de Lampião. Em uma das andanças do meu pai eles se conheceram, e montaram um banquete para os cangaceiros. Ainda houve um segundo encontro, já muito amigos. Eu tinha uma foto do meu pai ao lado de Lampião”, contou José Pimentel.

Sucesso de público

O espetáculo, apesar de contar apenas com atores locais, é um sucesso em Serra Talhada. Em 2013 eles conseguiram alcançar uma média de sete a oito mil pessoas por noite. Nesta edição são esperadas cerca de dez mil pessoas - de vários estados do Brasil – por noite.  “A gente tem uma grande lotação de hotéis (em Serra Talhada), temos grande procura de pessoas que querem ver o Massacre de Angico”, revela Cleonice.

Serviço

Espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião

23 a 27 de julho | 20h

Estação de Forró (Serra Talhada)

Gratuito

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