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Eles eram pouco conhecidos até a crise do novo coronavírus. Agora, estes especialistas se tornaram um rosto familiar em seus respectivos países, enquanto tentam explicar a pandemia para as populações confinadas.

Médicos, pesquisadores e chefes de serviços de emergência se tornaram a face e a voz de uma crise de saúde que assola todo planeta.

- ESPANHA

Fernando Simón, o médico em quarentena

O coronavírus que ele analisa todos os dias na televisão, com sua voz suave e rouca, finalmente o pegou. O diretor do Centro de Coordenação e Emergências em Saúde, dr. Fernando Simón, adoeceu no final de março, mas continuou a aparecer por videoconferência da sala onde está isolado.

Após várias coletivas de imprensa interrompidas pela tosse, o epidemiologista de 57 anos deu positivo para COVID-19. Mais tarde, o especialista pediu desculpas pela velocidade com que foi testado, enquanto outros pacientes "precisam esperar dias" para saber os resultados.

Em seus relatórios diários, tenta ser simples e pedagógico. Também é muito cauteloso, até demais para outros epidemiologistas que o criticaram por aconselhar tardiamente medidas drásticas de confinamento.

Não é a primeira crise para este médico, que exerceu a profissão na América Latina e na África, na União Europeia e na Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2014, esteve encarregado do acompanhamento nacional da epidemia de ebola quando dois missionários espanhóis morreram em um hospital em Madri.

Nas redes sociais, muitos internautas notam sua semelhança com o jogador do Barcelona Antoine Griezmann.

- ESTADOS UNIDOS

Doutor Fauci e a arte de lidar com Trump

Anthony Fauci, um especialista de renome mundial em doenças infecciosas, teve de desenvolver um novo talento na luta contra o vírus: a arte de colocar seu chefe, o presidente dos Estados Unidos, no bolso, sem afetar sua autoridade.

Quase todos os dias, esse especialista em imunologia, calmo e de estilo acadêmico, compartilha uma tribuna com Donald Trump para relatar à mídia a situação da saúde.

Diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas desde os anos 1980, Anthony Fauci, de 79, destaca-se por sua luta contra inúmeras epidemias, da aids ao ebola, sempre com o princípio de fornecer informações confiáveis à população.

Diante da pandemia de COVID-19, segue o mesmo método, ainda que isso o force a contradizer Trump. Em um primeiro momento, o presidente americano minimizou a gravidade da crise.

"Digo coisas ao presidente que ele não quer ouvir e declarei publicamente coisas diferentes do que ele afirma", admitiu Fauci.

"Não quero comprometê-lo", ou "disputar quem é mais forte", diz ele, apenas "explicar os fatos".

- CHINA

Zhong Nanshan, a autoridade de que o regime precisava

No país onde a COVID-19 surgiu, ninguém é mais ouvido do que esse epidemiologista de 83 anos, que chefia a equipe responsável pela epidemia no Ministério da Saúde.

Esse é um destino inesperado para este cientista que disparou o alarme em 2003 durante a crise da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), ao falar publicamente sobre a doença, quando o governo tentava disfarçar as informações por seis meses.

Porta-voz extraoficial de Pequim na luta contra o coronavírus, seu estilo direto foi uma "escolha natural" para o regime de Xi Jinping, que não queria levantar suspeitas de ocultação após a epidemia de 2003, de acordo com Zhao Litao, pesquisador do Instituto de Extremo Oriente em Singapura.

No final de janeiro, foi Zhong Nanshan quem confirmou a possibilidade de transmissão de humano para humano do novo coronavírus, provocando pânico em todo país. Logo depois, a cidade de Wuhan, epicentro da epidemia, foi colocada em quarentena.

- ITÁLIA

Angelo Borrelli, dos macacos ao vírus

Todas as tardes, às 18h, é hora de ouvir o chefe da Proteção Civil, Angelo Borrelli.

Após um breve "buonasera", esse ex-contador de 55 anos detalha a situação da saúde no país: pacientes hospitalizados, em terapia intensiva, curados. E, finalmente, o número de mortes do dia.

Na Proteção Civil desde 2002, este veterano de catástrofes, inundações e terremotos é considerado pelos italianos como um dos seus, e não como parte da elite inacessível.

Ele pediu a uma nação cada vez mais temerosa que "não entre em pânico". Quando, em 25 de março, foi substituído por um de seus representantes, o alerta soou: se até Borrelli ficou doente, quem não ficaria? No final, um novo teste deu negativo.

- BULGÁRIA

Ventsislav Motaftshiyski, o general implacável

Em cada uma de suas intervenções no início da pandemia, os búlgaros sabiam que Ventsislav Mutaftshiyski, chefe da célula de crise do coronavírus, anunciaria uma nova restrição: fechamento do comércio, de parques, ou proibição de viajar no país.

O chefe do hospital militar de Sofia usa argumentos implacáveis para convencer a população a ficar em casa: "é melhor fazer fila de espera do que cortejos de caminhões transportando cadáveres".

Em um país que aprecia pouco a classe política, esse general e médico de 55 anos tem 89% de opiniões favoráveis. Os búlgaros se acostumaram com seu uniforme cáqui invariável e destacam suas capacidades e sangue frio.

- ALEMANHA

Christian Drosten, virologista visionário

Quando ele fala, até a chanceler Angela Merkel faz anotações.

O virologista alemão Christian Drosten descobriu em janeiro um primeiro teste de diagnóstico simples para a COVID-19, que ele imediatamente tornou acessível a todos.

Desde então, o diretor do Departamento de Virologia do prestigiado Hospital Universitário Charité, em Berlim, tornou-se um consultor indispensável para o governo.

Para o público em geral, ficou conhecido, graças à suas intervenções diárias nas rádios públicas, onde explica claramente a pandemia. Nelas, ele destaca a utilidade do confinamento e afirma que, se a Alemanha conseguiu até agora "limitar" o número de mortes, isso se deve à aplicação dos testes em larga escala.

A mídia destaca sua sinceridade, quando precisa admitir que não sabe alguma coisa. Ele também não hesita em questionar suas próprias opiniões e mudar as recomendações.

- POLÔNIA

Lukasz Szumowski, o ministro cardiologista

Este católico fervoroso conseguiu fazer esquecer que uma vez, em uma oração em 2018, confiou o sistema polonês à Virgem Maria. Um ex-ministro o aconselhou que era melhor estar nas mãos de pesquisadores e médicos.

Cardiologista e professor de medicina, Szumowski, de 47 anos, é membro do partido nacionalista conservador Lei e Justiça (PiS) e ministro desde janeiro de 2018.

Desde o início da pandemia, viu sua popularidade aumentar, situando-se entre os três políticos mais populares.

Seus críticos censuram-no por ter ido esquiar na Itália quando era hora de organizar o sistema diante da chegada do novo coronavírus.

Para muitos, porém, Szumowski é o único capaz de convencer o Executivo a adiar as eleições presidenciais de maio.

A quarentena mudou nossos hábitos. Para grande parte das pessoas o simples ato de sair de casa para trabalhar parou de fazer parte da rotina diária. Com o isolamento social necessário para evitar o novo coronavírus, muitas empresas passaram a adotar o esquema de trabalho via home office. Porém, nem todo mundo estava preparado para essa mudança. Afinal, trabalhar de casa envolve ter o equipamento necessário para desempenhar as mesmas necessidades do escritório e nem sempre aquele seu notebook velho de guerra dá conta do recado.

Se você já estava pensando em trocar de computador portátil ou viu surgir a necessidade de ter um por conta da quarentena, mas não faz a menor ideia e como escolher o modelo irá se adequar melhor à sua demanda, sua hora chegou. Conversamos com os especialistas André Teixeira, gerente de produtos da área de notebooks da Acer Brasil e Luciano Beraldo, gerente sênior da área de notebooks da Samsung Brasil, para te dar um empurrãozinho na hora de decidir qual será a sua nova máquina. 

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Como saber qual processador se adequa às minhas necessidades?

Para André Teixeira a escolha do processador depende bastante da atividade exercida. "Quanto maior o nível de complexidade, maior a exigência não só do processador, mas da configuração como um todo. Para atividades mais simples como leitura de e-mails, chats, redes sociais e navegação na internet podem ser usados processadores com menor clock (capacidade de processamento) como as linhas Celeron e Pentium. Para atividades que exigem um pouco mais de processamento como planilhas, apresentações, sistemas, entre outros, aí já é recomendável a linha Core (i3, i5 e i7) Intel e Ryzen (R3, R5) da AMD", diz. Ele explica que esses processadores, aliados a uma configuração um pouco mais robusta deixam a máquina muito mais fluída na hora de exercer as atividades diárias, aumentando a produtividade e diminuindo o tempo de execução das tarefas.

Qual a memória RAM ideal para quem precisa abrir muitos programas/abas de navegador simultaneamente?

Samsung/DivulgaçãoAo trabalhar em casa, muitas vezes a gente exagera no número de coisas funcionando ao mesmo tempo. Seja porque precisa entrar em um esquema de multitarefas, com diferentes programas abertos, seja porque esqueceu de fechar algumas abas do navegador durante pesquisas. Por isso, se você vai precisar focar em diversas coisas ao mesmo tempo Luciano Beraldo pede um pouco de atenção na memória e nos hábitos de trabalho. 

“Os notebooks desenvolvidos com foco em tarefas básicas do dia a dia estão preparados para possibilitar uma navegação contínua, sem interrupções, com memórias RAM a partir de 4GB. Mas, claro, se você precisa trabalhar com diversos programas abertos ao mesmo tempo, há aparelhos com 8GB ou mesmo 16GB, que potencializam esta experiência”, explica. O especialista da Samsung Brasil também alerta para a consciência do usuário durante o uso do aparelho. “Alguns gestos simples podem otimizar a navegação. Como as abas abertas consomem um número significativo de memória RAM, o ideal é fechar as abas que não estão sendo utilizadas e abri-las novamente quando necessário. Quanto menos abas abertas, menos memória consumida e maior o nível de performance da máquina”, afirma.

Quando investir em uma boa placa de vídeo?

Quem vai ficar em casa, com certeza vai precisar - de vez em quando  - fazer uma videoconferência. Para sustentar salas com diversas pessoas em chamadas de vídeo ambos os especialistas alertam para a necessidade de um bom processador e uma boa placa de vídeo. "A placa de vídeo é uma peça fundamental para usuários que esperam que o notebook tenha capacidade de suportar os jogos atuais, que demandam uma alta performance, e também programas de edição de vídeo e renderização gráfica", explica Beraldo. 

Para quem faz uso muito intenso como criadores de conteúdo, pessoas que usam programas para animação, design, engenharia, arquitetura, fotos, vídeos, André Teixeira. "O ideal é já trabalhar com placas de 4GB, da linha GTX e RTX da NVIDIA. Beraldo concorda "Na Samsung, utilizamos exclusivamente placas de vídeo NVIDIA. 

O que pesa mais na hora do custo x benefício?

Para encontrar o melhor custo benefício na hora da compra André Teixeira chama a atenção para o conjunto. "Se o notebook não tiver uma boa plataforma, com uma placa mãe equilibrada e um sistema de refrigeração eficiente ele não vai conseguir tirar o máximo de componentes como o processador e a placa de vídeo. Por isso, que a escolha da marca é importante também", afirma. 

Ele também faz um alerta para quem está na dúvida sobre SSD ou HD. "No nosso line up, por exemplo, temos diversas opções de modelos “híbridos” com SSD e HD no mesmo notebook. O HD fica para a memória permanente, que são arquivos que não são acessados constantemente, e o SSD é usado para a memória volátil, arquivos recorrentes e sistema operacional. Isso deixa a máquina muito mais rápida e eficiente. Mas a tendência em médio prazo é a migração para SSD", afirma. 

Indicações dos especialistas

Beraldo e Teixeira também aproveitam para indicar modelos, de suas respectivas empresas, que seguem as dicas que eles forneceram durante a reportagem. "Sabemos que o notebook não é um investimento baixo, por isso precisa ter um bom retorno para o usuário. Entender as configurações de acordo com o uso é muito importante para não ter dor de cabeça quando estiver trabalhando (notebook travando, demora para ligar e desligar, abrir arquivos, etc.)", ressalta André.

Samsung: "A Samsung está focada em oferecer notebooks que facilitem a rotina dos usuários e potencializam experiência, seja com foco estudantil, empresarial ou gamer. Os modelos da linha S51, por exemplo, buscam aumentar a produtividade, reunindo recursos avançados de desempenho e design favorável para mobilidade. A linha Odyssey proporciona o mais alto nível para jogos, enquanto a Flash disponibiliza ferramentas para modernizar os métodos de educação. As linhas Essentials e Expert, por sua vez, combinam desempenho e segurança, tanto para atividades profissionais quanto de lazer". 

Acer: "Nos últimos anos percebemos que muitas pessoas que compram nossos notebooks gamers usam não só para jogar como também para trabalhar, pois eles têm um desempenho absurdo. Então, para esse tipo de uso recomendamos nossas linhas Nitro, Predator, além da linha ConceptD que está sendo lançada esse ano. Portanto, a Acer possui todas as configurações necessárias para qualquer atividade nas linhas Aspire 3 e Aspire 5".

Pelo menos 70% dos brasileiros precisam estar imunizados para que possamos começar a falar em fim da epidemia de covid-19 no País. Chegar a esse porcentual só será possível depois que a maioria da população tiver sido infectada e curada. A alternativa é ter uma vacina, que dificilmente chegará ao mercado antes do fim do ano.

Prever como ou quando atingiremos esse patamar é um exercício de futurologia. Não há precedentes na história recente da humanidade para a crise atual. Por isso, não se pode mirar eventos passados em busca de respostas. Alguns estudos, porém, tentam olhar para o futuro e apontar caminhos possíveis.

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Uma unanimidade entre especialistas é a adoção do distanciamento social de forma prolongada para retardar o aumento de casos. "Não há ainda meios de avaliar se as medidas que estão sendo implementadas surtirão os efeitos necessários", afirma o especialista em modelagem epidemiológica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Roberto Kraenkel. "Mas projeções feitas para outros países indicam a necessidade de lockdown (isolamento total das cidades, com manutenção apenas de serviços essenciais) por, ao menos, dois meses."

Estimativas feitas por especialistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) e da Fiocruz apontam que, até amanhã, o País deve registrar 6.375 casos - número que pode variar entre 3.555 (cenário otimista) e 11.548 (cenário pessimista). A expectativa é de que, na próxima semana, o total de casos comece a aumentar exponencialmente até que os efeitos das medidas de distanciamento social comecem a ser sentidos.

Caso medidas mais drásticas não sejam cumpridas - ou sejam suspensas, como sugeriu o presidente Jair Bolsonaro -, a epidemia no Brasil pode seguir o mesmo caminho trilhado pela infecção na Itália e na Espanha, que já somam 14,2 mil mortes. Nesses países, o número de casos cresceu mais rápido do que a capacidade do sistema de saúde de absorver pacientes.

A ideia de reduzir o impacto econômico das estratégias de mitigação e isolar só os mais vulneráveis (idosos e doentes crônicos, por exemplo), como propôs Bolsonaro, foi aventada por outros líderes mundiais. A própria Itália contemplou a estratégia no início da epidemia. Rapidamente, diante da explosão de casos e mortes, mudou de ideia. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também. O que fez o líder britânico recuar foi um estudo do Imperial College de Londres, de 16 de março. O trabalho projetou 250 mil mortes no país, se apenas medidas de isolamento mais brandas fossem adotadas.

Para o Brasil, os pesquisadores do Imperial College, liderados por Neil Fergunson, indicam que uma estratégia de isolamento social de manter só idosos em casa poderia levar à morte mais de 529 mil pessoas. O número é metade do que se projeta para um cenário em que nada fosse feito para conter o coronavírus (1,15 milhão de óbitos). Mas é bem mais alto do que a estimativa para um isolamento social rápido e amplo. Mesmo com essa restrição drástica, haveria ao menos 44 mil mortes.

"Se medidas de isolamento e contenção propostas pelos Estados forem respeitadas, podemos considerar um crescimento similar ao da França (o país confirmou o 1.º caso em janeiro. Hoje, tem 33,54 mil pacientes e 1,9 mil mortes)", afirmou Silvio Hamacher, da PUC-RJ, integrante do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois).

Segundo pesquisadores do Imperial College, para surtir efeito sustentável, a estratégia teria de continuar por muitos meses. Idealmente, até o desenvolvimento da vacina ou a chamada imunização de rebanho, quando a maioria da população já foi contaminada. Pelos cálculos do grupo, até seria possível suspender o isolamento de tempos em tempos, mas muito brevemente, para não abrir caminho para novos surtos.

China. Com a pandemia ainda em curso, quem já passou pela fase aguda traz mais ensinamentos. Após cerca de três meses do início oficial da epidemia, só agora a China começa a reabrir a província de Hubei, onde fica Wuhan, mas a cidade que é epicentro do novo coronavírus ainda deve ficar fechada por mais duas semanas.

O biólogo Fernando Reinach, colunista do Estado, afirma que acompanhar os desdobramentos da reabertura de Wuhan será fundamental para entender como a epidemia vai se comportar. Para ele, por enquanto, o único caminho que parece seguro para evitar muitas mortes é mesmo conter a população. O outro caminho, diz, seria fazer como a Coreia do Sul, que está testando em massa a população e agindo rapidamente para conter quando há infectados e rastrear seus contatos, a fim de evitar a dispersão.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Com a falta de máscaras no mercado, diante da pandemia do coronavírus, circula na internet uma grande quantidade de vídeos com orientações para improvisar o equipamento. Acontece que as máscaras cirúrgicas precisam passar por processo de verificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de chegarem ao mercado. Agora, médicos discutem até se a ampla utilização delas é eficaz, tendo em vista que é essencial saber manuseá-las corretamente.

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“Em relação ao uso de máscaras que não são validadas, como não há estudo, eu não poderia dizer que elas são eficazes. O ideal para prevenção ao coronavírus é a reclusão e, para as pessoas que precisarem se expor, é sempre higienizar bem as mãos, evitando ambientes com aglomeração. Sempre que possível utilizar álcool em gel ou lavar as mãos com água e sabão”, orienta a infectologista Marcela Vieira.

Marcela lembra que o toque é a principal forma de contágio dos vírus. “A utilização de máscaras na verdade é algo bem controverso. A gente tem evitado essa orientação para o público geral, porque pessoas leigas não sabem manusear bem as máscaras e isso acaba sendo um fator adicional de maior chance de contaminação. À medida que a pessoa fica ajustando a máscara, ela toca no rosto”, alerta.

Um grupo de nove especialistas chineses em coronavírus e várias toneladas de instrumentos médicos chegaram a Roma em um voo especial para ajudar a Itália, o país mais afetado pela pandemia de COVID-19 na Europa - informaram fontes aeroportuárias.

Epicentro do surto no final de 2019 e onde o número de casos está diminuindo significativamente, a China decidiu enviar especialistas e equipamentos para vários países, incluindo Iraque e Irã, também muito afetados.

Um porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang, confirmou o envio de "um grupo de nove pessoas com equipamentos de terapia intensiva, produtos de proteção médica e outros itens".

Os especialistas chineses, com seus rostos cobertos, foram recebidos por representantes do Ministério italiano da Saúde, segundo o vídeo transmitido à AFP pelo aeroporto romano de Fiumicino.

A bordo do voo vieram "dispositivos de ventilação mecânica, equipamentos respiratórios e para eletrocardiograma, dezenas de milhares de máscaras faciais e outros equipamentos", relatou o presidente da Cruz Vermelha italiana, Francesco Rocca.

"Os nove especialistas, seis homens e três mulheres, liderados pelo vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, Yang Huichan, e pelo professor especializado em reanimação cardiopulmonar, Liang Zongan, estão entre os maiores especialistas em ressuscitação, pediatria e enfermagem especializada em coronavírus na China", disse Rocca.

Da China, o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, assegurou a seu colega italiano, Luigi Di Maio, o apoio de seu país na luta contra o coronavírus.

"O povo chinês nunca esquecerá o valioso apoio prestado pela Itália quando a China estava passando pelos momentos mais difíceis da luta contra o vírus", disse ele.

No auge da epidemia na China, a Itália foi o primeiro país europeu a interromper suas conexões aéreas com o gigante asiático, uma ação considerada muito drástica na época, mas que foi tomada para isolar o foco do surto.

A Itália também foi o país europeu que se mostrou mais aberto ao grande projeto de infraestruturas "Novas Rota da Seda", promovido pelo presidente Xi Jinping, apesar da oposição de vários parceiros europeus.

O coronavírus causou a morte de pelo menos 3.169 pessoas na China, sendo o país mais afetado do mundo com 80.793 infecções, conforme o último relatório.

O segundo país mais afetado é a Itália, com mais de mil mortes e pelo menos 15.000 infecções.

Já a cidade de Moscou, aproveitando a experiência da China para construir hospitais em tempo recorde, anunciou nesta sexta-feira o início da construção de um centro hospitalar pré-fabricado para lidar com a epidemia de coronavírus.

Em um comunicado, o Departamento de Obras Públicas da prefeitura da capital russa disse que começou a construção do prédio e das estradas que levam a ele.

Com capacidade para 500 leitos conectados a aparelhos de respiração, estará localizado a cerca de 60 quilômetros do centro de Moscou e se estenderá por 43 hectares.

O vice-prefeito da cidade, Andreï Bochkarev, garantiu que será um "centro médico entre os mais modernos" construídos "com a experiência dos nossos parceiros chineses". Ele não forneceu prazos.

Segundo um comunicado das autoridades, a instalação incluirá "centros cirúrgicos e serviços de diagnóstico".

No início de fevereiro, a China construiu um hospital com 1.000 leitos em apenas dez dias em Wuhan, epicentro da epidemia.

Segundo o site russo Znak, citando um documento interno da prefeitura, o hospital moscovita deverá custar 8,5 bilhões de rublos (105 milhões de euros). A Rússia registrou, até o momento, 45 casos de coronavírus.

O projeto que prevê regras para quarentena por coronavírus no Brasil aguardava ontem assinatura do presidente Jair Bolsonaro para virar lei. Especialistas em direito internacional e constitucionalistas, no entanto, discutem a legalidade de restrições de entrada e saída no País.

Para alguns, há risco ao direito de ir e vir de cidadãos brasileiros, previsto no artigo 5.º da Constituição. "E se um brasileiro sai da China, chega aqui e é proibido de entrar? Vai para onde?", indagou José Paes, da Comissão de Direito Constitucional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

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"E choca mais o motivo da recusa: uma coisa é não querer deixar um sujeito entrar porque ele é um criminoso condenado; outra coisa é porque ele está doente. Ora, ele é uma vítima", diz a secretária-geral da Comissão de Direito Constitucional da OAB/RJ, Marcelle Mourelle.

Já a especialista em Direitos Humanos e professora de Direito Constitucional da FGV Flávia Bahia destaca que a liberdade não é absoluta no caso de suspeita de doença. "Existe um compromisso com a saúde coletiva. E o próprio projeto faz várias ressalvas. Em situações de risco, medidas excepcionais podem ser tomadas."

O criminalista Conrado Gontijo, doutor em direito penal pela USP, avalia que a denúncia do Ministério Público Federal contra o jornalista Glenn Greenwald na Operação Spoofing "é completamente desprovida de justa causa".

"A denúncia dá para os diálogos entre Glenn e um dos hackers uma conotação que a leitura das mensagens não permite", afirma Gontijo, sócio do escritório Corrêa Gontijo Advogados, referindo-se à acusação do procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira que atribui a Glenn organização criminosa e ligação com grupo de hackers que invadiu comunicações do ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato.

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"A minha visão é de que a denúncia deva ser rejeitada, porque, de fato, falta justa causa para a persecução penal", assinala o advogado.

Ele destaca que "há uma decisão do Supremo que deve tornar a análise da questão ainda mais cuidadosa, uma vez que o ministro Gilmar Mendes definiu que o Glenn não deveria ser investigado".

"Muito menos denunciado."

Para Gontijo, "se em algum momento o Ministério Público identificou algum elemento que justificasse a denúncia, deveria ter buscado resolver essa questão no Supremo, pedindo inclusive autorização para que ele pudesse ser investigado".

"Isso não aconteceu. Há aí um nítido abuso, na minha visão: violação da ampla defesa, da decisão do Supremo e da liberdade de imprensa."

Para Cecilia Mello, criminalista, sócia do Cecilia Mello Advogados e desembargadora por 14 anos no Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF-3), "a controvérsia que fica em relação ao jornalista é eventual conflito dos dispositivos penais com a Constituição Federal que assegura a garantia de sigilo da fonte".

"Evidentemente esse direito não pode ser exercido a qualquer título", diz Cecília.

No entendimento da advogada, "a garantia constitucional que assegura a liberdade de expressão é, indiscutivelmente, uma das bases mais relevantes do sistema democrático, mas não imuniza todo e qualquer ato praticado com o uso de informações que envolvam a prática de ilícitos".

"São exatamente as barreiras das legalidades, frente aos atos praticados, que serão sopesadas na ação penal de maneira a comprovar-se, ou não, a prática delituosa", considera Cecília.

Para o advogado Jorge Nemr, especialista em Direito Penal, "se no decorrer das investigações, supostas práticas criminosas foram apontadas, o Ministério Público tem dever funcional em apresentar a sua denúncia e os denunciados o direito de uma ampla defesa".

"Afinal quem vai decidir quem praticou qual ato criminoso, será o Judiciário. Cabe ao Judiciário analisar se existem evidências concretas de práticas delituosas, para aceitar ou não a denúncia", argumenta Jorge Nemr, sócio do Leite, Tosto e Barros Advogados.

Para o advogado, "é improvável que a denúncia não seja aceita".

"Tem que se tomar cuidado para que este processo não seja usado como instrumento de retaliação pelas notícias negativas publicadas."

Um painel de especialistas contratados pela Vale concluiu que a barragem de Brumadinho se rompeu quando os rejeitos sofreram súbita e rápida perda de resistência, processo conhecido como "liquefação estática". Investigações policiais já apontavam a liquefação como principal hipótese para explicar o colapso que aconteceu em janeiro e deixou 257 mortos e 13 desaparecidos. Segundo o grupo de experts, problemas na construção da estrutura também contribuíram para o rompimento.

Para os especialistas, o rompimento ocorreu por deformações da estrutura da barragem. Eles apontaram ainda redução de resistência em determinadas áreas da estrutura por causa da infiltração das chuvas fortes que haviam caído na região nos dias anteriores à tragédia. "A barragem era essencialmente muito íngreme e úmida, e o material retido pela barragem era fofo, saturado, e muito pesado e de comportamento muito frágil", destacou o PhD em Geotécnica pela Universidade British Columbia (Canadá) Peter Robertson, que liderou o grupo contratado pela Vale, em vídeo sobre o relatório.

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O relatório feito por quatro especialistas, de 88 páginas, foi contratado pela área jurídica da Vale em fevereiro para relatar as causas técnicas do rompimento. A Vale ressaltou que o painel de especialistas não avaliou responsabilidades da empresa nem de envolvidos na tragédia.

As conclusões dos especialistas, destacou a mineradora, são exclusivas dos integrantes do painel. Além disso, o Conselho de Administração montou um comitê para investigar, em paralelo, as causas do acidente, cujo relatório ainda será divulgado.

Tipo de construção piorou cenário

Ainda conforme os especialistas, o projeto e a construção da estrutura tiveram contribuições para seu rompimento. "Especificamente, o projeto resultou em uma barragem íngreme, com falta de drenagem suficiente, gerando altos níveis de água, os quais causaram altas tensões de cisalhamento dentro da barragem", diz trecho do relatório.

A barragem foi construída usando o método de construção a montante a partir de 1976, tendo realizado dez alteamentos, o último em 2013. A Vale comprou a mina ao adquirir a Ferteco, em 2001. O último lançamento de rejeitos das atividades de mineração foi feito em julho de 2016. Para os especialistas do painel, a barragem não continha drenagem interna suficiente e, portanto, alto nível de água no talude a jusante. "Isso fez com que uma parte significativa dos rejeitos permanecesse saturada, o que é um pré-requisito para a liquefação estática não drenada."

Eles apontaram que nenhum sistema de drenagem com maior capacidade foi instalado ao longo da construção dos dez alteamentos posteriores. Adicionalmente, houve mudança na configuração do projeto a partir do terceiro alteamento, tornando a estrutura mais íngreme e empurrando as partes superiores para cima dos rejeitos mais fracos.

O excesso de carga ao longo da barragem gerou um fenômeno conhecido como creep, que é quando um material sob carga constante acaba sofrendo uma deformação. Isso favoreceu à instabilidade no local, na medida que o aspecto cimentado dos rejeitos tornou os materiais depositados na barragem quebradiços e com pouca resistência, indicou o painel.

Em fevereiro, o governo de Minas sancionou uma lei com a previsão de proibir a instação de barragens por meio do método a montante. As empresas que já possuíam essas estruturas em funcionamento deveriam apresentar um plano ao governo para substituir ou desativar as barragens. No mesmo mês, a Agência Nacional de Mineração (ANM) baixou medida com teor similar, a construção ou alteamento de barragens com essas características.

Mineradora tinha ciência do excesso de água

O geotécnico Peter Robertson, afirmou que a Vale tinha ciência do excesso do volume de água, um dos fatores que contribuiu para o acidente. "Eles sabiam do alto nível de água na estrutura e estavam tomando medidas para resolver isso. A empresa também estava adotando outras soluções para aumentar a estabilidade da barragem."

Outro motivo de surpresa na análise, segundo Robertson, foi o alto teor de ferro nos rejeitos, o que tornou o material mais pesado. Além disso, os estudos indicaram a presença de cimentação nos rejeitos, os tornando os materiais mais frágeis e menos resistentes.

Outro fator considerado foi a técnica de construção e ampliação da barragem. O trecho inicial da barragem, construída a partir de 1976, continha características técnicas que impediam a drenagem pelo seu pé. Com isso, a combinação de rejeitos pesados e, ao mesmo tempo, frágeis, a falta de drenagem de água adequada e a características técnicas do projeto criaram as condições de instabilidade da barragem, deixando o local suscetível a pequenos eventos sucessivos que poderiam funcionar como gatilho para o colapso. As análises de tensão indicaram que partes significativas da barragem estavam sob carregamentos muito elevados.

Sobre o fato de os rejeitos estarem com alto teor de ferro e com cimentação, Robertson isentou a Vale de culpa. "Como o rejeito estava enterrado, não havia como a Vale saber desta característica. Hoje, sabemos mais sobre a barragem do que a Vale conhecia na época", disse Robertson.

Especialista evita aponta responsabilidade de empresa brasileira

Ao ser questionado se o relatório isentava ou mostrava que a Vale havia sido negligente na gestão da barragem, Robertson disse que o estudo não visou apurar as responsabilidades pelo acidente.

Ao afirmar que o excesso de chuvas e o efeito creep dispararam o gatilho para o rompimento da barragem, o especialista descartou a hipótese de que a perfuração de sondagem no dia do acidente teria provocado o colapso da estrutura. Outra hipótese desconsiderada foi o incidente na instalação do décimo quinto dreno horizontal profundo (DHP), uma semana antes do rompimento no local.

Robertson afirmou que terá reunião nesta sexta-feira, 13, com a Vale para apresentar as conclusões do relatório do painel, composto pelo professor e outros três especialistas. O relatório também será enviado às autoridades envolvidas na investigação do acidente. O valor pago para a realização do estudo por parte dos especialistas não foi revelado.

Um painel de especialistas contratado pela mineradora Vale informou que a barragem I da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, rompeu quando os rejeitos sofreram uma súbita e rápida perda de resistência, fenômeno conhecido como "liquefação estática", conforme relatório sobre as causas do rompimento divulgado na manhã desta quinta-feira (12).

De acordo com os especialistas, o rompimento ocorreu devido a deformações da estrutura da barragem. Eles apontaram ainda uma redução de resistência em determinadas áreas da estrutura devido à infiltração das chuvas fortes que haviam caído na região nos dias anteriores à tragédia.

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"A barragem era essencialmente muito íngreme e muito úmida, e o material retido pela barragem era fofo, saturado, e muito pesado e de comportamento muito frágil", destacou Peter Robertson, que liderou o painel de especialistas contratado pela mineradora, em vídeo sobre as conclusões do relatório.

A Barragem I da mina do Córrego do Feijão se rompeu no dia 25 de janeiro. O acidente matou mais de 250 pessoas.

O relatório dos especialistas, composto por 88 páginas, foi contratado pela área jurídica da Vale em fevereiro para relatar as causas técnicas que causaram o rompimento da barragem. O painel é formado por quatro especialistas, liderados por Robertson.

A Vale ressaltou que o painel de especialistas não avaliou responsabilidades da empresa nem de pessoas envolvidas no acidente. As conclusões dos especialistas, destacou a mineradora, são exclusivas dos integrantes do painel.

Além disso, o Conselho de Administração montou um comitê para investigar, em paralelo, as causas do acidente, cujo relatório ainda será divulgado.

As mudanças que devem trazer novidades na Fórmula 1 a partir de 2021 foram aprovadas pelos pilotos no autódromo de Interlagos, que recebe o GP do Brasil em São Paulo, neste final de semana. A aposta dos atletas é de que as novas regras deixem o campeonato mais equilibrado no futuro e também mais barato, o que deve permitir a entrada de novas equipes na categoria.

"Acho que será bom ter uma menor diferença entre o orçamento das equipes. Claro que continuará havendo diferenças, mas será menor do que no passado. Se os carros se comportarem como diz as novas regras, a disputa será mais próxima entre os carros, mais difícil. Acho que são bons passos na direção correta e realmente acho que vai encorajar que novos times a entrarem na F-1. Sempre acho que quanto mais carros tivermos no grid, mais divertida será a corrida", disse Valtteri Bottas.

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O finlandês defende as cores da Mercedes, equipe que dominou os últimos campeonatos e é alvo de críticas por isso. O time alemão venceu todos os Mundiais de Pilotos e de Construtores desde 2014, com o inglês Lewis Hamilton por cinco vezes e também com o alemão Nico Rosberg, em 2016 - ele deixou a categoria ao final do mesmo ano.

A possibilidade de ter mais carros no grid a partir de 2021 também animou o australiano Daniel Ricciardo. "Isso me lembra a Fórmula 3 Europeia em 2008, quando tínhamos 48 carros em Spa. O grid tinha 42 porque nem todos se classificaram. Ter um grid tão grande e cheio de carros e pilotos foi muito empolgante. Se estas mudanças encorajarem mais carros, mais times entrarão no grid. E isso dará oportunidade para novos pilotos e a competição se tornará espetacular. Acho isso muito legal", afirmou o piloto da Renault.

O francês Romain Grosjean também aprovou as novidades, que pretendem deixar os carros com aparência mais agressiva e chamativa. "Será o primeiro passo, talvez depois seja necessário alguns ajustes finos. Se pudermos ter mais gente envolvida na F-1, mais times, será melhor. Também será bom por atrair mais jovens pilotos, para termos mais competição e não ver sempre o mesmo vencer".

Para o mexicano Sergio Pérez, as alterações devem diminuir o domínio de equipes como Mercedes e Ferrari. "Geralmente, quanto tem mudanças deste tipo, muda o equilíbrio de forças entre as equipes. E isso será positivo para o esporte. Acho que a disputa será mais apertada. Estou muito ansioso por isso. Estou sentindo falta daquela sensação de não saber quem vencerá", declarou o piloto da Racing Point.

Já o experiente polonês Robert Kubica, da Williams, disse ter dúvidas em relação a este reequilíbrio de forças. "Não podemos esquecer do talento das pessoas, que é o que faz a diferença, e não apenas o dinheiro dos times. Espero que as mudanças deixem as equipes mais próximas, mas tenho algumas dúvidas sobre isso. Sempre há equipes que dominam em alguns períodos na F-1, F-2 e F-3. Vamos ter que esperar para ver", disse o piloto, que deixará a Fórmula 1 ao final da atual temporada.

Nesta quinta-feira (24), o Ministério da Educação (MEC) divulgou comentários de especialistas a respeito de redações. Os textos alcançaram nota máxima na edição 2018 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Segundo o MEC, o objetivo é fazer com que as análises ajudem os candidatos que enfrentarão o processo seletivo deste ano nos dias 3 e 10 de novembro.

Vinculados ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela organização da prova, os especialistas analisaram sete redações que obtiveram nota mil. Os analistas identificaram as seguintes características nas produções textuais:

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possuem uma proposta de intervenção para o problema apresentado no tema;

têm repertório sociocultural produtivo no desenvolvimento da argumentação do texto;

respeitam os direitos humanos;

apresentam as características textuais fundamentais, como coesão e coerência;

demonstram domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;

atendem ao tipo textual dissertativo-argumentativo.

No ano passado, a “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” foi o tema da redação. Veja, a seguir, os textos avaliados pelos especialistas do Inep e seus respectivos comentários:

Redação 1

Redação 2

Redação 3

Redação 4

Redação 5

Redação 6

Redação 7

Em fase de ajustes finais pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, a reforma administrativa vem sendo apontada por especialistas como essencial para o equilíbrio das contas públicas. Embora o governo do presidente Jair Bolsonaro ainda não tenha apresentado a proposta que encaminhará ao Congresso Nacional, membros da equipe econômica têm afirmado que o objetivo é diminuir o inchaço da máquina pública com uma drástica redução do quadro de funcionários nos órgãos da União, além de mudanças controversas como o fim da estabilidade dos servidores.

Na avaliação do tributarista Luiz Rafael Meyr Mansur, do escritório Melcheds - Mello e Rached Advogados, essa reforma é fundamental e está no contexto das políticas de austeridade que visam a correção das contas públicas através da redução dos gastos com servidores.

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"A reforma é imprescindível para o equilíbrio fiscal e deve, inclusive, se antecipar à tributária, pois hoje é nítida a ineficiência dos serviços públicos, somando-se a salários, em geral, acima do mercado. Serão analisados o fim da estabilidade para esses cargos, remuneração condizente com o setor privado, rigorosa avaliação de desempenho e para promoção de cargos", destaca Mansur.

Para o advogado João Paulo Schwandner Ferreira, especialista em direito público do escritório Rubens Naves Santos Jr Advogados, o que mais se percebe no debate atual é a crítica à estabilidade e à remuneração de servidores públicos. No seu entender, a estabilidade tem a função específica de proteger o corpo burocrático permanente do Estado do humor dos agentes políticos, "caso contrário, perseguições seriam muito mais frequentes, sobretudo em cargos sensíveis como os de fiscalização ambiental".

Já a remuneração, continua o especialista, "deve ser atrativa, sob pena de termos um apagão de bons profissionais, principalmente em cargos de elevada qualificação técnica e responsabilidade, questão diretamente associada à tão almejada eficiência". Ele defende que os servidores sejam submetidos a controle de suas atividades, inclusive com metas de eficiência, como já ocorre em muitas carreiras, com o pagamento de bônus de produtividade.

Schwandner Ferreira refuta a comparação com outros países, classificando-a de inapropriada. "Comparações com modelos de outros países podem ser tentadoras, mas muitas vezes é algo inapropriado. Em países como os EUA, por exemplo, o Estado possui uma atuação distinta, com grau de expectativa da população igualmente diverso. O Estado brasileiro é grande e atuante, sendo cobrado por maior qualidade em áreas como saúde e educação. O desafio é como contemplar todos esses interesses com perspectivas cada vez piores de arrecadação", ressalta.

Na mesma linha, o advogado Cristiano Vilela, sócio do escritório Vilela, Silva Gomes & Miranda Advogados, especializado em direito público e eleitoral, avalia que embora a reforma administrativa possa corrigir rumos, deverá enfrentar muitas dificuldades para ser aprovada, sobretudo em questões como a da estabilidade dos servidores. "A estrutura atual é inchada e demasiadamente cara", prevendo dificuldade de aprovação das medidas no Congresso Nacional, em função da pressão corporativa que esses servidores públicos exercem no Parlamento.

Cristiano Vilela avalia ainda que outros pontos podem ser mais facilmente aprovados, como a criação de mecanismos de avaliação de desempenho. "Esses mecanismos representam, em geral, um instrumento bastante interessante de aferição da dedicação e do trabalho que vem sendo desempenhado pelo servidor público, além de conter um elemento motivador em relação a sua maior dedicação às atividades."

Segundo ele, a ferramenta, quando bem empregada e executada com rigor, apresenta excelentes resultados para a prestação do serviço público, notadamente quando se vê vinculada a um plano de carreira que efetivamente permita um avanço de posição na estrutura de cargos e, consequentemente, de remuneração.

A difusão de conteúdos enganosos na Internet nas disputas municipais de 2020 vem preocupando especialistas no assunto. O tema foi objeto de debate no seminário “Internet, Desinformação e Democracia”, que foi realizado nessa quarta (24) em São Paulo, promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil ( CGI.br).

Criado em 1995, o comitê é responsável pela administração dos domínios “.br” e por diretrizes para o desenvolvimento da rede mundial de computadores no país. Durante o evento foram discutidas propostas para o enfrentamento de conteúdos enganosos nas plataformas digitais.

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Em sua apresentação, a advogada e integrante do CGI Flávia Lefévre manifestou preocupação com o poder das plataformas e com a capacidade econômica em escala mundial, destacando que a minirreforma eleitoral restringiu a propaganda paga na internet apenas a grandes plataformas, especialmente Facebook e Google.

Lefébvre defendeu a necessidade de criação de mecanismos que diminuam a influência do peso econômico nas redes, uma vez que candidatos com mais recursos passaram a ter mais chances de veicular anúncios nas plataformas.

Violações

O ex-ministro do Tribunal Superio Eleitoral (TSE) Henrique Neves, destacou a complexidade de tratamento das notícias falsas nas eleições de 2020, lembrando que a análise de violações na propaganda eleitoral será feita por 2.800 juízes das zonas eleitorais responsáveis pelas disputas municipais nas diferentes regiões do país. O total de candidatos, estimou Neves, deve passar dos 500 mil com as novas regras.

“A eleição municipal é muito mais complicada de ser feita do que a nacional. Você vai ter um universo menor, municípios com 20 mil pessoas, onde uma fake news pode se espalhar mais rapidamente. É importante uma qualificação para que os juízes, Ministério Público e advogados saibam lidar com o problema”, afirmou.

Facebook

O diretor de políticas do Facebook para eleições na América Latina, Marcos Tourinho, apresentou as iniciativas da empresa para “garantir a integridade das disputas eleitorais”, como têm sido implantadas em pleitos nos últimos anos e que serão adotadas em eleições deste ano, como na Argentina e na Bolívia.

Segundo Tourinho, a companhia reduz contas falsas, reduz o alcance de notícias identificadas como falsas por checadores no newsfeed e disponibilizou informações sobre anúncios políticos, como a exigência de confirmação de identidade, a disponibilização de quem pagou e que segmentos populacionais receberam as peças.

Foram atacados os incentivos financeiros para atores maliciosos, reduzindo o alcance de publicações que visam atrair usuários para sites com anúncios e mantendo centros de monitoramento para dar respostas a mensagens enganosas, de acordo com o diretor. Questionado, disse que a empresa não aprovou nenhuma nova medida para as eleições de 2020 no Brasil e que será feito um esforço em torno da diversidade e fragmentação do pleito.

Whatsapp

O pesquisador do Observatório Latinoamericano de Regulação, Meios e Convergência (Observacom) João Brant observou que o combate à desinformação nas eleições de 2020 passa pelo enfrentamento do problema no  Whatsapp. Tomando o papel da rede social no pleito de 2018, ele ressaltou que, apesar de ser uma rede social de mensagens privadas, permite a difusão em massa de mensagens, como nos grupos de até 256 integrantes, de forma obscura e utilizando o anonimato, “enterrando o debate político”.

Para evitar o uso a plataforma nas próximas eleições, o pesquisador defendeu uma série de medidas. “Em 2020, vamos ver o problema de 2018 em 5.500 municípios. As plataformas têm responsabilidade e têm que atuar, garantindo transparência. É preciso, por exemplo, mudar o padrão de autoria no Whatsapp, viabilizar a identificação de responsáveis por mensagens que violem os códigos Penal e Civil e constranger práticas reincidentes de desinformação.”

"Uma nuvem de calças". Foi assim que o jornalista e tradutor Eduardo Bueno definiu o poeta, historiador e filósofo norte-americano Henry David Thoreau, conhecido por escrever o livro Walden (ou A Vida nos Bosques). Na obra, Thoreau compartilha a experiência de levar uma vida simples, longe dos centros urbanos. 

Encantado com o esplendor da natureza, o filósofo buscou descobrir, aos 28 anos, o que seria o avesso da industrialização. Já no século 19, esperava se libertar do que classificava "uma falsa pele", empreitada que seria possível somente ao se distanciar do consumismo, segundo ele. Ao partir, não quis se explicar a ninguém, pois acreditava que as pessoas ao seu redor não entenderiam suas razões, julgando sua jornada "impertinente".

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Em um trecho do livro, Thoreau afirma que a humanidade trabalha "sob engano" e se dedica a "acumular tesouros que serão roídos pelas traças". Para ele, a maioria das pessoas "não tem tempo de ser nada além de uma máquina".

Viver sem tantas frivolidades e usufruir mais intensamente de cenários naturais é também uma das propostas da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Instituto Alana, de defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Em maio, as duas instituições divulgaram o manual Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes. 

No documento, destacam que fatores como o planejamento urbano deficiente, o adensamento populacional, a especulação imobiliária e a "supremacia dos carros em detrimento de pedestres ou ciclistas" têm levado ao desaparecimento de espaços verdes nas cidades. Conforme explica Laís Fleury, coordenadora do projeto Criança e Natureza, do Instituto Alana, o manual tem como principal público crianças e adolescentes da zona urbana, por sofrerem mais fortemente os prejuízos resultantes desse cenário.

Déficit de natureza

Ela diz que a infância nesses locais tem como característica um progressivo "confinamento" e que esse estilo de vida provoca impactos grandes na saúde. O conjunto de efeitos citado pela coordenadora é relacionado ao chamado Transtorno de Déficit de Natureza. O termo foi cunhado por um dos co-fundadores do Children & Nature Network, Richard Louv, que escreveu o livro A Ultima Criança na Natureza (Last child in the woods).

Laís defende que o contato com a natureza promove o desenvolvimento integral das crianças porque "sua linguagem é o brincar". "Principalmente o brincar espontâneo. É através dele que a criança se conhece, compreende o mundo. O brincar passa muito pelo corpo, que é uma linguagem de conhecimento que ela vai desenvolvendo quando está crescendo", acrescenta.

"Quando está em um ambiente aberto, ao ar livre, a forma como [a criança] se comunica é através do corpo. Quando está presente em um ambiente com bastante espaço, numa praia, por exemplo, ela sente, naturalmente, vontade de correr, de pular, e esses são os verbos da infância. Ela se sente convidada, dialoga, é uma criança que, fisicamente, tende a ser mais saudável, tende a não ter problema com sobrepeso, porque está em constante movimento, desenvolvendo a força motora, a coordenação, o equilíbrio", pontua.

Segundo Laís, ao incorporar atividades ao ar livre ao cotidiano dos filhos, os pais geram benefícios adicionais, no âmbito da saúde mental. "A gente sabe, intuitivamente, do poder restaurativo que a natureza tem. Adultos, quando estão cansados, passam tempo na natureza, na floresta, isso nos regenera. E é a mesma coisa para as crianças. Esse bem-estar, esse poder regenerativo que a natureza tem é algo que impacta, de maneira muito positiva, a saúde da criança", frisa Laís.

Transformações: do individual ao coletivo

A especislita cita outros benefícios do contato das crianças com a natureza. "Há várias pesquisas que mostram que tendem a ser crianças mais equilibradas emocionalmente. É um ambiente que favorece muito a integração entre pares, membros da família, favorece vínculos, porque um ajuda o outro e tem brincadeiras acolhedoras. Quando está em meio à natureza, a criança brinca com possibilidades. Ela está, o tempo todo, criando os próprios brinquedos. Na brincadeira com o outro, não há um limitador", afirma a coordenadora.

"Ela [a criança] estabelece uma brincadeira muito criativa com a natureza, onde a gente percebe que ela ressignifica [coisas]. A gente vê um pauzinho, que, uma hora, pode ser uma espada de um príncipe e, outra hora, pode ser um rabinho de um bicho, algo para puxar um barco, uma caneta pra escrever na areia. [Nota-se] Como um mesmo elemento nutre criativamente a criança, a imaginação", complementa.

De quebra, o lúdico na natureza, diz Laís, é capaz de ampliar a resistência diante de dificuldades. "Por exemplo, ao subir em uma árvore, a criança está lidando com o risco, por estar trabalhando com a altura. E o fato de ela estar lidando com essas adversidades faz com que esteja desenvolvendo uma resiliência maior. Está trabalhando a coragem dela, com o imprevisível".

O incentivo a passeios em áreas verde é tema do guia Acampando com Crianças, elaborado pelo Instituto Alana, com o apoio da Coalizão Pró-Unidades de Conservação da Natureza e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Também participam da iniciativa o portal de campismo MaCamp e a organização Outward Bound Brasil. O material tem distribuição gratuita e pode ser baixado por download.

O guia lista oito parques nacionais com áreas reservadas para acampamento. Um deles é o Parque Nacional do Caparaó, que fica na Serra do Caparaó, divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A unidade tem fama de ser um dos destinos mais procurados pelos adeptos do montanhismo no Brasil e abrigar o terceiro ponto mais alto do país, o Pico da Bandeira. 

Laís finaliza ressaltando que especialistas observam que as contribuições não se restringem às esferas espiritual e de saúde, manifestando-se, similarmente, no campo da consciência ambiental. Ela argumenta que uma pessoa, ao crescer com vivências que valorizam a biodiversidade, ano após ano, passa a prezar por uma rotina de hábitos mais sustentáveis. "Além de proporcionar para as crianças uma alegria de poder brincar, é uma experiência relacionada a valores humanos, de desenvolvimento de ética, de respeito ao outro, ao meio ambiente, de contemplação do belo", afirma.

Vinte computadores defasados e com pouco acesso à internet. É assim que o diretor do Centro de Ensino Médio 404, Felipe de Lemos Cabral, descreve a estrutura de informática à disposião dos alunos da escola, localizada em Santa Maria, no Distrito Federal (DF). Situada a cerca de 30 quilômetros do centro de Brasília, Santa Maria é uma das regiões administrativas do DF. 

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Quando perguntado se os estudantes estariam preparados para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) digital, Cabral diz que nem todos têm sequer familiaridade com os computadores. "Hoje o aluno está muito mais inserido via celular. Usam muito a rede social e sabem pouco lidar com o resto da informação que a internet disponibiliza. Têm pouco acesso técnico, têm pouca formação do trato com o computador, com coisas simples como formatar um texto, por exemplo."

De acordo com o Censo Escolar 2018, 82% das escolas públicas de ensino médio regular têm laboratório de informática e 94%, acesso à internet. Cabral ressalta, no entanto, que, como ocorre na escola que dirige, nem sempre o equipamento é suficiente para atender à demanda. Além disso, ele destaca que os professores teriam que ser formados para inserir a tecnologia nas aulas. 

"Não é má ideia, não seria ruim [o Enem digital], mas acho que teria que ter uma preparação maior do sistema para isso", diz Cabral. Ele teme que o exame passe a excluir estudantes que não tenham acesso a computadores, que terão mais dificuldade em fazer as provas. "Pode dificultar o acesso dos alunos ao exame e, com isso, cair o número de inscritos". 

Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que o Enem passará a ser feito por computador. Isso ocorrerá gradativamente, começando no ano que vem com um grupo de 50 mil estudantes. A digitalização completa está prevista para 2026.

A ideia, que não é nova e busca seguir uma tendência mundial de modernização, gerou uma série de questionamentos. Segundo especialistas entrevistados pela Agência Brasil, o MEC terá que enfrentar certos desafios para implementar a digitalização do Enem. Um dos desafios é a escassa disponibilidade de infraestrutura das escolas.

Provas criptografadas

Provas criptografadas

Outra questão apontada por especialistas é a segurança do exame. "Tem que ter certeza de que todos os sistemas, de ponta a ponta, do momento em que se liga o computador, em que é feita a prova, ao momento em que as provas são armazenadas e processadas, essas informações sejam criptografadas. E uma criptografia com uma robustez que não permita que, através da utilização de outras tecnologias, ela possa ser quebrada", alterta o professor Renato Leite, do Data Privacy Brasil. 

A criptografia é usada hoje, por exemplo, em aplicativos como o WhatsApp. Trata-se de transformar o conteúdo em códigos e tornar a mensagem impossível de ser lida quando armazenada. Apenas o destinatário final consegue ter acesso ao conteúdo. 

Além disso, é preciso usar programas de computador confiáveis. Uma opção é o uso de softwares livres, cujos códigos são abertos e podem ser acessados.

De acordo com fundador e também professor do Data Privacy Brasil, Bruno Bioni, é preciso ainda garantir a proteção dos dados dos estudantes. "Toda vez que o governo se propõe a se informatizar, a ser um governo mais eletrônico, e isso envolve quantidade significativa de processamento de dados, isso deve ser acompanhado com cuidado. Tão importante quanto avançar nessas pautas de digitalização é mostrar preocupação com os dados dos cidadãos", ressalta Bioni. 

Ele destaca que, em agosto do ano que vem, entra em vigor a chamada Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/2018). "Uma das coisas que a lei procura estabelecer é que, quando se está executando uma política pública como essa, deve-se ter todo um programa de governança de dados", acrescenta Bioni. Ele alerta que o MEC deverá ter transparência quanto ao uso desses dados.

Debate

Debate

Para o professor Francisco Soares, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), a proposta do MEC precisa ainda ser detalhada e colocada em discussão. Soares era presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), quando, em 2015, o Ministério da Educação quis começar a testar o Enem digital. O professor lembra que, na época, foram feitos apenas estudos "ultrapreliminares".

"O Enem precisa de mudanças. Uma delas é trazer mais tecnologia. Eu acho que a iniciativa está em uma direção correta, era desejada, e tomara que agora seja implementada", diz Soares. O professor considera necessárias audiências públicas para que todos os interessados e especialistas possam contribuir para a elaboração de um bom exame. 

"Se vamos mudar, a gente devia mudar para melhorar. O computador dá a chance de oferecer outro tipo de item. Ter simulações em itens de ciência, por exemplo. Se essa mudança for simplesmente para turbinar o velho, não vai adiantar muito. Ela traz possibilidade de uma coisa de impacto muito muito interessante, mas isso exige tempo", destaca Soares. 

Para o professor, o exame precisa deixar de apresentar apenas questões de múltipla escolha e incluir também questões discursivas. Além disso, que use recursos digitais, como vídeos, por exemplo. Isso, de acordo com o conselheiro, vai ajudar a mudar também a formação dos estudantes no ensino médio, já que muito do que é ensinado nas escolas é pautado pelo Enem e por vestibulares. 

Soares ressalta também que, na fase de transição, na qual o Enem será aplicado no formato digital apenas para alguns alunos, é preciso garantir que os estudantes que optem pela prova digital tenham as mesmas chances de ser aprovados em uma universidade que aqueles q fizerem a prova em papel. Para isso, é preciso testar os itens em formato digital.

"Será que um item específico é facilitado ou dificultado pelo fato de o estudante estar respondendo no computador ou no papel e lápis? Esta questão é importantíssima. É uma preocupação técnica que não tem como ser resolvida depois", enfatiza. 

O Enem é elaborado a partir de um banco nacional de itens, que reúne questões feitas por especialistas para as provas. Cada um dos itens é pré-testado em aplicações feitas em escolas. O processo é sigiloso, e os estudantes não sabem que estão respondendo a possíveis questões do Enem. Isso é feito, atualmente, em papel.

Ministério da Educação

Ministério da Educação

Em entrevista coletiva sobre a infraestrutura das escolas, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse acreditar que, até 2026, a realidade brasileira terá mudado e o acesso a computadores será mais amplo. 

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, informou que para a aplicação da prova poderão ser usadas estruturas de escolas e universidades, como já é feito hoje para o Enem em papel.

O MEC diz que pretende modernizar o exame, que poderá utilizar vídeos, infográficos e até mesmo seguir a lógica dos games. As medidas de segurança que serão tomadas ainda não foram detalhadas.

Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, as escolas brasileiras não estão preparadas para lidar com questões de violência e conflitos. Apesar da legislação brasileira atribuir aos centros de ensino a responsabilidade de prevenção e combate à violência e à promoção da cultura de paz, os professores e funcionários, de maneira geral, não são instruídos de forma adequada para episódios de ameaça e risco.

Tragédias como a que ocorreu na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP),  na qual morreram 10 pessoas e 11 ficaram feridas, chamam atenção para a vulnerabilidade dos colégios para lidar com situações como essas, tanto na hora da prevenção quanto para lidar com a comunidade escolar após o ocorrido.

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"Essas questões de convivência, de relacionamento, de sentimentos e emoções são tratadas ainda nas escolas brasileiras de maneira empírica”, disse a a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido. O Inspirare é uma organização que defende práticas e políticas públicas inovadoras em educação.

Em seguida, Anna Penido acrescentou que: “Cada escola, a partir de ter mais ou menos sensibilidade para isso, de ter mais ou menos professores preocupados com isso, de mais ou menos pessoas disponíveis para resolver essas questões, vão se organizando para dar conta. Não tem algo estruturado para dar conta desse trabalho".

Responsabilidade

A responsabilidade das escolas com essas questões está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabele o mínimo de cconteúdo a ser ministrado aos estudantes desde o ensino infantil ao médio, prevê também o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. O que significa na prática que os alunos devem aprender a lidar, entre outras coisas, com as próprias emoções. A BNCC ainda está em fase de implementação.

"A escola é o primeiro lugar onde as crianças convivem fora do ambiente familiar e sem a família. Tem o lado da convivência, de respeitar o outro, de dividir, compartilhar com o outro. Isso é inato da natureza da escola", disse Anna Penido. 

A professora da faculdade de educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Telma Vinha ressaltou que colocar as medidas previstas em lei e na BNCC em prática "implica investir em formação de base e continuada de professores nessa área". Telma é também coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), que atua junto a escolas de Campinas.

Telma afirmou que para tratar de questões emocionais é necessário, além do investimento na própria escola e em formação, a colaboração entre a comunidade e também entre outras áreas, como a saúde. "Não é levar a responsabilidade para a escola, mas ela lida com convivênvia o tempo inteiro. Tem que oferecer um melhor olhar para isso."

O Gepem disponibilizou o Protocolo de intervenção após casos de violência no esforço de ajudar escolas a melhorar a qualidade de convivência. 

O protocolo, segundo Telma, pode ajudar a Escola Estadual Raul Brasil. "Esse protocolo descreve passos de ações que a escola pode ter para incentivar os estudantes e funcionários a se abrirem para que se fale sobre o problema e sobre os sentimentos. Tem várias dinâmicas, sugestões de vídeo e leitura."

Nem chegou aos 100 dias de gestão e o governo Bolsonaro já dá abertura a muitos questionamentos. Entre os maiores deles, a seguinte: a crise envolvendo o ex-ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, pode afetar o seu mandato? Entre muito vai e vem e confusões, há quem diga que o governo do militar da reserva está de mal a pior se for levado em conta a sua principal bandeira de campanha: novas práticas políticas longe de qualquer tipo de corrupção.

De acordo com a cientista política Priscila Lapa, toda essa polêmica pode, sim, “manchar” de certa forma a imagem do presidente da República. “Quando vem um escândalo mostrar que o partido de Bolsonaro está envolvido ou que, pelo menos, há a suspeita de que algumas atitudes tomadas pelo partido com as suas principais lideranças com um cargo de ministro e que foi um grande articulador  da campanha eleitoral, não era qualquer ator político, era uma ator relevante, influente, ele começa a ver suspeita sobre a conduta dele”, observou.

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Em seguida, explica Lapa, a crise leva a um embate entre as versões dos fatos. “Começa a criar uma mancha nessa imagem que o partido tinha ou que ao menos o presidente tinha de protagonizar um novo projeto político para o Brasil, isso ganha opinião pública porque não se trata de qualquer ator, qualquer partido”.

Ainda que fosse outro partido aliado, a cientista disse que se o mesmo estivesse envolvido em suspeita de desvio de recursos públicos para patrocinar candidaturas laranja, estaria em crise também.

Outro ponto que ficou evidente no processo é a crise do discurso. “Há uma certa fragilidade da figura presidencial no momento em que o presidente faz uma afirmação e no outro dia, por meio dos veículos, é divulgado uma informação que desmente o que o presidente foi dito isso levanta, no mínimo, aquela história da pulga atrás da orelha como se diz na linguagem popular”, ponderou.

“Mesmo os eleitores que mantiveram a sua confiança no presidente, mas no mínimo por mais que os fatos narrados nos áudios não revelem um ato ilícito, mas ele por si só fragilizam a ideia de um presidente altivo, de um presidente braço forte para comandar uma mudança no País como foi criado a expectativa durante o processo eleitoral”, completou a estudiosa.

Lapa ainda destaca outro fator que tem se revelado nesse início do governo: a tamanha influencia dos filhos nas decisões políticas do governo. “Se neste momento não configura em si um problema, concretamente algo que isoladamente poderia estar ocorrendo ali, mas mostra que pode ter uma influência na agenda do governo, nas decisões tomadas, que podem de alguma maneira pode gerar outros conflitos, outras fontes de confronto e prejudicar a condução de algumas políticas e de algumas ações”, disse.

A cientista política cita como exemplo a polêmica envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro (PSL). “Na política, nenhum gesto é neutro. Isso, obviamente, pode gerar no mínimo suspeitas na formação dessa coalizão de apoio ao governo. Pode fragilizar obviamente a imagem”, mencionou.

Por último, a especialista ressalta o “tamanho da força” que se dá nos bastidores entre Bolsonaro com o clã militar dentro do governo. “O Bebianno fala, claramente, que ele não era aceito, que havia suspeitas em relação a figura dele, mostrando talvez algo que ainda não esteja totalmente escancarado para a sociedade, mas que a presença dos militares. Ela é muito mais incisiva do que se imagina num primeiro momento”, salientou Priscila Lapa.

“No geral, é preciso observar o desenrolar desses fatos para saber o quanto de fato é possível ainda desvincular o clã dos escândalos. Do quanto eles sabiam do quanto participaram porque é, no mínimo, suspeito achar que o candidato a presidente não tinha conhecimento sobre a forma de que os recursos eram distribuídos. Ele pode não ter tomado as decisões, pode não ser o ator dos atos, mas no mínimo há de se investigar se havia o conhecimento sobre isso”, finalizou.

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Uma tragédia provocada por uma sucessão de erros e uma oportunidade para repensar estratégias. Especialistas em prevenção a incêndios ouvidos pelo Estado afirmam que a tragédia no alojamento do Flamengo serve como reflexão, principalmente para se determinar novos parâmetros de segurança.

Para o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em incêndios Valdir Pignatta e Silva, a tragédia da última sexta no CT Ninho do Urubu pode ter um impacto similar ao dos incêndios nos edifícios Andraus e Joelma, em São Paulo, na década de 1970.

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Depois destes episódios, as regulamentações e vistorias se tornaram mais rígidas. "Com áreas pequenas, como era o caso do Flamengo, os bombeiros não costumam fazer exigências, porque se supõe que as pessoas vão deixar o local facilmente. Mas vamos ter de repensar isso. Temos sempre que aprender com os grandes incêndios. Fogo em um alojamento montado em um contêiner é inédito", explicou.

O professor explicou que um possível problema foi o clube ter colocado grades nas janelas do contêiner. A medida buscava evitar furtos, mas dificultou a tentativa dos garotos de fugirem das chamas.

Na opinião do consultor em gerenciamento de riscos Marcelo Augusto Souza, o maior problema não foi a escolha pelo contêiner, mas sim a falta de medidas simples. "Se tivesse sensores de temperatura com uma sirene, existiria tempo para fugir. Mas a fumaça tomou conta do espaço antes mesmo de qualquer reação", explicou o especialista, que trabalha há 20 anos na área.

Segundo o consultor, a fiscalização do poder público sobre incêndios costuma ser falha. "Nunca vai se estar 100% seguro contra o fogo. No máximo se pode diminuir a probabilidade de que algo grave aconteça", afirmou.

A edição do decreto que facilita o porte de armas de fogo dividiu advogados criminalistas e especialistas em políticas de segurança pública. Assinado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta terça, 15, o decreto traz novos critérios para quem quiser manter armas em casa. Para o criminalista João Paulo Martinelli, a medida vai dificultar a fiscalização do porte ilegal de armas.

"Este talvez seja, a partir de agora, o grande desafio das forças de segurança pública", prevê Martinelli, doutor em Direito Penal pela USP e professor da disciplina no IDP-SP. "O novo regramento está mais flexível para a aquisição de armas, porém não alterou a política para o porte. Quanto mais fácil possuir a arma, maiores as chances de portá-la sem a devida vigilância do Estado."

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A advogada constitucionalista Vera Chemim explica que o decreto de Bolsonaro altera a regulamentação anterior do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003). Em comparação com o decreto anterior que detalhava a aplicação da lei, fica claro o objetivo de facilitar a posse, mas não o porte de armas.

"Além da criação de novos dispositivos, o decreto modificou também os já existentes, tentando desburocratizar a posse", argumenta Vera Chemim.

Para ela, um dos principais dispositivos modificados remete ao parágrafo 1º, do artigo 12 do antigo decreto, cuja redação parte do pressuposto da "veracidade" dos fatos e das circunstâncias afirmadas na declaração de "efetiva necessidade" da posse de armas, a ser posteriormente ratificada pela Policia Federal.

"Antes, a efetiva necessidade exigia a explicação detalhada daqueles fatos e circunstâncias, além de ter a obrigatoriedade de seguir a orientação do Ministério de Justiça, quando do seu exame pela Polícia Federal", destaca a advogada.

"Trata-se, portanto, de presunção de legalidade daqueles fatos e circunstâncias declarados e passíveis de serem posteriormente examinados (no caso de alguma afirmação falsa), quanto à sua efetiva necessidade."

Para a constitucionalista, um dado importante é a necessidade da guarda de armas em cofre no caso de haver crianças ou deficientes em casa.

O advogado criminalista e constitucionalista Adib Abdouni diz que o decreto de Bolsonaro concentrou-se em ampliar e conferir objetividade jurídica ao conceito legal que trata da efetiva necessidade da posse de arma de fogo.

Segundo ele, a medida reduz o grau de subjetividade da autoridade policial na análise dos argumentos demonstrados pelo postulante do registro da arma, além de ter aumentado de cinco para dez anos o prazo de validade da autorização para a posse de arma.

"No decreto, são interessantes as hipóteses de presunção de efetiva necessidade de posse de armas para os residentes em área rural, bem como em áreas urbanas com altos índices de violência, considerado o índice estatístico anual correspondente a mais de dez homicídios por cem mil habitantes", afirma Abdouni.

As mudanças não significam relaxamento, segundo o criminalista Everton Moreira Seguro, do Peixoto & Cury Advogados.

Seguro anota que apesar de a população ter ficado com a impressão de que foi extremamente facilitado a posse e a aquisição de armas e munições, os interessados em comprá-las terão que passar pelo crivo da Polícia Federal para análise de requisitos objetivos.

"Também terá que comprovar sua aptidão, pois não será de forma automática a autorização como muitos têm imaginado."

Seguro lembra a diferença entre porte e posse - este "continua inalterado e restrito". "Tudo indica que o objetivo do decreto é fazer com que o cidadão de bem esteja em sua residência de forma a se sentir mais seguro e protegido com sua própria arma de fogo, além de, indiretamente, transmitir aos criminosos que não é somente ele que está armado, mas que também o cidadão de bem poderá estar, gerando a dúvida ao ponto de inibir algum tipo de crime."

Armando de Mesquita Neto, sócio do Leite, Tosto e Barros Advogados, avalia que o decreto das armas foi uma "ação positiva" do Governo, pois retira a discricionariedade do delegado de polícia e torna objetiva as condições que autorizam o direito à posse de armas, além de anistiar os registros vencidos, garantindo aos proprietários a aquisição de munição, que até então estava restrita aos registros válidos.

"Dessa forma, o cidadão que atenda aos requisitos do decreto, desde que seja de seu interesse, pode valer-se da posse de arma em sua residência para exercer o direito de legítima defesa."

Após a nomeação do deputado federal eleito Major Vitor Hugo (PSL-GO) para liderar o governo na Câmara dos Deputados, o jornal O Estado de S. Paulo ouviu dois cientistas políticos para entender quais as possíveis consequências políticas do parlamentar.

Mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército e bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras, Vitor Hugo estava na Consultoria Legislativa da Câmara, na área de segurança pública e defesa nacional. Ele foi aluno dos generais - e atuais ministros - Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo), na escola de cadetes.

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Eleito para seu primeiro mandato na Casa com 31.190 votos, o parlamentar afirmou ao Estadão/Broadcast que deseja estabelecer uma nova relação entre o Legislativo e o Executivo e pretende envolver os parlamentares na elaboração das propostas do governo, antes mesmo que sejam encaminhadas ao Congresso. "Vamos envolver o máximo de pessoas durante a elaboração das propostas para que já se considere o componente político na elaboração das propostas", afirmou.

Sobre o fim do chamado "toma lá, dá cá", o deputado eleito afirma que o desafio é do Brasil inteiro. "Como é o País inteiro que tem ânsia por isso, a gente imagina que, embora seja desafiador, existe uma predisposição de todos, inclusive dos parlamentares", disse ele, que vai liderar uma bancada de 52 deputados, a segunda maior da Câmara, atrás apenas do PT, com 56.

Ao site BR18, do Grupo Estado, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara, afirmou que considera o deputado uma "pessoa preparada". Confira abaixo a avaliação de dois cientistas políticos sobre o assunto. Primeiro, as respostas de Roberto Romano, filósofo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e, depois, de Humberto Dantas, doutor em ciência política e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e da Uninove.

O que significa a nomeação de um deputado federal que não tem experiência prévia na Casa?

Roberto Romano: É um erro frequentemente cometido por governantes e partidos com inclinação autoritária. Um exemplo à esquerda é a ex-presidente Dilma Rousseff, que nomeou como chefe da Casa Civil pessoas que não tinham habilidade no trato com seus pares no Congresso Nacional. Isso ajudou a piorar a sua situação. Em relação a essa indicação, é preciso lembrar que o Congresso Nacional não é como as Forças Armadas, não funciona na base de ordens dadas e recebidas.

Humberto Dantas: Me parece um risco que o governo Bolsonaro corre sob o discurso de uma nova forma de tratar o Congresso. A falta de habilidade do líder do governo é algo sensível. Por outro lado, um líder inexperiente pode representar o fortalecimento de outros agentes, como o próprio presidente da Câmara, que provavelmente será Rodrigo Maia, que tenta a reeleição. Bolsonaro e Maia andaram se aproximando nos últimos dias, o PSL anunciou apoio a ele. Então, pode fortalecer a figura do articulador do governo.

Quais as consequências dessa escolha?

Roberto Romano: Esse político vai ter de aprender muito rapidamente a tratar com a realidade nova que vai enfrentar, ou trará mais problemas para o governo do que soluções. Pode trazer embaraços para o governo junto ao Congresso. E esse aprendizado intensivo é muito difícil. Para um cargo como esse, é preciso muita diplomacia, persuasão, carisma e também escrutínio. E, além de tudo, liderança para liderar pessoas com a mesma função que ele. Será preciso conhecer profundamente os projetos apresentados e os interesses contraditórios no plenário.

Humberto Dantas: Entendo que seja apenas a questão da inexperiência. Não vejo problema em ser militar, está tudo dentro do esperado, estranho seria se fosse um ativista de uma ONG. Mas acredito que a escolha faz parte de uma negociação maior e envolve trocas que, de uma forma ou de outra, serão feitas.

Como a Câmara dos Deputados deve reagir a essa nomeação?

Roberto Romano: É aquela conhecida tática de "levar com a barriga". Resistir sem dar muita evidência de que está resistindo. E sobre isso temos uma longuíssima tradição de relacionamento entre os presidentes e o Congresso. São inúmeros projetos de lei que pouco a pouco foram sendo engavetados, distorcidos, de modo que não haja um choque violento e os alvos do Executivo não sejam cumpridos integralmente. Além disso, se por um acaso ele não cumprir bem sua função, vem o processo de "fritamento". Embora chegue até esse cargo importante, ele pode ser "frito" tanto pelo Executivo quanto pelos próprios cargos. Vários políticos da onda vitoriosa estão de olho num cargo como esse.

Humberto Dantas: As figuras mais experientes da Câmara sabem bem que a escolha faz parte de algo maior. Ninguém ali nasceu ontem. Há uma probabilidade de ele ser engolido pelas agendas, pelo modo de trabalhar da Casa, ou estamos diante do desvendar de um grande novo líder. Mas, sem desmerecer a figura, a Câmara é muito complexa para um marinheiro de primeira viagem liderar um governo. Além disso, precisamos ver qual o perfil de comunicação desse deputado para ele não cometer nenhum tipo de equívoco que possa colocar o governo em maus lençóis ou trazer desconfortos. É preciso avaliar se ele será um soldado do governo ou um general das redes sociais.

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